(lepidoptera: noctuidae, plusiinae) na cultura da soja no brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA ENGENHARIA AGRONÔMICA VICENTINA LOPES COTA Aumento populacional da Chrysodeixis includens(Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil: uma revisão Sete Lagoas, MG 2015

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Page 1: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA

ENGENHARIA AGRONÔMICA

VICENTINA LOPES COTA

Aumento populacional da Chrysodeixis includens(Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na

cultura da soja no Brasil: uma revisão

Sete Lagoas, MG

2015

Page 2: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

VICENTINA LOPES COTA

Aumento populacional Chrysodeixis includens (Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na

cultura da soja no Brasil: uma revisão

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso de Engenharia

Agronômica da Universidade Federal de

São João Del Rei como requisito parcial

para obtenção do título de Engenheiro

Agrônomo.

Área de Concentração: Entomologia

Orientador: Nádia Nardelly L.D. Parrela

Co-orientador:Ivan Cruz

Sete Lagoas, MG

2015

Page 3: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

VICENTINA LOPES COTA

Aumento populacional Chrysodeixis includens (Lepidoptera:Noctuidae, Plusiinae) na

cultura da soja no Brasil: uma revisão

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso de Engenharia

Agronômica da Universidade Federal de

São João Del Rei como requisito parcial

para obtenção do título de Engenheiro

Agrônomo.

Sete Lagoas, 04 de dezembro de 2015

Banca Examinadora:

_________________________________________________

Dr. Ivan Cruz- Pesquisador EMBRAPA Milho e Sorgo

_________________________________________________

Luma Moreira Martins– Mestranda UFSJ

_________________________________________________

Prof. Nádia Nardelli L.D. Parrela - UFSJ

Orientadora

Page 4: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

À Deus por toda força na vida, apesar das dificuldades, mostrou-me que tudo é possível,

basta apenas querer lutar para conseguir.

À meus pais e familiares pelo incentivo para concluir mais uma graduação.

À minha orientadora pela disponibilidade na orientação.

Ao meu co-orientador pela paciência e incentivo na área escolhida

“ Profissional de talento é aquele

que soma dois pontos de esforço,

três pontos de talento e cinco pontos

de caráter.”

Roland Barthes

Page 5: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

RESUMO

Nas últimas colheitas de grãos, tem sido registrado aumento populacional

de Chrysodeixis includens (subfamília: Plusiinae) em cultivo da soja em quase toda a

área de produção no Brasil. Essa praga pode ocasionar prejuízos econômicos para o

produtor e a forma mais utilizada para reduzir seu índice populacional é através do

controle químico. Entretanto, o uso indiscriminado de produtos químicos tem forçado o

aparecimento de populações resistentes aumentando o custo de produção pelo aumento

do número de aplicações. Este fato, sem dúvida ocasiona desequilíbrio bioecológico

pela destruição de inimigos naturais, agentes responsáveis pelo controle biológico

natural desta e de outras pragas na área de produção.

Este trabalho teve como objetivo fazer um histórico da incidência populacional

da C.includens nas safras de soja a partir dos anos 80 até a safra atual (2014/2015) bem

como retratar a importância do manejo integrado para evitar explosão populacional de

pragas, especialmente àquelas que não apresentavam importância econômica ao

agronegócio brasileiro e que atualmente são pragas-chave no cultivo da soja. Foi

realizada uma revisão bibliográfica de trabalhos publicados em congressos revistas e

pesquisas científicas, relatando quando começou a ocorrer o surto populacional da C.

includens.

Palavras-chave: Glycine max (L) Merrill, Chrysodeixis includens, manejo integrado

de pragas.

Page 6: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

ABSTRACT

In the last grain crops has been registered population increase of Chrysodeixis

includens (subfamily: Plusiinae) in soy cultivation in almost any production area in

Brazil. This pest can cause economic losses to the producer and the most widely used

way to reduce their population index is through chemical control. However,

indiscriminate use of chemical products has forced the emergence of resistant

populations increasing the production cost by increasing the number of applications.

This fact undoubtedly brings bioecological imbalance for the destruction of natural

enemies, agents responsible for the natural biological control of this and other pests in

the production area.

This study aimed to make a history of the population incidence of C. includens in

soybean crops from the 80s to the current crop (2014/2015) as well as portray the

importance of integrated management to prevent pest population explosion, especially

those who had no economic importance to the Brazilian agribusiness and are currently

key pests in soybean cultivation. A literature review of papers published in journals and

scientific research conferences, reporting when it began to occur the population

outbreak of C. includens was held.

Kay-words: Glycine max (L) Merrill, Chrysodeixis includens, integrated pest

management.

Page 7: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. (A) Produção brasileira de Soja. Safra 2012-2013. (B) Regiões Sojícolas do

Brasil................................................................................................................................11

Tabela 1. Custo de aplicação e produtividade do MIP e Manejo Convencional............12

Figura 2. (A) Aspecto rendilhado do dano causado pela falsa-medideira. (B) Destruição

total a folha......................................................................................................................14

Figura 3. (A) Oviposição do adulto da C. includens. Detalhe do tamanho do ovo na

parte abaxial da folha. (B) Oviposição observada na lupa. Detalhe das listras

transversais . (C) formação da pupa recoberta por teia fina. (D) Detalhe da pupa:

pequenas manchas marrons............................................................................................14

Figura 4 . (A) Detalhe das pernas torácicas de coloração preta. Detalhe (seta) das

pseudopatas que dá a movimentação de “mede palmos”. (B) Fase imatura da C.

includens sem a característica de coloração preta na para torácica................................ 15

Figura 5. (A) R. nu lagarta com listras transversais de cor branca e pontuações preta em

todo o corpo. (B) T ni lagarta com listras transversais de cor branca e pontos pretos

sutilmente na cabeça e parte do corpo............................................................................ 15

Figura 6. Fotografia da mandíbula da C. includens e R. nu. (a) e (c): presença de dentes

no final das carenas da C.includens. (b) e (d) carena contínua até a borda externa da

mandíbula. Região lateral do tórax da C.includens e R nu(e) ausência de microespinhos

em C. includens e (f) presença de microespinhos próximos as pernas torácicas na R. nu.

.........................................................................................................................................16

Figura 7. (A) Detalhe da pupa C. includens: pequenas manchas marrons. (B) Pupa R.

nu de cor marrom (C) pupa T. ni com coloração marrom mais detalhada que a C.

includens..........................................................................................................................16

Figura 8. (A)Detalhe da diferenciação do adulto da C. includens no primeiro par de

asas. (b)Diferenciação morfológica da mariposa. Seta 1: presença do primeiro tufo

próximo à cabeça. Seta 2: presença do segundo tufo logo após a cabeça. Seta 3: terceiro

tufo na região abdominal. Seta 4: detalhe da mancha no primeiro par de asas lembrando

o símbolo do infinito ∞. (C)Detalhe da mancha no primeiro par de asas semelhante à

letra grega gama ɣ............................................................................................................17

Figura 9. Imagens de atuação de inimigos naturais nas Plusiinae.(A) Lagarta infectada

por baculovírus. (B) Imagem em microscopia do baculovírus. (C) lagarta infectada pelo

fungo Nomuraea rileyi.(D) Detalhe do fungo entomopatógeno. (E) Lagarta parasitada

por Copidosoma sp. (F) Eclosão do C. truncatellum em lagarta parasitada. (G)

Page 8: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

Ampliação do microhimenóptero C. truncatellum. (H) Tricogramma pretiosum

parasitando ovo de mariposa. ....................................................................................18-19

Figura 10.(A) Detalhe do método de batida de pano. (B)Espaçamento entre linhas.....20

Figura 11. Nível Populacional de ataque de uma determinada praga........................... 21

Figura 12. Densidade populacional x tempo..................................................................22

Gráfico 1. Número total de lagartas C. includens e A. gemmatalis encontradas em

lavouras de soja no Rio Grande do Sul. .........................................................................24

Gráfico 2. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar

Tracajá,Campo Experimental Água Boa, Boa Vista/RR, 2006. ....................................26

Gráfico 3. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar

Tracajá,Campo Experimental Monte Cristo, Boa Vista/RR, 2006 ................................26

Page 9: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 11

2.1 A soja ................................................................................................................ 11

2.2 Ordem Lepidoptera ........................................................................................... 12

2.3 Falsa medideira ................................................................................................. 13

2.4 Inimigos naturais ................................................................................................ 17

2.5 Amostragem ....................................................................................................... 19

2.6 Manejo Integrado de Pragas ............................................................................... 21

3. METODOLOGIA .............................................................................................. 22

4. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 23

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 27

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 29

Page 10: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

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1.INTRODUÇÃO

A soja (Glycine max L. Merrill) é uma importante oleaginosa cultivada em

grande parte do Brasil, atingindo na safra de 2013-2014, 85,656 milhões/ton ficando em

2º lugar na produção mundial, atrás somente dos Estados Unidos -CONAB,2015. No

entanto, a mudança no manejo utilizado para aumentar a produtividade tem favorecido o

aumento de espécies de pragas antes consideradas secundárias. Tais pragas, hoje

primárias, causam desfolhas quase totais na planta, reduzindo assim sua capacidade

fotossintética, fator que pode reduzir a produtividade da cultura. Dentre as lagartas

desfolhadoras, a que, nos últimos anos tem causado preocupação aos produtores é a

Chrysodeixis includens (Walker, [1857] subfamília Plusiinae), popularmente conhecida

como falsa-medideira.Nas últimas safras registradas no Brasil, a ocorrência dessa praga

na cultura da soja tem aumentado significativamente, a ponto desta se tornar praga

principal juntamente com a lagarta da soja Anticarsia gemmatalis (Hübner, 1818).

Para controle da praga, produtores têm utilizado cada vez mais inseticidas sem,

no entanto, seguir os preceitos do manejo integrado tornando-as com o passar do tempo,

tolerantes à maioria dos inseticidas. Fatores como alterações climáticas, baixa umidade

do ar, tempo seco, destruição dos inimigos naturais (agentes responsáveis pelo controle

biológico natural) favorecem o processo reprodutivo do inseto aumentando a densidade

populacional.

O uso de estratégias adequadas de manejo como amostragem da área,

monitoramento das pragas, uso de inseticidas e fungicidas1seletivos que matam os

podem amenizar o surto populacional, mantendo a praga abaixo do nível de controle,

fator não prejudicial à produção da cultura.

1O uso de fungicidas tem sido utilizado na cultura da soja para combater o fungo Phakopsora pachyrhi

causador da ferrugem asiática que causa grandes perdas na produtividade. O uso de fungicida não seletivo

elimina o fungo patógeno bem como fungos entomopatógenos, dentre eles o Nomureae rileyi que atua

como inimigo natural da lagarta falsa-medideira.

Page 11: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A Soja

A soja (Glycine max L.) é cultivada em diversas regiões do país com destaque

para os estados do Mato Grosso e Paraná. Dados da safra de 2013-2014 (CONAB,

2014) mostram que a produção brasileira foi de 85,656 milhões de tonelada, conferindo

ao país o título de 2º maior produtor mundial, atrás somente dos EUA( FIGURA 1). Os

dois maiores produtores, Mato Grosso e Paraná, produziram respectivamente, 26,442 e

14,774 milhões/ton. A projeção para a safra de 2015 é de 96,257 milhões/ton,

representando um aumento de 11,4% em relação a 2014 (IBGE, 2015).

(A) (B)

Figura 1. (A) Produção brasileira de Soja. Safra 2012-2013. Fonte: CONAB, 2014. (B) Regiões

Sojícolas do Brasil. Fonte: SPA/EMBRAPA

Apesar do aumento da produtividade pragas consideradas secundárias têm

surgido nas lavouras de soja em todo o país. Por exemplo, nas safras de 2012-2013 e

2013-2014 a Chrysodeixis includens (Walker, [1857] subfamília Plusiinae),

popularmente conhecida como falsa-medideira tem-se sobressaído em comparação com

a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis). Aplicações errôneas e em momento

inapropriado de inseticidas realizadas junto com herbicidas e fungicidas em misturas de

tanque têm desequilibrado o microambiente e o sistema produtivo permitindo que

Page 12: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

12

populações de pragas secundárias cresçam exponencialmente, tornando-se pragas-

chaves da cultura da soja (BUENO et al, 2007, 2010 b; MOSCARDI et al, 2012).

Uma solução favorável para contenção de pragas nas lavouras é utilizar o

manejo integrado, cujo objetivo é manter o equilíbrio biológico associando medidas

estratégias como monitoramento, amostragem, utilização de cultivares resistentes,

controle biológico natural e aplicado e uso seletivo de inseticidas. Além disso, o custo

total da aplicação do MIP nas lavouras pode ser bem inferior do controle convencional (

Tabela 1).

Tabela1. Custo de aplicação e produtividade do MIP e Manejo Convencional

Técnica de Controle Média de

Aplicações

Custo

total

(R$/ha)

Produtividade

(SAC/ha)

MIP 2,60 144,57 50,07

Manejo

Convencional

4,99 302,06 48,67

Fonte: Embrapa/ Emater-PR, 2015.

A diferença entre esses métodos é que no manejo convencional adota-se medidas

de controle, geralmente o químico quando o organismo está presente, independente de

outros fatores como, por exemplo, sua densidade populacional e o tipo de injúria

provocada. Já o objetivo do manejo integrado de pragas é reduzir a população e não

exterminá-la. Esse mecanismo permite que os inimigos naturais possam permanecer na

plantação atuando como agentes do controle populacional desses insetos.

2.2 Ordem Lepidoptera

A ordem lepidóptera possui uma grande diversidade em espécies, podendo

chegar a 500.000 indivíduos, divididos entre mariposas e borboletas sendo considerada

a 3ª maior ordem da classe Insecta e a 1ª em importância econômica sendo que muitas

pragas-chaves das principais culturas agrícolas se encaixam nesta ordem. Algumas

características são importantes na classificação dos lepidópteros, como exemplo, as

antenas definindo a qual grupo pertencem, se mariposa ou borboleta (FUJIHARA,

2011).

O aparelho bucal desses insetos passa por modificações da fase imatura para a

fase adulta, sendo que nesta fase o aparelho bucal é sugador maxilar com probóscida

(espirotromba) e aquela, aparelho bucal mastigador. Essa diversificação no aparelho

Page 13: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

13

bucal reduz a competição, pois as formas jovens e adultas alimentam-se de recursos

diferentes. Na fase imatura, a alimentação é bastante intensa, causando maiores danos

nas diversas culturas, provocando injúrias e desfolhamento parcial ou total do limbo

foliar, broca nas raízes, danos no cartucho e secamento do limbo foliar (FUJIHARA,

2011).

Os lepidópteros se adaptam às condições climáticas e de vegetação. A predação

pode ocorrer nos seguintes estágios: ovo, larva, pupa e adulto.

A família Noctuidae é uma das mais numerosas dentro da ordem Lepidoptera,

com 21.000 espécies de ampla distribuição mundial e de maior ocorrência na região

tropical. As mariposas podem possuir diversos tipos de coloração (parda, cinza,

amareladas e com manchas). Os ocelos são visíveis, com probóscida bem desenvolvida

e antenas filiformes ou serreadas e alguns casos, pectinadas (FUJIHARA, 2011).

Os ovos podem possuir posturas agrupadas e geralmente são esféricos com

ranhuras. A coloração das lagartas pode ser clara ou escura com presença de faixas

longitudinais. A maioria das lagartas possui quatro pares de patas abdominais mais o

par anal. No entanto, as lagartas da subfamília Plusiinae possuem somente dois pares de

patas abdominais além das patas anais. A fêmea dos lepidópteros coloca seus ovos

distribuídos individualmente em vários pontos da planta hospedeira (MELO, 2011).

2.3 Falsa medideira

Geralmente, as lagartas falsa-medideira possuem coloração verde clara com uma

série de linhas longitudinais de cor branca, espalhadas no seu dorso. Apresentam dois

pares de pseudopatas na região abdominal que permitem a sua locomoção como se

estivesse medindo palmos, semelhantes ao movimento das lagartas da família

Geometridae (verdadeiras medideiras) daí o surgimento do seu nome (HOFFMANN-

CAMPO, 2000).

São representadas pela Chrysodeixis includens(Walker, 1857), Rachiplusia nu

(Guenée, 1852) e Trichoplusia ni (Hübner, 1803).Na fase imatura elas causam danos na

planta destruindo toda a área foliar, deixando apenas as nervuras dando um caráter

rendilhado às folhas. Consomem cerca de 80 a 200 cm² de folha nesta fase (FIGURA 2).

Surtos populacionais ocorrem no período da seca ou no desequilíbrio biológico causado

pela aplicação irracional de inseticidas. (CARVALHO et al, 2012 e CLAUDINO, 2014)

cita plantas hospedeiras das lagartas do complexo Plusiinae (C. includens e R. nu) como

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14

soja, algodão, feijão, fumo, girassol e algumas olerícolas da família Solanaceae e grande

parte das plantas daninhas (ANEXO 1). Já T. ni tem como hospedeiros preferenciais as

hortaliças.

(A) (B)

Figura 2.(A) Aspecto rendilhado do dano causado pela falsa-medideira.Fonte:

http://www.folhadeirati.com.br. (B) Destruição total a folha. Fonte: www.diadecampo.com.br Barros, R.

A oviposição é feita durante o período noturno e seus ovos são esbranquiçados,

translúcidos e brilhantes, aproximadamente 0,5 mm de diâmetro (FIGURA 3). No

estágio pré-pupa (figura 5 c) a lagarta se envolve num casulo de teia fina de coloração

branca (CARVALHO et al, 2012 GAZZONI et al, 1988; ZUCCHI et al., 1993).

(A) (B) (C)

Figura 3. (A) Oviposição do adulto da C. includens. Detalhe do tamanho do ovo na parte abaxial da folha.

Foto:http://www.bayercontralagartas.com.br. (B) Oviposição observada na lupa. Detalhe das listras

transversais . Foto: http://www.ceresconsultoria.com.br (C) formação da pupa recoberta por teia fina.

Foto: Bueno, A.de F. (D) Detalhe da pupa: pequenas manchas marrons. Foto: Hollenbeck, J., 2012.

As lagartas Chrysodeixis includens possuem coloração verde claro com uma

série de linhas brancas longitudinais no seu dorso. Uma observação interessante na fase

imatura da C. includens é a coloração preta nas pernas torácicas. (CARVALHO et al.,

2012) afirmaram que essa característica é um bom indício para sua identificação, no

entanto, não é meramente um caráter definitivo e conclusivo ( FIGURA 4).As lagartas

Page 15: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

15

Rachiplusia nu são verdes com linhas longitudinais com dois pares de pseudopatas

torácicas e pontuações negras por todo o corpo. As lagartas T. ni são verdes com linhas

brancas longitudinais com pares de patas de coloração verde e algumas pontuações

pretas na cabeça e parte do dorso ( FIGURA 5).

.

(A) (B)

Figura 4 . (A) Detalhe das pernas torácicas de coloração preta. Detalhe (seta) das pseudopatas que dá a

movimentação de “mede palmos”.

Fonte:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pseudoplusia_includens_larva.jpg (B) Fase imatura da C.

includens sem a característica de coloração preta na para torácica. Fonte: Fundação MT, 2012.

Figura 5. (A) R. nu lagarta com listras transversais de cor branca e pontuações preta em todo o corpo. (B)

T ni lagarta com listras transversais de cor branca e pontos pretos sutilmente na cabeça e parte do corpo.

(WISCH, 2011) apresentou características importantes na fase imatura da C.

includens e R. nu com diferenciações na sua morfologia externa. A primeira apresenta

dois dentes na face interna das mandíbulas e na região lateral do tórax há ausência de

microespinhos). A segunda apresenta carena interna contínua até a borda externa da

mandíbula com ausência de dentes e na região lateral do tórax há microespinhos

(FIGURA 6 ).

Page 16: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

16

Figura 6. Fotografia da mandíbula da C. includens e R. nu. (a) e (c): presença de dentes no final das

carenas da C.includens. (b) e (d) carena contínua até a borda externa da mandíbula. Região lateral do

tórax da C.includens e R nu-(e) ausência de microespinhos em C. includens e (f) presença de

microespinhos próximos as pernas torácicas na R. nu. Fonte: Wisch, L. N. Londrina,PR,2011.

Na fase de pupa, a C.includens possui coloração esverdeada no início se tornam

amarronzadas em pequenos pontos gradualmente. A coloração da pupa da R. nu é de cor

marrom e normalmente são encontradas recobertas por uma teia branca. T.ni possui

coloração semelhante a C.includens: verde com coloração marrom mais acentuada

(FIGURA 7 ).

Figura 7. (A) Detalhe da pupa C. includens: pequenas manchas marrons. Foto: Hollenbeck, J., 2012. (B)

Pupa R. nu de cor marrom (C) pupa T. ni com coloração marrom mais detalhada que a C. includens.

Fonte: www.googleimagens.com.br

Na fase adulta as mariposas apresentam algumas diferenciações. C. includens

possui coloração marrom acinzentada com duas manchas prateada brilhante no primeiro

par de asas em formato circular. São encontradas em quase todos os estados do país. R.

Page 17: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

17

nu possuem coloração marrom ou cinza e uma mancha prateada em formato do símbolo

do infinito (∞) no par de asas anterior .Quando estão em repouso fica visível a presença

de 3 tufos de pelos: o primeiro sobre o prototórax próximo à cabeça, o segundo logo

após o primeiro tufo e o terceiro na parte final do abdômen. Essas lagartas são mais

encontradas na Região Sul do país (MOREIRA; ARAGÃO,2009). T ni possuem

coloração marrom ou cinza-escuro e manchas prateadas no centro da asa anterior em

formato da letra gama ɣ e são menores que as outras mariposas citadas acima

(MOREIRA; ARAGÃO, 2009) são mais comuns na horticultura, embora possam

ocorrer na cultura da soja (FIGURA 8).

(A) (B)

(C)

Figura 8. (A)Detalhe da diferenciação do adulto da C. includens no primeiro par de asas.

Fonte:http://www.bayercontralagartas.com.br(B)Diferenciação morfológica da mariposa. Seta 1: presença

do primeiro tufo próximo à cabeça. Seta 2: presença do segundo tufo logo após a cabeça. Seta 3: terceiro

tufo na região abdominal. Seta 4: detalhe da mancha no primeiro par de asas lembrando o símbolo do

infinito ∞. Fonte: Moreira; Aragão,2009. (C)Detalhe da mancha no primeiro par de asas semelhante

à letra grega gama ɣ. Fonte: www.mothphotographersgroup.msstate.ede

2.4 Inimigos naturais

O surgimento das Plusiinae ocorre na fase vegetativa da cultura, geralmente

antes da lagarta da soja (A.gemmatalis). Comumente, encontram-se nas lavouras de

Page 18: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

18

soja, C. includens e a R. nu. No entanto, a aplicação de inseticidas não seletivos para

controlar a infestação pode causar redução drástica na população de seus inimigos

naturais responsáveis pelo seu controle biológico natural desequilibrando totalmente o

agrossistema. Atualmente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-

MAPA, através do Agrofit possui 64 registros de produtos ( 62 químico 2 biológico)

para o combate da C. includens e 9 (8 químico e 1 biológico) para a R. nu.

Dentre os agentes de controle biológico existem parasitoides eficientes contra as

Plusiinae como a espécie Copidosoma truncatellum (Dalman, 1820), microhimenóptero

que reproduz por poliembrionia2

, Campoletis grioti (Blanchard), registrado nos

municípios do Paraná e Rio Grande do Sul nas safras de 1975/1976 e 1976/77,

(MORAES et al, 1991).Recentemente, tem-se usado o Trichogramma sp no controle

dos ovos essas espécies de praga (BUENO et al., 2009).Fungos entomopatógenos como

o Nomuraea rileyi (Farlow) têm capacidade de infectar todos os estádios de

desenvolvimento dos hospedeiros. Estes, invadem os insetos por diversas vias,

principalmente através da cutícula ou pele (tegumento) e uma vez dentro dos insetos, os

fungos multiplicam-se rapidamente por todo o corpo. A morte é causada pela

destruição dos tecidos e, ocasionalmente, pelas toxinas produzidas pelos fungos.

(ALVES et al., 2008;VALICENTE, 2009).O baculovírus do tipo Nucleopolyhedrovirus

(NPV) foi detectado em C. includens no plantio de soja na região do Cerrado Brasileiro

(SOUZA et al.,2014), confirmando o potencial deste agente no controle das Plusiinae , (

FIGURA 9).

(A) (B) (C)

2 Poliembrionia: o adulto coloca um único ovo/hospedeiro e divide-se em muitas células, desenvolvendo-

se independentemente. Formam-se embriões a partir de um ovo parasitado. Parra et al. 2012.

Page 19: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

19

(D) (E) (F)

(G) (H)

Figura 9. Imagens de atuação de inimigos naturais nas Plusiinae.(A) Lagarta infectada por baculovírus.

(B) Imagem em microscopia do baculovírus. Fonte:Embrapa, Boletim de pesquisa, nº 230, Dez. 2008. (C)

lagarta infectada pelo fungo Nomuraearileyi.(D) Detalhe do fungo entomopatógeno. Fonte:

www.plantiodireto.com.br. (E) Lagarta parasitada por Copidosoma sp. Fonte: Lopes, V.C- Embrapa

Milho e Sorgo, 2015. (F) Eclosão do C. truncatellum em lagarta parasitada. Fonte:

www.dirceugassen.com (G) Ampliação do microhimenópteroC. truncatellum. Fonte:

www.biocontrol.ento.vt.edu. (H) Tricogramma pretiosum parasitando ovo de mariposa. Fonte:

www.planetnatural.com

2.5 Amostragem

A cultura da soja é suscetível ao ataque de pragas desde a germinação até a

colheita. Para um inseto ser considerado praga, ele deve possuir uma densidade

populacional que reduza a produtividade do cultivo a valor monetário maior do que o

custo para o controle. Portanto, a determinação da população da praga é fundamental

para a utilização de estratégias de manejo. Esta determinação é realizada por

amostragem que tem como objetivo identificar o número de espécies e a quantidade de

indivíduos por espécie num determinado ponto escolhido aleatoriamente. Nesta

amostragem também é observada a presença de agentes de controle biológico.

(CORRÊA-FERREIRA, 2012) cita que o método de amostragem mais adotado na soja é

Page 20: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

20

o da batida de pano, desenvolvido nos Estados Unidos por (Boyere Dumas, 1969;

CORRÊA-FERREIA, 2012). É comumente utilizado para amostrar a população de

artrópodes em soja, sendo considerado por (Kogane Pitre, 1980; CORRÊA-FERREIA,

2012) como um excelente método para a captura e avaliação de lagartas, besouros

desfolhadores, percevejos (particularmente as ninfas), além dos insetos predadores. O

método consta de um pano ou plástico branco de um metro de comprimento por um

metro de largura, tendo nas bordas uma bainha onde são inseridos dois cabos de

madeira. O pano, devidamente enrolado e sem perturbar as plantas, é introduzido entre

duas fileiras adjacentes de soja estendido sobre o solo. As plantas das duas fileiras são

inclinadas e sacudidas para que os insetos caiam no pano (FIGURA 10). Para verificar a

densidade populacional, os insetos encontrados são contados e anotados de acordo com

a parcela em que foi feita a batida. O objetivo do método de amostragem de insetos-

praga é estimar a densidade populacional para saber se esta está impactando o sistema

de produção e servir de suporte à tomada de decisão na elaboração da estratégia de

controle a ser definida (STÜRMER et al, 2014).

A resposta ao dano causado pelo inseto à planta depende de dois fatores:

distinção do tipo de dano e o impacto que o dano causa na fisiologia da planta.

(A) (B)

Figura 10. (A) Detalhe do método de batida de pano. (B) Espaçamento entre linhas. Fonte:

www.embrapa.com.br/soja

A tomada de decisão sobre a necessidade de controle da falsa-medideira na

amostragem pelo método da batida de pano é baseada em 10 pontos de amostragem para

lavoura ou talhão de até 100 ha. A lagarta falsa-medideira deve ser controlada quando

for encontrada, em média, 40 lagartas grande/batida de pano ou 30 % de desfolha antes

do florescimento ou 15% de desfolha no surgimento das primeiras folhas para entrar

Page 21: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

21

com o controle químico ou biológico. O controle químico é utilizado com objetivo de

diminuir a população das pragas que causam danos para a cultura. Já o controle

biológico das pragas realizada pelos inimigos naturais da falsa-medideira é sempre

preferencial ao controle químico. Deve-ser orientar o produtor a optar por inseticidas

seletivos para preservar a multiplicação ou introdução destes organismos nas lavouras

contribuindo para a redução do uso de inseticidas químicos (SMIDERLE, 2009).

2.6 Manejo Integrado de Pragas

O Manejo integrado de Pragas (MIP) é caracterizado pelo uso de diversas

técnicas empregadas em equilíbrio visando solucionar um determinado problema,

apresentando soluções duradouras de longo prazo. Um programa de MIP inclui a

utilização de plantas resistentes, manejo adequado do solo, rotação e sucessão de

culturas, medidas sanitárias adequadas, controle biológico e utilização de agrotóxicos

seletivos, pois garante a sobrevivência dos inimigos naturais e impede a explosão

populacional de insetos que, anteriormente não atingiam o nível de controle e o nível de

dano econômico (FIGURA 11).

Ao se alimentarem das plantas, os insetos desfolhadores provocam lesões

chamadas de injúrias e o tamanho destas nas folhas, reduzem sua capacidade

fotossintética prejudicando o desenvolvimento da planta. Quando essas lesões atingem

proporções que afetam financeiramente a cultura temos o chamado Dano Econômico

(DE) e este quando se torna significativo a ponto de prejudicar os lucros da produção,

os insetos passam a serem classificados como pragas e o prejuízo é classificado como

Nível de Dano Econômico (NDE).

Page 22: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

22

Figura 11. Nível Populacional de ataque de uma determinada praga. Fonte: Nakano et al.,1981.

O produtor deve acompanhar a flutuação populacional através das amostragens

realizadas pelo método da batida de pano. Através da densidade populacional de uma

praga e da quantidade amostrada deve-se avaliar as medidas de controle para que não

atinjam o nível de dano econômico e manter a população de insetos no ponto de

equilíbrio. Outro fator importante é o Nível de Ação- NA ou Nível de Controle- NC

(FIGURA 12) que é a densidade populacional de uma praga estimado pelo método de

batida de pano em que devem ser tomadas as medidas de controle, para que não causem

danos econômicos (ZANETTI et al. 2002).

Figura 12. Densidade populacional x tempo. Fonte: Arrigoni, E. de Beni, CTC, Insectshow, 2007.

3. Metodologia

Este trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica sobre as

lagartas da subfamília Plusiinae acompanhando a sua classificação de praga secundária

para praga primária no cultivo da soja safras a partir de 1986 até 2015 nos principais

estados produtores do Brasil.

As fontes para realização deste estudo foram as seguintes:

Page 23: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

23

1- Livros na área de entomologia e controle biológico onde se buscou

informações sobre as características morfológicas do inseto e a sua

importância econômica na cultura e o controle biológico natural dos inimigos

naturais dessa lagarta realizado através do manejo integrado de pragas. Esses

livros estão disponíveis na Biblioteca da UFSJ, Campus Sete Lagoas;

2- Artigos científicos sobre o tema acessados pela base de dados do Scielo e

pelo acervo digital da Embrapa Soja, como o Alice (Acervo à Informação

Digital Científica) e BPD (Acervo Geral das Bibliotecas da Embrapa).

3- Foram utilizadas três teses de mestrado disponíveis no Acervo de Teses e

Dissertações da UnB, UCS, UFG publicados nos períodos de 2010 a 2014,

uma tese de Doutorado disponível no Acervo de Teses e Dissertações da

UFPR, publicado no período de 2010;

4- Coleta de dados em sites relacionados à área agronômica como Canal Rural,

Globo Rural, Revista Cultivar e Revista digital Pesquisa Agropecuária

Brasileira, Revista de Ciências Agroveterinária, Caderno de Pesquisa série

Biologia – Unisc online, acessados durante o estudo deste Trabalho de

Conclusão de Curso;

5- Manual de pragas da soja disponíveis na FMC Agricultural Produts, Pioneer

Sementes, Monsanto e Embrapa Milho e Sorgo.

Os dados obtidos foram analisados e discutidos a partir da Revisão Bibliográfica

onde se pretende informar as principais causas do aumento populacional da C. includens

no cultivo da soja nos principais estados produtores do país.

4. Discussão

Os primeiros registros sobre a C. includens foram relacionados com as safras de

1986/1987 e 1987/1988 na cultura da soja no estado do Rio Grande do Sul nas cidades

de Arroio Grande, Capão do Leão, Cruz Alta, Santa Rosa e Passo Fundo (GRÁFICO 1),

onde (MORAES et. al, 1991), realizaram um levantamento da flutuação populacional de

C. includens em relação à Anticarsia gemmatalis, considerada a praga-chave na cultura

da soja. Estudos revelaram que C. includens apresentaram flutuações irregulares com

picos populacionais no mês de janeiro, antes do pico populacional de A. gemmatalis.

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A. gemmatalis

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Arroio Grande

Safra 1986/1987

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152229 5 121926 2 9 161923 2 9 162330

Dez Jan Fev Mar

A. gemmatalis

C. includens

Safra

1987/1988

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15 22 29 5 12 19 26 2 9 16 19 23 2 9 16 23 30

Dez Jan Fev Mar

A. gemmatalis

C. includens

Capão do Leão

Safra 1986/1987

0

200

400

600

15 22 29 5 12 19 26 2 9 16 19 23 2 9 16 23 30

Dez Jan Fev Mar

A. gemmatalis

C. includens

Safra

1987/1988

0

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15 22 29 5 12 19 26 2 2-9 9 16 23 2 9 16 23

Dez Jan Fev Mar

A. gemmatalis

C. includens

Safra 1987/1988

0

200

400

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15 22 29 5 12 19 26 2 9 16 23 2 9 16 23

A. gemmatalis

C. includens

Safra 1987/1988

0

200

400

600

152229 5 121926 2 9 1623 2 9 1623

Dez Jan Fev Mar

A. gemmatalis

C. includens

Santa Rosa

Safra

1986/1987

0

200

400

600

800

1000

15 29 12 26 9 23 9 23

Dez Jan Fev Mar

A. gemmatalis

C. includens

Cruz Alta

Gráfico 1. Número total de lagartas C. includens e A. gemmatalis encontradas em lavouras de soja no Rio

Grande do Sul. EMBRAPA/CPTB-UFPEL, Pelotas, RS, 1989. Adaptado.

mer

o d

e L

agart

as

em

10 a

most

ras

Page 25: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

25

Observando o gráfico acima, percebe-se que ocorre um maior número

populacional de C. includens nos meses de dezembro a janeiro nas safras de 1986/1987

e 1987/1988 quando a soja estava no estádio fenológico de R2 até R4, sendo que na

safra de 1987/1988 elas predominaram sobre a A.gemmatalis. O declínio da população

de C. includens ocorreu em fevereiro desaparecendo no fim do mês na safra de

1986/1987 e no início de março na safra de 1987/1988 onde a A. gemmatalis passou a

predominar sobre as C. includens onde estas se mantiveram abaixo do nível de dano

econômico. No entanto, quando estas estão associadas com A. gemmatalis, se tornam

importantes e essas variações populacionais levam a tomada de decisões precipitadas

quanto à aplicação de inseticidas para eliminar a lagarta da soja, permitindo que C.

includens se tornem tolerantes aos inseticidas utilizados no combate das lagartas de um

modo geral.

Durante a pesquisa bibliográfica, não foram encontrados dados de infestação de

C. includens nas safras relacionadas à década de 90.

A partir do ano 2000, encontramos alguns relatos de aumento da incidência de

C. includens na cultura da soja com mudanças na sua classificação de praga secundária

para primária. Nas safras de 2000/2001 e 2001/2002, (BUENO et. al., 2007) citam que a

explosão populacional de C. includens é dada pela mudança no sistema produtivo no

cultivo da soja, pelas altas doses de aplicação de inseticidas não seletivos que, além de

eliminar os inimigos naturais, os tornam tolerantes aos inseticidas.

Uma informação importante observado durante a pesquisa bibliográfica foi o

ocorrido no cultivo de soja no estado de Roraima. Na safra de 2006, (MASSARO

JÚNIOR et al, 2010) realizaram coletas das principais lagartas desfolhadoras,

A.gemmatalis e C. includens em área experimental da Embrapa Roraima (Água Boa e

Monte Cristo) sem aplicação de qualquer tipo de inseticida. Observou-se que o pico

populacional registrado foi dado na fase vegetativa da cultura (06 a 30/06/2006),

C.includens predominou sobre a A. gemmatalis (GRÁFICOS 2 e 3), resultado

divergente encontrado por (Morais et al 1991), o que nos permite afirmar que cada

região do país possui variações nas interações devido aos fatores abióticos de cada

estado, como temperatura, umidade, clima e da entomofauna presente na cultura. No

entanto, essa dominação da C includens sobre a A. gemmatalis não atingiu o nível de

controle estabelecido pela metodologia que é 40 lagartas/m² ou 30% de desfolhas.

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06/jun 14/jun 22/jun 29/jun 06/jul 13/jul 20/jul 27/jul 03/ago 10/ago 16/ago 23/ago

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Datas das coletas/estádios de desenvolvimento

A gemmatalis

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V V V V R R R R R R R R R R R

06/jun 14/jun 22/jun 30/jun 06/jul 14/jul 20/jul 27/jul 03/ago10/ago17/ago23/ago30/ago 06/set 13/set

La

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da

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1,5

cm

/10

ba

tid

as

de

pa

no

Datas das coletas/estádios de desenvolvimento

A.gemmatalis

C.includens

Como não houve aplicação de inseticidas nas áreas experimentais, é bem provável que

abaixa populacional foi dada pela ação dos inimigos naturais da C.includens

(MASSARO JÚNIOR et. al. 2010).

Gráfico 2. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar Tracajá, Campo

Experimental Água Boa, Boa Vista/RR, 2006. Fonte: Massaro Júnior et. al., 2010. Adaptado.

Gráfico 3. Flutuação populacional de insetos-praga na cultura da soja, cultivar Tracajá, Campo

Experimental Monte Cristo, Boa Vista/RR, 2006. Fonte: Massaro Júnior et. al, 2010. Adaptado

Page 27: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

27

As safras de 2002/2003 e 2003/2004 na maior parte dos estados produtores de

soja (MS, GO, SP e PR) houve surtos populacionais de C.includens, associados ou não

com a lagarta da soja (A. gemmatalis) que foram citados por (BUENO et.al, 2007), onde

a praga passou a ter a classificação de praga-chave da cultura da soja onde esta, apesar

de sempre ter existido na soja era controlada naturalmente pelo fungo entomopatógeno

Nomuraea rileyi (Farlow). Com a entrada do fungo Pakopsora pachyrhizi causador da

ferrugem asiática na safra de 2001/2002 houve queda na produtividade e para controlar

a doença, as aplicações de fungicidas não seletivos utilizados nas lavouras se tornaram

mais frequentes. Em consequência, houve diminuição dos fungos entomopatógenos

levando ao aumento da densidade populacional da C. includens (BUENO et al, 2007).

Na safra 2014/2015 também houve ataques severos de C.includens na maioria

dos estados produtores de soja, com destaque para o estado do Paraná. Segundo dados

da Embrapa Soja em janeiro e fevereiro de 2015 a falta de chuvas, altas temperaturas e

baixa umidade do ar em grande parte das regiões produtoras, favoreceu o aumento

populacional da praga e reduziu ação dos inimigos naturais.

Estratégias de manejo devem ser empregadas para reduzir o aumento

populacional das lagartas. Dentre elas podemos citar a utilização de produtos biológicos

como a soja Intacta RR2 PROTM (soja Bt), uso de inseticidas seletivos, adotarem área

de refúgio adotando soja RR (tolerante ao glifosato) com monitoramento de batida de

pano (ROGGIA, 2015).

5.Considerações Finais

Nas últimas safras de soja, percebemos o aumento populacional da C. includens

se sobrepondo sobre a lagarta da soja (A. gemmatalis) passando a ser classificada como

praga principal desta cultura. Esse fator é muito preocupante já que essas lagartas se

mostraram tolerantes a vários inseticidas utilizados recentemente e quando aplicados,

requerem uma maior dosagem e repetidas aplicações para conter a população de lagartas

na cultura, aumentando os custos de produção do cultivo. Neste trabalho foi importante

ressaltar a importância do monitoramento das pragas para auxiliar na tomada de decisão

que definirá a melhor estratégia de controle. O manejo integrado de pragas torna-se um

método muito eficiente, pois propõe uma produção mais sustentável e mais econômica

para o produtor, diminuindo a quantidade de aplicação de agrotóxicos que reduzem a

Page 28: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

28

população de inimigos naturais que são os agentes que desempenham o controle

biológico natural dessas lagartas.

Page 29: (Lepidoptera: Noctuidae, Plusiinae) na cultura da soja no Brasil

29

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