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    temas de economia aplicada

    junho de 2013

    Mercado de Trabalho no Brasil na Primeira Dcada do Sculo

    XXI: Evoluo, Mudanas e Perspectivas Desemprego, Salriose Produtividade do Trabalho1

    JOS PAULO ZEETANO CHAHAD (*)RAFAELLA GUTIERRE POZZO (**)

    1 Introduo

    Este texto d sequncia anlisedo comportamento do mercado

    de trabalho brasileiro no perodo

    entre 2000 e 2012, iniciada com a

    publicao da sua primeira parte

    na edio de maio deste boletim.

    Naquela ocasio, foram apresen-

    tados os temas referentes aos as-

    pectos demogricos, evoluo

    da fora de trabalho e os nveis de

    ocupao (formal e informal). Aqui

    sero focados os tpicos referentes

    ao desemprego, rotatividade do

    trabalho, aos salrios e rendimen-

    tos reais, e aos padres de produti-

    vidade do trabalho.

    Relembra-se que se trata de umperodo no qual se veriicaram sig-

    niicativas mudanas nas polticaseconmicas do Pas, assim comoturbulncias econmicas no ce-nrio internacional, ambas pass-veis de impactos na estrutura e naevoluo do mercado de trabalhonacional.

    De fato, a dcada de 1990 foi umperodo dicil para o mercado de

    trabalho, ainda que naqueles anostenham sido plantadas as sementespara os bons frutos colhidos poste-riormente. Assim, naquela dcada,uma srie de fatores desfavorveispromoveu uma piora do mercadode trabalho, destacando-se entre

    os pr incipais: (a) ins tabilidademacroeconmica, deixando baixo

    e voltil o ritmo de crescimentoeconmico; (b) intensiicao doprocesso de mecanizao agrcola;(c) forte reestruturao industrialcom enxugamento de postos detrabalho, uma vez que foi realizadano contexto de uma ampla abertu-ra comercial, com cmbio sobre-valorizado, e altas taxas de jurosreais; (d) forte crescimento da PEA

    com implicaes para as oportuni-dades de emprego; e (e) queda nataxa de investimento total, seja nosetor privado, mas, principalmenteno setor pblico. A consequnciasobejamente conhecida, foi umaelevao do patamar de desempre-

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    go aberto, o crescimento da infor-malidade, o surgimento de formasatpicas de trabalho, baixa inclusosocial, entre outros aspectos inde-sejveis no mercado de trabalho.

    Ao inal dos anos 1990 e incio danova dcada, novos instrumentosna poltica econmica no modii-caram substancialmente o ritmode crescimento da economia, con-quanto lhe deram mais solidez,e certamente contriburam paramudanas importantes e positi-vas para o mercado de trabalhoao longo da nova dcada. A partirde 1999, a gesto macroeconmi-ca passou a se fundamentar noseguinte trip: cmbio lutuante,regime de metas para a inlao eresponsabilidade iscal, aqui anco-rado na gerao de supervit iscalcomo meta para pagamento dadvida pblica. Sob a tica do mer-cado de trabalho houve forte recu-perao do emprego formal, queda

    na informalidade, recuperao sa-larial, entre outras consequnciasque at hoje persistem, embora jse observem sinais de reverso dealgumas destas tendncias positi-vas.

    Do ponto de vista deste texto, nosconcentraremos apenas na pri-meira dcada do sculo XXI, ve-

    riicando o comportamento dosprincipais indicadores, associando--os evoluo dos indicadoresmacroeconmicos quando neces-srio, e relegando a um segundoplano eventuais comparaes compocas passadas. O intuito fazeruma retrospectiva desse mercado,segundo seus indicadores, procu-rando destacar a principal men-sagem que podemos extrair destecomportamento e, quando possvel,as implicaes e perspectivas queda decorrerem.2

    Nesta perspectiva, a estr utura

    do texto contempla os seguintesaspectos: a seo 2contemplar aanlise do desemprego aberto, in-clusive sob a tica dos gastos comseguro-desemprego e comparaocom o cenrio internacional. Aseo 3 mostrar como evoluramas taxas de rotatividade, bem comoo tempo mdio de emprego nomercado de trabalho brasileiro. A

    seo 4conter uma retrospectivasobre a evoluo dos rendimentose salrios, destacando a evolu-o do salrio mnimo e seu papelna desconcentrao de renda. Aseo 5contemplar a trajetriados padres de produtividade dotrabalho, destacando seu papel naperda de competitividade interna-cional decorrente dos baixos nveis

    de produtividade. A ltima setrar uma sntese conclusiva dtexto, seguindo-se as refernciabibliogricas mencionadas.

    2 A Queda da Taxa de Desempreg

    As estatsticas da evoluo da PEe do total dos ocupados, assicomo aquelas referentes s varies da composio ocupacionno mercado de trabalho brasileij nos forneceram indicaes sdas de que a taxa de desempregaberto vem se reduzindo na ec

    nomia brasileira desde o incio danos 2000. De fato, no Grico 1, odados da PNAD indicam uma forqueda neste indicador: em 2002,taxa de desemprego era de 9,14da fora de trabalho, tendo se redzido para 6,72% em 2011.3

    Nota-se, nesta srie, que a tendcia foi de queda contnua da tax

    de desemprego, exceto em 200quando a crise instalada na ecnomia mundial fez reverter estendncia de queda. Apesar desreduo, o nvel de 2011 ainda esem patamar ligeiramente acimdaqueles veriicados em meados ddcada de 1990. Por exemplo, sgundo os dados da PNAD, em 199a taxa de desemprego foi de 6,1%

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    Este comportamento se repetepara as principais regies metro-politanas do Pas, conforme indi-cam os dados da PME descritosno Grico 2. A taxa de desempre-

    go aberto, medida pelo IBGE nasregies metropolitanas do Pas,mostrou-se em queda entre 2002e 2011 de 2.6 pontos percentuais,um valor nada desprezvel. Almdisso, a taxa de desemprego medi-da no ano de 2012, de 5,5%, icoubem abaixo da registrada em 2002,de 8,1%, sendo a mais baixa athoje observada na srie, aps a mu-

    dana metodolgica de 2002.

    Por estas estatsticas nota-se que

    a melhora no cenrio econmico

    brasileiro na ltima dcada, ainda

    que relativamente fraca, estimulou

    o mercado de trabalho do Pas e

    ocasionou a reduo da taxa de de-semprego aberto. Esse resultado

    tambm signiicativo, uma vez que

    nas reas metropolitanas que a

    situao de desemprego tende a

    transcender a simples questo do

    desempregado como um annimo

    estatstico. Nestas reas ocorrem

    graves problemas de violncia ur-

    bana e segurana pblica, para os

    quais o desemprego contribui mar-

    ginalmente, mas contribui.

    A reduo da taxa de desemprego

    se fez acompanhar por outras me-

    lhorias na rea do trabalho. Umadessas, retratada no Grico 3, foi

    que o tempo mdio de procura

    por trabalho tambm apresentou

    queda no per odo. Por exemplo

    para as principais regies metro-

    politanas, o tempo mdio por pro-

    cura por trabalho era de 53,2 se-

    manas em 2002, caindo para 28,4

    semanas em 2012.

    Grfico 1 Evoluo da Taxa de DesempregoAberto 30 Dias. Brasil: 2002-2011

    Fonte : Pnad/IBGE. Elaborao prpria.

    *No ano de 2010 foram utilizados os dados do Censo Demogrico.

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    Do ponto de vista do trabalhador,este no deixa de ser um resultadoauspicioso, uma vez que representauma reduo nos custos de pro-cura por t rabalho, com impactos

    positivos sobre sua subsistnciapessoal e familiar, bem como, emcertos casos, efeitos favorveissobre os nveis de produtividadedos trabalhadores. Sob a perspec-tiva das empresas no deixa deser um aspecto desejvel, uma vezque implica menores custos. Estareduo indica, indiretamente,que as empresas esto gastando

    menos com recrutamento de novos

    trabalhadores e podem aproveitar

    esta economia de gastos em outros

    investimentos como treinamento

    do trabalhador.

    Outra constatao decorrente da

    queda do desemprego tem sido

    uma concomitante reduo do de-

    semprego pelo desalento, situao

    na qual os tipicamente desempre-

    gados se desestimulam a procurar

    emprego pelas diiculdades impos-

    tas pela deteriorao generalizada

    ou de ramos especicos da atividde econmica.

    O Grico 4, elaborado pelo IPE(2012b, p. 11), confronta o ndic

    de Crescimento do Banco Centr(IBC-Br) com a taxa de desemprgo pelo desalento calculada peSEADE-DIEESE. Evidencia-se que

    quadro de crescimento econmicveriicado recentemente no Paainda que moderado e instvetem impacto positivo na busca p

    trabalho pelos inativos em situade desalento.4

    Grfico 2 Evoluo da Taxa de DesempregoAberto 30 Dias. Brasil: 2002-2012

    Fonte: PME/IBGE.Elaborao prpria.

    RMs: Regies Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, So Paulo e Porto Alegre.

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    Grfico 3 Evoluo do Tempo Mdio de Procura por Trabalho.Regies Metropolitanas*- 2002-2012 (em Semanas)

    Fonte: PED/Dieese. Elaborao prpria.

    (*) Regies metropolitanas: Belo Horizonte, Distrito Federal, Porto Alegre Salvador e So Paulo.

    Grfico 4 Evoluo do Crescimento e da Taxa de Desemprego por Desalento - (2002=100)

    Fonte: Dados primrios: BCB e DIEESE. Elaborao IPEA (2012 b).

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    Conforme revelam as estatsticasdisponveis, uma constatao inte-ressante a vertiginosa elevaodos gastos com seguro-desem-prego, no obstante a expressi-va queda da taxa de desempregoaberta.

    Por um lado, vimos o forte cresci-mento do emprego formal, exata-mente aquele contingente de tra-balhadores que so potencialmenteelegveis para receber o beneciodo seguro-desemprego. O aumentodo emprego formal, alm de colo-car mais trabalhadores em condi-es de potencial elegebilidade aoseguro-desemprego acaba, tam-

    bm, promovendo maiores taxas derotatividade de mo de obra, con-forme veremos na prxima seo.Ou seja, com mais trabalhadoresformalizados, aumenta o contin-gente daqueles que so demitidose admitidos para substituir mo deobra da empresa, com menor im-pacto sobre a taxa de desemprego.

    A combinao do nmero maior detrabalhadores elegveis ao seguro--desemprego e a elevao da taxade rotatividade da mo de obra,somada ao forte crescimento dosalrio mnimo em termos reais,tem como resultado grande eleva-o dos gastos com o pagamento

    de benecios, conforme revela

    Grico 5.

    Enquanto o estoque de segur

    dos se elevou entre 2002 e 201

    em 60,7%, os gastos reais subram mais do que o dobro, ou sej

    136,8%. Este resultado se deve

    elevao da t axa de rotatividad

    e, principalmente, do crescimen

    real do salrio mnimo, ao qual es

    atrelado o valor dos benecios. E

    outras palavras, temos uma situ

    o paradoxal em que a reduo d

    desemprego acaba por pression

    as contas pblicas, e no alivi-lacomo seria de se esperar.

    Grfico 5 Evoluo do Estoque de Empregados, do Total de Segurados e dos Gastos com Beneficirios doSeguro-Desemprego*. Brasil: 2002-2012 (2002=100)

    Fonte: CGSDAS/DES/SPPE/MTE. Elaborao prpria.

    * gastos reais delacionados pelo INPC.

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    O vigor do mercado de trabalho brasileiro na dcadade 2000 pode ser observado na comparao da taxade desemprego nacional com a de pases selecionados,que vista na Tabela 1.

    De acordo com as estatsticas apresentadas peloFMI, o Brasil foi aquele pas que apresentou o melhordesempenho do mercado de trabalho, em termos dereduo da taxa de desemprego, aps a crise interna-cional de 2008. Enquanto no Brasil houve queda de30,4% na taxa do desemprego entre 2008 e 2012, amaior entre os BRICs, em determinados pases euro-peus, como por exemplo a Grcia, houve aumento de

    215,8% no mesmo perodo.

    Tabela 1 Taxa de Desemprego em PasesSelecionados

    Pas Taxa em 2008 (%)* Taxa em 2012(%)* Variao (%)**

    Brasil 7,9 5,5 -30,4

    Alemanha 7,6 5,5 -28,2

    Argentina 7,9 7,2 -8,6

    Rssia 6,4 6,0 -6,3

    China 4,2 4,1 -2,4

    Japo 4,0 4,4 9,2

    Mxico 4,0 4,8 20,8

    Frana 7,8 10,2 31,5

    Reino Unido 5,6 8,0 44,3

    Itlia 6,8 10,6 56,8

    Portugal 7,6 15,7 106,2

    Espanha 11,3 25,0 121,2

    Grcia 7,7 24,2 215,8

    * Porcentagem da populao economicamente ativa.

    ** Variao porcentual de 2008 a 2012.

    Fonte: Dados primrios: FMI.

    3 O Comportamento da Taxa de Rotatividade da

    Mo de Obra

    A rotatividade da mo de obra representa outra

    importante varivel deinidora do que ocorre no

    mercado de trabalho. Embora no primeiro momentoa sensao seja de aumento do desemprego pela de-

    misso do trabalhador, na verdade no isto o que

    ocorre. Isto porque se o conceito de rotatividade se

    fundamenta no princpio da substituio do traba-

    lhador demitido e, consequentemente, outro indiv-

    duo dever ser contratado.5As evidncias histricas

    sempre mostraram uma alta taxa de rotatividade no

    caso brasileiro, mas qual tem sido o comportamento

    nesse perodo de grandes transformaes no mer-

    cado de trabalho e poucas mudanas na legislao

    trabalhista?6

    A julgar pelas estatsticas a seguir comentadas, a res-

    posta que as tendncias histricas no s se manti-

    veram como parecem estar levando os patamares de

    rotatividade a nveis mais elevados. Observando-se o

    Grico 6, que contm a mdia mensal no ano da taxa

    de rotat ividade, nota-se que esta apresentou uma

    tendncia crescente ao longo da ltima dcada. Com

    exceo dos anos de 2009 e 2010, a taxa se manteve

    crescente, saindo de 3,3% em 2002 e avanando ainda

    mais em 2011, quando registrou seu valor mais alto no

    perodo (4,2%), como pode ser observado no referido

    grico.

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    Parece ntido, porm, que os nveisde rotatividade vm, paulatina-mente, crescendo desde o incio dadcada de 2000: entre 2002 e 2004,a mdia foi de 3,30%; entre 2004 e

    2007, passou para 3,50%, e entre2007 e 2011, saltou para 4,0%. Em-bora paream mudanas pequenasdo ponto de vista marginal, istorepresenta expressivos contingen-tes de trabalhadores demitidos eadmitidos em termos mensais.

    Uma das razes para esse contnuoaumento dos nveis de rotativida-

    de na primeira dcada do sculose refere ao prprio crescimentobastante desigual do emprego for-mal entre os grandes setores deatividade econmica: enquanto oemprego formal total apresentou

    elevao de 56,2% entre 2002 e2012, na Administr ao Pblicaeste aumento foi de 20,4% e naConstruo Civil foi de 153,1%.

    Ocorre que o emprego formal,aquele que alimenta a rotatividade a partir do qual so calculadasas estatsticas de rotatividade ,cresceu bem mais em setores quehistoricamente, e por razes espe-cicas, possuem maiores nveis derotatividade do trabalho, conformemostra o Grico 7 a seguir. Nota-seque, na mdia do perodo, o setor

    de Construo Civil apresenta ro-tatividade de mais de 80,0% de suafora de trabalho, enquanto nosServios Industriais de UtilidadePblica esse valor no passa de23,0%.

    Outra forma de veriicar a rotativ

    dade da mo de obra pela anli

    da permanncia dos indivduos n

    emprego e o tempo que leva pa

    ocorrer um desligamento. Estaestatsticas, que utilizam a Rel

    o Anual de Informaes Socia

    (RAIS), encontram-se na Tabela

    para a dcada de 2000. As segui

    tes inferncias podem ser feita

    (i) o tempo mdio trabalhado d

    indivduos ativos em 31 de dezem

    bro, em cada ano, reduziu-se de 5

    anos, em 2000, para 5,0 anos, e

    2009; e (ii) houve uma reduo d

    tempo mdio do contrato de trab

    lho de 1,8 anos, em 2000, para 1

    anos em 2009.

    Grfico 6 Evoluo da Taxa de Rotatividade (Mdia Mensal). Brasil: 2002-2011 (%)

    Fonte: MTE. Elaborao Prpria.

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    Como estaria o Brasil no cenrio internacional em

    termos da durabilidade de um posto de trabalho? A

    resposta encontra-se no Grico 8, onde aparecem

    as informaes do tempo mdio de trabalho em um

    conjunto selecionado de pases. Com exceo do caso

    americano, veriica-se que o tempo mdio de emprego

    desse conjunto , no mnimo, 70,0% maior que o veri-

    icado no Brasil no ano de 2009. Em outras palavras,

    comparativamente ao que se veriica no cenrio inter-

    nacional, o tempo mdio de emprego do trabalhador

    brasileiro signiicantementemenor.

    Tabela 2 Tempo Mdio do Vnculo por Situao do

    Vnculo em 31 de Dezembro - Brasil: 2000-2009

    (emAnos)

    Ano Desligamentos no ano Ativos em 31 de dezembro

    2000 1,8 5,5

    2001 1,9 5,3

    2002 1,7 5,3

    2003 1,7 5,3

    2004 1,6 5,3

    2005 1,7 5,3

    2006 1,6 5,2

    2007 1,6 5,1

    2008 1,6 5,1

    2009 1,6 5

    Fonte: MTE/RAIS. Elaborao DIEESE.

    Grfico 7 Evoluo da RotatividadeAnual Segundo Setores SelecionadosdaAtividade Econmica - Brasil: 2004-2012 (%)

    Fonte: Caged/MTE. Elaborao prpria.

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    Algumas consideraes necessitamser aqui realizadas para melhorcompreenso desta contnua ele-vao dos patamares de rotativi-dade. Em primeiro lugar, precisoenfatizar que os fatores institucio-

    nais que promovem esses nveiselevados de rotativ idade aindapersistem na legislao brasileira,em especial o FGTS e sua multa, jsobejamente demonstrado comoprincipal fator impulsionadordesse comportamento. Aps a ado-o do seguro-desemprego isto seagravou, uma vez que o pagamentodo benecio no est associado

    s chamadas aes de emprego,situaes nas quais a recolocaosomente deve ocorrer com a buscapor trabalho. Assim, a combinaodo FGTS, sua multa, a lenincia

    do seguro-desemprego e, ainda, aantecipao do aviso prvio so fa-tores a impulsionar historicamenteos patamares de rotatividade paracima.

    Em segundo lugar, o vigoroso cres-cimento da contratao com car-teira de trabalho assinada eleva ocontingente de trabalhadores quepodem ser dispensados (por ini-ciativa da empresa) ou demitidos(por iniciativa do empregado), eisso, por si s, representa um fatora mais a acelerar o crescimento darotatividade da mo de obra.

    Finalmente, mas no menos im-portante: preciso destacar osresultados perversos destes altospatamares de rotatividade e em

    elevao permanente. Por um ladum exame mais apurado apontapara algo que se veriica mesmem termos internacionais: a rtatividade tende a atingir grupoespecicos, em especial joven

    mulheres, trabalhadores menoqualiicados, enim, aqueles grupmais vulnerveis da fora de trablho. Por outro lado, incidindo sobestes, ou mesmo sobre outros grpos de trabalhadores, nveis taltos de rotatividade desestimulafortemente investimentos em captal humano, seja por iniciativa dtrabalhador, seja por iniciativa d

    empresas, j que nenhum dos agetes tem um tempo mdio de permnncia no emprego para recupereventuais gastos com treinamene formao de recursos humanos

    Grfico 8 Tempo Mdio de Permanncia no Emprego. Brasil e Pases Selecionados: 2009 (emAnos)

    Fonte: StatExtracts; OCDE. BLS. Current Population Survey; MTE/RAIS. Elaborao prpria.

    *situao de janeiro de 2010. **vnculos formais.

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    4 O Comportamento dos Salrios

    e Rendimentos Reais

    4.1 A Evoluo dos RendimentosMdios Reais

    Desde o incio dos anos 2000, a

    realidade salarial tem sido com-

    patvel com o que se veriica no

    mercado de trabalho, com eleva-

    o dos principais indicadores de

    salrios e rendimentos. De acordo

    com os dados da PME, mostrados

    no Grico 9, no perodo estudado,

    aps uma queda entre 2002 e 2004

    o rendimento mdio real recebido

    pelos trabalhadores apresentou

    recuperao gradativa, aumentan-

    do continuamente at 2011. Dessa

    maneira, em 2004 o rendimento

    mdio do total de ocupados era

    13,0%.7

    Ainda segundo o referido grico,

    em 2004 o salrio dos emprega-

    doscom carteira assinada e dos

    empregados sem carteira assina-

    da registrou uma queda de 8,8%

    cada, comparado a 2002. Para os

    trabalhadores por conta prpria,

    a queda foi maior, de aproximada-

    mente 20,0%. Da anlise de todoo perodo de 2002 a 2012, nota-se,

    contudo, que todas as categorias

    elencadas no grico tiveram ele-

    vao dos ganhos reais, mas os

    trabalhadores por conta prpria

    foram os que obtiveram maior evo-

    luo nos rendimentos (cerca de

    15,0%). Os empregados com car-

    teira assinada, por sua vez, foram

    os que menos tiveram aumento de

    rendimento (5,6%).

    Duas observaes merecem des-

    taque na questo da evoluo dos

    rendimentos reais neste perodo.

    A primeira refere-se ao fato de que

    se repete uma tendncia h muito

    veriicada no mercado de traba-

    lho brasileiro: os rendimentos dos

    grupos ocupacionais com maior

    lexibilidade de contratao e/ou

    de caractersticas mais informais

    crescem mais do que o emprego

    assalariado com carteira.

    A segunda diz respeito ao impacto

    que o contnuo crescimento dos

    ganhos reais traz para a economia

    Por um lado, sob a tica da deman-

    da, no contexto de nveis tambm

    crescentes de ocupao, tem pro-

    movido uma elevao da massa sa-

    larial, conforme vemos no Grico

    10, impulsionando o consumo das

    famlias, principal fator a coman-

    dar o PIB brasileiro na dcada. Poroutro lado, pode estar represen-

    tando uma presso de custos para

    as empresas, na medida em que os

    ganhos reais de rendimentos no

    venham acompanhados de ganhos

    de produtividade, o que parece no

    estar ocorrendo, conforme vere-

    mos adiante.

    Grfico 9 Evoluo do Rendimento Mdio Real dos Ocupados. Brasil Regies Metropolitanas: 2002-2012 (2002=100)

    Fonte: PME. Elaborao prpria.

    Regies Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, So Paulo e Porto Alegre.

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    4.2 O Comportamento do Salrio

    Mnimo

    O comportamento dos salrios de

    base da economia brasileira apre-sentou um crescimento ainda maisforte do que os veriicados paraos rendimentos mdios reais. Emparticular, o crescimento do sal-rio mnimo real foi muito forte nadcada de 2000, conforme se ve-riica no Grico 11, mas este um

    movimento que j vinha ocorrendo

    desde o incio da dcada de 1990,

    especialmente a partir da adoo

    do Plano Real. Tal movimento se

    intensiicou mais com o governodo Presidente Lula, que passou a

    tratar a questo diretamente com

    as Centrais Sindicais, aumentando

    a inluncia das decises polticas

    sobre este importante parmetro

    do mercado de trabalho.

    O grico mostra, ainda, como escrescimento do salrio mnimfoi bem maior do que o veriicadpara o PIB real per capita . Com

    o salrio mnimo est na base dpirmide salarial, inluenciandpara cima os demais salrios, esdiferencial pode ser um primeirindicativo de que os rendimentoreais parecem ter crescido marapidamente que os nveis de prdutividade no perodo em quest

    Grfico 10 Evoluo da Massa Salarial Real. Brasil, Regies Metropolitanas: 2003-2012 (em Bilhes)

    Fonte: PME/IBGE. Elaborao prpria.

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    Por outro lado, existem tambm aspectos positivosdesse crescimento maior do salrio mnimo como re-lao ao PIBper capita. De fato, conforme o Grico 12,este diferencial tem promovido alguma redistribuiode renda, como pode ser observado ao analisar-se acomparao do ndice do salrio mnimo real com o

    ndice de Gini. Enquanto o primeiro vem apresentandocrescimento de 72,5% no perodo, o segundo apresen-tou queda de aproximadamente 10,0%, mostrandoque, durante a ltima dcada, a poltica de salriomnimo sem dvida tem colaborado, mesmo que mo-destamente, para amenizar a desigualdade de renda.

    Grfico 11 Evoluo do PIB Per Capita e do Salrio Mnimo Real. Brasil: 2002-2012

    Fonte: Ipeadata.

    * PIB a preos de 2011. **Salrio mnimo real a preos de dezembro de 2011; delator INPC-IBGE.

    Grfico 12 Trajetria do Salrio Mnimo Real e do ndice de Gini. Brasil: 2002-2011

    Fonte: IPEA. Microdados das PNADs 2002-2011. Elaborao Prpria.

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    4.3 Evoluo do Salrio deAdmisso pelas Empresas

    De acordo com as estatsticas do CAGED, o valor realdo salrio de admisso pago pelas empresas aos tra-balhadores contratados tem se elevado (Grico 13).Em termos reais, entre 2003 e 2012 cresceu 39,3%

    uma cifra, entretanto, bem abaixo do crescimendo salrio mnimo real no mesmo perodo (73,6%).consequncia disto pode ser vista no Grico 14, sgundo o qual, o salrio de admisso tem se reduziddrasticamente em termos do salrio mnimo determnado por lei.

    Grfico 13 Evoluo do Salrio Mdio Real* deAdmisso e do Salrio Mnimo Real*. Brasil: 2003-2012 (em R$)

    Fonte: Lei N4.923/65 - MTE e Ipeadata.

    *Delacionados pelo INPC.

    Grfico 14 Razo do Salrio Mdio Real deAdmisso e do Salrio Mnimo Real. Brasil: 2002-2012

    Fonte: Lei N4.923/65 - MTE e Ipeadata. Elaborao Prpria.

    *Delacionado pelo INPC mdio de jan a dez/2012.

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    O que podemos inferir da evoluodos salrios de base no mercadode trabalho durante praticamentetoda a dcada de 2000? Por umlado, no de pode deixar de saudara importncia do crescimento dosalrio mnimo real para a distri-buio de renda, especialmenteporque ocorre nas classes de rendamais baixas, onde a pobreza incidecom maior intensidade. Alm disso,no contexto de um mercado de tra-balho aquecido, tal elevao causamenos danos ao emprego da popu-lao jovem e dos menos qualiica-dos, o que tambm desejvel.

    Mas, tudo tem um preo: poss-vel que este comportamento dossalrios de base tenha implicaespara os programas de treinamentoe formao proissional da forade trabalho. Valores muito altosdesses salrios tendem a inibir aspolticas de treinamento das em-presas, uma vez que para oferecer

    este benecio essas empresas tmde descontar do salrio do traba-lhador sua produtividade enquantoele recebe treinamento. Ademais,pisos salariais altos desestimulam

    os prprios trabalhadores a aceitarpolticas de treinamento, pois noas associam com ganhos de longoprazo.

    5 O Baixo Dinamismo da Produ-

    tividade do Trabalho

    Independentemente da fonte deinformaes ou da instituio que

    empreende a anlise, parece serunnime que a economia e o mer-cado de trabalho brasileiro de-monstraram, e continuam demons-trando, um baixo dinamismo dopadro de produtividade desde oincio da dcada de 2000. Esta temsido uma r ealidade no apenasem nvel agregado, como tambmem nveis setoriais, com raras ex-

    cees. Isto tem efeitos negativossobre a evoluo do PIB, e efeitosperversos em termos da competivi-dade internacional das empresas edos produtos brasileiros vendidosao exterior.

    A Tabela 3contempla a evoluodo valor mdio da produtividadedo trabalho entre 2000 e 2009para alguns dos grandes setoresda economia brasileira. No agre-gado o crescimento foi irrisrio,no passando de 0,9% na mdiaanual no perodo. Ainda assim, esteresultado positivo parece ter sidoassegurado pelo bom desempenhoda Agropecuria, na qual se insereo Agronegcio brasileiro, que temmostrado ser altamente produti-vo (crescimento mdio anual de4,3%). A Indstria apresentou re-sultado negativo (queda de 0,6%), eos servios apresentaram fraqus-simo crescimento na produtividade(0,5%).

    Tabela 3 Produtividade do Trabalho Grandes Setores. Brasil: 2000-2009 (a Preos de 2000, em mil R$)

    SETOR 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Variao

    mdia anual

    Agropecuria 3,3 3,6 3,7 3,9 3,7 3,7 4,0 4,4 4,8 4,7 4,3%

    Indstria Total 18,4 18,4 18,1 18,2 18,4 17,7 18,2 18,3 18,0 17,4 -0,6%

    Extrativa 69,0 70,8 74,9 76,9 73,2 79,4 83,9 80,5 83,5 81,1 1,8%

    Transformao 18,5 18,9 18,7 18,4 18,6 17,6 17,9 18,2 18,1 17,1 -0,9%

    Outras Indstrias 16,1 15,4 14,7 15,1 15,6 15,3 15,8 15,8 15,2 15,3 -0,6%Servios 14,8 14,7 14,5 14,4 14,5 14,7 14,5 14,9 15,4 15,5 0,5%

    Total 12,9 13,0 12,9 12,9 13,0 13,0 13,1 13,6 14,1 14,0 0,9%

    Fonte: Contas Nacionais do IBGE. Elaborao IPEA (2012 a).

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    Nota-se que a produtividade em termos absolutos

    maior no setor industrial, especialmente na Indstria

    Extrativa. Mas, se calcularmos a razo entre a produ-

    tividade industrial e as demais, veriicaremos que o

    diferencial vem se estreitando. Por exemplo, a relao

    entre a produtividade industrial e a produtividade nos

    Servios, que era 1,24 em 2000, se reduziu para 1,12

    em 2009.8

    Ao aprofundarmos a anlise da produtividade no set

    industrial nos deparamos com uma situao aind

    mais dramtica. Com osdados da Pesquisa Industri

    Mensal (PIM) do IBGE foi elaborado o Grico 15, qu

    contm uma comparao entre o ndice de produtiv

    dade industrial e a evoluo da folha salarial real. resultado dessa comparao assustador: enquan

    a produtividade caiu -0,2%, entre 2001 e 2012, a folh

    de pagamentos real foi elevada em 35,0%(!).

    Grfico 15 Evoluo dos ndices de Produtividade* e da Folha dePagamento Real no Setor Industrial. Brasil: 2001-2012 (2001=100)

    Fonte : PIM/IBGE. Elaborao prpria.

    *Produtividade deinida pela razo da produo sica industrial e do pessoal ocupado assalariado.

    Muitos comentrios poderiam ser realizados a partirdeste resultado, mas o mais importante que isto re-presenta uma forte elevao dos custos unitrios dotrabalho, uma vez que, ceteris paribus,estes so medi-

    dos pela relao entre os salrios, que esto crescendomuito, e a produtividade do trabalho que, na melhordas hipteses, est estagnada no setor industrial.

    A consequncia deste fato que, desconsiderandooutros fatores como cmbio, problemas de infraestru-

    tura etc., isto representa mais um elemento de qued

    nos padres de competitividade da indstria nacion

    no cenrio internacional. Comparativamente a outr

    pases, a produtividade do trabalho no setor industri

    brasileiro menor que a maioria de seus competid

    res, conforme mostra o Grico 16.Como resultado,

    Pas tende a apresentar um custo unitrio do trabalh

    maior relativamente aos seus concorrentes direto

    perdendo competitividade no cenrio internacional

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    Grfico 16 Produtividade do Trabalho na Indstria em Pases Selecionados(Mdia 2000 a 2010 - US$)

    Fonte: Elaborao prpria com base nos dados do Banco Mundial e OIT.

    Obs: Valor adicionado na indstria (em dlares de 2000) dividido pelo nmero de trabalhadores na indstria.

    6 Sntese Conclusiva

    Este texto realizouuma retrospectiva da evoluo e

    das transformaes do mercado de trabalho brasileiro

    na primeira dcada do sculo XXI. Como concluso

    geral, a despeito da volatilidade do crescimento econ-

    mico e dos nveis baixos de variao do PIB, o mercado

    de trabalho teve um desempenho muito bom, com

    elevao contnua do nvel de ocupao, forte recu-

    perao do emprego formal, reduo do desemprego

    aberto e elevao dos rendimentos reais, em especial

    o salrio mnimo, culminando esses resultados por

    promover uma redistribuio de renda, especialmente

    nas camadas de baixa renda. Como aspectos negativos,

    houve a elevao das taxas de rotatividade e o baixo

    dinamismo da produtividade do trabalho.

    Como resultado dos movimentos da PEA, e do ritmode elevao da ocupao total, tem se veriicado umacontnua queda da taxa de desemprego aberto, desdeo incio dos anos 2000. Junto com esta queda houve re-duo do tempo mdio de procura por trabalho quebeneiciou trabalhadores e empresas e tambm donvel de desalento, indicando maior coniana na recu-perao do mercado de trabalho. H um fato negativoporm, na queda do desemprego. Uma vez que com oaumento da formalizao e da taxa de rotatividade se

    elevaram fortemente os gastos com seguro-desempre-go, criou-se uma situao paradoxal na qual a reduodo desemprego promove uma presso nas contas p-blicas quando o esperado seria o alvio.

    A elevao dos patamares de rotatividade deve-setanto persistncia de fatores institucionais que a

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    promovem (FGTS e sua multa, avisoprvio etc.) quanto ao aumentodo emprego formal que coloca umcontingente maior de trabalhado-res em situao de vulnerabilidadepara serem dispensados ou se de-mitirem. Por outro lado, uma dasrazes para esse contnuo aumentodos nveis de rotatividade se refereao prprio crescimento bastantedesigual do emprego formal entreos gra ndes setores de atividadeeconmica, com a prevalncia demaiores ndices de crescimento exa-tamente naqueles setores que maispromovem a rotatividade, como porexemplo, a Construo Civil.

    A realidade salarial tem sido com-patvel com o que se veriica nummercado de tr abalho aquecido,revelando uma elevaodos prin-cipais indicadores de salrios erendimentos. Em especial, consta-tou-se um elevado nvel de cres-cimento real dos pisos salariais

    da economia salrio mnimo esalrio de admisso. Alm disso,constatou-se que os rendimentosreais dos grupos informais repe-tem uma tendncia histrica decrescer mais do que os salrios domercado formal.

    Uma consequncia desses ganhossalariais, no contexto de um mer-

    cado de trabalho aquecido tem sidouma redistribuio de renda nasfaixas mais baixas da distribuio.De fato, tem se observado umaqueda do ndice de Gini de apro-ximadamente 10,0% na dcada de2000.

    Parece ser unnime o fato de que aeconomia e o mercado de trabalhobrasileiro revelam uma realidademarcada por baixo dinamismo dospadres de produtividade gerale setorial. Isto nos parece tantomais grave quando as estatsticasmostram que, no setor industrial,no contexto de uma produtividadedo trabalho estagnada se observaforte crescimento da folha real desalrios, causando presso altistanos custos unitrios do trabalho.Isto tem efeitos negativos sobre aevoluo do PIB, e efeitos perversosem termos da competividade inter-

    nacional das empresas e dos produ-tos brasileiros vendidos ao exterior.

    O que podemos concluir em termosde perspectivas para o mercado detrabalho brasileiro?9Se a dcadafoi de resultados bastante favor-veis, o mesmo no se pode airmardo futuro. Apesar de termos ummercado de trabalho prximo do

    pleno emprego, mesmo na presenade um PIB padecendo de inaniono podemos fugir de uma verdadeabsoluta sobejamente conhecida:ser sempre a atividade econmi-ca quem conduzir os rumos domercado de trabalho. Dentro destalgica no so boas as perspectivasdo mercado de trabalho.

    Numa tica de curto prazo, o go-

    verno parece estar lertando com ainlao, adotando polticas tpicaspara combat-la. Mas, a persistn-cia de nveis de inlao nos limitespode ser um jogo perigoso, e aospoucos vai levando a populao aodescrdito do controle da mesma

    pelo governo. No obstante a maisolidez dos fundamentos econmcos e das instituies brasileiraatualmente a realidade dos preno Pas de uma cultura de baixinlao, e crescer um dgito teum efeito muito mais devastadodo que se imagina. Se a inlafugir ao controle, os impactos ngativos no mercado de trabalhlogo se faro sentir.

    Numa perspectiva de longo praz

    a situao parece ser ainda ma

    grave. O modelo instalado desd

    2002 foi o de transferncia de rend

    para as classes consumidoras, pbres ou classe mdia, muito ma

    sob a tica de perpetuao de um

    ilosoia de poder do que da constr

    o de uma nao verdadeiramen

    distributiva. Resolveu-se, com br

    lhantismo, o problema cotidiano d

    pobres, mas pouco se fez para um

    erradicao, de fato, da pobreza.

    Em outras palavras, promoveu-um aquecimento de demanda, mno se criaram as condies da epanso da oferta, a qual se faz pmeio de investimentos em todos setores da economia. Ao contrrihoje se observa uma perda de dinmismo do j parco nvel de investmentos, o que compromete bastate o mercado de trabalho no Padas geraes de hoje e do futuro.

    preciso sair das indeinies ncampo das polticas econmicatirar um pouco de seu vis ideolgico que contempla mais a cultudo pedinte do que premiar o empreendedor que gera emprego

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    temas de economia aplicada

    preciso afugentar o medo e as

    incertezas que t m impedido o

    Brasil de ter coragem de investir

    em nveis compatveis com as ne-

    cessidades de sua populao.

    Referncias

    BNDES. Decompondo a produtividade bra-sileira entre 1995 e 2008.Rio de Janeiro,maio 2012. (Viso do DesenvolvimentoN101).

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    do trabalho no Brasil.Braslia: Ipea, ago.2001. (Texto para discusso n.814).

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    CHAHAD, J.P.Z. Flexibilidade no mercado detrabalho, proteo aos trabalhadores e

    treinamento vocacional da fora de tra-

    balho: experincia da Amrica Latina eperspectivas (anlise do caso brasileiro).Project Document, N246 (LC/W, 246),Santiago, Chile, Economic Commissionfor Latin America and the Caribbean(ECLAC), 2009.

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    ______. Consideraes sobre o pleno empregono Brasil.Rio de Janeiro, fev. 2012b. (Co-municado n. 135).

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    PASTORE, J. Emprego- conjuntura e perspec-

    tivas.6 Reunio ordinria: Conselho deemprego e relaes do trabalho. Fecom-rcio. So Paulo, dez. 2012.

    RAMOS, C.A.; CARNEIRO, G.C.Os Determi-nantes da rotatividade do trabalho noBrasil: instituies X ciclos econmicos.Nova Economia,v. 12, n. 2,Belo Horizonte,p. 31-56, jul.-dez. 2002.

    1 Este artigo foi elaborado para o Boletim In-formaes FIPE. Abordar, com esta sequn-cia, na sua integralidade, o comportamentodos principais indicadores do mercado detrabalho brasileiro, a saber, demograia,fora de trabalho, emprego, informalidade,desemprego, rotatividade da mo de obra,rendimentos reais e produtividade do tra-balho. Como mencionado na edio anteriordeste boletim, foi dividido em duas partes: aprimeira parte, j publicada, contemplou osaspectos demogricos, a fora de trabalho eo emprego. A segunda parte, que ora se pu-blica, abordar o desemprego, a rotatividadeda mo de obra, os rendimentos do trabalho,

    incluindo o salrio mnimo, e os padres deprodutividade do trabalho. Lidas em seuconjunto, estas duas partes fornecero aoleitor um amplo panorama da evoluo domercado de trabalho, suas mudanas e suasperspectivas futuras. Texto enviado parapublicao em maio de 2013.

    2 No decorrer deste texto sero utilizadossomente dados secundrios, obtidos a

    partir das fontes de informaes que foremmencionadas, tabulados para as inalidadesespecicas de cada tpico analisado, ouento extrados diretamente da bibliograiaconsultada.

    3 No momento da elaborao deste texto, osdados da PNAD 2012 ainda no se encontra-

    vam disponveis ao pblico usurio.4 Esta anlise deve ser entendida com res-

    salvas. Ainda que o desalento possa, de fatoestar caindo em face da situao atual domercado de trabalho, o IBC-Br refere-se aum indicador nacional, enquanto o indicador de desalento contempla apenas reasmetropolitanas.

    5 Do ponto de vista estatstico, a mensuraoda taxa de rotatividade obtida do quo-ciente entre o menor valor entre admitidose demitidos e a variao do estoque de tra-balhadores no perodo em considerao. Ver

    Chahad e Macedo (1985) e DIEESE (2012)

    6 Ver, entre outros, Macedo e Chahad (1985)DIEESE (2012) e Gonzaga (2003).

    7 Devemos lembrar que em 2002 a PME sofreuuma reestruturao metodolgica, o quediiculta a utilizao de dados anterioresa este ano. Dada a sua importncia comofonte de dados para mostrar a evoluo dossalrios no contexto nacional, optamos porela, apesar desta restrio.

    8 Isto signiica que est ocorrendo umaconvergncia do nvel de produtividade dos

    macrossetores menos produtivos (Serviose Agropecuria) para o macrossetor maisprodutivo (Indstria), convergncia estano entanto, decorrente da queda da produ-tividade deste ltimo, em vez de estar as-sociado a taxas de crescimento superioresdos primeiros em relao Indstria. (IPEA2012a, p. 4). Sobre os padres de produtivi-dade do trabalho na economia brasileira vertambm BNDES (2012) e IEDI (2012).

    9 Sobre cenrios e perspectivas brasileirasver, entre outros, Pastore (2012) e FUN-DAP(2012).

    (*) Professor Titular da FEA-USP e Pesquisa-

    dor da FIPE. (E-mail: [email protected])

    (**) Aluna do curso de graduao em Cincias

    Econmicas da FEA-USP e Estagiria de

    Pesquisas na FIPE