o tabelão e a lupa - fábio reis

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  • 7/23/2019 O Tabelo e a Lupa - Fbio Reis

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    MESA REDONDA

    O Tabelo e a Lupa: teoria,

    mtodo generalizante e idiografiano contexto brasileiro (*)

    Fbio Wanderley Reis

    Seria provavelmente imprprio, num evento como este, pretender transformar as comunicaes a seebatidas em longas e abstratas discusses sistemticas de questes de filosofia das cincias sociais. Tal como enteosso objetivo, porm, ele envolve alguma avaliao das conexes entre as prticas correntes das cincias socrasileiras da atualidade e fundamentais questes terico-metodolgicas. Seria igualmente imprprio, portarescindir da referncia insistente a estas ltimas. Espero que a forma que acabei por dar a estas notas represente oluo satisfatria do dilema: comeando pela apresentao sucinta de traos que me parecem constaractersticas negativas de muito da produo brasileira do momento na rea (seo I), seguida do exame de ceonseqncias que da decorrem para a insero internacional das cincias sociais brasileiras (seo II), discueguir (sees III e IV) alguns problemas substantivos que correspondem a pontos de polmica real na atualidade uestes que mereceriam debate mais extenso do que tendem efetivamente a receber, procurando indicar atravs dmaneira pela qual uma postura terico-metodolgica adequada permite evidenciar os equvocos e deficin

    nvolvidos e eventuais possibilidades de avano. Na seo V esboo breve concluso. Na maior parte do textocordo com certa idia de diviso de trabalho que bem clara na composio de nossa mesa), tenho em mobretudo a cincia poltica brasileira, e minhas formulaes se dirigem antes de mais nada ao campo que recebeesignao acadmica. Creio, porm, que o que digo abaixo se aplica tambm ao campo da sociologia brasileiraerdade, sou muito pouco cioso da suposta fronteira entre as duas disciplinas, e entendo a cincia poltica cociologia da poltica. Por outro lado, a explorao dos equvocos e dos eventuais pontos fecundos de contato quo nas relaes entre as diversas disciplinas da rea certamente uma das importantes razes para a realizao d

    mesa-redonda.Um trao saliente da cincia poltica ensinada e produzida no pas continua a ser, em minha opinio, o de

    eficincias no que diz respeito a teoria e metodologia. (1)Por certo, a implantao da ps-graduao em cin

    ociais no Brasil se deu em seguida a certas revises de postulados e abordagens tradicionais da disciplina, ocorrobretudo nos Estados Unidos, e incorporao a ela de mtodos e tcnicas sociolgicas "modernas". O ensinortica da cincia poltica no pas sofreram os efeitos desses processos, com a nfase, durante algum tempo (marc

    mesmo por certas polmicas bastante vivazes, que a alguns de ns pareciam ento momentosas), no treinamentometodologia e tcnicas de pesquisa e nos esforos contemporneos de elaborao terica de natureza sistemmpiricamente orientada e com pretenses de cumulatividade. Dificilmente se poderia pretender, porm, que erspectiva tenha chegado a amadurecer efetivamente e a constituir-se em real ortodoxia entre ns. Ao contrrioofreu prontamente uma poderosa reao proveniente de diversas fontes, e - pondo de lado, por exemplesistncias suscitadas por parte de certas orientaes poltico-ideolgicas e as confuses correspondentes - paspecialmente significativo que j em meados da dcada de 70 um centro como o Iuperj, certamente um dos focoropagao da perspectiva em questo, tenha dado origem a um volume destinado a reagircontra importantes aspe

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    ela, o qual, apesar de grandemente equivocado em seus postulados, contou com a adeso receptiva de vrios noue pareceriam filiados a ela.(2)

    Em minha avaliao, a situao prevalecente envolve, como disse, deficinciasimportantes. E creio que

    onseqncia ou expresso bem clara de tais deficincias a feio historiogrfico-jornalstica que tendem a exibrabalhos executados sob o rtulo de cincia poltica.

    Com efeito, o trabalho emprico dos cientistas polticos brasileiros dificilmente se pode distinguir,

    reqncia, do trabalho que se suporia fosse prprio do historiador da poltica - exceto talvez pela precria qualid

    om as excees que sempre existem, da historiografia produzida, se tais trabalhos so avaliadosdo ponto de vistm especialista exigente. Afora os trabalhos que se ocupam em narrar e reconstituir, numa perspectiva diretamistoriogrfica, fatos do passado mais ou menos remoto, toma-se freqente uma espcie de "historiografiaresente", ou uma postura orientada pelo empenho de registro jornalstico dos eventos. Nos trabalhos de pesqorrespondentes, a perspectiva generalizante, ou a preocupao de apreenso sistemtica de regularidades que seapazes propriamente de explicar algum evento ou conjunto de eventos a qualquer titulo problemtico, intrigantenstigante (algum "grilo" ou problema analtico) se v substituda por uma orientao de pesquisa onde se definetema" recortado em termos concretos (como que um "pedao" da realidade: o PSD, os militares no ps-64, a polocial da Nova Repblica...) e se procura levantar "tudo" o que diga respeito a tal tema. As perguntas tpicas, explu implcitas, a orientarem tais trabalhos so do tipo o que? oucomo? ("o que aconteceu?" ou "como aconteceuunca do tipopor que?, e tipicamente o papel do pesquisador redunda em contar o que lhe contaram, ou o que leu

    ornais velhos ou documentos de algum tipo. A freqncia de trabalhos cujos ttulos contm datas ou nomes prprixpressiva da perspectiva: eles se referem seja a eventos especficos situados no tempo e no espao, seja mesmntidades particulares (este ou aquele partido, por exemplo). Pretende-se que a apreenso da "especificidade" ventos ou das entidades em questo um componente importante ou mesmo decisivo do esforo que se desenvo

    mas no se tem em conta que o especfico no seno a contracara do genrico e que, portanto, apreepropriadamente o especifico supe comparao e teoria.

    Nos casos em que se trata de temas da atualidadeou do passado recente (de certa forma mais " jornalsticos

    nspirao, portanto), tal perspectiva tende a exibir a lgica da investigao detetivesca, onde se tratade desvendoculto". Dois aspectos se podem assinalar em conexo com isso. Por um lado, do ponto de vista "substantivogica tende a associar-se, por razes bem bvias, com uma viso conspiratria doprocesso poltico, e algunsasos de estudos de maiorressonncia executados nessa tica consistem em revelar conspiraes. Poroutro lado, cperspectiva geral de que falo analiticamente pobre, no de admirar que a investigao jornalstica ou detetiv

    urja como modelo a ser seguido: nele, o fundamental no oenquadramento analtico adequado de determinenmeno ou o esclarecimento de seu carter de caso ouinstncia de uma regularidade que pode ser apreendidacal, mas antes o acesso fonte privilegiada (o informante bem situado, muitas vezes secreto, que "conta tudo"..ontrapartida a de que, dada a pobreza analtica, o interesse da investigao desenvolvida depeesproporcionalmente do interesse jornalstico ou detetivesco da "informao de cocheira" trazida. E aaturalmente, que este modelo de investigao, quando executado por cientistas sociais, tende a revelar menor intero que a investigao propriamente jornalstica: enquanto o jornalista se dedica profissionalmente a cultivar as ontes e usualmente tem acesso efetivo a fontes "quentes" de informao, o cientista social raramente conta com ecurso. Claro, s vezes possvel encontrar o arquivo do IPES...

    Uma forma especial de se manifestarem problemas semelhantes corresponde a certa vertente mantropolgica" do que propriamente historiogrfica ou jornalstica na inspirao. Trata-se aqui no de desvendmo oculta", como no caso mais exemplar da vertente anterior, mas antes de registrar e recolher "os fatos mesmm toda a sua riqueza - em particular de recolher a riqueza do "cotidiano" tal como ele se apresenta observesarmada e acrlica do participante. Ao invs de "mo oculta", seria possvel dizer que, em muitos casos, aqui se e apontar a "mo invisvel", havendo a inclinao a apreciar positivamente o jogo cego e "dado" de foras sociai

    Um aspecto correlato o de que, enquanto a vertente jornalstica tende a privilegiar os atores polticos de "elite" lite que conspira e age como sinistra mo oculta -, a vertente "antropolgica" valoriza antes o plano do populaerta sensibilidade para a "sabedoria popular" um trao freqentemente revelado (e reivindicado) pelos trabaesse tipo. E tome longos depoimentos em estado bruto de mulheres da periferia urbana ou seja qual fora categoriae esteja estudando...

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    Naturalmente, apesar dos rtulos utilizados para caracterizar a prtica corrente de muitos cientistas polticos

    ue digo no vai qualquer intuito de negar o interesse e a possvel importncia do que tipicamente fazem o historiajornalista e o antroplogo como tais. Mas sustento que a disposio nomolgica, sistemtica, generalizan

    eoricamente orientada uma caracterstica da cincia poltica da qual no cabe abrir mo - em parte precisamorque dispomos de jornalistas, historiadores e antroplogos profissionais. E creio que muito da tendncia do trabos cientistas polticos brasileiros a derivar na direo de um arremedo no raro precrio dos padres de atividrprios dessas outras especialidades se deve menos a uma opo metodolgica deliberada e lcida do que a carno treinamento dos profissionais de cincia poltica. No s no se chega a dominar apropriadamente o instrume

    cnico da pesquisa orientada por preocupaes generalizantes, como tambm isso est com freqncia associama deficincia mais bsica: nossos profissionais de cincias sociais muitas vezes carecem de um domnio adequa simples lgica, sem mais. Donde a atrao de voltar-se para a narrativa ou o relato, por contraste com certo padogicamente mais exigente, de estruturao analtica mais ou menos complexa.

    Por certo, seria possvel considerar a respeito a possibilidade do estudo diretamente da lgica como discip

    special, e talvez a incluso de cursos que se ocupem dela no currculo dos programas. Esta me parece, porm, stratgia duvidosa para o objetivo de aprimorar a acuidade de nossos cientistas polticos desse ponto de vistquisio da real capacidade de raciocnio lgico est longe de ser equivalente, naturalmente, obtenualificao como especialista em lgica, e aquela antes uma condio desta, como de muitas outras coisaampo da atividade cientfica. Mas creio que cabe certamente esperar o aprimoramento em questo como resultad

    erto tipo de prtica adequada - e nesse sentido me parece especialmente lamentvel o abandono da nfasreinamento em tcnicas de pesquisa e anlise de dados de surveycomo parte do abandono, em geral, da nfasstudo de metodologia e tcnicas de pesquisa, pois a real familiarizao com a lgica da anlise multivariacional qstudo dos problemas da anlise de surveys facilita , acredito, um instrumento extremamente til de treinamgico tout court, parte o que representa de assimilao de uma tcnica especfica. provavelmente desnecessssinalar o que ela pode representar tambm como forma de sensibilizar o estudante para a importncia da teoria rein-lopara o raciocnio terico em que se articulam mltiplas dimenses analiticamente relevantes.

    Justamente o que a se insinua quanto ao carter eminentemente instrumental da teoria e seu acoplam

    ecessrio com os problemas metodolgicos que a anlise enfrenta permite tocar em outra face das deficincias ge que falo. Com efeito, o ensino de teoria me parece tambm deixar muito a desejar. Creio que as deficincias nspecto so certamente responsveis pelo carter de algo "etreo", negativamente "abstrato" e descolado da realidue a dimenso terica da atividade do cientista social muitas vezes adquire aos olhos dos profissionais supostame maior sentido "emprico", como o historiador de que se falou acima. Manifestao tradicional desse "descolamea feio ritualstica e desligada das cogitaes empricas do pesquisador freqentemente exibida pelo famoso "m

    erico" dos projetos de pesquisa.Mas h uma face do ritualismo quanto teoria que me parece de certa maneira nova. Refiro-me ao fato de

    ensino de teoria em alguns de nossos centros de ps-graduao tem manifestado a tendncia a reproduzir o estilerta tradio de "teoria poltica que j mereceu o sarcasmo de autores como Brian Barry e Robert Datil: o estilomentrio erudito perenemente renovado dos clssicos da longa tradio de pensamento poltico, pronto a remon

    Antiguidade grega e latina ou aos sculos XVI e XVII do ocidente europeu a propsito de qualquer problemanclinado, em alguma medida, a satisfazer-se com isso.(4)Entendo ser suprfluo dizer que tambm acho necess

    studar Plato, Maquiavel, Hobbes, Locke etc. Mas indispensvel reconhecer que, precisamente pela importnciontribuio desses pensadores, suas idias integram o acervo de que presentemente se parte, e que as anontemporneas dos problemas substantivos a que se.dirigem no podem seno beneficiar-se da longa elaboraue tais idias j foram submetidas. Afinal, o nmero de pessoas vivas dedicadas a refletir sobre polticrovavelmente maior do que o das que se dedicaram a essa tarefa ao longo dos sculos - e, ainda que se reserve amspao para a mediocridade dos contemporneos, a presuno tem forosamente de ser favorvel, em termosnfasesrelativas, anlise poltica moderna. Seja como for, creio que no h como negar o carter ldico e est

    mesmo se ocasionalmente atraente do ponto de vista literrio, de certos jogos de armar e desarmar ligados ao ene teoria poltica entendida nos termos indicados. No me parece que seja o caso de encoraj-los alm de certo li

    moderado - o qual, em minha opinio, vem sendo certamente ultrapassado.

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    Tudo somado, no admira que, na rea dos problemas de autoritarismo e democracia, onde se trataroblemas prticos mais importantes na perspectiva de nossa disciplina e com respeito aos quais caberia esperar qefinamento terico e metodolgico viesse a justificar a expectativa de alguma contribuio no trivial por parte ncontremos a perseguio meio mope aos eventos que caracteriza a maior parte da literatura pertinente - na modelos" sucessivos nos descrevem o colapso das democracias, depois a dinmica dos regimes autoritrioseguida os processos de abertura, a transio a um novo regime democrtico, a consolidao (ser?) da democrac

    Nem que a melhor forma de ilustrar a postura de nossos cientistas polticos provavelmente seja a atitudencontrei, alguns anos atrs, num estudante que apresentava ao comit de bolsas de doutorado da Fundao In

    Americana, do qual eu era membro, o relatrio parcial das suas atividades de pesquisa relacionadas com o proc

    oltico no Uruguai: ele se encontrava ento, segundo suas palavras, sentado a esperar que as coisas acabassemcontecer naquele pas para poder concluir sua tese. Naturalmente, contando a histria.

    IIUm aspecto de grande importncia que se articula com o ritualismo perante a teoria e com a falta de liga

    ela com os problemas reais deparados no trabalho de pesquisa e suas exigncias metodolgicas tem a ver com oe designou acima como a insero internacional das cincias sociais brasileiras. O trao mais bvio aqui certam

    difusa noo tcita de que teoria algo de que se ocupam os cientistas sociais dos pases desenvolvidoontrapartida inevitvel a dependncia intelectual da cincia social produzida pelos especialistas nacionais, articipao nos grandes debates terico-metodolgicos internacionais no se d seno de maneira reflexa

    ualidade de pblico espectador ou consumidor - tendendo a assumir a forma de modismos que vm e vo, j qrocessamento e a eventual incorporao desta ou daquela "novidade" no est condicionada por uma refleacional prpria de suficiente densidade e sofisticao. Isso se ajusta bastante bem, por outro lado, a certo padroolaborao internacional estratificada, no qual a expectativa dos teorizadores "centrais" com freqncia a deejamos os fornecedores de "matria prima" brasileira para suas elaboraes de grande alcance (padro este queontrapartida mesmo internamente ao pas: na frmula com que algum o sintetizou numa reunio - francesa... -ue procurei descrever suas faces interna e externa, Paris pensa o mundo, So Paulo pensa o Brasil, Recife pen

    Nordeste.Naturalmente, no se trata aqui de estimular um "nacionalismo" scio-cientfico maneira, por exemplo

    ertas propostas nascidas do Instituto Superior de Estudos Brasileiros dcadas atrs. claro que no vamos ter ciocial de boa qualidade seno na medida em que ela esteja aberta produo e aos debates internacionais. Mama srie de traos perversos que se articulam com o provincianismo apontado e cuja conseqncia intelectualmegativa e esterilizante.

    Acima de tudo, o provincianismo e a subordinao intelectual com freqncia formam uma liga especial co

    magem, de que se falou acima, da teoria como algo "etreo", impropriamente "abstrato" ou "literrio" e em ltnlise suprfluo: j que a reflexo terica "verdadeira" a que realizam europeus e americanos, passa-se a territrio crucial de relevncia da produo scio-cientfica desenvolvida no pas no fato de que ela esteja diretameferida "realidade" - que antes de mais nada a realidade brasileira, naturalmente. Nessa tica, boa cincia socquela que, com alguma reverncia aos modelos ou abordagens "quentes" do momento, se dirige a problempricos e prticos prementes, os quais vm a ser os problemas socialmente relevantes na sociedade em que vivem

    Omite-se, assim, a ponderao crucial de que no saberemos sequer definir com propriedade nossos proble

    mpricos e prticos se no tivermos condies de refletir com sofisticao adequada a respeito deles, vale dizeo formos teoricamente sofisticados. E o critrio antiterico de relevncia resulta numa contextualizao prematuorta do objeto de estudo, na qual o Brasil se toma o horizonte insupervel da reflexo e das atividades de pesqesenvolvidas.

    Uma variante algo peculiar e muito comum das posturas associadas com o provincianismo se mostra como

    spcie de contraface da que se acaba de descrever, embora os resultados no plano intelectual sejam semelhantesnvs da reverncia diante da produo dos cientistas sociais dos pases desenvolvidos, o que se tem aqropriamente um nacionalismo mais afirmativo: a cincia social internacional e os modelos, anlises e teorias polaborados (salvo certos casos especiais.. . ) so desqualificados liminarmente como irrelevantes dadaspeculiaridades" ou "especificidades" brasileiras (ou talvez latino-americanas etc.), tudo redundando, de man

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    onfusa e pouco explicita, em recomendar o esforo de apreenso de nossa realidade em termos que se poderescrever talvez como "idiogrficos".(5) Naturalmente, tal variante teria dificuldade para explicar, de foonsistente com a desqualificao mencionada, como sabe que somos peculiares, ou como chega a separar o que nspecifico daquilo que, presumivelmente, compartilhamos com outros povos.

    Ao nacionalismo provinciano da referncia eterna e imediatista ao Brasil, portanto, possvel contrapor a i

    e uma afirmao terico-metodolgica de nossa cincia social que tem como condio indispensvel a dentelectualmente cosmopolita e aberta. Em tal postura cosmopolita, contudo, muito mais importante do que o fatue estaremos lendo o que se produz internacionalmente (coisa que, afinal, fazemos avidamente em n

    rovincianismo dependente) o fato de que, de horizonte e contexto insupervel de enquadramento de nossa refleBrasil se tomar propriamente. um caso - o qual, com toda a inevitvel importncia prtica de que se reveste p

    s e impondo-se, como conseqncia, forosamente a nossa ateno, no poder constituir-se como tal epreendido mesmo em sua especificidade ou singularidade seno atravs de uma atividade que necessariamerica, generalizante ou nomolgica, analiticamente requintada, comparativa... Ao invs de "narrar" singelamenrasil, ou a multiplicidade infinita de aspectos da vida brasileira, e de erigir no trabalho correspondente a indignaltica em virtude, o desafio consiste, por assim dizer, em transformar, nas diferentes reas de problemas, nosso contexto" brasileiro em varivel - ou seja, em explicitar as dimenses analticas cuja articulao permitiria, no limar conta de maneira parcimoniosa tanto daquilo que o configura como um caso particular quanto de outros casosele se apartam por alguns aspectos e se aproximam por outros.(6)

    Mas h ainda certo desdobramento de grande importncia quanto ao status da pesquisa ou reflexo sobrasil em sua relao com as abordagens ou teorias elaboradas no plano internacional, especialmente nos paesenvolvidos. Refiro-me a uma forma particular que tende com freqncia a assumir o empenho de contrapealidade brasileira (ou latino-americana) e seu estudo, por um lado, e os esforos analticos realizados por cientiociais dos pases ocidentais avanados, por outro. Aqui no se trata apenas de sustentar que somos especiais, comariante indicada acima, mas de dizer que somos especiais de maneira especial: somos sentimentais ou afetivoacionais, provavelmente ignorantes, propensos a um "imaginrio" particularmente vigoroso, mais aptos aepresentados por Caliban do que por Anel etc. etc. - com a conseqncia de que os modelos e abordagens elaboros pases centrais devem ser substitudos por outros no apenas distintos, mas supostamente mais capazepreender essa caracterstica especfica e suas manifestaes em reas diversas de problemas .(7)E oportuno assinue o postulado a contido de uso freqente tambm no campo geral da antropologia: como correacionalismo ocidental, o apego reiterado ao principio que algum chamou com ironia (no lembro quem, mas noolegas antroplogos certamente nos podero ajudar) de "princpio de Pango-Pango": l em Pango-Pango diferen

    No pretendo meter-me aqui no debate provocado pela publicao de O Espelho de Prspero, de RicMorse (1988), a mais recente reiterao dessa perspectiva geral, que nos chega ironicamente pelas mos de um nomericano. Por um lado, creio que a produo intelectual dessa espcie tem seu lugar, com freqncia representaeitura estilisticamente atraente e rica em idias de algum tipo - embora confesse minha impacincia com a tintautano gastos, com o objetivo de caracterizar estreituras sociais de mbito continental e de histria multissecularomo de dois ou trs personagens de certa confusa pea teatral de princpios do sculo XVII... Por outro lado, quo contedo mesmo dos postulados centrais envolvidos, estou convencido de que a contraposio entre uma esferacionalidade instrumental ou "tcnica" e a "outra" esfera, como quer que se designe (a esfera do "prticoialgico, do comunicacional, do comunitrio, do "identificante", do moral - ou talvez do motivacional ou "energti

    o passional, do supostamente "irracional" ou a-racional), no tem condies de servir consistentementundamento seja distino entre diferentes mbitos institucionais, planos ou nveis da vida social, seja, com mazo, distino entre povos ou sociedades. E creio que esta tese pode ser demonstrada convincentemente mesmoeferncia aos esforos na direo contrria de autores da estatura intelectual de um Habermas.(8) Acrescento penas um breve lembrete sobre certoaspecto (freqentemente negligenciado em sua importncia) dos trabalho

    Weber com respeito ao tema geral da nacionalidade e do nacionalismo ocidental, trabalhos estes que sempre se tomomo referncia em conexo com tais problemas: o de que, afinal, o esfolo weberiano de diagnosticar e compreendacionalismo ocidental inclui no somente o estudo de temas como a burocracia e o capitalismo, mas tambm toociologia weberiana das religies - e no porque estas apaream como elemento de contraste, mas pela importtribuda ao desenvolvimento religioso como parte intrnseca e mesmo crucial. de um processo secular visto comacionalizao.(9)

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    IIISeja como for que se queira avaliar a contribuio de historiadores de inclinao literria la Morse, o asp

    ecm-indicado, em que a idia de abordagens mais ou menos apropriadas problemtica brasileira se mescla couesto de maior ou menor apego a uma perspectiva fiel tradio nacionalista e iluminista, se revelou presente

    maneira importante e algo surpreendente, em debates recentes de cientistas polticos brasileiros sobre quesspecificas de nossa atualidade. Vou deter-me um pouco sobre o que talvez sua manifestao mais recente neermos, que se relaciona com a interpretao da eleio presidencial de 1989. Creio que essa manifestao pode

    omada, por mais de um trao, como especialmente instrutiva quanto a certas dificuldades com que continuaefrontar-se s cincias sociais no pas e quanto conexo de tais dificuldades com o problema do status atribudo ao instrumental terico-metodolgico. Um aspecto pelo qual ela pode ser destacada o da participao,iscuto em seguida, de um profissional da cincia social brasileira, Jos Murilo de Carvalho, que vem firma

    merecida reputao de historiador srio e competente e cujo trabalho representa, em geral, um exemplo de comrtificialismo de certas fronteiras disciplinares pode ser rompido com proveito.

    De qualquer forma, um ponto saliente dos debates relativos eleio de 1989, e especialmente ao cham

    fenmeno Collor" girou em tomo da acuidade com que os fatos observados seriam apreendidos por modelosxplicao alternativos referidos seja considerao racional de interesses, seja ao papel de fatores relativoimaginrio coletivo" de cunho a-racional ou propriamente irracional. Num texto exemplar de Jos Murilo de Carv

    1989, pp.10-11) em que o problema tomado explicitamente nesses termos, o confronto dos dois enfoques ou "te anlise" se faz acompanhar da proposio de que a abordagem da considerao racional de interesses "puncionar bem em democracias organizadas e estveis, particularmente em momentos de normalidade", onde se tum mundo de razo" e seria portanto "mais fcil o clculo racional da ao, a escolha dos meios adequados aos f

    Mas, sustenta-se, "no assim em sociedades como a nossa". E apesar de que as anlises pertinentes partam "semo suposto de que as pessoas tenham interesses bem claros e que formulem suas opes polticas em funo denteresses" (o que teria correspondncia com "o arsenal normalmente utilizado pelos analistas da poltica"), motrios levariam a que, no Brasil, se descerrem "as cortinas do mundo do sonho, dos desejos, dos medos", isto , de

    mundo que "extravasa os limites do clculo instrumental que suposto para o bom funcionamento do mecanideolgico-partidrio"; da que tenhamos o predomnio das "paixes", ocasionalmente da "clera".

    Vrias observaes de interesse para nosso problema geral se podem fazer a respeito dessa anlise.1. Em primeiro lugar, ela est longe de fazer justia sofisticao no exame da questo da nacionalidade e

    s "analistas da poltica" na literatura geral (internacional) sobre o assunto. As afirmaes a respeito de um arsnormal" desses analistas ou de supostos de que se parte "sempre" serrem apenas convenincia de permontrapor-lhes um enfoque alternativo supostamente mais adequado ao... contexto brasileiro. Tais afirmaes ignolimpicamente: (a) o vasto debate, relativamente explicao do comportamento poltico em geral omportamento especificamente eleitoral, entre os adeptos de uma perspectiva "sociolgica" convencional, de um lde uma orientao "econmica" propensa a destacar a nacionalidade e os interesses, de outro; (b) os refina

    studos empiricamente orientados que se realizam de longa data j na rea de uma sociologia eleitoral monvencional e que se tm dedicado extensamente a aferir os graus, matizes e correlatos da ocorrncia de formas mu menos racionais ou intelectualmente sofisticadas de relacionamento dos eleitores com a poltica (vejam-se,

    xemplo, os clssicos estudos de Phillip Converse e colaboradores sobre o tema da ideological constraint); (xtraordinria sofisticao de muito da literatura produzida nas ltimas duas dcadas, aproximadamente, mesmampo estrito da abordagem da racional choice, onde, embora se trate em principio de defensores da nacionalidomo categoria central das cincias sociais, os resultados at aqui obtidos tm levado elaborao profusa e ricam

    matizada dos problemas pertinentes e a um trabalho de reformulao conceituai e metodolgica que promete redua redefinio da prpria "fronteira" da cincia social contempornea, para no falar das convencionais frontenterdisciplinains (para destacar um nome, veja-se a abundante produo de um Jon Elster). (10)

    2. Em segundo lugar, a anlise de Jos Murilo de Carvalho faz tambm caso omisso da prpria litera

    rasileira dedicada ao estudo de nosso processo eleitoral, a qual h tempos tem tido na questo da nacionalidadleitor um de seus temas centrais. Pelo menos em parte substancial, tal literatura no apenas muito mais sofistic

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    a considerao desse tema do que se esperaria com base no texto de Jos Murilo, mas tambm, cumpre dizer, ertamente muito alm, dada sua sofisticao, do simplismo que Jos Murilo mesmo restaura.

    Assim, talvez me seja permitido lembrar que em 1988, isto , no ano anterior ao da eleio presidenci

    evista Brasileira de Cincias Sociais publicava um artigo de minha autoria (F. W. Reis, 1988b) que se diustamente ao tema da nacionalidade no campo da poltica e s relaes que a mantm com o tema da identidema este que pelo.menos claramente afim aos elementos do "imaginrio" acima descritos em conexo com o tm questo. Preparado para um seminrio internacional dedicado a avaliar os mritos e dificuldades da abordagem

    scolha racional, o artigo explora com cuidado tanto a tenso quanto as articulaes entre o foco caracterstico dbordagem, onde a nacionalidade "instrumental" aparece como categoria bsica, e os temas "expressivos" ligaddentidade, que normalmente so contrapostos rational choice e vistos como requerendo o tratamento prpriincia social "convencional". A posio terico-metodolgica geral que nele defendida parte da contraposio euas noes de ideologia (a ideologia no sentido da Sociologia do Conhecimento, que envolve a inferncia a difulementos condicionantes da identidade e supostamente propensos a induzir distores cognitivas, e a ideololtica, que destaca, ao contrrio, certa caracterstica marcadamente -instrumental- ligada ao poltica e supapacidade de "descentrao" cognitiva e de estruturao racional do universo scio-poltico) para explorar as foriversas de articulao entre os elementos de identidade e de instrumentalidade/racionalidade em diferentes situa

    Como suporte para a anlise, o artigo recorre extensamente a material emprico relativo ao processo eleirasileiro, material este discutido em textos que tenho publicado pelo menos desde 1978 (F. W. Reis, 1978, 1983, 11988c) e cujo foco principal foi desde o incio precisamente o esforo de avaliar os matizes associados co

    resena diferenciada de opinies e atitudes mais ou menos passveis de serem descritas como racionaisorrelaes que tais matizes apresentam com variveis ou fatores diversos. Da anlise assim conduzida resultou,xemplo, a idia de uma forma especial de se combinarem, junto aos estratos populares do eleitorado brasileiro (eontraste com o que se pode eventualmente encontrar no apenas entre eleitores de outros pases, mas tambmutros estratos sociais do prprio Brasil), os elementos "a-racionais", por um lado, ligados articulao edentidades pessoais e coletivas, e, por outro, os elementos de instrumentalidade e clculo - combinao esta que teesignado como a "sndrome do Flamengo" e que (podendo ser posta em correspondncia com outras "sndromesas ou de fora dele, em termos analiticamente precisos que se referem s conjugaes variadas dos elemenvolvidos) acredito habilitar-se a ser levada em conta para a explicao de ocorrncias como o "fenmeno Colem boa medida, diga-se, justamente por no pretender ser uma explicao "especificamente" do "fenmeno Coll

    Ressalte-se ainda que tal preocupao de apreenso analiticamente flexvel dos temas ligados racionalidade

    leitorado no corresponde ao caso isolado do meu prprio trabalho, mas pode ser encontrada nos esforos de ouspecialistas brasileiros que tm trabalhado na mesma rea e com alguns dos quais colaborei em certas ocasies, colvar Lamounier, Olavo Brasil de Lima Junior, Marcus Figueiredo etc. (o que no significa, naturalmente, quoncorde com as anlises especificas realizadas por cada um deles em diferentes momentos). No h, no texto de

    Murilo, qualquer indcio de que tenha tomado conhecimento da bibliografia correspondente.3. Mas o que importa aqui no a conhecida precariedade da comunicao e do debate scio-cientfico no

    ue mais uma vez se revela, com respeito ao texto em discusso, na falta de ateno exibida por Jos Murilomesmo para com o trabalho de amigos chegados relativamente ao tema que se props discutir. O que importa annequvoco empobrecimento analtico que da resulta, e que tem diretamente a ver com o papel a ser cumpridotividade scio-cientfica, por uma postura de preocupao terica, nomolgica e generalizante.

    Assim, se se toma a nfase que d Jos Murilo ao papel do imaginrio e dos fatores "passionais" na sociedrasileira, como acomodar essa nfase com o destaque que correntemente recebem os fatores relacionados com tromo o "fisiologismo", o "clientelismo" e a vigncia da chamada "lei de Gerson", os quais seriam supostamambm caractersticos, em medida importante, da mesma sociedade brasileira? Naturalmente, a nfase nesses trponta antes a presena do clculo (racional...) de interesses, sendo a razo das reiteradas denncias (inclusivearte de Jos Murilo, se bem me lembro) de uma "crise tica" brasileira. Alm disso, tais traos aproximariam nas do "pragmatismo" que muitos assinalam como caracterstico da vida poltica das democracias ocidenorganizadas e estveis" de que fala Jos Murilo. claro que o diagnstico adequado dessa realidade multifaceque, alis, no singular quanto a isso) exigir bem mais do que o equipamento e a disposio resultanteontraposio singela de enfoques ou "tipos de anlise" da natureza dos que se acham em discusso.

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    Creio, porm, dada a crucialidade da questo geral para nosso debate, que vale a pena o esforo didtico

    presentar a posio aqui defendida atravs da referencia direta anlise de alguns dos dados empricos anteriormitados.(11)O fato de que se trate de dados de surveyservir tambm para ilustrar e reforar a recomendao de mnfase no treinamento nessa tcnica em nossos programas de ensino, bem como a tese da sensibilizao particulao plstica e fecunda entre teoria e trabalho emprico que se pode ter a.

    A anlise mencionada se faz sobre dados coletados em Juiz de Fora por ocasio das eleies municipai

    976. Um ponto central de interesse da pesquisa ento executada tinha a ver com a correlao eventualmente exist

    ntre a preferncia partidria ou a deciso de voto dos eleitores, por um lado, e, por nutre, as opinies por mantidas com respeito a questes diversas do debate poltico corrente (desde a avaliao feita das agruras resulta

    o custo de vida at a opinio sobre questes de natureza poltico-institucional como o Ato Institucional n 5 entoigor). Tabulados os dados na forma mais simples (com o cruzamento "bivariado" das respostas sobre votreferncia partidria, de um lado, e cada um dos diferentes itens de opinio, de outro, ou tomando-se a meabulao fazendo variar apenas a posio scio-econmica), as distribuies observadas frustravam a expectativxistncia de correlaes, indicando que a preferncia por Arena ou MDB (ou a deciso de votar pelos candidatom ou outro partido) pouco ou nada tinha a ver com a opinio manifestada a respeito no s de coisas como o AI-voto direto ou indireto para a Presidncia da Repblica, mas tambm como a avaliao do custo de vida ou

    esultados das polticas governamentais em diferentes reas etc. Na verdade, as correlaes da preferncia partidrio comportamento eleitoral com as opinies dos eleitores estudados s se davam, em alguma medida, nos estr

    cio-econmicos mais altos. Os dados se opunham, portanto, neste nvel de aprofundamento da anlise, amodelo" ou abordagem que pretendesse destacar a imagem de um eleitor racional cujas decises eleitorais estivesrientadas pelo clculo referido defesa de interesses, pois tal defesa naturalmente exigiria a avaliao da posioartidos perante o governo e das caractersticas do governo e de sua atuao quanto a problemas diversos nos qais interesses estariam supostamente em jogo.

    Ocorre, porm, que a avaliao dos partidos e da atuao do prprio governo passa, naturalmente, pelo p

    a percepo dos eleitores. E uma reflexo um pouco mais detida sobre as suposies envolvidas na expectativue ocorressem as correlaes mencionadas mostra que ela envolve uma suposio crucial - na verdade, cruciaonto da banalidade, com a conseqncia de no ser explicitada: a de que os eleitores votariam neste ou naqartido no simplesmente por terem esta ou aquela opinio sobre determinado assunto, mas antes por perceberexistncia de correspondncia entre a sua prpria posio sobre o assunto e a posio do partido. Os dados disponermitiam o teste da hiptese nessa forma mais elaborada e explcita, pois incluam, a respeito de diversos ispecficos, no apenas informaes sobre a opinio dos eleitores entrevistados, mas tambm sobre a posio portribuda aos partidos relativamente a cada item. Assim, recorrendo simultaneamente a informaes sobre quariveis (renda familiar, voto, opinio do eleitor sobre determinado assunto e posio por ele atribuda a certo parobre o mesmo assunto), tabularam-se os dados de forma a se ter, nos diferentes estratos scio-econmicoistribuio dos votos segundo as vrias configuraes (congruentes e incongruentes) formadas pela combinapinio do entrevistado sobre cada item com a opinio por ele atribuda aos partidos. Observadas as novas tabssim produzidas, eureca! - l estavam, clarssimas, as correlaes esperadas: em todos os nveis scio-econmincluindo os nveis de maior pobreza, a tendncia geral observada era inequivocamente a de se concentrarem os vas celas correspondentes aos casos de congruncia entre as posies dos eleitores e as posies percebidas cendo as do partido em questo com respeito a cada item. No apenas estaramos, assim, diante de um verdadeiro

    e Colombo (o de que a coerncia a ser observada no comportamento do eleitor deve referir-se a suas prpercepes e informaes, e no ao fato de ajustar-se a certo padro "objetivo" que o analista bem informado tenha

    mente); esse ovo de Colombo teria, ademais, um alcance especial, pois nivelaria que os eleitores, afinal, mesmmais pobres e deseducados, so racionais. Ainda que possam ocasionalmente carecer de informao adequaespeito de assuntos diversos, a includas as posies dos partidos sobre esta ou aquela questo, eles se mostraronseqentes e coerentes nas conexes estabelecidas entre posies e opinies polticas; de um lado, e, de outreciso de votar por um ou outro candidato ou partido.

    Essa leitura dos dados captura, sem dvida, parte de sua real substncia. No h como negar a evid

    ritante que eles representam da busca de coerncia. Nova reflexo, porm, nos defronta com um problema decisue diz respeito a como avaliar essa constatao do ponto de vista do significado a ser atribudo preferncia

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    eterminado partido ou identificao com ele. Pois as observaes recm-descritas podem ser interpretadas de dmaneiras antagnicas: seja como indicando que a opo partidria se estabelece em decorrncia da posio assumelos eleitores perante os problemas e da posterior avaliao da posio dos partidos diante deles; seja cndicando, ao contrrio, que, uma vez fixada a simpatia partidria, talvez em funo de uma imagem difusa ontrariam fatores "esprios" se considerados do ponto de vista do modelo de eleitor estritamente "racional"leitores atribuiriam simplesmente aos partidos (condicionados diferencialmente nisso pelos variados graunformao de que dispem) as posies que sua simpatia ou antipatia lhes dita como corretas ou adequadas. omo os eleitores efetivamente dispem (e nossos dados o mostravam fartamente) de nveis gerais muito diversonformao, os quais variam ainda amplamente de um assunto a outro, a prpria estabilidade do padro "congrue

    gora encontrado, isto , o fato de que ele tende a ocorrer independentemente dos nveis de informao e da naturos assuntos envolvidos, leva a supor que a segunda interpretao seja a correta na grande maioria dos casos.

    De novo, os dados disponveis permitiam que se fosse alm da mera conjectura a esse respeito e qu

    estassem as interpretaes alternativas atravs de tabulaes um pouco mais complexas. Com efeito, era possomar em considerao a preferncia partidria declarada pelos eleitores entrevistados e tratar de ver comomportavam as relaes entre o voto e a congruncia das configuraes acima mencionadas quando mantidaontrole aquela preferncia. Naturalmente, se a opo partidria estivesse determinada pela percepoorrespondncia entre a prpria posio perante os problemas, de um lado, e a posio dos partidos, de outro, serisperar que a eventual percepo, por parte dos eleitores estudados, de incongruncias entre a posio de seu parreferido e a sua prpria - ou de congruncias entre esta e a do partido adversrio - afetasse de maneira significati

    eciso de voto. Feito o teste, vai de novo a pique o modelo do eleitor "racional", se esta expresso tomada em centido mais estreito e mais exigente. Pois o que se v, em sntese, que, naqueles casos em que os entrevistaeclaram identificar-se com (ou ter preferncia por) um partido ou outro, a congruncia ou incongruncia percentre as prprias posies e as dos partidos quase inteiramente irrelevante no condicionamento do voto, o qual tser totalmente determinado pela identificao partidria. Quer atribuam Arena, por exemplo, posio contrria o

    avor do voto direto, quer tal posio corresponda ou no sua prpria, quer simplesmente no saibam qual osio do partido a respeito, os eleitores estudados tendem a concentrar maciamente seus votos no partido dereferncia, seja MDB ou Arena - e s entre os que no tm preferncia partidria que se nota disperso na dece voto, deixando patente a maior importncia de que a se investe a opinio dos prprios eleitores quanto a problespecficos e sua relao com a posio dos partidos.

    Do ponto de vista de nossa discusso, o significado de tudo isso , acredito, evidente: o contraste, tido c

    ranscendental, entre o modelo do eleitor "racional" e o do eleitor "no-racional" ("identificante", solidrio...) redum boa medida, no exame apropriado do assunto, a uma questo de como se tabulam os dados. , portanto, algo studado em seus matizes luz dos dados e da teorizao simultaneamente to parcimoniosa quanto possvel eomplexa quanto necessrio para dar conta de tais matizes, e no algo a ser postulado como em principio e de umaor todas adequado a determinado contexto - pois o esforo apropriado de teorizao redundar precisamenteossibilidade de caracterizarparcimoniosamente uma multiplicidade de "contextos". Assim, no h porque tratar cirracional" o desinformado eleitor popular brasileiro de que se acaba de falar - mas crucial durmo-nos conta de

    fator de coerncia e nacionalidade em seu comportamento poltico-eleitoral exatamente o sentido difuognitivamente precrio de uma identidade popular, a qual pode ser contraposta a identidades definidas de manntelectualmente mais complexa e refinada, com freqncia atravs do prprio envolvimento poltico. De outro ngca igualmente evidente que a noo mesma de nacionalidade, por fundamental e mesmo indispensvel que sej

    stou pessoalmente convencido de que o ) como instrumento analtico nas cincias humanas e sociais, podeomada quer no sentido de uma tautologia em que qualquer ao enquanto tal necessariamente racional (desde os disponhamos a "resgatar" apropriadamente a perspectiva do agente na situao que o cerca e com as informae que dispe a respeito desta e de sua prpria insero nela);(12)quer no sentido de uma ao que seja ela prognitiva e intelectualmente sofisticada, necessariamente manipulando um volume supostamente "adequado"nformaes e decidindo com o "distanciamento" e a "descentrao" necessrios obteno e ao aproprrocessamento de tais informaes.

    A primeira dessas duas noes aparentadas mas distinguveis de nacionalidade se encontra subjacente a m

    a literatura terica altamente abstrata da rationalchoice, que faz dela um instrumento fecundo apesar (ou antes,ausa) de seu carter tautolgico. Ela claramente no pode bastar, porm, perspectiva em que o esforo de teoriz

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    orresponda a uma preocupao mais diretamente prtica ou "critica", ou simplesmente que no pretenda desconhue o interesse das abstraes tericas reside em que sejam aplicveis a circunstncias e casos diversos. Aqui, nomo escapar da possibilidade (e da necessidade) de considerar graus de nacionalidade em conexo com o volumnformaes processadas e com a postura mais ou menos metdica ou ponderada no processamento delas, nem coeixar de recorrer possibilidade de distinguir dois tipos de agente e de ao: em primeiro lugar, o agente informacido, capaz (ao agir de maneira que ter sempre necessariamente um importante componente "instrumental" sefetivamente informada e lcida) de "descentrar-se" com respeito a suas condies dadas e estmulos imediatos er fiel a objetivos maiores ou de mais longo prazo (ou mesmo a certo ideal de vida ou a certo princpio moral, vizer, a certa identidade que ele prprio escolhe em medida importante, tomando-se assim "o autor de si mesm

    omo diria Hannah Arendt); e, por contraste, o agente que se pode ilustrar com o eleitor pobre e desinformado merge da discusso anterior e que necessariamente mope, passvel em principio de ser manipulado instrumentalmente" em funo de suas premncias "fisiolgicas", em sentido bem estrito, quer, de maneira divm funo de "imagens" atravs das quais se apela a sua identidade indigentemente definida de "pobredescamisado" - e mesmo, sem dvida, de "trabalhador", "brasileiro" etc. Do ponto de vista do cidado-eleitor uas "chances vitais", no h mais racionalidade na primeira forma de manipulao que na segunda, ou mrracionalidade nesta do que naquela.

    IVDe maneira independente do contraste entre modelos "racionais" e "no racionais" (embora talvez

    nteiramente independente da tendncia a vincular o nacional com certo padro geral que contrasta negativamente eanto prontamente com o padro "ocidental"), problemas anlogos aos que acabo de tentar ilustrar e discutir eferncia ao texto recente de Jos Murilo de Carvalho me parecem ocorrer com freqncia no trabalho de importaientistas sociais brasileiros, para no falar do feijo-com-arroz que normalmente se produz em nossos programa

    mestrado e doutorado. Cito duas conhecidas anlises que me parecem ilustrar deficincias de investimento terios quais me ocupei diretamente em textos e publicaes anteriores. Refiro-me a anlises realizadas h temposimon Schwartzman (1970) e Wanderley Guilherme dos Santos (1979) e ao uso nelas feito do contraste erepresentao" e "cooptao", em um caso, e da noo de "cidadania regulada", em outro.

    No se trata, naturalmente, de cometer a evidente impropriedade de dizer que sempre que tenham

    unhagem de qualquer categoria com a qual se procure indicar sinteticamente as caractersticas (talvez "essenciais"m caso particular ou de um conjunto ou tipo de casos particulares estejamos diante de algo criticvel. Tal exageria claramente inconsistente com a recomendao metodolgica, explicitada anteriormente, com respeeconstituio analtica de "casos" ou instncias do fenmeno que se trata de conceitualizar, reconstituio esta quaria atravs do esclarecimento da maneira pela qual se conjugam as variveis ou dimenses pertinentes e edundar justamente nessa tipificao ou especificao (correspondendo, por exemplo, ao meu prprio recurso ie uma "sndrome" especial para caracterizar o eleitorado popular brasileiro). O ponto problemtico consiste antesue o trabalho analtico requerido para a caracterizao dos casos pode ser impropriamente abreviado ou tomado xcessiva ligeireza - e, no limite, suprimido na consagrao de modelos apriorsticos que se tomam eles mesmos,resultado da anlise, mas instrumentos supostamente adequados ou requeridos para a explicao deste ou daq

    contexto", com a tendncia a que tudo que diga respeito a este ltimo passe a ser visto sob a luz especial do modeDesse ponto de vista, os trabalhos mencionados de Simon e Wanderley me parecem merecer rep

    iferentes. Simon e eu nos envolvemos anos atrs num debate que teve alguma ressonncia, (13)de maneira que astar assinalar brevemente certos pontos. O ponto central de minha crtica corresponde ao fato de que, no uso a distino entre representao e cooptao, Simon claramente oscila entre, por um lado, certa perspectiva em quela distino se refere a formas de participao poltica cuja ocorrncia alternativa caberia (ou cumpriria) exp, por outro lado, uma perspectiva alternativa em que as categorias em questo se tomam modelos explicativos rprias. A segunda perspectiva predomina inequivocamente, e Simon pretende que cada uma das categorias sdequada para caracterizar os processos scio-polticos correspondentes a partes diversas do Brasil (representaoo Paulo, cooptao no "eixo Minas-Rio"). A conseqncia geral que se toma impossvel - de maneira anlogificuldades encontradas na proposta de Jos Murilo acima examinada - dar conta adequadamente de uma sriomplexidades e matizes que os processos pertinentes envolvem em cada um dos "contextos" assim precariamefinidos, complexidades estas que um instrumental analtico de maior ambio terica poderia pretender processa

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    maneira "econmica".Quanto ao trabalho de Wanderley, que discuti numa publicao recente (F. W. Reis, 1989), (14)o problem

    ertamente diferente. Trata-se a de um esfolo de mobilizao mais flexvel de categorias tericas para o diagnse um caso particular. Creio, porm, que vale a pena tom-lo a propsito da defesa que aqui se faz da importncinvestimento em teoria por exemplificar um esforo que fica bem aqum da complexidade envolvida no assratado e cujo resultado em seguida apropriado por outros e utilizado de maneira rombuda e algo "mgica". Cfeito, o tema geral da poltica social me parece representar uma das reas mais carregadas de equvocos e confusspecialmente na literatura referida ao caso brasileiro e, em geral, latino-americano - e a simplicidade sedutor

    enncia contida no rtulo de "cidadania regulada" certamente no contribui para dissipar tais confuses, antes ontrrio. Sigo de perto, nos pargrafos abaixo, algumas passagens da discusso feita na publicao mencionespecialmente pp. 180 e seguintes).

    O ponto central da caracterizao que faz Wanderley da cidadania regulada diz respeito ao acoplamento

    dia de cidadania (e dos direitos a ela correspondentes, incluindo-se com destaque os relativos polrevidenciria) a traos que se relacionam com a ocorrncia de corporativismo. Assinala ele que se trata deonceito de cidadania cujas razes se encontram num "sistema de estratificao ocupacional (...) definido por noegal", e que a regulamentao das profisses, a carteira profissional e o sindicato pblico so "os trs parmetronterior dos quais passa a definir-se a cidadania" (W. G. dos Santos, 1979, pp. 75 e 76). Um dos elementos destacrespeito o de que, ao reconhecer o estado, com a criao dos institutos de aposentadoria e penses na dcad

    930, "alguns dos princpios que informavam o sistema CAPS, como por exemplo a vinculao dos benefcioontribuies passadas, e ao admitir tratamento diferenciado em termos de salrios, de acordo com a categrofissional, consagrou-se na prtica a desigualdade dos benefcios previdencirios dispensados aos cidastratificados em categorias profissionais" (p. 77).

    Vrios reparos se impem anlise feita nesses termos. Para comear, o uso da expresso cidad

    regulada", com a conotao negativa que adquire ao associar-s-com idias como estratificao e desigualdugere claramente uma condio alternativa, e supostamente "normal" ou "boa", em que a cidadania seria livrregulaes" pelo estado. Contudo, patente que,o desenvolvimento da cidadania normalmente envolve, ao contrrescente regulao. Tal idia no parece aberta disputas no que diz respeito ao componente "civil" da cidadaom relao ao qual (apesar de ser este o componente em que melhor se expressa, como abaixo destaco, o anseiofirmao autnoma como parte da noo abrangente de cidadania) , inegvel a crucialidade da juridificaoelaes sociais que Blandine Barret-Kriegel salienta em volume de alguns anos atrs (1979). Mas ela se sustgualmente para os aspectos "polticos" e "sociais" da cidadania, na linguagem de T. H. Marshall (1965) que se toonvencional. Seria possvel considerar a respeito, na linha de certa literatura dedicada ao tema geral, a questoeveres ou obrigaes dos cidados como elemento da prpria noo de cidadania, elemento este que inevitavelme liga com a idia de um disciplinamento legal da conduta dos cidados e que se mostra relevante, naturalmenteualquer das esferas ou dimenses da cidadania.(15)Mas mesmo se se reduz o exame do problema apenas ao ladoireitos do cidado, bem claro que a expanso de tais direitos de uma esfera a outra (civil, poltica, social) envolecessidade de consagr-los legalmente e de trazer o estado a respald-los, o que vai bem alm do aspecto mais os encargos de natureza nova que a dimenso social da cidadania tende a acarretar para o estado como agente dia produo de certos bens e servios. Ainda que cada passo contenha sempre um elemento de regulao do estue adquire ele prprio obrigaes com o enriquecimento democrtico da cidadania, cada passo significar tam

    ecessariamente o incremento da regulaopelo estado no cumprimento de tais obrigaes.Resta, ento, quanto noo de cidadania "regulada", o aspecto de possvel controle ou manipulao por

    stado concebido como propriamente autoritrio. Mas as dificuldades continuam. Em primeiro lugar, d-se o fatue, pelo menos desde a experincia bismarckista na Alemanha, iniciativas que resultaram bem-sucedidas e de grlcance na rea da poltica social com freqncia ocorreram no quadro de regimes politicamente autoritrios - e poe-ia falar aqui at da expanso da prpria previdncia social brasileira no ps-64. Alm disso, preciso questiongao estabelecida por Wanderley entre o aspecto de manipulao autoritria, por um lado, e, por outro, os traoorporativismo na forma que assumem na caracterizao reproduzida, com suas consequncias "estratificantesonto de vista ocupacional.

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    Note-se que a se encontra envolvido o fundamento mesmo da distino usualmente estabelecida entre ceategorias de poltica de proteo social: seguro social versus assistncia, ou previdncia versus assistncia etc. uas ponderaes so necessrias a respeito. Por um lado, o mecanismo ocupacionalmente estratificante destacado

    Wanderley corresponde claramente categoria do seguro social, onde os benefcios so proporcionais contribuaga pelo segurado, categoria esta que continua a existir como uma forma de proteo social entre outras mesmoociedades democrticas. difcil perceber porque, a rigor, o fato de que comece por a a atuao de um estadoassa a atuar na rea da proteo social deva merecer avaliao negativa, especialmente numa perspectiva sientfica que se suporia atenta para o condicionamento que a interao entre categorias sociais (ou ocupacioniversas e a capacidade diferencial de presso das vrias categorias exercem sobre as feies exibidas pelo estado

    utro lado, os tipos de proteo social mencionados (seguro social, previdncia, assistncia) so fonte permanentonfuses e ambigidades quanto a suas relaes com a idia geral de cidadania na literatura pertinente, e o tratamado por Wanderley pode ser visto como apenas mais uma expresso de tais confuses.

    A dimenso bsica subjacente s vrias perspectivas a respeito certamente se vincula concepo de Mar

    1965) da cidadania como um statusque confere direitos, por contraste com os mecanismos do mercado. Dado ho comum, porm, os equvocos se multiplicam:

    James Malloy (1976), por exemplo, tratando das origens da previdncia social brasileira, contrape a idi

    seguro social", fundado numa relao contratual e em contribuies diferenciadas dos segurados, noprevidncia social", assimilada idia de direito inerente ao statusde cidado (ou, segundo ele, tambm ao statu

    rabalhador, o que no ajuda a tomar as coisas mais claras). Alm disso, de maneira perfeitamente paralela posdotada por Wanderley (1979), Malloy avalia negativamente o fato de a poltica social brasileira no ter evoludo ma concepo de previdncia social, "mas para uma concepo de desigualdade inerente, um seguro social impelo estado e apenas aplicvel aos empregados ativos" (p. 118).

    J Ernesto Isuani (1984) reserva o termo "previdncia social" para a cobertura dada aos setores so

    ertencentes ao mercado de trabalho urbano formal, onde "os benefcios so um direito adquirido atravsontribuies efetuadas", enquanto chama de "assistncia social" aquela que prestada a doentes, idosos, deficienaos necessitados em geral que no pertenam ao sistema de previdncia social". De maneira significativa, consiidadania de "primeira classe" a dossetores cobertos pela previdncia e de "segunda classe"a dos que "dependemssistncia pblica e da caridade dos setores privados" (pp. 307-308). Se a variao no significado da expreprevidncia social" por si sugestiva, bem mais revelador o fato de que a idia mesma de cidadania, que

    Malloy corresponde a idia statusuniversalmente compartilhado pelos membros da coletividade, em Isuani vomo mais plenamente realizadajustamente no caso daqueles que no dependem desse statuspara o acesso a ceens, pois podem contar para isso com recursos oriundos de sua insero no mercado: naturalmente, isso redundarivilegiar os mecanismos de mercado para a prpria definio da cidadania.

    Finalmente, oscilaes anlogas e interpretaes igualmente equvocas podem ser encontradas em anlise

    oltica social brasileira realizadas por Snia Fleury Teixeira (1984). Por um lado, distinguindo entre "assistocial", "seguro social" e "estado de bem-estar social" como modalidades de proteo social, a autora comeatribuir carter marcadamente negativo assistncia social, vista em termos semelhantes . caracterizao que delasuani; em seguida, porm, a prestao de assistncia social includa entre os traos prprios da modalidorrespondente ao estado de bem-estar social, onde se d a "cidadania plena". Por outro lado, o seguro social,

    isto negativamente, maneira de Wanderley, como "cidadania regulada", tambm descrito em tom claramositivo como correspondendo quela condio na qual "a classe operria reconhecida como ator qualificado na ooltica e econmica" (p. 341).

    Em todos esses casos, v-se claramente que defrontamos certa ambivalncia fundamental, a qual na verda

    nerente idia mesma de cidadania tal como circula na literatura scio-cientfica e de filosofia poltica. Cidadania, por um lado, aquela condio qual se incorpora como elemento crucial o elemento correspondente perspec

    moderna do "civil" (ou 'liberal') e na qual os membros da coletividade se afirmam por si mesmos (elemento este qa verdade, j se mostra presente mesmo no mundo clssico se se tem em mente a perspectiva aristotlica-arendtm que o cidado se qualifica como tal antes de mais nada por ser um "monarca" ou "tirano" na esfera privada oykos, isto , por controlar a famlia e os escravos e estar conseqentemente livre para os assuntos da polis). Por o

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    ado, contudo; a necessidade de lidar com o caso dos que nopodem afirmar-se por si mesmos leva a que a nooeformulada para incluir um inevitvel ingrediente paternalista, que seria inerente prpria idia da "proteo soci

    dimenso social, como tal, da cidadania. Nesta segunda acepo, a idia da proteo que seria devidaorresponder a um direito decorrente da insero igualitria na comunidade recorre de maneira equivocolidarismo das virtudes "cvicas" tradicionais (onde o cidado convidado, no extremo herico de tais virtudes, avida pela comunidade: dulce et decoram est pro patria mori, diz a mxima lembrada por G. A. Kelly, 197

    ropsito do ethosprprio do civismo clssico). E o cidado por excelncia, se inicialmente o titular de direitoso exercitados na atuao privada e que, se necessrio, so afirmados contra o estado (e contra os demais), tomm seguida aquele que reconhece suas responsabilidades perante a coletividade (em particular perante os memb

    estitudos da coletividade) e que se dispe outorgar ao estado os recursos e a autoridade necessrios a aginteresse da coletividade. Mas a literatura em exame no se coloca a questo de se e como as implicaontraditrias que derivam dos pressupostos contrastantes envolvidos (e que remetem a difceis polmelacionadas, por exemplo, ao contraste entre as perspectivas doutrinrias do contratualismo e do utilitarismo) pofetivamente conciliar-se. Dai que se confunda na avaliao de situaes concretas que procura examinar, ntregue a denncias de significao equvoca. (16)Se voltamos a Wanderley e "cidadania regulada", por um ladretende, naturalmente, que a cidadania venha a ser no regulada; por outro, contudo, se critica que as disposinstauradas pelo estado simplesmente consagrem diferenas que vm do mercado...

    V

    Num momento de relaxamento em certo trabalho que executvamos em colaborao anos atrs, coarticipao de outras pessoas, Bolvar Lamounier, com a verve conhecida, se dedicou bem humoradamenaricaturar o estilo intelectual de cada um. Lembro que o meu prprio estilo apareceu, sob risada geral, como bsorto observador, munido de lupa, a examinar atentamente determinada extremidade de uma tabela hiper-compnde se combinariam muitas variveis, cada uma com mltiplos valores.

    Quero declarar que me reconheo na caricatura, e a reivindico como ilustrao aproximadamente adequad

    ostura que procuro defender, e em ltima anlise da forma em que me parece necessrio tratar de acoplar teoeferncia emprica. Acrescento que essa reivindicao supe, naturalmente, que o momento do exame daqxtremidade particular seja um momento entre muitos outros, em que o restante da grande tabelaseja apropriadamubmetido lupa e a viso de conjunto se recupere - e em que a prpria tabela se veja substituda por outras, ta

    mais complexas, com novas variveis, todas culminando eventualmente numa bela tabela simples e sinttica. Se pvanar na tentativa de substituir a caricatura por uma representao mais adequada do trabalho, ela certamnvolve o reconhecimento de que o momento de olhar tabelas , ele prprio, apenas um momento especial - masoa parte dos outros momentos, de reflexo tanto quanto possvel imaginosa e rica, estaro sem dvida guiadosndagaes relacionadas com as formas possveis de decomposio analtica e eventual reconstruo sintticaroblemas em exame; vale dizer, pela indagao de se no seria possvel dispor tudo em tabelas, no necessariamumricas, mas sempre piagetianamente plsticas e operacionais em sua complexidade varivel. (17)

    Creio que essa postura, bem entendida, no tem porque ser vista como antagnica melhor inspir

    niversalista da antropologia, de que nos fala Mariza Peirano em sua arejada contribuio ao presente debate. Pomar algumas das frmulas por ela utilizadas, "desafiar os conceitos estabelecidos" e "refinar problemas e conceou, em particular, relativizar e refinar os conceitos e proposies cunhados por referncia a um particular cont

    cidental e talvez "racionalista", se tal refinamento no quiser reduzir-se ao que enuncia o princpio de Pango-Pao coisas que correspondem perfeitamente atitude acima descrita, onde a disposio terica e a vocao nomolque a antropologia compartilha em correspondncia com seu universalismo, quer Mariza e outros o reconheamo) no so mais que a contraface e a expresso da capacidade de "descentrao" cognitiva. Contudo, ressalvaegitimidade do recurso a tcnicas especficas variadas, a postura que me parece recomendvel seguramente se opm suposto "pluralismo" que, valendo-se de certas ressonncias que essa expresso apresenta em comum coolerncia e a abertura requeridas pelo debate intelectual, na verdade redunda em pretender consagrar o convupostamente tolerante e igualitrio de posies, perspectivas ou "abordagens" que em muitos casos querem dispene do debate. O que tende a resultar de tal "pluralismo" uma pirueta claramente afim "proeza paradoxal deologias" que Habermas assinala, na qual as barreiras comunicao que transformam em fico a presuno deada um capaz de autojustificar-se "sustentam ao mesmo tempo a crena legitimadora em que se baseia a fic

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    ue a impede de ser desvendada". (18)Da que cada iniciativa no sentido de estabelecer o debate autntico pempre ser tratada, pelo cientista social "pluralista", como apenas nova exibio do ponto de vista "peculiar" de qoma a iniciativa - ou talvez de seupathos, para usar a expresso com que eu prprio fui simpaticamente brindadono passado, por nossa querida Manuela Cunha.

    Recebido para publicao em maro de 1991.NOTAS

    * Este artigo e os demais publicados nesta edio da RCBS sob a rubrica Mesa-Redonda foram apresentados num mesmo evenominado "Teoria e Mtodo e as Cincias Sociais Brasileiras da Atualidade", realizado no 14 o. Encontro Anual da Anpocs, entre 22 e utubro de 1990, em Caxambu (MG). Alm de Fbio Wanderley Reis (coordenador e expositor), Simon Schwartzman, Luiz Felipe de Alenca

    Mariza Peirano (expositores), a mesa-redonda contou com Vilmar Faria como debatedor.1 - Esta seo reproduz quase integralmente um texto divulgado anteriormente no mbito da Anpocs (F. W. Reis, 1988a).2 - Refiro-me ao volume organizado por Edson Nunes (1978). Eu prprio recebi um convite tardio para participar do livro e inicialm

    aceitei, minha participao no tendo se concretizado em conseqncia do prazo apertado que me foi dado por Edson. Era minha inteorm, tomar posio contrria aos postulados fundamentais do livro.

    3 - A distino entre modelos explicativos de tipo "mo invisvel" e "mo oculta" elaborada em Robert Nozick (1974).

    4 - "No mundo de lngua, inglesa, (...) a teoria poltica est morta. (...) No Ocidente, esta a era da crtica textual e da anlise histuando o estudante de teoria poltica abre seu caminho pela redescoberta de algum texto merecidamente esquecido ou a reinterpretao de tamiliares." (Robert Dahl, 1978, p. 89.) Observe-se que com esse estilo tende a estar associada a figura, a meu ver negativa, do "especialistoria".

    5 - Um exemplo dessa perspectiva se tem com o trabalho influente de Francisco Weffort (1978, cap. 6, especialmente pp.128 e segu

    136) sobre o populismo brasileiro, com a crtica - em ltima anlise inconsistente, alis, dado o desenvolvimento subseqente do argumenrprio Weffort - s teorias da modernizao e da mobilizao que a se faz. Alguns colegas provavelmente se lembraro da estridente crigida por Theotnio dos Santos, no encontro anual da prpria Anpocs ainda em 1989, a minha tentativa de utilizar dados e anlises, relativoeitores europeus e americanos para compar-los com nossos prprios resultados sobre o eleitorado brasileiro, crtica que se baseava justamas "especificidades" brasileiras e latino-americanas. Para a elaborao do contraste entre o "idiogrfico" e o nomottico ou nomolgioo, vedam Przeworski e Henry Teune (1970).

    6 - O livro citado de Przeworski e Teune (1970) provavelmente a mais lcida discusso sistemtica do problema geral a envolpesar de j velha de vinte anos.

    7 - Um aspecto especialmente curioso; ou mesmo perverso, ligado a essa postura foi destacado por Srgio Paulo Rouanet (1990) em

    pouco publicada no Jornal do Brasil: o de que a valorizao dos traos que supostamente nos caracterizariam (atravs de sua identificaodeais pr-capitalistas e comunitrios, a serem contrapostos ao nacionalismo instrumental e predatrio do Ocidente) ela prpria, em boa memportada da Europa e dos Estados Unidos.

    8 - Veja-se Fbio W. Reis (1984), onde as idias de Habermas so discutidas de maneira extensa.9 - Veja-se Wolfgang Schluchter (1981) para uma releitura de Weber feita com extraordinria competncia e que destaca esse asp

    sse livro me parece de grande importncia terica, representando contribuio inestimvel para a eventual correo de equvocos que prosp

    nterminavelmente no largo espectro que vai - para ficar no campo "iluminista" do amplo debate subjacente - de um Habermas aos adeptobordagem da rational choice

    10 - Em particular, um exemplo das vastas perspectivas abertas pela colaborao interdisciplinar na rea se tem com Jon Elster (1

    nde as discusses (que alis se abrem com problemas relativos ao comportamento eleitoral) de economistas, cientistas polticos, filsiclogos etc. tornam realmente difcil manter diante dos olhos aquilo a que se referem contrastes simplistas como razo-imaginrio.

    11- A discusso minuciosa e os dados relevantes podem ser encontrados em meu "Classe Social e Opo Partidria", op

    specialmente pp. 264 e seguintes.12 - Lembro sempre neste contexto o aforismo de Chesterton: "Louco aquele que perdeu tudo menos a razo". Nessa tica, mes

    omportamento do louco revelar sua nacionalidade se, contornando o que ser talvez sua perda crucial, ou seja, a da conexo "realista" c

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    mundo, nos dispusermos a recuperar ou compreender a lgica de seu comportamento em termos das iluses que o cercam.

    13 - Vejam-se especialmente Fbio W. Reis (1974 e 1977) e Simon Schwartzman (1977).14 - Aproveito a oportunidade para registrar o calamitoso trabalho realizado pelos responsveis (no identificados) pela edio do vol

    om a profunda adulterao (que s vezes se torna mesmo ridcula) do texto original como conseqncia da reviso feita por algum reresumido e semi-analfabeto.

    15 - Veja-se, por exemplo, George Armstrong Kelly (1979), onde a dimenso "civil" da cidadania contraposta dimenso "cvic

    ual vista em correspondncia com o sentido de responsabilidade perante a coletividade.

    16 - Como alis se d tambm, com freqncia, na literatura "central" relacionada com a poltica social. Exemplos se tm em c

    agnsticos relativos ao welfare state, a propsito do qual Kelly, no artigo citado, fala de. "cidadania negativa", enquanto Habermas (1enuncia a postura de "cliente", por contraste com a de cidado. A discusso feita em meu artigo anteriormente citado (F. W. Reis, 1989) dirimbm a essa literatura terica.

    17 - Isso enseja uma referncia talvez proveitosa a certa passagem dopaper preparado por Mariza Peirano para esta reunio

    ntroplogos e suas linhagens", publicado neste nmero da RBCS). Acolhendo minha prpria meno irnica aos "longos depoimentos em eruto de mulheres da periferia urbana" e tomando-os como expresso de falta de talento, Mariza assinala que talvez sejam equivalentes, na rntropologia, s "necessrias mas no menos enfadonhas descries de tabelas estatsticas, por exemplo". Creio que isso sustentvel se se traestacar propriamente as descries de tabelas estatsticas e o efeito que elas podem ter sobre o carter mais ou menos ameno ou agradvitura que um texto, como tal, propicia. importante ter presente, porm, que, no caso da manipulao e tabulao de dados acima descrita,

    onge da expectativa de que os dados ou o objeto de estudo falem por si mesmos, entre os dados brutos e o leitor se interpem o analista

    rocedimentos por ele adotados no processamento que necessariamente terico dos dados - procedimentos estes que so passveis dontrolados em sua acuidade precisamente em conexo com sua referncia s articulaes previstas pela teoria entre diferentes aspectos dos d

    mtodo compartilha, portanto, de maneira explcita e intencional, do carter reflexivo que Piaget aponta nos procedimentos lgicos comnde no se trata da abstrao referida diretamente aos objetos, mas de uma abstrao de "segundo grau" referida s prprias operaes do sueja-se, por exemplo, Jean Piaget (1973, pp. 17 e seguintes).

    18 - Jurgen Habermas, "Vorbereitende Bemerkungen zu einer Theorie der Kommunikativen Kompetenz", citado conforme Th

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