obrigação fazer

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PODER JUDICIRIO TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO Registro: 2012.0000167907

ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao n 021686068.2009.8.26.0005, da Comarca de So Paulo, em que apelante LAPENNA COMERCIO DE VEICULOS LTDA sendo apelado CASSIO ROBERIO CERQUEIRA DOS SANTOS. ACORDAM, em sesso permanente e virtual da 28 Cmara da Seo de Direito Privado do Tribunal de Justia de So Paulo, proferir a seguinte deciso:DERAM PROVIMENTO EM PARTE AO RECURSO. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acrdo. O julgamento teve a participao dos Desembargadores MELLO PINTO (Presidente) e EDUARDO S PINTO SANDEVILLE. So Paulo, 19 de abril de 2012. Cesar Lacerda relator Assinatura Eletrnica

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Voto n: 17.013 APELAO COM REVISO: 0216860-68.2009.8.26.0005 COMARCA: SO PAULO APTE.: LAPENNA COMRCIO DE VECULOS LTDA. APDOS.: CASSIO ROBERIO CERQUEIRA DOS SANTOS

Bem mvel - Ao de obrigao de fazer cumulada com indenizao por perdas e danos - Parcial procedncia Condenao da r a promover a transferncia do veculo a que se obrigou e a compor danos morais. O descumprimento da obrigao assumida, de promover a transferncia do veculo, no constitui mero contratempo ou simples descumprimento contratual, pois nas circunstncias do caso concreto, foi suscetvel de causar ultraje dignidade, caracterizando dano moral. Indenizao reduzida ao patamar de R$5.000,00, mais ajustado aos contornos do caso. Recurso parcialmente provido.

Revendedora

de

veculos

apela da respeitvel sentena de fls. 73/76, integrada pela deciso de fls. 84, que a condenou a providenciar a transferncia de veculo para o nome do comprador, sob pena de pagamento de multa diria, ao pagamento do IPVA e seguro obrigatrio referentes ao exerccio de 2009, e ao pagamento de indenizao por danos morais suportados pelo consumidor, no valor de R$10.000,00. Sustenta, em resumo, que: a inicial inepta; h multas de trnsito que impedem a transferncia do veculo; o autor no entregou os documentos exigidos pelo DETRAN; no h prova do dano moral ou de sua repercusso; oApelao n 0216860-68.2009.8.26.0005 2

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arbitramento foi exagerado. Recurso processado, com resposta (fls. 98/103). o relatrio. A respeitvel sentena regularmente

recorrida conferiu adequada soluo lide, somente comportando pequeno retoque no que tange ao valor da indenizao por dano moral, que deve ser reduzido a patamar mais moderado. Apesar dos argumentos

expendidos pela apelante, tem-se que a petio inicial no deixa nenhuma dvida quanto aos fatos e os fundamentos jurdicos do pedido, no encerrando nenhum defeito relevante, capaz de dificultar o exerccio do direito de defesa ou de impedir o julgamento do mrito. As duas multas apontadas pela apelante (fls. 63/64), foram impostas muitos meses depois de celebrado o contrato de compra e venda, razo pela qual no podem ser invocadas como bice transferncia da documentao, que se obrigou a providenciar no prazo de 45 dias, consoante se extrai da clusula 6, do documento de fls. 09. Tal obrigao foi assumida pela apelante sem qualquer ressalva, e ela at recebeu do apelado a quantia de R$ 575,00, para pagamento do IPVA e do DPVAT, ambos do exerccio de 2009 (fls. 12), tudo indicando que quela altura no houvesse nenhuma outra exigncia a ser cumprida pelo apelado, o qual alimentava a legtima expectativa de receber a documentao do veculo devidamente transferida.Apelao n 0216860-68.2009.8.26.0005 3

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Ao contrrio do alegado pela apelante, o dano moral est bem evidenciado pois, como bem observou a sentena recorrida, a impossibilidade de

transferncia do veculo, no pode ser tida conta de mero contratempo ou simples descumprimento contratual,

representando, isto sim, situao manifestamente ultrajante dignidade de quem, como o autor, demonstrou honradez no cumprimento de suas obrigaes. De fato, o constrangimento de necessitar do veculo em seu trabalho e dele s poder se utilizar sem a respectiva documentao, constitui motivo de constrangimento capaz de desencadear aflio de esprito e ultraje dignidade, caracterizadores de dano moral. Cabe registrar, alis, o

pensamento que tem prevalecido nesta Cmara, reiteradamente afirmado pelo eminente Desembargador Celso Pimentel, com espeque em jurisprudncia do Colendo Superior Tribunal de Justia: "A propsito, dano moral, exatamente porque moral, no se demonstra nem se comprova. Afere-se segundo o senso comum do homem mdio. Resulta por si mesmo da ao ou omisso culposa, in re ipsa, porque se traduz em dor fsica ou psicolgica, em constrangimento, em sentimento de reprovao, em leso e em ofensa ao conceito social, honra, dignidade" (Conforme, dentre outras, apelaes com reviso ns 753168- 0/5; 770122- 0/0; 710501- 0/6; 729482- 0/5). Apenas em um aspecto o inconformismo merece agasalho. Trata-se do valor da indenizao,Apelao n 0216860-68.2009.8.26.0005 4

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que se afigura elevado frente aos contornos do dano e os elementos de balizamento usualmente adotados. De fato, consabida a

dificuldade de que se reveste a quantificao da indenizao por danos morais, cujo arbitramento deve levar em conta a gravidade do dano, a sua extenso, a posio social e econmica das partes, o grau de culpabilidade do ofensor, as finalidades reparatria e punitiva da indenizao, que deve ser suficiente para coibir novos abusos do ofensor, sem que, todavia, permita o enriquecimento sem causa dos ofendidos. Analisado esse conjunto de fatores, tem-se que a indenizao por dano moral melhor se ajusta no patamar de R$5.000,00, montante adequado para atender as finalidades reparatrias, pedaggicas e punitivas da indenizao. Diante do exposto, d-se parcial provimento ao recurso apenas para reduzir a indenizao por dano moral ao valor de R$5.000,00, com juros e correo monetria a partir desta data, mantida no mais a respeitvel sentena.

CESAR LACERDA Relator

Apelao n 0216860-68.2009.8.26.0005 -

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