o triangulo como estado - os movimentos emacipacionistas

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 3 Sumário Proposta ..................................................................................................... 04 Introdução .................................................................................................. 05 1- Os primeiros movimentos emancipacionistas .................................. 06 1.1 Caracterizando a Origem ........................................................ 07 1.2 Uma Audácia para Época ....................................................... 10 1.3 Primeiros Passos Além da Origem ........................................ 11 1.4 Primeira Participação Popular e os Passos Seguintes ....... 11 2 - A emancipação triangulina na Constituinte de 1988 ...................... 21 2.1 Personagens emancipacionistas na Constituinte .............. 26 2.2 O sonho não vingou em 1.988.............................................. 29 3 - A Emancipação em Pauta na Imprensa entre 2006 e 2009 ............. 32 3.1- O ano de 2006 ........................................................................ 33 3.2- O ano de 2007 ........................................................................ 39 3.3- O ano de 2008 ....................................................................... 44 3.4- O ano de 2009 ........................................................................ 48 4- Rumos da emancipação ..................................................................... 52 4.1- Uma Nova Proposta ............................................................... 54 Bibliografia ............................................................................................... 57

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Livro-reportagem apresentado pelo aluno Luiz Florentino como exigencia para conclusão do curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo da Universidade de Uberaba.

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Page 1: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 3

Sumário

Proposta ..................................................................................................... 04

Introdução .................................................................................................. 05

1- Os primeiros movimentos emancipacionistas .................................. 06

1.1 Caracterizando a Origem ........................................................ 07

1.2 Uma Audácia para Época ....................................................... 10

1.3 Primeiros Passos Além da Origem ........................................ 11

1.4 Primeira Participação Popular e os Passos Seguintes ....... 11

2 - A emancipação triangulina na Constituinte de 1988 ...................... 21

2.1 Personagens emancipacionistas na Constituinte .............. 26

2.2 O sonho não vingou em 1.988.............................................. 29

3 - A Emancipação em Pauta na Imprensa entre 2006 e 2009 ............. 32

3.1- O ano de 2006 ........................................................................ 33

3.2- O ano de 2007 ........................................................................ 39

3.3- O ano de 2008 ....................................................................... 44

3.4- O ano de 2009 ........................................................................ 48

4- Rumos da emancipação ..................................................................... 52

4.1- Uma Nova Proposta ............................................................... 54

Bibliografia ............................................................................................... 57

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Proposta O objetivo maior deste trabalho é contribuir com a memória de uma questão histórica geográfica que marca a região do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba. Discutir a memória dos movimentos emancipacionistas destas regiões é sobre tudo um esforço em busca da compreensão do pensamento político de um segmento importante das lideranças regionais. A partir da utilização de técnicas de investigação jornalística e pesquisa documental, registramos e sistematizamos as idéias políticas dos emancipacionistas, tanto na contemporaneidade quanto no final do século XX. O que buscamos aqui foi a elaboração do discurso que animou os protagonistas nos períodos mais marcantes das lutas em torno do separatismo. Nota-se o envolvimento dos principais municípios ligados ao tema, como é o caso de Uberaba, Uberlândia e Araxá, em algumas épocas se concentrando mais em uns municípios que em outros. Por fim, ao mesmo tempo em que o trabalho exerce um papel de convite ao debate é também um retrato de como essa gente se molda e se constrói através de seus ideais.

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Introdução Sempre que se fala no assunto, emancipação, não fica muito clara as intenções dos emancipacionistas. Seria meramente oportunismo político? Uma intenção de trazer um equilíbrio econômico e social? Ou para corrigir uma suposta distorção histórica? Muito se tem a pesquisar sobre o assunto. Mesmo não sendo uma intenção do centro político-administrativo de Minas Gerais a emancipação, tratar este assunto pode ajudar na compreensão de aspectos importantes da cultura política da região e de todo Estado. O objeto aqui não é levantar uma bandeira nem a favor, nem contra o ideal. Mas sim propor aos leitores um conhecimento maior sobre a região do Triângulo e as lutas em busca de uma nova fronteira.

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1- Os primeiros movimentos emancipacionistas

É cedo, bem cedinho. Por volta das 6h29 da manhã. O sol nasce e brilha com

raios fortes sobre as regiões do Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, a oeste

no estado de Minas Gerais. Uma região de mais de 133 mil km², maior que os

estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas,

Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e o Distrito Federal. Ao sul faz

divisa com o estado de São Paulo, ao norte com estado de Goiás e no pontal

do Triângulo, divide-se com o estado de Mato Grosso do Sul, na confluência

dos rios Grande e Paranaíba. Região de clima ameno, onde prevalece a

vegetação típica do cerrado que recobre os planaltos e planícies dos campos

triangulinos. Dos 853 municípios que compõem Minas Gerais, 66

compreendem esta região. São mais de 2 milhões de habitantes, população

maior que a dos estados de Rondônia, Roraima, Sergipe, Mato Grosso, Acre,

Amapá, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Uma região

privilegiada economicamente, e marcante pela diversidade na agricultura,

pecuária, indústria e comércio.

Fig.1 - Mapa que propõe a região e os municípios do novo Estado do Triângulo Fonte: http://estadodotrianguloexiste.blogspot.com

Fig. 2 - Mapa do Brasil destacando Minas Gerais. Fonte: http://www.quetalviajar.com/images/mapas/mapa-minas-gerais.jpg

Fig. 3 - Mapa de Minas destacando as regiões do Estado Fonte: http://www.bh1.com.br/empresas/mapa-bh.gif

Fig. 1

Fig. 2

Fig. 3

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 7

A produção agrícola chega a representar 12% da produção de grãos do Brasil,

principalmente com o milho, a soja, e o café. O rebanho bovino é composto por

mais de 7 milhões de cabeças, sendo assim cerca de 5% do rebanho de todo o

país. As indústrias hoje instaladas no Triângulo já são maiores em números

que as instaladas em outros 19 estados do Brasil. Um povo com características

simples, de conhecida fama receptiva e acolhedora. De marco vibrante nas

manifestações culturais e religiosas, através dos tradicionais grupos de folias

de reis, de congado, do espiritismo e da fé católica. Manifestações folclóricas,

como as danças, o catira, e histórias legendárias como a da famosa cortesã,

Dona Beja.

1.1 Caracterizando a origem

É bem cedo também, ainda em séculos passados, que estas duas regiões,

Triângulo e Alto Paranaíba, começam a apresentar os primeiros sinais das

propostas de divisão territorial e criação de uma nova unidade da federação. A

iniciativa não é recente, data de meados de 1835, um ideal que teve a bandeira

levantada pela primeira vez por Fortunato Botelho, um fazendeiro, e líder

político, na região de Araxá. Os poucos relatos históricos e documentais que se

tem da época não elucidam bem os fundamentos que levaram o latifundiário a

iniciar o processo de movimentação a favor de uma redivisão do espaço

geográfico em questão. Nas pesquisas, não ficam claros os reais interesses de

grupos que habitavam a região naquela época. O marcante se passava nas

décadas em que o Julgado de Araxá, apresentava ainda pouca paisagem

urbana, a não ser pelas vilas que se formavam naquela época dando origem as

cidades, em 1831 o Julgado de Araxá já havia sido elevado a Vila. Vilas que

durante a semana ficavam vazias, apresentando maior movimentação aos

domingos quando os fazendeiros vinham de longe com suas famílias para

assistirem a missa.

O coronel Fortunato José da Silva Botelho veio de Oliveira (MG) para Araxá

(MG) junto da família, logo nas primeiras décadas do século XIX. Os Familiares

eram cessionários da Sesmaria das Mandiocas, uma importante área produtora

na época, de onde davam origens os produtos derivados da mandioca. O

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‘Grupo da Mandioca’ é o local onde também se morava as razões que fizeram

com que a família Botelho firmasse raízes em Araxá. Fortunato nasceu em

meados de 1.812 e era o quinto do total de 16 filhos. Além da audácia na

proposta emancipacionista do jovem, nota-se que o Coronel Fortunato era um

representante que sempre se envolvia no que tivesse ligação com o cenário

político daquela época. Foi ele um dos responsáveis, junto ao Grupo da

Mandioca, pelo levante do movimento para expulsar do governo o Gabinete

Conservador de D. Pedro II, e expressar a contrariedade às reformas na

constituição, que pretendiam tirar dos municípios a autoridade e autonomia já

conquistadas até então. Na ocasião Fortunato era o presidente da Câmara

Municipal, época em que tais fatos culminaram na Revolução de 20 de julho de

1.842, com batalha travada no Largo de São Sebastião, e hoje retratada em

óleo sobre tela pelo artista plástico Calmon Barreto. A revolução chegou a

reunir mais de 500 homens e a batalha permaneceu por 24 horas.

O personagem em cena era um dos maiores latifundiários, conhecido por ser

ambicioso e inteligente, era boticário e amigo próximo de Dona Beja. A

influência da amiga próxima é um marco histórico. O mito na região de Araxá

narra que Ana Jacinta de São José foi uma cortesã de Minas Gerais, que tem a

Fig. 4 - Tela: A Revolução de 1842, de Calmon Barreto Fonte: Museu Calmon Barreto

Fig. 5 - Tela: A Revolução de 1842, de Calmon Barreto, em cores. Fonte: Museu Calmon Barreto

Fig. 6 - Foto do artista plástico Calmon Barreto Fonte: Fundação Cultural Calmon Barreto

Fig. 6 Fig. 4

Fig. 5

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 9

memória marcada pelo saudosismo de uma heroína. Um fato que mexe com o

imaginário. Ainda na adolescência a personagem foi carinhosamente apelidada

como Beja, pelo primeiro namorado, fazendo referência ao beija-flor, um

pássaro muito comum na região e de beleza excepcional. Com a visita do

ouvidor do rei (que vinha de Vila Boa, capital da província de Goiás, a São

Domingos de Araxá no Sertão da Farinha Podre, hoje região do Triângulo

Mineiro e Alto Paranaíba, também pertencente à província de Goiás na época)

Beja foi raptada por tamanha era sua beleza e seus encantos. Levada para Vila

de Paracatu do Príncipe junto ao ouvidor Beja recebeu finos tratos e

instalações dignas de uma princesa. Narra à história que o ouvidor passava

sobre o olhar atento da justiça de Goiás, pelo fato de ser o mandante do rapto

da moça e do assassinato de seu avô, que tentara impedir o fato. Dando

ouvido aos palpites de Beja, o ouvidor se empenhou em usar sua influência

para voltar os alcances das terras do Sertão da Farinha Podre, a pertencerem

novamente a Minas Gerais, de onde fora separado em meados de 1848, o que

faria dele um homem livre dos olhos da justiça de Goiás. Assim a partir de 1816

o Triângulo volta a pertencer a Minas.

Fig. 7 - Vista aérea do Complexo Hidrotermal do Barreiro em Araxá Fonte: http://www.ourominasgrandehotel.com.br/araxa/acontece_albuns.php

Fig. 8 - Vitrais que cobrem o teto das Termas. Fonte: http://www.ourominasgrandehotel.com.br/araxa/acontece_albuns.php

Fig. 9 - Mandala que decora o piso das Termas. Fonte: http://www.ourominasgrandehotel.com.br/araxa/acontece_albuns.php

Fig. 7

Fig. 8

Fig. 9

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Hoje parte da história de Araxá de onde vem o primeiro ideal de emancipação é

contada através dos famosos vitrais coloridos que retratam mapas do estado e

os banhos nas águas energizantes e sulfurosas, e que decoram o teto das

Termas, no Complexo Hidrotermal do Barreiro, inaugurado em abril de 1946.

Nas paredes, afrescos com pinturas que retratam a história de Araxá desde a

descoberta pelos bandeirantes, circulam o piso central, em um formato

arredondado, cujo as pedras de mármore branco e preto formam no chão uma

grande mandala de oito pontos. A construção localizada na cratera de um

vulcão extinto fica a aproximadamente cinco quilômetros da cidade, é dotada

de grandes janelas de vidro, de onde se pode observar um grande lago que ao

redor é marcado por belos parques e jardins projetados por Burle Marx, um dos

maiores paisagistas do século, premiado internacionalmente, e falecido em

1994 no Rio de Janeiro, aos 84 anos.

1.2 Uma audácia para época

Quando em 1.835 Fortunato Botelho propôs a separação do Triângulo, o Brasil

passava pelo Período Regencial (1831 a 1840), sendo que em 1835, foi eleito o

regente paulista Diogo Antônio Feijó. Em 1831, a população do estado de

Minas Gerais já chegava ao total de 412.977 habitantes, 66,81% eram livres e

os outros 33,2% ainda eram escravos. A capital era Ouro Preto. Palco de um

conflito que ficou conhecido como Levante de Ouro Preto em 1833, motivado

por indignações como a cobrança de impostos sobre a cachaça e a proibição

de enterros nas igrejas. Governou-se a partir da cidade de São João Del Rei

nesta época. A revolta terminou em luta e envolveu outras cidades como Caeté

e Mariana. Foi por volta da década de 1830, que começavam as crises na

monarquia brasileira, e se espalhavam os conflitos e lutas civis, como a Guerra

dos Farrapos no Sul e a Cabanagem no Pará, em 1835. A monarquia já não

parecia ser a forma de governo mais adequada, pois não correspondiam às

mudanças sociais e econômicas, era necessária a implantação de outra forma

de governar, buscando o progresso e a independência. Tais movimentos e

conflitos prosseguem até a Proclamação da República em 15 de novembro de

1889.

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 11

Em documentos e publicações da época não fica explícito os verdadeiros

interesses das classes políticas de Araxá em relação a separação. O notável

acontecimento deixa transparecer nas entrelinhas que os movimentos

concentravam integrantes da elite social, portanto, envolvendo locais e

cidadãos da região de maior notoriedade naqueles anos. Araxá era a primeira

formação urbana e, portanto um símbolo de concentração da economia até

então.

1.3 Primeiros passos além da origem

Posterior a Fortunato Botelho, o ideal da emancipação volta a ser encampado

no município de Prata (MG). Na verdade, a maioria dos memorialistas

consideram que essa foi a primeira campanha separatista importante na região.

Prata é a terceira formação urbana do antigo Sertão da Farinha Podre, sendo

as primeiras Araxá e Uberaba. O nome do local se originou devido ao achado

de um machado de prata, recolhido do leito do Rio da Prata, um dos principais

afluentes do Rio Tejuco, na Bacia do Rio Paranaíba. A cidade participa do

marco histórico e até então utópico desejo de divisão territorial, registrando em

1857 os ideais de um movimento de emancipação do Triângulo.

Os fatos indicam que o pivô central desta campanha foram os argumentos de

representantes políticos e autoridades, de que o governo de Minas tinha a

região apenas como uma geradora de receita através dos impostos e que

muito pouco se fazia em prol do desenvolvimento local, assim como qualquer

tipo de benfeitorias e obras de infra-estrutura de água e esgoto que pudessem

alavancar o crescimento. O lugar era carente de estradas, de recursos para a

saúde, educação e outros. As principais alegações é que as terras longínquas

eram esquecidas.

1.4 Primeira participação popular e os passos seguintes

Depois da cidade de Prata-MG, a emancipação volta a explodir anos depois na

cidade de Uberaba, em 1875, sobre forte alegação que a região era de grande

importância econômica, por que era uma grande produtora tanto na agricultura

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quanto na agropecuária, alem da localização estratégica servindo como pólo de

fácil acesso a outras localidades e ao litoral.

As boas condições geopolíticas deveriam garantir uma evolução mais

acentuada, caso pudesse caminhar com maior autonomia, ou seja, separando-

se de Minas. Fatos que faziam deste um espaço privilegiado, mas, que por sua

vez não recebia de volta os investimentos por parte dos governantes, pelo

menos da maneira como julgavam que deveria. Estes eram os pontos

fundamentais e de maior importância para o incentivo ao desenvolvimento e

progresso.

O discurso muitas vezes empregado pelos defensores da região emancipanda

se pautava no pouco que o governo de Minas destinava, diziam que eram, na

maioria das vezes, insuficientes para as demandas da época. As principais

alegações e justificativas identificadas dentro desta má distribuição dos

recursos apareciam em prol da emancipação.

O representante que deu início a esta nova empreitada a favor da formação do

Estado do Triangulo foi Dr. Henrique Raimundo de Genettes, um médico e

jornalista francês, radicado no Brasil e que vivia em Uberaba desde 1853,

atuando como médico do Batalhão de Guardas Nacionais. Um homem erudito

e de representatividade que chegou a exercer vários cargos, além de ser o

responsável por iniciativas como a edificação de um colégio onde eram

ministrados cursos de português, francês, latim, retórica, geografia, geometria e

aritmética, muito bem reconhecidos. Em Uberaba, De Genettes, foi prefeito,

vereador, médico, professor, advogado e jornalista. Foi ele o comunicador

responsável por fundar a imprensa nesta época no Triângulo Mineiro e dar

seguimento a campanha separatista.

No ano de 1874 nascia o primeiro jornal de Uberaba e do Triângulo, que

recebeu os nomes de Eco do Sertão, O Uberabense, Monitor Uberabense, O

Progresso e O Paranahíba. Com este recurso foi possível dar mais vida ao

movimento. Dessa forma a campanha atingiu grande parte do território. Toda

região passaria a fazer parte e a ficar esclarecida das condições

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emancipacionistas e das alegações do movimento. Nos novos moldes da

proposta, tiveram início as conferências públicas, como forma de mobilização

de um número cada vez maior de interessados. As conferências passaram a

ser divulgadas através da imprensa, múltiplas idéias e estudos foram surgindo

a partir de então. Foram os estudos geográficos deste mesmo jornalista

francês, que diante das formas desta região, e analisando o posicionamento

das fronteiras estaduais, propôs a mudança do nome de Sertão da Farinha

Podre para Triângulo Mineiro. Assim logo os jornais “O Paranaíba” e “Eco do

Sertão” passaram a estampar o assunto cotidianamente, já nomeando o Sertão

da Farinha Podre como Triângulo Mineiro. Mas, uma situação ainda intrigava

os emancipacionistas conservadores. A proposta do médico e jornalista não

era por uma divisão e independência, e sim para anexação do Triângulo ao

estado de São Paulo.

As intenções que foram alegadas eram quanto ao fortalecimento das ligações

comerciais e culturais que haviam se criado com São Paulo, considerando que

os triangulinos mais tinham a ver com os paulistas do que com os mineiros, até

mesmo pela distância que separava a região da capital. Enquanto isso a

Companhia Mogiana de Estradas de Ferro chegava a Uberaba, vinda do

estado de São Paulo, anunciando a advento de uma nova era, e por sua vez

trazendo um sistema de comunicação e de ligações cada vez mais fortes e

consolidadas com os paulistas.

A concretização deste primeiro movimento, de maior alcance, perdeu força e

ficou esquecido com a mudança de Dr. De Genettes para Goiás. O então

médico e jornalista deixou a carreira para se dedicar a igreja naquele estado.

de certa forma, isso indica a fragilidade de um movimento que se desmobilizou

com o desaparecimento de uma única liderança.

Os caminhos de acesso dos triangulinos à capital Belo Horizonte, que desde

1897 já era a sede do governo mineiro, eram dificultosos. Para sair do

Triângulo e ir à capital se gastava em média quatro dias. O percurso incluía

passagens por Ribeirão Preto, São Paulo e Barra do Piraí. Um

descontentamento dos moradores da região do Triângulo com o governo

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mineiro era iminente. O assunto rompe o século XIX e renasce com força maior

no século XX, mais precisamente em Uberaba-MG, que daí por diante passa

fazer parte maciçamente dos movimentos. Em 1906 representantes da

administração do Governo de Minas efetuam a retirada do 2º Batalhão de

Polícia de Uberaba e também da Escola Normal, que além de toda região

servia também ao sul de Goiás e interior de São Paulo. Como não poderia ser

diferente, uma reação gerou o ressurgimento do movimento separatista. Neste

ano foi idealizado o Clube Separatista de Uberaba, momento em estava se

criando, na cidade de Araguari, o Partido Separatista.

Pelo novo partido nomes de lideranças foram lançados a candidatura do cargo

de deputado. Juntos, clube e partido separatistas, passaram a incentivar a

independência da região e a pregar ao eleitorado o apoio e preferência a

nomes políticos locais, e também que negassem os nomes e partidos da

situação e aqueles que viessem de outras regiões de Minas. O medo de perder

as terras ricas a oeste do estado causou a elaboração de planos, por parte do

governo mineiro, que pudessem reascender o animo dos triangulinos com

Minas. Decretos do Estado autorizaram construções e ampliações, como a

aprovação do projeto que originou a ponte sobre o Rio Paranaíba, fazendo a

ligação entre o Triângulo e o sul de Goiás, e a continuidade dos trilhos da

estrada de ferro, que seguiram de Uberaba fazendo ligação com Araxá, e em

outra parte, de Uberaba fazendo ligação com Araguari e Catalão-GO.

A iniciativa pública, na área da educação, criou escolas, e o Batalhão da Polícia

do Estado reabrir em Uberaba. Nomes de políticos uberabenses estiveram

entre os indicados para a Câmara Federal. Alguns memorialistas apontam que,

na ocasião da famosa exposição de gado, o governador de minas se deslocou

da capital, nesta época para assistir a abertura do evento, sendo assim

registrada pela primeira vez a estada de um governador no município de

Uberaba. A agilidade em formar laços com os triangulinos fizeram esfriar o

ânimo dos separatistas. É importante reconhecer neste momento a tentativa,

do governo do estado, de estreitar laços com as lideranças regionais no

Triângulo.

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 15

Estamos convencidos que o estreitamento de laços não seria duradouro, prova

disso esta nas próximas empreitadas. Já em 1919 Boulanger Pucci, um

conhecido médico e jornalista em Uberaba, lança o jornal A Separação, mais

uma tentativa de incitar o animo dos separatistas e unir forças a favor da

causa. É mais uma retomada do ideal separatista que não traz aparentemente

grandes novidades, a não ser algumas características de um sentimento de

revolta, já identificada anteriormente em outros momentos, uma maneira de

expressar o descontentamento com a política mineira que vinha sendo adotada

no tratamento com o Triângulo e Alto Paranaíba. Daí em diante o movimento

foi marcado por altos e baixos, sempre havendo a contrapartida de Minas em

resposta a picos maiores de argumentação e reivindicações dos

emancipacionistas.

Em 1934 o movimento ressurge. O fato motivador é que o Governo Mineiro

havia cedido a algumas reivindicações, que até causara um esfriamento no

movimento. Só que tais reivindicações, de acordo com lideranças do

movimento em Uberaba naquela época, se valeram de argumentos contra o

Estado, apontando que o mesmo não teria efetivado tudo o que havia

prometido. Entre as várias promessas estava o fato de que a cidade de

Fig. 10, 11 e 12 – Cidade de Uberaba, respectivamente em 1906, 1885 e 1890. Fonte: Arquivo Público de Uberaba

Fig. 12

Fig. 11

Fig. 10

Fig. 11

Fig. 7

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 16

Uberaba seria beneficiada com melhorias no fornecimento de eletricidade e

com a estruturação de serviços eficazes tanto no abastecimento de água

quanto na estrutura de escoamento do esgoto, que não foram feitas na época.

É também nesta empreitada dos emancipacionistas que ocorreram

manifestações populares, sendo duas de maior significado. Em uma delas,

articulado pelo jornalista Quintiliano Jardim do Jornal Lavoura e Comércio de

Uberaba, o montante de pessoas chegou ao número de cinco mil. O episódio

tem um desfecho inusitado: a empreitada foi desacelerada com os

acontecimentos da revolução comunista, quando o governo de Minas enviou a

Uberaba um delegado que representava a ordem política e social, o mesmo de

olho nas práticas partidárias de Luiz Carlos Prestes, estava imbuído a destinar

fortes advertências aos emancipacionistas. O desfecho de tal investida, ainda

assim, resultou em conquistas. O historiador, Selmane Felipe de Oliveira,

observa que "a campanha conquistou benefícios para a região, como a

construção da rodovia Belo Horizonte - Araxá - Uberaba e da ponte do canal de

São Simão, serviços de eletricidade e higienização em Uberaba, e a

construção do Cassino Hotel em Araxá.”

O Jornal Gazeta de Uberaba foi o veículo chave, usado pelo jornalista Ari de

Oliveira, para fomentar o ideal na década de 1940. A priori, a imprensa no

interior era acessível somente entre a elite econômica, social e política.

No ano de 1949 uma nova iniciativa parte dos parlamentares da Câmara

Municipal de Ituiutaba. Com a intenção de mobilizar os municípios da região,

um dos vereadores ituiutabanos criou uma carta de conclamação enviada a

todas as demais Câmaras Municipais das cidades do Triângulo. Desta forma o

conteúdo foi destinado aos colegas parlamentares na esperança de uma

adesão mais efetiva e a união dos representantes na finalidade do movimento

emancipacionista. Nota-se uma resposta favorável a esta conclamação em

alguns discursos. É, no caso, o que se pode identificar como sendo uma

resposta favorável e partidária, a postura de Monte Carmelo (MG). Vem

explícito o favoritismo e entusiasmo do município quando escreve que: “alastra-

se por todo o Triângulo a idéia separatista desta bela região de Minas num dos

Movimentos mais simpáticos e populares registrados na história do povo

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 17

mineiro. A idéia, ao que parece, surgiu em Uberaba, pioneira dos grandes

movimentos, de grande envergadura. Disseminou-se com a velocidade de um

relâmpago, entusiasmou as massas e hoje, em cada coração triangulino,

vicejam a aspiração de separar o torrão que nos viu nascer, para que seja

como ele formada uma nova unidade federativa. O Triângulo que a sua

independência." Percebemos na expressão ‘entusiasmou as massas’, mais

uma tentativa de incluir no movimento e no estado a idéia de que a iniciativa

seria de aprovação unânime entre todas as classes do Triângulo, incluindo a

grande massa popular. Um fato que se nota em vários períodos ao longo do

discurso das campanhas separatistas

Até a década de 1950, os movimentos tiveram maior concentração em

Uberaba. Nessa época a cidade vizinha, Uberlândia, se posicionava de

maneira contrária ao desejo dos separatistas. As razões deste posicionamento,

segundo Selmane, podem estar ligadas a uma rivalidade que prevalecia entre

os dois principais municípios do Triângulo. Uberaba, até então uma cidade

maior e com maior significado econômico, era o mais provável local onde seria

instalada a capital do futuro Estado, considerando também as razões históricas

e o envolvimento do município com a causa emancipacionista. Já em

Uberlândia, o que se notava eram argumentos que demonstram o mesmo

anseio, apoiando-se em alegações sobre planos futuros, levando em conta o

quanto a cidade vinha apresentando índices de crescimento. Contudo, de

maneira gradual e lenta, muitos políticos uberlandenses passaram a apoiar a

causa e manter a chama da emancipação acesa.

Nos anos de 1950 entre os principais personagens da política regional estavam

os deputados de Uberlândia Rondon Pacheco (UDN) e Vasconcellos Costa

(PSD). O primeiro pertencia ao partido do governador de Minas, Milton

Campos, e tão logo se posicionava contra a emancipação, mas ainda assim

reconhecia o pouco que o Estado fazia para a região. Ambos faziam oposição

ao deputado Mário Palmério (PTB), de Uberaba. Palmério era o político de

maior expressão na década de 1950, quando o assunto era a emancipação do

Triângulo Mineiro. Na Câmara Federal, chegou a proferir vários discursos, tal

como esse de 28 de junho de 1951 onde dizia:

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 18

“termino as minhas palavras fazendo novamente a minha profissão de fé em

favor do movimento de emancipação do Triângulo Mineiro e pela criação de

novo Estado na Federação Brasileira. Sou pela solução nacional, despida de

regionalismo estreito e impatriótico. Sou, acima de tudo, brasileiro e

progressista. Viso o progresso da região em que nasci e onde trabalho

modestamente em benefício de seu desenvolvimento material e sobretudo

cultural.” Mais uma vez, o governo Mineiro, representado por Juscelino

Kubitschek, atendeu a algumas demandas e desmobilizou o movimento.

A forte representatividade de Palmério nos anos 1950 acabou fazendo com que

a década de 60 se tornasse um momento ainda mais significativo. Uma

progressão emancipacionista é identificada nestes anos, que podem ser

considerados de ouro para apoiadores da causa. 1967 é um ano registrado

nesta década por um dos principais momentos no sonho de independência. A

cidade onde primeiro se ouviu falar em emancipação volta a entrar em cena.

Araxá é o palco de uma convenção realizada em meados de outubro. Nesta

ocasião decisões foram tomadas por representantes das principais cidades do

Triângulo. Juntas, Uberlândia, Uberaba, Araxá, Patos de Minas, Ituiutaba,

Araguari, Frutal, Patrocínio e Monte Carmelo reunidas criaram a União para o

Desenvolvimento e Emancipação do Triângulo – UDET. Ficou decidido neste

mesmo encontro que a cidade de Araxá seria também a mais apropriada para

abrigar a capital do novo Estado de maneira temporária.

O sonho era a construção de uma estrutura administrativa com condições

favoráveis e de alto nível para abrir os setores públicos da capital de um estado

formado por terras de riquezas. Desde então esta entidade, a UDET, passou a

ser a mola propulsora de acontecimentos como convenções, congressos,

seminários promovidos para reunir os favoráveis a separação e traçar planos.

Começa a nascer um discurso mais preocupado com a causa, e também com o

fato de como os movimentos eram visto. Os integrantes da UDET procuravam

traçar um discurso claro de que o movimento não era oportunista nem

passageiro, que este não era um argumento usado como forma de ameaça

para tentar conquistar do governo estadual mais investimentos para região. O

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 19

presidente da entidade era Ronan Tito de Almeida. Na busca de romper a

ordem atual com que estavam sendo conduzidas as empreitadas separatistas

houve uma tentativa de conclamar os cidadãos da região. Desta forma partiu

do congresso de Araxá um manifesto, embasado pelo então presidente da

UDET, com os dizeres:

“Nossa luta não é contra ninguém. Ela é a favor do Triângulo. Adquirimos a

maturidade necessária para que o movimento de criação de um novo Estado

possa ser feito sem revanchismo infantil, sem a exploração política ou outros

vícios, que, porventura, tenha tido no passado. A criação do novo Estado do

Triângulo se impõe pelo atual estágio de desenvolvimento sócio-econômico da

região, pela tradição de trabalho e pioneirismo de seu povo, pela localização

geo-econômica estratégica. Nossa campanha agora é bem estruturada,

fundamentada e objetiva, e não um gesto incontido de protesto sem

consistência.”

O discurso toma formas que apontavam uma viabilidade imensa na fundação

do Estado do Triângulo, uma proposta para integração nacional, uma vez que a

região ainda era considerada, pelos emancipacionistas, como um lugar

esquecido. As buscas por autonomia passam a se fazer mais presente. Nota-

se neste momento que os argumentos que embasam o motivo da luta

emancipacionista reforçam repertórios além dos que apontam a disparidade

econômica, as riquezas de cada região e o desfavorecimento do Triângulo pelo

Estado de Minas. São apontados fatos que destacam as diferenças culturais.

Logo a UDET passou a contar com apoio maciço de entidades como ACIU –

Associação Comercial e Industrial de Uberaba, UESU – União dos Estudantes

Secundaristas de Uberlândia, UTES – União triangulina dos Estudantes

Secundaristas, Câmara Municipal de Uberaba e outras.

Prosseguindo com força menor, a chama do emancipacionismo volta a

apresentar força maior em 1973. A Constituição dava margem para a

possibilidade da redivisão territorial nos estados, assim como dava autonomia a

regiões emancipandas para efetivar o desejo, caso este seja da maior parcela

da coletividade local. O Ministério da Justiça chegou a indicar Severiano

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 20

Marques Monteiro, sociólogo que atuava no Banco do Desenvolvimento

Econômico, para estar a frente da análise de uma possível redivisão das terras

a oeste de Minas. Uberaba é então apontada como a cidade eixo para

instalação da capital transitória do novo Estado, e não mais Araxá, como se

havia proposto antes. Os motivos estavam ligados a posição estratégica

servindo de rota para outras localidades e estados. Contudo, mais uma vez, os

emancipacionistas viram o movimento ser rapidamente desmobilizado.

Poucos anos depois, em 1978, a Comissão de Política Demográfica e

Redivisão Territorial da Câmara dos Deputados articula a criação de oito novos

estados no Brasil. A possibilidade esquentou o ânimo dos emancipacionistas

do Triângulo Mineiro. Com o fracasso de mais esta tentativa, já que o relatoria

da Comissão não foi posto em prática, os emancipacionistas perdem espaço.

Os grupos voltam a se mobilizar nos anos 1980. As principais cidades do

Triângulo, bem como a imprensa local, têm participação e presença nestes

períodos, que ficaram marcados como os principais na história dos movimentos

emancipacionistas do Triângulo. Em 7 de outubro de 1987, o jornal Correio de

Uberlândia, publicava o seguinte conteúdo.

“Nossas raízes não são mineiras, e sim o resultado da cultura de três estados

que formaram o Triângulo: São Paulo, Goiás, Minas Gerais (...). O Triângulo

nasceu em São Paulo, de onde recebeu a capacidade de trabalho e a

determinação em abrir novas fronteiras; a infância foi passada em Goiás, de

onde recebeu o sentimento de brasilidade. Finalmente, a adolescência foi

passada em Minas Gerais, de quem herdou o espírito indomável da ‘liberdade’

de um povo que não admite ser escravo de ninguém. Agora atingimos a

maioridade e, o que é mais importante, a maturidade. Queremos a

emancipação igual a um filho que se torna maior e que deseja abandonar a

segurança e o conforto do lar paterno, para se aventurar para o mundo, ganhar

a vida a custa do próprio esforço, seguindo o preceito bíblico de ‘ganhar o pão

com o suor do próprio rosto’. Queremos determinar o nosso próprio destino, ser

donos do próprio nariz, não queremos ser escravos de ninguém”.

Page 19: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 21

2- A Emancipação triangulina na Constituição de 1988

O ano de 1988 é talvez o mais importante momento na memória do movimento

emancipacionista. Desde o primeiro passo separatista, foram 153 anos até que

o movimento chegasse com força maior no planalto central, para ganhar os

corredores das repartições do governo, e o plenário em Brasília. A Assembléia

Nacional Constituinte realizada em 1988 ascendia nos triangulinos o sonho de

ver o novo Estado efetivado. Era esta a chance de juntar as diversas frentes

que buscavam independência para formar uma força maior em prol da

emancipação. Por outro lado, as demais regiões do Estado, em especial na

região central e na capital Belo Horizonte, não ficaram de braços cruzados

assistindo as lutas dos triangulinos pela autonomia. A socióloga Rogata Soares

Del Gaudio Longhi identificou que “tanto triangulinos quanto mineiros

apresentaram aos Congressistas e à população justificativas ‘plausíveis’ para a

criação de um novo Estado, e para a não efetivação deste processo”.

Aquele momento político que o país vivia favoreceu uma abertura para se fazer

crescer um sentimento regionalista. Cada região que vislumbrava a

possibilidade de se constituir como uma nova Unidade da Federação viu em

Fig. 13 – Comissão da Assembléia Constituinte, em 1.988. Fig. 14 - Ulysses Guimarães presidente da Assembléia Constituinte e a Constituição apresentada em 05/10/1988. Fig. 15 – Detalhe de capa da Constituição.

Fonte: Fonte: Arquivo / Centro de Documentação da Câmara dos Deputados

Fig. 13

Fig. 14

Fig. 15

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 22

1988 a grande chance de alcançar este sonho. Foi esta Constituinte que fez da

região norte de Goiás um novo Estado: Tocantins é a mais nova Unidade da

Federação Brasileira, sendo criada em 5 de outubro de 1988, na promulgação

da oitava Constituição Brasileira.

O embate traz a tona indagações que buscam caracterizar o Estado em várias

questões, como no campo dos costumes e tradições. Nota-se que houve uma

intenção clara para se comprovar uma identidade própria, dos mineiros como

um todo, sem divisão. Historiadores, políticos, jornalistas e vários outros

estudiosos eram os atores que compunham estas cenas. Os discursos de

ambos os lados, mineiros e triangulinos, defendiam uma vontade que

intitulavam como sendo uma vontade coletiva no discurso contra e a favor da

criação de uma nova fronteira. Percebemos que os atores são constituídos por

um grupo muito restrito de ‘atores sociais’. As falas são repletas de razões,

onde todos querem provar ser verdade aquilo que afirmam. Grande parte do

conteúdo apresentado para compor a argumentação é fundamentado em

estudos e números, e sempre distante de argumentos que confirmem

verdadeiramente a posicionamento e envolvimento das massas populares. O

povo, que neste caso parece ser coadjuvante, tampouco se envolveu ao longo

do processo de luta pela emancipação. Só identificamos esta gente no discurso

de uma minoria elitizada e nunca de corpo presente, seja através de

manifestações, congressos ou reuniões. As elites regionais se fizeram

presentes e, em alguns casos, fazendo das propostas emancipacionistas

motes de campanhas eleitorais. Estas elites se posicionaram como porta vozes

do povo mineiro, como defensores da vontade coletiva de uma sociedade.

As tentativas de assinalar identidades próprias ocorreram de ambos os lados.

Minas buscava apontar a identidade do Estado como um todo, narrando a

Minas Gerais histórica, fazendo referência ao jargão de que ‘Minas são muitas’,

e fonte de inspiração de muitos artistas, cenário de muitas poesias. A Minas

das montanhas e de um povo hospitaleiro. Do outro lado triangulinos se

fundamentavam em fatos históricos, nas heranças dos Estados de Goiás e de

São Paulo que permaneceram após a separação, se opondo a submissão a

montanha e brigando pela “alforria”.

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 23

É importante observar neste momento que, para muitos idealistas que se

emprenhavam entre os defensores do movimento emancipacionista, não havia

uma negação a montanha, como Minas apontara. Para muitos deles, a

“montanha” nunca existiu para o Triangulo e Alto Paranaíba. Considerando que

Minas são muitas, eles acreditavam que esta, situada a oeste do estado, não

se faz com uma topografia acidentada, com um relevo caracterizado por

montanhas como em outras regiões, como em outras Minas. Ou seja, o que se

nota, é uma figura de linguagem que busca demonstrar uma região mais

aberta, mais voltada a absorção de novas culturas, novos ideais. Ao contrário à

idéia de um local cercado por montanhas e fechado para a entrada de novos

ideais.

Não podemos fugir os olhos ao que Rogata considera no movimento como

problemas que são também intrínsecos à Federação Brasileira, como “a tensão

entre propostas de centralização e descentralização administrativa; a luta por

recursos econômicos e investimentos, que ocorrem tanto no plano nacional,

quanto regional e intra-estadual”.

A intenção dos mineiros era vencer o discurso se fundamentando na ideologia

da mineiridade, uma forma de contestar o discurso alheio pautado em questões

econômicas inegáveis que afloravam o animo dos triangulinos. Por se tratar de

uma identidade regional fortemente conhecida dentro do país, o fato usado

para compor a argumentação contraria ao separatismo não poderia ser outro.

A disputa acirrada de 1988 para efetivar a divisão ou contrapor esta proposta,

demonstra argumentos que outrora já foram massivamente usados. Em 2006

após participar do XV Encontro de História, realizado em São João Del Rey-

MG, o historiador André Azevedo da Fonseca critica a maneira como a história

e a cultura da região do Triângulo Mineiro é tratada diante do restante do

estado. Em uma resenha do livro (http://historiadeuberaba.blogspot.com),

“História de Minas Gerais (Ed. Lê, 2005), de Helena Guimarães Campos e

Ricardo de Moura Faria” cujo lançamento se deu no encontro de história, o

historiador observa que o livro ao longo das suas 255 páginas cita apenas em

Page 22: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 24

dois parágrafos o Triângulo Mineiro. E ainda considera estas curtas citações

desta região como sendo os trechos “ambos equivocados e pitorescos, pois os

autores confundem-se em datas e persistem naquela lenda boba que atribui a

transferência da região à Minas Gerais a um caso de amor envolvendo Dona

Beija”. Na resenha os argumentos ainda seguem apontando levantamentos

feitos na obra e criticas que contestam o fato do Triângulo estar pouco em voga

diante do estado, e até dos ‘produtores da história’, que neste cenário, é notório

que se apresentaram com bastante esquecimento de uma região de grande

importância em Minas Gerais. “O Triângulo aparece de relance quando se fala

das populações mineiras (p.119) e quando é feita uma alusão a um caso

pitoresco de um “carro blindado improvisado” na resistência aos paulistas na

revolução de 30 (p.155). E só”. É notória a intenção do autor em provar que a

região, neste caso, se tornou um local esquecido da história de Minas. Em

alguns trechos é exposta uma análise de como são feitas as abordagens sobre

a região, e citado os pontos de grande importância na memória do Triângulo e

que deixaram de ser mencionados. Por último uma consideração que aponta

com indignação o tratamento dado a região do Triângulo Mineiro no livro,

“História de Minas Gerais”. “Juntando tudo, a história do Triângulo Mineiro, não

preenche meia página de texto de História de Minas Gerais. É como se não

existíssemos. É como se não tivéssemos história”. É oportuno notar que o livro

se apresenta como defensor da diversidade regional, sendo anunciado como

indispensável e que até trás criticas sobre o fato de que a diversidade regional

no Estado nunca é contemplada pelas produções históricas e, assim, a obra é

anunciada como “indispensável a todos aqueles que desejam conhecer a

realidade mineira”.

No que diz respeito ao período da Constituinte de 1988, os personagens vão

bem além em suas colocações buscando sempre resistir aos apontamentos do

lado oposto. Os triangulinos, ao negar a participação na história mineira, de

Tiradentes, Tancredo Neves, da Inconfidência, usaram de protestos e

resistência como maneira de provar que a participação da região nos fatos

históricos e culturais, foram insignificantes, ou seja, não fizeram parte, como

outras regiões estiveram diretamente inseridas nos acontecimentos. Haviam

naquele momento uma série de apresentações procurando moldar os conceitos

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 25

de identidade própria e procurando forjar uma identidade regional que

supostamente já existia, por ter sido construída até mesmo pela riqueza das

heranças deixadas na época em que o Triângulo pertenceu a Goiás e São

Paulo.

A cultura triangulina vai ganhando cada vez mais espaço e se mostrando rica e

pessoal ao olhar dos emancipacionistas. A negação a mineiridade vai se

acentuando. A argumentação em torno de uma identidade própria não é a

única ‘carta na manga’ dos separatistas. Floresce naquele momento, mais uma

vez, as questões que envolvem o plano econômico. Ganha espaço nesta

ocasião a prerrogativa de que o Triângulo tem uma significativa força

econômica diante do Estado, além dos satisfatórios índices de investimentos

realizados por empresas próprias da região e indicadores sociais que em

alguns pontos superam os resultados de estados considerados de excelência

em alguns patamares. O alto valor de recursos gerados na região e enviados à

capital voltam a pontuar as discussões. O sonho de ver o Triângulo como uma

nova Unidade da Federação é uma certeza entre os idealistas do movimento

emancipacionista de que, com esta realização a riqueza local permaneceria

mais concentrada nos interesses do Triângulo, promovendo assim maior

desenvolvimento e progresso.

Entre os documentos produzidos pelo movimento emancipacionista

especialmente para o período da Constituinte, destaca-se uma Cartilha da

Coordenação para Criação do Estado do Triângulo - CET. Ela aborda pontos

onde os emancipacionistas se empenharam em ressaltar a região como um

local de grande potencial econômico, um local de vocação promissora, um

espaço capaz de se alavancar com grande facilidade. No que diz respeito às

questões em que o Triângulo mostra seu potencial, o documento publica

números que assinalam a região como sendo a responsável por 45% da

produção de grãos de Minas Gerais. Na produção mineral, era apontado como

uma região com as maiores riquezas no solo, por possuir grandes jazidas de

minério, destacando que 90% de todo o nióbio produzido no mundo era de

origem brasileira, sendo este 96% advindo de municípios do Triângulo, como é

o caso de Araxá. E ainda no Triângulo 52% das reservas de fertilizantes

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 26

fosfatados naturais. Já a produção de energia elétrica era destacada naquela

época pela existência de 14 usinas hidrelétricas nas bacias do Rio Grande e

Paranaíba, com capacidade total para geração de 13.000 MW, número que

contribuiria com o percentual de 37% de todo o consumo elétrico dos quatro

Estados da região Sudeste. E ainda números comparativos sendo publicados,

como a da arrecadação, que na cartilha apresenta a região como geradora de

17% da arrecadação fiscal no Estado e apenas 5% sendo redestinados ao

Triângulo.

No que tange as indagações de potencialidades regionais ressaltadas pelo

movimento, Rogata observa que os triangulinos procuraram “destacar que o

novo Estado não representaria custos adicionais à Federação, pois os recursos

locais seriam suficientes para implantação de nova máquina administrativa”.

Desta forma é possível identificar na empreitada uma tentativa clara de

suplantar a idéia da geração de gastos com a implantação de um novo Estado

e o esforço contínuo para convencer políticos e oposicionistas da viabilidade do

Estado do Triângulo, que por sua vez já nasceria forte e com grande chance de

crescimento acentuado circulando melhor os recursos regionais para

investimentos nos municípios da região geradora da receita.

2.1 Personagens emancipacionistas na constituinte

Um dos mais expressivos defensores da emancipação neste novo milênio, e

que também fez parte do movimento na Constituinte de 1988, é o advogado

Guido Luiz Mendonça Bilharinho (1938). Natural de Conquista-MG, cidade

próxima a Uberaba-MG, estudou direito na antiga Faculdade Nacional de

Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro e regressou a cidade em

1963 para atuar na profissão, desde então é um dos fortes defensores da

causa emancipacionista. Guido é um dos articuladores do processo que não vê

grandes gastos para instalação do novo Estado na região que compreende

hoje o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. De acordo com o advogado, o

Triângulo “não precisa de nenhum tostão federal para emancipar”, a região

dispensa esta fonte de recurso por ser auto-suficiente. Durante uma entrevista

sobre os ideais defendidos em 1988, concedida em seu próprio escritório

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 27

cercado por grandes prateleiras repletas de livros, ele usa um exemplo de

como poderia ocorrer este processo de efetivação do novo Estado. E assim,

cita que no caso de prédios pertencentes ao governo de Minas, como é o caso

do Grande Hotel de Araxá e do Hotel da Previdência, também em Araxá, estes

passariam automaticamente a pertencerem ao novo governo. A visão do

idealista é que esses locais passassem a abrigar a capital do Estado do

Triângulo provisoriamente até a construção de uma capital própria, que neste

caso ele aponta como local ideal o município de Nova Ponte – MG, pelo fato de

ser a cidade mais central. “Aplica-se um plano que já houve em Uberaba,

desapropria uma área na periferia de Nova Ponte para ser o bairro

administrativo: assembléia, as secretarias, o judiciário e outros órgãos estatais,

onde se poderia estabelecer a capital, e loteia ao redor, e com o dinheiro

gerado pelo loteamento se construiria a nova capital administrativa, que logo

que estiver funcionando a capital passaria por uma grande valorização”.

As intenções de diferenciar o Triângulo do restante do Estado e de provar a

viabilidade do ideal separatista, também se afixaram em 1988 na indagação

das características geográficas e do posicionamento estratégico, servindo

como zona de passagem. Neste sentido a cartilha da CET - Coordenação para

Criação do Estado do Triângulo, em 1988, dizia que “esta região tem sido

ponto de apoio estratégico das grandes rotas nacionais norte-sul, leste-oeste.

Deste processo de acumulação gerado pelo permanente convívio, assimilamos

um comportamento cosmopolita universal. Somos todos forasteiros bem-vindos

e integrados”. É importante observar a intenção nas entrelinhas do processo,

em se criar legitimidade no artifício de modernização de uma sociedade que

neste momento, pelo discurso emancipacionista, se julga como cosmopolita,

com grande capacidade eclética sendo assim o resultado da soma de muitas

culturas que contribuíram para formação desta região.

Nesse sentido, Guido Bilharinho, reconhece as vocações comerciais que o

Triângulo mantinha com São Paulo. E principalmente as heranças deixadas

pelo processo de contato, negociação e convívio com grupos de outras regiões,

principalmente por se tratar de o Triângulo estar situado em terras de

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 28

passagem. Isso teria contribuído para que lugar fosse se fixando como um

centro de ligação entre São Paulo, Brasília e outros grandes centros.

Quanto ao desenrolar da campanha de 1.988 entre os prefeitos das cidades do

Triângulo e do Alto Paranaíba, o advogado lembra que o governo do Estado de

Minas Gerais, na época Newton Cardoso (PMDB-MG), “usou de tudo para

fazer pressão, fazer chantagem”. Com isso muitos prefeitos, mesmo sendo a

favor do processo de emancipação acabaram se posicionando contra, o que,

de acordo com Bilharinho, aconteceu devido ao medo dos prefeitos de perder

verbas, de sofrer cortes drásticos nos repasses e investimentos que o Estado

de Minas destinava aos municípios. “O prefeito ficava muito dependente do

Estado. prefeitos que eram emancipacionistas históricos pararam de falar

nesse assunto para não prejudicar a administração deles”.

Durante o período da Constituinte o envolvimento chegou a atingir várias

classes. Viagens eram promovidas para levar parlamentares que faziam parte

da Constituinte para visitar cidades do Triângulo. Os grandes empresários e

grupos econômicos do Triângulo nesta época eram os responsáveis pela

aplicação de receitas em prol de financiar esse movimento. “O grupo dos

maiores empresários do comercio e da indústria de Uberlândia se reuniram e

fez um comitê para apoiar o movimento, com uma efervescência muito grande.

Todos se mobilizavam”.

Com muito entusiasmo o advogado relata um dos pontos de abordagem na

campanha de 1988 que confrontavam os argumentos entre Minas e Triângulo,

a respeito do passado histórico do Estado. Para ele o mineiro “trai o seu

passado histórico”, por ele ser contra a emancipação, se justificando que “por

coerência, se ele tiver honestidade intelectual e conhecimento histórico” o

mesmo tem que ser contra a emancipação de Minas Gerais do Estado de São

Paulo, como ocorreu no passado. Guido acredita que neste sentido não há

argumento fundamentado que justifique o fato de o “Triângulo que não é

mineiro permanecer jungido a Minas”. Bilharinho acrescenta que se a região

passar a caminhar sozinha, sem obedecer à vontade de Minas, “em 10 ou 15

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 29

anos será o maior estado em renda per capita e IDH, o Triângulo vai ser o

primeiro, ninguém vence o Triângulo”.

O jornalista e advogado Uberabense, Gleibe José Terra, também acompanhou

o processo da proposta emancipacionista do Triângulo na Constituinte de

1.988. Ele também é um dos grandes defensores da causa e já publicou um

livro-manifesto a respeito do tema. A política sempre esteve presente na vida

do advogado, como ele relata no livro de sua autoria “Quem constrói um país

descente é o povo”. No ponto de vista do jornalista o movimento separatista

identificado na Constituinte, poderia ter contado com maior representatividade

política por parte dos representantes e partidários da região interessada. Para

ele muitos prefeitos poderiam ter tido uma presença mais efetiva, além da

coragem de concretizar um incentivo ao movimento ao invés da neutralidade.

Terra lembra que muitos até tiveram uma inversão na opinião e acabaram se

posicionando contra a aprovação da emancipação.

Outro fato que ele defendeu é a participação de organizações e empresas. A

defesa aqui é em prol de uma maior aparência das empresas e empresários

em busca de um só resultado. De acordo com Gleibe, as empresas têm

interesse na efetivação do novo Estado, tanto que durante a Constituinte, foram

elas as responsáveis pelo custeio de viagens de deputados de outras

localidades para conhecerem o Triângulo e Alto Paranaíba. “Essa falácia de

que no Triângulo há movimento porque o Governo de Minas não dá assistência

é verdadeira, mas o movimento não começou devido a isso, porque afinal

Minas nunca deu valor que devia ao Triângulo, aqui só cresceu e se

desenvolveu devido ao contato do comércio com outras regiões que não eram

de Minas”.

2.2 O sonho não vingou em 1.988

O espírito empreendedor se mostrou forte dentro do movimento

emancipacionista em 1.988, negaram a mineiridade, se apresentaram como

fortes e arrojados, propuseram números, apresentaram dados e evidências de

uma região com identidade própria. Mas, nada disso foi suficiente para

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 30

convencer os parlamentares da Constituinte a apoiar e favorecer o movimento

e a região que ele representava.

A negativa dos mineiros apontou preleções que impediram a concretização do

que os triangulinos esperavam. Os rivais dos emancipacionistas no processo

de luta pela integridade do território acreditaram que as propostas, caso fosse

aprovada a criação do novo estado, estavam compostas por um sentimento de

ufanismo, ou seja se atendo exageradamente da riquezas do Triângulo,

fazendo desta região um eldorado.

Um sonho regional não realizado por fatos que Longhi identifica como sendo

devido a “força da mineiridade, a importância numérica da bancada mineira no

congresso e sua articulação, sob a liderança discreta do então governador

Newton Cardoso derrotaram, momentaneamente, a campanha

emancipacionista”. O sentido de derrota, aqui, aparece como uma batalha

perdida, mas não uma guerra conquistada pelo oponente. Não seria exagero

afirmar que os mineiros apontavam o movimento de separação como uma

iniciativa que não levava em conta o restante do Estado e que, ao se opor a

ele, estavam praticando injustiças devido a riqueza que possuem, não

querendo compartilhá-la com outras regiões mais pobres de Minas.

O Estado de Minas, frente ao Legislativo Federal, levantou a idéia de risco para

Federação em permitir o esfacelamento do território mineiro. Era apontado que

a ação poderia gerar problemas em decorrência da divisão, como a

possibilidade da iniciativa gerar ideais de separação da nação brasileira. Como

não poderia ficar de fora, o custo para implantação de um novo Estado também

foi apresentado como um das inviabilidades para aprovação da emancipação.

É possível observar na argumentação mineira o questionamento quanto à

suposta homogeneidade do Triângulo apontada pelos emancipacionistas.

Neste caso, os mineiros fazem questão de apontar, por exemplo, a existência

de rivalidades regionais, como no caso dos municípios de Uberaba e

Uberlândia, e até grandes desigualdades geopolíticas na divisão do poder

local.

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 31

Se por um lado a participação de elites regionais foi determinante na história

desses movimentos, por outro, é praticamente inexistente a presença das

massas populares nos debates sobre a emancipação. Ou seja, as associações

da sociedade civil ligadas aos trabalhadores, sindicatos e demais

representantes de segmentos populares não se faziam presente naquele

momento. Daí mais um motivo para o Estado buscar distinguir o movimento

como uma luta separatista de classes dominantes, que poderiam no futuro

destinar os cargos e altos salários do novo Estado, com a prática de nepotismo

e favorecimentos para minoria. Ainda neste cenário econômico, que envolve as

riquezas geradas pelo Triângulo e destino delas, Longhi identifica que ao longo

da Constituinte houve até uma indagação, por parte dos mineiros, acusando o

Triângulo de oportunista. “Acusavam os emancipacionistas de se aproveitarem

da riqueza regional para exigirem a separação. E ainda, os acusavam de

‘egoístas’ por não quererem dividir esta riqueza com o resto do Estado, em

especial com as áreas mais pobres”.

Como não poderia deixar de ser, a imprensa triangulina exerceu papel de

divulgação, informando e fomentando o movimento emancipacionista. Neste

processo se fez presente com maior fervor a imprensa escrita das principais

cidades do Triângulo. Nos jornais se tornou intensa a publicação de

reportagens, artigos, crônicas e até charges que acompanhavam o desenrolar

da Constituinte de 1.988, focando os passos do processo que buscava a

emancipação triangulina. Eles se encarregaram de reivindicar apoio das

massas populares como maneira de fortalecer o movimento e “conferir

legitimidade a campanha”. Longhi reconhece também que: “A imprensa

triangulina não apenas referendou a luta emancipacionista, mas atuou

intensamente como ‘formadora de opinião’ (...) utilizando-se da imprensa

enquanto veículo privilegiado para defesa de suas teses, triangulinos e

mineiros se apropriaram, quase inconscientemente, do simbolismo presente no

espaço através de características diferenciadas ou através de sua

representação – os mapas”.

É importante avaliarmos a participação dos órgãos de comunicação regionais

neste processo. Neste caso, nenhum deles, se posicionaram contra a

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 32

emancipação. Os veículos impressos, em especial, foram explicitantemente

favoráveis ao movimento. Isso prova a ligação inequívoca dos detentores dos

meios de comunicação jornalística com os articuladores do processo de busca

pela emancipação. Os empresários argumentavam que eram os próprios

leitores estavam “ligados” em defesa de tal processo, de modo que os jornais

estavam, de certa forma, “obrigados” a se posicionar do lado favorável, ou seja,

ao lado do leitor. Este posicionamento da imprensa local é algo que

permanece. Ao verificarmos alguns veículos impressos nas cidades do

Triângulo, em 2009 e em alguns anos que antecedem este período, é possível

identificar este engajamento.

A Assembléia Nacional Constituinte era o momento considerado pelos

emancipacionistas como privilegiado para que ocorresse a emancipação do

Triângulo. No entanto, não houve argumentos capazes de vencer o embate dos

triangulinos e contra os mineiros e a proposta de separação foi derrotada. O

processo ainda apresentou alguns resultados positivos para os

emancipacionistas, como é caso do dispositivo incluído no texto constitucional

que estabelece a possibilidade de redivisão dentro do território nacional para

formação de novas Unidades da Federação, desde que seja essa a vontade da

região. E ainda, a solicitação foi enviada a Comissão de Estudos Territoriais,

onde deve passar por avaliação da viabilidade ou não no processo de criação

de um novo Estado no Triângulo.

3- A Emancipação em pauta na imprensa entre 2006 e 2009

Para analisar a abordagem da imprensa nos anos de 2006, 2007, 2008 e 2009,

no que diz respeito ao assunto emancipação, foi realizada pesquisa tendo

como fonte o arquivo do site do Jornal de Uberaba, usando como parâmetro

somente o conteúdo disponibilizado na internet (www.jornaldeuberaba.com.br).

O jornal tem versão impressa, de circulação diária (exceto nas segundas-feiras)

na cidade de Uberaba e região. No site são mantidos conteúdos atuais e

edições passadas. Através de uma breve análise, nota-se que o tema é

abordado diversos em momentos e de variadas formas, como colunas, artigos

e reportagens. A presença de nomes de pessoas representativas que se

Page 31: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 33

declaram emancipacionistas é constantemente identificada nas abordagens do

jornal.

No dia 22 de setembro de 2009, durante o período da tarde, foi realizada uma

busca avançada pelos termos “emancipação”, “separatismo” e

“emancipacionista”. Algumas reportagens tratavam sobre a separação de

Goiás e criação do Estado de Tocantins, outras páginas veiculavam artigos

opinativos sobre a questão emancipacionista que envolve o Triângulo e alguns

conteúdo, principalmente na editoria ‘política’, traziam estampadas entrevistas

sobre o tema. O resultado apontou a soma de 148 ocorrências, a maior parte

não se trata do tema em análise. No entanto, 33 ocorrências tratam

diretamente do tema.

3.1 O ano de 2006

Em 23 de março de 2006, a editoria ‘Cidade’, publicou reportagem com o título

“Lançado livro sobre movimento emancipacionista do Triângulo Mineiro”. O

texto começa falando de um dia comum na Câmara Municipal de Vereadores

quando “em dado momento, a sessão ordinária foi transformada em solene

Fig. 16 – Pesquisa na página do Jornal de Uberaba. Fig. 17 – Detalhe de reportagem veiculada no site do Jornal de Uberaba. Fig. 18 - Detalhe de reportagem veiculada no site do Jornal de Uberaba.

Fonte: www.jornaldeuberaba.com.br

Fig. 16

Fig. 17

Fig. 18

Page 32: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 34

para o lançamento do livro ‘O Estado do Triângulo Existe. Somos Nós’, de

autoria do advogado Gleibe Terra. Na ocasião, além do autor, também esteve

no plenário do Legislativo o presidente da Academia de Letras do Triângulo

Mineiro, Mário Salvador. Ele até chegou a chamar a entidade de Academia

Triangulina de Letras, referindo-se à luta emancipacionista.”

O livro do Uberabense Gleibe Terra narra de forma rápida à história dos

movimentos emancipacionistas, de maneira que se presta também a defender

a separação do Triângulo nas suas poucas mais de 50 páginas. Logo de início

o texto busca destacar o objetivo da obra, “registrar a memória de um

movimento que completou (...), 168 anos.” E segue contextualizando os

argumentos sobre a causa separatista. “A criação do Estado do Triângulo nos

resgata o poder político (...). Portanto, a emancipação somente será alcançada

no momento em que a população triangulina conscientizar que o movimento de

separação é essencialmente POLÍTICO. E com esta conscientização começar

a eleger somente homens da região e que tenham compromissos com o

emergente Estado do Triângulo”. Em um encontro com o autor do livro, ele

contou sobre a preocupação em ver um movimento que marca a história do

Triângulo e Alto Paranaíba, sendo registrado com uma memória muito curta.

Ele vai mais longe e considera que sempre que algum relato é publicado, a

idéia é que este possa contribuir com o registro da memória, no entanto, Terra

acredita que a exploração do tema sempre se identifica uma fala “com cunho

de quem quer usufruir da luta em beneficio próprio”. Esta vigente preocupação

do advogado é justificada pelas informações que são publicadas e que

envolvem o tema. Terra acredita, se sustentando na experiência adquirida nos

anos de apoio ao movimento, que o tema requer maior analise para ser

veiculado. Terra conta que já viu muita gente, muito político, passar pelo

movimento e por fim “galgar algum cargo no governo do Estado de Minas e

deixar de defender a causa”.

Sobre o motivo do lançamento da obra na Câmara Municipal de Vereadores de

Uberaba, ele conta que a falta de apoio e incentivo a publicação de conteúdos

sobre o movimento o motivou a procurar patrocínio para efetivar a edição do

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 35

conteúdo. “Eu procurei o presidente da Câmara, e ele apoiou a iniciativa e

propôs o lançamento no plenário”.

O então presidente da Câmara Municipal de Vereadores, que abriu espaço

para a sessão solene de lançamento do livro, aparece em diversas reportagens

como defensor da emancipação. Antônio Carlos Silva Nunes (PMDB),

politicamente conhecido como Tony Carlos, pode ser visto nas reportagens do

Jornal de Uberaba no início de 2006 como pré-candidato ao cargo de deputado

federal, nas eleições que seriam realizadas no segundo semestre. Em uma das

entrevistas publicadas na coluna ‘Bastidores’, ele afirmou que sua campanha a

deputado federal estaria alicerçada “na emancipação do Triângulo”, para a qual

ele estaria “empunhando a bandeira”. No entanto no texto desta mesma

coluna, vem exposta a opinião de dois leitores. Um deles se posiciona de modo

favorável a emancipação, dizendo ser louvável e precisa a ação de voltar a

mobilização em torno da criação do Estado do Triângulo. “Considero que é

chegada a hora de desencadear o crescimento do nosso colégio eleitoral, para

que possamos ser mais respeitados. Até quando ficaremos a espera de ações

para que isso aconteça?”. No segundo caso, o leitor é contrário a plataforma do

político. O texto argumenta que o leitor “leu com certa apreensão a reportagem

com o presidente da Câmara, Tony Carlos, que está empunhando essa

bandeira”, e que considera a iniciativa “puramente eleitoreira”. Neste segundo

caso o jornal não dá voz ao leitor contrário a emancipação, se valendo apenas

em dizer que o leitor se posiciona de maneira contrária. Seria esta uma

maneira de não deixar de ouvir os dois lados de uma história, mas usar de

artifícios para destacar com maior precisão o lado que lhe é favorável? Em

entrevista com Fabiano Fidelis, diretor presidente do Jornal de Uberaba, ele

defende que este não é um veículo de imprensa propriamente a serviço da

emancipação do Triângulo, apenas se propõe a noticiar os fatos.

Na análise do conteúdo publicado no início de 2006, logo no primeiro mês do

ano, já é possível identificar constantemente as abordagens envolvendo o

nome do vereador e então presidente da Câmara Municipal, Antônio Carlos

Silva Nunes. Na maioria das vezes ele vem ligado a assuntos sobre a

emancipação, sempre defendendo a causa de forma veemente. É possível

Page 34: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 36

verificar que pelo menos um dos tradicionais argumentos dos

emancipacionistas persiste ao longo da história. Na coluna de ‘Carlos Paiva’,

em 21 de janeiro de 2006, o colunista destaca a fala do vereador quando

questionado sobre as justificativas do separatismo. “Somos a região do interior

de Minas Gerais que mais arrecada impostos no Estado, somos a região que

mais produz soja, milho, café e temos o maior rebanho de gado. Somos o

maior produtor de fertilizantes da América Latina. Temos, em Araxá, o maior

produtor de nióbio, temos potencial hidrelétrico de dar inveja a qualquer região

do Brasil, sem falar no grande potencial de água potável que hoje é

considerado uma das maiores riquezas do mundo, podemos dizer que somos a

‘caixa d’água do Brasil’. Se emanciparmos de Minas Gerais, estaremos entre

os maiores Estados do País”.

Motivos econômicos. Nas palavras da imprensa local, a região rica se sente

“menos favorecida” pelo Estado, uma vez que o Estado é como um “parasita”,

“sanguessuga”, ou um “líder passivo”, quando o assunto é valor econômico.

Até em momentos de consagração de projetos implantados pelo Governo de

Minas na cidade, o assunto ganha espaço nos palanques e nas páginas de

jornal. Na segunda quinzena de junho de 2006, na oportunidade da

inauguração de um projeto do Estado em Uberaba, conhecido como VitaSopa,

o discurso ecoou. Estava presente como representante do projeto e do Estado

a secretária de Desenvolvimento Social, Maria Coeli Simões. Em seu discurso

a secretária ressaltou a “estima que Minas têm pelo Triângulo”. Não muito

tardia a fala do presidente da Câmara Municipal logo procurou enfatizar o

desejo de emancipação. Desta maneira a coluna ‘Ponto e Virgula’, do

jornalismo Francisco Marcos Reis, considerou “meio fora da agenda do evento,

de certa forma, remeteu para a história da emancipação do Triângulo, hoje,

defendida de forma quase solitária, pelo vereador Tony Carlos”. Além de

apontar a fala do vereador como uma maneira de ponderar o Triângulo como

uma área onde prevalece um sonho de separação, o colunista, considerou esta

luta, este sonho, como algo que perdeu força, estando presente de maneira

apaixonada pelos adeptos, sem grandes contingentes de simpatizantes.

Page 35: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 37

Em uma entrevista a jornalista Giselda Campos, publicada em 11 de fevereiro

de 2006, na editoria ‘Política’, sob o título: “Presidente da Câmara ergue a

bandeira da emancipação”, assuntos como democracia e fortalecimentos do

poder legislativo municipal são abordados de maneira a remeter ao ideal

separatista como forma de democratizar o desejo de uma região, fazendo do

Triângulo um novo Estado. O motivo da pauta neste momento era um projeto

que tramitava na Câmara dos Deputados, com proposta na diminuição de

repasse a Câmaras Municipais, através da redução do número de cadeiras das

casas legislativas de todo país. O vereador Antônio Carlos Silva Nunes, sai em

defesa e “retoma a bandeira emancipacionista, avaliando que o Triângulo não

recebe de Minas Gerais o que realmente merece”. Quando questionado em

uma pergunta direta do porquê de o vereador defender tanto a emancipação,

as respostas se atêm, mais uma vez, ao argumento da disparidade econômica,

muito mencionado pelos emancipacionistas. “É bom lembrar que a criação do

Estado do Triângulo é um sonho antigo, que já acalentou os discursos de muita

gente idealista (...). Motivos para a emancipação não faltam. Se analisarmos os

índices econômicos e sociais do Triângulo, somarmos suas potencialidades e

sua arrecadação, e compararmos com os investimentos realizados pelo

governo de Minas Gerais na região, vamos perceber que existe um

distanciamento do Estado, ou seja, o Triângulo recebe bem menos do que

contribui. Além disso, entre os vários argumentos que sustentam a causa, há

posicionamentos históricos, políticos e culturais (...). Só nós, os triangulinos,

conhecemos a fundo nossas necessidades e vontades. Por isso, acho que o

assunto deve ser levado à deliberação popular, através da realização de um

plebiscito. Mas entendo que o plebiscito deve ouvir apenas os moradores da

região”.

Outro destaque entre reportagens que abordaram o tema no ano de 2006 é

quanto à publicação de uma entrevista com um idealista do tema na

contemporaneidade, o advogado e escritor Guido Bilharinho. A publicação data

de 28 de agosto de 2006 e não cita o nome do jornalista que produziu o

conteúdo. Logo nos primeiros parágrafos é mencionado, como introdução,

dizeres que comprovam o favoritismo desta reportagem ao processo do

separatismo e tão logo a linha editorial deste órgão. “Com o passar do tempo,

Page 36: O triangulo como Estado - Os movimentos emacipacionistas

O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 38

com ‘forças ocultas’ atuando de maneira sistemática e eficaz, o desejo acabou

ficando mais no campo dos sonhos. Mas, a população sabe que

pragmaticamente viveria uma situação econômica, social e política muito

melhor se ao invés de mandar as riquezas para Minas Gerais, elas ficassem

concentradas no Triângulo”. É fácil constatar que as abordagens atribuem com

frequência a luta emancipacionista, a um suposto desejo da população como

um todo.

Nesse sentido Fabiano Fidelis analisa a situação como complexa e considera

que os políticos do Triângulo Mineiro não contam com a independência

necessária para que eles possam encabeçar o movimento com êxito,

movimento este que depende acima de tudo de política. “Nossas associações,

as nossas ONGs, elas poderiam perfeitamente incentivar o movimento”. O fato

dos órgãos de impressa atribuir ao povo à vontade de emancipar pode ser

identificado nos jornais como uma forma de expressar a vontade uma

sociedade, que, apesar de não fazer parte dos movimentos, nunca se

manifestou contra a iniciativa, segundo o jornal.

Na entrevista com Guido Bilharinho, o texto segue uma linha cronológica

relatando fatos históricos que marcaram os movimentos emancipacionistas,

bem como os altos e baixos deste ideal.

Ao final da reportagem, o entrevistador faz a seguinte pergunta:

“JU - O senhor acha que hoje o Triângulo teria recursos para se formar como

Estado? Guido - Melhor do que Minas Gerais, porque o Triângulo é a segunda

região mais desenvolvida do país. Já está tudo equacionado pela CET

(Comissão para Emancipação do Triângulo) que durante os congressos que

realizou na época planejou todo o processo. Além do que, haveria a eleição de

uma Assembléia Constituinte para fazer a nova Constituição e eleger o

governador, vice, deputados. Os outros órgãos já têm seus servidores,

deixariam de ser de Minas, para ser do Triângulo. Os recursos seriam oriundos

da arrecadação dos impostos que já são da região, além da venda de lotes na

nova capital, cujos imóveis tenderiam a valorizar-se. A máquina continuaria a

funcionar, automaticamente como aconteceu com o Mato Grosso do Sul. O

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 39

Triângulo manda para Minas mais do que o Estado aplica aqui, portanto, se

autogeriria Já os deputados eleitos por MG não perderiam seus mandatos,

mas tendo como domicílio o Triângulo poderiam se candidatar normalmente e

caso não eleitos, terminar seus mandatos mineiros. Da mesma forma com a

representatividade daqueles eleitos para o Congresso Nacional, fariam uma

bancada triangulina.”

3.2 O ano de 2007

Toda busca efetuada no site do Jornal de Uberaba, referente ao tema

emancipação, em publicações durante o ano de 2007, resultou na soma de dez

arquivos encontrados. É fato, que todos eles estão datados a partir da segunda

quinzena do mês de julho daquele ano. Teria o assunto, ficado um pouco

esquecido no primeiro semestre? Este ano marcou o início de uma nova

legislatura no cenário federal e estadual. Teria sido o momento político o fato

do afastamento das constantes reportagens no Jornal de Uberaba, tratando

sobre o separatismo? Para o diretor presidente do Jornal de Uberaba, o que há

são situações que apresentam algum fato relevante dentro do movimento e o

jornal busca focar a questão. A demanda de assuntos relacionados ao

separatismo varia de uma época para outra e dessa maneira, podem sim se

concentrar mais em determinadas épocas que outras.

Entre as primeiras publicações de 2007 estão as que vêm estampadas na

editoria ‘Política’ e que trazem críticas aos políticos, tais como

“Emancipacionista histórico critica ‘políticos omissos’” e outra que anuncia a

visita do governador do Estado do Tocantins a Uberaba. Na entrevista com o

governador daquele Estado, Marcelo de Carvalho Mirando, a jornalista Giselda

Campos propõe que ele emita opinião aos emancipacionistas do Triângulo,

considerando que o Tocantins já foi palco de movimentos pró-emancipação e

se tornou, de fato, o mais recente Estado da Federação a ser criado. “O senhor

governa um Estado ainda engatinhando, com apenas cerca de 17 anos de

existência. Hoje, pesando prós e contra, o que o senhor teria a dizer para os

defensores da emancipação do Triângulo Mineiro? Marcelo Miranda - Que não

desistam. O sonho do Estado do Triângulo é tão secular quanto o sonho do

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 40

Estado do Tocantins. Sem dúvida, a concretização do sonho de Tocantins só

trouxe benefícios - inclusive porque aproximou o governo estadual da

população. O Tocantins tem 139 municípios, e ainda assim, não é fácil

administrar tudo isso. Imagine então, Minas Gerais, com 853 cidades! Acho

que o Triângulo merece se tornar Estado.” Nesta reportagem a jornalista vai

mais longe, instigando o governador a apontar possibilidades para resolver um

problema local, entre duas cidades: “Como resolver uma rivalidade histórica

entre as duas principais e maiores cidades da região - Uberaba e Uberlândia,

na hora de se definir a capital? Marcelo Miranda - Não tem o que resolver

nesse sentido. A capital tem que nascer do zero. Assim como aconteceu com

Palmas, que é a mais nova cidade planejada do Brasil pra ser capital de

Estado.”

Em segundo momento, outra reportagem também tratando da visita do

governador, registra que Marcelo Miranda “deu força explícita para os

defensores da emancipação do Triângulo.” Por outro lado, o texto citou a

presença de outros políticos nesta ocasião que se posicionam contra a

emancipação. “O deputado federal Paulo Piau - colega de legenda de Marcelo

Miranda, e o presidente do PSDB de Uberaba, Luiz Cláudio Campos - do

partido do governador Aécio Neves, reagiram às declarações,

coincidentemente pregando o mesmo discurso: que o assunto deve ser tratado

de forma ampla - numa redivisão territorial genérica, e não de forma isolada.”

Outro personagem volta a entrar em cena. Desta vez Tony Carlos idealiza uma

viagem a capital nacional. O título é claro: “Tony vai a Brasília tratar do Estado

do Triângulo”. Na ocasião o jornal registra que o motivo da viagem do

parlamentar é “para tratar com a bancada do Nordeste a agilização do

processo de criação do Estado do Triângulo”. Como não conseguira o apoio

dos deputados federais eleitos por Uberaba e região, dizia Tony que a

alternativa era buscar em outras bancadas. Na sequência desta reportagem,

uma segunda publicação sobre esta mesma viagem do vereador, anuncia que

ele fez uma peregrinação em Brasília buscando apoio para o tema. “Tony

Carlos diz que foi procurar especialmente a bancada de deputados

nordestinos, que defendem a criação de seis Estados: Carajás e Tapajós no

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 41

Pará; Mato Grosso do Norte no Mato Grosso; Rio São Francisco na Bahia;

Maranhão do sul no Maranhão e Gurguéia no Piauí.” Ao final o vereador

conclui: “vou de gabinete em gabinete com o Guido Bilharinho conversar com

lideranças políticas”. Ele conta ainda que sempre que pedia para fotografar o

grupo, registrando aquele momento de busca dos caminhos para a

emancipação, sempre era surpreendido pois todos se negavam. Ele dizia que

com isso ficava fácil perceber que o governador de Minas, Aécio Neves

mantinha domínio sobre as lideranças.

Um novo argumento é concebido para criar caminhos que possam ser capazes

de levar à emancipação. Em 10 de agosto, a matéria do caderno ‘Política’, diz

que a “Batalha é Constitucional”. A idéia era usar a Constituição para fazer

valer o direito da realização de plebiscito no Triângulo. O jornal apontava que

uma lei complementar estabelecia que um plebiscito dessa natureza deveria

ser realizado em todo território incluindo aquela região onde está a parte

interessada na consulta e também todo o restante do estado de Minas Gerais.

Desta forma, para os emancipacionistas, a causa se tornaria inviável.

Observamos que os atores do separatismo sofrem um choque com a

promulgação de que, se aprovada, a consulta deveria ser realizada em todo o

território mineiro. A reportagem traz uma entrevista com o advogado Guido

Bilharinho, argumentando que “o momento não é de pleitear somente o

plebiscito, mas também conseguir uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no

Supremo Tribunal, para mudar este artigo. Neste capítulo da luta pela criação

do Estado do Triângulo nasce uma nova estratégia, considerando o

descontentamento notório das partes interessadas na separação com as

decisões tomadas naquela época.

Na mesma semana desta publicação o Jornal de Uberaba abre espaço para

um artigo. O articulista Adáuto Francisco do Amaral argumenta em seu texto

que o Triângulo e Alto Paranaíba juntos formam “a Mesorregião mais

expressiva de Minas e a sua taxa de urbanização alcança 86,84% - maior que

a média de 77,40% das Mesorregionais em Minas”. Ele defende também que

as cidades do Triângulo já foram as “cidades dos notáveis”, e que hoje são as

“cidades econômicas”. O conteúdo se atém a comparações que envolve

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 42

números e valores econômicos gerados por regiões que buscam se emancipar

de seus estados. É feita uma alusão a possibilidade de criação do Estado de

Carajás, que seria localizado entre o Pará e Tocantins. Uma região produtora

de minério e grande geradora de receitas, assim como acontece com o

Triângulo. Dessa forma o autor aponta as justificativas assinaladas naquela

região, e segue avaliando números, como a quantidade de cidades que

poderiam compor o Estado de Carajás e do Estado do Triângulo, assim como

a extensão, a população e outros. É interessante que ao final do conteúdo

desta publicação fica um convite do articulista para se obter mais informações

sobre o tema nas quintas-feiras no mesmo espaço do jornal. Desta forma em

duas semanas seguintes, outros dois artigos do mesmo autor são publicados

com os títulos “A emancipação do Tocantins” e “A emancipação do

Tocantins2”.

No primeiro caso é levantada a história do processo de emancipação da região

situada no Centro Oeste goiano, onde atualmente é o Estado do Tocantins.

Mais uma vez a atenção do autor esteve voltada para algumas comparações

daquela região com o Triângulo e Alto Paranaíba. Ele relata que a luta dos

goianos prevaleceu por muito tempo, chegando a marca de três séculos.

Quanto às comparações, neste momento elas deixam de ser de caráter físico,

fazendo paralelos ao espaço geográfico e as fronteiras e cede espaço para o

campo político. A figuração entre as regiões em questão agora abordadas no

texto fica por conta das alegações em prol da emancipação tanto no outro

estado quanto no Triângulo: “ os goianos do Norte reclamavam da situação de

abandono, como os mineiros da Mesorregião do Triângulo e Alto Paranaíba

reclamam; reclamavam da centralização governamental, como os mineiros do

Triângulo e Alto Paranaíba reclamam; reclamavam da insuficiente identidade

político-econômica da região com a Capital, como os mineiros do Triângulo e

Alto Paranaíba, em menor escala, reclamam”.

No segundo artigo, o autor criou um texto mais apaixonado, procurando

glorificar o movimento. A importância que foi dada mostra que ele considera o

movimento identificado em Goiás, e que resultou na criação de Tocantins como

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 43

um dos mais “persistentes e bem-sucedidos pleitos pela criação de novas

Unidades na Federação Brasileira”.

Passado pouco menos de um mês da publicação do último artigo, o jornal

soltou uma reportagem com um tom de desgosto. “Câmara dos Deputados

arquiva o “sonho” do Estado do Triângulo”. O conteúdo vem na editoria

‘Política’ da edição de terça-feira, 2 de outubro de 2007. O título faz referência

a um anúncio emitido pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo

Chinaglia (PT-SP), o qual chegou ao conhecimento dos parlamentares

uberabenses e à redação do jornal local. O anúncio era a respeito do Projeto

de Decreto Legislativo 149/91, com texto sobre a realização de uma consulta

pública, para saber a opinião do cidadão do favoritismo ou não, sobre a

redivisão territorial de Minas Gerais. Este projeto havia sido proposto pelo

deputado uberlandense Zaire Rezende (PMDB). O que foi publicado nesta

ocasião, já era de se esperar. Um lamento em uma simples frase. “O sonho

acabou”.

A réplica vem logo na edição do dia seguinte, 3 de outubro de 2007, na editoria

‘Cidade’. “Advogado diz que Supremo pode ajudar na emancipação”. O

advogado que o título menciona é Guido Bilharinho, o permanente entusiasta e

grande defensor do tema. A reportagem busca fazer esclarecimentos das

possibilidades de seguir adiante após o arquivamento do projeto que pedia a

realização de plebiscito. No texto há explicações dizendo que não existe mais

nesta época um real interesse em realizar consulta pública, uma vez que o

poder legislativo tem entendido que a participação no plebiscito para decidir a

divisão do Triângulo de Minas, teria efetivamente a participação dos dois lados,

e não somente a parte promotora da consulta pública, sendo esta a parte

interessada. O que o jornal diz, é que o pouco que resta de esperança, é fazer

um apelo para o lado jurídico. “Há cerca de cinco anos os emancipacionistas

ingressaram no Supremo Tribunal Federal – através da Assembléia Legislativa

de Goiás, com uma ação direta de inconstitucionalidade, para fazer valer o

plebiscito restrito à região do Triângulo. A matéria foi distribuída para o mineiro

Sepúlveda Pertence, que decidiu engavetar o assunto para não se manifestar

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 44

(...) a ação de inconstitucionalidade será redistribuída para outro membro do

Supremo”.

3.3 O ano de 2008

Este ano tem uma particularidade, é ano de eleições municipais. Nos primeiros

meses não se nota no jornal nenhum tipo de reportagem que faça referência ao

movimento emancipacionista do Triângulo. Mas, em meados do mês de maio,

elas começam a aparecer. Maio também é o mês em que a cidade de Uberaba

sempre se volta para a realização da Expozebu, a maior feira internacional de

gado zebuíno do Brasil. Certamente esta é uma oportunidade privilegiada para

os políticos locais ganaharem maior visibilidade. Com a realização de um

evento de grande magnitude seria oportuna a montagem dos palanques

eleitorais. Com um momento apropriado para se acender os holofotes em torno

do tema, os defensores se mostraram ágeis naquele ano para promover o

separatismo. Portanto, não foi casual o fato de que no último dia deste mês, 31

de maio de 2008, voltam a ser publicadas as reportagens sobre o tema

emancipação. O período adormecido desperta, e parece querer ser recuperado

com fôlego total. De uma só vez são publicadas cinco reportagens, todas elas

na editoria ‘Cidade’, sendo que ao todo foram identificadas na pesquisa a

ocorrência de oito “reportagens emancipacionistas” publicadas neste ano. A

primeira delas vem com uma afirmação no título, “Triângulo é o celeiro do

Estado”. Neste momento reaparece o que para os triangulinos convencionou-

se atribuir a fama de ser a “galinha dos ovos de ouro”. E reaparece também

através desta reportagem, um personagem já conhecido, o político e candidato

a reeleição do legislativo municipal em Uberaba, Antônio Carlos Silva Nunes. A

primeira reportagem procura traçar um perfil do Triângulo, com suas

potencialidades, seu posicionamento geográfico privilegiado e mais uma vez

ilustra a sua grande arrecadação fiscal. O texto é estruturado com base em

entrevista concedia por Tony Carlos, como fica explicitamente mencionado no

conteúdo. “A região do Triângulo Mineiro, lembra Tony Carlos, é

estrategicamente colocada e possui o maior potencial hidrelétrico do mundo”.

Após longas indagações das premissas que fazem do Triângulo um eldorado, o

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 45

parágrafo conclusivo dá voz ao vereador que afirma que “motivos para a

emancipação do Triângulo não faltam”.

Dentre estas cinco publicações realizadas de uma só vez, quatro tem como

entrevistado, o vereador Antônio Carlos Silva Nunes. Neste ano o candidato a

reeleição ao cargo de vereador é a fonte principal de informação sobre o

movimento emancipacionista usada pelo Jornal de Uberaba. Rememorar os

motivos históricos das lutas separatistas também fazem parte das matérias

publicadas. Numa delas, com o título “Luta existe há 173 anos”, todo o

percurso dos movimentos emancipacionistas é desenhado a partir do olhar do

vereador Tony Carlos, que segundo o jornal “mostra que conhece bem a

causa, que vem sendo defendida há 173 anos”. Mais adiante no mesmo texto,

o jornal lembra que “desde 2005 Tony Carlos levanta a bandeira da

emancipação”, e segue com um breve currículo do parlamentar, no que diz

respeito à emancipação.

Na terceira reportagem, “Questões políticas redividiram Minas”, o Jornal de

Uberaba abre espaço para o vereador em um conteúdo da editoria ‘Cidade’,

que desta vez adota a construção de um texto comparativo da divisão territorial

brasileira com a divisão territorial norte americana. Deste modo é

exemplificado, através de números, que nos Estados Unidos chegam a 50 a

quantidade de estados, e que no Brasil somamos 27 unidades da federação,

sendo que a área territorial do Brasil e Estados Unidos, em números de

quilômetros quadrados, são próximas. O jornal aponta que “a redefinição

territorial pode fazer a diferença para que o Estado esteja mais próximo da

população e, portanto, seja mais eficiente (...)”. Esta, por sinal, seria uma chave

de argumentação para os idealistas e defensores da emancipação triangulina.

Os comparativos com outras situações dentro e fora do país são inevitáveis no

desenrolar dos argumentos deste texto. Ao dar voz a fonte entrevistada, o

mesmo, defende que “este é um momento importante para estas regiões, que

devem lutar pelo seu desenvolvimento, por nossa identificação”.

Nas três últimas reportagens em análise a fonte exclusiva entrevistada para

compor a matéria era uma só pessoa. Neste quarto caso, a publicação traz o

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 46

nome da fonte no próprio título. “Tony Carlos comemora retomada do sonho de

emancipação do Triângulo”. A retomada do sonho a que o título se refere é o

fato da criação de um projeto de lei que propunha autorização para a

realização de um plebiscito, ou seja, uma consulta pública para saber se era,

ou não da vontade de cada cidadão residente ou natural do Triângulo a

transformação da região em um novo Estado. Outro projeto que tentou

concretizar a realização do plebiscito é citado, assim como algumas

empreitadas alçadas por incentivadores do tema.

No último registro, da série de cinco reportagens publicadas de uma só vez,

apenas uma não menciona diretamente o nome de Tony Carlos. “Estado terá

maior renda per capita do país”, é uma nota curta, de apenas um parágrafo. De

cunho nitidamente opinativo, o texto começa afirmando que “quando o

Triângulo for emancipado, a situação econômica, social e política da região

será excelente, principalmente por não ter que mandar as riquezas para Minas

Gerais”. É fácil notar o otimismo e entusiasmo presente no texto. O autor faz

até previsões, que de acordo com ele estão fundamentadas em “especialistas”.

Desta forma relata que “após a emancipação, de 10 a 15 anos, o novo Estado

terá a maior renda per capita do país, porque é homogênea, sem bolsões de

pobreza, sem contar que o Triângulo é a segunda região mais desenvolvida do

Brasil”.

O ano de 2008, não fica somente nestas cinco publicações. A próxima notícia é

publicada três dias depois daquela seqüência de reportagens. No dia 3 de

junho, a editoria ‘Política’, estampa uma matéria com o título “MM contra a

emancipação do Triângulo”. Como nas raras outras vezes em que o jornal

cedeu espaço para conteúdos que apontem opiniões contrárias a da

emancipação, neste caso o texto mais uma vez é conciso e se atém apenas a

explicitar os fatos. As argumentações dos oponentes ao separatismo não

aparecem com a mesma ênfase dos defensores. As iniciais “MM” no título

estão se referindo ao deputado federal Marcos Montes (DEM-MG). O jornal

aponta que o deputado “não assinou o protocolo de um projeto de decreto

legislativo que prevê a convocação de plebiscito para a emancipação”. E segue

argumentando que o parlamentar não seria favorável a medida pelo fato de seu

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 47

idealismo político estar alicerçado em uma luta pelo corte de gastos públicos e

que emancipar esta região de Minas não seria a saída para tal.

De junho para dezembro. Após um hiato de todo o segundo semestre de 2008

as duas últimas notícias sobre o separatismo acontecem no final do ano, já nas

últimas semanas de 2008. Uma no dia 15, “Federalistas vêem com cautela

emancipação”, e outra no dia 22, “Plebiscito pode definir criação do Triângulo”.

No primeiro caso há na matéria uma aglutinação de indagações que

demonstram o apoio dos representantes do Partido Federalistas em Uberaba à

causa do separatismo. É comentado no texto o projeto de lei que propõe a

realização de plebiscito. São apontadas críticas de como este projeto vem

tentando ser realizado que, “conforme o secretário-geral da legenda, Gabriel

Mendes, a emancipação está conduzida de forma equivocada desde o projeto

de lei”. Este representante analisa o projeto de lei com reprovação, pelo fato de

uma cláusula apontar que a consulta seria realizada em todo o estado de

Minas Gerais e não somente na região de interesse. O jornal dá voz ao

secretário do partido que afirma que é “evidente que esta proposta não vai

passar pelo crivo dos mineiros. Se ocorrer o plebiscito, será um gasto

desnecessário. Para que haja outra votação, com regras justas, teremos de

esperar muito tempo”. O apoio do partido ao separatismo é uma ferramenta

que pode criar nos triangulinos uma simpatia por esta legenda, uma vez que a

expressividade do mesmo ainda é pouco significante em toda a região. Já no

segundo caso, o espaço é informativo e cede limites para uma suíte de outra

reportagem, da qual já falamos que trata sobre o apoio do Partido Federalista,

a causa separatista. O foco é no Projeto de Decreto Legislativo que prevê uma

consulta através de plebiscito a ser realizada somente em 66 municípios do

Triângulo e Alto Paranaíba. A autoria do projeto é do deputado federal Elismar

Prado (PT-MG), contudo o jornal ressalta que “se o desmembramento do

plebiscito for aprovado, ele confirma que irá apresentar um projeto de lei

complementar no Congresso Nacional para a criação do Estado do Triângulo.

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 48

3.4 O ano de 2009

Até o dia de realização da pesquisa no conteúdo do Jornal de Uberaba, em 22

de setembro de 2009, a qual originou este estudo de caso, foram identificadas

cinco publicações sobre o tema, todas elas veiculadas nos dois primeiros

meses do ano. Um fato interessante é que a primeira reportagem traz uma

negativa no título, “Deputado é contra a emancipação”. O jornal diz que o

deputado Adelmo Leão Carneiro (PT-MG), é contra a separação do Triângulo

mas, que ele se dispõe a discutir e argumentar o seu posicionamento. Por

outro lado o jornal ressalta ao longo da reportagem que o parlamentar analisa a

situação de maneira a reconhecer que o governo de Minas não desprende a

atenção necessária para a região do Triângulo e Alto Paranaíba.

Nesta mesma reportagem já mencionada é dado ênfase no posicionamento do

atual presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, deputado Alberto

Pinto Coelho (PP-MG). O destaque ao posicionamento do deputado é uma

negativa ao separatismo. Coelho argumenta que, no caso da realização de

uma consulta pública, todo o estado deve participar. Ele defende veemente tal

prerrogativa e nega a consulta somente na região interessada. Por último é

citada uma proposta do deputado federal Elismar Prado (PT-MG) que busca a

realização do plebiscito. E como não poderia faltar nos conteúdos do Jornal de

Uberaba, a reportagem se encerra com o argumento de que o Triângulo gera

aproximadamente 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro, e o que recebe

de volta é um repasse que giram em torno de apenas 7%, ou seja, gera muita

receita e recebe tão pouco de volta de investimento.

Em 10 de janeiro de 2009, o jornal anuncia no título de uma reportagem:

“Emancipação do Triângulo é vista como privilegiada”. Nesta publicação o

conteúdo fala sobre a criação de novas unidades da federação em diversas

regiões Brasil a fora. Tais propostas apresentadas no Congresso Nacional, na

maioria das vezes são julgadas como inviáveis. No caso desta publicação é

citado um estudo, realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

(Ipea). O estudo, Custos de Funcionamento das Unidades Federativas

Brasileiras e suas Implicações sobre a Criação de Novos Estados, foi

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 49

encomendado pelo então pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo

Chinaglia (PT-SP). Neste caso o jornal aponta que a intenção foi criar

elementos para contribuir no momento de julgar as decisões, quanto a

propostas de criação de novas Unidades Federativas. É apontado ainda que

em alguns casos “os gastos originados pela criação do estado seriam maiores

do que o Produto Interno Bruto (PIB) do próprio estado”.

O jornal elucidou nesta matéria uma parte do estudo realizado pelo Ipea onde é

mencionada a estimativa de gasto para a então efetivação e o funcionamento

do estado do Rio Negro, uma região localizada no estado de Amazonas. Neste

exemplo, o estudo aponta que a demanda de custos com a criação deste novo

Estado, seria aproximadamente 350% superior ao PIB daqueles municípios

que se incluiriam na formação da nova Unidade da Federação. Esta proposta

que tramita no Legislativo, é usada como um exemplo da inviabilidade e da

falta de condição econômica para tornar este ideal uma realidade.

Por outro lado os argumentos quanto às propostas emancipacionistas em

alguns estados Brasileiros segue. No parágrafo mais extenso é enfatizado o

caso do Triângulo Mineiro. O texto começa fazendo uma consideração de que

a criação dos estados de São Paulo do Leste e do Triângulo é vista como

“privilegiada”. A análise do instituto, novamente destacada, diz que estes dois

estados tem maiores condições de prosseguir normalmente com a redivisão.

Pelo menos no que diz respeito a finanças públicas e viabilidade econômica.

Ao final a reportagem faz considerações dando voz ao pesquisador e

coordenador de Desenvolvimento Federativo do Ipea, Rogério Boueri, que diz

que estas propostas precisam ser formuladas de forma mais “consistente no

tocante ao conteúdo geográfico, econômico e financeiro, de forma a não onerar

o já sobrecarregado Parlamento Brasileiro com propostas claramente

inviáveis”.

A publicação seguinte que foca o tema da emancipação, vem de uma coluna. A

jornalista, Giselda Campos, adverte sobre uma reportagem publicada no Jornal

Diário do Comércio. Ela observa que este “é o primeiro com base em Belo

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 50

Horizonte a sair do silêncio em relação ao projeto que prevê realização de

plebiscito sobre o estado do Triângulo’. O texto ainda argumenta que o jornal

de Belo Horizonte possui opinião desfavorável às propostas vigente no

Triângulo. Em notas curtas que compõem a coluna, não se deixa de lado a

chance de rebater os argumentos do jornal da capital. Uma das frases de efeito

diz que “até agora, a imprensa de BH – a exemplo do Palácio da Liberdade,

tem agido como se não estivesse acontecendo nada”.

Através de uma pesquisa realizada no dia 28 de outubro no site

http://www.diariodocomercio.com.br, foi encontrada a reportagem do Jornal

Diário do Comércio, mencionada pela coluna do Jornal de Uberaba. Logo no

título já se pode notar o uma posição contrária a uma nova fronteira entre

Minas e o Triângulo. “Fantasma do Separatismo”. E para notar tal

posicionamento não é preciso sequer ir muito adiante na leitura do conteúdo.

Logo nas primeiras linhas o jornal usa uma figura de linguagem dizendo que os

ventos no Triângulo sopram em “políticos locais que enxergam na manobra,

antes de mais nada, boa ocasião para ganhos próprios”. O Diário do Comércio

é abrupto nas indagações, narra uma história de maneira rápida esclarecendo

que as manifestações pro emancipação nasceram pelo fato da região se

considerar isolada e menos favorecida pelo estado, diz que as “teses

separatistas que, evidentemente, geram expectativas falsas para a população,

mas nutrem as ambições dos políticos locais, mesmo que não obedeçam à

lógica, à conveniência e à razão”.

O texto trata a situação como “o ranço histórico”, e considera que este já

perdeu todo o sentido, e os argumentos usados hoje não justificam a

necessidade de redivisão. É considerado também insustentável o discurso

sobre o percentual de recursos gerados no Triângulo e Alto Paranaíba,

desfazendo na reportagem os argumentos de que estes recursos estariam

sendo “drenados para outras regiões”.

Uma clara exposição de que o Diário do Comércio defende veemente a

posição contrária a dos separatistas vem quando o texto diz que no Triângulo e

Alto Paranaíba se alimenta algo irrealizável e que é “absolutamente ilusória a

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 51

idéia de que estaria melhor uma vez cortados estes laços que têm raízes

profundas e não podem ser simplesmente amputados, muito menos para

alimentar a vaidade - e o apetite - de quem já se imagina sentado na cadeira de

governador”.

Para finalizar o jornal se atém a conclamar uma mobilização que se faça

contrária ao emancipacionismo. “Não dá para sentar e esperar. O assunto é

muito sério e tem implicações que justificam, como no passado, imediata

mobilização de todas as lideranças mineiras, chamadas mais uma vez a

defender a integridade territorial do Estado”.

As duas últimas publicações encontradas na pesquisa foram publicadas uma

no final de janeiro e outra no final de fevereiro. Daí em diante cessaram as

publicações pelo menos até a data de realização da pesquisa no site do jornal

realizada em 22 de setembro de 2009. Nestes dois últimos casos, o conteúdo

se atém primeiramente a publicar números e outras relações levantadas pelo

estudo do Ipea. O destaque é para o valor que a União teria que gastar para

concretizar o estado do Triângulo, sendo que o estudo do Ipea aponta que

seria algo próximo a R$ 32 bilhões de reais. Este valor corresponde a 16,5% do

produto interno bruto de Minas Gerais, um gasto destinado as contemplar os 66

municípios que deveriam compor o novo estado, 11% da população mineira e

15% do território do Estado de Minas, de acordo com os números apontados

no estudo.

Em fevereiro, um artigo publicado na editoria ‘Cultura’, volta a relatar dentro do

Jornal de Uberaba a história dos movimentos e os principais argumentos que

defendem o ideal. É importante observar que desta vez são apontados o

contexto das indagações contrárias a emancipação. Um destes pontos

abordados é a disparidade econômica, uma alegação que volta a entrar em

cena. A reportagem considera que o consenso dos políticos mineiros que são

contra o separatismo é um ato “meramente oportunista e interesseiro, além de

demonstrar total desconhecimento e falta de consciência da identidade e

autonomia regionais”. O artigo ainda considera que o tema não é um fato de

momentâneo, e que as reivindicações que hora são atendidas são de direito do

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 52

Triângulo, e desta forma a luta pela emancipação não deve ser vista como

oportunista e sim como algo com “perspectiva histórica”.

Nas considerações finais desta última publicação do Jornal de Uberaba, é feito

um relato defendendo uma identidade própria, como sendo uma característica

da região, um motivo histórico e geográfico, fatos que favorecem o ideal de

criação de uma nova fronteira e por último “o direito inalienável de autodirigir-

se, livrando-se de todo domínio, que, por sê-lo, é humilhante, antinatural e

oposto à natureza humana, individual e coletivamente considerada”.

4- Rumos Contemporâneos da Emancipação

“Eu sou contra a emancipação do Triângulo Mineiro, afinal seria muito feio

sermos chamados de Triangulinos”. Ouvir tal frase de um representante do

povo, dentro da casa do poder legislativo municipal de uma das cidades mais

antigas desta região, pode não soar bem aos ouvidos daqueles que defendem

este ideal, ainda mais pelo fato de o assunto em discussão ser polêmico, e

propulsor de muitos movimentos ao longo dos anos. Para alguns políticos e

candidatos a vereador em Araxá, é fácil se posicionar, mesmo sem saber quais

questões envolvem a proposta, e o porquê de tanta luta pela criação do

vigésimo sétimo estado brasileiro. Se a idéia se efetivasse, chegaríamos a

vinte e oito unidades da federação, incluindo junto o Distrito Federal.

Um primeiro mandato é sempre o momento de novas experiências para um

vereador recém chegado ao poder. Assuntos e discussões que envolvem anos

de história e uma abrangência bem maior que a de uma única cidade, podem

ainda não estar muito bem esclarecidos no início de um mandato. Mais ainda,

quando voltamos o pensamento para um tema que tão pouco se faz presente

no dia a dia de uma casa legislativa local. Diversos representantes podem estar

cumprindo mandatos, nas várias Câmaras Municipais de Vereadores, sem ter

opinião formada sobre o tema emancipação, que na verdade envolve a todos

que estão, ou que fazem parte desta rica região. Realidade que poderia ser

diferente, e envolver maior número de cidadãos conhecedores do processo

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 53

histórico do separatismo, para assim opinar sobre este sonho que vinga entre

classes mais elitizadas.

Para quem traz no rosto as marcas de anos de representação política, os fatos

são analisados sobre uma ótica mais abrangente. Talvez pela oportunidade do

acompanhamento constante do assunto ao longo dos anos. De voz ofegante e

fôlego cansado, um dos deputados federais, que representa Minas Gerais e a

região do Triângulo, comenta com eloqüência o tema. Desde o início da

carreira política foi a favor da emancipação. Ele, que já se aproxima dos 70

anos de idade, expressa o cansaço físico de grandes percursos, que o levaram

a cinco mandatos como representante do legislativo federal. Antes disso

acumulou a experiência de chefe do executivo municipal em Araxá, por duas

vezes, além de passar por titular da pasta da Secretaria de Estado de Turismo

de Minas Gerais, também por duas vezes. Aracely de Paula, do Partido da

República (PR), em 2009, é um dos parlamentares em exercício na Câmara

dos Deputados Federais. Ele, já foi um dos defensores da emancipação. Hoje o

político acredita que “esta bandeira já esta um tanto quanto desgastada”. O

desgaste a que se refere é quanto à falta de atenção que Minas praticava com

a região do Triangulo. Situação que o parlamentar acredita ter existido em anos

passados, que fazia sim, um grande sentido, daí então o fato dele ser um

defensor da causa. “O Triângulo era esquecido, era discriminado, hoje não

existe isso mais”. Há o entendimento de que hoje vigora uma integração de

todo o estado, fato que Aracely, analisa como inegável, considerando que na

atualidade o Triângulo é uma região muito privilegiada pelos governantes, e

“até pela sua própria condição geográfica, pela própria condição no contexto do

país, o Triângulo é a máquina que puxa Minas Gerais. Aqui se tem um

tratamento especial, tanto do governo do estado, como do governo federal.

Tem uma força política que advêm da grandeza do próprio estado de Minas”.

Quanto à alegação de que o retorno dos recursos gerados pelo Triângulo e Alto

Paranaíba, pouco representam diante da riqueza desta região, e que o estado

pouco faz por esta ‘galinha dos ovos de ouro’, o parlamentar acredita que este

não é um motivo para desencadear a tese do separatismo. Mas, esta é uma

das alegações que perdurou por anos, foi à mola propulsora de muitos

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 54

defensores da emancipação, e questionamentos. Ainda assim, Aracely acredita

que é bom continuar fazendo parte do Estado de Minas Gerais, isso é “poder

dizer que Minas têm a segunda representação política do país, e junto com

Minas o Triângulo, que tem força política. E essa força política, ela reflete em

benefícios para o Triângulo e para o Estado. Sem dúvidas, que ninguém

governa esse país, se não tiver realmente um respaldo político muito grande. E

o Triângulo faz parte, aliás, o estado de Minas, é o segundo estado da

federação em termos de força política. Agora se acontecer uma divisão, o

Triângulo passará a ter oito representantes, então essa força de Minas cai

aproximadamente 70%”.

Se a região vai bem da maneira que está hoje, porque tantos idealistas se

movimentando para fazer do local uma realidade diferente da atual? O

privilégio de sediar empresas que chegam a ser maiores, em números, que as

instaladas em outros 19 estados do Brasil, são a fonte de abastecimento dos

cofres públicos do Estado de Minas e do país? Um alerta sempre anunciado

através dos discursos dos movimentos separatista é a maneira que o Estado

procura se remediar dos fatos. Nos diversos momentos ao longo da história em

que se falou com força maior em emancipação, investimentos em benfeitorias,

novos projetos e atenções em diversos âmbitos, por parte do Estado, se

voltaram para o Triângulo e Alto Paranaíba. Seria esta uma estratégia de

arrefecimento dos ânimos dos emancipacionistas? Se há uma tensão no que

diz respeito a estes momentos, o mais prático aos olhos dos emancipacionistas

seria a obtenção de discussões abertas, gerando uma possibilidade de tornar

mais conscientes os habitantes desta região.

4.1 Uma Nova Proposta

A proposta de tornar as duas regiões, Triângulo e Alto Paranaíba, um novo

estado, com autonomia própria ganhou novos moldes no século 21. Em

Brasília 16 propostas de novas unidades federativas apresentadas no

Congresso Nacional, entre 1998 e 2008, foram analisadas pelo Ipea – Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada. Esta possibilidade de criação de novas

unidades da federação, não é nova e também existe não só em Minas Gerais.

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Já chegaram ao total 18 propostas em todo país. Cidades e regiões já foram o

cenário de mobilizações na tentativa de sensibilizar representantes políticos e

até a população, em uma força conjunta para efetivar a criação de novos

Estados. As principais justificativas na maioria dos casos se dão pelo fato das

potencialidades econômicas presente em cada região, e a insatisfação do local

de origem dos manifestos com a maneira que se dá a distribuição da

arrecadação fiscal. eTal como ocorre no discurso dos emancipacionistas

triangulinos, em diversas regiões do Brasil, o que se evidencia é uma crença de

que tais localidades são pouco favorecidas pelos governantes dos Estados a

que pertencem. Há casos de lugares até mais pobres, em relação ao restante

do Estado, e que ainda assim buscam por independência, acreditam que

seriam mais bem administrados se viessem a tornarem autônomos do restante

do estado.

No caso do Triângulo o fato é que, por se tratar de uma das regiões

considerada entre as mais ricas de todo o Estado de Minas Gerais, isso traz

inquietações nos representantes desta região. É no Triângulo que estão

instaladas grandes indústrias do setor de processamento de alimentos, de

açúcar e álcool, de fumo, de mineração, de atacadistas distribuidores, de

mineração e de fertilizantes. Uma região de logística privilegiada, bem servida

por rodovias, ferrovias e aeroportos, dando acesso facilitado a grandes centros

do país e aos principais portos. O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística, em 2006, apontou que o PIB – Produto Interno Bruto, no Triângulo,

chegou a R$ 25.389.280.000,00 reais. Fatos como este, e uma serie de outras

alegações motivaram em 2008 a criação de um projeto de Decreto Legislativo

(570/08), apresentado pelo deputado federal, Elismar Prado (PT-MG). Nele é

proposto à realização de um plebiscito, ou seja, uma consulta popular por meio

do voto. Em caso de aprovação, todas as 66 cidades, que fazem parte dos

estudos que apontam o espaço de composição do Estado do Triângulo,

participariam da consulta. Além do Triângulo, outros ideais desta natureza,

percorrem os caminhos legais em Brasília, um deles é o projeto de lei em

discussão no Congresso, que trata sobre a criação do Estado de São

Francisco. 34 municípios do Estado da Bahia, seriam separados formando

assim um novo estado.

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O Triângulo Mineiro em busca de uma nova fronteira Página 56

A Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional

do Senado aprovou a proposta, do Deputado Mineiro, Elismar Prado em 2008.

A polêmica que envolve o projeto em tramitação é quanto aos municípios que

receberiam a consulta pública, quais as áreas que seriam abrangidas pela

consulta pública, se só a de interesse nos fatos, neste caso o Triângulo, ou

todo o Estado de Minas. A lei defende que o plebiscito seja realizado na área

de interesse do assunto em questão. Sendo assim, representantes interpretam

que o plebiscito seja realizado no Triângulo e no Alto Paranaíba. Por outro

lado, os representantes de outras regiões de Minas, acreditam que a área

interessada é todo o estado e não só Triângulo e Alto Paranaíba, passando a

defender que consulta seja realizada nos 853 municípios.

Tentando reverter tal situação, personagens do movimento emancipacionistas

esperam a aprovação de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que

aguarda decisão em Brasília. Esta ação poderá extinguir a lei complementar

que estabelece no caso a realização do plebiscito em todo estado, caso seja

aprovado o projeto de lei que solicita a consulta popular.