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Obrigado por seu interesse no e-book “Introdução à psicanálise de Freud e Lacan”.

Aqui, você encontrará um resumo de informações referentes à psicanálise, essa teoria e prática criada por Sigmund Freud há mais de 100 anos, e que se mantém tão atual. Vemos provas disso tanto dentro quanto fora do consultório, todos os dias.

Além disso, você encontrará também as primeiras noções para se familiarizar com a psicanálise lacaniana. Sendo considerado por muitos o psicanalista mais importante da história (claro, depois de Freud), Lacan propõe um retorno à Freud, trazendo de volta o foco da psicanálise (depois da morte de seu fundador) para a escuta do paciente, as manifestações do inconsciente, e dando grande ênfase à linguagem.

Boa leitura!

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Sobre o autor:

Arthur Gustavo Muniz Engel é psicanalista (em formação contínua, sempre), e graduado em psicologia, tendo se formado em 2004 pela Universidade Federal Fluminense. Fez sua pós-graduação em Psicanálise e Laço Social, também pela UFF, em 2006.

Além da prática clínica em consultório particular desde 2004, oferece supervisão clínica a psicanalistas; grupos de estudo sobre Freud e Lacan; e cursos de psicanálise. Desde abril de 2017 alterna entre o Brasil e o Chile, praticando atualmente a psicanálise e sua transmissãode forma online.

Possui também uma lista de transmissão no whatsapp, pela qual envia conteúdos de psicanálise semanalmente.

Os três ícones no alto à direita de cada página são links para as redes sociais. Whatsapp para contatos e inscrição na lista de transmissão: +56-97244-5958

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Índice

1 – Surgimento da psicanálise ......................................…….........….....…........

2 – O inconsciente e suas manifestações ...........................……..............….....

3 – Complexo de Édipo …..........................................................…….........…....

4 – Transferência, resistência e recalque …………………………………..…….

5 – Outros conceitos fundamentais ….......…...................................……....…..

6 – A retomada de Lacan …................................................................…….…...

7 – O inconsciente estruturado como linguagem …............................…….…..

8 – Alguns conceitos lacanianos …………………………………………….…….

9 – Real, simbólico e imaginário …......................................................………..

10 – O lugar do analista ……………………………………………………………

11 – A formação (contínua) do analista …………………………………………..

12 – A psicanálise hoje ….....................................................................……….

13 – Encerramento ….........................................................................…….…..

14 – Bibliografia …................................................................................……….

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Sigmund Freud (foto) iniciou sua carreira como médico (tendo um profundo apreço pela pesquisa) em Viena. Especializou-se em neurologia, e desenvolveu um grande interesse pelos fenômenos psíquicos, depois de já ter estudado bastante a anatomia cerebral.

Ao voltar de um período de estudos em Paris com Charcot, principal referência na época em tratamentos sobre histeria, Freud direciona seus estudos para as psiconeuroses, juntamente a Breuer, seu mestre na universidade de Viena.

O tema das histerias, bastante controverso na época, ganha a atenção dos dois, que atendemdiversos casos desse gênero, e escrevem artigos e livros em conjunto.

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Breuer e Freud acreditavam que os sintomas dos pacientes surgiam através de traumas ocorridos na infância, e que não tiveram uma reação adequada no momento. Como se fosse houvesse gerado uma “energia”, que ficou retida, e que muitos anos depois se transformaria em sintoma.

Com isso, a ideia era trazer de volta esse trauma, para poder efetuar uma reação adequada, liberando essa energia, e acabando com o sintoma do paciente.

Nessa época, a hipnose era o método mais utilizado para tratar casos desse tipo. Porém, Freud percebe, aos poucos, que a hipnose não era de tão grande ajuda nesse processo. Ela facilitava a chegada a essas lembranças traumáticas, mas o paciente não fazia trabalho nenhum, e isso diminuía a efetividade do método, ocasionando o retorno dos sintomas. Através da associação livre, Freud percebe que o paciente também consegue chegar a essas lembranças, mas agora de uma forma consciente, e com melhores resultados.

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Essa é considerada a grande descoberta de Freud, e que tornou possível a criação da psicanálise: ele deu ouvidos à histérica; apostou que havia um saber, um conhecimento ali (mesmo que ela não percebesse isso) que deveria ser levado a sério, ao contrário do que acontecia na época (considerava-se muitas vezes que a histeria era “encenação” da paciente).

Mais tarde, Freud percebe também que esses traumas infantis estavam sempre relacionados a algum evento sexual. Segue essa linha de raciocínio até perceber, mais à frente, que muitos dos relatos de sedução infantil que ouvia nunca tinham ocorrido. Eram uma “invenção” da paciente. Mais precisamente, fantasias.

Essa descoberta levou Freud a pensar na relevância da fantasia. E também a concluir pontos importantes sobre sua teoria, como a existência da sexualidade infantil, que foi um enorme tabu para a época. Também o auxiliou a criarsua teoria do Complexo de Édipo, baseado no mito deSófocles, que será visto num capítulo mais à frente.

(imagem: “Édipo e a Esfinge”, pintura de Gustave Moreau, 1864)

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Um dos conceitos fundamentais da psicanálise é o inconsciente. Alguns outros autores já haviam sugerido a possibilidade de existirem pensamentos ou ideias que não acessam a consciência; mas não chegaram a desenvolvê-las. Foi Freud quem nos trouxe o conceito de inconsciente, de uma forma bem desenvolvida, como uma instância do aparelho psíquico ao qual não temos acesso, e que influencia nossa vida o tempo todo.

Entre outras coisas, existiriam conteúdos (ideias, conceitos, etc.) que o aparelho psíquico “julga” que não devem atingir a consciência, a fim de manter uma quantidade mínima de estímulos. Seriam, portanto, muito “fortes” para chegar à consciência.

Freud nos diz que o aparelho psíquico atua sob o domínio do princípio do prazer, ou seja: um excesso de estímulo causaria desprazer, e uma redução de estímulo, prazer. Por isso, esse “filtro”, essa “censura”, evitando a entrada de certos conteúdos na consciência.

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Acontece que esse material retido no inconsciente continua tentando se manifestar de alguma forma. Ocorrendo, assim, diversas maneiras de manifestação do inconsciente, tais como:

atos falhos sonhos chistes esquecimentos trocas de nome

Apenas para citar alguns exemplos. É como se o inconsciente esperassepor “brechas” para se manifestar. E essas brechas surgem nos sonhos, nomeio da fala, através de uma brincadeira, etc.

Esse conteúdo não vai deixar de tentar ressurgir à consciência. E nascitadas manifestações acima, quando consegue aparecer, é de formavelada, pouco ou bastante modificada, de forma que ainda existe umacensura em seu conteúdo.

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A ideia de que nosso aparelho psíquico não apenas possui pensamentosinconscientes, mas que esses exercem enorme influência em nossa vida foi(e muitas vezes ainda é) considerada desruptiva, surpreendente, ou atémesmo absurda se pensarmos no quão a nossa sociedade é influenciadapela visão racional e científica.

E não foi baseado em nada mais do que os diversos casos clínicos queatendia (e também em suas experiências pessoais) que Freud foi capaz dedescrever essas manifestações do inconsciente, e falar um pouco sobre seuprocesso.

Já mais para o final de sua vida, Freud escreveu que foi o responsável pela3a grande ferida narcísica da humanidade: a 1a sendo a descoberta deCopérnico, de que a Terra não era o centro do universo, e sim que era apenasmais um corpo celeste que girava em torno do Sol; a 2a sendo os estudos deDarwin, que mostravam que o ser humano era uma evolução do macaco, enão o senhor das espécies do planeta; e Freud contribuindo com a 3a aomostrar que o homem não é senhor nem em sua própria casa, ou seja, nemde si mesmo, ou de seus próprios pensamentos.

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Segundo Freud, o primeiro objeto de amor, tanto na vida dos meninos quanto na vida das meninas é a mãe (ou alguém que ocupe este lugar). É a figura que alimenta, cuida, que dá o seio... no início da vida, o bebê sequer sabe onde começa e termina seu corpo e o da mãe. Ela é a pessoa que supre todas as suas necessidades básicas.

No caso dos meninos, esse objeto de amor se manterá (mãe), e haverá também uma identificação com o pai, que posteriormente se tornará rivalidade, por achar que o pai é seu rival, pois também deseja e é desejado pela mãe. Apenas no final do Édipo essa relação se alterará, e o menino voltará a identificar-se com esse pai, e buscará outra figura feminina (entre outras possibilidades).

Já nas meninas, o complexo de castração surge antes do complexo de Édipo, ao perceberem, por comparação, que lhes falta algo. Elas, então, endereçam uma hostilidade em direção a mãe, que julgam culpada por não ter lhe dado um falo. E buscam, então, o amor daquele que ela julga ter o falo, o pai. Mais tarde, na saída do Édipo, algumas opções irão surgir, tanto para as meninas quanto para os meninos, fundando assim o sujeito para a psicanálise. Obviamente, tudo isso ocorre a nível inconsciente.

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A função paterna aí é a de criar uma separação nesse par mãe-criança. Lembrando que o termo “função paterna” não implica que seja o pai da criança, ou mesmo que seja alguém do sexo masculino. Na verdade, não implica nem que exista alguém ali, fisicamente, nesse papel. É apenas uma função, que até mesmo a própria mãe pode exercer, em certos casos.

Essa separação (que levará o sujeito a prosseguir na busca do objeto perdido ao longo da vida) deixará a criança apta para relacionar-se com outros sujeitos, inserir-se na linguagem mais apropriadamente (ver capítulo “Real, simbólico e imaginário”, mais à frente), e a encaminhará no caminho da neurose, e não da psicose.

As 3 estruturas clínicas, segundo a psicanálise, são a neurose, psicose e a perversão. Não vamos nos aprofundar nelas nesse e-book, mas em resumo elas se baseiam nas formas do sujeito lidar com a castração, com o Édipo, com a perda do objeto: na neurose surge a operação do recalque; na psicose temos a foraclusão; e na perversão temos o desmentido.

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Outro conceito fundamental para a psicanálise é a transferência. Freud percebeu sua importância logo no início, quando começou a atender seus pacientes de acordo com o novo método da associação livre, já mencionado previamente.

Ele percebeu que, na medida em que os sintomas do paciente iam desaparecendo, e ele lhes dava alta, acontecia um fenômeno curioso: os sintomas retornavam. Mesmo já tendo desaparecido há um certo tempo, bastava a interrupção do tratamento, e os mesmos regressavam.

Freud, então, notou que o laço, o vínculo que se estabelecia entre ele e o paciente era muito forte, e que continha algo mais ali. Não era um laço que podia simplesmente ser desfeito de uma hora pra outra. Mais tarde, ele irá dizer que a “batalha” que o tratamento trava contra o sintoma vai passar para o campo transferencial, essencial para seu sucesso. Mas que, mesmo assim, a transferência também vai trazer a resistência; ou seja também trará uma dificuldade ao tratamento. É uma peça fundamental, mas também é fonte de resistência.

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Resistência essa na qual podemos incluir tudo o que impede o andamento do tratamento psicanalítico. O conjunto de forças que não quer que as coisas tenham seu estado alterado, colocando de forma bem resumida. Ela pode operar das formas mais diversas, inclusive levando o paciente a se auto sabotar no tratamento (chegando atrasado; faltando; saindo tarde de casa e pegando um engarrafamente; marcando, por esquecimento, um compromisso importante justamente no horário da análise, etc.)

O recalque, por exemplo, opera a serviço da resistência, pois sua função é manter o conteúdo que não passa pelo crivo do aparelho psíquico fora da consciência. Muitas vezes, nessa tarefa, o recalque inclusive impede a entrada ou remove da consciência ideias que são apenas levemente relacionadas à ideia recalcada. Porém, como falamos anteriormente, esse conteúdo recalcado vai continuar tentando alcançar a consciência, de uma forma ou de outra, através das manifestações do inconsciente que mencionamos num capítulo anterior.

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Id, ego e superego – considerada uma das últimas grandes mudanças teóricas feitas por Freud na psicanálise, a criação das três instâncias do aparelho psíquico (chamada de 2a tópica) veio em 1923. Ao invés de trabalhar com os conceitos de consciente ou inconsciente, Freud preferiu trabalhar com outra forma de divisão.

Essa mudança surgiu ao perceber que o ego não era todo consciente, quehaviam partes dele que eram inconscientes também. Por exemplo, a parteque filtra o conteúdo que pode chegar à consciência. Além disso, o mau uso do termo “inconsciente”, às vezes sendo usadopara falar da característica de um pensamento,às vezes para se referir à topografia (uma “área”do aparelho psíquico) também levou Freud a pensar numa nova classificação.

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E essa nova classificação inclui:

- id: a sede das pulsões, o que faz o sujeito se mover; é como se, ao nascer, fôssemos apenas id. Depois, com o aparelho perceptivo trazendo todas as sensações do mundo externo para o sujeito, uma parte desse aparelho se modifica, para trabalhar junto a esse aparelho perceptivo, sendo essa a parte da consciência e controle motor do sujeito. Essa parte é o…

- ego: responsável pelo controle motor; pelo recebimento dos estímulos externos (aparelho perceptivo); e uma espécie de “sede da consciência”. É a parte que lida com o “mundo real”. Também é responsável por impedir que conteúdos oriundos do id, e que possam ser muito estimulantes, cheguem à consciência.

- superego: assim como o ego surgiu como uma diferenciação no id (devido aos estímulos do mundo externo), o superego surge, ao final do Complexo de Édipo, como uma diferenciação no ego. É formado como um “precipitado” da autoridade dos pais, e das escolhas objetais oriundas do Édipo.

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Pulsão – segundo Freud, é a nossa “mitologia” da psicanálise. Encontra-se no limite entre o psíquico e o somático. Podemos considerar como uma necessidade, ou uma força, que nos move enquanto sujeitos. Sua energia é a libido. Enquanto os outros animais são regidos pelo instinto, o ser humano (separado deles pela linguagem – falaremos disso mais à frente), é movido pela pulsão.

Compulsão à repetição e pulsão de morte – conceitos muito importantes, e que ocasionaram uma reviravolta na teoria freudiana. Havia muito tempo que o fenômeno da repetição já havia sido detectado, e documentado por Freud, como algo que prejudicava o andamento do tratamento.

Porém, foi apenas em 1920, em “Além do princípio do prazer”, que ele vai perceber que sua teoria do princípio do prazer não cobre tudo. Relembrando: a teoria do princípio do prazer nos diz que nosso aparelho psíquico busca a menor quantidade possível de estímulos. Um estímulo grande é percebido como “desprazer”, e um estímulo mínimo é visto como “prazer”. Assim, o sujeito sempre vai fugir do desprazer, e buscar o prazer.

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Façamos um parênteses para falar um pouco mais sobre o conceito de repetição, de imensa importância para a psicanálise. Freud já havia tocado nesse assunto 6 anos antes do “Além do princípio do prazer”, quando publicou “Recordar, repetir e elaborar”, talvez seu texto mais importante no que se refere à prática da psicanálise.

Ali, Freud fala de uma outra repetição; uma repetição que o paciente atua em análise, e que faz parte de seu trabalho que vai levar à elaboração dos sintomas. Mais à frente, Lacan irá chamar essa repetição de autômaton. É uma repetição que traz algo de diferente em seu processo, e que está no campo do significante (o significante será comentado mais à frente nesse e-book).

É diferente da compulsão à repetição, comentada nesse capítulo, que está no campo da pulsão de morte, e que é uma repetição que só causa desgaste, que não traz nada de novo, não leva o sujeito em busca de seu desejo. Lacan irá chamar essa repetição de tiquê, e dirá que ela se encontra no campo do real (que também será comentado mais à frente).

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(imagem: “Hércules lutando contra a morte”, pintura de Frederic Leighton, 1870)

Voltando a Freud, e à compulsão à repetição: ele irá perceber, depois de alguns acontecimentos (que ele relata em “Além do princípio do prazer”), que há algo que escapa a essa princípio, que não se enquadra nesse esquema, e ele irá associá-lo justamente com a compulsão à repetição, e criar uma nova dualidade: pulsão de vida (criadora, que faz laço social) x pulsão de morte (destrutiva, que não cria laço social). Essa dualidade substitui a anterior, pulsão do ego (ou de autopreservação) x pulsão sexual (ou objetal).

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Após a morte de Freud, em 1939, os rumos da psicanálise ficaram em suspenso por um período. Em seguida, os chamados “pós-freudianos” começaram a levar a psicanálise para caminhos não trilhados anteriormente, explorando temas e conceitos novos, diferentes dos propostos pelo pai da psicanálise.

Alguns temas passaram a ganhar mais foco, como o estudo do ego, por exemplo. Além disso, temas como a psicanálise de bebês, e também a contratransferência ganharam muito espaço. Aliás, esse período é conhecidoagora como “psicologia do ego”

Muitos viram tal movimento como um rompimento coma psicanálise criada por Freud. Ora, se o foco da psicanálise sempre foi o inconsciente, por que mudar esse foco para o ego e a consciência? Só aí já percebemos um grande paradoxo. Lacan (foto), então, decide fazer o que ficou conhecido como um “retorno à Freud”, trazendo de volta o foco da psicanálise para a escuta do paciente, para as manifestações do inconsciente.

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Sua entrada na psicanálise foi através do texto “O estádio do espelho como formador da função do eu”, de 1949. Nesse texto, ele fala da sensação de júbilo que a criança experimenta ao perceber que aquele corpo no espelho é o seu. É um corpo completo, perfeito, ao contrário da sensação de um corpo desajeitado, despedaçado, que ela ainda sente. Falo mais sobre esse tema nesse artigo.

O estilo particular de Lacan, e especialmente a questão do corte analítico, que fazia com que a sessão tivesse duração variável (podendo ser menor ou maior que os 50 minutos propostos pela IPA – Associação Internacional de Psicanálise), foi revolucionário, o que fez com que muitos o seguissem, ao mesmo tempo que muitos questionavam suas inovações. Atritos surgiram, o que acabou gerando sua expulsão da própria IPA, e da perda do local onde ministrava seus famosos seminários.

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Aliás, seus seminários (foto: capa do Seminário 6) se tornaram sua marca registrada. Ministrados todos os anos, tinham um tema específico que era tratado em sala de aula, sempre às 4as feiras ao meio-dia. Essa forma de passagem de conhecimento também era bem diferente da forma tradicional, já que não havia nada escrito. Era uma transmissão oral, onde o estilo de Lacan também já criava uma ruptura com o formato tradicional de aula. Mais uma vez, ele fugia da posição do “mestre”, que entrega um conhecimento para um grupo de alunos que não o tem. Ele os faz ir atrás desse conhecimento, desperta o desejo de sua audiência.

Apenas depois de mais de uma década de semináriosé que surgiu o primeiro volume dos “Escritos” (1966),reunindo artigos e textos publicados por Lacan emdiversas revistas, jornais, coletâneas, etc.

Agora, toda a sua obra escrita estava reunida. Muitosanos depois de sua morte, foi publicado o volume “Outros Escritos” (2001), com tudo o que produziu por escrito entre a publicaçãodos “Escritos” e sua morte, em 1981.

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Nos anos 70, seus seminários, que eram todos estenografados, começaram a ser organizados e publicados por Jacques Alain-Miller, psicanalista, assíduo frequentador dos seminários, e, posteriormente, seu genro. As publicações, especialmente dos Escritos, mas também as dos seminários, difundiram ainda mais a teoria lacaniana, dando grande fama a Lacan, que passou a ser requisitado para palestras em diversas partes do mundo. Suas teorias são amplamente ensinadas e estudadas emtodo o mundo, e não só no meio da psicanálise.

Infelizmente, ainda não foram publicados todos os seminários, apesar de todo o tempo decorrido. Os seminários inéditos tem sido publicadoslentamente, gerando grande expectativa entre ospsicanalistas.

Na foto, a capa do seminário 11, o primeiro a serpublicado (em 1974).

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Lacan deu ênfase, em seus estudos, ao tópico da linguagem. Falo um pouco disso em um artigo na plataforma Medium, e faço um resumo abaixo.

Inspirando-se em textos freudianos como “A interpretação dos sonhos”, “A psicopatologia da vida cotidiana” e “Os chistes e sua relação com o inconsciente”, Lacan irá dizer que o inconsciente se estrutura como uma linguagem, na qual os significantes se encadeiam de forma singular para cada sujeito.

Aliás, o conceito de significante foi tirado de Saussure, eminente linguista francês, que diz que a linguagem é formada por signos, e que cada signo contém um significante e um significado unidos, como os dois lados de uma moeda. Porém, alerta que essa junção é artificial, definida pelo ser humano, nada tem de natural. Saussure diz ainda que a primazia é do significado, pois ele é que tem o sentido; o significante é uma palavra, uma imagem acústica que se convencionou colar àquele sentido.

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Lacan vai discordar desse ponto; irá argumentar que a linguagem é formada por significantes, e que eles é que tem importância; os significados, ou seja, o sentido por trás daquele significante, será individual para cada sujeito.

Em resumo: o significante, que usamos o tempo todo na linguagem, é que traz junto de si um sentido, dado pelo próprio sujeito. E é nessas ligações entre significantes que o sujeito vai estar, vai “deslizar”, como diz Lacan, sem nunca ser representado por nenhum deles (pelo menos, não totalmente).

E essas relações entre significantes, com os sentidos e interpretações dadas pelo sujeito (guiado, como sempre, pelo inconsciente) é quevão ser, por exemplo, causa de sofrimento; é assim que normalmente recebemos o paciente no consultório.

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E através da análise, o sujeito consegue elaborar essas ligações, esses significantes, e reelaborá-los de outra forma, por assim dizer, saindo daquele lugar fixado que estava.

É uma nova forma, nesse deslizamento na cadeia significante, de se posicionar, assumir uma nova posição em sua própria história de vida.

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Nesse capítulo, falarei rapidamente sobre dois conceitos lacanianos bastante complexos; cada um deles já renderia uma série de vários e-books por si só. A ideia é ser mesmo uma introdução para quem ainda não está familiarizado com esses conceitos. Recomendo fortemente a consulta à bibliografia desse e-book (parte final) para um estudo mais a fundo.

Grande Outro (ou simplesmente “Outro”): podemos considerar o Outro como sendo o repositório dos significantes; encontra-se no limite entre a linguagem e o inconsciente. Não devemos confundir com o outro, nosso semelhante, com o qual nos identificamos. Nos matemas de Lacan (representações semelhantes à fórmulas matemáticas utilizadas para explicar diversos conceitos) costuma ser representado pela letra A (de “autre”, outro em francês).

É através do Outro que falamos (ou somos falados), é a sede dos significantes que utilizamos, que ali encontram-se desde há muito tempo, através das falas de nossos pais, cuidadores, e das pessoas no nosso ambiente. Obviamente, essa “escolha” de significantes nada tem de uma escolha livre, assim como a associação livre, método chave da psicanálise, também não é nada livre.

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Objeto a: um dos conceitos mais amplos e revisados de Lacan. E, segundo o mesmo, sua mais importante contribuição à psicanálise. De fato, precisaríamos de um livro inteiro só para falar sobre o objeto “a.” Podemos, ao invés de tentar inutilmente defini-lo, rodeá-lo… por exemplo, definindo-o como o aquilo que escapa da simbolização, o resto… ou como aquilo que emerge, de forma traumática, interrompendo o andamento da cadeia significante. Ou ainda como representante do objeto perdido; ou como objeto causa de desejo, relacionando-o ao “agalma”, que Lacan se refere no seminário 8 (“A transferência”) e também à posição que o analista deve ocupar em seu discurso, no seminário 17 (“O avesso da psicanálise”).

Essas são algumas formas de falarmos do objeto a, algumas de suas representações. Como mencionado antes, é um conceito que, a partir do momento em que surge na teoria lacaniana (seminário 10, “A angústia”), seguirá aparecendo até o fim, e sempre trazendo algo de novo, mostrando uma nova faceta, nos instigando a estudar e aprender mais sobre esse peculiar objeto.

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Outro ponto muito importante na teoria lacaniana são os conceitos de real, simbólico e imaginário, três registros psíquicos, os “registros essenciais da realidade humana”, segundo Lacan.

O imaginário é relacionado com o conceito de imagem. Do que se vê, do que se imagina, do que se ouve... É do campo da imagem, do que visualizamos, captamos com nossos sentidos, ou imaginação. É o registro no qual, normalmente, nós estamos mais focados. Lacan dizia que o imaginário é tão impregnante que “oblitera” os outros registros. A análise não atua nesse registro, e sim no simbólico. Está mais ligado aos sentidos, ao ego.

O simbólico é instaurado pela fala, e é a forma como o ser humano tenta organizar o mundo, as relações, criar vínculos entre si. O simbólico serve para colocar “ordem na casa”, estruturando o mundo tal qual o conhecemos. Vai além do domínio do registro imaginário, que, na relação entre um sujeito e outro, pode ser bastante assustador (se compararmos a civilização com o mundo selvagem, por exemplo). É nosso “lar”… estamos submersos no simbólico praticamente desde que nascemos; embora ainda não estejamos inseridos na linguagem, ainda não saibamos falar, já estamos dentro de

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suas regras. No caso da psicose, essa inserção será feita de forma “não-completa”, e a linguagem acaba sendo algo “externo”, ou estranho… uma ferramenta para utilizar, e não como algo próprio.

E já somos falados, desde antes do nascimento (“Esse vai ser jogador de futebol”, “Esse vai ser ‘pegador’”, “Essa vai ser bailarina”, etc.). É o chamado Outro em ação, “abastecendo” o sujeito de significantes.

Porém, o registro do simbólico não consegue abranger tudo. Tem algo que escapa, que escapa à toda simbolização, não consegue ser representado de forma alguma. Estamos falando do registro do real.

O real, como dizia Lacan, é “aquilo que não cessa de não se inscrever”. É o intraduzível, o que não se pode colocar em palavras, pois se pudéssemos, já estaria no campo do simbólico. É um instante esvanecido, é o impossível de simbolizar. O que é da ordem do real normalmente é percebido brevemente, num instante, como algo da ordem do avassalador, ou do choque. É algo anterior ao simbólico, e que por isso mesmo nos causa grande estranheza.

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Por sermos seres da fala, da linguagem, do simbólico, podemos colocar como o ser humano se “separou” do campo do natural e embarcou de vez no campo do cultural. Vemos esse salto sendo dado todos os dias, na vida de cada jovem criança, no processo “civilizatório”, ou de educação (um dos 3 ofícios que Freud chamou de “impossíveis”, junto com governar e psicanalisar).

Porém, essa separação não é total, claro. Continuamos sendo seres vivos, com um corpo que também é biológico, além de outras características. E quando esse corpo, em algum momento, começa a falhar (especialmente se for algo repentino, como um acidente, por exemplo) vemos o real se manifestando claramente, nos puxando de volta ao natural.

Os 3 registros unidos, real, simbólico e imaginário, formam o nó borromeano, usado muito por Lacan na fase final do seu ensino. Como três anéis que suportamum ao outro – e se um deles falha, toda a estrutura colapsa.

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Quando uma análise começa, o analisando coloca o analista numa posição de sujeito suposto saber; o analista é aquele que tem a “cura” para seu sintoma, aquele que tem o conhecimento sobre o que está acontecendo com ele, e que vai ajudá-lo a se livrar disso. Essa é a posição que o paciente nos coloca no primeiro momento da análise: a de um Outro que detém o saber.

E é nesse momento que a transferência surge; sem a qual não existiria análise, como já falamos alguns capítulos atrás. Porém, essa não é a posição que o analista deve estar.

Temos que, aos poucos (e bem aos poucos mesmo), ir deslizando dessa posição. Esse lugar de “mestre” não é nosso. Nosso lugar é justamente o de quem não sabe, o de quem não entendeu, o que pede pro paciente explicar novamente, o que pergunta sobre “x” quando o paciente fala “y”. Ao longo da análise, o paciente vai percebendo que o saber não está no analista, e sim nele próprio. E que através de sua fala (“diga o que lhe vier à cabeça, sem restrição de conteúdo, de sentido, de moral, etc. etc.”) ele vai descobrindo coisas que não imaginava, vendo as coisas por outro ângulo, desvelando coisas e sentidos.

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Como alguém se torna analista? Essa é uma pergunta que, já na época de Freud, era bastante feita. Freud chegou a responder uma vez: “analisando seus próprios sonhos”. Foi uma resposta bem inicial, e compreensível… afinal, foi um de seus sonhos (o da injeção de Irma, relatado em “A interpretação dos sonhos”, de 1900) que lhe deu bastante insight e compreensão para criar a tese do inconsciente, e do sonho como realização de um desejo.

Mais tarde, Freud reformula essa resposta, e nos brinda com o famoso “tripé psicanalítico”, como única condição para o psicanalista: estudos; supervisão; e análise pessoal. E Lacan reforça a importância desse tripé.

Os estudos são no sentido da busca de conhecimento, das leituras, dos debates com colegas psicanalistas, da discussão teórica e de casos, dos grupos de estudo, de estudar com psicanalistas mais experientes, etc. Hoje em dia temos diversos locais oferecendo pós-graduações, mestrados, cursos de extensão, cursos livres, etc. em psicanálise, e de qualidade.

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A supervisão, preferencialmente com um psicanalista mais experiente, para que possamos ter uma segunda visão sobre os casos que estamos atendendo. Uma visão de alguém que já passou por isso, e que pode tanto ajudar a avaliar o caso, como nos dar dicas do manejo técnico, apontar possíveis ajustes em nossa conduta, escuta, etc.

E a análise pessoal, essencial, para que tenhamos já estado no lugar que os nossos pacientes estão; para que possamos deixar nossas próprias questões de lado durante o atendimento; para que, caso um paciente aborde um tema que também nos é sensível, nós não percamos nossa escuta, e não nos abalemos. Que saibamos lidar com isso, com nossas questões, nosso desejo.

Freud deixa claro que a única condição necessária para a formação do psicanalista é o tripé citado acima. Menciona ainda como vários dos melhores analistas com quem ele tinha contato não tinham formação médica (na época ainda não havia formação em psicologia), e sim eram “leigos”.

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Lacan dizia que o analista se autoriza por si só, mediante seus colegas. Ou seja, não existe nenhuma instituição que lhe diga “És psicanalista”, quase tocando com uma espada em nosso ombro (como acontece com a psicologia, onde o CFP, através dos CRPs, autorizam as pessoas a serem psicólogos). A pessoa, através de sua trajetória na psicanálise, se autoriza como analista. Também não se cansa de repetir que não é na universidade que se formam psicanalistas (como afirma no Seminário 17, por exemplo).

A formação do analista é ad eternum. Ela não termina, somos todos analistas em formação, sempre. Não há um certificado, diploma ou carteirinha de psicanalista (e se alguém lhe oferecer, trata-se de um golpe de estelionato).

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Hoje em dia, uma das formas mais interessantes de se fazer uma boa formação é através das chamadas “Escolas de Psicanálise”. Existem diversas espalhadas pelo Brasil, e funcionam no esquema de um valor mensal que se paga, em troca de ter acesso à instituição, e acompanhar todos os seminários, discussões de caso, cartéis, debates, cursos de extensão, etc. É uma troca muito rica, além dos laços que se faz nessas escolas.

É sempre importante visitar uma escola antes de se afiliar, ver a programação da mesma, quem são os psicanalistas de lá… além de, é claro, ver se o tipo de formação oferecida pela mesma é a de formação contínua, claro, e não com um número de anos, e um “certificado” dado no final.

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Ao contrário do que muitas vezes se ouve ou se lê uma parcela da mídia, a psicanálise segue firme e forte em sua trajetória. Após a morte de Jacques Lacan, muitos outros analistas surgiram, obtendo lugar de destaque, como o já citado Jacques Alain-Miller, ou Charles Melman, para citar apenas dois. Slavoj Žižek, famoso sociólogo, cientista social e entusiasta da psicanálise também tem produzido muito material de qualidade na área, utilizando a teoria lacaniana como base.

No Brasil, também temos um cenário promissor: as já citadas Escolas de Psicanálise tem ampliado sua presença em diversos municípios brasileiros; tivemos em 2016 um documentário contando a história da psicanálise no Brasil (“Hestórias da psicanálise”, de Francisco Capoulade), trazendo novamente o tema para a mídia. Além dos excelentes livros e contribuições apresentadas a todo momento por psicanalistas como Antonio Quinet, Christian Dunker, Marco Antônio Rodrigues, Sonia Alberti, entre muitos outros.

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E vemos cada vez mais, não só pela clínica, mas também através dos fatos do dia a dia, como a psicanálise de Freud e Lacan continua bastante atual.

Seja Freud falando sobre a neurose de angústia (que hoje se classifica de “síndrome do pânico”) em diversos textos, desde 1892 até 1932; ou falando sobre discursos de ódio à diferença, em 1920; seja Lacan falando sobre como o sujeito cada vez mais iria se isolar, abandonar seus laços sociais e ficar cada vez mais ligado em produtos ao seu dispor (em 1972), ou mostrando como a sexualidade é algo que está mais ligado à verdade do sujeito e a forma como ele se relaciona com o sexo do que com seu órgão sexual de nascença (em 1973).

São apenas alguns exemplos de como o trabalho desses dois autores é tão atual quanto o de qualquer escritor contemporâneo. E permanece importantíssimo, servindo de base para os estudos de qualquer pretendente a psicanalista, no mundo inteiro.

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Faço aqui um encerramento e alguns agradecimentos. Relembro que os conceitos aqui trazidos foram abordados de forma bem superficial, por ser esse justamente o objetivo desta obra. Ou seja, convocar o leitor a buscar sempre mais, instigá-lo a procurar mais leituras.

A transmissão da psicanálise, de uma forma ética, da ética da psicanálise, é algo que gosto bastante, e que exerço com paixão já há alguns anos. Seja através de grupos de estudo, workshops, cursos, palestras, etc. E esse e-book é mais uma forma de transmitir um pouco dessa teoria fascinante.

Deixo aqui os agradecimentos a todos que foram importantes na confecção desse projeto: Carolina Moreirão, amiga e sócia de tantos estudos psicanalíticos (presenciais e online), consultório, cursos, etc., cuja ajuda foi essencial na realização desse e-book, e cuja parceria eu considero simplesmente inestimável (heel erg bedankt voor alles); Bruno Rodrigues, que abriu várias portas pra mim, e para tantos outros do universo psi, através de seus cursos, seu trabalho como um todo, e sua generosidade; Walber de Paula, que ajudou bastante na confecção desse e-book; e a todos os colegas, que sempre contribuem nos bate-papos psicanalíticos, como Fabiane Silva, Andréa Rocha, Rafaelle Oliveira, Pamela Stangarlin, Joyce Silva, Denise Guedes e tantos outros. E também um “merci beaucoup” a todo o grupo da imersão de Paris 2018!

Muito obrigado a todos, e até o próximo projeto!

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Leituras utilizadas na criação deste e-book, e que acredito que serão úteis para quem tiver

interesse em se aprofundar um pouco mais:

- “O sujeito lacaniano”, Bruce Fink

- “Introdução clínica à psicanálise lacaniana”, Bruce Fink

- “Obras completas”, Sigmund Freud:

“A interpretação dos sonhos”, vol. IV e vol. V

“Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, vol. VII

“A dinâmica da transferência”, vol. XII

“Recordar, repetir e elaborar”, vol. XII

“O recalque”, vol. XIV

“A pulsão e suas vicissitudes”, vol. XIV

“Sobre o narcisismo: uma introdução”, vol. XIV

“Além do princípio do prazer”, vol. XVIII

“O ego e o id”, vol. XIX

“A questão da análise leiga”, vol. XX

“Novas conferências introdutórias sobre psicanálise”, vol. XXII

“Análise terminável e interminável”, vol. XXIII

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- “A instância da letra no inconsciente”, presente em “Escritos”, Jacques Lacan

- “Seminário 4: A relação de objeto”, Jacques Lacan

- “Seminário 8: A transferência”, Jacques Lacan

- “Seminário 10: A angústia”, Jacques Lacan

- “Seminário 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”, Jacques Lacan

- “Seminário 17: O avesso da psicanálise”, Jacques Lacan

- “As 4+1 condições para análise”, Antonio Quinet

- “Os outros em Lacan”, Antonio Quinet

- “Como ler Lacan”, Slavoj i ekẐ ẑ