Copyright©2011 Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP)Copyright©2018 Editora Kapulana Ltda.Copyright do texto©2018 Adelino TimóteoCopyright das ilustrações©2018 Silva Dunduro

Os textos foram adaptados para a nova ortografia da língua portuguesa de expressão brasileira. (Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 – decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008).

Coordenação editorial: Rosana Morais WegProjeto gráfico e lettering: Amanda de AzevedoIlustrações: Silva Dunduro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura infantil 028.5

2. Ficção: Literatura infantojuvenil 028.5

2018

Reprodução proibida (Lei 9610/98)Todos os direitos desta edição reservados à Editora Kapulana Ltda.

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Timóteo, Adelino Na aldeia dos crocodilos / texto de Adelino

Timóteo; ilustrações de Silva Dunduro. -- São Paulo: Kapulana, 2018. -- (Contos deMoçambique; 7)

ISBN: 978-85-68846-33-9

1. Ficção - Literatura infantojuvenil 2. Literatura moçambinaca (Português) I. Dunduro, Silva. II. Título III. Série.

18-12793 CDD-028.58.5

CONTOS DE MOÇAMBIQUE - vol. 7

TEXTO DE ADELINO TIMÓTEOPINTURAS DE SILVA DUNDURO

São Paulo2018

kapulana

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Na aldeia dos crocodilos – assim se chamava aquela terra junto ao rio – o solo era tão fértil que se dizia que qualquer lágrima que caísse sobre ela faria germinar uma semente.

Isto porque, segundo se conta, o sol desce até ao coração da terra. Os crocodilos colhem-no nas margens do rio para o levarem para o reino subterrâneo onde vivem, por baixo do leito.

I

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Mandoguinhas era órfão de pais e, depois do desaparecimento do avô Boa, apenas lhe restava a avó Sasseka. Esta reuniu-se com os adivinhos que lhe disseram que, por vontade de Boa, Mandoguinhas deveria suceder ao velho Boa no poder do exército.

À Chanaze, a curandeira que aconselhava o chefe da aldeia Tomoncene, foi pedido que explicasse a tragédia do misterioso desaparecimento de Boa. Esta, sem meias palavras, no seu estilo de curandeira desbocada, pediu que a todos fosse anunciada a morte do ancião.

8

II

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O menino não queria acreditar no desfecho deste assunto. Aquele era apenas mais um entre os desaparecimentos que testemunhara ao longo da sua vida: a aldeia dos crocodilos vivia há anos de dor em dor. Uma nova dor nascia antes de cicatrizar a anterior. A tal ponto que cada pessoa da aldeia vivia em sobressalto, esperando o dia do seu próprio desaparecimento. E nunca ninguém regressara para falar daquele lugar, que se dizia ser o refúgio dos raptores, o tal lugar debaixo da terra, entre grutas e galerias subterrâneas inundadas de sol.

O que parecia ser verdade – pelo menos assim acreditava grande parte da aldeia – é que naqueles lugares vivia o Zuzé, um espírito que povoava as águas.

O Zuzé surgia do fundo do rio, encantava as suas vítimas fazendo-as aproximar-se e levava-as depois para uma espécie de reino das catacumbas onde se juntavam milhares de pessoas prisioneiras dos crocodilos.

Também era verdade que Chanaze se tornara conselheira do chefe, não pelo fato de ter demonstrado poderes para desvendar mistérios e lidar com a magia, mas porque se aliara a Tomoncene para derrubar Boa.

Os aldeões respeitavam-na por temor, porque ela provara comunicar com o mundo dos ancestrais, com os crocodilos que ela dizia serem pessoas dominadas pelo Zuzé. Mas Boa sabia-a traiçoeira, “lança de dois bicos”, como ele próprio a chamava.

Alguns dos homens e mulheres desaparecidos regressavam à aldeia anos depois com outra identidade. Chanaze sabia disso e nada dizia. Outros ocultavam a sua face de croco-dilo por detrás de uma máscara humana. De dia eram simples funcionários, negociantes, empregados. De noite, mudavam de face. Trabalhavam para os crocodilos e tornavam-se prósperos, empresários de sucesso. Chanaze sabia disso e a ninguém contava.

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UBUNTU

CATACUMBA

BANJA

MIÚDO

MACHAMBA

AZAGAIA

TAM-TAM

ULULAR

SENA

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O conto Na aldeia dos crocodilos foi inspirado no vale do Zambeze, um lugar de Moçambique onde ocorrem vários tabus. Do Zambeze ouve-se falar da encarnação humana dos crocodilos. Na minha infância ouvi várias vezes contar essas histórias. Foram as que mais pren-deram os meus sentidos.

Portanto, quando li esse excerto senti-me animado em partilhar com os meninos desta terra uma parte dessas histórias que permanecem desconhe-cidas, pois nas margens do Zambeze a crença nas pessoas que desaparecem e reaparecem depois de levadas por crocodilos é absoluta. Morrer afogado no rio é interpretado como uma conspiração de feiticeiros, e desaparecer neles é interpretado como um passeio ao subterrâneo aquático.

Em menino, ouvíamos os mais velhos dizerem que quando acordas com o corpo dorido é porque passaste a noite a cultivar machambas de feiticeiros.

Magia, feitiçaria e mitos evocados por Ntsay Maria inspiraram-me a escrever este conto, a partilhar convosco este lado desconhecido de vidas parale-las (terra e rio) e que tornam Zambeze não só um vale rico e fértil, como também uma fonte que poderá alimentar novas gerações, e, quiçá, mo-tivá-las à descoberta e à divulgação de contos tradicionais genuinamente moçambicanos, da memória e da autoria coletiva do povo moçambicano.

ADELINO TIMÓTEO

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ADELINO TIMÓTEO Nasceu em 3 de fevereiro de 1970, na Beira, em Moçambique.

Embora formado na área de docência em Língua Portuguesa, não exerceu a profissão. Ingressou, no Jornalismo em 1994 na cidade da Beira, no Diário de Moçambique, e, mais tarde, tornou-se correspondente do semanário Savana, da mesma cidade. É licenciado em Direito e exerce a função de jor-nalista no semanário Canal de Moçambique, também da cidade da Beira. Além disso, é artista plástico e já realizou várias exposições individuais de artes em Moçambique e no estrangeiro.

Também é escritor de ficção com vários livros publicados:

1999 – Os segredos da arte de amar. Maputo: AEMO.2002 – Viagem à Grécia através da Ilha de Moçambique. Maputo: Ndjira.2006 – A fronteira do sublime. Maputo: AEMO.2007 – Mulungu. Lisboa: Texto.2009 – A Virgem da Babilónia. Lisboa: Texto.2010 – Nação pária. Maputo: Alcance.2011 – Dos frutos do amor e desamores até à partida. Maputo: Alcance.2013 – Não chora Carmen. Maputo: Alcance.2013 – Nós, os de Macurungo. Maputo: Alcance.2013 – Livro Mulher. Maputo: Alcance.2014 – Apocalipse dos predadores. Lisboa: Chiado. 2016 – Corpo de Cleópatra. Maputo: Alcance.2017 – Os oito maridos de dona Luíza Michaela da Cruz. Maputo: Alcance.

Alguns prêmios:1999 – Vencedor do prêmio anual do Sindicato Nacional do Jornalismo, pela melhor crônica. 2001 – Vencedor do Prémio Nacional Revelação de Poesia AEMO (Associação dos Escritores Moçambicanos).

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A técnica de pintura a óleo é uma das técnicas mais antigas e tradicionais das artes plásticas.

Quase todos os documentos de história da arte dizem que essa técnica de pintura surgiu na Europa no século XV. Porém, quando em 2001, no Afeganistão, foram des-truídas estátuas gigantes de Buda, pesquisadores encontraram cavernas com milhares de imagens decoradas com pinturas de Buda e seres mitológicos, feitas entre os sé-culos V e IX. As surpreendentes imagens tinham sido feitas com tinta a óleo, o que significa que essa técnica já era utilizada na Ásia antes de chegar à Europa. Naquela época, as tintas eram feitas à base de nozes e sementes de plantas.

A pintura a óleo, apesar de antiga, ainda é muito utilizada. As tintas são aplicadas em superfícies de madeira ou tela de algodão cru, ou sobre outros materiais, com pincéis ou espátulas. A espessura da tinta depende do efeito buscado pelo pintor. A tinta seca lentamente, o que permite ao artista alterar seu trabalho durante muito tempo, se ele quiser.

Algumas das obras de arte mais famosas do mundo, como a “Mona Lisa” (1503), do italiano Leonardo da Vinci, “A noite estrelada” (1889), do holandês Vincent van Gogh, e o “Abaporu” (1928), da brasileira Tarsila do Amaral, foram pintadas com o uso dessa técnica.

SILVA DUNDURO Nasceu em 25 de fevereiro de 1964, no distrito do Búzi, provín-cia de Sofala, Moçambique. Atualmente, é Ministro da Cultura e Turismo de Moçambique, e vive em Maputo, capital do país.

Desde os anos de 1980, tem participado de vários movimentos socioculturais e de exposições de arte nacionais e internacionais.

De 1987 a 2003, impulsionou o movimento cultural moçambi-cano a partir da “Casa de Cultura”. Em 1989, foi membro fun-dador do “Núcleo de Artes Plásticas”, na cidade da Beira. Foi também membro do “Núcleo de Arte de Maputo” e membro fundador da “Associação Cultural Casa do Artista”. Em 1996, foi eleito “Personalidade Cultural do Ano”, iniciativa do Diário de Moçambique, da cidade da Beira.

Entre 2008 e 2009, fez estudos de Mestrado no Brasil e trabalhou com a pintora Maria Do Karmmo, em seu atelier, no Rio de Janeiro.

Desde 2012, tem participado de várias exposições coletivas em Moçambique (Beira, Chimoio, Maputo e Tete) e no estrangeiro (Itália Namíbia, Portugal e Suécia, entre outros).

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[vol. 1] O rei mochotexto de Ungulani Ba Ka Khosailustrações de Américo Mavale

[vol. 2] As armadilhas da florestatexto de Hélder Faife

ilustrações de Mauro Manhiça

[vol. 3] A viagemtexto de Tatiana Pinto

ilustrações de Luís Cardoso artesanato de Tomás Muchanga

[vol. 4] O casamento misterioso de Mwidjatexto de Alexandre Dunduroilustrações de Luís Cardoso

artesanato de Orlando Mondlane

[vol. 5] Kanova e o segredo da caveiratexto de Pedro Pereira Lopesilustrações de Walter Zand

[vol. 6] Wazitexto de Rogério Manjate

ilustrações de Celestino Mudaulane

SÉRIE “CONTOS DE MOÇAMBIQUE”