o vale do zambeze condenado pelas barragens (2005)

20
O VALE DO ZAMBEZE CONDENADO PELAS BARRAGENS Por: Daniel L.Ribeiro O Rio Zambeze é o coração de Moçambique, a bombear vida numa das planícies inundáveis tropicais mais produtivas e biologicamente mais diversificadas de África. O Rio Zambeze, de 2.660km de comprimento, drena sete países e a sua bacia hidrográfica tem uma área total de 1,570,000 km 2 24,33 . Isso o torna o quarto maior rio de África e o maior sistema a fluir no Oceano Índico 24 . O fluxo de água do Zambeze chega a atingir 22.000 m³/s 23 . O baixo Zambeze em Moçambique alimenta o maior delta da África Oriental e apoia directamente por volta de 2.8 milhões de pessoas, a maioria das quais habitantes rurais 63 . Esta região possui uma paisagem muito diversificada, mudando de desfiladeiros estreitos para zonas de um entrançado de bancos de areia para canais de afluentes, terminando numa zona costeira de 290km de largura que forma um delta de 18 000 km 2 2,24,60 . Imponente como é o Zambeze, a passada e presente má gestão das suas barragens está lentamente a matar esta fonte de recursos e diversidade 20,24 . As vastas zonas Figura 1: Mapa adaptado do Rio Zambeze. Baseado no mapa original de Dorn Moore, International Crain Foundation .

Upload: justica-ambiental

Post on 29-Mar-2016

230 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Caso de Estudo elaborado para a Justiça Ambiental por Daniel Ribeiro

TRANSCRIPT

Page 1: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

O VALE DO ZAMBEZECONDENADO PELAS BARRAGENS

Por: Daniel L.Ribeiro

O Rio Zambeze é o coração de Moçambique, a bombear vida numa das planícies

inundáveis tropicais mais produtivas e biologicamente mais diversificadas de África.

O Rio Zambeze, de 2.660km de comprimento, drena sete países e a sua bacia

hidrográfica tem uma área total de 1,570,000 km2 24,33. Isso o torna o quarto maior rio

de África e o maior sistema a fluir no Oceano Índico24. O fluxo de água do Zambeze

chega a atingir 22.000 m³/s 23.

O baixo Zambeze em Moçambique alimenta o maior delta da África Oriental e apoia

directamente por volta de 2.8 milhões de pessoas, a maioria das quais habitantes

rurais63. Esta região possui uma paisagem muito diversificada, mudando de

desfiladeiros estreitos para zonas de um entrançado de bancos de areia para canais

de afluentes, terminando numa zona costeira de 290km de largura que forma um

delta de 18 000 km2 2,24,60.

Imponente como é o Zambeze, a passada e presente má gestão das suas barragens

está lentamente a matar esta fonte de recursos e diversidade 20,24. As vastas zonas

Figura 1: Mapa adaptado do Rio Zambeze. Baseado no mapa original de Dorn Moore, International Crain Foundation .

Page 2: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

húmidas do delta do Zambeze e as grandes manadas (70 000 cabeças 24 ) de búfalos

estão aos poucos a tornar-se coisas do passado 8,29. As primeiras mudanças

começaram há cerca de 100 anos atrás, com a construção de diques para conter o

rio e prevenir cheias nas plantações de cana-de-açúcar 8. O impacto dos diques, no

entanto, não se compara aos impactos da Barragem de Kariba (1958) e

principalmente de Cahora Bassa (1974) 8.

Barragem de Cahora Bassa

O Governo Colonialista Português construiu a Barragem de Cahora Bassa entre 1969

e 1974. Com uma albufeira de 250km de comprimento que ocupa uma área de 2700

km2, e uma altura de 171 metros, foi considerada a quinta maior barragem do mundo 24,51.

Como era normal nesta época, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi visto como

um documento informativo. Realizado quando o projecto já ia avançado, o EIA não

teve qualquer influência no desenho do projecto e mesmo indicando grandes falhas

do projecto, estas foram geralmente ignoradas e continuam a ser ignoradas até

hoje19-26.

Com uma capacidade de 2075MW, o objectivo principal do projecto de Cahora Bassa

era produzir energia hidroeléctrica para os países vizinhos, como a África do Sul 26,38.

Desde os impactos causados pelo rápido enchimento da albufeira, que permite a

produção de energia logo no início 24, até a descarga demasiado regulada dessa

água num sistema dependente de cheias; a gestão da Barragem de Cahora Bassa

está centrada

em implicações económicas da sua

energia hidroeléctrica com pouca

consideração para com as

necessidades ambientais de fluxo e

os custos sócio-económicos14,19-26.

Regulamentação do fluxo

Tradicionalmente, o Rio Zambeze tinha um fluxo altamente sazonal com um fluxo

notavelmente fraco no Inverno e um fluxo bastante forte e causador de cheias no

Verão 4,22,44. A Barragem de Cahora Bassa alterou isto descarregando a água

armazenada durante a estação seca, para geração de energia, e utilizando o grande

Page 3: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

fluxo durante o Verão para encher a albufeira preparando-se para o fluxo fraco no

Inverno 23,57. Apesar de a Barragem de Kariba também estar instalada no Zambeze, o

padrão de fluxo que entra na albufeira de Cahora Bassa é sazonal, ao contrário das

suas descargas que são reguladas e constantes 13 (Figura 3). O baixo Zambeze já não

segue o regime natural de cheias, e as planícies inundáveis permanecem secas

durante a estação seca, excepto nos anos mais húmidos 8.

O fluxo regulado do Zambeze tem secado as zonas húmidas que antes eram

irrigadas pela água das enchentes do Zambeze 5,7,24. No passado, a Ponte Dona Ana

tinha mais de 10 dos seus pilares na água do Zambeze, mas actualmente apenas 4

pilares chegam a tocar na água (Figura 4). Canais secos e bifurcações são cada vez

mais comuns ao longo do Zambeze, muitos dos quais já completamente

desconectados do canal principal do Rio (figura 10) 24. O Rio deixou de ser um rio de

vários canais com bancos de areia e bifurcações constantemente mutáveis, e tornou-

se um rio com apenas um canal principal com ilhas, bifurcações e tranças estáveis 24.

A água descarregada pela Barragem de Cahora Bassa arrasta muitos sedimentos,

provoca a erosão dos bancos do rio e afunda o leito do rio, pois acumula muitos dos

sedimentos necessários 10,24. O afundar do leito do rio impede que as águas das

cheias arrastem os bancos e alimentem as secas planícies inundáveis com a água

bem necessária 9,13,24,26. À medida que o tempo passa, vão ser necessárias cheias

cada vez maiores para cumprir com o fluxo necessário para os pântanos e para as

planícies inundáveis, tornando a reabilitação do Zambeze cada vez mais complicada 26.

Figura 3: As linhas solidas indicam a entrada sazonal de agua no reservatório de Cahora Bassa, enquanto a linha a tracejado indica a saida regulada do reservatório de Cahora Bassa 13.

Page 4: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

As planicies inundáveis, agora a secar,

fizeram de uma paisagem outrora, remota,

húmida e de dificil acesso, hoje acessíveis às pessoas.

Consequentemente, a caça descontrolada nas planícies inundáveis atingiu níveis

alarmantes 13,29, reduzindo as grandes manadas de búfalos em 95% desde 1970 8. As

manadas restantes concentram-se nas áreas onde cheias sazonais de pequena

escala ainda ocorrem devido a pequenos rios não regulados originários do planalto

de Cheringoma 13. Até a população de elefantes que antes ocupava os pântanos

permanentemente alagados no delta interior tornou-se acessível para os caçadores e

agora quase que já não existem 13,29. O mesmo se pode dizer em relação às manadas

de antílopes e zebras que antes eram abundantes 1,13,29.

A seca das planícies inundáveis implica graves consequências para a biodiversidade,

e a população animal não é a única em risco 24,26,35. As planícies inundáveis mais

secas reduziram a quantidade de diversas espécies de ervas de pântanos e

permitiram a invasão da savana de madeira. Os restantes herbívoros já não

conseguem controlar o crescimento das plantas, transformando mais ainda a

vegetação 59.

Habitats costeiros e estuarinos

Os habitats costeiros e estuarinos ligados ao Zambeze têm um papel importante na

economia local e nacional 30,38,41. Desde os peixes e a indústria lucrativa de camarão

até os extensos mangais e madeira de papyrus utilizada na construção local, os

habitats estuarinos do delta são vitais para a subsistência da região. A redução

drástica da carga de sedimentos ricos em nutrientes (cerca de 70% 24) em conjunto

com os fluxos fracos durante o Verão fizeram com que o delta retrocedesse e

permitiram que a água salgada do oceano entrasse, diminuindo a produtividade do

Figura 4: Ponte Dona Ana tirada no mesmo dia do ano, mas a fotografia da esquerda foi em 1975 e a fotografia da direita em 1997 26.

Page 5: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

delta (ex. a pesca de camarão diminui 60% 34), o tamanho (ex. redução de 40% nas

áreas de mangal 27) e a saúde 1,58,60.

Camarão

O camarão de Moçambique é conhecido internacionalmente e contribui com uma

parte significativa na receita do país 41. O fluxo regulado do Zambeze em conjunto

com a perda de sedimentos ricos em nutrientes têm tido efeitos devastadores na

população e pesca de camarão 30,34,41.

Estima-se que está a haver uma perda entre 10 a 30 milhões de dólares por ano

devido à redução da quantidade pescada (Figure 5) 30,34. Os camarões adultos

depositam os seus ovos no mar. Estes transformam-se em larvas e na época seca,

quando a corrente do rio é fraca, são empurradas pela forte maré do oceano para os

mangais e para outras áreas de água doce do delta.

Com níveis mais altos de nutrientes do que o habitat marinho, este ambiente

bastante bem protegido apoia o forte crescimento dos camarões pequenos, que se

Figura 5: Gráfico do declínio de 60% no esforço da apanha por unidade de camarão durante os últimos 20 anos. Tirado da base de dados de Hoguane 34 .

Page 6: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

tornam adultos 34,41. Durante a época de cheias, a forte corrente do rio empurra os

camarões adultos para o rio, onde vão depositar os seus ovos e reiniciar o ciclo 34,41.

Uma explicação adicional para a redução da população de camarões poderá ser a

pesca dos camarões por parte de frotas comerciais de pesca 41. Medidas como o

tamanho da malha, uma época maior sem pesca, e diminuição da quantidade total

de pesca permitida foram implementadas na década de 80 41. Contudo, estas

medidas de protecção não resolveram o problema da diminuição da população de

camarão, e o consenso geral é que a principal causa desse declínio é o fluxo

regulado e os sedimentos pobres em nutrientes 34,41. Curiosamente, em contacto com

pescadores de camarão estes informaram que as maiores quantidades pescadas de

camarão dos últimos 20 anos ocorreram depois das cheias de 2000 e 2001,

reforçando a hipótese do fluxo e dos sedimentos 41,44.

O actual padrão de fluxo da Barragem de Cahora Bassa é muito forte durante a

época seca, impedindo as larvas de se fixarem no delta, e muito fraco para empurrar

os pequenos camarões para o mar durante a época de chuvas 34,41. Alguns estudos

mostraram que uma pequena enchente durante Dezembro ou Janeiro aumentaria a

pesca de camarão em 20% 34,55. Para além de afectarem o fluxo, as Barragens de

Cahora Bassa e Kariba funcionam como grandes depósitos de sedimentos e afectam

negativamente os níveis de nutrientes do Rio Zambeze. Hoje em dia, o fluxo de

sedimentos ricos em nutrientes do Baixo Zambeze depende das contribuições dos

rios não regulados como o Luia, o Shire e do Planalto de Cheringoma 13,26.

Peixes de água doce

O peixe constitui uma parte vital da dieta das comunidades que vivem ao longo do

Vale do Zambeze 61. Não só o peixe é uma fonte rica de proteína, mas é uma das

únicas fontes de proteína disponíveis para estas comunidades. Devido à diminuição

drástica das populações de grandes mamíferos, esta fonte de carne antes abundante

já não se encontra facilmente disponível para a população rural pobre. O peixe de

água doce possui também um papel vital nos mercados ao longo do Zambeze 39,61; no

baixo Rio Shire, três espécies constituem 90% da pesca comercial 61. Em geral, os

três tipos de peixe mais importantes dos mercados locais ao longo do Zambeze são a

tilápia de Moçambique (O. mossambicus), o “Manyame labeo” (L. altivelis) e o peixe-

tigre (H. vittatus) 61. As três espécies são altamente dependentes do fluxo do rio e

estão em declínio ao longo do Baixo Zambeze 39,61.

Page 7: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

Por exemplo, a tilápia moçambicana (O. mossambicus) é encontrada ao longo do rio

e utiliza a vegetação inundada nas planícies inundáveis como fonte principal de

nutrientes para se tornar adulta durante a época das cheias 61. Depois, retorna ao

canal principal enquanto as águas começam a residir. Já foi mostrado que os

benefícios para as populações de peixes de água doce são directamente

proporcionais ao grau de inundações 39,61.

Peixes de profundidade e caranguejos de estuário

Tal como o peixe de água doce, os peixes de profundidade (como o peixe gato) e os

caranguejos do mangal são uma fonte alimentar vital para os residentes locais e são

muito importantes para os mercados costeiros 55. Para além disso, os caranguejos de

mangal têm um nicho ecológico bastante importante como detritívoros que

consomem matéria em decomposição, essencial para um estuário saudável. Eles

também mostraram ter um papel vital na dieta de várias espécies de pássaros da

zona intertidal 55.

Tanto os peixes de profundidade como os caranguejos de mangal são altamente

dependentes das cheias sazonais e dos sedimentos ricos em nutrientes que vêm com

as cheias. Assume-se que a produtividade de ambas as espécies seja proporcional à

área alagada do mangal, que mostrou uma redução de 40% 27. Isto, por sua vez, tem

tido um efeito adverso nos peixes de profundidade e no caranguejo de mangal, razão

pela qual a sua pesca diminuiu nos últimos 20 anos 13,44.

Em mares pobres em nutrientes, como os dos trópicos, estuários que carregam

grandes quantidades de nutrientes e sedimentos são áreas localizadas de alta

produtividade, mas mostraram ser sistemas bastante frágeis. Por exemplo, o Rio Nilo

era responsável por grandes quantidades de fitoplâncton no leste do Mediterrâneo

durante as suas cheias anuais, que por sua vez sustentavam uma indústria de

camarão e sardinhas altamente produtiva. Isto mudou drasticamente depois da

construção da Barragem de Aswan, em 1965 48. Se não forem implementadas

mudanças na actual gestão da Barragem de Cahora Bassa, este é o futuro mais

provável para o Zambeze.

Impactos sociais

As implicações sociais da Barragem de Cahora Bassa não têm sido nada menos que

devastadoras 38. Durante a sua construção, os trabalhadores viviam em condições

inaceitáveis. Eles eram metidos em barracões galvanizados de lata (cerca de 12 por

Page 8: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

2 x 4 metros) que ferviam durante o dia e congelavam durante a noite 38. Não eram

dadas mantas aos trabalhadores e estes não tinham acesso a casa-de-banho nem

instalações básicas. A morte devido a condições de trabalho precárias era uma

ocorrência comum 38. Como acontece com a maioria das barragens, o desalojamento

forçado é um dos impactos sociais principais 48. Mais de um ano antes de barrarem o

rio, já tinham sido desalojadas mais de 42 000 pessoas 38. Este número não inclui as

pessoas que foram para países vizinhos ou ficaram perdidos em vários bairros de lata

ou no campo nos arredores de Tete e outras grandes cidades.

Actualmente a degradação ambiental causada pela Barragem de Cahora Bassa e as

descargas não naturais de água estão a causar mudanças culturais sérias e

problemas de subsistência 14,38,43,44,56. Tradições ambientalmente sustentáveis com

mais de cem anos que evoluíram com o funcionamento natural do sistema do

Zambeze estão agora prejudicialmente adaptadas às mudanças causadas por Cahora

Bassa 38,43,44. A precipitação anual média ao longo do Baixo Zambeze é apenas

600mm 22,37, com a maioria durante os meses mais quentes. Secas ocorrem

regularmente, muitas vezes com consequências prejudiciais para as plantações 43,44,45.

Para compensar estas condições rigorosas, as comunidades cultivaram vários lugares

localizados em diferentes zonas micro-ecológicas, utilizando sistemas agrários

indígenas, o mais importante sendo a agricultura de recessão 38. Durante a época das

chuvas, que começa em Dezembro e termina em Março, as águas das cheias ao

refluir depositam sedimentos ricos em nutrientes (localmente chamados de solos

makande) ao longo das planícies inundáveis 38,44,45. Os solos makande ricos e escuros

das planícies inundáveis são os locais mais propícios da região para agricultura e têm

um papel vital na segurança alimentar 38. Em preparação para a previsível época de

cheias, as comunidades cultivam em solos mais acima 38.

O fluxo regulado de Cahora Bassa encurrala estes sedimentos ricos em nutrientes e

contem as cheias sazonais. Isto impede a agricultura de recessão e reduz

drasticamente a produtividade das planícies inundáveis; causando grandes

inseguranças alimentares 22,44,46. A produtividade mais baixa das planícies inundáveis

em conjunto com a utilização excessiva forçada dos solos mais acima aumentou a

rotatividade dos campos e portanto as técnicas de abate e queimada para

desimpedir as zonas de densa vegetação 8,38. Estas queimadas fogem várias vezes do

controle e causam efeitos prejudiciais na diversidade regional.

Page 9: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

Padrões de assentamento

No passado, o regime altamente previsível do Rio Zambeze permitia o

desenvolvimento de padrões de assentamento que estavam sincronizados com o

funcionamento natural do rio. O actual regime regulado do fluxo no Baixo Zambeze

causou grandes alterações nos padrões de assentamento das comunidades que

vivem ao longo do rio 14. O fluxo reduzido durante o Verão e a ausência de cheias

promoveu o assentamento permanente das margens do rio, bancos de areia

consolidados, e áreas de planícies inundáveis que antigamente eram ocupados

apenas sazonalmente 14,56. O assentamento nestas áreas foi uma das principais

razões pelas quais as cheias de 2000-2001 foram tão graves; com mais de 700

pessoas mortas em um ano e mais de 500 000 que ficaram sem casa 3,14,16,26,47,52.

Estes números poderiam ter sido bem piores se não fossem as rápidas e extensas

operações de resgate da África do Sul e outros 3,16.

Em comparação com o passado, houve mais de 10 cheias durante o século 20 que

ultrapassaram a magnitude das cheias de 2000-2001 na região do delta do Zambeze 14. Muitas destas cheias não resultaram em perdas humanas ou danos económicos

significativos 14. A capacidade que Cahora Bassa tem de conter a maioria das cheias

fez com que as comunidades ao longo do Zambeze perdessem a sua memória de

cheias 14,26,44. Isto impede que as comunidades tenham a capacidade de gerir os seus

riscos visto que as cheias são imprevisíveis e apenas as maiores cheias não são

contidas pela Barragem 14,26. Embora a água a entrar na albufeira tenha normalmente

sido mais do que a água descarregada pela Barragem 16,50, os seus padrões de fluxo

do passado tornaram as comunidades do Zambeze muito mais vulneráveis aos

impactos negativos das cheias 14,26,52.

Questões de saúde

As alterações nos padrões de assentamento que tornaram as comunidades mais

vulneráveis às grandes cheias e aumentaram o número de pessoas directamente

afectadas pelas grandes cheias também tem graves implicações de saúde. Durante

as cheias de 2000 mais de 500 000 pessoas ficaram sem tecto e isto colocou grandes

concentrações de pessoas em campos de refugiados sem condições adequadas de

saneamento e fornecimento de água e comida. Estas condições causaram grandes

Page 10: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

problemas de saúde como cólera, febre tifóide, poliomielite, hepatite e várias

doenças gastrointestinais 18.

Normalmente a maioria das doenças em países em desenvolvimento são

relacionadas com a água 18. Por exemplo, tanto os mosquitos portadores de malária

como os caracóis de água doce infectados com schistosomiasis dependem de um

foco de água parada 18. Grandes enchentes contribuem para acabar com as águas

paradas 18,24,. Isto não só melhora a qualidade da água destas águas e reabastece o

lençol freático, como tende a reduzir a produtividade de vectores como os mosquitos 18. Estas cheias também aumentam as quantidades de peixe que se alimentam

destes vectores, reduzindo ainda mais o seu número 39,55,61. Em zonas onde esses

focos de água parada secam de vez, as doenças relacionadas com a água diminuem

significativamente 18. Porém, isto forçou as comunidades que vivem nestas áreas

secas a estarem ainda mais dependentes do Rio Zambeze para tomar banho, água

para beber, e outras actividades domésticas, fazendo com que se instalem mais

perto do rio (e portanto aumentando o risco em caso de cheias) 18. Isto fez com que

as populações estivessem também mais expostas a patologias e foi indicado como

uma das razões para os vários ataques de crocodilos 18.

Perda de plantações

Para acrescentar às grandes e naturais cheias que tratam de fornecer energia a

Cahora Bassa, pequenas e imprevisíveis enchentes durante a estação seca estão a

aumentar as inseguranças alimentares ao longo do Zambeze 43,44,45. Cahora Bassa

regularmente descarrega água armazenada durante a época seca para geração de

energia eléctrica e a pedido de outros utilizadores influentes tais como as plantações

de cana-de-açúcar e grandes ferry boats 26,43. As maiores descargas são muitas vezes

durante o Inverno quando o fluxo de água é fraco e os utilizadores são mais

exigentes 43. Infelizmente é também nesta época que a plantação nas planícies

inundáveis é mais intensa, e portanto quando a barragem descarrega água que

inunda estas plantações, as perdas são graves 38, 43. Durante uma das visitas uma

comunidade perdeu entre 50% e 80% das suas plantações e foram registadas perdas

até Caia 43,44. Por vezes as plantações são perdidas, devido a estas cheias na estação

seca, apenas uma a duas semanas antes da colheita 43,44. Se as comunidades fossem

alertadas destas mini-cheias, ou se estas descargas fossem previsíveis, as

comunidades poderiam fazer a colheita em preparação ou até mesmo a tempo do

plantio dos campos para que beneficiassem destas mini-cheias. Actualmente estas

Page 11: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

descargas estão apenas a intensificar os problemas de segurança alimentar ao longo

do Zambeze.

Mphanda Nkuwa

Explorar o potencial hidroeléctrico do Zambeze é visto como um importante

componente do destrancar do vasto potencial de desenvolvimento da região e

Mphanda Nkuwa é o primeiro passo em direcção a esse objectivo.

A Barragem Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa será construída no Rio Zambeze

apenas 70km rio abaixo de Cahora Bassa com um custo estimado de 2.5 biliões de

dólares norte-americanos 28. Esta barragem de 101metros de altura irá produzir 1348

MW de energia hidroeléctrica e comportará implicações sérias na futura saúde do Rio

Zambeze 28,42,43,46.

Não há dúvida que Moçambique está com uma necessidade desesperada de

desenvolvimento. A luta pela independência e os 15 anos de Guerra Civil destruíram

a pouca infraestrutura que existia. Menos de 5% da população moçambicana tem

acesso à electricidade 66. Os níveis de água e saneamento estão entre os mais baixos

do mundo e a segurança alimentar é um problema sério. Grandes barragens podem

potencialmente providenciar soluções em termos de fornecimento de energia,

Figura 6: Campo a 500km a jusante de Cahora Bassa que ficou inundado provocado pela estação seca durante Outubro 2003.

Page 12: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

controle de comida e irrigação para a agricultura, mas muito frequentemente não

cumprem com os seus objectivos 49.

Risco económico

Qualquer projecto de barragem que custe cerca de 2.5 biliões de dólares norte-

americanos é um risco, principalmente para um país do terceiro mundo como

Moçambique. É certo e sabido que as barragens são famosas pelos seus custos

excessivos, por não alcançarem totalmente as metas económicas projectadas e por

apresentarem uma fraca recuperação económica dos custos financeiros 49. O

promotor do projecto de Mphanda Nkuwa declarou que a energia produzida é

direccionada à exportação e à energia doméstica de indústrias pesadas 28.

Actualmente a região não possui indústrias pesadas, fazendo com que a África do Sul

seja o único mercado forte em energia 37,42.

A Eskom detém o monopólio na região do Sul de África em termos de fornecimento

de energia e a situação de Cahora Bassa serve como bom exemplo dos problemas de

fornecer um mercado glutted 37. A Cahora Bassa vende a sua energia hidroeléctrica

para a Eskom (África do Sul), bem abaixo do preço de mercado (2 cêntimos contra

3.9 cêntimos sul africanos, três vezes menos que o valor de mercado e considera-se

ser a exportação de energia mais barata do mundo.) A Eskom consegue manter este

preço tão baixo por causa do seu excedente de energia e falta de mercados

alternativos para Cahora Bassa 37. Isto coloca sérias questões em relação à

viabilidade económica de Mphanda Nkuwa 28,42.

Está claro que a produção de energia não é o problema principal em Moçambique,

que tem um consumo de energia total estimado de cerca de 350MW (menos de 20%

da produção de Cahora Bassa) 66. Pelo contrário, é o fornecimento que falta em

Moçambique e o projecto de Mphanda Nkuwa não trata deste assunto, declarando

que o projecto não será uma fonte de electrificação rural singnificativa 28. Para além

disso, espera-se que o projecto apenas crie cerca de 30 empregos permanentes, mas

afectará negativamente milhares de pessoas ao longo do Zambeze 28.

Figura 7: Desenho da Barragem de Mphanda Nkuwa pela UTIP.

Page 13: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

Implicações ambientais e sociais

O Zambeze sofreu severamente com a já existente Barragem de Cahora Bassa, que

deixou uma devastação ambiental e social marcante. O projecto de Mphanda Nkuwa

não só não lida nem procura ajudar resolver estas questões ambientais e sociais,

como dificulta as actuais tentativas de aplicar descargas estipuladas com vista a

restaurar as condições rio abaixo 28. Na verdade foi referido que poderia tornar os

impactos marcantes irreparáveis 26,28,42. Se Cahora Bassa fosse a alterar as suas

descargas reguladas para descargas estipuladas que cumprissem determinadas

exigências ambientais relativas ao fluxo, o projecto Mphanda Nkuwa teria impactos

negativos 28,42. Conforme declarado pelo Estudo de Viabilidade de Mphanda Nkuwa,

“descargas previamente estipuladas reduziriam a quantidade total de energia

produzida pela barragem, e portanto, a sua viabilidade económica” 28. Mphanda

Nkuwa não só falhará ao tentar resolver o actual problema causado pelas barragens

já existentes, mas também colocará obstáculos na forma de resolvê-lo.

Mais de 90% do fluxo da bacia hidrográfica do Zambeze é controlado pelas barragens

de Kariba, Kafue Gorge e Itezhitezhi 35. A de Cahora Bassa causou uma estimada

redução de 70% dos sedimentos transportados durante as cheias 24. Mphanda Nkuwa

irá futuramente piorar a situação pois irá barrar o Rio Luia, um dos últimos fluxos não

regulados com aproximadamente 28 000km2 de área de drenagem 33. Ainda se

desconhece a actual quantidade de sedimentos transportada, mas a contribuição

para os depósitos de sedimentos ricos em nutrientes rio abaixo durante a estação de

chuvas é considerada muito importante.

O esquema de produção de energia intermitente sugerido de Mphanda Nkuwa

também trouxe algumas preocupações, pois provoca pequenas cheias diárias. De

acordo com o estudo de viabilidade, “o funcionamento intermitente das turbinas com

uma grande variação diária do fluxo e do nível reconfiguraria o canal do rio... A

reconfiguração do canal teria consequências significativas para a ecologia do rio,

recessão da terra cultivada e actividades de residentes locais no canal.” 28 Os

Figure 8: Floodplain by Chitongolo near to the proposed Mphanda Nkuwa Dam

Page 14: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

impactos prejudiciais nas actividades de pesca e nas plantações nas planícies

inundáveis iriam aumentar a insegurança alimentar na região. Ecologicamente, os

impactos negativos do funcionamento intermitente das turbinas podem ser tão

severos como documentados no exemplo do EIA: “o Rio Orange na África do Sul,

entre as barragens de Gariep e de Van der Kloof e directamente rio abaixo, que

recebe duas vezes por dia picos no fluxo da água para a produção de energia

hidroeléctrica foi descrito como ‘um deserto ecológico’ 28.

Questões em torno da avaliação sísmica também foram levantadas. O estimado pico

máximo de magnitude 6.1 na escala de Richter foi com base num registo curto de 42

anos 46. Isto é bastante inferior (<30 vezes menos energia) que as duas zonas

sísmicas adjacentes que tiveram um pico de magnitude 7.1 e 7.3 na escala de

Richter 36. Diferenças tão grandes não são comuns em zonas sísmicas adjacentes 36.

A falha pré-histórica de Bilila-Mtakataka no sul do Malawi foi julgada pelos seus

descobridores como sendo a prova física do maior terremoto de falha normal no

continente 36. Considera-se que esta falha está demasiadamente perto ao local

projectado para a barragem 36. Para alem disso, a falha activa de Estima atravessa a

albufeira apenas a 25 metros da parede da barragem 46. Isto aumenta a chance de

ocorrerem terramotos devido à albufeira. Actualmente estas são apenas algumas das

preocupações levantadas por peritos 36, mas infelizmente não podem ser feitas

avaliações nem conclusões por peritos independentes devido ao facto de o relatório

técnico, "Joint Venture, 2001, Report 024A", não estar fisicamente disponível para o

público.

Mitigando riscos

Baseadas no registo negativo de grandes barragens e nas experiências actuais da

Barragem de Cahora Bassa, grandes preocupações em relação à construção de

Mphanda Nkuwa foram levantadas pela sociedade civil e por académicos 9,13,26,36,38,43,47,54. O relatório da Comissão Mundial de Barragens (CMB) foi a crítica mais

profunda dos vários accionistas globais avaliando os impactos, riscos e sucessos de

grandes barragens até a data de hoje 65. Um dos principais objectivos do relatório da

CMB foi ajudar os accionistas a tomar decisões em torno de grandes barragens e

identificar as necessidades, opções e riscos 65. Baseadas nas conclusões, um

conjunto de directrizes na forma de sete estratégias prioritárias foram desenvolvidas

com vista a ajudar a tomada de decisões e diminuir os riscos/problemas comuns

associados a grandes barragens 65.

Page 15: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

A CMB atribui grande importância na conquista da aceitação do público,

conhecimento local e defesa dos direitos indígenas 65. O projecto de Mphanda Nkuwa

não contou com um processo de participação significativa do público 42. Audiências

foram realizadas apenas na área proposta para a albufeira, e baseadas em

entrevistas realizadas em 2001 nas mesmas áreas 42. A maioria das pessoas teve no

máximo um fraco entendimento do projecto, e um grande número não sabia

absolutamente nada 42. Mesmo depois do nosso projecto de capacitação que acabou

em 2004, ficou claro que é necessário ser feito muito mais antes das comunidades

afectadas terem a capacidade de participar de forma eficiente e forte 43.

No momento nenhuma repartição de benefícios é evidente e a maioria dos custos

será suportada pela pobre população rural. Nem mesmo um plano claro de

compensações foi feito 42. A UTIP (Technical Unit for Implementation of Hydropower

Projects) declarou que é “algo que um potencial investidor tem que negociar com a

população local” 33.

Mphanda Nkuwa não observa nenhuma destas sete prioridades estratégicas e ignora

em grande parte as directrizes da CMB, o que parece sugerir que está a seguir o mau

caminho das barragens anteriores 42. O projecto apresenta um funcionamento

intermitente da turbina controverso que causa pequenas cheias diárias 28. Bloqueia

os poucos sedimentos restantes e impede a possível restauração do baixo Zambeze

através de descargas estipuladas 26. Todas as seis opções dirigidas pelo EIA eram

barragens e até o EIA conclui que ampliar o vertedouro de Cahora Bassa é a melhor

opção 28,42. Esta opção poderia permitir também a restauração parcial das condições

naturais do fluxo do baixo Zambeze 28. O projecto também levantou preocupações

relacionadas com a sua localização geotectónica e risco sísmico. O baixo nível de

participação pública e a falta de partilha de benefícios coloca questões em torno da

sua contribuição para diminuir a pobreza na região 42. Baseado na informação

presente e na maneira como o projecto está a ser levado, grandes mudanças terão

que ocorrer antes de a Barragem de Mphanda Nkuwa tornar-se benéfica para o

desenvolvimento de Moçambique e a maioria da sua população.

Passado, Presente e Futuro

O vale do baixo Zambeze funciona em função do regime de fluxo sazonal do Rio

Zambeze. Como com todos os ecossistemas, o Zambeze é produto de milhares de

anos de evolução, sendo as cheias um factor vital para o seu funcionamento. Desde

as práticas culturais mais antigas, tais como a agricultura de recessão, até a

sincronização biológica e dependência dos seus ecossistema, as cheias são o coração

Page 16: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

da passada, presente e futura saúde do Vale do Zambeze. As cheias trazem os

sedimentos ricos em nutrientes, alimentam as secas planícies inundáveis com a tão

necessária água, acabam com os focos de água parada e limpam os canais, as

bifurcações e afluentes.

A construção das Barragens de Kariba e de Cahora Bassa causou grandes alterações

hidrográficas ao longo do Baixo Zambeze. As barragens afectaram gravemente as

comunidades e os ecossistemas rio abaixo.

A seca das planícies

inundáveis tornou a

agricultura de recessão difícil

e aumentou a caça aos

animais. A falta de cheias

diminuiu as quantidades de

peixe e causou perdas de

cerca de 30 milhões de

dólares por ano na indústria

de camarão. O assentamento

permanente nas

margens do rio, bancos de areia e áreas de planícies inundáveis consolidadas, que

antes eram ocupados apenas sazonalmente, causaram a devastação e mortes

durante as maiores cheias.

Isto diminuiu a capacidade das comunidades de gerir o risco de cheias. Em conjunto

com algumas cheias imprevisíveis em época seca que acabam com as plantações

causou uma mudança na visão das comunidades em relação à importância das

cheias. A antes benção das cheias tem agora uma nuvem escura negativa a formar-

se à sua volta.

Apesar de toda a informação em torno dos impactos negativos da regulação dos rios 31,40,53,62; e a cada vez maior quantidade de estudos que mostram os impactos

negativos da Barragem de Cahora Bassa e as possíveis soluções para corrigir muitos

destes impactos 4-6,23,30,63,64 , não foi feita nenhuma mudança para implementar estas

sugestões ou até mesmo incluí-las em futuros projectos de barragens no Zambeze. A

Cahora Bassa ainda é controlada pelos portugueses e gerida da mesma forma pela

qual foi originalmente planeada nos anos 70 e 80. “Como resultado, Cahora Bassa

possui a dúbia distinção de ser a menos estudada e possivelmente o projecto de

barragem menos ambientalmente aceitável em África” 15.

Figura 9: O Rio Zambeze a entrada do Oceano Indico

Page 17: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

Infelizmente, os problemas já conhecidos associados às barragens não estão a ser

tomados em consideração pelas práticas actuais e apenas irão exacerbar o

problema, como visto com o projecto da Barragem de Mphanda Nkuwa. Para além de

Mphanda Nkuwa, mais 5 barragens estão propostas para Moçambique. É vital que

Moçambique desenvolva um sistema de apoio de decisões, baseado no relatório da

CMB, a fim de identificar e diminuir alguns dos riscos associados às grandes

barragens.

Actualmente os EIA são vistos como um procedimento forçado e não como um

processo para atingir a melhor decisão em direcção a um desenvolvimento mais

sustentável e justo. Dentro do Governo, as considerações ambientais são vistas como

anti-desenvolvimento e como um luxo que apenas os países desenvolvidos podem

levar em consideração. Outra grande barreira para um Vale do Zambeze sustentável

é a falta de coordenação entre os diferentes sectores, o preferência da gestão de

água em direcção a determinados sectores económicos (energia hídrica,

navegabilidade e indústria), falta de participação pública e modelos de

desenvolvimento fortemente influenciados pelas actuais práticas nos países

desenvolvidos, que são confiantes em mega-projectos.

Contudo, existem desenvolvimentos positivos a acontecer, que estão a lidar com

alguns destes assuntos e tem havido progresso durante os últimos anos. Pesquisas

extensas, como o Plano de Gestão de Marromeu, estão a ajudar a compreender o

sistema do Zambeze e a desenvolver um plano de restauração para o Baixo

Zambeze. Um aumento da consciencialização social devido a projectos de

capacitação ajudou as comunidades ao longo do Zambeze a organizar-se e

interessar-se em participar no desenvolvimento que os afecta. Novas políticas de

água e uma Estratégia Nacional de Água estão a ser desenvolvidas, com o potencial

de incluírem uma visão mais holística e integrada de futuros desenvolvimentos. A

Figure 10: Blocked branch of the Zambezi River.

Page 18: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

intenção de criar a Comissão do Zambeze, ZAMCOM, poderia aumentar a

comunicação entre os países vizinhos ao longo do Rio Zambeze. Após uma extensa

consciencialização por parte da sociedade civil e de ONGs em torno do relatório da

CMB, o Governo está a considerar iniciar um processo com os múltiplos accionistas

para rever o relatório da CMB. Como foi mencionado anteriormente, este relatório

possui o grande potencial de identificar e diminuir alguns dos riscos associados às

grandes barragens. Sem boas directrizes e sistemas de apoio de decisão, as

barragens continuarão a dificultar o desenvolvimento sustentável e a ficar aquém do

seu potencial prometido.

Reference

1. ANDERSON, J., DUTTON, P., GOODMAN, P. AND SOUTO, B. 1990. Evaluation of the wildlife resource in the Marromeu complex with recommendations for it’s further use. LOMACO, Maputo, Mozambique. 52pp.

2. BALEK, 1977: Hydrology and Water Resources in Tropical Africa. Developments in Water Science, 8.; Elsevier Amsterdam, 208 pp.

3. BBC NEWS, 2001: Mozambique floods worsen; BBC Online; http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/africa/1194245.stm; Wed, 28 Feb, 2001; Accessed 29 Sep, 2005.

4. BEILFUSS, R.D. 1997. Restoring the flood: a vision for the Zambezi Delta. The ICF Bugle 23(4):1-2.

5. BEILFUSS, R. D. & DAVIES, B. R., 1998: Prescribed flooding and Wetland Rehabilitation in the Zambezi Delta, Mozambique. In: Streever, W. (ed.): International Perspectives on Wetland Rehabilitation.; Kluwer Publ., Dordrecht.

6. BEILFUSS, R.D. 1999. Can this river be saved?: rethinking Cahora Bassa could make a difference for dam-battered Zambezi. World Rivers Review 14(1): 8-11.

7. BEILFUSS, R.D. 2000. Piecing together the story of an African floodplain: water, wetlands, and Wattled Cranes. The ICF Bugle 26(1): 1-3.

8. BEILFUSS, R. D., 2002: Cranes, sedges and a dry Zambezi, NEWS FROM THE PERCY FITZPATRICK INSTITUTE, Aug/Sep, 19 pp.

9. BEILFUSS, R. D., 2003-2005: Researcher for International Crane Foundation and world renown expert on the Zambezi River system, Various interviews and personal communication with JA!.

10. BEILFUSS, R. D., 2005: Water quality; Workshop on water management for the Zambezi Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp9.

11. BEILFUSS, R.D., AND DAVIES, B.R. 1999. Prescribed flooding and wetland rehabilitation in the Zambezi Delta, Mozambique. Pages 143-158. In: An international perspective on wetland rehabilitation (Ed. W. Streever). Amsterdam: Kluwer Academic Publishers.

12. BEILFUSS, R.D., DUTTON, P. AND MOORE, D. 2000. Land cover and land use changes in the Zambezi Delta. Pages 31-106 in J. Timberlake, ed. Biodiversity of the Zambezi basin wetlands. Volume III. Land Use Change and Human Impacts. Consultancy report for IUCN ROSA. Bulawayo: Biodiversity Foundation for Africa and Harare: The Zambezi Society.

13. BENTO, C., 2002-2003: Curator of the Museum of Natural History (Maputo) and founder member of Justica Ambiental, Presentations given to National Directorate of Water (DNA) and Ministry for Coordination of Environmental Affairs (MICOA), and personal communication. This information is based Dr Bento extensive research along the Zambezi and ongoing research in collaboration with Dr Beilfuss from the International Crane Foundation.

14. BENTO, C., 2005: Settlement Patterns; Workshop on water management for the Zambezi Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp9.

15. BERNACSEK, G.M. & S. LOPEZ. 1984. Cahora Bassa. Page 62 in J.M. Kapetsky and T. Petr, eds., Status of African reservoir fisheries. Technical paper no. 10. FAO, Rome, Italy.

16. CHRISTIE, F. & HANLON, J., 2003: Mozambique and the Great Flood of 2000; Oxford Press.17. Communiqué from the Workshop on the Sustainable Utilisation of the Cahora Bassa Dam and the

Valley of the Lower Zambezi, Songo, 29 September – October 2, 199718. CUAMBA, N. & AUGUSTO, G., 2005: Public health; Workshop on water management for the Zambezi

Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp6.

19. DAVIES, B. R., 1975: Cahora Bassa hazards.; Nature Lond. 254: 477–478.

Page 19: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

20. DAVIES, B. R., 1975: ‘They pulled the plug out of the Lower Zambezi’, African Wildlife, 29, 2 , pp. 26–28.

21. DAVIES, B. R., 1979: Stream regulation in Africa: A Review in: WARD, J. V. & STANFORD, J. A. (eds): The Ecology of Regulated Streams: 113–142.; Plenum Press, New York.

22. DAVIES, B. R., 1986: The Zambezi River System.; In: DAVIES, B. R. & WALKER, K. F., (eds): The Ecology of River Systems. Monogr. Biol. 60: 225–267.; Dr. W. Junk, Dordrecht.

23. DAVIES, B. R. (ed.), 1998: The Sustainable Utilization of the Cahora Bassa Dam and the Valley of the Lower Zambezi.; Proceedings of the Cahora Bassa Workshop, Songo, 29 September – October 02, 1997.; Arquivos do Patrimonial Cultural, Maputo, 48 pp.

24. DAVIES, B. R., BEILFUSS, R. D. & THOMS, M. C., 2000: Cahora Bassa retrospective, 1974–1997: effects of flow regulation on the Lower Zambezi River; Verh. Internat. Verein. Limnol. 27: 1-9.

25. DAVIES, B. R., HALL, A. & JACKSON, P. B. N., 1975: Some ecological aspects of the Cahora Bassa Dam.; Biol. Conserv. 8: 189–201.

26. DAVIES, B. R., 2002-2005: Professor at the University of Cape Town and world renown expert on the Zambezi River system, Various interviews and personal communication.

27. DUTTON, P., 1996: Natural Environment Consultant, Unpublished notes and comments made to Prof. Davies based on Aerial surveys, Beira

28. Environmental Impact Assessment (EIA), Feasibility Study, Mepanda Uncua and Cahora Bassa North Project, Technical Unit for the Implementation of Hydropower Projects (UTIP), Joint Vemture LI-EDF-KP, Mozambique, 2001.

29. FUNSTON, P. & BILAS, E., 2005: Large Mammals; Workshop on water management for the Zambezi Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp6.

30. GAMMELSRØD, T. 1992. Variation in shrimp abundance on the Sofala Bank, Mozambique, and its relation to the Zambezi runoff. Estuarine and Coastal Shelf Science, 35: 91-103.

31. GORE, J. A. & PETTS, G. E., (eds), 1989: Alternatives in Regulated River Management.; CRC Press Inc., Boca Raton, Florida, USA, 344 pp.

32. HALL, A. & DAVIES, B. R., 1974: Cabora Bassa: Apreciaçâo global do seu impacto no Vale do Zambeze.; Rev. Mens. Econ. Moçamb., Lourenço Marques 11: 15–25.

33. HILLMANN, C. & TAREDAL, l., 2003: FIVAS Results from a study trip; The Mepanda Unkua Project – a planned regulation of the Zambezi River in Mozambique; June 23 – July 18, Tete.

34. HOGUANE, A. M., 1997: Shrimp abundance and river runoff in Sofala Bank – the role of the Zambezi.; Workshop on The Sustainable Utilisation of the Cahora Bassa Dam and the Valley of the Lower Zambezi, Songo, September 29 – October 02, 1997, 16.

35. HUGHES, R. H. & HUGHES, J. S., 1992: A Directory of African Wetlands: 657–688. – World Conservation Union, Gland, Switzerland and Cambridge. UK/UNEP, Nairobi, Kenya/ WCMC, Cambridge, UK.

36. HARTNADAY, C., 2003: Professor at the University of Cape Town and world renowned expert on African geotectonics, E-mail communication.

37. HUYSSTEEN, A., 1997: Eskom holds whip hand in tariff negotiations; Financial Mail, 07 Nov and Cahora Bassa - 'Will be viable only if SA pays more'; Financial Mail, 11 Dec

38. ISAACMAN, A. & SNEDDON, C., 2000: Toward a Social and Environmental History of the Building of Cahora Bassa Dam.; Jou. South. Afri. Stud., Vol 26, N 4,

39. JACKSON, P. B. N., 1986: Fish of the Zambezi system. – In: DAVIES, B. R. & WALKER, K. F. (eds): The Ecology of River Systems. Monogr. Biol. 60: 269–288. – Dr. W. Junk, Dordrecht.

40. JUNK, W. J., BAYLEY, P. B. & SPARKS, R., 1989. The flood pulse concept in river floodplain systems. – In. DODGE, D. P. (ed.): Proceedings of the International Large River Symposium. Can. Spec. Publ. Aquat. Sci. 106: 110–127.

41. JUSTIÇA AMBIENTAL, 2003: Informative Paper - Why are prawns in the Sofala Bank declining?; Funded and prepared for Siemenpuu.

42. JUSTIÇA AMBIENTAL, 2003: Report on “How does Mphanda Nkuwa comply with the World Commission on Dams”; Funded and prepared for IRN.

43. JUSTIÇA AMBIENTAL, 2003-2004: MPHANDA NKUWA: Dams and Development Capacity-Building project; Funded and prepared for Siemenpuu.

44. JUSTIÇA AMBIENTAL, 2003-2005: Zambezi trip reports and interviews; Part of various projects.

45. JUSTIÇA AMBIENTAL, 2004: Report on the workshop on integrated water management in the Zambezi; Funded and prepared for OXFAM.

46. JUSTIÇA AMBIENTAL, 2005: Seimicity Report; based on temporary access to the “Joint Venture, 2001, Report 024A”; Funded and prepared for Green Grant.

Page 20: O Vale do Zambeze Condenado Pelas Barragens (2005)

47. LEMOS, A. D., 2001-2005: Founder member and director of Justica Ambiental; Various interviews and personal communication based on over 5 years of experience in working with social issues along the Zambezi.

48. NIXON, S.W. 2003. Replacing the Nile: Are anthropogenic nutrients providing the fertility once brought to the Mediterranean by a great river? Ambio, 32: 30-39.

49. MCCULLY, P., 1996: Silenced Rivers: The Ecology and Politics of Large Dams.; Zed Books, London and New Jersey.

50. MULLER, M., 2001: Cahora Bassa Role in Mozambique Floods - Flood criticism, a one-sided discourse; Mail & Guardian, South Africa, 2 Apr.

51. OLIVIER, H., 1970: Great Dams of Southern Africa.; Purnell Publ., Cape Town.

52. PAGE, D., 2001: Floods 'a predictable disaster'; Mail & Guardian, South Africa, 20 Mar.

53. REES, W. A., 1978: The ecology of the Kafue Lechwe: As affected by the Kafue Gorge Hydro-electric Scheme.; J. Appl. Ecol. 15: 205–217.

54. RIBEIRO, D. D., 2001: Tete Workshop on the World Commission on Dams and Mphanda Ukuwa Dam. Prepared for Livaningo, Maputo

55. SILVA, R. P., 2005: Estuarine and coastal fisheries; Workshop on water management for the Zambezi Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp3.

56. SCUDDER, T., 1996: Caltech, Unpublished notes and personal communication to Prof. Davies

57. SUSCHKA, J. & NAPICA, P., 1990: Ten years after the completion of Cahora Bassa Dam.; In: The impact of large water projects on the environment. Proceedings of an International Symposium, 21–31 October, 1986: 171–203.; UNEP and UNESCO, Paris.

58. TIMBERLAKE, J., 1998. Biodiversity of Zambezi Basin Wetlands: review and preliminary assessment of available information. Phase 1. Final report. IUCN-ROSA, Harare, Zimbabwe.

59. TIMBERLAKE, J., 2005: Vegetation communities; Workshop on water management for the Zambezi Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp7.

60. TINLEY, K. L. & SOUSA DIAS, A. H. D., 1973: Wildlife reconnaissance of the MidZambezi Valley in Moçambique before the formation of the Cabora Bassa Dam.; Vet. Moçamb. Lourenço Marques 6: 103–131.

61. TWEDDLE, D., 2005: Freshwater fisheries; Workshop on water management for the Zambezi Delta – Evaluation of Scenarios, Maputo, 5-6 September, 2005, pp4.

62. WARD, J. V. & STANFORD, J. A. (eds), 1979: The Ecology of Regulated Streams.; Plenum Press, New York and London, 398 pp.

63. WHITE, R., 2001: Managing Water Disasters and Minimizing the Vulnerability of Mozambique to Floods; Paper was presented to the “6th Annual Water Africa 2001” conference held 18-19 September 2001.

64. WILSON, K., 1997: Preliminary estimates of the potential for modifying water discharges from Cahora Bassa to ameliorate environmental impact and maximize socioeconomic benefits in the Zambezi Basin.; Workshop on the Sustainable Utilisation of the Cahora Bassa Dam and the Valley of the Lower Zambezi, Songo, 29 September – October 2, 1997, 4 pp.

65. World Commission on Dams (2000) Dams and Development: A New Framework for Decision-Making, The Report of the World Commission on Dams (London, Earthscan Publications).

66. World Water Forum, 2004: The Mphanda Nkuwa Dam project: Is it the best option for Mozambique’s energy needs?; Final Report for WWF, Intermediate Technology Consultants Ltd.