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O Trabalho no Capitalismo Global Significações da crise estrutural do capital Giovanni Alves - UNESP 1 VII Seminário do Trabalho UNESP – Marilia 2010

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Page 1: O Trabalho no Capitalismo Global Significações da crise estrutural do capital Giovanni Alves - UNESP1 VII Seminário do Trabalho UNESP – Marilia 2010

O Trabalho no Capitalismo GlobalSignificações da crise estrutural do capital

Giovanni Alves - UNESP 1

VII Seminário do TrabalhoUNESP – Marilia 2010

Giovanni Alves
Para movimentar a Apresentação, utilze a tecla ENTER.
Page 2: O Trabalho no Capitalismo Global Significações da crise estrutural do capital Giovanni Alves - UNESP1 VII Seminário do Trabalho UNESP – Marilia 2010

Crise financeira de 2008

A crise financeira global de 2008, crônica de uma A crise financeira global de 2008, crônica de uma morte anunciada, é morte anunciada, é uma das maiores das crises uma das maiores das crises

do capitalismo globaldo capitalismo global. Ela atingiu com vigor o . Ela atingiu com vigor o núcleo orgânico (e centro mais dinâmico) do núcleo orgânico (e centro mais dinâmico) do sistema mundial do capitalsistema mundial do capital. Embora os ditos . Embora os ditos países capitalistas emergentes, como China e países capitalistas emergentes, como China e Brasil, por exemplo, não estejam sofrendo os Brasil, por exemplo, não estejam sofrendo os

impactos mais contundentes da crise financeira impactos mais contundentes da crise financeira (como, por exemplo, EUA, Japão e União (como, por exemplo, EUA, Japão e União

Européia), ela, de fato, abalou o arcabouço Européia), ela, de fato, abalou o arcabouço financeiro do capitalismo global constituído nos financeiro do capitalismo global constituído nos

últimos anos de globalização neoliberal. últimos anos de globalização neoliberal.

Giovanni Alves - UNESP 2

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Explosão da dívida pública

Diante do débâcle financeiro, os governos das nações Diante do débâcle financeiro, os governos das nações capitalistas mais desenvolvias, saíram, de imediato capitalistas mais desenvolvias, saíram, de imediato

com pacotes bilionários de ajuda financeira para com pacotes bilionários de ajuda financeira para bancos insolventes. A dívida pública dos países bancos insolventes. A dívida pública dos países capitalistas centrais explodiu e a grande questão capitalistas centrais explodiu e a grande questão

que se coloca é quem irá pagar pelo extraordinário que se coloca é quem irá pagar pelo extraordinário socorro financeiro aos responsáveis diretos pela socorro financeiro aos responsáveis diretos pela

insana ordem global do capital fictício. insana ordem global do capital fictício.

Giovanni Alves - UNESP 3

“Ninguém tem, ainda, uma ideia clara de quando poderá terminar a crise financeira global. Mas uma coisa é certa: os déficits orçamentais vão disparar. Nos próximos

anos, será necessário convencer os investidores a adquirir grandes quantidades

de nova dívida.(…) As taxas de juro vão subir para compensar os investidores tanto por terem aceite uma maior percentagem de

obrigações públicas no seu “portfólio” como pelo risco crescente dos governos se

sentirem tentados a inflacionar o valor das suas dívidas ou mesmo deixar de as pagar.

(…) À medida que a dívida aumenta e a recessão persiste, vamos ver, seguramente,

vários governos a tentarem reduzir a sua carga através de repressão financeira,

inflação mais elevada, pagamentos parciais, ou uma combinação destes três elementos.

Infelizmente, a fase final desta grande depressão não vai ser nada agradável.”

31 de março de 2009

Kenneth Rogoff The Economist

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O velho Moloch do capitalismo global

A crise financeira de 2008, como o velho Moloch, devora A crise financeira de 2008, como o velho Moloch, devora não os grandes investidores, socorridos pelos Bancos não os grandes investidores, socorridos pelos Bancos Centrais, mas sim, Centrais, mas sim, médios e pequenos acionistas, médios e pequenos acionistas,

homens e mulheres proletários, trabalhadores homens e mulheres proletários, trabalhadores assalariados desempregados pela brusca assalariados desempregados pela brusca

desaceleração da economia mundial desaceleração da economia mundial – – principalmente no núcleo orgânico do sistema do principalmente no núcleo orgânico do sistema do

capital. Em 2009, o capital. Em 2009, o desemprego de massa desemprego de massa explodiu explodiu nos EUA, União Européia e Japão, e as perspectivas nos EUA, União Européia e Japão, e as perspectivas

de recuperação capaz de absorver parte dos de recuperação capaz de absorver parte dos trabalhadores desempregados é incerta. Com trabalhadores desempregados é incerta. Com

certeza, a certeza, a crise do emprego crise do emprego irá se agravar mais irá se agravar mais ainda no centro orgânico do sistema mundial do ainda no centro orgânico do sistema mundial do capital e a década de 2010 começa com anos de capital e a década de 2010 começa com anos de chumbo para o mundo do trabalho nestes países.chumbo para o mundo do trabalho nestes países.

Giovanni Alves - UNESP 4

Moloch, na tradição bíblica, é o nome do deus ao qual os amonitas, uma etnia de Canaã, sacrificava seus recém-nascidos, jogando-os em uma fogueira. Também é

o nome de um demônio na tradição cristã e cabalística.

Cena do Filme “Metropólis”, de Fritz Lang (1926)

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A crise do empregos nos EUA

Giovanni Alves - UNESP 5

Taxa de desemprego por Estados nos EUA

(2007- 2009)

O que a nova (e profunda) crise do capitalismo global explicita é O que a nova (e profunda) crise do capitalismo global explicita é a instabilidade estrutural do sistema mundial do capital. a instabilidade estrutural do sistema mundial do capital.

Não é a primeira crise, embora seja a maior crise do Não é a primeira crise, embora seja a maior crise do capitalismo global (tivemos outras, por exemplo, em 1987, capitalismo global (tivemos outras, por exemplo, em 1987,

1996 e 2001); e com certeza não será a ultima crise 1996 e 2001); e com certeza não será a ultima crise financeira deste velho sistema produtor de mercadorias. De financeira deste velho sistema produtor de mercadorias. De

crise em crise, o sistema se reestrutura e se expande às crise em crise, o sistema se reestrutura e se expande às custas da perda do lastro civilizatório construído no custas da perda do lastro civilizatório construído no

capitalismo do capitalismo do Welfare StateWelfare State, hoje cada vez mais distante. , hoje cada vez mais distante. Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma

dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais que é incapaz de realizar as promessas de cada vez mais que é incapaz de realizar as promessas de

bem-estar social e emprego decente para bilhões de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, como o deus Moloch, o capital exige hoje sacrifícios crise, como o deus Moloch, o capital exige hoje sacrifícios

perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.

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Crise estrutural do capital

Estamos diante de um sistema mundial clivado de Estamos diante de um sistema mundial clivado de contradições sociais ampliadas, principalmente a contradições sociais ampliadas, principalmente a

partir da crise financeira global de 2008. Os partir da crise financeira global de 2008. Os desdobramentos da crise irão expor com mais desdobramentos da crise irão expor com mais candência, a natureza íntima da civilização do candência, a natureza íntima da civilização do

capital imersa em sua crise estrutural: “decifra-me capital imersa em sua crise estrutural: “decifra-me ou devoro-te!”. Podemos dizer que as contingências ou devoro-te!”. Podemos dizer que as contingências sombrias do movimento real do capital global que sombrias do movimento real do capital global que constatamos nas últimas décadas de capitalismo constatamos nas últimas décadas de capitalismo global, expressam uma crise de fundo - o que um global, expressam uma crise de fundo - o que um autor como István Mészaros denomina de autor como István Mészaros denomina de crise crise

estrutural do capital.estrutural do capital.

Giovanni Alves - UNESP 6

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A nova dinâmica sócio-reprodutiva do capital

Ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a Ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia crise estrutural do capital prenuncia uma nova dinâmica uma nova dinâmica

sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadoriassócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias . Na . Na verdade, verdade, é a crise estrutural que impulsiona a é a crise estrutural que impulsiona a

mundialização do capital com sua tara financeirizadamundialização do capital com sua tara financeirizada . Com . Com a crise, o sistema se expande e cresce de modo irregular, a crise, o sistema se expande e cresce de modo irregular, recorrente e instável (hoje, por exemplo, conduzido pelos recorrente e instável (hoje, por exemplo, conduzido pelos

pólos mais ativos e dinâmicos - de acumulação de valor : os pólos mais ativos e dinâmicos - de acumulação de valor : os ditos países emergentes, como a China, Índia e Brasil). Ora, ditos países emergentes, como a China, Índia e Brasil). Ora,

enquanto o centro dinâmico capitalista apodrece com sua tara enquanto o centro dinâmico capitalista apodrece com sua tara financeirizada (como explicitou a crise de 2008), a financeirizada (como explicitou a crise de 2008), a periferia periferia

industrializada emergenteindustrializada emergente parece alimentar a última parece alimentar a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em as condições de uma valorização problemática do capital em

escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).

Giovanni Alves - UNESP 7

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Crise, reestruração e expansão do capital

A crise estrutural do capital A crise estrutural do capital nãonão significa estagnação do significa estagnação do capitalismo mundial, mas sim, a incapacidade do sistema capitalismo mundial, mas sim, a incapacidade do sistema

produtor de mercadorias realizar suas promessas produtor de mercadorias realizar suas promessas civlizatóriascivlizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com . Tornou-se lugar comum identificar crise com

estagnação – mas, estagnação – mas, sob a ótica do capital, crise significa sob a ótica do capital, crise significa oportunidade histórica de reestruturação e expansão oportunidade histórica de reestruturação e expansão sistêmica.sistêmica. O capitalismo expande-se (e se renova – em O capitalismo expande-se (e se renova – em

sua dimensão fenomênica) através de suas crises. Em sua sua dimensão fenomênica) através de suas crises. Em sua etapa de crise estrutural ele aparece como etapa de crise estrutural ele aparece como um sistema um sistema imerso em contradições sociais alucinantes, sob um imerso em contradições sociais alucinantes, sob um mundo de sombras e fantasmagorias contingentes mundo de sombras e fantasmagorias contingentes . .

Ora, como pode um sistema estar em crise estrutural e se Ora, como pode um sistema estar em crise estrutural e se expandir ? Eis a contradição viva do capital !expandir ? Eis a contradição viva do capital !

Giovanni Alves - UNESP 8

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O sistema da alienação universal

• De crise em crise, o sistema mundial do capital agudiza De crise em crise, o sistema mundial do capital agudiza a a alienação e alienação e o estranhamentoo estranhamento de homens e mulheres que trabalham. Ao contrário de homens e mulheres que trabalham. Ao contrário dos ideólogos burgueses que proclamam adeus ao proletariado e que dos ideólogos burgueses que proclamam adeus ao proletariado e que não existe mais classe social (e luta de classes), ou ainda que nada não existe mais classe social (e luta de classes), ou ainda que nada

existe para além deste modo de organizar a produção social (o existe para além deste modo de organizar a produção social (o capitalismo), o que percebemos é, pelo contrário, capitalismo), o que percebemos é, pelo contrário, a ampliação num a ampliação num patamar universal, da condição de proletariedadepatamar universal, da condição de proletariedade. A miséria do . A miséria do

capital atinge, com a crise de 2008, o núcleo desenvolvido do sistema capital atinge, com a crise de 2008, o núcleo desenvolvido do sistema mundial, esgarçando a desigualdade social no dito Primeiro Mundo. mundial, esgarçando a desigualdade social no dito Primeiro Mundo.

Para além de uma ótica economicista, Para além de uma ótica economicista, a crise do capital é, de fato, a a crise do capital é, de fato, a crise de civilizaçãocrise de civilização que se expressa com vigor na que se expressa com vigor na degradação do degradação do metabolismo social homem-naturezametabolismo social homem-natureza – seja a natureza humana – seja a natureza humana

(expressa no cataclismo social, com seus milhões de trabalhadores (expressa no cataclismo social, com seus milhões de trabalhadores precários e a massa de desempregados sem perspectivas de futuro precários e a massa de desempregados sem perspectivas de futuro

digno e vítimas do adoecimento físico e mental); seja a natureza digno e vítimas do adoecimento físico e mental); seja a natureza natural (o cataclismo climático marcado pelo aquecimento global e natural (o cataclismo climático marcado pelo aquecimento global e

deriva climática).deriva climática).

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O significado essencial da crise do capital

Para não ficarmos no mundo das sombras, é importante Para não ficarmos no mundo das sombras, é importante apreendermos o apreendermos o significado essencial da crise significado essencial da crise

estrutural do capitalestrutural do capital. Na verdade, ela expressa . Na verdade, ela expressa uma uma crise de valorização crônica do valorcrise de valorização crônica do valor,, que explica, que explica,

de certo modo, a inversão/perversão dos termos de certo modo, a inversão/perversão dos termos categoriais da própria lei do valor-trabalho (é curioso categoriais da própria lei do valor-trabalho (é curioso

que alguns marxistas considerem a ampliação da que alguns marxistas considerem a ampliação da mancha da precarização do trabalho como um mero mancha da precarização do trabalho como um mero retorno da mais-valia absoluta – pelo contrário, é a retorno da mais-valia absoluta – pelo contrário, é a

própria expressão de afirmação da mais-valia própria expressão de afirmação da mais-valia relativa nas condições da crise estrutural do capital). relativa nas condições da crise estrutural do capital).

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Crise de valorização crônica do capital

Vejamos o movimento das placas Vejamos o movimento das placas tectônicas do capitalismo global tectônicas do capitalismo global

sobre nossos pés. sobre nossos pés. Sob o capitalismo global, um Sob o capitalismo global, um setor amplo (e crescente) da setor amplo (e crescente) da "classe" do proletariado não "classe" do proletariado não

produz valor produz valor (é caso, por (é caso, por exemplo, dos trabalhadores ditos exemplo, dos trabalhadores ditos “improdutivos”)“improdutivos”); ou, se o produz, ; ou, se o produz,

a massa de mais-valia a massa de mais-valia acumulada está muito aquém acumulada está muito aquém

das necessidades sistêmicas da das necessidades sistêmicas da acumulação de riqueza abstrata acumulação de riqueza abstrata

lastreada em valorlastreada em valor. .

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A lógica da mais-valia relativa

Nas últimas décadas de capitalismo global, Nas últimas décadas de capitalismo global, o o alucinado aumento da produtividade do alucinado aumento da produtividade do

trabalhotrabalho nos setores produtivos da nos setores produtivos da economia capitalista “enxugou” trabalho vivo economia capitalista “enxugou” trabalho vivo destes locais de trabalho. Inclusive no setor destes locais de trabalho. Inclusive no setor

de serviços, parte dele privatizado sob de serviços, parte dele privatizado sob pressão das políticas neoliberais, tende a se pressão das políticas neoliberais, tende a se

impor, cada vez mais, impor, cada vez mais, a lógica da mais-a lógica da mais-valia relativavalia relativa. De modo quase obsessivo, . De modo quase obsessivo, busca-se reduzir o contingente da força busca-se reduzir o contingente da força

de trabalhode trabalho; produzir mais, com menos ; produzir mais, com menos operários ou empregados, substituindo-se operários ou empregados, substituindo-se assim, assim, capital variável capital variável por por capital fixocapital fixo, ,

pressionando, tendencialmente, a pressionando, tendencialmente, a composição orgânica e a taxa média de composição orgânica e a taxa média de lucro dos empreendimentos capitalistas. lucro dos empreendimentos capitalistas.

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Proletários sobrantes

Na medida em que, a cada crise, se expele trabalho vivo, e se Na medida em que, a cada crise, se expele trabalho vivo, e se incorpora, cada vez mais, trabalho morto nos núcleos de incorpora, cada vez mais, trabalho morto nos núcleos de

produção de valor do sistema (a titulo de redução de custos), produção de valor do sistema (a titulo de redução de custos), tende-se a criar não apenas um dito “exercito industrial de tende-se a criar não apenas um dito “exercito industrial de

reserva”, mas sim, reserva”, mas sim, um imenso contingente de proletários um imenso contingente de proletários sobrantes, uma superpopulação relativa de homens e sobrantes, uma superpopulação relativa de homens e

mulheres supérfluos mulheres supérfluos (inclusive para a regulação social do (inclusive para a regulação social do mercado de trabalho formal). O mundo do trabalho é cada vez mercado de trabalho formal). O mundo do trabalho é cada vez

mais constituído por trabalhadores assalariados que, mais constituído por trabalhadores assalariados que, incapazes de serem absorvidos pelos nichos de produção de incapazes de serem absorvidos pelos nichos de produção de valor, tendem a serem, em geral, absorvidos pelos múltiplos valor, tendem a serem, em geral, absorvidos pelos múltiplos

serviços “improdutivos” da mais diversa natureza que serviços “improdutivos” da mais diversa natureza que emergem com o desenvolvimento civilizatório (o que explica o emergem com o desenvolvimento civilizatório (o que explica o

crescimento exponencial dos serviços nas economias crescimento exponencial dos serviços nas economias capitalistas desenvolvidas e em desenvolvimento nos últimos capitalistas desenvolvidas e em desenvolvimento nos últimos

trinta anos). trinta anos).

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O novo (e improdutivo) mundo do trabalho

Como os setores de produção de valor da economia capitalista tendem Como os setores de produção de valor da economia capitalista tendem historicamente a enxugar trabalho vivo, os trabalhadores assalariados historicamente a enxugar trabalho vivo, os trabalhadores assalariados

sobrantes são distribuidos nos mais diversos postos de trabalho criados sobrantes são distribuidos nos mais diversos postos de trabalho criados nos setores “improdutivos” do sistema. Assim, cresce, em torno deste nos setores “improdutivos” do sistema. Assim, cresce, em torno deste

pequeno (e encolhido) núcleo produtivo de valor, “enxuto” pelas pequeno (e encolhido) núcleo produtivo de valor, “enxuto” pelas recorrentres políticas de recorrentres políticas de downsizingdownsizing, , um contingente imenso e um contingente imenso e

crescente de homens e mulheres proletarizados, jovens, adultos e crescente de homens e mulheres proletarizados, jovens, adultos e idosos, imersos na condição universal de proletariedadeidosos, imersos na condição universal de proletariedade . Ora, a . Ora, a

modernidade tardia do capital é irremediavelmente “improdutiva”. Crescem modernidade tardia do capital é irremediavelmente “improdutiva”. Crescem os os proletários serviçais, proletários serviçais, informais ou formalizados (pelo intervenção informais ou formalizados (pelo intervenção

estatal), que estatal), que vivem à custa da massa de mais-valia social. Avivem à custa da massa de mais-valia social. Apesar da pesar da insuficiencia da mais-valia social para satisfazer a contento as insuficiencia da mais-valia social para satisfazer a contento as

necessidades sistêmicas da acumulação de valor (o que explica, portanto, necessidades sistêmicas da acumulação de valor (o que explica, portanto, a crise de valorização), ela ainda permite, na medida de seu crescimento a crise de valorização), ela ainda permite, na medida de seu crescimento

absoluto nas últimas décadas, a sustentação (e ampliação) destes absoluto nas últimas décadas, a sustentação (e ampliação) destes serviços “improdutivos” de cariz precário que absorvem hoje os proletários serviços “improdutivos” de cariz precário que absorvem hoje os proletários

sobrantes.sobrantes.

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Crise financeira de 2008

• Nos últimos trinta anos perversos de capitalismo Nos últimos trinta anos perversos de capitalismo global, crise e reestruturação produtiva só têm global, crise e reestruturação produtiva só têm reposto e reafirmado as tendências de redução reposto e reafirmado as tendências de redução

relativarelativa, embora não , embora não absolutaabsoluta, dos setores , dos setores “produtivos” do proletariado (diga-se de passagem, “produtivos” do proletariado (diga-se de passagem, redução relativa dos setores “produtivos” no tocante redução relativa dos setores “produtivos” no tocante

às necessidades da valorização). Por exemplo, diante às necessidades da valorização). Por exemplo, diante de uma massa "x" de capital-dinheiro investido na de uma massa "x" de capital-dinheiro investido na

produção, se requer uma extração "y" de mais-valia. produção, se requer uma extração "y" de mais-valia. Ora, nas últimas décadas, "x" cresceu absoluta e Ora, nas últimas décadas, "x" cresceu absoluta e

relativamente; enquanto "y" só cresceu relativamente; enquanto "y" só cresceu absolutamente (o que explica a interversão – no plano absolutamente (o que explica a interversão – no plano

fenomênico - da mais-valia relativa em mais-valia fenomênico - da mais-valia relativa em mais-valia absoluta). absoluta).

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A natureza das “bolhas especulativas”

Por conta da intensificação da Por conta da intensificação da concorrência concorrência capitalistacapitalista no mercado mundial, tivemos no mercado mundial, tivemos sob a globalização neoliberal, a incrível sob a globalização neoliberal, a incrível

aceleração das inovações tecnológico-aceleração das inovações tecnológico-organizacionais organizacionais na produção de na produção de

mercadorias e o aumento exponencial da mercadorias e o aumento exponencial da produtividade do trabalho produtividade do trabalho (por exemplo, (por exemplo, sob o capitalismo global tivemos, só nos sob o capitalismo global tivemos, só nos

últimos trinta anos, duas revoluções últimos trinta anos, duas revoluções tecnológicas: a tecnológicas: a revolução informáticarevolução informática e a e a

revolução informacionalrevolução informacional). No período ). No período histórico da mundialização do capital, a histórico da mundialização do capital, a

extração de mais-valia (“y”) ou extração de mais-valia (“y”) ou a taxa de a taxa de exploração no interior do sistema como exploração no interior do sistema como

um todo, cresceu um todo, cresceu absolutamenteabsolutamente, por , por conta da expansão do sistema mundial conta da expansão do sistema mundial

produtor de mercadorprodutor de mercadorias (por exemplo, as ias (por exemplo, as novas fronteiras de expansão industrial na novas fronteiras de expansão industrial na

China e Índia). China e Índia).

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A crise de valorização do capital

Eis um Eis um traço estrutural traço estrutural que irá marcar o capitalismo mundial no que irá marcar o capitalismo mundial no século XXI, apesar das tentativas de regulação política por século XXI, apesar das tentativas de regulação política por meio das intervenções estatais cada vez mais incisivas (a meio das intervenções estatais cada vez mais incisivas (a

explosão da dívida pública nos países capitalistas centrais, explosão da dívida pública nos países capitalistas centrais, depois da crise de 2008, mostra que a crise de valorização depois da crise de 2008, mostra que a crise de valorização

tende, cada vez mais, a devorar como o velho Moloch, o “fundo tende, cada vez mais, a devorar como o velho Moloch, o “fundo público”, parcela da massa de mais-valia social capturada pelo público”, parcela da massa de mais-valia social capturada pelo Estado político, mas agora, re-apropriada pelo capital privado Estado político, mas agora, re-apropriada pelo capital privado

para sanar sua crônica insensatez financeira).para sanar sua crônica insensatez financeira).

Giovanni Alves - UNESP 17

Em termos relativos - no tocante ao novo patamar de "x" – a produção de

valor ou a taxa de exploração no sistema como um todo está muito

aquém das necessidades sistêmicas cumulativas de valorização da massa

de capital-dinheiro acumulada a partir da crescente lucratividade das global corporations. Poderíamos dizer

que, nesse caso, a extração de valor cresce numa progressão aritmética,

enquanto as necessidades sistêmicas de valorização da massa de capital-dinheiro crescem numa progressão

geométrica. Constitui-se, deste modo, uma “fenda” de instabilidade

financeira e surgem recorrentes “bolhas especulativas” que marcam a

dinâmica de acumulação de valor fictício no capitalismo global.

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Crise financeira de 2008

• O que temos hoje, sob o capitalismo global, é tão-somente uma nova O que temos hoje, sob o capitalismo global, é tão-somente uma nova forma de ser do modo de produção capitalista em sua dimensão forma de ser do modo de produção capitalista em sua dimensão

planetária – planetária – um sistema produtor de mercadorias sob a dominância um sistema produtor de mercadorias sob a dominância da mais-valia relativa da mais-valia relativa (o que explica a constante voracidade de (o que explica a constante voracidade de

inovações tecnológicas no capitalismo global). Por outro ladoinovações tecnológicas no capitalismo global). Por outro lado , um , um sistema produtor de mercadorias incapaz de explorar – no sentido sistema produtor de mercadorias incapaz de explorar – no sentido

da produção de valor – na medida da necessidade histórica de da produção de valor – na medida da necessidade histórica de acumulação de capital. acumulação de capital. Abre-se, deste modo, uma “fenda geológica” Abre-se, deste modo, uma “fenda geológica”

entre a produção de mais-valia real e a produção de mais-valia entre a produção de mais-valia real e a produção de mais-valia necessária (lacuna preenchida pela “prótese” da financeirização da necessária (lacuna preenchida pela “prótese” da financeirização da

riqueza capitalista, raiz da instabilidade crônica do capitalismo riqueza capitalista, raiz da instabilidade crônica do capitalismo global).Nesse contexto de crise crônica de valorização, o capitalismo global).Nesse contexto de crise crônica de valorização, o capitalismo global do século XXI está condenado a viver sob a sombra do capital global do século XXI está condenado a viver sob a sombra do capital fictício como suplemento estrutural de sua valorização problemática - fictício como suplemento estrutural de sua valorização problemática -

que o diga as bolhas especulativas recorrentes e os riscos crônicos. No que o diga as bolhas especulativas recorrentes e os riscos crônicos. No plano social, tende-se a ampliar – como sombra desta própria crise de plano social, tende-se a ampliar – como sombra desta própria crise de

valorização – a superpopulação relativa de proletários supérfluos, valorização – a superpopulação relativa de proletários supérfluos, absorvidos, em geral, pelos absorvidos, em geral, pelos setores improdutivos precarizados setores improdutivos precarizados – formais – formais

ou informais. ou informais.

Giovanni Alves - UNESP 18

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Um sistema “afetado de negação”

No bojo da crise sistêmica de valorização No bojo da crise sistêmica de valorização constituem-se outros constituem-se outros focos de “negação” que, focos de “negação” que,

objetivamente, desconcertam a ordem objetivamente, desconcertam a ordem material vigentematerial vigente. Sob a crise estrutural do . Sob a crise estrutural do

capital, o sistema-mundo produtor de capital, o sistema-mundo produtor de mercadorias está objetivamente “afetado de mercadorias está objetivamente “afetado de

negação”. Por exemplo, temos a dita negação”. Por exemplo, temos a dita “desmedida do capital“desmedida do capital”, que ocorre devido a ”, que ocorre devido a

absorção, pelo sistema de produção, de absorção, pelo sistema de produção, de elementos compositivos recalcitrantes à elementos compositivos recalcitrantes à

lógica da escassezlógica da escassez e a quantificação intrínseca e a quantificação intrínseca à lei do valor, como o trabalho imaterial e o à lei do valor, como o trabalho imaterial e o

retorno do saber-fazer na produção.. retorno do saber-fazer na produção..

Giovanni Alves - UNESP 19

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“Hic Rhodus, hic salta!”

• Aviso aos navegantesAviso aos navegantesOs traços de crise estrutural do capital e Os traços de crise estrutural do capital e

precariedade extrema de amplos contingentes do precariedade extrema de amplos contingentes do mundo do trabalho assalariado mundo do trabalho assalariado nãonão significam que significam que

adentramos a ante-sala da revolução socialista, adentramos a ante-sala da revolução socialista, nem que soa a hora do “derrumbe” do capitalismo nem que soa a hora do “derrumbe” do capitalismo

mundial, como sonham os supostos mundial, como sonham os supostos revolucionários de plantão (o que não quer dizer revolucionários de plantão (o que não quer dizer que hoje, mais do que nunca, o socialismo seja que hoje, mais do que nunca, o socialismo seja uma necessidade histórica). Na verdade, tais uma necessidade histórica). Na verdade, tais mudanças estruturais descritas acima, dizem mudanças estruturais descritas acima, dizem respeito apenas respeito apenas a forma de ser do sistema a forma de ser do sistema

mundial produtor de mercadorias mundial produtor de mercadorias e nada mais. e nada mais. Se, da condição de Se, da condição de condição de proletariedade condição de proletariedade ampliada sob a crise de valorização, irá emergir a ampliada sob a crise de valorização, irá emergir a classe social do proletariado classe social do proletariado enquanto sujeito enquanto sujeito histórico coletivo capaz de negar o sistema da histórico coletivo capaz de negar o sistema da

alienação universal, é outra históriaalienação universal, é outra história. Como diria . Como diria Marx: Marx: Hic Rhodus, hic salta!Hic Rhodus, hic salta!

Giovanni Alves - UNESP 20

A expressão “Hic Rhodus, hic saltus!” aparece numa fábula de Esopo onde um atleta fanfarrão que era muito criticado

pelo seu desempenho físico viaja para Rodes e, no retorno, diz que fez o maior salto já

visto e que tinha testemunhas lá para provar. Então, um de seus interlocutores responde-lhe para ele imaginar que

estava em Rodes e fazer o salto,

dizendo para o atleta: “Hic Rhodus,

hic saltus!” (Aqui está Rodes, agora

salta!).

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AtençãoAtenção

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