o trabalho no brasil

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    Caxias do Sul, 09 de junho de 2010. Pgina 1

    O Trabalho no Brasil

    As relaes de trabalho no Brasil so totalmente desfavorveis ao trabalhador e nessa esteiraseguem as condies de trabalho as quais em regra so precrias haja vista o nefasto histricoverificado nos acidentes do trabalho. Os nmeros oficiais, nitidamente insubsistentes, com relao aosacidentes do trabalho so preocupantes e registram mal grado um nmero elevado de bitos.Oficialmente o Estado Brasileiro, com base em extensa legislao trabalhista, tambm chamada deLeis Sociais, e mais muitas leis de carter ordinrio leis comuns - estaria teoricamente dotado de umguarda-chuva adequado a oferecer proteo e amparo a todos os que tm que trabalhar parasobreviver. No bastassem essas leis federais, estaduais, municipais, acordos internacionais de papel,onde os governantes de planto prometem respeito s resolues da Organizao Internacional doTrabalho OIT temos ainda vrios artigos na Constituio Federal que regram vrias condutas aserem observadas pelos empregadores, sejam eles pblicos ou privados.Existem comentrios de toda ordem que o Brasil seria sob o ponto de vista legal, o pas melhorestruturado com relao a ter um conjunto de leis que efetivamente protegem os trabalhadores.Somente que a inteno nesse particular no faz a razo. A realidade dos trabalhadores doBrasil se encontra demasiado distante do idealizado nas chamadas leis sociais.

    Uma das contradies do discurso e a prtica o numero astronmico de trabalhadores que esto nainformalidade. So obviamente os que mais esto expostos ao infortnio acidentes - do trabalho.No bastasse isso so os que menos ganham e no raro se sujeitam a trabalhar em troca de um pratode comida, moradia, sem limites na jornada de trabalho, arrastando no raro junto de si, outrosmembros da famlia que com isso acabam trabalhando de graa. As crianas e mulheres, nessescasos, so as mais penalizadas, pois alm de no receberem salrio, tem que dar conta do servio,geralmente penoso e insalubre. Milhares de crianas em idade escolar no Brasil todo ano deixam defreqentar as salas de aula e milhes de crianas que s deveriam estudar tem como prioridade otrabalho. Nesse rol de trabalhadores excludos dos direitos sociais inclumos os milhes que labutamem lixes a cu aberto, moradores de rua, camelos, chapas, pescadores, trabalhadores rurais semterra, diaristas que se submetem a servios por jornada. Milhes de homens e mulheres tambm tmque trabalhar mesmo em servios formais, sem Carteira Assinada, pois os empregadores, que adotamesse tipo de conduta, ou seja, condicionam o emprego informalidade, aumentam seus jportentosos lucros, pois deixam de recolher os tributos sociais.

    A luz dos nmeros que compuseram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio de 2008(PNAD2008)a populao do pas era de 189, 952 milhes de pessoas. O Brasil tinha em 2008, nofulgor dessa pesquisa Populao Economicamente Ativa (PEA) estimada em 99,5 milhes de pessoas.No grupo, Pessoas Ocupadas ramos 92,4 milhes, desses 31,9 milhes teriam Carteira Assinada. Aesse nmero acresce-se os Servidores Pblicos, que perfazem pouco mais de 8 milhes, osProfissionais Liberais (mdicos, odontlogos, advogados, engenheiros, etc.) perfazem nmeroprximo a 5 milhes. Seguem esses nmeros, 16,1 milhes de pessoas ocupadas no meio rural em2008. Destes 3,5 milhes seriam de assalariados informais, ou seja, sem direitos sociais plenos. Notem muito o Governo Federal decidiu flexibilizar ainda mais as relaes de trabalho no campo, criando

    a figura do trabalhador temporrio, como se no Brasil no fossemos todos temporrios. Os estudosotimista apontam para algo prximo a 12 milhes o nmero de desempregados, isso para o ano de2008.A Pnad mostrou que dos 92,4 milhes de pessoas ocupadas em 2008, 58,6% (54,2 milhes depessoas) eram empregados; 7,2% (6,6 milhes), trabalhadores domsticos; 20,2% (18,7 milhes),trabalhadores por conta prpria; 4,5% (4,1 milhes de pessoas), empregadores; 5,0% (4,6 milhes),trabalhadores no remunerados; 4,5% (4,1 milhes), trabalhadores na produo para o prprioconsumo e 0,1% (0,1 milho), trabalhadores na construo para o prprio uso.

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    Os trabalhadores com Carteira assinada, a despeito de toda publicidade institucional, acabam nessahistoria sendo minoria e infelizmente sendo remunerados com baixos salrios. Raros so ostrabalhadores que no vivem assolados pelo fantasma do desemprego e substituio nas linhas deproduo por outros, que por estarem fora do mercado do trabalho desempregados - se obrigam aaceitar salrios menores. A adoo de polticas neoliberais pelo Estado brasileiro a partir dos anos 90do Sculo XX, em muito reduziu o valor dos salrios dos trabalhadores. Milhes tambm foramprecarizados por conta do desemprego e milhares ficaram sujeitos a trabalhos terceirizados, os quaisreduzem absurdamente os direitos sociais, isso quando eles existem. A praga das tais de Cooperativasde Trabalho, vigarice sem precedentes na historia do Brasil, asseguram somente quanto muito, umsalrio mnimo legal aos trabalhadores que se vem premidos a nelas se empregarem para noperecerem de fome. Esse tipo de empreendimentoreduz ao absurdo as condies de trabalho equase que ao absoluto os direitos sociais. Os trabalhadores de uma cooperativa de trabalho apertadospela necessidade aceitam trabalhar, por exemplo, em condies insalubres sem receberem junto aosalrio mensal a indenizao por estar trabalhando em local deletrio. Infelizmente a situao em tela regra e absolutamente legal dentro da ordem republicana do Brasil.Caso notrio, que atinge as raias do absurdo a situao do trabalhador domestico em nosso pas. AConstituio Federal legtima condio impar, ou seja, tem os domsticos menos direitos que ostrabalhadores formais da chamada iniciativa privada. Somente nos fixaremos no aspecto jornada de

    trabalho. Enquanto que legalmente o trabalhador esta obrigado h trabalhar 44 horas semanais otrabalhador domstico tem que trabalhar quantas o empregador quiser e mais no ganha nada porisso, ou seja, o trabalho extraordinrio no gera direito nem valores, algo obviamente muito prximoao regime escravocrata. No gratuito no Brasil, que de um contingente de 6,5 milhes deempregadas domsticas, somente 1,5 milho tenha carteira de trabalho assinada, as restantes cincomilhes trabalham na informalidade. As pesquisas efetuadas junto a essas trabalhadoras atestam suabaixa escolaridade, quando no totalmente analfabetas e sua origem predominantemente de afrodescentes.

    A situao das mulheres, crianas e homens do campo, no diferente da vivida nos cintures demisria do meio urbano. Mesmo os pequenos agricultores agricultura familiar em sua grandemaioria encontram enormes dificuldades para tirar o sustento da terra. Enquanto o agronegciorecebe crescentes aportes de recursos pblicos para sua expanso, a agricultura familiar tem que

    mendigar. Todo ano milhares de pessoas abandonam o campo, sendo que a maioria somente mudade domicilio. De uma vida sofrida no campo para uma vida miservel nas favelas, mocambos oucortios das cidades brasileiras. Os excludos do campo, sem-terra, so mais de 12 milhes (4,8milhes de famlias esto espera de cho para plantar). Num pas de dimenses continentais soaabsurdo que uns poucos latifundirios tenham se apoderado das principais terras cultivveis enquantoque milhes esto impedidos de produzir para o prprio sustento.

    O Censo Agropecurio de 2006, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),identificou 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar. Eles representavam 84,4% do total,mas ocupavam apenas 24,3% (80,25 milhes de hectares) da rea dos estabelecimentosagropecurios brasileiros. Os estabelecimentos no familiares representavam 15,6% do total e

    ocupavam 75,7% da sua rea -(1% dos proprietrios de terra no Brasil controlam 46% dos600 milhes de hectares escriturados em cartrio. Dentro dos 1%, temos 27 mil fazendeirosque possuem fazendas acima de 2 mil hectares que controlam, hoje, 178 milhes de hectares. Omaior deles de uma construtora de Curitiba, que dona de 4 milhes de hectares.

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    A agricultura familiar a grande responsvel pela produo de alimentos no pas. Em 2006, aagricultura familiar era responsvel por 87% da produo nacional de mandioca, 70% da produo defeijo, 46% do milho, 38% do caf (parcela constituda por 55% do tipo robusta ou conilon e 34% doarbica), 34% do arroz, 58% do leite (composta por 58% do leite de vaca e 67% do leite de cabra),59% do plantel de sunos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo.

    A Folha de So Paulopublicou, em 27 de maro de 2010, notcia segundo a qual a ConfederaoNacional de Agricultura (CNA), realizara pesquisa acerca do cumprimento das normas trabalhistas nosestabelecimentos rurais. Durante a pesquisa, visitaram-se mil e vinte fazendas. A prpria CNAdivulgou que menos de 1% dos estabelecimentos rurais investigados respeitam as leis trabalhistas.

    J os trabalhadores que tem vnculo com a estrutura do Estado Brasileiro (Unio, Estados eMunicpios) e distribudos dentro dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio tem leis especificasque os regem. A normatizao geral se encontra na Constituio Federal, a qual os classifica nocomo trabalhadores, mas sim como Servidores Pblicos. Cumpre destacar, mesmo assim, que sob omanto da legalidade o Estado emprega no Brasil milhares de trabalhadores com Carteira assinada, ouseja, so os que trabalham nas chamadas empresas mistas. Na verdade essas no so mais do queempresas privadas sob controle acionrio do Estado. Muitos investidores privados se associam a essas

    iniciativas do Estado, da o nome Empresa Mista. De modo geral estes trabalhadores percebemsalrios maiores que a mdia de mercado e tem qualificao geralmente igual aos grandes empresasda iniciativa privada. Nesse rol citamos a ttulo de simples exemplo a Petrobras, Banco do Brasil e aCaixa Econmica Federal, sempre lembrando que Estados e muitos Municpios (Prefeituras) tambmpossuem empresas mistas sob seu controle, contratando conseqentemente trabalhadores por essavia.O Estado, por meio de seus condutores, criou ao longo do tempo, inmeras e injustificveis diferenasentre os servidores pblicos. Duas situaes bsicas so nitidamente verificveis. Enormes diferenasde salrios e existindo tambm diferentes cargas horrias a serem cumpridas, ou seja, quanto menosganha, maior e a jornada de trabalho. O resultado disso que uns percebem valores inclusive acimado pago ao Presidente da Republica e a grande massa valores nfimos. regra nesse particular, queos Servidores da maioria das Prefeituras do Brasil tenham em mdia seus vencimentos limitados aosalrio mnimo.No bastassem esses anacronismos o Estado brasileiro possivelmente seja o maior empregador demo-de-obra terceirizada, respaldando com isso a precarizao do trabalho. Merece serem lembradostambm os trabalhadores contratados diretamente pelo Estado com carteira assinada - sob adenominao de Empregado Publico. Essa mazela 100% legal assegura ao Estado que estestrabalhadores tenham jornadas maiores com salrios menores e nenhuma perspectiva de ascensofuncional no servio pblico. Nesse compito esto Agentes Comunitrios de Sade e Agentes deEndemia.O Estado brasileiro alm de altamente ineficiente, autoritrio e burocrtico carece diferentemente dasestruturas estatais dos pases desenvolvidos de uma estatocracia e de uma meritocracia. As decisesdo Estado esto confiadas s polticas de governo os cargos de direo da Republica so poltico

    partidrios e no tcnicos - enquanto que a conduo do Estado deveria ser permanente, portantoestar em mos de servidores pblicos de carreira, o que asseguraria no mnimo o seguimento nosprojetos. A maioria dos Servidores Pblicos no Brasil no tem Plano de Carreira, com isso campeandoas anomalias vantagens para uns, desprezo para com a maioria - e incerteza absoluta narecomposio dos salrios frente inflao. O desinteresse no exerccio da funo acentuado, poisno existe perspectiva de valorizao funcional.

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    A princpio a penalizao do trabalhador brasileiro segue alguns parmetros gerais. Um deles obaixo salrio. No existe uma poltica estatal abrangente para a questo do salrio. Demagogicamenteo salrio mnimo recebeu reajustes pouco acima da inflao oficial no presente gesto da Repblica,(2003/2010). Os aposentados que ganhavam acima do mnimo e que tambm teriam direito arecomposio ficaram fora. Os trabalhadores formais, nesse caso majoritariamente urbanos somenteconseguem recompor seus salrios na chamada data base, isso quando conseguem, e somente umavez ao ano, como se a inflao no fosse diria e apurada mensalmente. Averiguasse nesse caso asubordinao das entidades oficiais (pseudo sindicais) ao Estado, por isso se omitindo da lutapermanente por melhores salrios e condies salubres de trabalho.Outra nefasta tradio brasileira e a concentrao de renda. A maioria pouco recebe, e uma elite, depoucos, se apoderam de valores gigantescos. Em suma o Brasil apresenta um dos piores ndices dedistribuio de renda do mundo. Outro so as condies de trabalho, em regra, tambm entre aspiores do planeta. Acidentes do trabalho e doenas ocupacionais so infeliz rotina do mundo dotrabalho. No bastasse isso, os direitos sociais so ignorados. Milhes no tm Carteira do Trabalhoassinada e com isso ficam sem perspectiva de aposentadoria. Essa situao tambm se estende asindenizaes de carter pecunirio. O trabalhador formal tem com base na CLT e na Constituio eoutras leis laborais, alguns direitos que so transformados em um pouco de dinheiro. Um deles oprecrio seguro desemprego que protege o desempregado formal por alguns meses. O trabalhador

    informal sem carteira assinada - acaba ficando fora inclusive dessas migalhas.A condio do trabalhador brasileiro tambm rida no quesito educao. Alm da baixa qualidade daeducao pblica, onde se insere a miservel remunerao dos profissionais que trabalham nasescolas, a grande maioria dos trabalhadores abandona precocemente os estudos, pois tem quetrabalhar. Com baixa escolaridade e sem qualificao sua ascenso social fruto proibido. Observam-se aqui inquietantes situaes. Milhares de crianas em idade escolar todo ano deixam de compareceraos bancos escolares, pois com cinco ou seis anos j trabalham, principalmente no interior. Outrodado preocupante que milhes de crianas trabalham em paralelo a sua vida escolar. PeloPNAD2008 so 250 mil crianas que deixam de ir a escola todo ano e 4 milhes que trabalham eestudam. No a toa que temos 14 milhes de analfabetos e entre 30 e 45 milhes de analfabetosfuncionais.Os impostos, de tributao indireta, ou seja, tributos que atingem a todas as camadas sociais

    penalizam assustadoramente os excludos do Brasil. Esses contribuem paradoxalmente com 50% detudo o que arrecadado com essa forma de recolhimento para com os cofres do Estado. O mesmotanto de impostos que paga o pobre por um quilo de alimento, paga o abastado. Nessa cicatriz ainsero da mo-de-obra feminina no mercado de trabalho, no Brasil, est ligada perda do poderaquisitivo dos salrios e a crescente necessidade de que a mulher trabalhe para complementar arenda familiar. Essa situao permite que parte dos empresrios prefira mo-de-obra feminina. Asmulheres, por necessidade de trabalhar, sujeitam-se a salrios menores do que os dos homens,mesmo quando exercem funo idntica e na mesma empresa.

    As conseqncias da explorao desenfreada da mo-de-obra brasileira, ancorada nos baixos salriose no desemprego de milhes de trabalhadores, trs conseqncias nefastas para os mais pobres.Sobrevivem no limite da fome, da falta de moradia, no tendo recursos para cuidar de sua sade e

    esto permanentemente refns de uma sade pblica que de certo s tem regredido no atendimento.A cidadania, preconizada pela Constituio Federal, dentro dos parmetros do Estado Democrtico ede Direito letra morta. O salrio que deveria ser compatvel as necessidade de uma famlia primeiro quesito a ser desconsiderado. Aos trabalhadores, diante de tanta insensatez, resta continuarsua batalha. Revoltar-se, exigir, ocupar, fazer greves, no so arremedos do desespero, masindicadores de que de todas as formas possveis os excludos nesse pas sempre se empenharam paramudar sua dura condio. A organizao a mais importante ferramenta de que dispe todos osexplorados, pois romper com as amarras da espoliao tarefa dos prprios trabalhadores.