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Obtenção de filmes de níquel em substratos de alumínio por redução seletiva com H 2 seguida de tratamento térmico em atmosfera controlada Aluna: Adriana Fernandes Nardi Orientador: Eduardo de Albuquerque Brocchi Co-Orientador: Rogério Navarro Correia de Siqueira 1. Introdução Diversos dispositivos com aplicações tecnológicas (catalisadores, sensores para gases etc.) envolvem a deposição de um material na forma de um filme com as propriedades de interesse sobre um substrato específico, cerâmico ou metálico [1,2]. Dentre os diferentes métodos de deposição, aqueles fundamentados em reações estimuladas em fase líquida se destacam pela simplicidade e versatilidade [3]. Nesta classe de procedimentos se enquadra o método utilizado no presente trabalho, que se fundamenta na decomposição térmica de nitratos seguida de tratamento térmico em atmosfera controlada. No que diz respeito a filmes de Ni em substratos de Al, resultados recentes sugerem o total recobrimento do substrato pelo filme do metal de interesse [4]. De um ponto de vista micro estrutural, os filmes são estudados quanto à espessura, bem como tamanho e morfologia dos cristais depositados. A espessura do filme pode ser controlada a partir de técnicas de via úmida, como a lixiviação alcalina ou ácida onde o filme é desgastado mediante a reação com uma solução aquosa a uma taxa controlada. Desta forma, filmes “finos”, ou seja, com espessura na escala nanométrica, podem ser produzidos [5]. Considerando-se a produção de filmes de metais em substratos metálicos, a possível formação de uma fase intermetálica na interface metal/substrato é favorável para o preciso controle da espessura. Ajustando-se as condições durante a lixiviação, pode-se realizar um desgaste seletivo, ou seja, somente o metal acima da camada intermetálica produzida é removido. Para tanto, a identificação e quantificação das fases presentes na camada depositada apresentam especial importância. Neste contexto, se destaca a técnica de difração de raios x por incidência rasante [6], onde a radiação incidente apresenta reduzida penetração, intensificando o sinal proveniente das camadas mais superficiais. Isso é fundamental, se o foco for a determinação de fases intermetálicas possivelmente presentes em uma fina camada localizada na interface entre o metal constituinte do substrato (ex. alumínio) e o metal constituinte do filme, como no presente trabalho. Mediante o emprego de ângulos de incidência tipicamente inferiores a 3 o , o sinal proveniente do substrato pode ser minimizado, elevando-se a intensidade dos picos de difração associados às estruturas cristalinas dos materiais presentes na superfície. Isso permite uma quantificação mais confiável da camada depositada, o que é especialmente importante para fases com inferior fração volumétrica, como acontece no caso de compostos intermetálicos formado na interface metal/substrato. 2. Objetivos O presente trabalho tem por objetivo o estudo da obtenção de filmes de níquel em substratos de alumínio via decomposição térmica do nitrato de níquel seguida de redução seletiva com H 2 , e tratamento térmico posterior para estimular a formação de possíveis fases intermetálicas do sistema Al-Ni.

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Page 1: Obtenção de filmes de níquel em substratos de alumínio por ... · PDF fileObtenção de filmes de níquel em ... envolvem a deposição de um material na forma ... Uma das técnicas

Obtenção de filmes de níquel em substratos de alumínio por redução

seletiva com H2 seguida de tratamento térmico em atmosfera

controlada

Aluna: Adriana Fernandes Nardi

Orientador: Eduardo de Albuquerque Brocchi

Co-Orientador: Rogério Navarro Correia de Siqueira

1. Introdução

Diversos dispositivos com aplicações tecnológicas (catalisadores, sensores para

gases etc.) envolvem a deposição de um material na forma de um filme com as

propriedades de interesse sobre um substrato específico, cerâmico ou metálico [1,2].

Dentre os diferentes métodos de deposição, aqueles fundamentados em reações

estimuladas em fase líquida se destacam pela simplicidade e versatilidade [3]. Nesta

classe de procedimentos se enquadra o método utilizado no presente trabalho, que se

fundamenta na decomposição térmica de nitratos seguida de tratamento térmico em

atmosfera controlada. No que diz respeito a filmes de Ni em substratos de Al, resultados

recentes sugerem o total recobrimento do substrato pelo filme do metal de interesse [4].

De um ponto de vista micro estrutural, os filmes são estudados quanto à

espessura, bem como tamanho e morfologia dos cristais depositados. A espessura do

filme pode ser controlada a partir de técnicas de via úmida, como a lixiviação alcalina

ou ácida – onde o filme é desgastado mediante a reação com uma solução aquosa a uma

taxa controlada. Desta forma, filmes “finos”, ou seja, com espessura na escala

nanométrica, podem ser produzidos [5].

Considerando-se a produção de filmes de metais em substratos metálicos, a

possível formação de uma fase intermetálica na interface metal/substrato é favorável

para o preciso controle da espessura. Ajustando-se as condições durante a lixiviação,

pode-se realizar um desgaste seletivo, ou seja, somente o metal acima da camada

intermetálica produzida é removido. Para tanto, a identificação e quantificação das fases

presentes na camada depositada apresentam especial importância. Neste contexto, se

destaca a técnica de difração de raios x por incidência rasante [6], onde a radiação

incidente apresenta reduzida penetração, intensificando o sinal proveniente das camadas

mais superficiais. Isso é fundamental, se o foco for a determinação de fases

intermetálicas possivelmente presentes em uma fina camada localizada na interface

entre o metal constituinte do substrato (ex. alumínio) e o metal constituinte do filme,

como no presente trabalho. Mediante o emprego de ângulos de incidência tipicamente

inferiores a 3o, o sinal proveniente do substrato pode ser minimizado, elevando-se a

intensidade dos picos de difração associados às estruturas cristalinas dos materiais

presentes na superfície. Isso permite uma quantificação mais confiável da camada

depositada, o que é especialmente importante para fases com inferior fração

volumétrica, como acontece no caso de compostos intermetálicos formado na interface

metal/substrato.

2. Objetivos

O presente trabalho tem por objetivo o estudo da obtenção de filmes de níquel

em substratos de alumínio via decomposição térmica do nitrato de níquel seguida de

redução seletiva com H2, e tratamento térmico posterior para estimular a formação de

possíveis fases intermetálicas do sistema Al-Ni.

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3. O sistema Al - Ni

Analisando-se o diagrama de fases característico do sistema Al - Ni, observa-se

a possibilidade de formação de diversas fases intermetálicas (Figura 1).

Figura 1. Diagrama de fases do sistema Al - Ni [7]

Pode-se observar a existência de uma fase estequiométrica Al3Ni e diversas fases que

admitem variações composicionais. Dentre estas, as que permitem uma manipulação

mais expressiva da composição consistem nas fases Al-Ni e solução sólida terminal -

(Ni). Tem-se ainda outras fases não estequiométricas ocupando regiões menos amplas

no diagrama - Al3Ni2, Al3Ni5 e AlNi3.

Desta forma, dado tempo e energia térmica suficiente para que a difusão atômica

ocorra, é viável pensar na possibilidade de formação de fases intermetálicas na interface

entre o filme de Ni e o substrato de Al. A natureza das fases presentes na interface

depende, naturalmente, das mobilidades atômicas intrínsecas dos átomos de Al e Ni.

4. Difração de raios x com incidência rasante

A difração de raios x apresenta larga aplicação na engenharia de materiais, uma

vez que permite a identificação e quantificação de fases cristalinas. Neste sentido, pode-

se entender a sua generalidade, ou seja, pode ser utilizada para materiais poliméricos,

cerâmicos e fases metálicas, desde que as mesmas apresentem um arranjo atômico

ordenado de longo alcance.

Figura 2. Interferência construtiva em uma estrutura cristalina

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Como a radiação incidente apresenta um comprimento de onda da ordem de grandeza

do espaçamento dos átomos (λ ~ 5.10-10

m), o espalhamento dos raios x pelos átomos do

material - após serem excitados pelo raio x incidente se tornam fontes de raios x - a

radiação que deixa o material acaba então sofrendo interferência em direções (ângulos)

específicas, gerando desta forma um padrão de difração. Considerando-se a família de

planos atômicos apresentada na Figura (2), lei de Bragg (Eq. 1), determina que para o

espaçamento interplanar (dh,k,l) a interferência será construtiva em ângulos específicos

[6].

𝑠𝑒𝑛𝜃 =𝑛𝜆

𝑑ℎ ,𝑘 ,𝑙 (1)

Uma das técnicas mais empregadas consiste no método de Bragg-Brentano.

Neste, os ângulos de incidência e detecção são sempre os mesmos. Há equipamentos em

que a amostra é fixa e a fonte e o detector se deslocam, e outros em que a fonte é fixa e

o detector e a amostra se deslocam [6].

Outra possibilidade consiste em se fixar o ângulo de incidência e variar o ângulo

de detecção, por exemplo, no caso do método conhecido por incidência rasante -

Grazing Incidence - muito utilizado no estudo de filmes, pois limitando-se o ângulo de

incidência a valores baixos (tipicamente entre 0.2 e 3o), é possível, dependendo do

material depositado, eliminar a contribuição proveniente do substrato.

O ângulo de incidência deve ser ajustado para cada caso, pois a penetração do raio x no

filme depende diretamente da densidade do material depositado (Figura 3).

Figura 3. Difração de raios x por incidência rasante

4.1. Absorção de raios x

Além da difração, outros fenômenos interessantes, independentes da

cristalinidade, ocorrem quando o feixe de raios x incidente interage com a amostra.

Existe a possibilidade de ocorrência do denominado espalhamento incoerente, onde os

átomos do material, uma vez excitados pela radiação incidente, emitem raios x, porém

com um comprimento de onda distinto do associado à radiação incidente. Outra

possibilidade consiste na absorção do fóton de raio x incidente, resultando na remoção

de um elétron de uma camada interna (elétron auger). Neste caso, a lacuna deixada pode

ser preenchida por um elétron d um orbital superior, emitindo-se novamente raio x, que

pode ser ou não do mesmo comprimento de onda do fóton absorvido [6].

Em ambos os casos a intensidade total da radiação passível de ser difratada, ou

seja, capaz de gerar um padrão de difração, perde intensidade. A redução na intensidade

do raio x a medida que o mesmo se propaga no interior do material pode ser modelada

de acordo com a Eq. (2).

y

oeII 2

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Onde Io e I representam, respectivamente, a intensidade inicial e a intensidade resultante

após o feixe ter percorrido uma distância de magnitude y no interior do material.

Adicionalmente, µ representa o coeficiente de absorção, que é uma função do

comprimento da radiação incidente e da densidade do material. De uma maneira geral,

quanto menor o comprimento de onda, maior a penetração para a mesma distância

percorrida. Elevando-se a densidade, no entanto, o efeito é o oposto. Quanto mais

átomos os fótons incidentes encontram pelo caminho, maior a probabilidade de algum

evento de absorção ocorrer. No caso do níquel metálico, de especial importância para o

presente trabalho, quando irradiado com raios x gerados por um tubo de cobre, tem-se

um valor igual a 420.908cm-1

para o referido parâmetro [6].

O fenômeno de absorção de raios x pode ser utilizado na caracterização de

filmes cristalinos. Mediante a construção de um difratômetro que permite a incidência

em um ângulo fixo de baixa magnitude (tipicamente inferior a 3o), a distância percorrida

pela radiação se eleva, aumentando a probabilidade de que algum evento de absorção

venha a ocorrer. Desta forma, dependendo da espessura do filme e densidade do

material depositado, o ângulo de incidência pode ser ajustado de maneira que nenhum

fóton da radiação venha interagir com o substrato (o raio x é completamente no filme

antes de entrar em contato com átomos do substrato). Nessas condições, os picos

presentes no espectro de difração obtido dizem respeito exclusivamente às fases

presentes no filme, o que se reflete de forma positiva na confiabilidade dos resultados,

ou seja, tanto a composição quanto os tamanhos médios de cristalito dos materiais

existentes no filme de interesse podem ser avaliados com maior precisão, contribuindo

para a sua caracterização como um todo.

A distância caminhada ate que o raio x seja completamente absorvido pode ser

calculada pela Eq. (1) - ya - e então empregada no cálculo da espessura do filme - e (Eq.

2). A precisão do cálculo depende diretamente da determinação da condição exata

(ângulo de incidência - φ*) para a qual o sinal de difração proveniente do material do

substrato desaparece (Figura 4).

)cos(

)exp(lim0

*

0

a

yy

ye

yIa

2

Figura 4. Extinção total

A grande vantagem do método de difração por incidência rasante consiste no fato do

mesmo não depender da rugosidade do filme em questão. Uma vez efetuada a precisa

caracterização das fases presentes no filme, a rugosidade do mesmo pode ser controlada

mediante procedimentos adicionais a serem desenvolvidos em etapas futuras do

presente trabalho (tópico 8).

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5. Metodologia

O processo se divide em três etapas fundamentais. Inicialmente, partículas de

óxido de níquel são depositadas na superfície do substrato de Al previamente polido

com lixas de granulação conhecida – 400 – mediante a decomposição térmica de nitrato

de níquel puro (Ni(NO3)2.6H2O) a 400oC. O início da decomposição térmica é

evidenciado pela evolução de NO2 gasoso (gás de coloração avermelhada). A partir do

momento em que o NO2 não é visualmente detectável, o tratamento térmico é

prolongado por mais dez minutos, resfriando-se o filme na manta até a temperatura

ambiente. Em seguida, o filme de óxido é seletivamente reduzido com hidrogênio a

450oC durante 45 minutos. Ao final da reação, o fluxo de H2 é interrompido, e argônio

ultrapuro então admitido no reator. Convém comentar que a viabilidade do método

descrito foi demonstrada em trabalhos anteriores [4], alcançando-se um total

recobrimento da superfície do substrato por cristais de níquel metálico com acentuado

conteúdo nanoestruturado. Neste sentido, o presente trabalho incorporou uma etapa

adicional no procedimento experimental desenvolvido anteriormente, visando estimular

a formação de possíveis fases intermetálicas (tópico 3). Após a etapa de redução, em

que o NiO depositado é reduzido a níquel metálico (Eq. 3), o filme permanece no

interior do reator em atmosfera inerte (argônio ultrapuro) durante uma hora. No presente

trabalho, duas temperaturas de tratamento térmico foram investigadas, 450oC e 600

oC.

5.1. Métodos de caracterização:

Os filmes obtidos bem como o substrato utilizado foram caracterizados via

difração de raios x (DRX), no sentido de se avaliar o percentual das fases presentes. Na

ocasião será utilizado um equipamento Panalitical, modelo X’Pert Pro, que opera na

geometria Bragg – Brentano, com tubo de Cu e detector multipontual (Celerator), de

alta performance. O detector de alta performance permite a maximização da relação

sinal – ruído, o que em última instância contribui para a confiabilidade dos dados

obtidos a partir da análise quantitativa (método de Rietveld) dos difratogramas.

Dentro do contexto do presente trabalho o uso da técnica de incidência rasante

foi decisiva na investigação de possíveis fases intermetálicas presentes no material

depositado. Com esta técnica (tópico 4.1), ajustando-se cuidadosamente a magnitude do

ângulo de incidência na faixa entre 3 e 0.2o, foi possível eliminar o sinal proveniente do

substrato.

Finalmente, análises via microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram

realizadas no sentido de se estudar a qualidade do recobrimento. Espectros de energia

dispersiva (EDS) foram igualmente obtidos de maneira a realizar a determinação das

frações mássicas dos elementos presentes. Na ocasião empregou-se um equipamento de

bancada, modelo HITASHI – TM3000, que opera com tensão nominal de 15KV, médio

vácuo, e permite alcançar uma resolução máxima de 80 nm. O referido equipamento é

equipado com um módulo de EDS capaz de detectar elementos com número atômico

igual ou superior a quatro, podendo desta forma, ser aplicado na avaliação do teor de

nitrogênio e oxigênio nas amostras.

6. Resultados e discussões

6.1. Caracterização do substrato

Na figura (5), pode-se observar a microestrutura característica do substrato

polido com lixa de granulação 400. Observa-se que os defeitos introduzidos durante o

polimento se encontram homogeneamente distribuídos (sem direção preferencial) na

superfície do substrato. Mediante microanálise via EDS (Tabela 1), pode-se verificar

que de fato o Al é o elemento majoritário, porém existem contribuições de outros

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Ângulo de Bragg (graus)757065605550454035

Ra

iz q

uadra

da

de I

(u.a

)

550

500

450

400

350

300

250

200

150

100

50

0

al 100.00 %

elementos para o espectro (O, Si, Mg, Mn, Fe Ag), sugerindo que o substrato se trata em

verdade de uma liga de alumínio. A presença de oxigênio se deve, possivelmente, à

presença de Al2O3, resultante da reoxidação da liga quando em contato com a

atmosfera. A informação oriunda da análise via EDS é consistente com o resultado da

análise do difratograma apresentado na Figura (6), onde além dos picos característicos

do Al, outros picos não ajustados podem ser evidenciados. A ausência de picos

associados ao Al2O3, indica que este componente se encontra na forma de uma camada

nanoestruturada, impedindo a sua identificação via DRX.

Tabela 1. Elementos principais presentes no substrato de Al - % em massa obtidos via EDS

Figura 6. Difratograma característico do substrato obtido em geometria Bragg-Brentano

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6.2. Caracterização dos filmes produzidos

No presente trabalho foram produzidos três filmes (A, B e C), os quais foram

caracterizados via MEV/EDS e DRX mediante experimentos com incidência rasante.

- Filme A

Foram registradas micrografias das regiões com maior e menor espessura -

região mais espessa contém maior teor de níquel. Foi feito EDS em cada uma das

regiões, podendo-se garantir um total recobrimento do substrato pelo filme produzido.

A presença de oxigênio é explicada pela reoxidação do filme em contato com a

atmosfera durante a retirada da amostra do forno de redução.

Região de menor espessura Região de maior espessura

Elemento % em massa

O 19.467 Al 74.123 Ni 6.410

Figura 7. Micrografia obtidas para o filme A e EDS com elementos principais

A micrografia (Figura 8) obtida em alto aumento para uma das regiões de menor

espessura -contraste escuro - indica o completo recobrimento da superfície, pois embora

se observem os contronos dos sulcos introduzidos durante a etapa de lixamento, a

natureza da superfície é distinta da observada para o substrato utilizado (Figura 5). A

presença de uma camada de níquel, por mais fina que seja, nesta região se encontra de

acordo com a determinação de um teor de níquel via EDS superior à precisão associada

ao método para metais de transição (±2%).

Elemento % em massa

O 13.287 Al 7.426 Ni 79.287

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Ângulo de Bragg (graus)8075706560555045403530252015

Inte

nsid

ade (

u.a

)

800

700

600

500

400

300

200

100

0

al 56.50 %

ni 40.76 %

nio 2.74 %

Ângulo de Bragg (graus)757065605550454035

Inte

nsid

ade

(u

.a)

120

110

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

al 25.17 %

ni 71.54 %

nio 3.29 %

Figura 8. Micrografia em alto aumento obtida para o filme A

Figura 9. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 3o

Figura 10. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 1o

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Ângulo de Bragg (graus)85807570656055504540

Inte

nsid

ade (

u.a

.)

120

110

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

al 11.71 %

ni 85.37 %

nio 2.91 %

Figura 11. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 0.8o

A presença de picos do substrato observada em todos os difratogramas

relaciona-se diretamente com a rugosidade do filme produzido, uma vez que as regiões

de menor espessura proporcionam um maior sinal do substrato ao aparelho de DRX.

Reduzindo-se o ângulo de incidência, reduz-se a contribuição do Al para o

diafratograma, observando-se o concomitante aumento no teor de Ni. Este estudo nos

permite uma maior certeza quanto ao satisfatório recobrimento da superfície do

substrato.

- Filme B

Foram registradas micrografias das regiões com maior e menor espessura, como

no filme anterior (A), bem como análises via EDS em cada região. No entanto, a

diferença de espessura (contraste) é menor do que a observada para o filme A,

indicando um recobrimento mais homogêneo. Isso se reflete nas concentrações de

níquel e alumínio obtidas via EDS. De forma equivalente ao filme A, a micrografia

(Figura 13) obtida em alto aumento de uma das regiões de menor espessura indica um

total recobrimento do substrato.

Figura 12. Micrografia obtida para o filme B e EDS com elementos principais

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Ângulo de Bragg (graus)757065605550454035

Inte

nsid

ade (

u.a

)

2.400

2.200

2.000

1.800

1.600

1.400

1.200

1.000

800

600

400

200

0

-200

-400

Ni 88.62 %

Al 7.02 %

Al3Ni2 4.37 %

Ângulo de Bragg (graus)757065605550454035

Inte

nsid

ade (

u.a

)

1.800

1.600

1.400

1.200

1.000

800

600

400

200

0

-200

-400

Ni 92.83 %

Al 3.91 %

Al3Ni2 3.26 %

Figura 13. Micrografia em alto aumento obtida para o filme B

Figura 14. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 1o

Figura 15. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 0.5o

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Ângulo de Bragg (graus)757065605550454035

Inte

nsid

ade (

u.a

)

1.600

1.400

1.200

1.000

800

600

400

200

0

-200

-400

Ni 93.59 %

Al 2.65 %

Al3Ni2 3.76 %

Ângulo de Bragg (graus)757065605550454035

Inte

nsid

ade (

u.a

)

1.400

1.200

1.000

800

600

400

200

0

-200

-400

Ni 93.78 %

Al 2.19 %

Al3Ni2 4.03 %

Figura 16. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 0.3o

Figura 17. Difratograma característico do filme A - incidência rasante com φ = 0.2o

A contribuição do substrato no difratograma é inferior à observada para o filme

A com ângulo de 1º. Isto pode ser explicado pela menor variação espacial da

rugosidade, isto é, menor diferença entre as regiões de maior e menor espessura,

apresentada no filme B. Tal fato nos remete a uma redução progressiva do sinal de

alumínio no difratograma, podendo até ser muito próxima de zero para ângulos de

incidência menores que 0.5º. Observa-se também, a presença de uma possível fase

intermetálica – Al3Ni2 - obtida durante o tratamento térmico (a 450ºC durante 1 hora em

atmosfera de argônio ultrapuro) do filme já reduzido. Esta é uma das fases estáveis

conhecidas do sistema Al – Ni (Figura 1).

- Filme C

A microestrutura estudada tem característica heterogênea, assim como nos

filmes A e B. No entanto, tal filme apresentou variação de espessura ainda mais

acentuada, caracterizando um filme com alta irregularidade superficial, o que acarreta

em disparidades nos percentuais de níquel e alumínio em diferentes regiões. O alto teor

de oxigênio presente se explica pela reoxidação de parte do níquel mediante contato

com a atmosfera.

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Região de menor espessura Região de maior espessura

Elemento % em massa

O 28.758 Al 62.292 Ni 8.949

Figura 18. Micrografia obtida para o filme C e EDS com elementos principais

Figura 19. Micrografia em alto aumento obtida para o filme C

A presença de alumínio em todos os difratogramas se dá pela irregularidade do

filme produzido, assim como no caso do filme A (Figuras 20 e 21). Desta forma, o sinal

do substrato em regiões com fina espessura não pôde ser removido do difratograma nas

condições empregadas. Novamente observa-se que a fase intermetálica (Al3Ni2) é

formada. Neste caso, obteve-se um maior percentual mássico do que no filme B, que

pode ser explicado pela maior temperatura (600ºC) adotada durante o tratamento

térmico após a etapa de redução com H2.

Elemento % em massa

O 7.224 Al 5.527 Ni 87.249

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Ângulo de Bragg (graus)6560555045403530252015

Inte

nsid

ade

(u

.a)

6.000

5.500

5.000

4.500

4.000

3.500

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0

-500

Ni 58.00 %

Al 2.85 %

Al3Ni2 11.99 %

Bunsenite 27.16 %

Ângulo de Bragg (graus)4746454443424140393837

Inte

nsid

ade (

u.a

)

4.000

3.500

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0

Ni 39.90 %

Al 2.49 %

Al3Ni2 13.58 %

Bunsenite 44.03 %

Figura 20. Difratograma característico do filme C - incidência rasante com φ = 0.5o

Figura 20. Difratograma característico do filme C - incidência rasante com φ = 0.5o – Ângulo de

Bragg variando entre 37 e 47º.

7. Conclusões

Obteve-se filmes de Ni depositado na forma de uma camada de rugosidade não

uniforme (camadas finas e mais grosseiras alternadas) em todos os casos. A variação

espacial da espessura guarda uma relação direta com a variação dos percentuais

mássicos de alumínio e níquel obtidos via EDS, bem como com a contribuição do

substrato para os espectros de DRX obtidos em condição de incidência rasante.

O recobrimento da superfície do substrato foi total, uma vez que ao realizar-se

MEV de alto aumento, observou-se em todos os casos, uma microestrutura distinta da

associada ao substrato puro. A presença de uma camada de Ni recobrindo todo o

substrato também se encontra em concordância com a observação da possível redução

do teor de Al e concomitante aumento do teor de Ni, uma vez reduzindo-se o ângulo de

incidência nos experimentos de DRX com incidência rasante. A redução do ângulo de

incidência, aumenta o caminho percorrido no filme, ocasionando a redução da

intensidade do raio x capaz de incidir sobre o substrato.

Finalmente, no caso dos filmes B e C, submetidos a um tratamento térmico

posterior, pôde-se identificar a fase intermetálica Al3Ni2, que é uma das fases estáveis

determinadas no diagrama do sistema Al – Ni (Figura 1). A temperatura de tratamento

térmico influencia no teor do componente intermetálico formado – o filme C apresenta

aproximadamente o dobro de Al3Ni2 que o filme B. Isso é perfeitamente explicável, pois

a formação da referida fase intermetálica requer energia térmica para que a difusão de

átomos de Al e Ni possa ocorrer. Quanto maior a temperatura, superior a energia

disponível, reduzindo-se o tempo para a formação da fase Al3Ni2.

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8. Trabalhos futuros

Pretende-se entender melhor a cinética de formação da fase intermetálica

identificada - Al3Ni2. Neste sentido, serão produzidos filmes a 200oC sem tratamento

térmico posterior, e supostamente com fração mássica de Al3Ni2 igual a zero, e a 600oC,

variando-se o tempo de tratamento térmico empregado (1, 2 e 3hs). Espera-se que com o

aumento do tempo seja possível observar a elevação do percentual mássico da fase

intermetálica formada.

Propõe-se também o uso da técnica de perfilometria no estudo quantitativo da

variação espacial da rugosidade dos filmes, bem como determinar a espessura típica

alcançada durante os experimentos. Utilizando-se uma mascara, pode-se limitar a

deposição em uma certa área de interesse do substrato, e, após a etapa de redução, pode-

se medir a diferença de espessura entre a região antes coberta pela máscara (contendo

somente Al) e a região recoberta pelo Ni.

9. Referências

[1] Sunil G. K. et al. Korean J. Chem. Eng., v. 28, n. 6, p. 1464-1467, 2011.

[2] Patel N., Miotello A., Bello V. Applied Catalysis (B), v.103, n. 1-2, p. 31-38, 2011.

[3] Maissel L. I. Handbook of thin film Technology, New York, McGraw-Hill, 1970.

[4] Brocchi, E. A., Nardi A., Navarro, R. C. S. Obtenção de filmes de Niquel em

substratos de Alumínio por redução seletiva com H2. Trabalho apresentado no XX

seminário PIBIC, PUC-Rio.

[5] Mayer S. T. High rate copper isotropic wet chemical etching. ECS Transactions, v.

35, n. 2, p. 133-143, 2011.

[6] Cullity, B. D. Elements of X-ray diffraction, 2nd ed., 1978.

[7] Okamoto H. Journal of Phase Equilibria and Diffusion v. 25, n. 4, p 394, 2004.