o trabalho informal no brasil: um resgate histÓrico

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O TRABALHO INFORMAL NO BRASIL: UM RESGATE HISTÓRICO *TÂNIA MARY BETTIOL Resumo: O artigo aqui apresentado integra uma pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE) no ano de 2009. Essa proposta buscou através do conteúdo estruturante; “O trabalho”, inserido no currículo do ensino médio Estado do Paraná (SEED-PR, 2008) possibilitar aos educandos a compreensão do trabalho na contemporaneidade através da perspectiva histórica. Considera-se por essa análise que ao selecionar temas ou conteúdos a ser estudados pelos alunos têm que se privilegiar a análise da experiência humana, pessoal, a compreensão das mudanças, as transformações que ocorrem na sociedade, destacando-se sempre, a análise das superações dialéticas. Desta forma, para a compreensão do trabalho informal nos dias de hoje, buscou se um “resgate” sobre as raízes históricas da informalidade no Brasil. O objetivo dessa pesquisa foi proporcionar aulas que possibilitasse fazer elos de reflexão entre realidade do aluno, e a comunidade escolar. Objetivou-se também aos estudantes do ensino médio, interpretar, analisar e pensar historicamente, partindo de um estudo sobre o trabalho, considerando o momento atual, e as condições de trabalho praticadas por seus pais, muitos vítima do “desemprego aberto”. Entender o processo histórico dentro das estruturas do trabalho que tem levado às questões atuais na (des) organização do trabalho informal. Assim, conclui-se que as demandas capitalistas além de excluir pessoas do mercado de trabalho classificado como estruturado\formal, têm criado ideologias para justificar essa condição. *Professora graduada em história pela Universidade Estadual de Londrina, mestre em educação pela UNESP/Marília. Atua no ensino superior na disciplina da história da educação. Professora de história no ensino médio da rede pública Estadual na cidade de Cascavel – PR. Onde desenvolveu o projeto PDE- PR 2009, discutindo questões contemporâneas ligadas a educação e ao mundo do trabalho. Palavras chave: Trabalho, Trabalho informal, Empregabilidade, Empreendedorismo. Introdução O artigo aqui apresentado integra uma pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE) no ano de 2009, no Colégio estadual professora Marilis Faria Pirotelli – Cascavel - Pr. Essa proposta buscou através do conteúdo estruturante; “O trabalho”, inserido no currículo do ensino médio Estado do Paraná (SEED-PR, 2008) possibilitar aos

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O TRABALHO INFORMAL NO BRASIL: UM RESGATE HISTÓRICO

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  • O TRABALHO INFORMAL NO BRASIL: UM RESGATE HISTRICO

    *TNIA MARY BETTIOL

    Resumo:O artigo aqui apresentado integra uma pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paran (PDE) no ano de 2009. Essa proposta buscou atravs do contedo estruturante; O trabalho, inserido no currculo do ensino mdio Estado do Paran (SEED-PR, 2008) possibilitar aos educandos a compreenso do trabalho na contemporaneidade atravs da perspectiva histrica. Considera-se por essa anlise que ao selecionar temas ou contedos a ser estudados pelos alunos tm que se privilegiar a anlise da experincia humana, pessoal, a compreenso das mudanas, as transformaes que ocorrem na sociedade, destacando-se sempre, a anlise das superaes dialticas. Desta forma, para a compreenso do trabalho informal nos dias de hoje, buscou se um resgate sobre as razes histricas da informalidade no Brasil. O objetivo dessa pesquisa foi proporcionar aulas que possibilitasse fazer elos de reflexo entre realidade do aluno, e a comunidade escolar. Objetivou-se tambm aos estudantes do ensino mdio, interpretar, analisar e pensar historicamente, partindo de um estudo sobre o trabalho, considerando o momento atual, e as condies de trabalho praticadas por seus pais, muitos vtima do desemprego aberto. Entender o processo histrico dentro das estruturas do trabalho que tem levado s questes atuais na (des) organizao do trabalho informal. Assim, conclui-se que as demandas capitalistas alm de excluir pessoas do mercado de trabalho classificado como estruturado\formal, tm criado ideologias para justificar essa condio.*Professora graduada em histria pela Universidade Estadual de Londrina, mestre em educao pela UNESP/Marlia. Atua no ensino superior na disciplina da histria da educao. Professora de histria no ensino mdio da rede pblica Estadual na cidade de Cascavel PR. Onde desenvolveu o projeto PDE- PR 2009, discutindo questes contemporneas ligadas a educao e ao mundo do trabalho.

    Palavras chave: Trabalho, Trabalho informal, Empregabilidade, Empreendedorismo.

    Introduo

    O artigo aqui apresentado integra uma pesquisa desenvolvida dentro do

    Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paran (PDE) no ano

    de 2009, no Colgio estadual professora Marilis Faria Pirotelli Cascavel - Pr.

    Essa proposta buscou atravs do contedo estruturante; O trabalho, inserido no

    currculo do ensino mdio Estado do Paran (SEED-PR, 2008) possibilitar aos

  • 2educandos a compreenso do trabalho informal na contemporaneidade atravs

    da perspectiva histrica.

    oportuno salientar aqui as condies encontradas para a concretizao

    dessa proposta. Apesar da contemporaneidade que trata a discusso, a

    preocupao maior estava centrada no que poderia ser a falta de interesse dos

    alunos no tratamento ao tema, desta forma, era necessria uma interao dos

    mesmos para que o projeto se concretizasse com o xito esperado.

    O primeiro passo foi ento a aplicao de um questionrio com as turmas

    de ensino mdio, para verificar quais teriam o perfil mais prximo, do que se

    havia planejado; alunos ou pais envolvidos em atividades denominadas de

    informais.

    Por isso algumas questes foram estabelecidas no sentido de investigar

    se sabiam o que era trabalho informal, se conheciam pessoas prximas inseridas

    nessa forma de trabalho, se entendiam o aumento dessa atividade nos dias

    atuais, se possuam interesse num estudo com essa temtica, etc. De posse

    dessa delimitao ocorreu escolha de turmas e a metodologia a ser aplicada.

    Assim, cabe ressaltar que as condies materiais se ligam com a

    metodologia, que so imprescindveis para o desenvolvimento de qualquer projeto

    que se desenvolva junto aos alunos, dessa forma buscou-se uma metodologia

    interativa no desenvolvimento do trabalho e na explanao da temtica.

    Nesse sentido chamam-se de metodologia interativa aulas acompanhadas

    de leituras e discusso em grupo, o que levou por sua vez ao aprofundamento na

    compreenso e entendimento do tema. Para isso o uso da TV pendrive1 foi sem

    dvida facilitadora para o encaminhamento do projeto, como esse um tema de

    abordagem atual, os vdeos trabalhados com os alunos foram baixados do

    Yotube, assim bem como, alguns textos que nortearam as discusses propostas

    em sala de aula, muitos localizados em sites na internet.

    Outro ponto facilitador no que tange s condies materiais, que o

    colgio j mencionado, conta com um aparelho multimdia, o qual foi utilizado

    todas s vezes que a apresentao se efetivou a um grupo maior de pessoas, foi

    o caso, por exemplo, da apresentao do projeto a comunidade escolar.

    1 TV. Padronizada e disponibilizada por todas as escolas da rede Estadual de Educao no Estado do Paran.

  • 3 H que se salientar tambm as dificuldades encontradas na

    materializao da proposta, a principal ficou por conta da falta de estudos

    estatsticos atuais sobre a informalidade do trabalho em nossa cidade (Cascavel).

    Um dos pontos que se buscava no tratamento ao tema, e no desenvolvimento do

    projeto era o levantamento de questes locais sobre o trabalho informal.

    Observou-se que no h a preocupao ou interesse de estudos sobre

    esse tema por parte de organismos e entidades locais. Isso foi ruim no sentido

    que o projeto proposto abarcava uma discusso da informalidade local\municpio.

    O que se pretendia, inicialmente, era ndice e dados sobre essa atividade de

    trabalho, muito acentuada no municpio, para um comparativo com dados

    nacionais.

    Sem a obteno desse material especfico referente a ndices, percentuais,

    e registros da informalidade em nossa cidade consideramos que, essa anlise

    como parte da pesquisa ficou comprometida.

    Assim, foi possvel verificar tambm que o tema apresenta poucas

    pesquisas at o presente momento, e que a correlao histrica da informalidade

    do trabalho no Brasil, na perspectiva ontem e hoje, muito pouco estudada. Os

    autores encontrados que discutem a questo, so na sua maioria economistas, e

    nos revelam problemas ligados com a anlise do pensamento econmico, e no

    histrico.

    Nesse sentido se observou que esse setor aparece como uma espcie

    de contraponto modernidade, ao setor moderno da dinmica econmica, muitos

    autores ou pesquisadores, sequer abordam o setor de subsistncia ou informal

    como algo digno de anlise.

    O que se observou nesse aspecto na verdade, que o setor classificado

    como setor informal, sempre colocado como forma negativa no mbito da

    anlise econmica, por esse estar situado a margem do processo, e no ser

    ncleo estruturante da dinmica capitalista

    Assim, muitos dos autores referendados nesse trabalho so

    pesquisadores do campo das cincias econmicas, e cincias sociais.

    Por essa razo o trabalho desenvolvido junto aos alunos foi no sentido de discutir

    a histria da denominada informalidade no pas, no s por acreditar que o

    assunto relevante, mas tambm por que se sentiu a necessidade de um estudo

    que contribui - se para a anlise histrica, onde passado\presente pudesse ser

  • 4analisado, levando assim a compreenso dos problemas atuais do nosso

    cotidiano, vinculado ao trabalho informal.

    Considerando todos esses pontos como fundamentais, partiu-se ento,

    de um estudo sobe as origens do trabalho informal no Brasil, onde foram

    pontuados os sujeitos histricos e sociais, e suas implicaes nesse processo.

    A preocupao primeira foi abordar as origens do trabalho informal

    traando sua construo histrica, permitindo reflexes sobre o problema que se

    caracteriza com maior intensidade nos dias atuais.

    Acreditamos que esta discusso se torna importante, na medida em que o

    aumento do trabalho informal na atualidade tem produzido caractersticas que

    apontam para um novo modelo de trabalhador, necessrio para compor os novos

    quadros produtivos, onde a (con) formao humana, passa pelo discurso da

    empregabilidade ou do empreendedorismo.

    Questo essa observada no decorrer das discusses junto aos alunos,

    quando os mesmos se referiam condio informal de trabalho de seus pais ou

    conhecidos, pontuava sempre que esses eram donos de seus prprios negcios,

    no possuam patro. Assim a ltima discusso feita se objetivou entender ou

    ampliar essa questo referente empregabilidade ou empreendedorismo.

    Conceituando informalidade

    O que se caracterizou pela primeira etapa do projeto foi seguida da

    apresentao de um texto onde se abordou o conceito e definio do termo

    informalidade.

    O uso da expresso trabalho informal tem suas origens na frica segundo

    Noronha (2003), Souza Filho (2004). Em um estudo realizado pela (OIT) no

    Programa Mundial de Emprego em 1972, o termo aparece de forma particular nos

    relatrios a respeito das condies de trabalho em Gana e no Qunia. O ponto de partida de exame e classificao do trabalho informal da OIT a unidade econmica, caracterizada pela produo em pequena escala, pelo reduzido emprego de tcnicas e pela quase inexistente separao entre o capital e o trabalho. Tais unidades tambm se caracterizariam pela baixa capacidade de acumulao de capital e por oferecerem empregos instveis e reduzidas rendas. (SOUZA FILHO, 2007 p.5).

  • 5 Esse termo segundo autores analisados como Jatob (1990), Cacciamalli

    (1983) foi cunhado para retratar uma sociedade que no era tipicamente urbana e

    industrial. A propsito, o termo tem sido usado a despeito disso para descrever

    uma ampla gama de situaes urbanas e industriais, assim bem como para

    classificar e mensurar por meio de metodologias diversificadas de institutos de

    estatsticas, nacionais e internacionais.

    Assim, verificou se que no Brasil, o entendimento popular de trabalho

    formal" ou "informal deriva da ordem jurdica, segundo Souza Filho (2004). Essa

    derivao comeou no incio do sculo XX com a implantao do corporativismo

    da era Vargas e se estendeu entre as dcadas de 1930 e 1940, surgindo o

    binmio de formalidade e informalidade no cenrio nacional.

    O que foi interessante na abordagem desse texto, que os autores acima

    citados, trouxeram as origens histricas do termo informalidade, entendimento

    esse que no Brasil foi pouco a pouco construdo no cenrio nacional a partir do

    inicio do sculo XX, no governo de Getlio Vargas.

    Cabe ainda salientar que para Noronha (2003) a obscuridade desse

    conceito apontou a insuficincia de vises que identificam informalidade como

    algum tipo de pobreza ou que no distinguem prticas criminosas (como por

    exemplo, a venda de produtos ilegais) ou de outras situaes ilegais no

    criminosas ou no previstas pela lei. (NORONHA, 2003 p.116).

    Outra observao importante inserida nesse universo conceitual so as

    vrias expresses como; setor informal, atividade informal, setor no estruturado,

    setor de subsistncia, utilizadas pelos diferentes autores pesquisados para

    classificar a fora de trabalho que engloba os trabalhadores no inseridos nas

    relaes ditas assalariadas, ou seja, aqueles que se dedicam ao trabalho

    autnomo, ou atividades de pequena escala de produo de bens de servio,

    assalariados no declarados, sem remunerao determinada.

    Dessa forma abriu-se uma investigao posterior, que se relaciona com as

    origens histricas do trabalho informal no Brasil. Quando e como e em quais

    condies ele se inicia, dessa maneira observou-se que era relevante a

    continuidade da discusso, mas agora com foco para a histrica da formao do

    nosso mercado de trabalho informal.

    Por isso viu-se a necessidade na elaborao de um segundo texto, esse

    agora com abordagem histrica da formao do trabalho no Brasil, cujo objetivo

  • 6se restringia na compreenso da organizao histrica da informalidade no pas.

    A abordagem do referido texto compreendeu outra etapa do processo,

    amarrando a discusso ao primeiro texto.

    Para diversificar as etapas de aplicao entre o primeiro texto j

    mencionado, e o segundo texto que ainda seria trabalhado, foi apresentado aos

    alunos um vdeo: As caras da informalidade presente no site do Yotube.

    Esse vdeo retrata as vrias faces caras da informalidade no pas, onde

    os sujeitos histricos so brasileiros desempregados, estudados ou no que esto

    nas ruas vendendo algo para sobreviver. Ele relata uma realidade paulistana, mas

    que trs situaes que esto presentes no cotidiano de qualquer cidade brasileira

    de mdio porte.

    Esse vdeo nos possibilitou ampliar a discusso com relao realidade

    do mercado de trabalho no Brasil nos dias de hoje, no sentido da escassez da

    oferta ou oportunidades de emprego. Tambm mostra que as caras da

    informalidade so jovens, pessoas de meia idade, pessoas idosas, ou dizendo de

    outra forma, a falta de oportunidades hoje est presente para qualquer faixa

    etria.

    Essa realidade brasileira mostrada nesse vdeo mexeu com os alunos,

    no sentido que eles foram chamados a uma discusso, conseguiu se assim um

    objetivar uma provocao, pois arrolou uma discusso para alm do vdeo, onde

    questes como; educao, desemprego, processo de globalizao de

    urbanizao, todos com elos no processo do desemprego e da informalidade,

    foram permeados pela discusso.

    Uma observao que se fez presente nessa etapa, foi forma assimilada

    por alguns alunos no que tange a organizao formal do trabalho propriamente

    dito. Alguns tiveram uma identificao direta com algumas falas proferidas pelos

    sujeitos participantes do vdeo, esses quando indagados sobre sua condio de

    vendedor de rua ou ambulante, respondiam que eram autnomos, no

    possuam padro, e nem horrio especfico de trabalho, situao essa

    interpretada por alguns alunos como algo benfico.

    Essa questo traduzida como o auto emprego ou patro de si mesmo

    so questes que carrega mecanismos ideolgicos de convencimento s classes

    trabalhadoras, isto porque sustenta a teoria de que o individuo capaz de

    construir uma atividade remunerada na sociedade sem empregos.

  • 7 Dessa forma seria necessrio trabalhar essas questes para um real

    entendimento desse discurso, assunto esse que foi abordado no fim das etapas

    da implantao do projeto, porque requeria novas anlises e consequentemente

    novas leituras.

    O segundo texto trabalhado embora no tenha sido a continuidade do

    primeiro, se complementou a ele de certa forma. As discusses geradas sobre o

    conceito de informalidade levaram aos questionamentos sobre a questo histrica

    do trabalho informal no pas.

    A informalidade do trabalho no contexto histrico

    necessrio admitir que para uma abordagem histrica do trabalho

    informal no Brasil, considera se de forma intrnseca o desenvolvimento do nosso

    mercado de trabalho, que s no inicio do sculo XX comeou a se desenvolver no

    sentido moderno do termo, ou como forma de predomnio de produo de bens

    de servios, por essa razo as linhas gerais desse segundo texto foram norteadas

    pelo processo de formao do nosso mercado de trabalho.

    O texto elaborado; As origens histricas da informalidade no Brasil foi

    estruturado na seguinte periodizao histrica: perodo escravista que perpassa

    pelo perodo colonial e imperial e ps-abolio at os anos de 1930, e por fim, o

    perodo mais recente da nossa histria que compreende os anos 1930 aos dias

    atuais.

    Para a abordagem desse texto foi preciso duas aulas em funo da

    quantidade de dados e informaes pertinentes a histria da formao do nosso

    mercado de trabalho, o que foi para muitos alunos algo novo, por conter

    informaes e dados sobre a questo do trabalho escravista nos perodos colonial

    e imperial que muitos disseram desconhecer.

    Dessa forma recorreu-se a autores como Furtado (1970), Gorender

    (1978). Theodoro (2004), Cardoso (1987), Florestan Fernandes (1975), autores

    que contriburam tanto para a elaborao da primeira parte do texto, como para a

    segunda quando se analisou o perodo mais recente da histria do nosso

    mercado de trabalho.

    A metodologia usada nessa fase para trabalhar o referido texto, foi

    modificada, com a finalidade de dinamizar a aula, atravs da necessidade de

  • 8mudana do ambiente fsico para a aprendizagem, que julgamos como algo

    benfico, e deve ser considerada. O aparelho de multimdia foi usado para a

    apresentao e explicao desse texto.

    O texto foi intercalado a imagens pertinentes a temtica, isso enriqueceu a

    apresentao, os alunos anotaram as dvidas e perguntas, que foram

    respondidas posteriormente ao trmino da explanao.

    Esse texto auxiliou no sentido de trazer a discusso histrica sobre as

    origens da nossa informalidade, discutindo a formao do trabalho no Brasil do

    perodo escravista aos dias atuais, passando pelos perodos importantes de (des)

    construo do trabalho formal no Brasil, explicando o inicio ou histrico da nossa

    informalidade.

    A segunda parte do texto que compreendeu outra aula, considerada

    tambm como outra etapa, correspondeu anlise histrica do perodo de 1930,

    aos dias atuais, mostrou o enfoque histrico no passado com elos no presente,

    salientando a construo do trabalho informal nesse ltimo sculo.

    Essa parte do texto mostrou que o perodo ou os anos 1930 foram

    marcantes, caracterizado por transformaes tanto no mbito econmico, como

    social, e poltico e pelo processo de urbanizao e modernizao da sociedade

    brasileira.

    Essa parte do texto fundamentada em autores como Bazzanella (1963),

    Prado Jnior (1960), Singer (1968) trouxeram informaes histricas importantes

    sobre o nosso mercado de trabalho no perodo analisado.

    Assim, Prado Junior (1960), faz referncia ao governo de Getlio Vargas

    no sentido que ele lanou a base estatal para a implantao da indstria. Por isso,

    se at os anos de 1920, a ao estatal era, sobretudo normativa, aps 1930

    temos a caracterstica intervencionista. Questo essa relevante dentro da

    discusso proposta.

    O texto apresentado trouxe tambm alguns ndices citados por

    Bazzanella (1963), o que enriqueceu a explanao, esse relativo fora de

    trabalho, ao desemprego e a industrializao no Brasil nos anos de 1940.

    Segundo o autor absoro da fora de trabalho e desemprego nos anos

    de 1940, constatou que nas 141 cidades com mais de 10.000 habitantes, e nas

    cidades das regies mais desenvolvidas, dos Estados de So Paulo e Rio de

    Janeiro, Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro), Paran, Santa Catarina e Rio

  • 9Grande do Sul, no havia desemprego. Mas, para as cidades das regies menos

    desenvolvidas, ele encontrou ndices de desemprego.

    Nessa direo Brando Lopes (1980) mostrou ndices de subemprego e

    desemprego no Brasil no ano de 1950. Utilizando-se de dados do Censo

    Demogrfico, esse pesquisador mostrou que a porcentagem de desempregados e

    subempregados em So Paulo naquele ano era de 16,1%, metade que se

    verificava em Salvador que era de 32,1% enquanto Belo Horizonte registrava

    27,4%.

    Essas questes foram enriquecendo a trajetria da anlise, porque

    precisvamos chegar ao contexto histrico mais recente, que se refere aos anos

    de 1940 a 1980, quando ocorreu o fenmeno da urbanizao, que resultou na

    proliferao de cidades e tambm no crescimento marcante da populao

    metropolitana, e consequentemente no acirramento do trabalho informal no pas.

    Como encerramento desta discusso seguiu-se uma atividade de

    interpretao e aprofundamento do texto. Essa correspondeu a uma relao de

    todas as informaes novas e desconhecidas pelos alunos, trazidas pelo texto, as

    quais deveriam ser destacadas.

    Na seqncia, conforme cronograma estabelecido foi apresentado outro

    vdeo que compreendeu duas aulas ou duas etapas de execuo, com o tema A

    informalidade do trabalho no Brasil Srie Brasil informal exibido pelo Jornal

    Nacional, Rede Globo (2007).

    Essa reportagem perfaz uma srie de seis vdeos que foram apresentados

    durante uma semana, pelo referido jornal no dia 23 a 28 de abril de 2007, todos

    com cinco minutos de durao. A apresentao desses vdeos foi importante

    porque possibilitou uma srie de discusses que se fez necessria na abordagem

    do tema. Trouxe informaes atuais e mostrou um Brasil clandestino informal

    que cresce aleatoriamente.

    Em uma aula foi exibido os dois primeiros vdeos, os quais tm uma

    abordagem condizente com a realidade brasileira, pessoas que trabalham sem

    garantias e sem direitos. A primeira reportagem dessa srie trouxe ndices

    importantes sobre a informalidade no pas, mostrou o que est se formando

    historicamente um pas quase clandestino que no existe oficialmente,

    segundo a reportagem.

  • 10

    Constatou se assim, percentuais importantes sobre a informalidade no pas,

    justificando essa clandestinidade, so dados que apontam que dos 47 milhes de

    trabalhadores brasileiros, 46,6% somam os que tm direitos, contra 53,4% de

    informais sem direitos e garantias.

    O que se confirma por sua vez com os dados verificados pelo Instituto de

    Pesquisa Econmica Aplicada (Srie Brasil informal 2007), que registrou em

    2005, o aumento de 34% da informalidade no pas.

    Questes essas pontuadas pelo o programa feitas por meio de entrevistas

    com pessoas que vivem da informalidade, trouxeram mais uma vez a identificao

    de alguns alunos com os sujeitos entrevistados e apresentados na reportagem.

    No primeiro vdeo mostrou pessoas na informalidade que possuem empresas

    que por sua vez empregam pessoas tambm na informalidade, essa situao foi

    identificada junto a familiares de alguns alunos.

    Outra situao com o mesmo teor citado acima, foi do trabalho domstico,

    ou melhor, dizendo o trabalho da diarista que classificado como informal.

    Situao essa presente no cotidiano de familiares e conhecidos de alunos

    inseridos nesse projeto. Nesse sentido o vdeo contribuiu para levantar a

    condio de desamparo social referente questo da aposentadoria a que esto

    sujeitas essas pessoas.

    Os outros dois vdeos apresentados em outra aula finalizaram essa etapa,

    na sequncia foi feito um debate, com as colocaes dos quatro vdeos exibidos,

    como forma de fechamento dessa atividade.

    O que se priorizou nesse debate; todos os pontos de identificao do aluno

    com a temtica mostrado no vdeo pelos sujeitos apresentados, a questo do

    desamparo que esto sujeitas essas pessoas, sem as garantias de um futuro, a

    questo das empresas que no registram seus funcionrios porque so

    clandestinas, e os informais que preferem essa condio a passar pela questo

    burocrtica vinculada a legalidade exigida pelas leis brasileiras na cobrana de

    altas taxas e tributos.

    Dessa forma a discusso tambm se estendeu sobre o papel do Estado

    nesse processo de trabalho. O Estado tem seu percentual de responsabilidade

    nessa questo conforme mostrado nesse vdeo.

    Um das questes era saber se os vdeos haviam contribudo para o

    aprendizado, se o contedo apresentado mostrou situaes novas, e se havia

  • 11

    contribudo de certa forma para um aprofundamento na questo na informalidade

    na atualidade. Afinal, a expectativa dos alunos se apresentava justamente com as

    questes atuais ligadas ao cotidiano.

    Foi nesse sentido a inteno dos vdeos nessa etapa, discutir questes do

    Brasil na atualidade, saber se o mesmo correspondeu com essa expectativa, era,

    portanto necessrio para dar encaminhamento posterior aos trabalhos.

    Assim, perante o debate ficou explcito que conseguiram absorver algo

    novo, quando questionados sobre o que acharam da srie exibida, a resposta foi

    positiva. Mas, fizeram colocaes sobre duas frases pronunciadas no vdeo, que

    consideramos ser importante mencion-las aqui.

    Uma delas se relaciona ao economista Jos Pastore, que diz que o

    trabalhador informal no est preparado para enfrentar trs incertezas na vida:

    envelhecer adoecer e morrer, pois segundo o economista a pessoa que

    envelhece, adoece e morre precisa ter garantias, e quem se encontra na

    informalidade no conta com garantias, e complementa dizendo que isso uma

    selvageria.

    A outra frase destacada foi a do socilogo Lauro Ramos. A Informalidade

    um mal dos pobres, o desemprego no mal dos pobres; quem pode se dar ao

    luxo de ficar desempregado quem tem uma fonte de renda; o pobre no fica

    desempregado ela cai na informalidade. Esses dois trechos do vdeo foram

    interpretados pelos alunos como realidade cruel.

    Mas h que se ressaltar que essa questo, ou melhor, essas frases

    pronunciadas levaram os alunos a uma reflexo social, foi benfica em funo do

    que anteriormente achavam positivo e j citado nesse texto, com relao ao auto

    emprego e ser patro de si mesmo presentes no contexto da informalidade,

    conseguiram perceber o que o economista Jos Pastore traduziu como

    selvageria que exatamente o desamparo social no qual esses sujeitos esto

    submetidos.

    Dessa forma reforou se a necessidade de fazer ainda que de forma

    breve, uma discusso acerca da ideologia do individuo empreendedor e do to

    famoso empreendedorismo discurso proferido na atualidade. Essa questo do

    desamparo social trazidos pela reportagem traduz a no contribuio

    previdenciria dos informais, discutida nas quatro reportagens que compreendeu

    os vdeos.

  • 12

    A prxima etapa a ser cumprida correspondia ao levantamento de dados

    sobre a informalidade em nossa cidade. Aqui se pretendia trabalhar com dados

    estatsticos reais condizentes com a realidade local, essa etapa estava proposta

    no cronograma, pretendia-se fazer uma ligao ou co- relao com o eixo maior

    que a informalidade no Brasil.

    Como j mencionado na introduo desse texto, o material pretendido no

    foi encontrado. Procurou-se junto a Prefeitura local, a Universidade (departamento

    de economia) e ao SEBRAE. Todos esses rgos disseram no possuir tais

    dados, alguns justificaram foi o caso do SEBRAE que se referiu a questo

    oramentria para tal pesquisa, a Universidade disse ser esse um tema no

    relevante para os pesquisadores da instituio, quanto a Prefeitura, essa no

    justificou.

    Perante a carncia de material local definiu se ento, essa etapa como

    um estudo de caso, ou melhor, um estudo sobre a informalidade no Paran. O

    texto utilizado foi pesquisado na internet Paran-online (2005) Paran registra

    reduo do trabalho informal

    Apesar de o texto apresentar a informao sobre a reduo da

    informalidade no Estado do Paran como algo positivo, observou-se que no

    Paran segundo o prprio texto, 66% das pessoas ocupadas na economia

    informal naquele perodo eram homens. Apontou tambm que mais da metade do

    total de pessoas ocupadas nesse setor possua o ensino fundamental incompleto

    e que apenas 5% no tinha nenhuma instruo ou menos de um ano de estudo.

    Das pessoas ocupadas na economia informal no Estado do Paran em

    2005, 37% esto na faixa etria de 25 a 39 anos e 31% tm entre 18 e 24 anos de

    idade. Assim a observao levantada, que h muito a se fazer em nosso Estado

    nesse sentido, nesse sentido tambm foram s outras observaes feitas no

    texto.

    Quando se percebe que a maior parcela da populao paranaense que

    se encontrava na informalidade naquele perodo no tem instruo, e que 37%

    so na sua maioria jovens entre 18 a 24 anos, em se tratando de rea urbana,

    encontram-se pessoas em busca do primeiro emprego, vale ressaltar que essa

    informao teve um sentido de maior importncia, observando que nessa faixa

    etria que se encontram pessoas em busca do primeiro emprego, ou melhor, os

    jovens.

  • 13

    A ltima etapa correspondente ao projeto se caracterizou como uma

    explanao da temtica a comunidade escolar. Para essa etapa a participao

    dos alunos no se restringiu somente as duas turmas de ensino mdio

    selecionadas para o projeto. Considerando o aluno do perodo noturno como

    aluno trabalhador e inserido no contexto do mercado de trabalho, esses foram

    convidados, assim como outras turmas do ensino mdio.

    Essa etapa foi caracterizada como trmino do projeto, onde foram

    conduzidas as questes mais atuais sobre a informalidade e sobre a questo do

    auto emprego caracterizadas no mbito do discurso conformista como

    empreendedorismo. Essa abordagem foi levada para o momento final, por

    acreditar que essa etapa se caracterizaria pelas ltimas consideraes, e

    abarcaria questes que esto postas a discusso na atualidade, por essa razo

    se estendeu a uma platia maior.

    A apresentao final desse trabalho foi preparada no multimdia, na juno

    texto imagem e som. As lminas para a apresentao do mesmo foram feitas

    obedecendo a uma sequncia histrica, mas, considerando primeiramente os

    problemas caractersticos dos anos noventa, que levou ao aumento da

    informalidade no pas. Assim essa explanao ficou dividida em duas partes.

    A primeira considerou os anos recentes de 1990 a 2000, onde se

    caracteriza as novas demandas no aumento da informalidade. Mostrou-se que os

    anos noventa foram marcados por alguns aspectos relevantes que contriburam

    por sua vez para o aumento do desemprego, e consequentemente para o

    aumento da informalidade.

    Derivam-se a partir disso o processo de globalizao econmica, a

    reestruturao produtiva da economia, o advento das novas tecnologias, as novas

    formas de relao entre o Estado e a sociedade civil, caracterizadas pelas

    prticas neoliberais, que provocaram mudanas significativas em toda a

    sociedade, e consequente alteraes na esfera do mundo do trabalho.

    Para o entendimento dessas questes foi feito um breve resgate histrico

    na efetivao desse processo, ou seja; os anos do ps-guerra 1945 a 1970. Esse

    perodo foi ento regulamentado por uma forma de organizao produtiva,

    denominada de taylorista-fordista. Esse modelo tinha por finalidade atender s

    demandas de trabalhadores e dirigentes a partir de uma clara definio de limites

  • 14

    entre aes intelectuais e instrumentais, determinando as atribuies de cada um

    nesse processo.

    Essa abordagem foi necessria para produzir um entendimento histrico

    sobre as mudanas verificadas em meados do sculo XX, que determinou a

    substituio do modelo taylorismo-fordismo que j no atendia s especificidades

    das demandas do processo produtivo. Esse modelo passa a ser drasticamente

    substitudo, perdendo espao para um novo paradigma, denominado de

    toyotismo, caracterizado pelas estruturas do modelo japons.

    Algumas informaes levantadas pelo Ministrio do Trabalho nos anos

    noventa, e citadas por Pochmann (2002), foram observadas, porque indicou uma

    grave crise do emprego assalariado naquele perodo com perda estimada de trs

    milhes de vagas a nvel nacional, esse dado foi destacado para fundamentar o

    que se apresentava.

    As questes discutidas estavam dentro do contexto da transio da dcada

    de noventa para o ano dois mil, assim baseou-se em dados de emprego e

    desemprego relativos a esse perodo. Foi o caso dos ndices de empregos

    levantado por Pochmann (2002).

    O autor nos mostra que nos anos noventa, do total de empregos formais

    destrudos, houve uma reduo estimada de 2,1 milhes de postos de trabalho

    durante a recesso do governo Collor (1990 a 1992), enquanto oitocentos e

    setenta e sete mil empregos desapareceram justamente quando a economia

    voltou a se recuperar, entre os perodos de 1993 a 1999.

    Derivou-se disso o encaminhamento dado as discusses com relao aos

    anos noventa, caracterizado como um dos perodos mais dramtico para a

    histria do mercado de trabalho no Brasil.

    Outro autor que subsidiou essa explanao foi Freitas (1997), que realizou

    um estudo especfico, na dcada de noventa sobre a informalidade no Brasil,

    verificou que o nmero de entrantes no mercado de trabalho correspondeu a

    uma informalidade que abarcou mais da metade dos trabalhadores, mostrando

    que a maioria dos postos de trabalho naquele momento estava vinculada ao setor

    informal.

    Dessa forma com o levantamento dessas questes a apresentao foi se

    desenvolvendo, e pontuando a nova situao que emergiu com a crise, e com a

  • 15

    reestruturao produtiva, que levou empresas a adotar programas de

    racionalizao, provocando a desverticalizao industrial.

    Essas informaes contriburam no sentido de esclarecer o que ocorreu

    com os empregos no pas a partir da dcada de noventa e o consequente

    aumento do trabalho informal.

    Nesse contexto as atividades informais no s recebem os trabalhadores

    sobrantes segundo Dedecca (1996), desse modelo moderno do processo

    produtivo, como so incorporados ao seu ciclo produtivo. Essa nova dinmica

    econmica segundo o autor alimenta o crescimento do setor informal, no sentido

    de for-lo a absorver os ex-assalariados de baixa qualificao, que iro compor o

    comrcio ambulante, os servios domsticos, ou sero estimulados a abrir seu

    prprio negcio.

    A partir dessa anlise o objetivo era retomar a questo sobre o

    empreendedorismo ou empregabilidade, que havia surgido no decorrer das

    discusses anteriores por isso no se perdeu de vista nessa anlise, que a forma

    de uniformizar a realidade dos pases em desenvolvimento faz parte do processo

    de expanso do capitalismo.

    Com essas novas demandas exigidas no mundo do trabalho, aumenta o

    desemprego a informalidade, criando uma (con) formao humana aos interesses

    do capital.

    Assim, a segunda e ltima parte da explanao se restringiu a explicao

    ao que se chamou de ideologia do empreendedorismo ou empregabilidade, considerao essa feita junto aos autores analisados, que caracteriza essa

    ideologia como face do trabalho informal.

    Foi observado nessa parte da explanao, que para alguns autores existe uma forma de uniformizar a realidade no que se refere ao processo de expanso

    do capital. Na realidade e a evoluo econmica demonstram que a formao

    profissional permanente tende a privilegiar uma referncia gerencial e

    economicista, subordinando prioritariamente os indivduos s exigncias da

    produtividade econmica (TADDEI, 1998, p. 354).

    Dessa forma como diz Taddei (1998) se atribui aos dispositivos de

    formao permanente a difcil tarefa que se caracteriza em tratar os problemas de

    reconverso, mobilidade e mutaes tecnolgicas, por isso segundo o autor que

  • 16

    cada vez mais recorrente abordar o problema da formao em termos da

    adaptao e reinsero do assalariado.

    Em razo disso, a empregabilidade veio legitimar uma realidade que

    passou a ganhar espao a partir da dcada de 1990. Relaciona-se com o

    mercado de trabalho no momento atual, foi definida como eixo fundamental no

    conjunto de polticas supostamente destinadas a diminuir os riscos sociais do

    desemprego, este traduzido como o grande problema do final do sculo passado

    e incio deste.

    Assim, tambm foi importante esclarecer no momento o conceito que se

    tem por empregabilidade. Para tal definio se utilizou o conceito de

    empregabilidade atribudo por Hirata (1996), que diz ter o significado da

    associao de uma poltica de seleo da empresa e implica transferir a

    responsabilidade da no contratao ou da demisso ao trabalhador.

    Um trabalhador no empregvel um trabalhador no-formado para o

    emprego, no competente, segundo a autora, o acesso ou no ao emprego

    aparece como dependendo da estrita vontade individual de formao, quando se

    sabe que fatores de ordem macro e mesoeconmicas contribuem decisivamente

    para essa situao individual. (HIRATA, 1996 p.10).

    Nesse contexto do mundo do trabalho, buscou se uma fundamentao

    no historiador Hobsbawm (1994), para explicar o que est ocorrendo hoje, com

    relao s mudanas nas relaes sociais.

    Essa questo analisada pelo autor nos mostra que as relaes sociais

    sofreram gradativamente, ao longo do sculo XX um deslocamento de sua

    referncia essencial do ns para o eu. Esse deslocamento se caracteriza hoje

    na centralidade absoluta do eu, podendo ser observado no projeto formulado

    pelo capital dentro do mercado de trabalho.

    Essa explicao foi pertinente para entender a questo da

    empregabilidade no sentido de que a noo de empregabilidade nada mais do

    que uma ideologia de adaptao de pessoas a uma sociedade sem emprego e

    sem transformao.

    Ela representa a contnua preparao do trabalhador na luta de se manter

    empregado, ou na perda deste a conquista por outro se faz pela sua prpria

    capacitao. Essa a condio do cidado trabalhador de se tornar empregvel

    num momento crtico em que se flexibilizam as relaes e condies trabalho.

  • 17

    Por essa razo a questo da empregabilidade tem sido defendida por certos

    setores sociais, e a idia passa ser comprada por aqueles que desconhecem

    suas origens. Com essa explicao se chegou onde se pretendia amarrar a

    questo levantada naquele primeiro momento, s consideraes feitas por

    autores que discute o assunto.

    O conceito e a noo de empregabilidade dessa forma entendido refora

    a necessidade de novos conhecimentos, impondo ao trabalhador a (re)

    qualificao para que possa ser continuadamente trabalhador, assim a construo

    da defesa da aquisio de treinamentos e o investimento em educao e

    formao, so elementos importantes no desenvolvimento social.

    Dessa forma o discurso dominante passa a integrar ideologicamente a

    noo do empreendedorismo ou auto-emprego patro de si mesmo uma

    alternativa em funo das altas taxas de desemprego e subemprego, criando

    assim, a empregabilidade como meio de legitimar um problema relacionado ao

    mercado de trabalho.

    O agravamento desse problema tipicamente urbano segundo Hirata

    (1996) deve, portanto, ser visto como produto da paralisao do nosso

    desenvolvimento e submisso s imposies internacionais no que tange uma

    poltica de abertura econmica.

    Essa ideologia que prega o auto emprego, o patro de si mesmo o

    empreendedor, est coerente com as propostas de flexibilizao das relaes

    de trabalho, vai direo de procurar ampliar o espao de convencimento do

    capital na (con) formao humana, na adaptao de pessoas a nova situao,

    facilitando assim a transferncia do nus dessa para os trabalhadores, em

    prejuzo ou conseqncia de sua prpria formao profissional.

    Portanto, feitas essas consideraes foi oportunizado um ltimo momento

    para as dvidas, perguntas e colocaes, as quais foram respondidas. Mas,

    perante a complexidade da temtica se observou que no h esgotamento do

    tema, discutir a questo da histria da informalidade no Brasil, perceber que a

    temtica se desdobra em outros estudos.

    Concluso: H que se considerar nesse estudo sobre a histria da informalidade do

    trabalho no Brasil, a existncia de aspectos de extrema contradio; urbanizao

  • 18

    acelerada acompanhada de forte concentrao da pobreza, as diferenas de

    renda e de acesso ao emprego formal ou setor estruturado que esta a cada dia

    mais difcil nos dias atuais. Por isso a identificao dos alunos com o tema.

    Observou se nessa identificao que as questes de abordagem atual

    derivadas na informalidade histrica, so resultados de uma desigualdade em

    processo, que se caracterizou com veemncia a partir da dcada de noventa,

    reproduzindo por sua vez os mecanismos historicamente constitudos.

    Expressando de outra forma, esse projeto buscou resgatar a

    historicamente o processo de formao do trabalho informal no Brasil, levando em

    conta as condies reais de vida dos sujeitos nele envolvido, os alunos. Em sua

    maioria pessoas que se no sobrevivem da informalidade, convive essa realidade

    de forma muito aproximada.

    A necessidade de aproximar a teoria estudada em sala de aula, com

    realidade praticada pelos sujeitos inseridos no processo histrico, foi objetivada

    desde o inicio da implantao do projeto at sua ltima etapa. Por isso os

    materiais e os recursos metodolgicos utilizados como textos, e vdeos, foram

    selecionados obedecendo a esse fim, e o fechamento do trabalho compreendeu

    um grupo maior de participantes, inseridos em nossa comunidade escolar.

    Com os problemas e condies agravadas na economia brasileira a partir

    de 1980, a desestruturao do mercado de trabalho foi uma realidade, assim

    como o desassalariamento, o desemprego, e a adoo das polticas neoliberais a

    partir de 1990, contriburam ainda mais para a precarizao dos empregos, e

    trabalho com carteira assinada.

    Essa realidade que permeada pelos sujeitos envolvidos no projeto, de

    forma direta ou no, foi detectada a partir da triagem para a escolha das turmas

    feita no inicio. A questo sobre o trabalho sem carteira assinada foi importante

    para o desenvolvimento das discusses e para o estudo que se realizou, visto que

    recorremos inclusive a autores que a priori no se pensava.

    Foram o caso das questes acerca do empreendedorismo ou patro de si

    mesmo, questes que abarcam ideologias quando o estudo se enquadra no elo

    capital-trabalho, que surgiram no decorrer das apresentaes no

    encaminhamento do projeto.

    Nesse contexto foi necessrio destacar historicamente o papel do Estado

    no processo de criao e consolidao de um mercado de trabalho no Brasil. H

  • 19

    que se considerar que ao abolir a escravido sem adoo de iniciativas

    complementares na absoro produtiva dos ex-escravos como mo-de-obra livre,

    o Estado estabeleceu as bases de perpetuao da excluso de parte da

    populao brasileira.

    Apesar de alguns esforos nesse sentido, a ao do Estado sobre o

    mercado de trabalho, sempre foi marcado pela idia do crescimento econmico,

    como nica poltica de emprego, assim conclui-se perante autores analisados que

    o Estado assumiu uma posio de co- responsabilidade no que se refere

    perpetuao das desigualdades e conseqncias, sendo o trabalho informal uma

    de suas vertentes.

    Destaca-se o papel das novas tecnologias, que permitem taxas de

    crescimento da produo, mas ao mesmo tempo em que diminui os postos

    correspondentes ao emprego formal. Essa realidade nos mostra a consolidao

    histrica presente na dimenso de uma sociedade em que o moderno o

    arcaico o informal sobrevivem em conjunto ou em uma convivncia funcional.

    No nosso caso o aumento das atividades informais atinge nveis elevados,

    permitindo a proliferao de discursos ideolgicos em que ser empreendedor, ou

    patro de si mesmo, ou melhor, trabalhar na informalidade uma realidade

    coerente com os dias de hoje, dado o aumento da automao industrial.

    Dessa forma o presente artigo no teve a pretenso de apresentar

    concluses acabadas sobre o assunto abordado, ao contrrio, intentamos mostrar

    que os problemas aqui abordados sobre a histria da informalidade do trabalho no

    Brasil, so questes discutveis que no se esgotam, e nem se fecham em

    concluses, mas precisam ser consideradas medida que esto subescritas em

    nossa histria.

    Acima de tudo conclu se que o conhecimento alcanado com esse estudo

    foi algo bilateral, ambas as partes foram beneficiadas nesse processo de estudo,

    permitindo visualizar como benfico um projeto onde se considera os sujeitos

    nele envolvidos.

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