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Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 1 1. ALTURA O SOM tem quatro características principais: Altura – sons graves, médios e agudos; Duração – sons curtos e longos; Intensidade – sons muito ou pouco intensos (piano, meio forte, forte, …). Timbre – sons de origens sonoras diferentes; Assim, um trecho musical é constituído por sons de altura diferente (melodias), organizado em diferentes durações (ritmo), interpretado por um ou vários instrumentos (timbre – orquestração) e com intensidades variáveis (dinâmica). PAUTA - Conjunto de cinco linhas e quatro espaços, horizontais e equidistantes. Serve para representar a altura dos sons. NOTAS - Símbolos que representam a altura dos sons 1 : dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. A ordem do nome das notas Si Si Sol Sol Mi Mi Nas notações inglesa e alemã as notas designam-se por letras. Países latinos Si Mi Sol Notação inglesa A B C D E F G Notação alemã A H C D E F G B designa o Si b 1 Invenção de Guido d’Arezzo (992 – 1050) com origem num hino a S. João Batista – “Ut queant laxis / Resonare fibris / Mira gestorum / Famuli tuorum / Solve polluti / Labii reatum / Sancte Ioannes”, que significa: "Para que teus servos, / possam ressoar claramente / a maravilha dos teus feitos, / limpe nossos lábios impuros, ó São João." a nota Ut passou a ser chamada de , para facilitar o canto com a terminação da sílaba em vogal.

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Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 1

1. ALTURA

O SOM tem quatro características principais:

Altura – sons graves, médios e agudos;

Duração – sons curtos e longos;

Intensidade – sons muito ou pouco intensos (piano, meio forte, forte, …).

Timbre – sons de origens sonoras diferentes;

Assim, um trecho musical é constituído por sons de altura diferente (melodias), organizado em diferentes

durações (ritmo), interpretado por um ou vários instrumentos (timbre – orquestração) e com intensidades variáveis

(dinâmica).

PAUTA - Conjunto de cinco linhas e quatro espaços, horizontais e equidistantes. Serve para representar a altura

dos sons.

NOTAS - Símbolos que representam a altura dos sons 1: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

A ordem do nome das notas

Si Si

Lá Lá

Sol Sol

Fá Fá

Mi Mi

Ré Ré

Dó Dó

Nas notações inglesa e alemã as notas designam-se por letras.

Países latinos Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol

Notação inglesa A B C D E F G

Notação alemã A H C D E F G B designa o Si b

1 Invenção de Guido d’Arezzo (992 – 1050) com origem num hino a S. João Batista – “Ut queant laxis / Resonare fibris / Mira gestorum / Famuli

tuorum / Solve polluti / Labii reatum / Sancte Ioannes”, que significa: "Para que teus servos, / possam ressoar claramente / a maravilha dos teus

feitos, / limpe nossos lábios impuros, ó São João." a nota Ut passou a ser chamada de dó, para facilitar o canto com a terminação da sílaba em

vogal.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 2

2

2

Mi

2

2

Sol

2

2

Si

2

3

3

Mi

3

3

Sol

3

3

Si

3

4

4

Mi

4

4

Sol

4

4

Si

4

É possível escrever nove notas na pauta. Na parte de baixo da partitura escrevem-se os sons mais graves, na

parte de cima os sons mais agudos.

LEITURA DO NOME DAS NOTAS POR RELATIVIDADE

O nome de uma nota depende do nome da nota anterior (depende do nome da primeira nota), e não da posição

que ocupa na pauta.

Notas repetidas ou por segundas (notas seguidas)

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 3

Exemplo:

Notas por terceiras

São fáceis de ler: estão situadas em linhas ou em espaços consecutivos da pauta.

Notas por quintas

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 4

Também são fáceis de ler, conforme este exemplo:

CLAVES - Símbolos que servem para determinar o nome da nota e a altura do som.

Existe uma correspondência entre a clave e a linha em que se situa, e o nome da nota escrita nessa linha.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 5

Claves mais utilizadas:

- Sol na 2ª Linha – Determina que a nota situada na segunda linha da pauta é o sol índice três2. É utilizada para

representar os sons mais agudos, em instrumentos como por exemplo:

- Flauta, oboé, clarinete, saxofone (saxofone soprano e saxofone alto);

- Trompa (registo agudo), trompete;

- Violino;

- Piano, órgão, cravo, clavicórdio, celesta, harpa, acordeão, bandoneón 3;

- Xilofone, metalofone, marimba4;

- Voz (soprano, contralto e tenor5);

- Guitarra;

2 Sol situado na oitava central, portanto imediatamente acima do dó central.

3 Devido à sua extensão, usa-se a pauta dupla na escrita para estes instrumentos. 4 Devido à sua extensão, pode usar-se a pauta dupla na escrita para estes instrumentos. 5 Porém, a voz dos tenores soa uma oitava abaixo relativamente ao que está escrito na pauta.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 6

Dó na 3ª linha – Determina que a nota situada na terceira linha da pauta é o dó índice três6. É utilizada para

representar sons intermédios. Assim, é utilizada em instrumentos como por exemplo:

- Corne inglês;

- Viola de arco7.

Dó na 4ª linha – Determina que a nota situada na quarta linha da pauta é o dó índice três. É utilizada para

representar sons intermédios. Assim, é utilizada em instrumentos como por exemplo:

- Fagote, Trombone, Violoncelo (não é a clave mais usual na escrita para estes instrumentos; porém, é usada no

registo médio deles);

Fá na 4ª linha (clave de baixo) – Determina que a nota situada na quarta linha da pauta é o fá índice dois8. É

utilizada para representar sons intermédios. Assim, é utilizada em instrumentos como por exemplo:

- Fagote, contrafagote – registo grave;

- Registo grave da trompa e trombone, tuba;

- Violoncelo, contrabaixo;

- Registo grave do piano, órgão, cravo, clavicórdio, harmónio, celesta, harpa, lira9;

6 Dó central. 7 Porém, as partituras da viola de arco também podem estar escritas em clave de sol ou clave de fá. 8 Fá situado na oitava abaixo da oitava central, isto é, fá imediatamente abaixo do dó central.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 7

- Timbales;

- Voz de barítono e baixo.

Pauta dupla – Duas claves em duas pautas ligadas por uma chaveta usadas simultaneamente por um

instrumentista. É utilizada em instrumentos como por exemplo: piano, órgão, cravo, clavicórdio, celesta, harpa,

acordeão, bandónion.

Notas na pauta dupla:

9 Devido à sua extensão, usa-se a pauta dupla na escrita para estes instrumentos.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 8

Podem-se representar mais notas na pauta, recorrendo-se ao uso de LINHAS E ESPAÇOS SUPLEMENTARES

ou LINHAS DE OITAVA.

LINHAS E ESPAÇOS SUPLEMENTARES - Permitem representar mais notas na pauta.

Neste Exemplo musical, as notas cantadas são também tocadas pelo piano: à mesma altura e, simultaneamente, num registo mais

agudo.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 9

LINHA DE OITAVA - Evita o uso de muitas linhas suplementares.

Esta partitura () equivale à de baixo (). Porém a de cima é mais fácil de ler.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 10

DIAPASÃO – Utensílio de metal. Ao vibrar produz a nota lá10 (frequência 440Hz) da oitava central e ser para afinar

instrumentos e vozes.

10 O diapasão mais utilizado em Música vibra a 440 Hz, produzindo a nota lá. Porém, há diapasões que vibram a outras frequências, produzindo outras notas.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 11

INSTRUMENTOS E SUA EXTENSÃO

GRUPO NOMES DO

INSTRUMENTO IMAGEM

EXTENSÃO (sons reais)

SOPROS MADEIRA

Flautim ou picollo

Flauta

Oboé

Corne Inglês

Heckelphone

Clarinete em si b

Clarinete pequeno em mi b

Clarinete baixo em si b (clarone)

Fagote

Contrafagote

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 12

SOPROS METAL

Trompa (em fá)

Trompete agudo em fá

Trompete em dó

Trompete em si b

Trombone

Tuba (baixo em fá)

Tuba contrabaixo (em dó)

SOPROS MADEIRA

Saxofone soprano em si b

Saxofone contralto em mi b

Saxofone tenor em si b

Saxofone barítono em mi b

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 13

PERCUSSÃO

Timbales

Xilofone

Celesta

Jogos de sinos (Glockenspiel)

Vibrafone

CORDAS

Violino

Viola d’arco

Violoncelo

Contrabaixo

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 14

ESPECIAIS

Harpa

Piano

OUTROS

Flauta de bisel (flauta doce)

Guitarra

Bandoneon

Acordeão

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 15

VOZ

Soprano

Mezzo-soprano

Tenor

Contralto

Barítono

Baixo

PRINCIPAIS FORMAÇÕES VOCAIS E INSTRUMENTAIS

MUSICA VOCAL

Coro ou grupo coral

Grupo de cantores distribuídos por naipes segundo a tessitura de suas vozes.

Na música ocidental, um coro misto (vozes adultas, masculinas e femininas) é composto por quatro naipes:

Sopranos, Contraltos Tenores e Baixos. Por vezes, incluem também as vozes intermédias: Mezzo-soprano e Barítono.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 16

MUSICA ORQUESTRAL

Orquestra

Conjunto instrumental de grandes dimensões, com vários instrumentistas por voz (unisono ou divisi). Uma

orquestra sinfónica tem aproximadamente a seguinte composição:

- Cordas: violinos (máximo 16, normal 12), segundos violinos (14, 10), violas d’arco (12, 8), violoncelos (10, 8), contrabaixos

(8, 6);

- Sopros de madeira: 1 flautim, 3 flautas transversais, 3 oboés, 1 corne inglês, 3 clarinetes, 1 clarinete baixo, 3 fagotes, 1

contrafagote;

- Sopros de metal: 6 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, 1 tuba;

- Percussão: 4 timbales, bombo, tambor pequeno, pratos, triângulo, xilofone, glockenspiel, sinos, gongo e outros;

- E ainda, de acordo com a partitura: harpa(s), piano(s), órgão, saxofone, e outros.

Disposição da orquestra

Exemplo de uma página de uma partitura de orquestra: Sinfonia do Novo

Mundo, op. 95, 2º and. de Dvorak (1841-1904).

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 17

MÚSICA DE CÂMARA

Em contraste com a orquestra, existem formações solistas (do duo ao noneto): grupos de música de câmara.

Duo

Grupo de dois instrumentistas que, em conjunto, interpretam um dueto (composição para dois intérpretes).

Exemplo: duo de canto e piano

Exemplo de um lied 11 de Beethoven.

Trio

Grupo de três instrumentistas que, em conjunto, interpretam um trio (composição para três intérpretes12).

11 Canção, normalmente em alemão, para canto e piano. 12 O termo trio também pode identificar a secção b de uma dança em forma ternária (aba) - um minueto ou um scherzo.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 18

Quarteto de cordas

Grupo musical de quatro instrumentos de corda - quase sempre dois violinos, uma viola e um violoncelo - ou

uma peça escrita para ser interpretada por tal grupo. É um dos grupos de música de câmara mais importantes na

música clássica.

Quinteto de sopros

É um grupo formado por cinco instrumentistas de sopros. A formação tradicional do quinteto de sopros é: flauta,

oboé, clarinete, trompa e fagote. O termo quinteto de sopros também pode ser utilizado para identificar uma

composição para essa formação.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 19

Quinteto com piano

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 20

ALTERAÇÕES

Sinais que se colocam antes das notas e que modificam, a sua altura.

Sustenido (1) – sobe meio-tom.

Bemol (2) – baixa meio-tom.

Duplo sustenido (3) – sobe um tom.

Duplo bemol (4) – baixa um tom.

Bequadro (5) – destrói o efeito de qualquer outra alteração.

ALTERAÇÕES CORRENTES OU ACIDENTES – Aparecem no decorrer da obra musical. A alteração acidental

afeta todas as notas a partir dessa nesse compasso e com o mesmo nome e altura.

Aumentar meio-tom à altura da nota Diminuir meio-tom à altura da nota

Se inicialmente a nota tem Para aumentar meio-tom

coloca-se um Se inicialmente a nota tem

Para diminuir meio-tom coloca-

se um

duplo bemol bemol ----- -----

bemol bequadro bemol duplo bemol

bequadro (ou nada) sustenido bequadro (ou nada) bemol

sustenido duplo sustenido sustenido bequadro

----- ----- duplo sustenido sustenido

ALTERAÇÕES DE PRECAUÇÃO – Escrevem-se por uma questão de prudência, embora teoricamente não

sejam necessárias. Podem ser escritas de maneira normal ou entre parêntesis (ou por cima ou por baixo da pauta).

ALTERAÇÕES FIXAS – São as alterações pertencentes a uma tonalidade e que se colocam no início de uma

obra musical (ou de uma secção de uma obra musical) constituindo a armação de clave. Afetam todas as notas do

mesmo nome no decorrer da obra musical, qualquer que seja a sua altura.

Ordem dos sustenidos: fá, dó, sol, ré, lá, mi, si. Ordem dos bemóis: si, mi, lá, ré, sol, dó, fá.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 21

Os sustenidos, na ordem dos sustenidos, aparecem por intervalos de 5ºP.

A ordem dos bemóis é inversa da ordem dos sustenidos.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 22

INTERVALOS – Diferença de altura entre dois sons. Designa-se, quantitativamente, pelo número de notas

sucessivas entre os dois sons.

O intervalo contém a soma dos tons e dos meios-tons existentes entre duas notas.

O teclado do piano está dividido em meios-tons. O intervalo entre duas notas naturais (brancas) consecutivas é

de um tom, exceto em dois casos: o intervalo entre mi e fá e o intervalo entre si e dó é de meio-tom; nestes casos, não

há nenhuma nota preta entre as duas notas brancas.

Mi-Fá Si-Dó

Tipos de intervalos:

- Ascendentes / descendentes: o primeiro som é mais grave /agudo;

- Melódico / harmónico: os sons são sucessivos / simultâneos;

- Simples / composto: os sons não ultrapassam / ultrapassam os limites da oitava.

CLASSIFICAÇÃO DOS INTERVALOS

Regras práticas apenas válidas quando as notas que constituem o intervalo não têm alterações.

2ª, 3ª – São maiores (M) quando não passam pelo intervalo mi/fá ou si/dó. Se passam são menores (m).

6ª, 7ª - São M quando só passam pelo intervalo mi/fá ou si/dó. Se passam por ambos são m.

4ª, 5ª, 8ª – São sempre intervalos perfeitos. Exceções:

fá/si – 4ª aumentada (4ª A). É a única 4ª que não passa por mi/fá nem por si/dó.

si/fá – 5ª diminuta (5ª A). É a única 5ª que passa por mi/fá e por si/dó.

Maior menor

2ª, 3ª Não passam por nenhum dos intervalos

de meio-tom.

Passam por um dos intervalos de meio-

tom.

6ª, 7ª Passam apenas por um dos intervalos

de meio-tom.

Passam pelos dois intervalos de meio-

tom.

Perfeito

4ª, 5ª, 8ª São sempre perfeitas

Só duas exceções: fá/si – 4ªA; si/fá – 5ª d

Intervalo aumentado (A) – quando um intervalo perfeito (4ªs, 5ªs e 8ªs) ou maior (2ªs, 3ªs, 6ªs e 7ªs) é alargado meio-tom.

Intervalo sobreaumentado (SA) – quando um intervalo aumentado é alargado meio-tom.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 23

Intervalo diminuto (d) – quando um intervalo perfeito (4ªs, 5ªs e 8ªs) ou menor (2ªs, 3ªs, 6ªs e 7ªs) é reduzido meio-tom.

Intervalo subdiminuto (sd) – quando um intervalo diminuto é reduzido meio-tom.

O intervalo aumenta meio-tom () / () O intervalo diminui meio-tom

2ª, 3ª, 6ª, 7ª sd d

m M A SA

4ª, 5ª, 8ª P

Um intervalo alarga quando é colocado um sustenido na nota mais aguda, ou um bemol na nota mais grave.

Um intervalo reduz quando é colocado um sustenido na nota mais grave, ou um bemol na nota mais aguda.

Meio-tom diatónico – meio-tom entre duas notas de nomes diferentes. Exemplo: mi/fá, si/dó, sol #/lá. Estes intervalos são

classificados como 2ªs menores.

Meio-tom cromático – meio-tom entre duas notas com o mesmo nome. Exemplo: fá/fá #, si/si b.

Intervalo enarmónico – Auditivamente é igual, mas escreve-se de maneira diferente. Exemplo: fá/si (4ª A) e fá/dó b (5ª d).

Inversão de intervalos – Troca de posição das notas que o formam: o som mais agudo desce uma oitava ou o som mais

grave sobe uma oitava. Um intervalo simples a sua inversão formam uma 8ª P. O intervalo e a sua inversão somam nove.

Exemplos:

- Um uníssono fica uma 8ª e vice-versa;

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 24

- Uma 2ª invertida fica uma 7ª e vice-versa;

- Uma 3ª invertida fica uma 6ª e vice-versa;

- Uma 4ª invertida fica uma 5ª e vice-versa;

- O M fica m e vice-versa;

- O A fica d e vice-versa;

- O P não muda na inversão.

Grau conjunto – Notas cujo intervalo entre si é de 2ª.

Grau disjunto – Notas cujo intervalo entre si é igual ou maior que a 3ª.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 25

SISTEMAS MUSICAIS

ESCALA – Conjunto de notas ordenadas por alturas sucessivas.

SISTEMA TONAL

Sistema no qual os vários os graus da escala desempenham diferentes funções e estão subordinados

a um grau principal: a tónica.

Funções dos graus da tonalidade:

7º Grau Sensível

6º Grau

Sobredominante

5º Grau

Dominante

4º Grau Subdominante

3º Grau Mediante

2º Grau Sobretónica

1º Grau Tónica

Graus tonais – Caracterizam a tonalidade (I, IV e V graus): juntado as notas que formam os acordes sobre

estes graus, obtém-se a escala.

Exemplo:

Exemplo musical

No sistema tonal, existe o modo maior e o menor.

Graus modais – Distinguem o modo maior do menor (3º e 6º graus).

A melodia de cima está no modo menor (dó menor); a melodia de baixo está no modo Maior (dó maior). Neste caso, são as

notas mi e lá que nos permitem distinguir a melodia de cima, no modo menor, da melodia de baixo, igual, mas no modo maior.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 26

Modo Maior

Escala modelo do modo maior:

- Meios-tons do 3º para o 4º grau e do 7º para o 8º (1º);

- O intervalo do 1º para o 3º grau é de 3ª M;

- O intervalo do 1º para o 6º grau é de 6ª M;

Regras práticas de construção de escalas com sustenidos:

- Todas as armações de clave das escalas cuja tónica é uma nota natural (exceto Fá M, cuja armação de clave

tem um bemol, o si) se constroem com sustenidos;

- Todas as armações de clave das escalas cuja tónica é uma nota sustenida, como por exemplo Fá # M, se

constroem com sustenidos;

- Na armação de clave, colocam-se os sustenidos pela sua ordem até à sensível da tonalidade, isto é, até à nota

anterior à tónica (nota que dá o nome à escala). A tónica está uma 2ª m acima do último sustenido.

Regras práticas de construção de escalas com bemóis:

- A escala de Fá M tem um bemol, o si, na armação de clave;

- Todas as armações de clave das escalas cuja tónica é uma nota bemolizada, como por exemplo Si b M, se

constroem com sustenidos;

- Na armação de clave, colocam-se os bemóis pela sua ordem até à tónica da tonalidade e coloca-se ainda o

bemol que vem a seguir na ordem dos bemóis. A tónica corresponde ao penúltimo bemol.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 27

Exemplo musical

Modo menor

Características das escalas no modo menor:

- O intervalo do 1º para o 3º grau é de 3ª m;

- O intervalo do 1º para o 6º grau é de 6ª m;

Escala menor natural

- Meios-tons do 2º para o 3º grau e do 5º para o 6º;

- Entre o 7º e o 8º (1º) grau há um intervalo de 1 tom, por isso o 7º grau tem a função de subtónica.

Esta escala constitui apenas uma referência para as escalas menores, dado que raramente é usada na música

tonal. Como se verá, a escala menor que melhor traduz uma melodia no modo menor é a escala menor melódica, e a

escala que melhor se adapta ao acompanhamento harmónico é a escala menor harmónica.

Regras práticas de construção de escalas menores

- A cada escala maior, corresponde uma escala menor com a mesma armação de clave;

- Uma escala menor tem a mesma armação de clave da escala maior que está uma 3ª m acima;

- São tonalidades relativas, pois têm a mesma armação de clave, as tonalidades em cada linha:

Relativo Maior 3º m Relativo menor

Dó M lá m

Fá M ré m

Sol M mi m

Lá M fá # m

Si b M sol m

- A armação de clave é a mesma para as escalas menores – natural, harmónica e melódica - com a mesma

tónica.

Escala menor harmónica

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 28

- Meios-tons do 2º para o 3º, do 5º para o 6º e do 7º para o 8º (1º) graus;

- Do 6º para o 7º grau o intervalo é de 2ª A.

- Entre o 7º e o 8º (1º) grau há meio-tom, por isso o 7º grau tem a função de sensível.

- Partindo da escala natural, obtém-se a escala harmónica subindo o 7º grau meio-tom.

A escala menor harmónica resulta da junção das notas que formam os graus tonais.

É, portanto, a escala que melhor “traduz” o acompanhamento harmónico de uma melodia no modo menor.

Contudo, a escala menor melódica é a que melhor traduz uma melodia no medo menor.

Escala menor melódica

- A forma ascendente é diferente da forma descendente;

- Forma ascendente: meios-tons do 2º para o 3º e do 7º para o 8º (1º) graus (o segundo tetracorde é igual ao da

escala maior);

- Forma descendente: meios-tons do 6º para o 5º e do 3º para o 2º graus (igual à escala menor natural);

- Partindo da escala natural, obtém-se a escala melódica subindo, na forma ascendente, o 6º e o7º grau meio

tom. Na forma descendente, desce-se esses graus meio tom.

Exemplo musical

Tonalidades próximas – Têm a mesma armação de clave ou diferem em apenas uma alteração.

Dó m

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 29

Fá M Dó M Sol M

Ré m Lá m Mi m

Tonalidades afastadas – as armações de clave diferem em duas ou mais alterações.

Tonicização –

Modulação –…

Tonalidades homónimas – Têm a mesma tónica, mas modos diferentes. Diferem em três alterações na

armação de clave, conforme se pode verificar.

Tonalidade M Armação de

clave

Nº de

alterações Tonalidade m

Armação de

clave

Nº de

alterações

Dó M 0 alterações 0 dó m 3 bemóis -3

Mi M 4 sustenidos +4 mi m 1 sustenido +1

Sol M 1 sustenido +1 sol m 2 bemóis -2

Fá M 1 bemol -1 fá m 4 bemóis -4

O número de sustenidos na armação de clave é um número positivo e o número de bemóis negativo. A diferença

de alterações na armação de clave é sempre de três e a tonalidade maior tem sempre um número mais positivo de

alterações.

Tonalidades enarmónicas – Têm o mesmo som, mas nomes diferentes (como por exemplo: dó # e ré b). A

soma das alterações das duas escalas enarmónicas é doze.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 30

Politonalidade – sobreposição de tonalidades diferentes.

ESCALAS PENTATÓNICAS DIATÓNICAS – São escalas de cinco notas, formadas a partir dos sete

modos distónicos. (WP, 48-49)

- Estão limitadas harmonicamente pela ausência de meios-tons;

- Não há uma tónica.

ESCALAS HEPTATÓNICAS OU DO TONS

- Há apenas duas escalas de tons, todas as outras Filipe Pires.

ESCALA CROMÁTICA – Divide a escala em doze meios tons (sucessão de meios tons - cromáticos e

diatónicos).

- Há apenas uma escala de tons Filipe Pires.

- A escala cromática pode aparecer

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 31

TRANSPOSIÇÃO –

MODULAÇÃO –

1.1. Harmonia

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 32

ACORDES

Um acorde é a escrita ou realização de duas ou mais notas simultaneamente13. Os acordes são

formados a partir da nota mais grave, a partir da qual são acrescentadas as outras notas constituintes. Por

isso, um acorde deve ser lido de baixo para cima.

Tríade - Acorde de 3 sons. A partir de uma nota fundamental (nota mais grave e que dá o nome ao acorde), é

constituído pela 3ª do acorde (nota modal, que determina o modo do acorde - maior ou menor) e pela 5ª do

acorde.

Acorde Maior Acorde menor Acorde Aumentado Acorde diminuto

Quando a fundamental do acorde é a nota mais grave, diz-se que o acorde está no estado fundamental.

Quando a 3ª do acorde é a nota mais grave, diz-se que o acorde está na primeira inversão.

Quando a 5ª do acorde é a nota mais grave, diz-se que o acorde está na segunda inversão.

Existem quatro tipos de tríades possíveis de serem formadas a partir das escalas diatónicas maior e

menor: maior, menor, aumentado e diminuto.

13

Para alguns teóricos, o acorde só se forma a partir de três ou mais notas, reservando a palavra intervalo para a

execução de duas notas simultâneas.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 33

Tríade maior: É encontrado nos graus I, IV e V da escala diatônica maior e nos graus V e VI da escala

menor harmônica.

o Tríade menor: É encontrado nos graus II, III e VI da escala maior e nos graus I e IV da escala menor

harmônica.

o Tríade diminuta: É encontrado no grau VII da escala maior e nos II e VII graus da escala menor

harmônica.

o Tríade aumentada: É encontrado no grau III da escala menor harmônica.

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 34

Acorde de quatro sons (acordes de sétima) – A partir de uma nota (fundamental), é constituído pela 3ª do

acorde, pela 5ª do acorde e pela 7ª do acorde.

Sétima da Dominante Sétima da Sensível Sétima menor Sétima Maior Sétima diminuta

Quando a 3ª do acorde é a nota mais grave, diz-se que o acorde está na primeira inversão.

Quando a 5ª do acorde é a nota mais grave, diz-se que o acorde está na segunda inversão.

Quando a 7ª do acorde é a nota mais grave, diz-se que o acorde está na terceira inversão.

Exemplo musical

Os acordes podem ser classificados quanto à:

o Posição

cerrada: não há espaço para a colocação de nenhuma nota formadora do acorde

entre as vozes de soprano e contralto ou as vozes de contralto e tenor.

aberta: há espaço para a colocação de notas formadoras do acorde entre as vozes

de soprano e contralto ou as vozes de contralto e tenor.

o Nota do soprano: define-se a posição de oitava, de terça ou de quinta a partir do

aparecimento dessas notas no soprano.

o Tríade formadora:

Perfeito maior: quando é formado sobre uma tríade maior.

Perfeito menor: quando é formado sobre uma tríade menor.

Imperfeito: quando é formado sobre uma tríade diminuta ou aumentada.

o Inversão:

Estado fundamental: a primeira nota formadora do acorde (fundamental) aparece

como base do acorde.

Primeira inversão: a segunda nota formadora do acorde (3ª) aparece como base do

acorde

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 35

Segunda inversão: a terceira nota formadora do acorde (5ª) aparece como base do

acorde

o Modo de execução:

Simultâneo: as notas são executadas ao mesmo tempo.

Harpejado: as notas são executadas uma após a outra.

o Quantidade de notas: os acordes podem ter 3, 4, 5, 6, etc. notas diferentes em sua formação.

Notação de acordes

Regras gerais: cifras com o nome do acorde

Acorde perfeito maior:

- Escrevem-se com a primeira letra maiúscula: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si.

- Também se pode acrescentar a letra M: Dó M, Ré M, Mi M, Fá M, Sol M, Lá M, Si M.

Acorde perfeito menor:

- Escrevem-se com a primeira letra maiúscula: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

- Também se pode acrescentar a letra M: dó m, ré m, mi m, fá m, sol m, lá m, si m.

Acordes diminutos ou aumentados:

- Escreve-se dim ou aum após o nome do acorde:

dó dim - dó diminuto;

ré aum - ré aumentado

Notação Anglo saxónica (cifra)

Os nomes dos acordes são identificados pelas primeiras sete letras do alfabeto, a começar pelo

acorde de fundamental lá, que recebeu a denominação A.

Acordes menores: usa-se a letra m minúscula após a letra denominativa.

Acorde diminuto ou aumentado: os símbolos dim, 5° ou 5 dim, no caso dos diminutos; e +, +5 e 5

aum são para os aumentados.

Novas notas acrescentadas ao acorde: coloca-se o número equivalente ao intervalo entre esta nota e

a fundamental do acorde. Por exemplo, o número 7 indicará um acorde com 7ª.

Lá = A

Si = B (sistema inglês)

Si = H (sistema alemão), sendo B equivalente a si bemol.

Dó = C

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 36

Ré = D

Mi = E

Fá = F

Sol = G

Am = lá menor

G7 = Sol maior com sétima

C7M = dó maior com sétima maior

Dm5+ = ré menor com quinta aumentada

Modernamente, aparecem acordes formados baseando-se em outros intervalos que não 3ª sobrepostas:

Cluster: acordes formados a partir da sobreposição de notas de intervalos consecutivos.

Acordes formados por 4ª: como o próprio nome diz, são acordes formados com a sobreposição de

intervalos de 4ªs entre as notas constituintes.

Acordes formados por 5ª: acordes formados pela sobreposição de 5ªs.

Acordes sem 3ª (power chords) formados apenas pela fundamental e quinta podendo ser

acrescentadas a formação as suas oitavas largamente usados por guitarristas que se utilizam de

distorções (efeito tais como overdrive, distortion, etc …);

Acordes sem quinta, formados apenas pela fundamental e 3ª podendo ser acrescentadas a formação

as suas oitavas (também muito utilizados pelos guitarristas).

Acorde dominante

Acorde meio diminuto

Arpejo

Pizzicato

Riff

Slap

Solo (música)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Acorde

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 37

TRANSPOSIÇÃO –

MODULAÇÃO –

1.2. Harmonia

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 38

INSTRUMENTOS TRANSPOSITORES

Instrumento musical cujas notas na partitura estão escritas numa altura diferente daquela que

realmente soa. Por exemplo, numa partitura escrita para clarinete em Si b, a nota que o músico toca ao ler um

Dó, soa Si b. Assim, numa partitura que inclua um clarinete em Si b, todas as notas devem ser escritas

exatamente em Ré M (um tom acima daquele que realmente soa).

A música é composta ou arranjada para que todos os instrumentos soem na mesma tonalidade. Por

isso, durante o processo de composição ou arranjo, é a nota que soa que se considera. A transposição é

realizada nas partes de cada instrumento. Como a relação intervalar da escala também deve ser preservada,

a armação de clave também é transposta para refletir a transposição. Por exemplo, uma composição em dó

maior será escrita como se fosse ré maior na partitura de um trompete em Si b, e como sol maior na partitura

de uma trompa em Fá. Apesar disso, toda a peça soará na tonalidade correta. Só a escrita é transposta.

No caso do exemplo abaixo, a composição está em Lá b M. Mas, como a nota dó, tocada na trompa,

soa mi b (3ª menor acima), a parte de trompete é escrita em Fá M (3ª menor abaixo).

Partitura

Parte da trompa

Teoria Musical Capítulo I – A altura dos sons João Carlos Almeida 39

Como soa (como se ouve) a trompa

Como tocar a escala de dó M nos instrumentos transpositores

Há diversas razões para que um instrumento seja transpositor. Alguns instrumentos, como o clarinete e o

saxofone, possuem diversos tamanhos. Estes instrumentos são transpositores para que um músico possa tocar

qualquer instrumento da mesma família sem ter que aprender diversos dedilhados. Por exemplo, a nota Dó no saxofone

alto e no saxofone tenor possui o mesmo dedilhado, mas o som produzido pelo alto é mais agudo que o do tenor. O

mesmo ocorre com diversos metais, que possuem três válvulas ou pistões em configuração semelhante. Noutros casos,

a transposição limita-se a aumentar ou diminuir uma oitava na escrita, para evitar a mudança de clave ou o uso

excessivo de linhas suplementares ao longo da música.