occidentia - segunda via - poemas de orlando lopes

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  • 8/13/2019 Occidentia - Segunda via - Poemas de Orlando Lopes

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    Occidentiasegunda via

    1. prvia

    poemasOrlando Lopes

    2014

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    LIVRO UM - LIRA IMAGINRIA ............. 5amor pedacinho .............................................6CANTIGA ..........................................................7FBULA ............................................................8MEKHAN AMOROSA ................................... 10O poeta, em seu infinito passeio pelo infernohumano, finge vera aquilo que devora a alma11ELEGIA AZUL ................................................ 14METAFSICA DA PRESENA ......................... 16UMA TEORIA DO AFETO ............................... 18APOTEGMA .................................................... 19Ainda falta tanto pra escurecer ..................... 20

    LIVRO DOIS - LIRA SIMBLICA ......... 23MUDOU-SE O TEMA (ONDE O MAR COMEA)24HAIKAIS MINIMAIS RADICAIS ...................... 26HAPPY BIRD DAY .......................................... 27N.MADE.S.................................................... 28con sidere: quando voc pensa (ou voc dis pensaesse contnuo (dis)pe(r)sar?) .......................... 30Culpa da orelha metafsica ........................... 31

    Voc, que cansou de perguntar quem ........ 35NOTURNA ...................................................... 39o ato de desenhar idias ............................... 40UMA ESCADA SOBRE O NADA ..................... 44

    LIVRO TRS - LIRA REAL ................. 51ATO DE CRIAO ......................................... 52POTICA ........................................................ 53O poeta no quer que o saibam ..................... 54

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    o poeta no nega o que escreve .................... 56(POEMA) ABUSADO COMO ELE S .............. 57

    O POEMA QUE DESEJA SE EXPLICAR ......... 58um poema que resiste ................................... 59eu sou o mltiplo deste tempo, o fruto esprio destetempo (o esporo aleatrio ............................... 60CALEIDOSCPIO ........................................... 61Imagine que voc capaz de criar um mundointeiramente................................................... 63AISTHESIS ..................................................... 65FRAGMENTO ................................................. 66

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    L L

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    Para a Miriam

    amor pedacinhode cada um. comum-de-dois,vez de vezes, desejo, deleite.

    amor doce (na ponta da lngua) desafogo,

    exagero de luz,epifania evidente.

    amor efeito de ns mesmos(os dois refeitos),os dois refns por direito.

    amor apenas a vida que de si se esquece

    e assim se inventa:esboo de ns pra amanh, querncia

    permanente.

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    CANIGAme ameque te amoquando vocme ama

    te amoquando vocme ama

    pra eupoderte amar

    amemo-noslevescomo (semprecomo) anmonas:acfalos com mil braosdisfarados de ptalas

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    FBLAjoo tentaencontrar em

    Maria:

    o ar mais quente emseu hlitoo peso mais denso doseu corpoo zelo mais extenso do

    seu gosto

    mas Maria (sesmaria) desvairada e absurda:

    seu hlito apenas o frio do suspensoseu corpo

    exatamente o ao do costumeseu gosto a certeza dedicada do acaso

    que opo pode ter joo?

    Joo so como sanso

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    furtivo como um livroe vivo como um reflexo desconexo

    Joo tem inveja todo dia (sem alvio)Joo no pode nadanesta vidaa no serquerer desquerercrer em maria

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    MEKHAN AMOOA

    o amorquando

    se pea nosconsumir

    o amorquandonos seduz

    na maisdeliciosamiragem

    o amorquando

    nos tomaa vistae o horizonte

    o amorquandonos deduz

    da maisinfanteimagem

    o amorquando

    nos devolvea nossodesejo

    o amorquandonos reduz

    maisfuriosavertigem

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    O ,

    , o poetaem seuinfinito

    passeiopelo inferno

    humano (le diable- mon hypocryte semblable sont (milliers de milliers!) les autresen nous mmes)

    finge vera(o vero

    vciodo deverde verdeveras)aquiloque devoraa alma

    (: o horrorque emana

    - vo rtex -(x)

    no nada

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    : uma

    sobre outra: umarealidade que se ex tendecomo corpoao olhar

    (o codex amoroso

    (: quando amas

    de uma formaou de outrastua alma semprese arrisca

    assimcumpre ao corts

    amante

    (lisda lua : tu nu(a)na rua

    e a presena

    ob( (s) ex c)ess& v

    (a uvae seuvivo

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    tudo oque a vida

    temde-bom

    no confusofiode cada umade nossas

    sete vezes sete vezes setevidas)

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    ELEGIA ALI

    sobe a dorj esmaecidada tua ausncia

    e a tua voz aquele lampejocalmo e tmido

    do que no sabiahouveras sido ecoa na memriade pequenos ditos

    e nos olhares que sabiamse perder no infinito

    II

    agora s todolarga e vastavaga na memria

    a discrio de tuas

    pequenssimas (nfimas)grandezas

    valemo sol mais distantedo universo

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    III

    aqui o dia temvinte e seis grausdo sol

    e onze velhosque discutemo que fazercom o que resta

    do dia

    enquanto seuspajens trasgracejamno jornala ltima vitria da Copa

    :basta-lhessaber (como a tibastava) que o mundono

    todoe apenas

    filosofia

    sendo(quando muito)literatura ou pde ps: poesia

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    MEAFICA DA EENA

    I

    aquio denso vazio da tua ausnciase faz de silncios amenos

    o mais dos gestos se recolhe da memria peremptrio logro o teu corpo agoradesarmadoda carne: a equao sem carne do teu charme

    abstrata VnusLisstrata afastada

    aquirepete-se: a tua memria descoladao universo sem massao movimento universal e receosodo vazio: o eco evaporado da tua risada

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    II

    a solido a presena mais completa daperfeiomas insana: a tua falta que me irmana a tua falta que te emana: o quarto a salao trfego nmade da cama

    a solido o preo da tua transmigraoa solido expurga da alma a desventura do

    erroa mgoaa comiserao (a dor surreal da inexplicao)

    solido:assim te transformo em santacrio a minha nica religio: o teu segredo

    beleza dog-ma-ti-za-da (a beleza descarnadade tudoa beleza que no existe em vo)

    solido parodoxodesconforto de dormoeda da saudade:o peso mais areo

    e o lugar mais comum do amor

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    MA EOIA DO AFEOafeto: sentimento quieto

    hbito completo por um preo espasmdico

    arco aberto (no abrupto)

    contato difusofato grossogasosa polpa

    (semper pulpa)

    o carinho amortecido da distnciaa infncia amolecida de um desejoo bocejo envaidecido de um gracejoe vir e ver nas mos o espesso o grave osorrateiro:a coceira engalanada

    o gesto corts

    derradeiro? o afeto no termina por no haverpeitocerteiro, espera o dia sem brilho de um solvermelhocomete a loucura de no se preocupar mais em

    saber:

    o afetoanima sem rima um prisma (a sina)que se ilumina:sncope de luz divina

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    AOEGMAo amor mesmo assim(um dia amano outro no ama)?

    amar encontrar-seno espelho do outro(pra depois tropearno absoluto vazioda indiferena)?

    o amor mesmo essacoisa to incomensurvel( slido como um tomoe abstrato como o universo)?

    o amor sorte(ou certo acerto

    do desejo)?

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    A ainda falta tanto

    para escurecera noite mal seanuncia (apenaso sono manda dizerque no vire que voc termais uma vez

    como companheiraa melancolia)

    ests acostumadoo silncio e asolido te guardamh muitote protegem dos

    homens e te doo mundoque levas dos olhoss mos

    para melhores efeitosde poesia

    no s sbiosabes bem dissoainda s jovem(mas a vida pareceque acaba amanhcedoaps a noite maldormida)tua vontade explodir

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    e mostrar o tantoe o quanto lhe coubera

    de vida(mas a vida explodisseagorate chamariam louco j te chamammansamente

    a ningum desafias)

    teu desejo mais sincero interromper tudoe todossuspender o tempo

    por um instante e

    mostrar o que os outrosno vem: a vida esuas segundas (primeiras)geometrias(mas ningum te daro crdito da descoberta descobristes o nadaem ti mesmo

    : como provar aos estranhosou mesmo famlia?)

    a noite vem vindomuito quentemole modorrentae nada te apetece

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    : a nica coisaa se anunciar

    o inexorvel vazio(vazio que se sabeum nada e a si mesmose anunciacomo longa noitesem estrelastanto quanto sem sol

    foi todo o teu dia)

    no s (sim j o sabes) sbio(fosses, no te farias malno te terias acometidoto lenta agonia)a noite vem e tu(s tu) a esperas

    por no ter remdio:

    por pura (prpura) idiossincrasia

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    L D L

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    MDOE O EMA (ONDE O MACOMEA)

    A aventura o mar ou essa formaQue se forma depois, que vai viverNa memria dos dias?

    Egito Gonalves

    a vida inteiraprocurar aquela coisa a coisa que nos comea

    e encontrar porta de casa

    o marque nunca cessa:oceano que se transforma em are maresia nos corrientranha-nos ao nos atravessar

    nosso mar (tambm salgado) mais impessoal semi-desumano: ascese de quem no navega

    festa mais simples de gua peixe sal (no mar de mitosno oculta monstros infinitosnem tesouros de ouro jias dobres de prata)

    mar puro

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    gua apenas mareal (e se escorre em nossasveias

    porque no nos foi dado choseno no barro de que fomos tomadosemprestados)

    sim um mar (que guarda ainda lgrimas de mese esposase sangue de irmos e pais

    aquela melancolia sriada misria do caiara)como todos os mares (por mais distantes):malabarum marde prias

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    HAIKAI MINIMAI ADICAI

    Paro Bith

    debelo

    azul:degenero

    sincerocomo Homero:exaspero

    quiseramatria etrea:

    o ao da ideia

    trao dominadocompasso:

    poeta de verso escasso

    avessodelicado:

    veludo vago

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    HA BID DAliso leve e solto

    pronto para (sobre)saltos : l vai o pssaro

    pass(e)andandoentre nuvenscolunas e colches de ar

    passou e passa : passara

    inda gora alidefrontegalgagalgo

    cumese montes (desconhece

    caminhosignora pontes)

    : quando reabriresos olhosmal o vers

    certo que estarlonge

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    N.MADE.nmade o sentido que no se aquieta

    nmade o princpio da linha retanmade o alvio da atitude corretanmade o gestoe a mo do poeta

    (de fatoenfrenta o nada abismado: vago

    d nome a cada pedra tropeadae no contente arrasta o breve acenoda mo deixada em pleno abano)

    nmade a fatura que ganha o mundonmade o futuro que vem chegando

    (de resto

    quase nada sobra ao voto feitosobre a pgina: ela se abrese faz desmandose rasgadesgarra desacatadescartao desumano)

    nmade o quecai em desuso

    pousausao desengano

    nmade

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    o que no temenfim

    nenhum plano

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    : (

    ()()?)con sidere:quando voc

    pensa (ou voc dis pensa esse contnuo(dis)pe(r)sar?)num (em-um : e estando nele (nesse um) ser

    (como) ele)ser (e sendo ele com ele (de alguma forma) expa(i)recer)vivo (assim seu prprio (r)ex pirar e dar novavolta ao mundo todo),

    pensa nelecom que grau de

    complexidade

    que fiofaz o teuolhar

    quando

    nesse outroser elese (a si mesmoao prprio olhar)

    per (de per se) corre?

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    C

    I

    (culpada orelha metafsica

    : elanela mesma

    se equi voca)

    o pensamentoquando desentorta(ou sejaquando consegue(plus) ultra passar

    a imagemda linha reta)

    sai pela portaa fora a dentrodeixa de ter centro

    II

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    (a orelhano entende

    o verso:

    incmodode tudoo que

    parece

    disperso)

    o pensamentoreposto emseu molde

    (selva geria

    in finitabarbr iedes comedida

    (toda coisapercebidaen-si-mesma

    torna-se des medidade importncia

    (a menor (no a maiorcefalia cabralina) dorde cabea

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    o maior (no o menor)de todos os enigmas:

    a prpria vida (quesemse sabero que

    tanto noscon torce (e) entre tece

    a(r)ranha(r)riscaa pele de nossaespcie

    : descaminhos

    coloridosde nossa razoperdida)

    assume formasex cntricas

    (pensamento

    ab solutamentesem razo

    pensamentosem sentido

    (ps-humano

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    artifcio : nossagrande fico)

    verdade desaparente

    tudo aquilo querealmentese sente)

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    ,

    vocque cansoude se perguntar

    quem

    decidiste quechegou ahorade ser

    :

    aceitastea vertigemdo mundo

    e as suasestranhasmaneirasde ser

    (o mundo nopode maisfugir de ti

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    e nem tupodes mais fugir

    dele)(vocno paroude sofrer

    mas hojesabes

    no havermotivos

    para recusara imensae delicadssimador de viver

    :

    sentes doresde todo tipo as tuasas dos outrosas do mundo

    inteiro mas no maiste dilacerascom isso

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    o excedentedas dores

    este o teusiso aprendestea moercom palavras

    e s por issosabes que podesuportar

    o prazer quase dor de estar vivo)

    :

    voc

    que passoudestapara melhor

    (aprendeste amorrere a ressuscitarquase todos

    os dias)

    no tensoutro remdiosenoolhar o mundono fundo do olho

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    no tens

    outro remdiosenoeviscerar-se (evanescer-secomo Prometeu)e espremer (aspergir)tua bile:voc

    totalmentetransformadoem calcanharde Aquiles

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    NONAhoje

    anoiteci Schopenhauer:fiquei melanclicotodo spleen

    abatido & cansado

    a vidaencrespada no crepsculo

    pareceudesmascarada : pareceu nada

    acomo um coque divaga

    farejando

    no ardo tempo (antena da sua raa)indecises putrefactase fantasmticas

    emplumei-mecom as plumas indivisas

    que restaramaps o bote: os restosdo fim do mundosem direitoa devoluo do mote

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    o ato de desenhar

    idias assemelha-sepor vezesa um ritual de caa

    uma palavra(ou uma manada delas)

    vaga nasplanciesde uma

    fazenda de ar

    (e nsagri (doces) cultores

    fazendeiros do ar

    sedentrios (brbaros)admiradores da alma

    sentimos afome ancestralda palavra nova)

    (: palavrabicho ingnuo (poro)que deus faz brotar(sacro ofcio)da boca pra fora)

    :

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    devemos nos acercar

    da palavra (daquelapela qual se guiaa manada) mascomo difcil distingui-laentre tantas pelesde lobos e cordeiros

    somente possvel

    aproximar-secercando-se de cuidados

    preciso fingir(a) hora que ela comum(a) hora que ela sagrada entre um ponto e

    outrotentar descobrirde que sub instncia feito o seu nada)

    chega mesmo a horaem que preciso darum bote

    na palavra (o fazendeirosibil-vacilante

    espreita)

    captur-lade uma s vez

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    numa nica bocada(caador macunamico

    : chega uma hora emque no pode ter escrpulosnem

    nenhuma espcie de carter)

    cada poemaguarda as palavrascaadas (imoladas

    despeladas destrinchadasesquartejadas : deixadas

    prontas para serem saboreadas) de umamaneiradiversa

    (a caa espreitosa

    e o poema o caador conhececada recanto de sua fazenda de ar oportunista (inclusive maldosoe perverso : especialmente aquele que belo)

    (h ( claro) poemas fotossintticoscanibais respeitosos

    h mesmopoemas to

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    mimticosque no perdem de vistaas verdades eternas

    : densas estrelas ansrecontam infinitamentea glria de sera certeza dedicada de cada sol

    e sua equidistncia (pura errncia)

    h poemas to pequenos(bactrias etreas) eepopeias gidantescas memrias de elefantescantos de mil baleias)

    : serpentina eternavoz de vbora (sedentrio caador

    estendendo sua rotina) sendo muitobem-vinda s mil bocas indistintasde nosso inferno

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    MA ECADA OBE O NADA

    a escada, apenas entrevista

    imagineuma escadato leveque possa-ser-lhe permitido

    o luxode equilibrar-sesobre o nada

    devem ser veros e certosos muitos rodopiosque a escada dsobre si mesma

    presa que estapenasao infinito

    seu maior mistrio ter a substnciado nada

    mas ainda assimter um quao menos umalgo a maisquase-salquase-pimentamesmo sopitadosna carapinha

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    de um-s (o significado)

    :fiat luz (a vontade iluminadavejamosa escada)

    ...

    uma escadadescarnada de tudoo que no seja escada(a escada aindaantesde ser realizada)

    ...

    estando sobre o nadatanto os degrausquanto a prpria ditado igualmente

    para outro nada(o mesmo) e para

    outros (os nada alheios)nadas (: nossos com

    parsas)

    um

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    degrau

    acima ouabaixo

    de nada

    leva a escada paranenhum lado

    : fora do nadapode-se apenas andarde um lado para o outrodentro da escada

    : dentro do nadanada se passa

    a no ser um degrauem relao aos outros

    assimde dito em desditoos que a vema usam (a escada)

    sobem e descematravessando de

    ponta a ponta oslimites do nada

    ...

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    nos altos e baixosdo nada

    sacodem-se emseus falsos fiosas paspaisagenssurreais: milharesdedegraus

    de uma nica (a mltiplae infinita) escada

    a escada em seu sitio

    sendo feita essencialmente

    de nadaser possvel perguntar: mase o que- que--que se poderenfim

    fazer com essa escada?de onde e para onde podertransportar estes olhosque assaltam incessantes

    o redivivo nada?

    sendo em seu ntimofeita de nadaesta ser sem dvidasua nica herana certa: tudo o que a escada pode

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    oferecer, quando desnudada o prprio nada

    sua metafisiologia,sua amorfologia,sua tpica ausente,sua tpica ausncia,sua arritmia indisfarada

    : fora de todo o tempo

    (pouco antes de existire funcionar a matria

    :

    nesse momento melhorse mostra (e di

    vaga) a escadaque s existe (de facto)enquanto nnada: quandovira coisaela s apenas impresso : aparnciadegenerada)

    : fora de todo o espao

    a escada e sua demanda

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    a escada (tambm

    chamada antesgraal alavanca nirvana

    epi phainsmeta physisais thesis

    mundo que se desmove

    em puro comovimento)

    manda e desmandano poder que a comanda: a fora da vontadeque declina (e desdenha)do nada

    (pois com ele se afinae nele se afaga)dos usos humanos para a escada

    h que se ter cuidadoao se pretender usaruma escada que apenas

    pode nos levar do nadaao nada: qualquer coisaa mais

    perigar o limitede uma existnciato inegvelquanto discutvel

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    (ser sempre to palpvel

    quanto se puder provar em caso contrriotornar sua solidez ase desmanchar no ar

    e assim, insistindoem existir, no hesitarem barbarizar tribunos,

    admoestar jurados)

    : quando o nada encontraa vontadeo mundo se encontradado:

    acaso acasaladosentido reencontrado.

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    L L

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    AO DE CIAOeste trabalho

    que me excede o mais leve:

    no se mede em horasno se importa em ser breveno exige fora-esforo sobre-humano

    seu cansao o cansao bomdo desengano: a beleza que me habitano fardo: gota que preenche o oceano

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    OICAarte? uma famlia de fantasmas

    antepassados.

    o resto? no belo nem plidono contra, no salto remdio (ainda) desencontrado

    poesia? uma amiga que sobrevive longe, e s

    vezes manda lembranas.

    o resto? no tem importncia (ainda que assima vida no se faa), uma coleo de fatos, o gosto sem espao, pingo sem i, puro traogasto: descansao: bafo: o ensimo dia do barro

    poeta? uma mo que embaralha as vistas to

    claras do homem. mas tambm o inverso:quimera racionalizada.

    o resto? a outra mo que (trapaceira) soletra omundo, cantrida desastrada

    poema? o centro momentneo do universo.

    o resto? a rbita escusa: o que no temmusa ( o que desencanta e desconversa). coresdissimuladas, sincronias mrbidas, bocasdescaradas. desdesgnio. antiinsgnia. redesvio

    : vida atraversada

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    O

    I

    o poeta no querque o saibamno quer que o vejam

    mas no quer que digam

    que ele no existe

    por isso o poeta fica triste

    por isso pe o dedo em ristee dispe-se a falar

    (coisa que causaespanto a quemtanto acostumou-sea v-lo calar)

    :

    o que o poeta representa

    nas palavras que se pemem cena (da boca para fora)no dizem o momentoem que delas elese retira : no que expirasua presena(e a pgina respira) cada

    palavra se pe em mira

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    II

    em contato com outrosolhos elas respiramoutros ares : vo ao cuencontram Hades(desmentem o prpriomito do almoo dado

    de (alguma) graa)

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    o poeta no nega o que escreve

    (no importa o nome que assina)

    trata-se de um poeta talvez dmod( sbrio? srio? que melodia anuncia?)mas no tem moldes da velha rimaseno ocultas por descuidoe picardia

    no chega a ser tristeo descontentado poeta:

    faz chistes de avesso azofaz armadilhas de poesia(e mesmo que no haja hojequem delas riacaa palavras que esperam

    aguardam escaparde dicionarizada agonia

    (poemas so curvas que os fatos fazemespasmosentre a memria e a memorabilia:

    escorrendo dos dedos aos olhos ouvidospoemas possuem visgo de oftalmofoniaultrapassamsingulares e simplesqualquer fantasia)

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    (OEMA) ABADO COMO ELE

    se (realmente) verdadeo que tens emmente

    nada nem ningum poder tirar (dela) a tuarazo

    (: verdade a prpria certezae no apenas sua simplesconfirmao)

    uma vez lanadosos dados asim a lgica

    no tem maisnenhuma outraopo

    : deve (necessariamente)manter uma direo

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    O OEMA E DEEJA E

    ELICAo poema que deseja se explicar repetitivo (atmesmo no ttulo) um texto que tenta escapar de no ter nenhum sentido um verso que aceita o ridculo aviso da garantia uma voz que deseja resvalar o vaziobuscando fora no suicdio

    um poema que vaga procura de seu semelhante(mas Baudelaire e Cervantes tropegam apenasequidistantes)

    o poema que deseja se explicar obelo fruto da indolncia

    surto virulento que se cospe no mundo emsobreaviso

    falsa alvssara: semente viscosa que escapa da boca pulso-epgonoavant la lettrecabea-oca

    amenidade desavessa quedesafia o vcioe derrama um mundo de sevcias: den

    falsificadodelicado jardim sem delcia

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    um poema que resisteum poema que resisteganha uma guerra

    peleja contra a massa:arremeda toda a gente(quem entende sua benesse?)

    estendendo braos eleutrios desidrios dessimtricos mandados pelo acaso mais fortuito

    (de seu viocaso algum duvideresta apenas sombreada vida

    alheia (mas vida) contrapletoradesvencilhada edesguarnecidamonomania

    flutuando na aurora)

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    ,

    ( eu sou o mltiplo deste tempo, o fruto espriodeste tempo (o esporo aleatrio, o esparrotransitrio no fundo do poo da modernidade).Eu sou a mscara suprema minhas

    perfumarias to romnticas que se assinala

    na cadncia hermtica semimacunamicainaugrafada na calada da noite. Aoite. Eu souaoite semntico: trago pnico esse tirano aos trapos, farrapos, antes sbios sapos, quese entrevendilham neste templo perdulrio. Notenho tempo: tenho o meu ossrio, meus ossossacros, meu cccix, meu pescoo entalado pelocaldo delegado a ermo meu estado.

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    CALEIDOCIOPerguntas bvias que deviam ser feitasaos poetas (com as respostas bviasque deveriam ser dadas por eles)

    por que voc escreve?escrevo porque tenho verve. escrevo porquemeu sangue uma tinta que ferve. escrevo

    porque assim a minha alma se acalma. escrevopra ver se algum bate uma palma. escrevo prater silncio. escrevo pra ver se me conveno demim mesmo. escrevo porque me invento.

    escrevo porque sou tenso (no porque souintenso). escrevo porque existo de verdadequando penso. escrevo porque no penso semolhos e mos (aprendi que olhos e mos tm agramtica peculiar de gestos e cores formasvolumes onde tenho sentimentos).

    sobre o que voc escreve?escrevo sobre o que tem verve. escrevo sobresangue, sobre tinta que ferve. escrevo sobrealmas que no tm calma. escrevo sobre aquiloque pode virar uma palma. escrevo sobre osilncio. escrevo meus argumentos. escrevo o

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    que invento. escrevo o que tenso (no o que intenso). escrevo sobre o que existe quando

    penso. escrevo sobre o que est diante dasminhas mos e olhos (escrevo sobre o que elesme dizem sobre o que me do de sentimento).

    para quem voc escreve?escrevo pra quem tem verve. escrevo pra quem

    tem no sangue tinta que ferve. escrevo praquem tem alma (mesmo que eu no possa dar aela a calma). escrevo pra quem pode bater

    palma. escrevo pra quem gosta de silncio.escrevo pra quem precisa convencer-se de simesmo. escrevo pra quem se inventa. escrevo

    pra quem tenso (no pra quem intenso).

    escrevo pra quem existe quando pensa. escrevopra quem pensa com as mos dos olhos(aqueles que querem o sentimento de gestos e

    formas em movimento).

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    I

    I

    imagineque voc capaz

    de criarum mundointeiramente

    (um mundointeirode repente

    aparecendona medidado teu punhoe da tua mo

    : tudo aquilo queem tese

    poderia serdado compreenso)

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    II

    cada pedacinhoapenas dependendode tua vontade

    para existir

    mas existindoto perfeitamenteque nem precisas

    atentar para quasenada : quase tudono teu mundo(como no nosso)no pode (dipo cosmolgico) evitaraquilo que dele

    se possaesperar : deusex machina

    natura que nopra de encontrartrans formao

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    AIHEI

    e nissoa vidavem vindo

    (perdurandoo instantneotantode existir)

    e nos trespassando

    : vamos sendo(ou deixandode ser) ns mesmostransformados

    em poesia(: dessa formaque a vidadeixa de seroca cascavazia

    apenaspara virarsubstncia coisa a sersentida)

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    FAGMENOe foi assim

    que a poesiafez de mimo que (ela?eu?) quis

    o sentimentode um triz

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