o setor hidrelétrico na amazônia brasileira: 23 hidrelétricas e seus efeitos sobre terras...

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1 O setor hidrelétrico na Amazônia brasileira: 23 hidrelétricas e seus efeitos sobre Terras Indígenas 1 Ricardo Verdum 2 A história social e ambiental da Amazônia brasileira ao longo dos últimos quarenta anos está profundamente marcada pela instalação e pelos efeitos de grandes obras de infraestrutura, especialmente de transporte e de geração de energia. O conhecimento acumulado sobre as obras do setor elétrico mostra o quanto esse tipo de empreendimento impacta a natureza e as populações humanas situadas na sua área de influência. Outro dado recorrente nesta história é o grande poder de influência que as empresas construtoras e os interesses em torno da exploração e extração mineral, de petróleo, gás e florestal, e as empresas agroindustriais e de agroexportação, têm no planejamento desenvolvimentista estatal, nos espaços formalmente designados de tomada de decisões ou nas esferas políticas oficiais. A suposta incapacidade do estado de estabelecer regras de procedimento para consultar as comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais nos parece ser a expressão exata e o resultado dos interesses e das regras e hierarquias parcialmente visíveis que configuram esta relação. 3 Não é raro que ocorra o que Harvey (2008) denominou de acumulação por desapossamento, que na cena amazônica se manifesta na forma de incorporação pelo capital de novas zonas territoriais e da privação do acesso às comunidades tradicionais a parcelas das terras e águas até então utilizadas; a isso segue a privatização e a redução da natureza a condição de recurso natural, ou seja, de mercadoria a ser inserida no mercado global para promover a produção e o crescimento econômico. Estas obras geram afluxo migratório; promovem deslocamentos e/ou impacto direto nos meios de subsistência de populações tradicionais (como indígenas, quilombolas e ribeirinhos) e de populações rurais; criam um ambiente favorável ao acirramento das disputas pela posse e o controle da terra e territórios; aceleram o processo de desmatamento para implantação de monocultivos (soja, 1 Publicado na página Investimentos e Direitos na Amazônia (http://amazonia.inesc.org.br/), do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em 23/06/2015. 2 Doutor em Antropologia Social, o autor integra o Núcleo de Estudos de Populações Indígenas (NEPI/PPGAS-UFSC). [email protected] 3 Em janeiro de 2012 o governo federal instituiu um GTI - Grupo de Trabalho Interministerial (Portaria Interministerial nº 35, de 31 de janeiro de 2012) com o objetivo de estabelecer os procedimentos de consulta prévia aos povos indígenas e comunidades quilombolas e tradicionais. O GTI foi coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República – SG/PR e pelo Ministério das Relações Exteriores – MRE e contou com a participação de ao menos 26 ministérios e órgãos vinculados. Passados dois anos, em fevereiro de 2014 o GTI encerrou seus trabalhos sem ter alcançado o objetivo.

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Resumo: A história social e ambiental da Amazônia brasileira ao longo dos últimos quarenta anos está profundamente marcada pela instalação e pelos efeitos de grandes obras de infraestrutura, especialmente de transporte e de geração de energia. O conhecimento acumulado sobre as obras do setor elétrico mostra o quanto esse tipo de empreendimento impacta a natureza e as populações humanas situadas na sua área de influência.Outro dado recorrente nesta história é o grande poder de influência que as empresas construtoras e os interesses em torno da exploração e extração mineral, de petróleo, gás e florestal, e as empresas agroindustriais e de agroexportação, têm no planejamento desenvolvimentista estatal, nos espaços formalmente designados de tomada de decisões ou nas esferas políticas oficiais. A suposta incapacidade do estado de estabelecer regras de procedimento para consultar as comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais nos parece ser a expressão exata e o resultado dos interesses e das regras e hierarquias parcialmente visíveis que configuram esta relação. A partir dos dados e informações armazenadas no banco de dados criado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) no âmbito da iniciativa “Investimentos e Direitos na Amazônia”, constatamos que de um conjunto formado por vinte e três hidrelétricas, em ao menos dezessete empreendimentos há impactos socioambientais em Terras Indígenas, ou seja, na população que ai vive e/ ou nas condições ambientais e nos meios de que fazem uso e dos quais dependem para sua manutenção e desenvolvimento. Versão digital disponível em http://bit.ly/1HOFI3m

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    O setor hidreltrico na Amaznia brasileira: 23 hidreltricas e seus efeitos

    sobre Terras Indgenas 1

    Ricardo Verdum2

    A histria social e ambiental da Amaznia brasileira ao longo dos ltimos

    quarenta anos est profundamente marcada pela instalao e pelos efeitos de

    grandes obras de infraestrutura, especialmente de transporte e de gerao de

    energia. O conhecimento acumulado sobre as obras do setor eltrico mostra o

    quanto esse tipo de empreendimento impacta a natureza e as populaes humanas

    situadas na sua rea de influncia.

    Outro dado recorrente nesta histria o grande poder de influncia que as

    empresas construtoras e os interesses em torno da explorao e extrao mineral,

    de petrleo, gs e florestal, e as empresas agroindustriais e de agroexportao,

    tm no planejamento desenvolvimentista estatal, nos espaos formalmente

    designados de tomada de decises ou nas esferas polticas oficiais. A suposta

    incapacidade do estado de estabelecer regras de procedimento para consultar as

    comunidades indgenas, quilombolas e tradicionais nos parece ser a expresso

    exata e o resultado dos interesses e das regras e hierarquias parcialmente visveis

    que configuram esta relao.3

    No raro que ocorra o que Harvey (2008) denominou de acumulao por

    desapossamento, que na cena amaznica se manifesta na forma de incorporao

    pelo capital de novas zonas territoriais e da privao do acesso s comunidades

    tradicionais a parcelas das terras e guas at ento utilizadas; a isso segue a

    privatizao e a reduo da natureza a condio de recurso natural, ou seja, de

    mercadoria a ser inserida no mercado global para promover a produo e o

    crescimento econmico.

    Estas obras geram afluxo migratrio; promovem deslocamentos e/ou

    impacto direto nos meios de subsistncia de populaes tradicionais (como

    indgenas, quilombolas e ribeirinhos) e de populaes rurais; criam um ambiente

    favorvel ao acirramento das disputas pela posse e o controle da terra e territrios;

    aceleram o processo de desmatamento para implantao de monocultivos (soja,

    1 Publicado na pgina Investimentos e Direitos na Amaznia (http://amazonia.inesc.org.br/), do Instituto de Estudos Socioeconmicos (Inesc), em 23/06/2015.

    2 Doutor em Antropologia Social, o autor integra o Ncleo de Estudos de Populaes Indgenas (NEPI/PPGAS-UFSC). [email protected]

    3 Em janeiro de 2012 o governo federal instituiu um GTI - Grupo de Trabalho Interministerial (Portaria Interministerial n 35, de 31 de janeiro de 2012) com o objetivo de estabelecer os procedimentos de

    consulta prvia aos povos indgenas e comunidades quilombolas e tradicionais. O GTI foi coordenado

    pela Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica SG/PR e pelo Ministrio das Relaes Exteriores

    MRE e contou com a participao de ao menos 26 ministrios e rgos vinculados. Passados dois anos, em fevereiro de 2014 o GTI encerrou seus trabalhos sem ter alcanado o objetivo.

    http://amazonia.inesc.org.br/mailto:[email protected]
  • 2

    cana, eucaliptos etc.) ou mera especulao; desviam e alteram o curso de rios,

    podendo gerar crises de acesso e abastecimento de gua ao consumo humano e a

    outros fins de subsistncia (o caso Belo Monte um exemplo disso); tm impacto

    sistmico na cadeia alimentar, especialmente na do pescado; provocam a emisso

    de gases na atmosfera, como o metano, produzido na decomposio da vegetao

    no retirada da rea do reservatrio dgua; introduzem novos patgenos e

    vetores, ou interferem no processo de disseminao da malria, levando ao

    aumento na incidncia dessa e outras doenas infecciosas; e esto associadas com

    o crescimento exponencial dos casos de DSTs (doenas sexualmente

    transmissveis).

    A falta de planejamento e o descaso com as condicionantes estabelecidas

    por ocasio dos licenciamentos geram a precarizao dos servios de sade pblica

    e a elevao do custo de vida, relacionada especialmente com os itens alimentao

    e moradia. As aes mitigadoras e compensatrias implementadas pelas empresas

    de energia hidreltrica ou pelo setor pblico, em geral so tardiamente

    implementadas e visam remediar os efeitos dos impactos negativos. No raro

    ocorre um crescimento no nmero de casos de violncia e nos ndices de bito por

    esse tipo de causa e por acidentes.

    A construo e operao das linhas de transmisso de energia (tambm

    chamadas de linhes) so outro fator de preocupao, por seus mltiplos

    impactos em termos ambiental, populacional e social. Mesmo nas chamadas usinas

    plataforma, h a necessidade de escoar a produo de energia, conectando a fonte

    geradora s redes locais, regionais e/ ou ao sistema nacional, de maneira direta. E

    isso ocorre no terreno, por meio do aproveitamento de vias j abertas na mata

    (rodovias) ou da abertura e manuteno de corredores desflorestados s vezes por

    dezenas ou at centenas de quilmetros de extenso. Passando no interior de

    unidades de conservao, terras indgenas, propriedades privadas etc.

    Um exemplo desta histria de desapossamento territorial o caso dos

    Apinay, que habitam a regio tocantinense conhecida como Bico do Papagaio. Ao

    longo de cinquenta anos viram sua territorialidade e meios de vida sendo

    restringidos por diversos empreendimentos (Ferrovias Carajs e Norte-Sul;

    rodovias BR 153, Transamaznica e TO 126 e 134; linha de tenso da UHE Tucuru;

    impactos das hidreltricas de Estreito e Lajeado), aos quais poder se somar a

    Hidrovia Tocantins/Araguaia e a ameaa ainda presente de implantao da

    barragem de Serra Quebrada Rio Tocantins, esta ltima suprimindo cerca de 14%

    da Terra Indgena Apinaj. Ademais, enfrentam na atualidade um desmatamento

    acelerado no entorno da TI, promovido pelas empresas Sinobrs, Eco Brasil

    Florestas S/A, Cargil Agrcola S/A, Suzano Papel e Celulose S/A com a conivncia

    do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), para o plantio de soja, cana,

    eucaliptos e implantao de carvoarias no extremo Norte do Estado do Tocantins.

  • 3

    Essas e outras situaes e suas consequncias e efeitos foram observadas e

    documentadas em diversas situaes na Amaznia brasileira e noutras partes do

    pas e do mundo. 4

    Hidreltricas na Amaznia: afetando Terras Indgenas

    A despeito de todas as evidncias e denncias, o Plano Decenal de Expanso

    de Energia 2023 (PDE, 2023), que projeta para o perodo de 2014-2023 uma

    expanso de mais de 28 mil megawatts (MW) de capacidade de gerao de energia

    a partir da instalao e da entrada em operao de grandes empreendimentos

    hidroeltricos, considera que nenhuma das 30 UHEs projetadas no pas para o

    perodo tem interferncia direta em Terras Indgenas (TI); tambm, que onze de 30

    UHE esto situadas at 40 km de Terra Indgena na Amaznia Legal e 15 km nas

    demais regies. Essa avaliao tem por base a Portaria Interministerial n.

    419/2011, que regulamenta a atuao dos rgos e entidades da administrao

    pblica federal no licenciamento ambiental federal. J em relao s 232 novas

    linhas de transmisso (LTs) contempladas pelo Plano, que no conjunto perfazem

    uma extenso de aproximadamente 41.000 km, o Plano prev que oito Terras

    Indgenas sero afetadas. 5

    A partir dos dados e informaes armazenadas no banco de dados criado

    pelo Instituto de Estudos Socioeconmicos (Inesc) no mbito da iniciativa

    Investimentos e Direitos na Amaznia, constatamos que de um conjunto formado

    por vinte e trs hidreltricas, em ao menos dezessete empreendimentos h

    impactos socioambientais em Terras Indgenas, ou seja, na populao que ai vive

    e/ ou nas condies ambientais e nos meios de que fazem uso e dos quais

    dependem para sua manuteno e desenvolvimento.

    A diferena no resultado se deve a forma como construda conceitual e

    materialmente a ideia de impacto ou de interferncia. Segundo a legislao vigente,

    interferncia em TI ocorre quando uma parcela da Terra Indgena afetada

    diretamente pelo eixo ou reservatrio da UHE. O critrio territorial/ambiental no

    considera os aspectos humanos e sociais da interferncia (ou influncia) do

    empreendimento sobre a populao. Do nosso ponto de vista, necessrio haver

    uma reviso urgente desse indicador.

    4 Vejam por exemplo Davis (1978); Diegues (1999); Dodde (2012); Fearnside & Graa (2009); Koifman

    (2001); Leonel (1992); Oliveira & Cohn (2014); Posey (1987); Reis & Bloemer (2001); Rocha (2013); Ramos & Taylor (1979); Santos & Nacke (2003); Verdum (1996, 2007, 2012); Verdum, Selau et al

    (1988); Verswijver & Arajo (2010).

    5 Em 25/03/2015 foi publicada a Portaria Interministerial n 60, em substituio a 419/2011. No caso de

    aproveitamentos hidreltricos (UHEs e PCHs), na Amaznia Legal, o eixo(s) do(s) barramento(s) e respectivo corpo central do(s) reservatrio(s) no podem estar a menos que 40 km do limite da TI; e no

    caso de linhas de transmisso (LT), essa no pode estar numa distncia menor do que 8 km do limite da

    Terra Indgena. Em 30/03/2015 foi publicada pela Funai a Instruo Normativa n 02 de 27 de maro de

    2015, que veio para equalizar a atuao da Fundao com o que foi estabelecido na nova Portaria Interministerial.

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    Ao menos no que se refere s comunidades indgenas, h vrios estudos

    indicando que os impactos indiretos negativos desse tipo de empreendimento

    podem ser to ou mais problemticos e danosos quanto os diretos. A simples

    notcia de que esto sendo planejadas obras nas proximidades, que pessoas esto

    andando pela regio realizando levantamentos de dados, medies etc. suficiente

    para trazer a inquietao e gerar temores ao interior de uma comunidade. A

    situao na bacia do rio Tapajs um bom exemplo disso.

    Estudos e anlises realizadas nas ltimas dcadas mostram que a

    interferncia desse tipo de empreendimento vai bem mais alm da faixa de 10 km

    no seu entorno. Pode alcanar comunidades antes mesmo de elas terem tido um

    contato direto, face a face, com as frentes de trabalho de construo da barragem,

    linhas de transmisso e rodovias. Como explicado por Darrell Posey (1987), as

    situaes de contato podem ser separadas em trs categorias com base na

    natureza epidemiolgica da interao:

    1) Contato Indireto: inclui a transmisso de doenas sem nenhum

    intermedirio humano, atravs de insetos e de reservatrios e vetores animais;

    2) Contato Intermedirio: depende de contato temporrio e/ou fortuito com

    grupos ou indivduos tais como mercadores, soldados, pesquisadores, funcionrios,

    garimpeiros, seringueiro e outros indgenas que j tenham tido contato com outras

    pessoas e suas doenas;

    3) Contato Direto: que como o prprio nome diz, provm de convvio

    permanente com missionrios, funcionrios de rgos pblicos instalados na Terra

    Indgena, turistas ou mesmo de parceiros de casamento com pessoas de outros

    grupos j em situao de relacionamento permanente com ncleos urbanos ou com

    feies urbanas.

    A coletnea de artigos organizada Martin Alberto Ibez-Novion e Ari Miguel

    Teixeira Ott (1987) e os estudos bibliogrficos de Julio C. Melatti (1987) e

    Dominique Buchillet (2007), somados ao que foi verificado no Mapa da Fome entre

    os Povos Indgenas no Brasil (Verdum 1995) e no Inqurito Nacional de Sade e

    Nutrio dos Povos Indgenas (Coimbra Jr. 2014), desvelam realidades inmeras

    vezes mais complexas e fornecem boas pistas para investigar e explicar a relao

    entre territrio, governana, mudanas socioambientais e a situao da sade fsica

    e emocional de indivduos e comunidades indgena no pas.

    Consideraes finais

    Este quadro de presses e de vulnerabilidades mais grave quando no so

    reconhecidos os direitos territoriais coletivos das comunidades indgenas, ou

    quando a despeito de ter havido o registro fundirio, ou seja, de ter sido criada a

    Terra Indgena no papel, no so garantidas pelo estado as condies humanas e

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    materiais governana da sua proteo. Para desestimular as invases e a

    depredao ambiental preciso o estado se fazer presente nessas reas de

    maneira adequada e efetiva. A precarizao dos servios prestados pela Fundao

    Nacional do ndio (Funai), com cortes sistemticos efetuados no seu oramento

    anual e perda de poder poltico de deciso nos assuntos sob a sua responsabilidade,

    em particular em processos de licenciamento ambiental, quando tem de avaliar e se

    posicionar sobre o impacto socioambiental em determinada Terra Indgena, tem

    efeitos diretos sobre os direitos territoriais dos coletivos indgenas.

    Lamentavelmente isso o que vemos ocorrer de maneira generalizada e

    sistemtica na Amaznia e no restante do pas.

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    Referncias bibliogrficas

    BUCHILLET, D. Bibliografia crtica da sade indgena no Brasil (1844-2006). Quito,

    Equador, pela editora Abya-Yala, 2007.

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    Amaznia Legal: O caso da BR-230/PA e das Terras Indgenas Me Maria, Nova

    Jacund e Soror. Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Planejamento Energtico, COPPE, da Universidade Federal do Rio de

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    FEARNSIDE, P.M.; GRAA, P.M.L. de A. BR-319: a rodovia Manaus-Porto Velho e o

    impacto potencial de conectar o arco de desmatamento Amaznia central. Novos

    Cadernos NAEA, 12 (1): 19-50. (2009).

    HARVEY, D. O Neoliberalismo: histria e implicaes. So Paulo, Edies Loyola,

    2008.

    IBEZ-NOVION, M.A. & TEIXEIRA OTT, A.M. (eds.). Adaptao enfermidade e

    sua distribuio entre grupos indgenas da Bacia Amaznica. Caderno CEPAM N 1.

    Braslia: Centro de Estudos e Pesquisas em Antropologia Mdica, 1987.

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    2001

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    to the Pacific Ocean. Copenhagen: IWGIA, 1992.

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    Novin, M.A. & Teixeira Ott (editores), Adaptao enfermidade e sua distribuio

    entre grupos indgenas da Bacia Amaznica. Cadernos CEPAM N 1. Braslia, DF.

    (1987)

    OLIVEIRA, J.P. & COHN, C. Belo Monte e a questo indgena. Distrito Federal:

  • 7

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    Srie Antropologia, Belm, v.3 (2): 135-154. (1987)

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    Florianpolis: Editora da UFSC, 2001.

    ROCHA, H.J. Relaes de poder nas instalaes de hidreltricas. Passo Fundo:

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    SANTOS, S.C. dos & NACKE, A. (orgs.) Hidreltricas e Povos Indgenas.

    Florianpolis: Letras Contemporneas, 2003.

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    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

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    VERDUM, R. (org.). Integrao, usinas hidreltricas e impactos socioambientais.

    Braslia: Instituto de Estudos Socioeconmicos, 2007.

    VERDUM, R. As obras de infraestrutura do PAC e os povos indgenas na Amaznia

    brasileira. Braslia: Instituto de Estudos Socioeconmicos, 2012.

    VERDUM, R.; SELAU, M.G.G. et al. Uma poltica diferenciada de sade para

    populaes indgenas isoladas e ou recm-contatadas: os Yanomami no Brasil.

    Sade em Debate (edio especial), Revista do Centro Brasileiro de Sade, p. 52-

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    VERSWIJVER, G. & ARAJO, C.O. O Impacto da Rodovia BR-163 na Vida atual dos

    ndios Mekrgnoti. Relatrio de Certas Atividades do Instituto Kabu no Quadro do

    PBA Componente Indgena. 2010.

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    QUADRO - TERRAS INDGENAS AFETADAS PELA FRONTEIRA HIDROENERGTICA

    HIDRELTRICA UF RIO AFETAO

    Prainha AM Aripuan No h registros

    Cachoeira Caldeiro AP Araguari No h registros.

    Ferreira Gomes AP Araguari No h registros.

    Santo Antnio do Jari AP Jari Existem trs Terras Indgenas (TIs) na rea da bacia hidrogrfica do rio Jari, duas situadas a leste e uma a oeste da bacia, as quais, juntas, ocupam cerca de 10% da rea total da bacia. Elas so habitadas, essencialmente, por dois povos indgenas, os Waipi, que ocupam a TI Waipi, e os Aparai-Wayana, que ocupam a TI Parque do Tumucumaque e a TI Rio Paru DEste. A TI Waipi a mais significativa no mbito da rea em estudo, pois seu territrio, bem como suas aldeias, esto situadas dentro dos limites da bacia hidrogrfica. As TIs das etnias Aparai-Wayana e suas aldeias situam-se, em essncia, na bacia hidrogrfica do rio Paru de Este, que uma bacia hidrogrfica localizada a oeste e adjacente bacia hidrogrfica do rio Jari. Segundo avaliaes realizadas, somente uma pequena parte dessas TIs adentra a bacia hidrogrfica do rio Jari, atingindo as cabeceiras do curso dgua principal e de alguns contribuintes da margem direita do mesmo. No processo de licenciamento no foram consideradas as Terras Indgenas que sero afetadas pelo empreendimento.

    Estreito MA/TO Tocantins Terra Indgena Krikati (MA) e Terras Indgenas Apinay e Kraolndia (TO).

    Marab MA Tocantins Na TI Me Maria, em Bom Jesus do Tocantins, o prejuzo ser considervel, pois a rea a ser inundada rica em caa e l tambm que fica a maior parte das rvores de onde so feitas as pontas de flecha. Alm disso, a aldeia j sofreu impactos da Estrada de Ferro Carajs, Rodovia BR-222, dois linhes da Eletronorte e agora uma linha de empresa de telefonia mvel. possivelmente a TI mais impactada por empreendimentos de infraestrutura no Brasil. A retomada do projeto da Hidreltrica de Marab, em 2001, coloca as famlias pertencentes ao povo Gavio em estado de alerta. H duas outras TI ameaadas, que so: TI Soror, no municpio So Geraldo do Araguaia (PA), habitada pelos Suru; e TI Apinay Tocantinpolis, nos municpios Mauritnia do Tocantins, So Bento e Cachoeirinha (TO), habitada pelos Apinay.

    Serra Quebrada MA Tocantins Terra Indgena Apinay.

  • 9

    Castanheiras MT Arinos No h registros.

    Colider MT Teles Pires Terras Indgenas Kayabi e Munduruku.

    Dardanelos MT Aripuan Na avaliao do antroplogo Gilberto Azanha (CTI, 2004), os impactos que o empreendimento trar para os Cinta Larga das TIs Aripuan e Serra Morena e para os Arara do Rio Branco, em funo das oportunidades que a obra ir gerar, so os seguintes: 1) incremento significativo de populao no municpio de Aripuan favorecendo mais derrubadas da vegetao no entorno daquelas TIs e o esgotamento das madeiras comerciais no curto prazo, incrementando a busca destas, por meios ilegais, consentidos ou no, dentro das TIs; 2) incremento significativo da populao na cidade de Aripuan e no distrito de Conselvam, incrementando a pesca e a caa ilegais que j ocorrem dentro das TIs; e 3) Aumento das empresas mineradoras na regio, em funo da diminuio do custo oportunidade para sua instalao (energia mais barata, mais estradas etc.) e, consequentemente, incremento do assdio s jazidas localizadas nas TIs, e tambm da poluio dos igaraps que servem as aldeias, afetando alm disso a oferta de pescado.

    So Manoel MT Teles Pires Segundo informaes do processo de licenciamento as Terras Indgenas afetadas sero: Kayabi, Munduruku, Pontal do Apiak e Isolados. Segundo o RIMA, a represa da usina ocupar uma rea pouco menor do que 6.600 hectares (66 km), atingindo terras dos municpios de Paranata (MT) e Jacareacanga (PA). A rea de influncia indireta (AII) inclui as Terras Indgenas Kayabi e Munduruku, a ltima aproximadamente 150 km rio abaixo, alm da TI Pontal dos Apiak com indcios da presena de ndios isolados. Na rea de influncia direta (AID) est a Terra Indgena Kayabi, a menos de 2 km do limite declarado.

    Sinop MT Aripuan No h registros.

    Belo Monte PA Xingu Terras Indgenas Juruna Km 17, Paquiamba, Arara da Volta Grande, Trincheira Bacaj, Koatinemo, Karara, Apyterewa, Arawet Igarap Ipixuna, Arara e Cachoeira Seca.

    Cachoeira dos Patos PA Jamanxim As informaes sobre o licenciamento ainda no indicam as Terras Indgenas que sero afetadas pelo empreendimento.

    Jamanxim PA Jamanxim Terras Indgenas Praia do ndio, Praia do Mangue, So Luiz do Tapajs, Pimental, Aldeia Nova, Sai-Cinza,

    Munduruku, Andir-Marau.

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    Jatob PA Tapajs TI Munduruku e TI Sai-Cinza.

    So Luiz do Tapajs PA Tapajs TI Praia do Mangue e TI Praia do ndio. Tambm comunidades locais cujo territrio ainda no foi reconhecido pelo estado: rea Km 43 da BR-230 (Sawr Apompu); rea Pimental; rea So Luiz do Tapajs (Sawr Jaybu); e rea Boa F (Sawr Maybu, Dace Watpu e Karu Bamaybu). O cadastro socioeconmico realizado durante o EIA revelou que, do total da populao residente na rea do empreendimento, 12% se autodeclararam indgenas ou com ascendncia indgena, sendo, principalmente, Munduruku (51%), Apiak (27%) e Sater-Maw (9%). As demais etnias citadas (entre elas Xavante, Guajajara, Cara, Serra Grande, Canelas, Guarani, Juru, entre outros) so provenientes de outras regies.

    Teles Pires PA Teles Pires Terras Indgenas Arara, Arawete Igarap, Ipixuna, Koatinemo, Apyterewa.

    Jirau RO Madeira Terras Indgenas Kaxarari, Igarap Ribeiro, Igarap Laje, Uru-Eu-Wau-Wau e isolados

    Rondon II RO Comemorao (ou Baro de

    Melgao)

    No h registros.

    Santo Antonio RO Madeira Terras Indgenas Karitiana, Karipuna e Isolados

    Tabajara RO Machado Terra Indgena Tenharim Marmelos (rea de influncia direta da obra).

    Bem-Querer RR Rio Branco No h registros.

    Paredo RR Mucaja Terras Indgenas Yanomami e Raimundo, localizadas a aproximadamente 35 km e 25 km, respectivamente (Fonte: Ibama).