(lepidoptera: noctuidae, plusiinae) na cultura da soja no brasil
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
ENGENHARIA AGRONÔMICA
VICENTINA LOPES COTA
Aumento populacional da Chrysodeixis includens(Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na
cultura da soja no Brasil: uma revisão
Sete Lagoas, MG
2015
VICENTINA LOPES COTA
Aumento populacional Chrysodeixis includens (Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na
cultura da soja no Brasil: uma revisão
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Engenharia
Agronômica da Universidade Federal de
São João Del Rei como requisito parcial
para obtenção do título de Engenheiro
Agrônomo.
Área de Concentração: Entomologia
Orientador: Nádia Nardelly L.D. Parrela
Co-orientador:Ivan Cruz
Sete Lagoas, MG
2015
VICENTINA LOPES COTA
Aumento populacional Chrysodeixis includens (Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na
cultura da soja no Brasil: uma revisão
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Engenharia
Agronômica da Universidade Federal de
São João Del Rei como requisito parcial
para obtenção do título de Engenheiro
Agrônomo.
Sete Lagoas, 04 de dezembro de 2015
Banca Examinadora:
_________________________________________________
Dr. Ivan Cruz- Pesquisador EMBRAPA Milho e Sorgo
_________________________________________________
Luma Moreira Martins– Mestranda UFSJ
_________________________________________________
Prof. Nádia Nardelli L.D. Parrela - UFSJ
Orientadora
À Deus por toda força na vida, apesar das dificuldades, mostrou-me que tudo é possível,
basta apenas querer lutar para conseguir.
À meus pais e familiares pelo incentivo para concluir mais uma graduação.
À minha orientadora pela disponibilidade na orientação.
Ao meu co-orientador pela paciência e incentivo na área escolhida
“ Profissional de talento é aquele
que soma dois pontos de esforço,
três pontos de talento e cinco pontos
de caráter.”
Roland Barthes
RESUMO
Nas últimas colheitas de grãos, tem sido registrado aumento populacional
de Chrysodeixis includens (subfamília: Plusiinae) em cultivo da soja em quase toda a
área de produção no Brasil. Essa praga pode ocasionar prejuízos econômicos para o
produtor e a forma mais utilizada para reduzir seu índice populacional é através do
controle químico. Entretanto, o uso indiscriminado de produtos químicos tem forçado o
aparecimento de populações resistentes aumentando o custo de produção pelo aumento
do número de aplicações. Este fato, sem dúvida ocasiona desequilíbrio bioecológico
pela destruição de inimigos naturais, agentes responsáveis pelo controle biológico
natural desta e de outras pragas na área de produção.
Este trabalho teve como objetivo fazer um histórico da incidência populacional
da C.includens nas safras de soja a partir dos anos 80 até a safra atual (2014/2015) bem
como retratar a importância do manejo integrado para evitar explosão populacional de
pragas, especialmente àquelas que não apresentavam importância econômica ao
agronegócio brasileiro e que atualmente são pragas-chave no cultivo da soja. Foi
realizada uma revisão bibliográfica de trabalhos publicados em congressos revistas e
pesquisas científicas, relatando quando começou a ocorrer o surto populacional da C.
includens.
Palavras-chave: Glycine max (L) Merrill, Chrysodeixis includens, manejo integrado
de pragas.
ABSTRACT
In the last grain crops has been registered population increase of Chrysodeixis
includens (subfamily: Plusiinae) in soy cultivation in almost any production area in
Brazil. This pest can cause economic losses to the producer and the most widely used
way to reduce their population index is through chemical control. However,
indiscriminate use of chemical products has forced the emergence of resistant
populations increasing the production cost by increasing the number of applications.
This fact undoubtedly brings bioecological imbalance for the destruction of natural
enemies, agents responsible for the natural biological control of this and other pests in
the production area.
This study aimed to make a history of the population incidence of C. includens in
soybean crops from the 80s to the current crop (2014/2015) as well as portray the
importance of integrated management to prevent pest population explosion, especially
those who had no economic importance to the Brazilian agribusiness and are currently
key pests in soybean cultivation. A literature review of papers published in journals and
scientific research conferences, reporting when it began to occur the population
outbreak of C. includens was held.
Kay-words: Glycine max (L) Merrill, Chrysodeixis includens, integrated pest
management.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. (A) Produção brasileira de Soja. Safra 2012-2013. (B) Regiões Sojícolas do
Brasil................................................................................................................................11
Tabela 1. Custo de aplicação e produtividade do MIP e Manejo Convencional............12
Figura 2. (A) Aspecto rendilhado do dano causado pela falsa-medideira. (B) Destruição
total a folha......................................................................................................................14
Figura 3. (A) Oviposição do adulto da C. includens. Detalhe do tamanho do ovo na
parte abaxial da folha. (B) Oviposição observada na lupa. Detalhe das listras
transversais . (C) formação da pupa recoberta por teia fina. (D) Detalhe da pupa:
pequenas manchas marrons............................................................................................14
Figura 4 . (A) Detalhe das pernas torácicas de coloração preta. Detalhe (seta) das
pseudopatas que dá a movimentação de “mede palmos”. (B) Fase imatura da C.
includens sem a característica de coloração preta na para torácica................................ 15
Figura 5. (A) R. nu lagarta com listras transversais de cor branca e pontuações preta em
todo o corpo. (B) T ni lagarta com listras transversais de cor branca e pontos pretos
sutilmente na cabeça e parte do corpo............................................................................ 15
Figura 6. Fotografia da mandíbula da C. includens e R. nu. (a) e (c): presença de dentes
no final das carenas da C.includens. (b) e (d) carena contínua até a borda externa da
mandíbula. Região lateral do tórax da C.includens e R nu(e) ausência de microespinhos
em C. includens e (f) presença de microespinhos próximos as pernas torácicas na R. nu.
.........................................................................................................................................16
Figura 7. (A) Detalhe da pupa C. includens: pequenas manchas marrons. (B) Pupa R.
nu de cor marrom (C) pupa T. ni com coloração marrom mais detalhada que a C.
includens..........................................................................................................................16
Figura 8. (A)Detalhe da diferenciação do adulto da C. includens no primeiro par de
asas. (b)Diferenciação morfológica da mariposa. Seta 1: presença do primeiro tufo
próximo à cabeça. Seta 2: presença do segundo tufo logo após a cabeça. Seta 3: terceiro
tufo na região abdominal. Seta 4: detalhe da mancha no primeiro par de asas lembrando
o símbolo do infinito ∞. (C)Detalhe da mancha no primeiro par de asas semelhante à
letra grega gama ɣ............................................................................................................17
Figura 9. Imagens de atuação de inimigos naturais nas Plusiinae.(A) Lagarta infectada
por baculovírus. (B) Imagem em microscopia do baculovírus. (C) lagarta infectada pelo
fungo Nomuraea rileyi.(D) Detalhe do fungo entomopatógeno. (E) Lagarta parasitada
por Copidosoma sp. (F) Eclosão do C. truncatellum em lagarta parasitada. (G)
Ampliação do microhimenóptero C. truncatellum. (H) Tricogramma pretiosum
parasitando ovo de mariposa. ....................................................................................18-19
Figura 10.(A) Detalhe do método de batida de pano. (B)Espaçamento entre linhas.....20
Figura 11. Nível Populacional de ataque de uma determinada praga........................... 21
Figura 12. Densidade populacional x tempo..................................................................22
Gráfico 1. Número total de lagartas C. includens e A. gemmatalis encontradas em
lavouras de soja no Rio Grande do Sul. .........................................................................24
Gráfico 2. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar
Tracajá,Campo Experimental Água Boa, Boa Vista/RR, 2006. ....................................26
Gráfico 3. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar
Tracajá,Campo Experimental Monte Cristo, Boa Vista/RR, 2006 ................................26
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 11
2.1 A soja ................................................................................................................ 11
2.2 Ordem Lepidoptera ........................................................................................... 12
2.3 Falsa medideira ................................................................................................. 13
2.4 Inimigos naturais ................................................................................................ 17
2.5 Amostragem ....................................................................................................... 19
2.6 Manejo Integrado de Pragas ............................................................................... 21
3. METODOLOGIA .............................................................................................. 22
4. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 23
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 27
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 29
10
1.INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max L. Merrill) é uma importante oleaginosa cultivada em
grande parte do Brasil, atingindo na safra de 2013-2014, 85,656 milhões/ton ficando em
2º lugar na produção mundial, atrás somente dos Estados Unidos -CONAB,2015. No
entanto, a mudança no manejo utilizado para aumentar a produtividade tem favorecido o
aumento de espécies de pragas antes consideradas secundárias. Tais pragas, hoje
primárias, causam desfolhas quase totais na planta, reduzindo assim sua capacidade
fotossintética, fator que pode reduzir a produtividade da cultura. Dentre as lagartas
desfolhadoras, a que, nos últimos anos tem causado preocupação aos produtores é a
Chrysodeixis includens (Walker, [1857] subfamília Plusiinae), popularmente conhecida
como falsa-medideira.Nas últimas safras registradas no Brasil, a ocorrência dessa praga
na cultura da soja tem aumentado significativamente, a ponto desta se tornar praga
principal juntamente com a lagarta da soja Anticarsia gemmatalis (Hübner, 1818).
Para controle da praga, produtores têm utilizado cada vez mais inseticidas sem,
no entanto, seguir os preceitos do manejo integrado tornando-as com o passar do tempo,
tolerantes à maioria dos inseticidas. Fatores como alterações climáticas, baixa umidade
do ar, tempo seco, destruição dos inimigos naturais (agentes responsáveis pelo controle
biológico natural) favorecem o processo reprodutivo do inseto aumentando a densidade
populacional.
O uso de estratégias adequadas de manejo como amostragem da área,
monitoramento das pragas, uso de inseticidas e fungicidas1seletivos que matam os
podem amenizar o surto populacional, mantendo a praga abaixo do nível de controle,
fator não prejudicial à produção da cultura.
1O uso de fungicidas tem sido utilizado na cultura da soja para combater o fungo Phakopsora pachyrhi
causador da ferrugem asiática que causa grandes perdas na produtividade. O uso de fungicida não seletivo
elimina o fungo patógeno bem como fungos entomopatógenos, dentre eles o Nomureae rileyi que atua
como inimigo natural da lagarta falsa-medideira.
11
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 A Soja
A soja (Glycine max L.) é cultivada em diversas regiões do país com destaque
para os estados do Mato Grosso e Paraná. Dados da safra de 2013-2014 (CONAB,
2014) mostram que a produção brasileira foi de 85,656 milhões de tonelada, conferindo
ao país o título de 2º maior produtor mundial, atrás somente dos EUA( FIGURA 1). Os
dois maiores produtores, Mato Grosso e Paraná, produziram respectivamente, 26,442 e
14,774 milhões/ton. A projeção para a safra de 2015 é de 96,257 milhões/ton,
representando um aumento de 11,4% em relação a 2014 (IBGE, 2015).
(A) (B)
Figura 1. (A) Produção brasileira de Soja. Safra 2012-2013. Fonte: CONAB, 2014. (B) Regiões
Sojícolas do Brasil. Fonte: SPA/EMBRAPA
Apesar do aumento da produtividade pragas consideradas secundárias têm
surgido nas lavouras de soja em todo o país. Por exemplo, nas safras de 2012-2013 e
2013-2014 a Chrysodeixis includens (Walker, [1857] subfamília Plusiinae),
popularmente conhecida como falsa-medideira tem-se sobressaído em comparação com
a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis). Aplicações errôneas e em momento
inapropriado de inseticidas realizadas junto com herbicidas e fungicidas em misturas de
tanque têm desequilibrado o microambiente e o sistema produtivo permitindo que
12
populações de pragas secundárias cresçam exponencialmente, tornando-se pragas-
chaves da cultura da soja (BUENO et al, 2007, 2010 b; MOSCARDI et al, 2012).
Uma solução favorável para contenção de pragas nas lavouras é utilizar o
manejo integrado, cujo objetivo é manter o equilíbrio biológico associando medidas
estratégias como monitoramento, amostragem, utilização de cultivares resistentes,
controle biológico natural e aplicado e uso seletivo de inseticidas. Além disso, o custo
total da aplicação do MIP nas lavouras pode ser bem inferior do controle convencional (
Tabela 1).
Tabela1. Custo de aplicação e produtividade do MIP e Manejo Convencional
Técnica de Controle Média de
Aplicações
Custo
total
(R$/ha)
Produtividade
(SAC/ha)
MIP 2,60 144,57 50,07
Manejo
Convencional
4,99 302,06 48,67
Fonte: Embrapa/ Emater-PR, 2015.
A diferença entre esses métodos é que no manejo convencional adota-se medidas
de controle, geralmente o químico quando o organismo está presente, independente de
outros fatores como, por exemplo, sua densidade populacional e o tipo de injúria
provocada. Já o objetivo do manejo integrado de pragas é reduzir a população e não
exterminá-la. Esse mecanismo permite que os inimigos naturais possam permanecer na
plantação atuando como agentes do controle populacional desses insetos.
2.2 Ordem Lepidoptera
A ordem lepidóptera possui uma grande diversidade em espécies, podendo
chegar a 500.000 indivíduos, divididos entre mariposas e borboletas sendo considerada
a 3ª maior ordem da classe Insecta e a 1ª em importância econômica sendo que muitas
pragas-chaves das principais culturas agrícolas se encaixam nesta ordem. Algumas
características são importantes na classificação dos lepidópteros, como exemplo, as
antenas definindo a qual grupo pertencem, se mariposa ou borboleta (FUJIHARA,
2011).
O aparelho bucal desses insetos passa por modificações da fase imatura para a
fase adulta, sendo que nesta fase o aparelho bucal é sugador maxilar com probóscida
(espirotromba) e aquela, aparelho bucal mastigador. Essa diversificação no aparelho
13
bucal reduz a competição, pois as formas jovens e adultas alimentam-se de recursos
diferentes. Na fase imatura, a alimentação é bastante intensa, causando maiores danos
nas diversas culturas, provocando injúrias e desfolhamento parcial ou total do limbo
foliar, broca nas raízes, danos no cartucho e secamento do limbo foliar (FUJIHARA,
2011).
Os lepidópteros se adaptam às condições climáticas e de vegetação. A predação
pode ocorrer nos seguintes estágios: ovo, larva, pupa e adulto.
A família Noctuidae é uma das mais numerosas dentro da ordem Lepidoptera,
com 21.000 espécies de ampla distribuição mundial e de maior ocorrência na região
tropical. As mariposas podem possuir diversos tipos de coloração (parda, cinza,
amareladas e com manchas). Os ocelos são visíveis, com probóscida bem desenvolvida
e antenas filiformes ou serreadas e alguns casos, pectinadas (FUJIHARA, 2011).
Os ovos podem possuir posturas agrupadas e geralmente são esféricos com
ranhuras. A coloração das lagartas pode ser clara ou escura com presença de faixas
longitudinais. A maioria das lagartas possui quatro pares de patas abdominais mais o
par anal. No entanto, as lagartas da subfamília Plusiinae possuem somente dois pares de
patas abdominais além das patas anais. A fêmea dos lepidópteros coloca seus ovos
distribuídos individualmente em vários pontos da planta hospedeira (MELO, 2011).
2.3 Falsa medideira
Geralmente, as lagartas falsa-medideira possuem coloração verde clara com uma
série de linhas longitudinais de cor branca, espalhadas no seu dorso. Apresentam dois
pares de pseudopatas na região abdominal que permitem a sua locomoção como se
estivesse medindo palmos, semelhantes ao movimento das lagartas da família
Geometridae (verdadeiras medideiras) daí o surgimento do seu nome (HOFFMANN-
CAMPO, 2000).
São representadas pela Chrysodeixis includens(Walker, 1857), Rachiplusia nu
(Guenée, 1852) e Trichoplusia ni (Hübner, 1803).Na fase imatura elas causam danos na
planta destruindo toda a área foliar, deixando apenas as nervuras dando um caráter
rendilhado às folhas. Consomem cerca de 80 a 200 cm² de folha nesta fase (FIGURA 2).
Surtos populacionais ocorrem no período da seca ou no desequilíbrio biológico causado
pela aplicação irracional de inseticidas. (CARVALHO et al, 2012 e CLAUDINO, 2014)
cita plantas hospedeiras das lagartas do complexo Plusiinae (C. includens e R. nu) como
14
soja, algodão, feijão, fumo, girassol e algumas olerícolas da família Solanaceae e grande
parte das plantas daninhas (ANEXO 1). Já T. ni tem como hospedeiros preferenciais as
hortaliças.
(A) (B)
Figura 2.(A) Aspecto rendilhado do dano causado pela falsa-medideira.Fonte:
http://www.folhadeirati.com.br. (B) Destruição total a folha. Fonte: www.diadecampo.com.br Barros, R.
A oviposição é feita durante o período noturno e seus ovos são esbranquiçados,
translúcidos e brilhantes, aproximadamente 0,5 mm de diâmetro (FIGURA 3). No
estágio pré-pupa (figura 5 c) a lagarta se envolve num casulo de teia fina de coloração
branca (CARVALHO et al, 2012 GAZZONI et al, 1988; ZUCCHI et al., 1993).
(A) (B) (C)
Figura 3. (A) Oviposição do adulto da C. includens. Detalhe do tamanho do ovo na parte abaxial da folha.
Foto:http://www.bayercontralagartas.com.br. (B) Oviposição observada na lupa. Detalhe das listras
transversais . Foto: http://www.ceresconsultoria.com.br (C) formação da pupa recoberta por teia fina.
Foto: Bueno, A.de F. (D) Detalhe da pupa: pequenas manchas marrons. Foto: Hollenbeck, J., 2012.
As lagartas Chrysodeixis includens possuem coloração verde claro com uma
série de linhas brancas longitudinais no seu dorso. Uma observação interessante na fase
imatura da C. includens é a coloração preta nas pernas torácicas. (CARVALHO et al.,
2012) afirmaram que essa característica é um bom indício para sua identificação, no
entanto, não é meramente um caráter definitivo e conclusivo ( FIGURA 4).As lagartas
15
Rachiplusia nu são verdes com linhas longitudinais com dois pares de pseudopatas
torácicas e pontuações negras por todo o corpo. As lagartas T. ni são verdes com linhas
brancas longitudinais com pares de patas de coloração verde e algumas pontuações
pretas na cabeça e parte do dorso ( FIGURA 5).
.
(A) (B)
Figura 4 . (A) Detalhe das pernas torácicas de coloração preta. Detalhe (seta) das pseudopatas que dá a
movimentação de “mede palmos”.
Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pseudoplusia_includens_larva.jpg (B) Fase imatura da C.
includens sem a característica de coloração preta na para torácica. Fonte: Fundação MT, 2012.
Figura 5. (A) R. nu lagarta com listras transversais de cor branca e pontuações preta em todo o corpo. (B)
T ni lagarta com listras transversais de cor branca e pontos pretos sutilmente na cabeça e parte do corpo.
(WISCH, 2011) apresentou características importantes na fase imatura da C.
includens e R. nu com diferenciações na sua morfologia externa. A primeira apresenta
dois dentes na face interna das mandíbulas e na região lateral do tórax há ausência de
microespinhos). A segunda apresenta carena interna contínua até a borda externa da
mandíbula com ausência de dentes e na região lateral do tórax há microespinhos
(FIGURA 6 ).
16
Figura 6. Fotografia da mandíbula da C. includens e R. nu. (a) e (c): presença de dentes no final das
carenas da C.includens. (b) e (d) carena contínua até a borda externa da mandíbula. Região lateral do
tórax da C.includens e R nu-(e) ausência de microespinhos em C. includens e (f) presença de
microespinhos próximos as pernas torácicas na R. nu. Fonte: Wisch, L. N. Londrina,PR,2011.
Na fase de pupa, a C.includens possui coloração esverdeada no início se tornam
amarronzadas em pequenos pontos gradualmente. A coloração da pupa da R. nu é de cor
marrom e normalmente são encontradas recobertas por uma teia branca. T.ni possui
coloração semelhante a C.includens: verde com coloração marrom mais acentuada
(FIGURA 7 ).
Figura 7. (A) Detalhe da pupa C. includens: pequenas manchas marrons. Foto: Hollenbeck, J., 2012. (B)
Pupa R. nu de cor marrom (C) pupa T. ni com coloração marrom mais detalhada que a C. includens.
Fonte: www.googleimagens.com.br
Na fase adulta as mariposas apresentam algumas diferenciações. C. includens
possui coloração marrom acinzentada com duas manchas prateada brilhante no primeiro
par de asas em formato circular. São encontradas em quase todos os estados do país. R.
17
nu possuem coloração marrom ou cinza e uma mancha prateada em formato do símbolo
do infinito (∞) no par de asas anterior .Quando estão em repouso fica visível a presença
de 3 tufos de pelos: o primeiro sobre o prototórax próximo à cabeça, o segundo logo
após o primeiro tufo e o terceiro na parte final do abdômen. Essas lagartas são mais
encontradas na Região Sul do país (MOREIRA; ARAGÃO,2009). T ni possuem
coloração marrom ou cinza-escuro e manchas prateadas no centro da asa anterior em
formato da letra gama ɣ e são menores que as outras mariposas citadas acima
(MOREIRA; ARAGÃO, 2009) são mais comuns na horticultura, embora possam
ocorrer na cultura da soja (FIGURA 8).
(A) (B)
(C)
Figura 8. (A)Detalhe da diferenciação do adulto da C. includens no primeiro par de asas.
Fonte:http://www.bayercontralagartas.com.br(B)Diferenciação morfológica da mariposa. Seta 1: presença
do primeiro tufo próximo à cabeça. Seta 2: presença do segundo tufo logo após a cabeça. Seta 3: terceiro
tufo na região abdominal. Seta 4: detalhe da mancha no primeiro par de asas lembrando o símbolo do
infinito ∞. Fonte: Moreira; Aragão,2009. (C)Detalhe da mancha no primeiro par de asas semelhante
à letra grega gama ɣ. Fonte: www.mothphotographersgroup.msstate.ede
2.4 Inimigos naturais
O surgimento das Plusiinae ocorre na fase vegetativa da cultura, geralmente
antes da lagarta da soja (A.gemmatalis). Comumente, encontram-se nas lavouras de
18
soja, C. includens e a R. nu. No entanto, a aplicação de inseticidas não seletivos para
controlar a infestação pode causar redução drástica na população de seus inimigos
naturais responsáveis pelo seu controle biológico natural desequilibrando totalmente o
agrossistema. Atualmente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-
MAPA, através do Agrofit possui 64 registros de produtos ( 62 químico 2 biológico)
para o combate da C. includens e 9 (8 químico e 1 biológico) para a R. nu.
Dentre os agentes de controle biológico existem parasitoides eficientes contra as
Plusiinae como a espécie Copidosoma truncatellum (Dalman, 1820), microhimenóptero
que reproduz por poliembrionia2
, Campoletis grioti (Blanchard), registrado nos
municípios do Paraná e Rio Grande do Sul nas safras de 1975/1976 e 1976/77,
(MORAES et al, 1991).Recentemente, tem-se usado o Trichogramma sp no controle
dos ovos essas espécies de praga (BUENO et al., 2009).Fungos entomopatógenos como
o Nomuraea rileyi (Farlow) têm capacidade de infectar todos os estádios de
desenvolvimento dos hospedeiros. Estes, invadem os insetos por diversas vias,
principalmente através da cutícula ou pele (tegumento) e uma vez dentro dos insetos, os
fungos multiplicam-se rapidamente por todo o corpo. A morte é causada pela
destruição dos tecidos e, ocasionalmente, pelas toxinas produzidas pelos fungos.
(ALVES et al., 2008;VALICENTE, 2009).O baculovírus do tipo Nucleopolyhedrovirus
(NPV) foi detectado em C. includens no plantio de soja na região do Cerrado Brasileiro
(SOUZA et al.,2014), confirmando o potencial deste agente no controle das Plusiinae , (
FIGURA 9).
(A) (B) (C)
2 Poliembrionia: o adulto coloca um único ovo/hospedeiro e divide-se em muitas células, desenvolvendo-
se independentemente. Formam-se embriões a partir de um ovo parasitado. Parra et al. 2012.
19
(D) (E) (F)
(G) (H)
Figura 9. Imagens de atuação de inimigos naturais nas Plusiinae.(A) Lagarta infectada por baculovírus.
(B) Imagem em microscopia do baculovírus. Fonte:Embrapa, Boletim de pesquisa, nº 230, Dez. 2008. (C)
lagarta infectada pelo fungo Nomuraearileyi.(D) Detalhe do fungo entomopatógeno. Fonte:
www.plantiodireto.com.br. (E) Lagarta parasitada por Copidosoma sp. Fonte: Lopes, V.C- Embrapa
Milho e Sorgo, 2015. (F) Eclosão do C. truncatellum em lagarta parasitada. Fonte:
www.dirceugassen.com (G) Ampliação do microhimenópteroC. truncatellum. Fonte:
www.biocontrol.ento.vt.edu. (H) Tricogramma pretiosum parasitando ovo de mariposa. Fonte:
www.planetnatural.com
2.5 Amostragem
A cultura da soja é suscetível ao ataque de pragas desde a germinação até a
colheita. Para um inseto ser considerado praga, ele deve possuir uma densidade
populacional que reduza a produtividade do cultivo a valor monetário maior do que o
custo para o controle. Portanto, a determinação da população da praga é fundamental
para a utilização de estratégias de manejo. Esta determinação é realizada por
amostragem que tem como objetivo identificar o número de espécies e a quantidade de
indivíduos por espécie num determinado ponto escolhido aleatoriamente. Nesta
amostragem também é observada a presença de agentes de controle biológico.
(CORRÊA-FERREIRA, 2012) cita que o método de amostragem mais adotado na soja é
20
o da batida de pano, desenvolvido nos Estados Unidos por (Boyere Dumas, 1969;
CORRÊA-FERREIA, 2012). É comumente utilizado para amostrar a população de
artrópodes em soja, sendo considerado por (Kogane Pitre, 1980; CORRÊA-FERREIA,
2012) como um excelente método para a captura e avaliação de lagartas, besouros
desfolhadores, percevejos (particularmente as ninfas), além dos insetos predadores. O
método consta de um pano ou plástico branco de um metro de comprimento por um
metro de largura, tendo nas bordas uma bainha onde são inseridos dois cabos de
madeira. O pano, devidamente enrolado e sem perturbar as plantas, é introduzido entre
duas fileiras adjacentes de soja estendido sobre o solo. As plantas das duas fileiras são
inclinadas e sacudidas para que os insetos caiam no pano (FIGURA 10). Para verificar a
densidade populacional, os insetos encontrados são contados e anotados de acordo com
a parcela em que foi feita a batida. O objetivo do método de amostragem de insetos-
praga é estimar a densidade populacional para saber se esta está impactando o sistema
de produção e servir de suporte à tomada de decisão na elaboração da estratégia de
controle a ser definida (STÜRMER et al, 2014).
A resposta ao dano causado pelo inseto à planta depende de dois fatores:
distinção do tipo de dano e o impacto que o dano causa na fisiologia da planta.
(A) (B)
Figura 10. (A) Detalhe do método de batida de pano. (B) Espaçamento entre linhas. Fonte:
www.embrapa.com.br/soja
A tomada de decisão sobre a necessidade de controle da falsa-medideira na
amostragem pelo método da batida de pano é baseada em 10 pontos de amostragem para
lavoura ou talhão de até 100 ha. A lagarta falsa-medideira deve ser controlada quando
for encontrada, em média, 40 lagartas grande/batida de pano ou 30 % de desfolha antes
do florescimento ou 15% de desfolha no surgimento das primeiras folhas para entrar
21
com o controle químico ou biológico. O controle químico é utilizado com objetivo de
diminuir a população das pragas que causam danos para a cultura. Já o controle
biológico das pragas realizada pelos inimigos naturais da falsa-medideira é sempre
preferencial ao controle químico. Deve-ser orientar o produtor a optar por inseticidas
seletivos para preservar a multiplicação ou introdução destes organismos nas lavouras
contribuindo para a redução do uso de inseticidas químicos (SMIDERLE, 2009).
2.6 Manejo Integrado de Pragas
O Manejo integrado de Pragas (MIP) é caracterizado pelo uso de diversas
técnicas empregadas em equilíbrio visando solucionar um determinado problema,
apresentando soluções duradouras de longo prazo. Um programa de MIP inclui a
utilização de plantas resistentes, manejo adequado do solo, rotação e sucessão de
culturas, medidas sanitárias adequadas, controle biológico e utilização de agrotóxicos
seletivos, pois garante a sobrevivência dos inimigos naturais e impede a explosão
populacional de insetos que, anteriormente não atingiam o nível de controle e o nível de
dano econômico (FIGURA 11).
Ao se alimentarem das plantas, os insetos desfolhadores provocam lesões
chamadas de injúrias e o tamanho destas nas folhas, reduzem sua capacidade
fotossintética prejudicando o desenvolvimento da planta. Quando essas lesões atingem
proporções que afetam financeiramente a cultura temos o chamado Dano Econômico
(DE) e este quando se torna significativo a ponto de prejudicar os lucros da produção,
os insetos passam a serem classificados como pragas e o prejuízo é classificado como
Nível de Dano Econômico (NDE).
22
Figura 11. Nível Populacional de ataque de uma determinada praga. Fonte: Nakano et al.,1981.
O produtor deve acompanhar a flutuação populacional através das amostragens
realizadas pelo método da batida de pano. Através da densidade populacional de uma
praga e da quantidade amostrada deve-se avaliar as medidas de controle para que não
atinjam o nível de dano econômico e manter a população de insetos no ponto de
equilíbrio. Outro fator importante é o Nível de Ação- NA ou Nível de Controle- NC
(FIGURA 12) que é a densidade populacional de uma praga estimado pelo método de
batida de pano em que devem ser tomadas as medidas de controle, para que não causem
danos econômicos (ZANETTI et al. 2002).
Figura 12. Densidade populacional x tempo. Fonte: Arrigoni, E. de Beni, CTC, Insectshow, 2007.
3. Metodologia
Este trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre as
lagartas da subfamília Plusiinae acompanhando a sua classificação de praga secundária
para praga primária no cultivo da soja safras a partir de 1986 até 2015 nos principais
estados produtores do Brasil.
As fontes para realização deste estudo foram as seguintes:
23
1- Livros na área de entomologia e controle biológico onde se buscou
informações sobre as características morfológicas do inseto e a sua
importância econômica na cultura e o controle biológico natural dos inimigos
naturais dessa lagarta realizado através do manejo integrado de pragas. Esses
livros estão disponíveis na Biblioteca da UFSJ, Campus Sete Lagoas;
2- Artigos científicos sobre o tema acessados pela base de dados do Scielo e
pelo acervo digital da Embrapa Soja, como o Alice (Acervo à Informação
Digital Científica) e BPD (Acervo Geral das Bibliotecas da Embrapa).
3- Foram utilizadas três teses de mestrado disponíveis no Acervo de Teses e
Dissertações da UnB, UCS, UFG publicados nos períodos de 2010 a 2014,
uma tese de Doutorado disponível no Acervo de Teses e Dissertações da
UFPR, publicado no período de 2010;
4- Coleta de dados em sites relacionados à área agronômica como Canal Rural,
Globo Rural, Revista Cultivar e Revista digital Pesquisa Agropecuária
Brasileira, Revista de Ciências Agroveterinária, Caderno de Pesquisa série
Biologia – Unisc online, acessados durante o estudo deste Trabalho de
Conclusão de Curso;
5- Manual de pragas da soja disponíveis na FMC Agricultural Produts, Pioneer
Sementes, Monsanto e Embrapa Milho e Sorgo.
Os dados obtidos foram analisados e discutidos a partir da Revisão Bibliográfica
onde se pretende informar as principais causas do aumento populacional da C. includens
no cultivo da soja nos principais estados produtores do país.
4. Discussão
Os primeiros registros sobre a C. includens foram relacionados com as safras de
1986/1987 e 1987/1988 na cultura da soja no estado do Rio Grande do Sul nas cidades
de Arroio Grande, Capão do Leão, Cruz Alta, Santa Rosa e Passo Fundo (GRÁFICO 1),
onde (MORAES et. al, 1991), realizaram um levantamento da flutuação populacional de
C. includens em relação à Anticarsia gemmatalis, considerada a praga-chave na cultura
da soja. Estudos revelaram que C. includens apresentaram flutuações irregulares com
picos populacionais no mês de janeiro, antes do pico populacional de A. gemmatalis.
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A. gemmatalis
C. includens
Arroio Grande
Safra 1986/1987
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152229 5 121926 2 9 161923 2 9 162330
Dez Jan Fev Mar
A. gemmatalis
C. includens
Safra
1987/1988
0
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15 22 29 5 12 19 26 2 9 16 19 23 2 9 16 23 30
Dez Jan Fev Mar
A. gemmatalis
C. includens
Capão do Leão
Safra 1986/1987
0
200
400
600
15 22 29 5 12 19 26 2 9 16 19 23 2 9 16 23 30
Dez Jan Fev Mar
A. gemmatalis
C. includens
Safra
1987/1988
0
200
400
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800
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15 22 29 5 12 19 26 2 2-9 9 16 23 2 9 16 23
Dez Jan Fev Mar
A. gemmatalis
C. includens
Safra 1987/1988
0
200
400
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15 22 29 5 12 19 26 2 9 16 23 2 9 16 23
A. gemmatalis
C. includens
Safra 1987/1988
0
200
400
600
152229 5 121926 2 9 1623 2 9 1623
Dez Jan Fev Mar
A. gemmatalis
C. includens
Santa Rosa
Safra
1986/1987
0
200
400
600
800
1000
15 29 12 26 9 23 9 23
Dez Jan Fev Mar
A. gemmatalis
C. includens
Cruz Alta
Gráfico 1. Número total de lagartas C. includens e A. gemmatalis encontradas em lavouras de soja no Rio
Grande do Sul. EMBRAPA/CPTB-UFPEL, Pelotas, RS, 1989. Adaptado.
Nú
mer
o d
e L
agart
as
em
10 a
most
ras
25
Observando o gráfico acima, percebe-se que ocorre um maior número
populacional de C. includens nos meses de dezembro a janeiro nas safras de 1986/1987
e 1987/1988 quando a soja estava no estádio fenológico de R2 até R4, sendo que na
safra de 1987/1988 elas predominaram sobre a A.gemmatalis. O declínio da população
de C. includens ocorreu em fevereiro desaparecendo no fim do mês na safra de
1986/1987 e no início de março na safra de 1987/1988 onde a A. gemmatalis passou a
predominar sobre as C. includens onde estas se mantiveram abaixo do nível de dano
econômico. No entanto, quando estas estão associadas com A. gemmatalis, se tornam
importantes e essas variações populacionais levam a tomada de decisões precipitadas
quanto à aplicação de inseticidas para eliminar a lagarta da soja, permitindo que C.
includens se tornem tolerantes aos inseticidas utilizados no combate das lagartas de um
modo geral.
Durante a pesquisa bibliográfica, não foram encontrados dados de infestação de
C. includens nas safras relacionadas à década de 90.
A partir do ano 2000, encontramos alguns relatos de aumento da incidência de
C. includens na cultura da soja com mudanças na sua classificação de praga secundária
para primária. Nas safras de 2000/2001 e 2001/2002, (BUENO et. al., 2007) citam que a
explosão populacional de C. includens é dada pela mudança no sistema produtivo no
cultivo da soja, pelas altas doses de aplicação de inseticidas não seletivos que, além de
eliminar os inimigos naturais, os tornam tolerantes aos inseticidas.
Uma informação importante observado durante a pesquisa bibliográfica foi o
ocorrido no cultivo de soja no estado de Roraima. Na safra de 2006, (MASSARO
JÚNIOR et al, 2010) realizaram coletas das principais lagartas desfolhadoras,
A.gemmatalis e C. includens em área experimental da Embrapa Roraima (Água Boa e
Monte Cristo) sem aplicação de qualquer tipo de inseticida. Observou-se que o pico
populacional registrado foi dado na fase vegetativa da cultura (06 a 30/06/2006),
C.includens predominou sobre a A. gemmatalis (GRÁFICOS 2 e 3), resultado
divergente encontrado por (Morais et al 1991), o que nos permite afirmar que cada
região do país possui variações nas interações devido aos fatores abióticos de cada
estado, como temperatura, umidade, clima e da entomofauna presente na cultura. No
entanto, essa dominação da C includens sobre a A. gemmatalis não atingiu o nível de
controle estabelecido pela metodologia que é 40 lagartas/m² ou 30% de desfolhas.
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06/jun 14/jun 22/jun 29/jun 06/jul 13/jul 20/jul 27/jul 03/ago 10/ago 16/ago 23/ago
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1,5
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Datas das coletas/estádios de desenvolvimento
A gemmatalis
C.includens
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V V V V R R R R R R R R R R R
06/jun 14/jun 22/jun 30/jun 06/jul 14/jul 20/jul 27/jul 03/ago10/ago17/ago23/ago30/ago 06/set 13/set
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cm
/10
ba
tid
as
de
pa
no
Datas das coletas/estádios de desenvolvimento
A.gemmatalis
C.includens
Como não houve aplicação de inseticidas nas áreas experimentais, é bem provável que
abaixa populacional foi dada pela ação dos inimigos naturais da C.includens
(MASSARO JÚNIOR et. al. 2010).
Gráfico 2. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar Tracajá, Campo
Experimental Água Boa, Boa Vista/RR, 2006. Fonte: Massaro Júnior et. al., 2010. Adaptado.
Gráfico 3. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar Tracajá, Campo
Experimental Monte Cristo, Boa Vista/RR, 2006. Fonte: Massaro Júnior et. al, 2010. Adaptado
27
As safras de 2002/2003 e 2003/2004 na maior parte dos estados produtores de
soja (MS, GO, SP e PR) houve surtos populacionais de C.includens, associados ou não
com a lagarta da soja (A. gemmatalis) que foram citados por (BUENO et.al, 2007), onde
a praga passou a ter a classificação de praga-chave da cultura da soja onde esta, apesar
de sempre ter existido na soja era controlada naturalmente pelo fungo entomopatógeno
Nomuraea rileyi (Farlow). Com a entrada do fungo Pakopsora pachyrhizi causador da
ferrugem asiática na safra de 2001/2002 houve queda na produtividade e para controlar
a doença, as aplicações de fungicidas não seletivos utilizados nas lavouras se tornaram
mais frequentes. Em consequência, houve diminuição dos fungos entomopatógenos
levando ao aumento da densidade populacional da C. includens (BUENO et al, 2007).
Na safra 2014/2015 também houve ataques severos de C.includens na maioria
dos estados produtores de soja, com destaque para o estado do Paraná. Segundo dados
da Embrapa Soja em janeiro e fevereiro de 2015 a falta de chuvas, altas temperaturas e
baixa umidade do ar em grande parte das regiões produtoras, favoreceu o aumento
populacional da praga e reduziu ação dos inimigos naturais.
Estratégias de manejo devem ser empregadas para reduzir o aumento
populacional das lagartas. Dentre elas podemos citar a utilização de produtos biológicos
como a soja Intacta RR2 PROTM (soja Bt), uso de inseticidas seletivos, adotarem área
de refúgio adotando soja RR (tolerante ao glifosato) com monitoramento de batida de
pano (ROGGIA, 2015).
5.Considerações Finais
Nas últimas safras de soja, percebemos o aumento populacional da C. includens
se sobrepondo sobre a lagarta da soja (A. gemmatalis) passando a ser classificada como
praga principal desta cultura. Esse fator é muito preocupante já que essas lagartas se
mostraram tolerantes a vários inseticidas utilizados recentemente e quando aplicados,
requerem uma maior dosagem e repetidas aplicações para conter a população de lagartas
na cultura, aumentando os custos de produção do cultivo. Neste trabalho foi importante
ressaltar a importância do monitoramento das pragas para auxiliar na tomada de decisão
que definirá a melhor estratégia de controle. O manejo integrado de pragas torna-se um
método muito eficiente, pois propõe uma produção mais sustentável e mais econômica
para o produtor, diminuindo a quantidade de aplicação de agrotóxicos que reduzem a
28
população de inimigos naturais que são os agentes que desempenham o controle
biológico natural dessas lagartas.
29
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