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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS Instituto de Pós-Graduação em Administração - COPPEAD O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL: DESEMPENHO E PERSPECTIVAS Fernanda Peres Arraes Dissertação de Mestrado Orientador: Prof. Claudio Roberto Contador Rio de Janeiro Outubro de 1999

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Page 1: O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL: … · Outubro de 1999. ii ... O monopólio estatal, findo em 1998, ... Revista Veja, n. 24, p.129, 17/06/98. 7 descritos no referencial teórico

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

Instituto de Pós-Graduação em Administração - COPPEAD

O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL:DESEMPENHO E PERSPECTIVAS

Fernanda Peres Arraes

Dissertação de Mestrado

Orientador: Prof. Claudio Roberto Contador

Rio de Janeiro Outubro de 1999

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ii

O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL:DESEMPENHO E PERSPECTIVAS

FERNANDA PERES ARRAES

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof. _____________________________________________ - OrientadorClaudio Roberto Contador - COPPEAD/ U.F.R.J

Prof.______________________________________________Ricardo Pereira Câmara Leal - COPPEAD/ U.F.R.J

Prof. ______________________________________________Basílio de Bragança - CCS/U.F.R.J

Rio de Janeiro

Outubro de 1999

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iii

Arraes, Fernanda Peres.

O setor de telecomunicações no Brasil: desempenho e perspectivas /Fernanda Peres Arraes. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1999.

vi, 90 p. il.

Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD.

1. Setor de Telecomunicações. 2. Tese ( Mestr. - UFRJ /COPPEAD). I. Título

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RESUMO

ARRAES, Fernanda Peres. O setor de telecomunicações no Brasil: desempenho e

perspectivas.

Orientador: Claudio R. Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1999. Diss.

O trabalho objetiva analisar o setor de telecomunicações brasileiro quanto ao seu

desempenho durante vários anos de administração estatal e quanto às perspectivas para

o futuro em um novo ambiente de competição. É feito um levantamento das

características do setor de telecomunicações, desde o início das operações, passando

pelos motivos do Governo em tomar a frente na construção do sistema de

telecomunicações brasileiro, finalizando com as perspectivas, sob ótica qualitativa.

Finalmente, utilizando métodos econométricos, procura-se identificar a influência das

políticas econômicas no desempenho do setor de forma a corroborar as perspectivas

traçadas na primeira parte.

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v

ABSTRACT

ARRAES, Fernanda Peres. O setor de telecomunicações no Brasil: desempenho e

perspectivas.

Orientador: Claudio R. Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 1999. Diss.

This dissertation analyses the Brazilian telecommunications sector, in relation to

its performance during several years being a state-owned sector and to its future in a

new environment, after the privatization process.

We present a survey of the telecommunications sector's characteristics,

emphasizing the more relevant aspects. In the end of the first part, the analysis will

focus on its perspectives, qualitatively.

Finally, through the statistics and econometry, we analyse a twenty-two-year

period, quantitatively, confirming the forecasts done in the first part, showing that the

sector that had a lack of investments in recent years will experience a great development

due to new capital injection made by the private sector, and, particularly, that there are

external macroeconomics factors, that set the entrance of this industry in a prosperous

phase.

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vi

AGRADECIMENTOS

Gostaria de dedicar esta dissertação de mestrado à algumas pessoas que

contribuíram para sua realização.

Aos meus pais, que sempre apoiaram minhas iniciativas e me incentivaram a

gostar de estudar buscando sempre o aperfeiçoamento dos conhecimentos.

Ao meu marido, Roberto, pelo amor, apoio, carinho e compreensão pelos dias

em que, por força das circunstâncias, tivemos que ficar separados.

Ao meu avô Antônio, que não pode ver este trabalho terminado mas que sempre

me incentivou com suas palavras de carinho.

Ao Prof. Cláudio Contador, meu orientador, pelo apoio, paciência e

contribuições inestimáveis, sem os quais esta dissertação não teria sido realizada.

Ao Prof. Ricardo Leal, pelas importantes contribuições à esta dissertação.

A todos os professores e funcionários do COPPEAD/UFRJ que com

profissionalismo e dedicação tornaram a instituição um centro de excelência acadêmica.

E, finalmente, aos meus amigos do curso de mestrado, pelos momentos

adoráveis que passamos juntos, dentro e fora das salas de aula.

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1

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3

1.1.CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................................................................31.2. OBJETIVOS .........................................................................................................................................61.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO .................................................................................................................71.4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO...................................................................................................................7

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................8

2.1 DEMANDA POR BENS DURÁVEIS E CRESCIMENTO ECONÔMICO ............................................................82.2 DESEMPENHO PÓS- PRIVATIZAÇÃO - ANÁLISE COMPARATIVA..........................................................16

3. METODOLOGIA.................................................................................................................................21

3.1. TIPO DE PESQUISA............................................................................................................................213.2. UNIVERSO E AMOSTRA.....................................................................................................................213.3. COLETA DE DADOS...........................................................................................................................223.4. TRATAMENTO DE DADOS .................................................................................................................223.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO.................................................................................................................22

4. HISTÓRICO DO SETOR....................................................................................................................24

4.1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................244.2. A CRIAÇÃO DO SISTEMA TELEBRÁS .............................................................................................24

5. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SETOR....................................................................................28

5.1. ESTRUTURA DO SETOR PÚBLICO DE TELECOMUNICAÇÕES...............................................................285.1.1. A TELEBRÁS e suas Subsidiárias ............................................................................................28

5.2. SERVIÇOS OFERECIDOS ....................................................................................................................305.2.1. Planta Instalada .......................................................................................................................305.2.2. Tarifas ......................................................................................................................................325.2.2.1. Tarifas Locais........................................................................................................................335.2.2.2. Tarifas Internacionais ...........................................................................................................34

5.3. TRIBUTAÇÃO....................................................................................................................................375.4. RECURSOS HUMANOS.......................................................................................................................385.5. AMBIENTE REGULATÓRIO ................................................................................................................38

5.5.1. A ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações .............................................................42

6. INDICADORES SETORIAIS - CENÁRIO BRASILEIRO E MUNDIAL.....................................45

6.1. DADOS DEMOGRÁFICOS E MACROECONÔMICOS ...............................................................................456.2. INDICADORES DERIVADOS ...............................................................................................................46

6.2.1. Teledensidade ou Taxa de Penetração .....................................................................................466.2.2 Produtividade ............................................................................................................................476.2.3. Participação no Produto Interno Bruto ...................................................................................48

7. PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA TELEBRÁS....................................................50

7.1. A QUEBRA DO MONOPÓLIO..............................................................................................................507.2. O PASTE.........................................................................................................................................507.3. A VENDA DA BANDA B DA TELEFONIA CELULAR PARA O SETOR PRIVADO.....................................527.4. A DIVISÃO DO SISTEMA TELEBRÁS. .............................................................................................56

8. PERSPECTIVAS..................................................................................................................................58

9. AVALIAÇÃO ECONOMÉTRICA.....................................................................................................71

9.1 METODOLOGIA..................................................................................................................................719.2 ELABORAÇÃO DAS HIPÓTESES ...........................................................................................................71

9.2.1 - Renda dos consumidores.........................................................................................................729.2.2 Taxa de Juros ............................................................................................................................729.2.3 Taxa de Inflação ........................................................................................................................739.2.4 Formação bruta de capital fixo .................................................................................................73

9.3 SELEÇÃO DAS VARIÁVEIS..................................................................................................................749.3.1 Variáveis dependentes ...............................................................................................................74

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9.3.2 Variáveis Independentes............................................................................................................749.4 DESCRIÇÃO DO MÉTODO...................................................................................................................75

9.4.1 Resumo das Hipóteses ...............................................................................................................759.5 UNIVERSO E AMOSTRA......................................................................................................................759.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO..................................................................................................................759.7 ANÁLISE DE REGRESSÃO - CICLO DO FATURAMENTO .......................................................................779.8 ANÁLISE DE REGRESSÃO - INVESTIMENTO........................................................................................80

10. CONCLUSÃO ....................................................................................................................................82

11. PRÓXIMAS PESQUISAS .................................................................................................................86

12. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................87

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1. INTRODUÇÃO

1.1.Considerações Gerais

As comunicações tornaram-se há tempos componente crítico ao crescimento

econômico, o fator que move a chamada sociedade da informação. Para aqueles que têm

acesso, as telecomunicações são parte fundamental das atividades diárias e para muitos

de nós estes serviços são corriqueiros, mas para várias localidades do mundo e em

algumas regiões do Brasil, eles estão longe de ser uma realidade.

O setor de comunicações, constituído por telecomunicações, computação e

entretenimento, está crescendo em nível mundial a cerca de duas vezes a taxa de

crescimento anual do total da economia, segundo a ITU - International

Telecommunication Union, órgão de cooperação internacional em matéria de serviços

de telégrafos, telefones, rádio e outros meios de comunicação, que tem por objetivo

impulsionar o desenvolvimento de tais serviços e ampliar sua utilização por parte do

público1.

Muitos exemplos podem ser apresentados para justificar essas taxas de

crescimento. A multiplicação do número de usuários de equipamentos de informática

estabelecendo conexões via Internet; transações financeiras envolvendo pequenas

quantias em um caixa eletrônico ou transferências de grandes somas entre países de

continentes diferentes, a telemedicina e a teleeducação, bem como outras aplicações de

cunho social, tornam indispensável a realização de investimentos crescentes na infra-

estrutura de informação.

A participação do setor de serviços no produto interno bruto encontra-se em

crescimento constante, sendo que em muitos países já representa metade do produto

total, a figura 1.1.1 apresenta a evolução comparativa das taxas anuais de crescimento

do setor de serviços de telecomunicações e da economia entre 1990 e 1995, em todo o

mundo.

1 Ministério das Comunicações

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4

Figura 1.1.12

Nos países em desenvolvimento, a carência de capitais, a baixa disponibilidade

de recursos humanos qualificados, bem como o baixo atendimento ao mercado, têm

constituído elenco de fatores fundamentais à aceleração do processo de liberalização e

privatização do setor. A figura 1.1.2 apresenta o quadro geral de valores envolvidos nos

processos de privatização, por região do mundo, no período 1984 - 1996.

Figura 1.1.23

Por isso mesmo, os países estão competindo entre si por novos investimentos,

visando o desenvolvimento de suas infra-estruturas de informação. Espera-se que o

2 ITU - International Communications Union - World Telecommunication Development Report 19983 ITU - World Telecommunication Development Report - 1998

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5

número de privatizações nos próximos anos seja elevado, consumindo grande parte dos

capitais disponíveis no mercado internacional4. Dessa forma, os países que iniciarem

seus processos de abertura em prazos menores poderão ser beneficiados por uma maior

disponibilidade de recursos de capital.

A figura 1.1.3 apresenta a evolução do número de processos de privatização

realizados no período 1990 - 1996, bem como o volume de investimentos envolvidos.

Figura 1.1.35

Diante deste cenário, faz-se necessário entender a dinâmica deste setor, que é

fundamental para a atividade econômica do país.

O Brasil vem passando por profundas modificações neste setor, com o início da

liberalização de mercado e privatização do Sistema TELEBRÁS, responsável pela

prestação de serviços de telecomunicações no país.

Parte da população brasileira ainda encontra dificuldade para conseguir uma

linha telefônica. Para tornar-se um assinante residencial, o usuário pode esperar até dois

anos. Esta situação criou um mercado paralelo rentável, onde , até 1998, as linhas 4 Fonte: ITU - International Telecommunications Union - 1998

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chegavam a custar R$ 2.000,00. Estima-se que a demanda por telefones no Brasil

chegue a 26 milhões de pessoas.6

O setor de telecomunicações necessita de investimentos contínuos, mas as

empresas do sistema TELEBRÁS estagnaram durante anos, o que tornou dramática a

recuperação da indústria, que necessita de muitos milhões de dólares e alguns anos para

atingir índices de penetração de acessos telefônicos semelhantes aos de países

desenvolvidos.

Diante desta situação, o Governo Federal lançou em 1995, quando da aprovação

pelo Congresso Nacional da quebra do monopólio estatal das telecomunicações, o

PASTE - Programa de Recuperação e Ampliação do Sistema de Telecomunicações e do

Sistema Postal - visando modernizar e expandir o sistema de telecomunicações

brasileiro juntando recursos públicos e privados. Porque o Brasil é um país de

dimensões continentais, torna-se imprescindível um sistema de telecomunicações que

promova sua total integração, essa característica estimula o interesse de empresas

estrangeiras no processo de liberalização e privatização do setor. Espera-se que em um

futuro próximo, a regulamentação e a competição tenham se tornado as principais forças

atuantes neste setor. O monopólio estatal, findo em 1998, fez o setor atrasar-se

tecnologicamente e apresentar uma das maiores demandas reprimidas do mundo.

Há que se supor que a demora para iniciar o processo de privatização possa ter

trazido alguns benefícios, principalmente quanto a experiência vivida por outros países

que privatizaram seus setores de telecomunicações e tiveram algum tipo de problema

com o modelo adotado.

1.2. Objetivos

O principal objetivo desta dissertação é analisar o comportamento do setor de

telecomunicações no Brasil com relação a seus determinantes, propostos em trabalhos

5 Fonte: ITU - World Telecommunication Development Report 19986 Soraima Neto, João. A Maior do Mundo, Revista Veja, n. 24, p.129, 17/06/98

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7

descritos no referencial teórico. Neste contexto, serão testadas variáveis, que de acordo

com a evidência empírica demonstrada em trabalhos anteriores determinam a demanda

por serviços públicos e bens de capital.

Objetivos secundários deste trabalho são: traçar breve análise das perspectivas

dentro do novo cenário de privatização desenhado pelo atual Governo, relacionando-as

aos resultados obtidos por outros processos de privatização realizados por países em

desenvolvimento.

1.3. Delimitação do Estudo

A dissertação proposta se limita ao estudo do setor de telecomunicações

brasileiro, a partir de uma amostra formada pelas operadoras do antigo Sistema

TELEBRÁS, somente em relação aos serviços de telefonia, que representam a maior

parte da receita das empresas. Entre as inúmeras variáveis que podem influenciar o

comportamento do setor, o estudo analisa a renda dos consumidores, a taxa de juros, a

taxa de inflação e o indicador de formação bruta de capital fixo do país.

1.4. Relevância do Estudo

O desenvolvimento e modernização do setor de telecomunicações no Brasil,

como no mundo, é fator preponderante para o crescimento da economia. Para que esse

crescimento seja realizado o mais rápido possível, grandes modificações estão sendo

feitas não somente em termos de desregulamentação , como a quebra do monopólio

estatal do setor, mas também grandes investimentos na planta de telefonia.

A privatização das empresas do setor e a instalação do modelo de competição

ocorreram recentemente por isso seria interessante analisar comparativamente outros

processos semelhantes ocorridos em países em desenvolvimento, bem como avaliar

através de indicadores, a potencialidade de crescimento desta indústria no país.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo aborda as principais pesquisas existentes na literatura atual

relacionadas ao setor de telecomunicações no cenário internacional. No entanto não foi

encontrado nenhum trabalho que estudasse os determinantes da demanda pelos serviços

oferecidos pelo setor, mas sim pesquisas que analisavam o desempenho da indústria

após a transferência de seu controle ao setor privado. No intuito de incentivar pesquisas

futuras sobre o tema, discorreu-se, no item 2.2 sobre a literatura encontrada.

No sentido de formular hipóteses sobre os determinantes da demanda pelos

serviços de telecomunicações pesquisou-se estudos sobre demanda por bens duráveis,

fazendo-se analogia com demanda por telefones, bem como estudos sobre demanda por

serviços de infra-estrutura, como energia e petróleo. Em uma análise ampla, pesquisou-

se estudos sobre determinantes do crescimento econômico, entendendo-se que o

crescimento dos setores de infra-estrutura são espelho do crescimento do país. Estes

artigos estão elencados no item 2.1.

2.1 Demanda por bens duráveis e crescimento econômico

Antes de descrever os estudos empíricos realizados seria interessante revisar

uma parte da teoria das operações empresariais ou teoria da firma, base para as

investigações sobre os determinantes da demanda por bens em geral.

Segundo Ferguson (1994) existem quatro determinantes da demanda por um

bem. O primeiro , e na maioria dos casos, o mais importante é o preço do bem em

consideração. De acordo com a lei da demanda, a quantidade demandada varia

inversamente com o preço. De outro modo, diríamos que a curva de demanda é

negativamente inclinada, ou ainda, que variações no preço causam movimentos ao

longo de uma dada função de demanda, os movimentos representando as

correspondentes quantidades demandadas.

O segundo determinante seria a renda monetária. Para quase todos os indivíduos

e para quase todas as mercadorias, quanto maior a renda monetária, maior é a demanda.

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O terceiro determinante da demanda é o gosto. Os gostos ou padrões de preferência da

maioria dos indivíduos variam rapidamente. Um aumento na intensidade do desejo por

um bem, naturalmente, provoca um acréscimo em sua demanda. É claro que o oposto

ocorre quando o gosto de uma pessoa por um bem diminui. Finalmente, os preços de

outras mercadorias condicionam o nível de demanda para o bem em questão.

Ainda segundo Ferguson, o efeito destes determinantes sobre a demanda pode

ser medido através do conceito de elasticidade da demanda. A variação relativa na

quantidade demandada seguida de uma variação proporcional no preço é a resposta

relativa da quantidade demandada às variações no preço de um bem. A demanda é

considerada elástica se a elasticidade for maior do que a unidade, demonstrando que

pequenas variações no preço causam grandes variações na quantidade demandada, ao

passo que se a elasticidade é menor do que a unidade a demanda é dita inelástica,

indicando que uma variação percentual no preço resulta em uma variação menor na

quantidade demandada. Quanto mais e melhores forem os substitutos de um bem tanto

maior tenderá a ser a sua elasticidade preço, similarmente quanto maior o número de

possibilidades de uso de um bem tanto maior será sua elasticidade-preço.

Pode-se entender portanto a importância política da mensuração das

elasticidades-preço da demanda que vem sendo objeto de numerosos estudos estatísticos

para estimação dos valores numéricos de elasticidades-preço. A tabela abaixo reproduz

algumas destas estimativas.

Tabela 2.1.1

Bem Coeficiente de elasticidadeMilho 0.77Trigo 0.03Batata 0.69Aveia 0.54

Carne de boi 0.50Manteiga 0.70

Leite 0.31Lã para vestuário 1.32

Mobília 3.04Transporte aéreo 1.10

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10

O nível de compras de certos bens é muito sensível a variações na renda

monetária real e nominal. A medida para esta sensibilidade é a elasticidade-renda da

demanda. Certos autores sugerem que as mercadorias podem ser classificadas como

"necessárias" e "luxuosas" com base na elasticidade-renda. Caso esta seja muito baixa

(certamente menor que 1), a quantidade demandada não é muito sensível à variações na

renda. O consumo permanece quase o mesmo, independente do nível de renda. Isto

sugere que a mercadoria em questão seja uma "necessidade". Por outro lado, uma

elasticidade-renda maior que 1, indica que a mercadoria pode ser considerada um

"luxo".

Na verdade, certas leis de consumo foram desenvolvidas no século XIX, pelo

estatístico alemão Christian Lorenst Engel e presumivelmente, já não são válidas. De

acordo com Engel, a elasticidade-renda da demanda por alimentos é muito baixa; as de

vestuário e residência são próximos à unidade; enquanto recreação, cuidados médicos e

outros bens de "luxo" têm elasticidade-renda acima da unidade.

Ainda segundo a teoria da firma, a demanda pode ser influenciada por vários

outros fatores, sendo um deles a taxa de juros. Segundo Varian (1994), a análise do

comportamento do consumidor deve considerar as escolhas relacionadas com poupança

e consumo ao longo do tempo, as chamadas escolhas intertemporais.

A reação do consumidor perante uma mudança nas taxas de juros dependerá de

suas preferências nos períodos considerados. Dada uma restrição orçamentária de um

consumidor e suas preferências em cada um de dois períodos analisados, pode-se

examinar a escolha ótima de consumo (c1,c2). Se o consumidor escolher um ponto onde

c1<m1, sendo m1 sua renda no período 1, diz-se que ele é um emprestador, e se c1>m1

diz-se que ele é um tomador de empréstimos. A equação de Slutsky pode ser utilizada

para decompor a variação da demanda resultante de uma variação da taxa de juros em

efeitos renda e efeitos substituição.

Supondo que a taxa de juros aumente, em termos de restrição orçamentária de

valor futuro o aumento da taxa de juros é exatamente equivalente a elevar o preço do

consumo de hoje em comparação com o consumo de amanhã. Escrevendo a equação de

Slutsky, tem-se que:

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11

mc*)cm(

pc

pc m

111

1

s1

1

t1

∆∆−+

∆∆=

∆∆

)((?))((?) +++++++−++

O efeito substituição, como sempre, trabalha em sentido contrário ao preço.

Nesse caso, o preço do consumo no período 1 aumenta, de modo que no efeito

substituição é dito que o consumidor deverá consumir menos no primeiro período. Este

é o significado do sinal negativo sob o efeito substituição. Suponhamos que o consumo

deste período seja um bem normal, de modo que o último termo - o qual indica a

quantia como o consumo varia à medida que a renda varia - será positivo. Então coloca-

se um sinal positivo embaixo do último termo. Assim, o sinal da expressão total

dependerá do sinal de (m1-c1). Se a pessoa for um tomador de empréstimos, este termo

será negativo e a expressão total será decerto negativa - para um tomador de

empréstimos, um aumento da taxa de juros deverá diminuir o consumo hoje.

Isto acontece porque quando a taxa de juros aumenta, há um efeito substituição

que leva a consumir menos hoje. Par um tomador de empréstimos significa que ele terá

que pagar mais juros amanhã. Esse efeito o induz a tomar menos empréstimos e a

consumir menos no primeiro período. Já para um emprestador, o efeito é indefinido. O

efeito total é a soma de um efeito substituição negativo e um efeito renda positivo. Do

ponto de vista de um emprestador, um aumento da taxa de juros poderia representar

uma renda adicional tão grande que ele preferiria então consumir ainda mais no

primeiro período.

Os efeitos das variações da taxa de juros não são misteriosos. Há um efeito

renda e um efeito substituição como em qualquer outra variação de preço. Contudo,

sem uma ferramenta com a equação de Slutsky para separar os diferentes efeitos,

poderia ser difícil separarem-se as variações.

A seguir passamos a revisar os artigos referentes à demanda por bens duráveis e

serviços de infra-estrutura.

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12

Em coletânea de artigos denominada "Demanda por Bens Duráveis", Harberger

(1967), apresenta estudos investigativos dos determinantes da demanda por bens

duráveis, calculando as elasticidades de indicadores como renda, preço, taxa de juros e

inflação.

No primeiro artigo, Muth (1967), apresenta os determinantes da demanda por

moradia urbana. A preocupação é estimar a resposta desta demanda à variações na renda

dos consumidores e no preço associado. Segundo o autor, as opiniões sobre o tema

variam largamente. Por um lado, há a visão de que a moradia é uma necessidade e que

portanto, a quantidade demandada é alterada menos que proporcionalmente à alterações

no preço e na renda, na visão de Morton (1955): "Por causa da necessidade de abrigar-

se a moradia está logo atrás da alimentação em ordem de urgência... Neste sentido

despesas com moradia apresentam relação decrescente com a renda e não constante".

Esta afirmativa está em confronto com o que diz Marshall ( 1950): "Um cômodo

satisfaz a necessidade imperativa de abrigo mas esta necessidade não tem relação com a

demanda efetiva por cômodos" e que "Aonde a condição da sociedade é saudável parece

haver uma demanda elástica por cômodos, de acordo com o status social associado".

Ambas afirmativas estavam relacionadas à elasticidades de -0.08 para preço e de +0.5

para renda. A evidência obtida pelo estudo realizado por Muth, sugere no entanto que a

renda é positivamente relacionada com a demanda e que tem módulo igual a unidade,

assim como o preço é negativamente relacionado e possui elasticidades igual a -1.

No estudo de Burstein (1967), são investigados os determinantes da demanda

por refrigeradores domésticos. Ele propõe novamente preço e renda como variáveis

independentes e encontra elasticidades entre -1 e -2 para a variável preço. Quanto à

renda, o estudo é menos conclusivo, apresentando elasticidade entre 1 e 2. O autor faz

observações quanto às limitações do modelo no que concerne às características do bem

escolhido. Segundo ele, mudanças significativas na qualidades dos produtos foram

introduzidas durante o período estudado, além de haver pronunciadas tendências nas

séries de preço e quantidade assim como na série de renda, levando o problema de

multicolinearidade a um nível mais alto do que o normalmente encontrado em análises

de demanda.

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Em outro artigo, Griliches (1967) relata seus achados sobre a demanda por

tratores nos Estados Unidos. O modelo utilizado pelo autor indicou elasticidade-preço

da demanda de -0.25 no curto prazo e de -1.5 no longo prazo. As elasticidades em

relação às taxas de juros foram de -1 no curto prazo e de -5.8 no longo prazo. Foram

encontradas reduzidas elasticidades de preço no curto prazo mas estas não significam

que o investimento seja estável com relação a mudanças nos preços relativos dos

tratores. Na realidade, a elasticidade preço do investimento no curto prazo é muito

maior. É de -1,9 no nível médio de investimentos, o que mostra que 10% de aumento

nos preços relativos dos tratores ou queda de 10% nos preços dos produtos agrícolas

teria resultado em 19% de queda da demanda por tratores. Embora a elasticidade-preço

seja pequena ela ainda implica em grandes flutuações no investimento.

Enquanto pequenos períodos recessivos podem não resultar em grandes

alterações da demanda por bens duráveis que sejam insumos para agricultura porém

produzidos pelos setores não agrícolas, isto não representa uma conseqüência da

estabilidade da demanda por bens duráveis, mas sim o resultado da relativa estabilidade

da demanda dos consumidores por produtos agrícolas, particularmente alimentos. Por

outro lado, preços agrícolas flutuam substancialmente como resultado de políticas

governamentais, demanda de exportação, alterações no clima e outros fatores. Por

exemplo, entre os anos de 1947 e 1957 o preço real dos tratores mudou em média 8% de

ano para ano e em dois destes dez anos ele se modificou mais de 17%. Tais alterações

nos preços refletem-se imediatamente em grandes alterações na demanda por bens de

capital.

Em um artigo sobre determinantes do investimento feitos pelas empresas,

Grunfeld (1967) explica as variações nos investimentos feitos por empresas

individualmente no período de 1935-1954. Seus principais achados foram:

1. Lucros, que em estudos anteriores aparecem como excelente variável

explicativa para o investimento das empresas, parecem se comportar da

mesma maneira neste experimento. Mas uma observação mais atenta

demonstra que o papel dos lucros é, provavelmente, o de uma variável sub-

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rogada. Ela tende a ser correlacionada com alguns dos principais

determinantes de alterações no investimento e por isso também se

correlaciona bem com o próprio investimento. Mas existem variáveis que

refletem melhor estes determinantes.

2. A principal variável deste tipo é o valor de mercado da firma. Quando

tomada em conjunto com a estimativa do valor de substituição dos ativos da

firma, esta variável aparece como indicador sensível das expectativas sobre

as quais os investimentos são feitos.

3. Permitindo variações nas expectativas de retornos futuros foi possível

identificar a influência de mudanças nas taxas de juros sobre as decisões de

investimento. Para a amostra analisada, a taxa de juros parece exercer forte

influência nas decisões de investimento ao contrário do que era esperado em

função de estudos já realizados.

Streifel (1997), estuda a indústria de energia através dos determinantes da

demanda por derivados de petróleo. O estudo examina o crescimento da demanda por

oito derivados de petróleo em trinta e sete países em desenvolvimento, entre os anos de

1971 e 1993. Analisando as relações e mudanças ocorridas neste período na renda,

população, demanda por energia e derivados de petróleo para cada um dos países. O

artigo destaca a extrema heterogeneidade entre os países, não somente entre eles mas

quando comparados com a relativa homogeneidade dos países desenvolvidos. Alguns

fenômenos importantes que afetam a demanda por petróleo são examinados e as

elasticidades da renda e dos preços são calculadas para cada um dos produtos em todos

os países. Baseado nestes resultados, parece que a médio prazo o futuro imitará o

passado, com a demanda por petróleo crescendo na mesma proporção que a renda.

Nos 37 países em desenvolvimento analisados, a resposta da demanda à

variações na renda foi muito maior do que aquela em relação à variações nos preços.

Houve grande resposta à reduções de preços ocorridas nos anos 80, em contraste com a

demanda dos países desenvolvidos que reagiram pouco aos cortes nos preços. Para

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muitos países exportadores de petróleo, o consumo respondeu assimetricamente às

mudanças na renda: aumentando rapidamente enquanto a renda crescia e ainda

crescendo, embora em ritmo mais lento, quando a renda apresentava tendência

declinante. Embora o crescimento da demanda tenha sido influenciado principalmente

pela renda, houve substituição de alguns derivados em função dos aumentos de preço

da década de 70, especialmente no setor de geração de energia. Contudo, desde que o

preço do petróleo declinou em 1986, a sua utilização na geração de energia retomou

trajetória ascendente em alguns países. Outros fatores que afetaram a demanda foram a

capacidade de geração de energia doméstica e a transição para combustíveis mais

modernos. De uma maneira geral, o modelo obteve bons resultados para os oito

maiores derivados com destaque para gasolina, diesel, GLP e outros derivados. Os

resultados foram inconclusivos para "jet fuel" e "heavy oil" e insatisfatórias para nafta e

querosene. Somente um terço dos casos apresentou resultados significativos para o

preço do petróleo cru e as elasticidades encontradas foram muito pequenas se

comparadas àquelas encontradas para variações da renda. A evidência sobre respostas

simétricas à variações de preço foi mista: alguns produtos em alguns países

responderam simetricamente e outros assimetricamente.

Com relação à pesquisas sobre a influência de variáveis macroeconômicas no

desenvolvimento de setores da economia, apontamos os seguintes artigos.

Em artigo publicado em 1983, Fischer utiliza análises de regressão para mostrar

que o crescimento econômico é negativamente associado com inflação, grandes déficits

orçamentários e mercados de câmbio distorcidos. Evidência suplementar sugere que a

causa é advinda das políticas macroeconômicas adotadas pelos governos. O modelo

permite identificar as variáveis afetadas por estas políticas: inflação reduz o crescimento

por reduzir o investimento e o crescimento da produção, déficits orçamentários também

reduzem tanto o capital acumulado quanto a produção. O exame de casos excepcionais

mostrou que enquanto inflação baixa e pequenos déficits orçamentários não são

necessários para se atingir elevadas taxas de crescimento mesmo em grandes períodos

de tempo, inflação alta não é consistente com crescimento sustentado.

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Contador (1985) em seu artigo "Reflexões sobre o dilema entre inflação e

crescimento econômico na década de 80", discute a validade do dilema entre inflação e

crescimento econômico brasileiro na década de 80. O modelo utilizado incorpora a

visão monetarista da curva de Phillips e a abordagem antagônica que rejeita a relação

inversa entre inflação e crescimento econômico. Segundo o autor, como as restrições e

a política econômica modificam-se ao longo do tempo, é natural que, em certos

períodos, a relação entre a taxa de inflação e o crescimento dê razão aos proponentes da

curva de Phillips e, em outros períodos, aos seus opositores.

As evidências empíricas para o Brasil, em vários períodos, e para outros países

parecem confirmar a validade do modelo para várias economias, industrializadas e em

desenvolvimento, regidas predominantemente pelo mecanismo de mercado ou

centralizadas. Testes empíricos mais rigorosos para o Brasil complementam a análise, e

o modelo estimado apresenta um desempenho preditivo satisfatório para 1982 e 1983,

períodos não incluídos na estimação das equações.

2.2 Desempenho pós- privatização - Análise Comparativa

Alguns estudos tiveram como foco o porquê da escolha dos governos pela

privatização de serviços públicos. De acordo com Goodman e Loveman (1991), as

vendas totais de empresas estatais no mundo todo alcançaram U$ 185 bilhões até 1990,

em outra pesquisa, Megginson (1998) relata que os governos alcançaram U$660 bilhões

somente com ofertas públicas de ações e vendas diretas de estatais desde 1977. Além

disso, com o ritmo anual de privatizações durante os anos 90 chegando a U$ 100

bilhões, espera-se que U$ 6 trilhões em ativos sejam vendidos nos próximos 20 anos,

sendo mais da metade proveniente do leste europeu e da China.

Por outro lado, receitas provenientes de desestatização não podem ser a única

razão pela qual as privatizações tenham se tornado tão populares, pois se os governos

estiverem vendendo empresas lucrativas, as receitas recebidas da venda de ações serão

totalmente compensadas pela redução das remessas de lucros futuras. Uma razão mais

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profunda está na percepção recente de que a presença do Estado no controle de

empresas não é mais considerado o modelo ideal.

O que é surpreendente sobre a rápida disseminação desta idéia é que a maior

parte da pesquisa acadêmica dos anos 80 (Caves e Christensen (1980), Färe, Grosskopf

e Logan (1985) e Atkinson e Halvorsen (1986)) sustentava o Estado como empresário

tanto teórica quanto empiricamente.

Laffont e Tirole (1991), retomaram o debate sobre propriedade privada versus

propriedade estatal e perguntaram que forma de controle possibilitaria maior bem estar

social. Eles examinaram a diferença entre os modelos de controle estatal e

regulamentação estatal sobre controle privado, sendo o segundo o modelo utilizado por

várias indústrias atualmente ( telecomunicações, energia elétrica, petróleo, linhas aéreas,

etc.). Os autores verificaram que o custo devido a propriedade estatal é o investimento

excessivo em ativos que possam ser utilizados pelo Estado para causas sociais em

detrimento de investimentos visando maximização dos lucros. Ao passo que o custo da

propriedade privada é a não congruência de objetivos, onde os administradores da

companhia tentam satisfazer dois mestres - agências reguladoras e acionistas.

Durante a década de 80 muitos trabalhos sobre o impacto da privatização na

melhora de performance das empresas foram desenvolvidos, porém poucos examinaram

exclusivamente as privatizações no setor de telecomunicações.

Em geral estes estudos relatam os ganhos de eficiência conseguidos nas

privatizações de empresas de serviços públicos, embora também mostrem que a

distribuição destes ganhos entre os consumidores, acionistas e outros participantes do

sistema seja freqüentemente desigual. A partir desta constatação, destacam a

importância de um esquema regulatório pós-privatização que proteja a sociedade contra

a criação de monopólios privados que decidam abusar de seu poder de mercado.

Existem ainda estudos que utilizam amostras de empresas de vários setores e

países diferentes para examinar o impacto geral da privatização na mudança de

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performance das companhias. Galal, Jones, Tandan e Vogelsang (1992) examinaram as

conseqüências da privatização de doze empresas no Chile, Malásia, México e Reino

Unido. As indústrias estudadas foram: telecomunicações ( 3 companhias), linhas aéreas

(4 companhias), energia elétrica ( 2 companhias), uma loteria, um porto e uma

companhia de transportes. Eles analisaram a performance destas doze empresas após a

privatização para determinar se a transferência ao controle privado aumenta a eficiência

das companhias e, se isso acontece, como os custos e benefícios de adequação são

alocados . Os autores constataram ganhos em 11 das 12 empresas analisadas e, em

média, o valor presente destes ganhos igualava-se a 26% da receita de vendas das

empresas antes da privatização. Além disso, não foi relatado nenhum caso em que os

trabalhadores como classe tenham ficado em pior situação após a privatização, ao

contrário, relacionam-se três casos onde a classe foi significativamente beneficiada.

Megginson, Nash e Van Randenborgh (1994) examinaram a performance

operacional e financeira antes e depois da privatização de 61 companhias de 18 países e

32 indústrias diferentes, que experimentaram privatização total ou parcial através de

ofertas públicas de venda de ações durante o período de 1961 a 1990. Os autores

apresentam forte evidência de que após a privatização as empresas tornaram-se mais

lucrativas e eficientes, houve aumento de vendas e de investimentos. Além disso, essas

companhias reduziram significativamente seus níveis de endividamento e aumentaram o

pagamento de dividendos. Também não foi relatada nenhuma evidência de que os níveis

de emprego tenham sofrido qualquer redução após a privatização. Ao contrário, foi

evidenciado um aumento nos níveis de emprego em 64% das companhias da amostra.

Boubarki e Cosset (1998) examinaram os desempenhos operacionais e

financeiros de 79 companhias em 21 países considerados em desenvolvimento que

tiveram seu capital total ou parcialmente privatizado no período de 1980 a 1992. Estes

autores relataram significativos aumentos de lucratividade, eficiência operacional,

investimentos, vendas, emprego e pagamento de dividendos.

Dewenter e Malatesta (1997), estudaram 63 companhias privatizadas durante os

anos de 1981 e 1993 e observaram que a lucratividade medida como retorno sobre

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vendas como aproximação aumentou significativamente depois da privatização

enquanto a lucratividade medida como receita após pagamento de despesas de juros e

impostos foi reduzida após a privatização. Adiante eles mostram que a produtividade

sofreu um aumento representativo. Talvez o resultado mais importante tenha sido a

constatação de que as empresas privadas, incluindo-se as privatizadas, são mais

eficientes e lucrativas do que aquelas controladas pelo Estado.

Megginson e D'Souza (1999) examinaram o desempenho operacional e

financeiro de 85 companhias de 28 países no período de 1990 a 1996. Eles relataram

aumentos significativos nos níveis médios de lucratividade, vendas e eficiência

operacional, bem como reduções significativas nos níveis de alavancagem e variações

não significativas nos níveis de emprego e investimento. É interessante notar que na

amostra utilizada neste estudo encontra-se uma fração maior de empresas que atuam em

indústrias altamente regulamentadas ( como telecomunicações e energia elétrica) do que

no estudo de Megginson, Nash e Van Rendenborgh (1994), citado anteriormente.

Todos estes estudos tomaram amostras contendo empresas de diferentes

indústrias e mostraram que a privatização melhora o desempenho operacional e

financeiro das empresas. Os estudos mostram também que esta melhora operacional e

financeira não implica necessariamente em reduções nos níveis de emprego.

Finalmente, Megginson e D'Souza (1999), estudaram a performance financeira e

operacional (pré e pós-privatização) de 17 empresas da indústria de telecomunicações

de 14 países que tiveram seu capital completa ou parcialmente privatizado, via oferta

pública de ações, durante o período 1984-1994. O estudo teve o objetivo de examinar se

as privatizações das empresas de telecomunicações levaram a melhoras de desempenho

comparáveis àquelas relatadas pelos estudos citados anteriormente, bem como o de

isolar as fontes dos ganhos de performance nestas companhias.

Os autores relataram aumento nos níveis de lucratividade, faturamento, número

de acessos em serviço, eficiência, salário médio real por empregado e investimento, ao

passo que o nível de alavancagem das companhias sofreu redução após a privatização.

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Análises de regressão mostraram que o aumento de participação estrangeira no controle

das empresas aumentou a lucratividade, eficiência e investimentos mas reduziu os níveis

de emprego.

Além disso, aumentos na participação dos empregados no controle da empresa

levam a aumentos na eficiência das vendas e nos investimentos e a existência de um

contrato de opção de compra de participação para os empregados também eleva os

níveis de lucratividade. Mais ainda, a transferência do controle (50% ou mais da

participação) do Governo para a iniciativa privada está associada a aumentos na

lucratividade, faturamento, número de acessos em serviço, eficiência e investimentos e a

reduções nos níveis de emprego.

Os autores relataram que a remoção de subsídios cruzados entre os produtos

aumenta a lucratividade e os investimentos mas está associada a reduções nas vendas e

no número de acessos em serviço. A existência de um plano de manutenção de

participação dos empregados no capital da empresa durante um determinado período de

tempo está associada a redução das vendas, do número de acessos instalados, da

eficiência de vendas, do nível de emprego e do investimento.

Outras conclusões do estudo foram comparações entre os desempenhos pós-

privatização de companhias de países desenvolvidos e em desenvolvimento. O estudo

relatou que empresas de países desenvolvidos obtiveram aumentos maiores no número

de acessos instalados, vendas, eficiência de vendas e investimentos do que empresas de

países em desenvolvimento. Enquanto que os itens lucratividade e nível de emprego

aumentaram mais para os países em desenvolvimento. O estudo relatou a redução do

nível de endividamento das companhias após a privatização.

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3. METODOLOGIA

3.1. Tipo de Pesquisa

Para a classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia apresentada

por Vergara (1990), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto

aos meios.

Quanto aos fins a pesquisa foi exploratória e descritiva. Exploratória porque,

embora o setor de telecomunicações esteja hoje no centro das discussões do país,

verificou-se apenas estudos realizados já há anos passados quando a situação do setor

ainda era de monopólio e não se cogitava mudanças neste sentido, análises publicadas

pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também foram

consultadas, mas apresentavam abordagens mais específicas de subsetores. Descritiva

porque expõe características do setor no Brasil, estabelecendo correlações entre

variáveis internas e macroeconômicas.

Quanto aos meios, a pesquisa foi telematizada e bibliográfica. Telematizada,

porque buscou-se informações na Internet e bibliográfica porque, o estudo foi

sistematizado com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes

eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral.

3.2. Universo e Amostra

O universo da pesquisa refere-se a todo o setor de serviços de telecomunicações,

até 1998 prestado somente pelas operadoras do Sistema TELEBRÁS. A amostra

utilizada na parte de análise qualitativa do trabalho foi a dos serviços de telefonia

móvel e fixa por serem representativas de mais de oitenta por cento do faturamento do

Sistema TELEBRÁS, sendo classificada em Vergara (1990) como sendo por tipicidade,

enquanto que na segunda parte do trabalho onde realizamos a avaliação econométrica

foi utilizado o faturamento total do Sistema TELEBRÁS.

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3.3. Coleta de Dados

Os dados foram coletados por meio de pesquisas bibliográficas em livros,

revistas especializadas, jornais, teses e dissertações com dados pertinentes ao assunto,

bem como e principalmente através de dados operacionais e econômico-financeiros

requeridos às operadoras estaduais do Sistema TELEBRÁS.

Um banco de dados implementado pela ITU - International Telecommunications

Union - organismo internacional que reúne estatísticas do setor no mundo inteiro - com

informações sobre cem indicadores da indústria de telecomunicações de duzentos países

também será utilizado para análises comparativas.

Um banco de dados secundário desenvolvido pelo orientador desta dissertação,

Cláudio R. Contador, com séries históricas de indicadores macroeconômicos foi

utilizado na avaliação econométrica apresentada no capítulo que trata dos resultados

obtidos ao fim do trabalho.

3.4. Tratamento de Dados

Os dados serão tratados quantitativamente através de métodos estatísticos, teste

de hipóteses e avaliados segundo testes estatísticos paramétricos: modelo de regressão

múltipla e teste t de Student.

3.5. Limitações do Método

O termo erro em Econometria descreve as perturbações ocorridas devido a

inexatidão das relações econômicas . Perturbações que ocorram em um ano, podem não

interferir no ano seguinte, ou seja, uma das hipóteses básicas do modelo de regressão é a

de que o valor do termo erro em um período é independente de seu valor em qualquer

período, de modo que a covariância entre eles seja nula, caso contrário haverá

autocorrelação.

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Para eliminar a possibilidade de aceitarmos uma equação definida pelas

ferramentas de regressão que possua autocorrelação, realizam-se testes, neste caso o

teste utilizado foi o de Durbin - Watson (DW). O teste DW nos diz que se a estatística

(d ), parâmetro do teste, estiver próxima de 2, não haverá autocorrelação, porém se

estiver próxima a 0 ou a 4, haverá.

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4. HISTÓRICO DO SETOR

4.1. Introdução

A partir da década de 30, a intervenção governamental na economia ganhou

enorme impulso devido às teorias de origem keynesiana, particularmente com maior

intensidade nos países subdesenvolvidos, onde se pensava que o desenvolvimento

econômico não poderia ser atingido através apenas da competição de mercado7.

A falta de um mercado de capitais eficiente, a inflexibilidade do mercado de

trabalho, a inexistência de empresários privados minimamente capitalizados e outras

falhas de mercado justificaram a criação de empresas estatais em diversos setores.

Setores nos quais a iniciativa privada estava pouco propensa a investir por

apresentarem baixa rentabilidade , alto risco e longo prazo de maturação e aqueles em

que fatores tecnológicos e/ou de mercado impunham como solução ótima a instituição

de monopólios locais (os chamados "monopólios naturais"), foram objeto de

investimento por parte do Estado. Na época, na maioria dos casos, o Estado era visto

como o único agente capaz de arregimentar os recursos necessários à realização desses

projetos. Dentro deste ambiente foi criado o Sistema TELEBRÁS, descrito a seguir.

4.2. A Criação do Sistema TELEBRÁS

Até os anos 50, as concessões dos serviços de telecomunicações eram

distribuídas indistintamente pelos governos federal, estaduais e municipais, propiciando

que empresas operadoras surgissem e se expandissem de forma desordenada, com

custos onerosos e sem qualquer compromisso com a qualidade. No final dessa década,

existiam, aproximadamente, mil companhias telefônicas, com grandes dificuldades

operacionais e de interligação.

7 Pastoriza, Florinda Antelo. Privatização na Indústria de Telecomunicações: antecedentes e lições para ocaso brasileiro. Publicação BNDES, Textos para Discussão n.º 43.

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O primeiro passo para o desenvolvimento ordenado das telecomunicações no

Brasil foi dado com a aprovação pelo Congresso Nacional, em 27 de agosto de 1962, da

Lei 4.117, instituindo o Código Brasileiro de Telecomunicações, responsável pela

transformação radical do panorama do setor, disciplinando os serviços telefônicos e

colocando-os sob o controle da autoridade federal.

O Código definiu a política básica de telecomunicações, a sistemática tarifária e

o planejamento de integração das telecomunicações em um Sistema Nacional de

Telecomunicações (SNT) e8:

• Criou o Conselho Nacional de Telecomunicações subordinado à

Presidência da República, com as atribuições de coordenar, supervisionar e

regulamentar o setor de telecomunicações;

• Autorizou a criação da EMBRATEL - Empresa Brasileira de

Telecomunicações S. A . com a finalidade de implementar o sistema de

comunicações a longa distância, ligando, entre si, as capitais e as principais

cidades do País;

• Instituiu o FNT - Fundo Nacional de Telecomunicações, destinado a

financiar as atividades da Embratel.

Em 1967, foi aprovado o decreto-lei n.º 200 que, entre outros, criou o Ministério

das Comunicações.

No início da década de 70, o serviço de telefonia de longa distância apresentava

um bom nível de qualidade mas a telefonia urbana era deficiente. Como solução foi

autorizada a criação de uma sociedade de economia mista através da Lei 5.792, de 11 de

julho de 1972, a Telecomunicações Brasileiras S.A - TELEBRÁS, vinculada ao

Ministério das Comunicações, com atribuição de planejar, implantar e operar o SNT.

8 Fonte: Ministério das Comunicações. Disponível na INTERNET, via www.mc.gov.br

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Neste sentido, a TELEBRÁS instituiu em cada estado uma empresa - polo e

promoveu a incorporação das companhias telefônicas existentes, mediante aquisição de

seus acervos ou de seus controles acionários. Este período foi marcado por uma

expansão expressiva da planta telefônica, passando de 1,4 milhões para 5 milhões de

terminais instalados.

Foi nesse período que a TELEBRÁS implantou em Campinas, São Paulo, o

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD), para o desenvolvimento tecnológico do

setor. Foi também estabelecida uma política industrial visando a consolidação de um

parque industrial brasileiro, voltado à demanda do SNT (Sistema Nacional de

Telecomunicações).

Durante os anos 80, as significativas modificações no cenário político e a difícil

situação econômico-social do País afetaram o setor de telecomunicações, dificultando a

sua expansão conforme o esperado. Nesta época9:

• Consolidou-se o processo de incorporação das companhias telefônicas,

ficando a TELEBRÁS responsável pela operação de mais de 95% dos

terminais telefônicos em serviço e o restante por apenas cinco empresas de

serviços telefônicos não pertencentes ao Sistema TELEBRÁS;

• Foram lançados os satélites de comunicações BrasilSat-I em 1985 e o

BrasilSat-II em 1986, através dos quais se conseguiu a integração total do

território brasileiro, levando sinais de telefonia, telegrafia e televisão a todas as

regiões do País;

• A existência dos satélites possibilitou o lançamento do Programa de

Popularização e Interiorização das Telecomunicações, destinado a levar ao

maior número de localidades brasileiras as facilidades de comunicações e

proporcionar maior integração entre cidadãos e suas comunidades.

9 Fonte: Ministério das Comunicações

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Na década de 90, a TELEBRÁS se voltou para a retomada do crescimento e da

qualidade na prestação dos serviços de telecomunicações, através das diretrizes

estabelecidas no PASTE - Programa de Recuperação e Ampliação dos Serviços de

Telecomunicações e do Serviço Postal - um programa de investimentos criado pelo

Ministério das Comunicações com vistas a modernizar o setor para sua futura

privatização.

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5. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SETOR

5.1. Estrutura do Setor Público de Telecomunicações

5.1.1. A TELEBRÁS e suas Subsidiárias

A TELEBRÁS, através de suas subsidiárias operacionais, era, até 1998, a

principal prestadora de serviços públicos de telecomunicações no Brasil, controlada

pelo Governo Federal brasileiro, que regulamenta as operações do sistema.

As subsidiárias da TELEBRÁS tinham certa autonomia na condução de suas

políticas operacionais, financeiras e de pessoal. A holding, porém, procurava manter um

controle estrito de cada uma de suas subsidiárias, estabelecendo diretrizes de

investimento e crescimento e regras operacionais para elas. Todas as principais decisões

administrativas das subsidiárias deviam ser aprovadas pela TELEBRÁS.

Dentro de suas áreas operacionais, as subsidiárias forneciam o serviço telefônico

local, de longa distância intra-estadual, móvel celular e transmissão de dados, além de

outros serviços, como números com chamada gratuita e telefones públicos operados por

cartão indutivo.

A EMBRATEL, hoje privatizada, fornece os serviços de longa distância

internacionais e interestaduais, serviço de arrendamento de transmissão de dados em

alta velocidade, comunicação de dados via satélite, central de comunicação de dados por

pacote e sistema de gerenciamento de mensagens.

Até janeiro de 1998, havia 27 operadoras estaduais responsáveis pela telefonia

fixa e móvel (Banda A) e mais a EMBRATEL. Porém, com o processo de privatização

do sistema em andamento, foi feita a cisão das operadoras regionais em operadoras de

telefonia fixa e celular (Banda A), em assembléias dos acionistas ocorrida em janeiro de

1998. A seguir apresentam-se as operadoras regionais e suas áreas de atuação:

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Tabela 5.1.1.1

EMPRESA ÁREA DE ATUAÇÃOTELEACRE Estado do AcreTELASA Estado de AlagoasTELAMAZON Estado do AmazonasTELEAMAPÁ Estado do AmapáTELEBAHIA Estado da BahiaTELECEARÁ Estado do CearáTELEBRÁSÍLIA Distrito Federal, parte do Estado de Goiás

e Tocantins, Bahia e Minas GeraisTELEST Estado do Espírito SantoTELEGOIÁS Estado de Goiás (com exceção das

localidades atendidas pelaTELEBRÁSILIA e CTBC)

TELMA Estado do MaranhãoTELEMIG Estado de Minas Gerais (com exceção

das localidades atendidas pela CTBCTelecom.)

TELEMS Estado do Mato Grosso do Sul (comexceção das localidades atendidas pelaCTBC Telecom.)

TELEMAT Estado do Mato GrossoTELEPARÁ Estado do ParáTELPA Estado da ParaíbaTELPE Estado de PernambucoTELEPISA Estado do PiauíTELEPAR Estado do ParanáTELERJ Estado do Rio de JaneiroTELERN Estado do Rio Grande do NorteTELERON Estado de RondôniaTELAIMA Estado de RoraimaCTMR Pelotas(RS) e mais três regiões do Rio

Grande do SulTELESC Estado de Santa CatarinaTELERGIPE Estado de SergipeTELESP Estado de São Paulo (com exceção de

Ribeirão Preto, atendido pela CETERP emunicípios cobertos pela CTBCTelecom.)

CTBC Região do ABC paulistaEMBRATEL Longa Distância

Em janeiro de 98, como resultado da cisão ocorrida, cada uma dessas empresas,

com exceção da CTBC (Companhia Telefônica Borda do Campo) e da EMBRATEL,

teve criada sua correspondente para explorar o serviço móvel celular.

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Além das empresas do Sistema TELEBRÁS, há quatro empresas independentes

que exploram o serviço de telefonia no Brasil. São elas : CRT( que opera no Estado do

Rio Grande do Sul), a CTBC Telecom. ( que opera no Triângulo Mineiro, Nordeste de

São Paulo e municípios de Goiás e Mato Grosso do Sul), a CETERP (em Ribeirão Preto

- SP) e a SERCOMTEL (em Londrina - PR).

5.2. Serviços Oferecidos

O Sistema TELEBRÁS fornecia, sobretudo, serviços telefônicos básicos,

consistindo em serviço interurbano, local, internacional, móvel celular e serviço de

transmissão de dados. Da receita bruta consolidada dos serviços de telecomunicações

fornecidos pelo sistema TELEBRÁS em 1996, 37% vieram do serviço interurbano, 33%

do serviço local, 15% do serviço telefônico móvel celular, 7% do serviço de transmissão

de dados e 5% do serviço telefônico internacional, o restante provém de outros serviços

de telecomunicações ou afins tais como videotexto, telex e do fornecimento de listas

telefônicas10. Como se pode verificar os serviços de telefonia representam a quase

totalidade do faturamento da empresa.

5.2.1. Planta Instalada

Neste item descreve-se a evolução do Sistema TELEBRÁS através de

estatísticas de planta e tráfego. A planta é a designação da quantidade de terminais

instalados ou em serviço e o tráfego é a quantidade de pulsos ( cada pulso corresponde a

4 minutos de ligação) ou minutos de ligação telefônica.

A rede telefônica do Sistema TELEBRÁS vem crescendo continuamente desde a

implantação do PASTE, visando a privatização do setor. Em 1997, a rede instalada de

terminais fixos experimentou uma ampliação de 13,9% em relação ao ano de 199611. Da

mesma forma, a capacidade instalada da rede de telefonia móvel celular aumentou em

57,1% e o número de telefones de uso público expandiu-se em 19,2%. Apesar dessa

10 Relatório Anual TELEBRÁS 199611 Relatório Anual TELEBRÁS 1997

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expansão, as linhas de acesso em serviço continuam concentradas nas grandes áreas

urbanas, especialmente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A

seguir apresenta-se os gráficos representativos desta evolução:

Figura 5.2.1.1

Fonte: Telebrás

Figura 5.2.1.2

Fonte: Telebrás

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Figura 5.2.1.3

Fonte: Telebrás

5.2.2. Tarifas

Este item descreve as tarifas cobradas pelos serviços prestados pela

TELEBRÁS.

As tarifas dos serviços de telecomunicações fornecidos pelo sistema

TELEBRÁS estavam sujeitas à aprovação final do Ministério da Fazenda, ao qual a

TELEBRÁS submetia pedidos de reajuste através do Ministério das Comunicações.

Dados do Governo apontam que os serviços locais respondiam, em média, por

81% dos custos das operadoras, mas geravam 43% da receita, enquanto que as

chamadas de longa distância representavam 19% do custo e respondiam por 57% da

receita12. Este desequilíbrio era resultado da política de subsídios cruzados adotada no

Brasil, por meio da qual se transferia receita dos serviços interurbano e internacional,

em princípio utilizados pelas empresas e pelas camadas da população de maior renda,

para subsidiar o serviço local.

12 Apresentação da TELEBRÁS na Associação Brasileira dos Analistas de Mercado de Capitais em 1997.

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Em 1995, o Governo iniciou um processo de reestruturação de tarifas, com o

objetivo de estabelecer valores orientados pelo custo e de reduzir os subsídios

existentes. Abaixo descrevem-se os tipos de tarifas cobrados pelo sistema TELEBRÁS e

sua evolução.

5.2.2.1. Tarifas Locais

A receita das subsidiárias com o serviço local consistia na assinatura básica, no

serviço medido e outros serviços prestados ao cliente. A assinatura básica e o serviço

medido tinham seus valores uniformes por todo o país.

O serviço medido baseava-se no número de pulsos registrados por ligação, cada

quatro minutos correspondendo a um pulso. Todos os usuários do sistema recebiam, por

mês, noventa pulsos gratuitos e, apesar disso, 85% deles ultrapassam este limite

mensal13, não havendo diferenças entre serviço medido para assinatura residencial ou

comercial, porém a assinatura básica comercial era 1,5 vez mais cara do que a

residencial.

Até abril de 1997, o custo de aquisição de uma linha telefônica pelo usuário

consistia em um investimento obrigatório em ações da TELEBRÁS ( ou de suas

subsidiárias) pelo seu valor patrimonial, como parte do processo de

"autofinanciamento" da empresa. Este processo, foi substituído pelo pagamento de uma

taxa de instalação, seguindo modelo de países desenvolvidos. A tabela 5.2.2.1.1 a seguir

ilustra as mudanças nas tarifas máximas do serviço telefônico local até 1996:

13 Fonte: Relatório Anual Telebrás 1996

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Tabela 5.2.2.1.1

Tarifas médias no ano findo em 31de dezembro -(R$ de 31/12/96)**

1992 1993 1994 1995 1996Serviço Telefônico local:

Valor do autofinanciamento: 2.170,31 1.292,31 1.550,61 1.224,46 1.117,63Assinatura Básica Mensal

Residencial 1,44 0,76 0,61 0,69 2,70

Comercial 2,16 6,69 7,24 6,10 9,42Serviço Medido (por pulso) 0,02 0,03 0,03 0,02 0,04

** Média de tarifas mensais médias, descontados os impostos sobre valor adicionado

A seguir apresenta-se o gráfico comparativo das taxas de instalação de telefones

residenciais cobradas em alguns países comparadas às cobradas no Brasil:

Figura 5.2.2.1.114

Fonte:UIT

5.2.2.2. Tarifas Internacionais

As tarifas cobradas por ligações internacionais originadas no Brasil eram

estabelecidas pelo Ministério das Comunicações, sujeitas a aprovação do Ministério da

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Fazenda e variavam conforme o horário em que as ligações eram feitas, a duração da

ligação e o uso ou não de telefonistas. As tarifas de serviço telefônico internacional

eram uniformes em todo o Brasil.

A tabela abaixo demonstra as alterações nas tarifas cobradas por serviços

telefônicos de longa distância internacionais até 199615.

Tabela 5.2.2.1.2

Tarifas médias no ano findo em 31de dezembro - (R$ de31/12/96)***

ServiçoTelefônico

Internacional 1992 1993 1994 1995 1996PrimeiroMinuto

4,28 4,63 3,02 2,04 1,86

Cada minutosubsequente

4,28 4,12 2,22 1,49 1,36

*** Média de tarifas mensais médias, descontados os impostos sobre valor adicionado, de ligações do Brasil para os

EUA, na tarifa de período diurno.

5.2.2.3. Tarifas Interurbanas

As tarifas cobradas por ligações interurbanas eram estabelecidas pelo Ministério

das Comunicações, sujeitas a aprovação do Ministério da Fazenda. Os valores cobrados

eram computados com base no horário e no dia da semana em que as ligações eram

efetuadas, na duração da ligação e na distância coberta, bem como o uso ou não de

serviços especiais tais como o auxílio de telefonistas, as tarifas eram uniformes em todo

o Brasil.

Tabela 5.2.2.3.1

Tarifas médias no ano findo em 31 de dezembro* (R$ de 31/12/96)1992 1993 1994 1995 1996

Interurbano 0,48 0,71 0,50 0,40 0,44*Média das tarifas mensais médias, descontados os impostos de valor adicionado, para um minuto de ligação direta em período

diurno para uma distância de até 300 Km.

14 Dados colhidos junto ao banco de dados STARS fornecido pela International Communications Union.15 Fonte: Relatório Anual da Telebrás 1996

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5.2.2.4. Tarifas de Telefonia Móvel Celular

Antes de outubro de 1994, quando da alteração da estrutura tarifária do sistema

TELEBRÁS, as tarifas do serviço de telefonia móvel celular eram aplicadas a todas

ligações originárias de, ou recebidas por, telefones móveis celulares e consistia em um

valor medido com base na duração da ligação além de um valor correspondente à tarifa

que seria cobrada por uma ligação interurbana.

Porém, após a reestruturação tarifária, os assinantes passaram a pagar somente

pelas chamadas saintes, quando efetuadas de suas respectivas áreas de registro - região

onde o telefone foi habilitado para uso. Entretanto, quando a chamada fosse feita ou

recebida fora desta área, o assinante pagaria uma quantia adicional mais o imposto

respectivo. De janeiro de 1997 até fins de 1998, as tarifas eram as mesmas dentro de

qualquer região do país.

As receitas com serviços celulares consistiam em uma assinatura básica mensal

fixa, no serviço medido mensalmente, taxas de ativação, serviços de manutenção e

outros serviços prestados aos assinantes.

O serviço medido é calculado usando-se uma das três tarifas por minuto, a

depender do fato de a ligação ser dentro da área de registro, ou sub-área da área do

usuário ou de conectar com outra área do sistema .

A tabela a seguir ilustra as mudanças nas tarifas de telefonia celular no Estado

de São Paulo anualmente, no período de quatro anos terminado em 31 de Dezembro de

1996, em reais de poder aquisitivo constante de 31 de Dezembro de 1996. Escolheu-se

este estado como exemplo por ter representado 28,41% da receita com serviço celular

do Sistema TELEBRÁS em 1996.

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Tabela 5.2.2.4.1

Tarifas Médias no Ano Terminado em 31 de Dezembro de 1996 - R$

Móvel Celular 1993 1994 1995 1996

Taxa de Instalação 268,63 293,90 227,09 331,29

Assinatura Básica Mensal 42,98 42,00 26,22 27,30

VC1 por minuto 0,45 0,37 0,26 0,27

VC3 por minuto 1,12 0,86 0,66 0,66

5.3. Tributação

O custo de todos os serviços de telecomunicações para o usuário inclui uma

diversidade de impostos que são deduzidos da receita bruta para se chegar à receita

operacional líquida. O principal destes impostos é o imposto sobre valor adicionado

estadual, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS que incide

sobre a receita operacional decorrente do fornecimento de serviços de

telecomunicações. Este imposto sobre valor adicionado é cobrado em diferentes

alíquotas pelos diversos estados brasileiros, apesar de haver iniciativas de padronizá-las.

Na maioria dos estados, a alíquota para serviços de telecomunicações ( expressa em

porcentagem da receita bruta) é de vinte e cinco por cento, exceto para o serviço

internacional que foi de treze por cento no período de abril de 1994 a setembro de 1996

e, desde então , com a promulgação da Lei Complementar n.º 87/96, sua alíquota foi

para zero16.

Outros impostos sobre a receita operacional bruta são impostos municipais sobre

serviços, o Imposto Sobre Serviços - ISS, que alcança alíquotas entre 3,0% e 5,0% sobre

a receita operacional bruta com serviços que não serviços de telecomunicações, e

contribuições federais, o Programa de Assistência aos Servidores de Empresas Públicas

- PASEP e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social - COFINS,

cobradas a uma alíquota combinada de 2,65% da receita operacional bruta.

16 Fonte: Ministério das Comunicações

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5.4. Recursos Humanos

Trata-se de um setor em que o emprego se dava, até a privatização,

predominantemente por concurso público. Os empregados são engenheiros, técnicos e

pessoal administrativo, tendo, portanto, um custo alto, devido aos encargos decorrentes

deste tipo de contratação. O número de funcionários permaneceu constante durante a

década de 1980, contando com cerca de 98.000 pessoas, incluindo aquelas empregadas

indiretamente pelo Sistema, em virtude de contratos com companhias independentes,

para prestação de serviços.

Em 1993 e 1994, o sistema de emprego indireto foi gradualmente diminuído à

medida que as empresas do Sistema TELEBRÁS receberam autorizações para aumentar

suas folhas de pagamento. Como resultado, o número de empregados, em comparação

com o número de pessoas empregadas indiretamente, aumentou de 1992 até a metade de

1994, quando a maioria das pessoas empregadas indiretamente havia sido contratada

pela TELEBRÁS. O número de empregados diminuiu de 92.509 em 1995 para 87.282

em 1997, em decorrência de medidas administrativas para melhorar a produtividade

através de uma maior centralização do uso de tecnologia17.

5.5. Ambiente Regulatório

Em julho de 1996, quando da aprovação da Lei no. 9295, o país passou de um

regime de monopólio estatal de serviços de telecomunicações para um cenário que

contempla, inclusive, o ingresso de capitais estrangeiros para empresas que recebam

outorga para a prestação dos serviços móvel celular e de transporte de telecomunicações

por satélite.

No mundo todo, o setor de telecomunicações está sofrendo profundas modificações

ditadas basicamente por três forças inter-relacionadas:

• Globalização da economia;

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• Evolução tecnológica;

• Diversificação e crescimento acentuado da demanda.

Os governos, responsáveis pela organização institucional do setor de

telecomunicações nos diversos países, têm adotado medidas que possibilitem sua

adequação ao contexto acima descrito. Especialmente na última década, e em nível

mundial, presenciaram-se grandes mudanças na regulamentação do setor, uma vez que

as regras até então existentes foram concebidas sob a influência de mercados

essencialmente monopolistas, baseados em serviços telefônicos num estágio

tecnológico já ultrapassado18.

A necessidade de adotar uma regulamentação que permita que as operadoras possam

reagir rapidamente às demandas do mercado e da evolução tecnológica, oferecendo

assim toda a gama de serviços de telecomunicações exigida pela sociedade, não

significa que não se deva conferir peso adequado ao papel social das telecomunicações.

Em países como o Brasil, com grau inadequado de atendimento à sociedade, deve

continuar sendo um objetivo central da política governamental a oferta à sociedade de

serviços básicos de telecomunicações em toda a extensão do seu território, de forma não

discriminatória, com atributos uniformes de disponibilidade, acesso e conectividade, e a

preços satisfatórios19.

Para isso, é essencial que o arcabouço regulatório de telecomunicações evolua de

modo a colocar o usuário em primeiro lugar: o usuário deverá ter liberdade de escolha e

receber serviços de alta qualidade, a preços acessíveis. Isso somente será possível em

ambiente que estimule a competição dinâmica entre operadores, seja efetiva a separação

entre o organismo regulador e os operadores, e estejam asseguradas a interconectividade

e a interoperabilidade das redes. Tal ambiente permitirá ao usuário a melhor escolha,

por estimular a criação e o fluxo de informações colocadas à sua disposição por uma

grande variedade de fornecedores.

17 Fonte: Relatório Anual Telebrás 199718 Fonte: International Telecommunications Union (UIT)19 Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações

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O Governo promoveu um conjunto de transformações no setor de telecomunicações

no Brasil, essas transformações constituem o programa de mudanças, denominado

REST - Reforma Estrutural do Setor de Telecomunicações – que orienta o radical

processo de atualização do setor no Brasil, tendo como objetivo básico desenvolver um

novo modelo institucional, criando condições para que a exploração dos serviços se dê

em regime de competição justa e de maneira a assegurar o máximo benefício para a

sociedade brasileira. Além disso, busca atingir outros objetivos operacionais, tais como:

• Mudar o papel do estado de empresário para o de regulador;

• Acelerar o desenvolvimento do setor;

• Atrair investimentos para o setor;

• Estabelecer condições para a universalização da oferta de serviços; e

• Maximizar o valor de venda das empresas do Sistema TELEBRÁS para

privatização.

Os passos concretos da reforma foram cumpridos da maneira seguinte20:

• Aprovação, em agosto de 1995, da Emenda Constitucional que abriu o setor

à participação de capitais privados;

• Aprovação, em julho de 1996, da Lei n.º 9295, que trata da organização do

Serviço Móvel Celular, do Serviço de Transporte de Sinais de

Telecomunicações por Satélite e dos Serviços Limitados, bem como da

utilização da rede pública de telecomunicações para a prestação de Serviços

de Valor Adicionado;

20 Informações retiradas da home page do Ministério das Comunicações

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• Publicação, em novembro de 1996, do Regulamento do Serviço Móvel

Celular, bem como das Normas que estabelecem as condições para

exploração desse serviço;

• Envio ao Congresso Nacional, em dezembro de 1996, do projeto de Lei

Geral das Telecomunicações Brasileiras - LGT;

• Início, em novembro de 1996, do Processo de Licitação de Concessão para a

prestação do Serviço Móvel Celular na banda “ B ”.

Em julho de 1997, foi aprovada a Lei Geral de Telecomunicações - LGT, que

substitui, parcialmente, o Código Brasileiro de Telecomunicações, vigente desde 1962.

Essa lei é composta de três partes principais, a saber :

• Criação do órgão regulador;

• Organização dos serviços de telecomunicações e,

• Reestruturação e desestatização do Sistema TELEBRÁS.

A lei permite a introdução da competição em todos os segmentos e serviços do

setor, representando, um desafio para o desempenho das atuais empresas

concessionárias de serviços públicos de telecomunicações. Propicia também o

estabelecimento de um ambiente de grandes oportunidades de novos negócios. Esse

fenômeno, por sua vez, situa-se num contexto mundial de transformações tecnológicas,

econômicas, político-institucionais e culturais.

Adicionalmente, a aprovação da LGT altera profundamente as atribuições atuais

do Ministério das Comunicações. Na estrutura governamental em vigor, o Ministério

das Comunicações desempenha um triplo papel: o de regulador e fiscalizador dos

serviços do setor de comunicações no Brasil, o de formulador das políticas

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governamentais para o setor, e o de agente supervisor e controlador da atividade

empresarial do Estado nessa área.

Como formulador das políticas governamentais, o Ministério exercita a função

que cabe verdadeiramente a um agente do Executivo, qual seja: definir as metas e

exigências de serviços para atendimentos dos anseios da sociedade e necessidades dos

agentes econômicos.

Na qualidade de regulador, compete ao Ministério das Comunicações o

estabelecimento da política nacional de telecomunicações; a regulamentação, outorga e

fiscalização de serviços de telecomunicações; e o controle e a administração do espectro

de radiofreqüências. Tais atividades são hoje no mundo, destinadas a agentes com

características fortes de independência, denominados órgãos reguladores, no Brasil foi

criada a ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações.

5.5.1. A ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações

Criada como autarquia especial, ela é administrativamente independente,

financeiramente autônoma, não se subordina hierarquicamente a nenhum órgão de

governo - suas decisões só podem ser contestadas judicialmente -, seus dirigentes têm

mandato fixo e estabilidade. Acompanhando e fiscalizando todas as iniciativas da

Agência, há um Conselho Consultivo, formado por representantes do Executivo, do

Congresso e de entidades das prestadoras de serviço, dos usuários e da sociedade em

geral. Além disso, todas as normas elaboradas pela ANATEL são antes submetidas a

consulta pública, seus atos são acompanhados por exposição formal de motivos que os

justifiquem e cabendo, ainda, a um Ouvidor, a apresentação periódica de avaliações

críticas sobre os trabalhos da Agência.

Do Ministério das Comunicações, a ANATEL herdou os poderes de outorga,

regulamentação e fiscalização e um grande acervo técnico e patrimonial. A autonomia

financeira da agência está assegurada, principalmente, pelos recursos do Fundo de

Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), o qual é de sua exclusiva gestão. A

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ANATEL, em sua proposta orçamentária anual e no plano plurianual, deverá prever o

montante dos recursos a serem destinados ao Fundo de Universalização dos Serviços de

Telecomunicações, depois que este for criado por lei, bem como os valores que serão

transferidos ao Tesouro Nacional. O quadro de pessoal é constituído, em sua maior

parte, por servidores transferidos do Ministério das Comunicações, podendo haver

requisições a outros órgãos de governo e terceirizações para atividades de consultoria e

de apoio técnico e administrativo.

Dentre suas atribuições, destacam-se as seguintes21:

• Implementar a política nacional de telecomunicações

• Propor a instituição ou eliminação da prestação de modalidade de serviço no

regime público

• Propor o Plano Geral de Outorgas

• Propor o plano geral de metas para universalização dos serviços de

telecomunicações

• Administrar o espectro de radiofreqüências e o uso de órbitas

• Compor administrativamente conflitos de interesses entre prestadoras de

serviços de telecomunicações

• Atuar na defesa e proteção dos direitos dos usuários

• Atuar no controle, prevenção e repressão das infrações de ordem econômica, no

âmbito das telecomunicações, ressalvadas as competências legais do CADE

21 Disponível na INTERNET via www.anatel.gov.br

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• Estabelecer restrições, limites ou condições a grupos empresariais para obtenção

e transferência de concessões, permissões e autorizações, de forma a garantir a

competição e impedir a concentração econômica no mercado

• Estabelecer a estrutura tarifária de cada modalidade de serviços prestados em

regime público

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6. INDICADORES SETORIAIS - CENÁRIO BRASILEIRO E

MUNDIAL

Este capítulo fará a descrição dos principais indicadores definidos pela ITU,

International Telecommunications Union , através de seu documento

Telecommunications Indicators Handbook, 1997, para a avaliação do nível de

desenvolvimento da indústria de telecomunicações de um país, bem como para

comparação dos indicadores brasileiros com o de outras economias mundiais.

6.1. Dados demográficos e macroeconômicos

Os indicadores básicos do setor não incluem estatísticas demográficas e

macroeconômicas, mas estes dados são necessários para calcular-se o grau de

penetração da rede de telefonia do país, bem como o impacto do setor na economia

como um todo . Dados demográficos e macroeconômicos úteis para análise do setor de

telecomunicações são descritos na tabela abaixo:

Tabela 6.1.1 - Indicadores Demográficos e Macroeconômicos

Demográficos O tamanho da população é essencial para medir o graude penetração da rede ( isto é, o n.º de linhas por 100habitantes ). Número de lares e a percentagem dapopulação habitando áreas urbanas também são úteis.

Emprego É útil quando se deseja expressar o emprego gerado pelosetor como uma percentagem do emprego total.

Taxa de Câmbio Necessário para transformar dados financeiros emunidades padrão para comparações entre países. Paracomparações entre tarifas é preferível utilizar o PPP(Purchasing Power Parties) que leva em consideração osdiferentes custos de vida.

PIB Útil para indicar o tamanho do setor de telecomunicaçõesvis-a-vis a economia como um todo ( faturamento dosetor de telecomunicações como um percentual do PIB).

Formação Bruta deCapital Fixo

Útil para indicar a parte do investimento emtelecomunicações no total do investimento da economia.

Índices de Preços O índice de preço é útil para retirar dos dados financeirosos efeitos da inflação.

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6.2. Indicadores Derivados

Estatísticas derivadas não são definidas já que podem ser calculadas a partir dos

indicadores primários. Os indicadores tipicamente analisados são os seguintes:

6.2.1. Teledensidade ou Taxa de Penetração

É o indicador mais utilizado para avaliar o nível de atendimento da rede de

telefonia de um país. Como já foi descrito anteriormente, a teledensidade é definida pelo

número de acessos telefônicos por cada 100 habitantes. A seguir apresenta-se um

gráfico comparativo destacando-se a posição brasileira.

Figura 6.2.1.1

Como se pode verificar pelo gráfico acima, o Brasil ainda possui uma posição

acanhada no cenário mundial no que se refere ao acesso da população aos serviços de

telefonia básica. Estamos a frente apenas da China.

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6.2.2 Produtividade

Este indicador mede a produtividade dos empregados através da análise do

número de empregados por 1000 acessos telefônicos. Como se pode ver pelo gráfico, o

Brasil ocupa uma posição ainda aquém em relação aos países desenvolvidos neste

aspecto, uma vez que a média deste indicador nestes países estava em torno de 4,6 e até

1996, o Brasil ainda apresentava 5,93.

Poderia se supor um excesso de pessoal, mas, na verdade, o que ocorre é falta de

pessoal qualificado e, como já salientado, carência de investimentos, o que

conseqüentemente criou uma imensa demanda não atendida.

Para se ter uma idéia da necessidade de profissionais para esta área, Luiz Costa,

diretor do Centro de Estudos em Telecomunicações da PUC do Rio (Cetuc) diz que se

juntarmos todas as faculdades de engenharia do Brasil, não chegaremos nem perto das

3.000 vagas que serão abertas por ano, nos próximos anos. Ainda segundo Luiz Costa,

as escolas precisam se adaptar e criar espaço para novas turmas. Mas o reflexo disso só

aparecerá dentro de quatro anos, quando a primeira leva se formar.

Mas, apesar das vagas abundantes, as empresas não estão dispostas a contratar

qualquer um. Elas dão enorme valor ao domínio do inglês - já que a maior parte dos

manuais e programas utilizados no setor é importada - e exigem dos candidatos uma

enorme disposição para aprender novas tecnologias e se atualizarem constantemente. É

essa agilidade na requalificação que falta para a maioria dos brasileiros, de acordo com

uma pesquisa realizada pela DPS, consultoria de recursos humanos.

Segundo Flávia Sobreira, responsável pelo estudo feito pela DPS, a exigência

por qualidade é muito grande. Como o mercado brasileiro será insuficiente, as empresas

deverão buscar no exterior mão-de-obra especializada, é claro que nem todos os

empregos a serem criados estarão reservados apenas para pessoas com nível

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universitário. Mas, também na área técnica, a oferta virá acompanhada de aumento nas

exigências22.

Figura 6.2.2.1

6.2.3. Participação no Produto Interno Bruto

A fim de comparar a participação da indústria de telecomunicações na

economia de um país como um todo analisa-se o faturamento como um percentual do

Produto Interno Bruto. A seguir apresenta-se este indicador para países desenvolvidos e

em desenvolvimento em comparação com o Brasil.

Verifica-se , pelo figura 6.2.3.1., que no Brasil, o setor de telecomunicações

responde por 3,31% do PIB, enquanto que em países desenvolvidos, como Estados

Unidos e Reino Unido, este percentual não ultrapassa 1,8%.

Neste aspecto, há duas observações a serem feitas: podemos dizer que há um

potencial de crescimento enorme, haja vista a demanda reprimida pelos serviços no país,

com isso espera-se que esta participação no PIB cresça ainda mais, porém pelo mesmo

motivo, ou seja, a demanda reprimida, verifica-se que o crescimento da economia do

22 Moura, Germana Costa. Duarte, Patrícia. Uma chuva de empregos: 300.000 vagas até 2001, Jornal OGlobo, 22/01/1999.

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país pode estar sendo tolhido pela limitação das comunicações, portanto, no longo

prazo, espera-se uma participação semelhante a dos países do primeiro mundo, com o

desenvolvimento dos outros setores da economia.

Figura 6.2.3.1

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7. PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA TELEBRÁS

7.1. A Quebra do Monopólio

Em agosto de 1995, o Congresso Nacional, votou uma emenda à Constituição

para permitir que o Governo Federal outorgasse concessões a empresas privadas para o

fornecimento de serviços públicos de telecomunicações. Anteriormente, a Constituição

exigia que as concessões para o fornecimento de serviços públicos de telecomunicações

fossem outorgadas somente a empresas estatais. A primeira lei implementada com base

na nova disposição constitucional, Lei N.º 9.295, de 19 de julho de 1996, trata do

fornecimento de serviço móvel celular, comunicação via satélite e transmissão de dados

e estabelece crescente competição do setor privado naquelas áreas. Este foi o primeiro

passo para o início do processo de reestruturação e privatização do setor.

7.2. O PASTE

O PASTE - Programa de Recuperação e Ampliação do Sistema de

Telecomunicações e do Sistema Postal - ao ser lançado em 1995, teve por objetivo,

entre outros, reverter o quadro de atendimento ao mercado de serviços de

telecomunicações fortemente concentrado nas camadas de renda mais alta da população

e eliminar a pressão da demanda. No biênio 1995-96, apoiando-se nos pressupostos nos

quais baseiam-se seus projetos e programas, atuou nessa direção, tornando-se um forte

impulsionador da oferta de serviços de forma mais ampla na sociedade e aumentando

tanto o acesso aos serviços básicos de comunicações, como o atendimento à demanda

dos outros segmentos da sociedade.

Em síntese, a realidade brasileira requer um amplo leque de alternativas de

serviços, desde os mais simples, de fácil utilização e custos módicos, para as famílias de

baixa renda e para as microempresas, até os mais sofisticados, em altas velocidades e

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faixas largas, para os segmentos mais desenvolvidos da sociedade e para as empresas de

maior porte23.

Em linha com essas conclusões e no sentido de "promover amplo programa de

investimentos públicos e privados, com a participação de agentes nacionais e

estrangeiros, na melhoria e expansão da infra-estrutura de transportes, comunicações e

energia"24, o Governo Federal estabeleceu metas explícitas de expansão do sistema de

telecomunicações, traduzidas na ampliação da oferta de acessos aos diferentes serviços.

Essas metas constam do PASTE, cuja primeira edição foi divulgada pelo

Ministério das Comunicações no final de setembro de 1995. O PASTE, detalha os

projetos de investimento no setor no período 1995-1999 e estima sua extensão até 2003,

financiados com recursos provenientes essencialmente da iniciativa privada, totalizando

no período R$ 91 bilhões.

Considerando especificamente o segmento de telefonia, o PASTE propõe que no

horizonte 1999-2003 sejam atingidos os objetivos de atendimento mostrados na tabela

abaixo:

Tabela 7.2.1 - Acessos por 100 habitantes

1999 2003Segmentos de

MercadoTelefonia Fixa Telefonia

MóvelTelefonia Fixa Telefonia

MóvelTotal 26 12 40 23

FamíliasUrbanas

15,9 8,0 22,2 14,5

Famílias Rurais 1,8 0,9 3,2 1,2Empresas 8,3 3,1 14,6 7,3

Comparados com os 13,3 milhões de terminais telefônicos instalados existentes

ao final de 1994, esses objetivos significam um crescimento médio anual de 14,3% no

período 1994-1999 e de 11,4% no período 2000-2003. Quanto à telefonia celular, os

23 Fonte: PASTE24 PASTE

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objetivos propostos representam incrementos médios anuais de 82% entre 1994 e 1999,

e de 17,6% entre 2000 e 2003, em relação aos 600 mil usuários existentes em 199425.

7.3. A Venda da Banda B da Telefonia Celular para o Setor Privado

A alteração do Artigo 21 da Constituição Federal, realizada através da emenda

n.º 8, de 15.08.95, abriu o caminho para a exploração dos serviços públicos de

telecomunicações, com participação de empresas privadas, em um ambiente

competitivo. Ficou também estabelecido que essa exploração se realizaria inicialmente

nos termos de uma lei básica, que disporia sobre a organização dos serviços, a criação

de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.

Com a finalidade de abreviar o início da prestação de alguns serviços neste novo

ambiente neles incluído o serviço móvel celular, o Governo submeteu ao Congresso

Nacional um projeto de lei dispondo sobre condições mínimas para sua organização e

exploração.

Aprovado o projeto de lei, definiu-se em relação ao serviço móvel celular os

seguintes pontos:

• Concorrência pública para concessão à exploração de uma faixa do espectro de

freqüências destinado à transmissão dos sinais do serviço móvel celular, esta faixa

foi chamada de Banda B por serem as operadoras estatais detentoras da concessão

para a exploração de uma outra faixa de mesma largura que foi designada Banda A.

• A obrigação das concessionárias de serviços públicos de telecomunicações de tornar

disponíveis suas redes para interconexão, em condições adequadas, equânimes e não

discriminatórias

• A constituição pela TELEBRÁS, no prazo de até dezoito meses, de empresas

subsidiárias ou associadas para assumir a exploração do serviço, admitida a 25 PASTE

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participação de capitais privados, mediante licitação entre concorrentes que não

explorem o serviço na mesma área de concessão

• A proibição a governo estrangeiro de controlar direta ou indiretamente, o capital

votante das empresas concessionárias

• A cobrança, pela União, pelo direito de exploração dos serviços e pelo uso de

radiofreqüências.

A modelagem realizada para a licitação das concessões dividiu o país em dez

regiões, sendo que seis delas foram consideradas mais rentáveis e por isso mesmo

apresentaram preço mínimo mais elevado. Neste sentido, o consórcio que vencesse em

uma destas áreas não poderia concorrer em nenhuma outra área deste bloco considerado

mais rentável.

Seria considerado consórcio vencedor aquele que apresentasse proposta com a

melhor combinação entre maior preço pago pela concessão e menores tarifas cobradas

ao consumidor, sendo que estas propostas só foram avaliadas após a aprovação do

projeto de instalação da estrutura necessária à prestação do serviço apresentado por cada

um dos consórcios.

Assim, em abril de 1997, foram licitadas as dez regiões em que o Brasil foi

delimitado para a prestação do serviço móvel celular pela iniciativa privada. O novo

mapa da telefonia móvel celular no Brasil ficou assim:

Área 1 - Região Metropolitana de São Paulo

Inclui os 63 municípios da região metropolitana de São Paulo. Foi outorgada ao

consórcio liderado pela empresa Santabel Ltda. por R$ 2,674 bilhões, o que representou

um ágio de 341,25% sobre o preço mínimo estipulado pelo Governo. Conta com a

BellSouth como sócio operador.

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Área 2 - Interior do Estado de São Paulo

Compreende todo o interior paulista, o que representa 17% do PIB nacional, foi

concedida ao consórcio liderado pela operadora sueca Telia Overseas que desembolsou

R$ 1,326 bilhão no leilão.

Área 3 - Rio de Janeiro e Espírito Santo

Engloba os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Foi adquirida pelo

consórcio liderado pelo Grupo Algar de Uberlândia - MG pelo valor de R$1,508 bilhão

e conta com KMT - Korea Mobile Telecom International como sócio operador.

Área 4- Minas Gerais

O consórcio liderado pelas operadoras italianas Itália Telecom / Stet

International adquiriu o direito a exploração desta região por R$520 milhões, pagando

ágio de 30% em relação ao preço de referência.

Área 5 - Paraná e Santa Catarina

O consórcio vencedor foi o Global Telecom que conta com as japonesas DDI e

Nissho Iwai como operadores do serviço. O preço de venda foi R$ 330 milhões.

Área 6 - Rio Grande do Sul

Pagando o menor ágio do leilão o consórcio TELET, composto por vários

fundos de pensão nacionais associados às operadoras Bell Canada International e

Telesystem Interntional Wireless Brazil, venceu na área 6 pagando R$ 334,5 milhões

pela concessão.

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Área 7 - Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre e

Distrito Federal

A Americel foi a primeira empresa constituída para explorar o Serviço Móvel

Celular na Banda B, em 11 de junho de 1997. Ela explora a área 7, agregando os estados

citados no subtítulo que juntos representam 6,3% do PIB nacional. Do capital da

Americel fazem parte a Bell Canada International, Telesystem International Wireless

Brazil e alguns fundos de pensão nacionais.

Área 8 - Amazonas, Amapá, Pará, Maranhão e Roraima

Não foi feita nenhuma oferta para esta área, o Governo pretende dar mais

incentivos à empresa que se instalar nesta área e deve lançar um novo edital até o final

deste ano.

Área 9 - Bahia e Sergipe

Compreende os estados da Bahia e de Sergipe, que juntos geram 4,89% do PIB

nacional. O consórcio vencedor tem como sócio operador a Italia Telecom/Stet

International e pagou R$ 250 milhões.

Área 10 - Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas

O valor da proposta vencedora, apresentado pelo consórcio que tem como

operadora a Bell South Celular, foi de R$ 555,55 milhões com ágio de 141,55% sobre o

preço de referência.

A concessão deste espectro de freqüências à iniciativa privada foi o início de um

processo bem mais complexo, a privatização de todo o Sistema TELEBRÁS, descrito a

seguir.

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7.4. A Divisão do Sistema TELEBRÁS.

Em dezembro de 1997, o Ministério das Comunicações recebeu as propostas dos

consórcios interessados em prestar o serviço de modelagem de privatização e avaliação

do Sistema TELEBRÁS.

A proposta vencedora, determinou que a TELEBRÁS fosse cindida em 12 holdings

que controlariam suas atuais subsidiárias. A divisão , aprovada em assembléia de

acionistas em 4 de maio de 1998, seria feita da seguinte forma:

• Três holdings controlam as prestadoras de serviço na telefonia fixa.

• Oito holdings controlam as operadoras do serviço móvel celular.

• Uma holding controla a operadora de telefonia de longa distância (EMBRATEL).

As tabelas abaixo ilustram a nova divisão das operadoras após a privatização:

Tabela 7.4.1

Holding de Telefonia Fixa Empresas de Telefonia FixaTelef. Fixa NO/NE/Leste Telamazon, Telaima, Telepara, Teleamapa, Telma,

Teleceara, Telepisa, Telern, Telpa, Telpe, Telasa,Telergipe, Telebahia, Telemig, Telest e Telerj

Telef. Fixa CO/Sul Teleacre, Teleron, Telemat, Telems, Telegoias,TELEBRÁSília, Telepar, Telesc e CTMR.

Telef. Fixa São Paulo Telesp e CTBCampoEMBRATEL EMBRATEL

Tabela 7.4.2

Holding de Telefonia Celular Empresas de Telefonia CelularHolding 1 Telesp e CTBCampoHolding 2 Telerj e TelestHolding 3 Telemig

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Holding 4 Telepar, Telesc e CTMRHolding 5 TELEBRÁSília, Telegoiás, Telems, Telemat, Teleron

e Teleacre.Holding 6 Telamazon, Teleamapa, Telepara, Telma e TelaimaHolding 7 Telebahia, TelergipeHolding 8 Telepisa, Teleceara, Telern, Telpa, Telpe e Telasa.

Para atender a divisão acima, cada operadora estadual foi cindida em duas, ou

seja em parte fixa e parte celular (móvel). Até o leilão as ações destas empresas

continuavam a ser negociadas em suas formas originais, no futuro se a respectiva

holding optar por uma reestruturação de seu negócio, um de seus instrumentos poderá

ser o fechamento de capital das teles estaduais. Enquanto isso, elas continuam existindo

e aquelas listadas em bolsa continuam com seus negócios normais.

Após a privatização, a concorrência na telefonia móvel será entre as

concessionárias da Banda B e dos novos donos das operadoras de telefonia móvel

Banda A . A partir de 2001, o mercado será aberto para operadores de PCS - Personal

Communication System- uma nova tecnologia de serviço móvel que já é disponível, hoje

em dia, em países desenvolvidos.

No que se refere a concorrência na telefonia fixa, a venda do controle das quatro

holdings ( SP, CO/Sul, NO/NE/Leste e EMBRATEL) será seguida da imediata abertura

à competição no serviço, inicialmente em regime de duopólio, quando serão criada as

chamadas "Empresas Espelho" para cada uma das quatro holdings através da emissão de

uma autorização para a prestação do serviço.

O tempo médio que as empresas espelho levarão para instalar uma nova rede

fixa será de dois anos, podendo ser reduzido se novas tecnologias como Wireless Local

Loop (WLL) forem utilizadas. Portanto, as empresas que vencerem o leilão de

privatização terão pelo menos dois anos para ganhar mercado e confiança da população

em regime de monopólio. A partir de 31/12/2001 acaba o limite ao número de

prestadores de serviço, com a abertura total do setor.

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8. PERSPECTIVAS

Neste capítulo descrevem-se as transformações pelas quais os setores de infra-

estrutura - principalmente o setor de telecomunicações - vêm passando em todo o

mundo, destacando-se as principais tendências observadas, oriundas da crescente

participação do investimento privado nesta área. Baseado em dados de estudos de

organismos internacionais, descreve-se o desempenho do setor de telecomunicações em

países que já passaram pelo processo de privatização, destacando-se pontos positivos e

negativos, finaliza-se traçando-se breve cenário perspectivo para o Brasil.

A tendência de liberalização e privatização das atividades de infra-estrutura que

teve início em alguns poucos países nos anos 70 e 80, tornou-se uma onda que engoliu o

mundo na última década. Os chamados países em desenvolvimento têm estado na crista

desta onda, sendo pioneiros no fornecimento de melhores serviços de infra-estrutura,

colhendo os benefícios de um mercado competitivo e focado no consumidor, que tem

trazido maior eficiência. Líderes na liberalização dos mercados entre os países em

desenvolvimento - como Argentina, Chile e Hungria - só são desbancados por poucas

nações industrializadas como Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos, no que

concerne privatização de infra-estrutura.

Tabela 8.1

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Segundo publicação do Banco Mundial26, as tendências que vêm se delineando

após o início da privatização dos setores de infra-estrutura de países em

desenvolvimento nos anos 90, mostram que a participação privada vem crescendo

rapidamente, porém o setor público ainda é dominante. Os setores de telecomunicações

e energia são os que possuem maior participação de investimentos privados e os países

que lideram o ranking da privatização são da América Latina e do leste asiático. Outro

dado da pesquisa aponta que todos os países em desenvolvimento, considerados na

amostra, possuem alguma atividade de infra-estrutura privatizada.

A atividade privada - como medida do fluxo de investimentos em projetos de

infra-estrutura com participação do setor privado - cresceu muito entre os anos de 1990

e 1997, de cerca de US$ 16 bilhões para US$120 bilhões27, como pode ser visto na

figura 9.1. Em 1998, no entanto, houve forte desaceleração, resultado da crise financeira

que teve início na Ásia em meados de 1997. Os níveis de investimento da atividade

privada em 1998, foram sustentados em grande parte pela privatização do Sistema

TELEBRÁS, o montante de US$ 19 bilhões fez com que as estatísticas se mantivessem

iguais as de 1996.

Figura 8.1

26 Roger, Neil - Recent trends in private participation in infrastructure, Public Policies for the PrivateSector - World Bank, 1999.

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Dados agregados sugerem28que os países em desenvolvimento tenham investido,

em média, quatro por cento da renda nacional em infra-estrutura, ou US$ 250 bilhões

por ano. A média anual de investimentos de US$ 100 bilhões em projetos de infra-

estrutura com participação privada nos últimos três anos, representaram 40% do

investimento total em infra-estrutura nestes países. Contudo, estes projetos

recorrentemente atraem financiamento público. Estimativas utilizando dados mais

apurados mostram que o financiamento privado de investimentos em infra-estrutura

gira em torno de 15 a 20 por cento ao ano29.

Telecomunicações e energia têm sido setores líderes no crescimento da atividade

privada durante os anos 90. A expansão da atividade privada nestes setores tem sido

estimulada por mudanças tecnológicas que reduziram custos, reformas na estrutura do

mercado e competição. Investimentos em projetos de telecomunicações com

participação do setor privado cresceram continuamente no período 1990-1998, de cerca

de US$ 7 bilhões para US$ 53 bilhões. Investimentos cumulativos em telecomunicações

representaram 43% do investimento nos setores de infra-estrutura como um todo neste

período.

Como descrito, o setor de telecomunicações dos países em desenvolvimento

vem sendo objeto de grandes investimentos do setor privado, o que significaria melhora

crescente dos serviços prestados pelas operadoras. Porém, há que se chamar atenção

para a forma como a privatização deste setor vem sendo levada a efeito nos países da

América Latina e quais vem sendo suas conseqüências positivas e negativas.

O principal propósito da reforma do setor de telecomunicações é fornecer aos

consumidores serviços melhores, novos e mais baratos. Alguns grupos, movidos por

interesses particulares - agentes do mercado que desejam manutenção de privilégios,

governos estaduais que utilizam a receita das empresas para reduzir déficit

orçamentário, consultores financeiros que associam sua remuneração ao preço pago pela

licença em questão - podem desviar a reforma de seu principal propósito. 27 Fonte: World Bank28 Worl bank, Infrastructure Working Group, "Facilitating Private Involvement in Infrastructure - AnAction Program", Setembro 1997

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Particularmente, estratégias de venda que privilegiem o preço pago pela licença podem

limitar o crescimento da oferta de serviços, reduzindo os recursos disponíveis para

investimento ou resultando em tarifas mais elevadas para o consumidor final.

Por outro lado, estratégias de venda que dão menos ênfase ao pagamento

adiantado conseguem trazer mais recursos para o governo em um período posterior.

Conceder licença de fornecimento de serviço celular ao investidor que oferecer o plano

de acesso com maior abrangência, em vez de concedê-la àquele que oferecer maior

valor pela licença, fará com que se aumente a receita de impostos nos anos seguintes por

estar-se criando um mercado maior.

Um exemplo é o caso da TELMEX - Téléfonos del México - o Governo

mexicano concedeu monopólio de seis anos à empresa vencedora da licitação. Tal

atitude resultou em tarifas mais altas e redução das taxas de crescimento de oferta de

serviços30. Findo o prazo do monopólio, decidiu-se por permitir acesso ilimitado ao

mercado, contrariando a idéia inicial de emitir, no máximo, mais duas licenças. O

resultado, que pode ser verificado na figura 8.2 foi crescimento da teledensidade de

1990 a 1996 de 6.5 para 9.4 acessos telefônicos para cada 100 habitantes, número que

poderia ter sido largamente superado, haja vista projeção feita pela UIT para o número

de acessos a ser alcançado em 2000.

Figura 8.2

29 Idem30 Wellenius, Björn - Telecommunications Reform-How to Succeed - Public Policy for the Private Sector- World Bank, Outubro 1997

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Sem competição, os benefícios do aumento da participação do setor privado na

atividade não são totalmente alcançados. De uma forma geral, os países da América

Latina que, como o México, garantiram privilégios monopolistas por prazos que

variaram de seis a dez anos às empresas privatizadas, viram o número de acessos

telefônicos crescer 1,5 vez a taxa alcançada sob monopólio estatal, porém esta taxa

representou apenas a metade da taxa de crescimento no Chile onde o governo reservou-

se o direito de emitir licenças para novas operadoras a qualquer momento.

Tabela 8.2

Ao contrário do que possa parecer, áreas rurais também podem ser de grande

atrativo sob políticas de mercado livre. No Chile, subsídios do governo eqüivalentes a

menos de 5% do total do faturamento do setor de telecomunicações, alocados na

licitação feita em 1995, mobilizaram 20 vezes mais investidores privados para estender

o acesso telefônico às áreas rurais. O programa levou o serviço a um terço da população

que ainda não era servida.

Consultores de investimento costumam dizer que investidores não gostam de

mercados competitivos, essa afirmativa não é verdadeira, desde que haja um ambiente

regulatório equilibrado, sem riscos de alterações freqüentes, planos realistas de

prestação de serviço, liberalização de tarifas e que não haja regras sobre manutenção de

empregos. Mesmo em mercados bem pequenos a competição pode ser instalada, como

aconteceu em Gana. O país privatizou sua empresa de telecomunicações em 1996, ao

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mesmo tempo concedeu licença para que outra operadora entrasse no mercado, bem

como distribuiu três concessões para prestação de serviço móvel celular. O resultado foi

que o preço pago pela licença da operadora que iria competir com a companhia já

instalada foi o mesmo alcançado na licitação da companhia telefônica do país vizinho

monopolista, Côte d'Ivoire31. O que afasta os investidores não são mercados

competitivos, mas sim mercados onde a falta de transparência nas regras são constantes.

Outro aspecto muito discutido quando se fala em privatização do setor de

telecomunicações é o desemprego associado . Existe uma crença generalizada em que a

competição reduzirá o número de empregos, mas a evidência mostra que isso não

acontece nos países em desenvolvimento. Uma análise comparativa32 entre vinte e seis

países da Ásia e da América Latina mostra que entre os anos de 1990 e 1994, os níveis

de emprego em mercados com variados graus de competição cresceram 20,73%,

enquanto em mercados monopolistas as taxas de crescimento foram de 3,13%, como

mostra a figura 8.3.

Figura 8.3

31 Wellenius, Björn - Telecommunications Reform-How to Succeed - Public Policy for the Private Sector- World Bank, Outubro 199732 Petrazzini, Bem A. - Competition in Telecoms - Implications for Universal Service and Employment

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Uma análise mais detalhada desta amostra revela que enquanto a taxa de

emprego crescia em todos os mercados competitivos, os mercados monopolistas

obtiveram uma performance ímpar: onde o monopólio era estatal o emprego cresceu

5,6%, no entanto, onde havia monopólio privado esta taxa caiu 9%. Contudo, deve-se

destacar que entre as operadoras estatais, houve aumento do número de empregos

somente em 40% das companhias, nas 60% restantes houve redução.

Na mesma pesquisa, verificou-se que a modernização das redes existentes

representou apenas 29% do total de investimentos realizados no setor de

telecomunicações de países em desenvolvimento em meados da década de 90, enquanto

a instalação de novas linhas - atividade que estimula a criação de novas vagas -

respondeu por quase 71%. Nos países em desenvolvimento, onde a teledensidade ficava

abaixo de 5,2% em 1994, o crescimento da rede de telefonia gerou uma demanda por

trabalhadores que superou a tendência de redução da mão-de-obra criada nos países

industrializados, onde a teledensidade já atingia 52,3%.

Diante do panorama traçado e através das tendências observadas em países que

privatizaram seus serviços de telecomunicações, pode-se verificar que o Brasil não

inovou ao decidir privatizar a TELEBRÁS. No mundo inteiro, as grandes operadoras

estatais estão passando para as mãos da iniciativa privada, como forma de se adaptarem

à abertura dos mercados. No caso brasileiro, percebe-se que o modelo utilizado para a

venda do sistema foi muito semelhante ao adotado no México por exemplo, contudo

alguns cuidados foram tomados de forma a evitar um monopólio privado duradouro,

como foi descrito no capítulo 7.

Na venda de concessões de serviço móvel celular ocorreu situação semelhante a

que criticamos anteriormente neste capítulo, a vencedora da licitação em São Paulo

pagou US$ 2,5 bilhões pela concessão, cifra que representou quatro vezes o preço

mínimo exigido pelo Governo e 60% a mais do que a segunda colocada. Um ano após o

leilão, a operadora estava envolvida em uma série de processos judiciais movidos por

consumidores insatisfeitos com o serviço prestado.

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Neste sentido, o Governo vem sendo atacado por ter permitido a venda à uma

operadora que aparentemente não possuía um plano de investimentos consistente. Na

verdade, os investimentos foram prejudicados por conta do elevado preço pago pela

licença.

Aqui preferiu-se dar importância ao pagamento adiantado e não ao plano de

cobertura mais abrangente. Com uma demanda crescente - vale dizer que ainda há

demanda reprimida - o mercado brasileiro precisa de um regime de competição total de

forma que o consumidor tenha poder de barganha e não fique refém dos monopólios e

duopólios que foram criados pela regulamentação da ANATEL.

Mas no médio prazo privatização parece ganhar importância. Segundo dados

de estudos setoriais do BNDES, quase todos os setores que passaram às mãos da

iniciativa privada - ao todo, foram 56 companhias das áreas siderúrgica, química e

petroquímica, ferroviária, elétrica e financeira, entre outras - tiveram ganhos

significativos de produtividade. As telecomunicações devem seguir a tendência, tanto

do ponto de vista do investimento quanto do emprego.

Em alguns setores houve cortes, é verdade. Mas o sistema de telecomunicações

tem tanto a crescer que deverá haver aumento da demanda por mão-de-obra, como

ocorrido em outros países similares. Segundo o economista Lauro Faria, da FGV, a

venda das concessionárias das telefonias fixa e celular - e a posterior abertura do

mercado - será importante para aumentar a eficiência do sistema brasileiro de

telecomunicações, que está entre os piores do mundo com uma teledensidade na faixa

de 7% em 1997, número que comparado aos 52% ( em 1994) dos países desenvolvidos

demonstra o enorme potencial de crescimento para o setor.

Para atender a essa demanda, o setor terá que investir muitos bilhões nos

próximos anos. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já fixou um

cronograma e estabeleceu metas de qualidade nos serviços, que deverão estar

implementadas até 2005. E as exigências, obviamente, são maiores do que as que a

TELEBRÁS estatal seria capaz de cumprir.

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A TELEBRÁS investia cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional

por ano. O consórcio BCP, que ganhou a banda B na Região Metropolitana de São

Paulo, desembolsou US$ 2,5 bilhões somente pela concessão. É difícil estimar a

quantidade de dinheiro que todo o processo vai movimentar, mas os ganhos de

eficiência são claros.

De acordo com estatísticas da UIT, os investimentos em telecomunicações nos

países em desenvolvimento, mostrados na figura 8.4 abaixo, até o ano 2000 somarão

US$43.582 milhões e o Brasil representa 17,52% deste total.

Figura 8.4

O setor de telecomunicações brasileiro apresenta excelente potencial de

crescimento e ainda atravessa um período de mudanças, embora as mais relevantes

(flexibilização e privatização do STB) já tenham ocorrido. O desempenho das novas

empresas criadas, especialmente na telefonia fixa, deve ser um dos menos afetados em

1999 pela crise financeira que o País está passando.

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Este fato se deve, entre outros: à característica essencial desse serviço; à

reduzida taxa de penetração; às metas exigidas pela Anatel; ao interesse da maioria das

empresas de expandir a rede o mais rápido possível - antes do início das operações dos

concorrentes - à expectativa de surgimento de novos serviços; e ao custo médio mensal

da conta para o usuário da telefonia fixa ser muito inferior ao da celular.

Nesse cenário ganham destaque as metas de universalização estipuladas pela

Anatel para as concessionárias do serviço fixo nos próximos três anos (em mil terminais

instalados).

Tabela 8.3

UnidadesFederativas

1999 2000 2001 UnidadesFederativas

1999 2000 2001

Roraima 42 46 49 Alagoas 191 228 267Amapá 56 62 68 Maranhão 256 308 364Amazonas 237 284 336 São Paulo 8.167 9.598 11.098Pará 431 518 613 Rondônia 178 214 253Rio de Janeiro 2.983 3.427 3.876 Tocantins 75 90 105Minas Gerais 2.706 3.056 3.697 Paraná 1.572 1.787 2.000Espírito Santo 436 511 588 Santa Catarina 851 961 1.067Sergipe 131 58 186 Rio Grande do Sul 1.623 1.861 2.102Ceará 695 731 756 Distrito Federal 716 790 858Paraíba 260 294 328 Goiás 678 746 809Bahia 1.077 1.294 1.530 Mato Grosso 301 337 372Rio Grande do Norte 231 278 329 Mato Grosso do Sul 326 370 414Pernambuco 625 745 874 Acre 66 79 93Piauí 190 227 268 Total Brasil 25.100 28.900 33.300

Caso essas metas sejam cumpridas, o País apresentará uma densidade no triênio

1999/2000/01 em torno de 17,2%, 19,8% e 22,8%, respectivamente. Isto sem considerar

a expansão dos telefones de uso público no País (1999: 713,2 mil; 2000: 835 mil; 2001:

981,3 mil) e da planta das empresas-espelho33, que em algumas localidades já poderão

entrar em operação ao final deste ano34.

33 Empresas-espelho são concorrentes regionais das operadoras do STB que foram privatizadas.34 Fonte: Ministério das Comunicações

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No que se refere à telefonia celular as previsões indicam um grande potencial de

expansão da planta nos próximos anos em todo o mundo:

Tabela 8.4

Mercado Mundial 1986 1991 1996 2001 2006Linhas fixas (milhões) 429,4 551,3 736,8 959,5 1.270,7Mercado (US$ bilhões) 251,7 330,9 427,1 532,8 664,5Celulares (milhões) 1,3 16,2 135,7 448,5 849,9Mercado (US$ bilhões) 4,0 21,5 112,9 273,9 413,1

Fonte: UIT

O Brasil é apontado como um dos mercados com melhores perspectivas de

crescimento, haja vista a sua reduzida densidade em relação à maioria dos países. Para

1999, a expectativa é de que o número de acessos em serviço seja 81% superior ao ano

de 1998.35

Há dúvida sobre até que ponto essa estimativa poderá ser penalizada pela atual

situação econômica nacional. Apesar disso espera-se que nos Estados como SP e RJ,

que possuem reduzida taxa de penetração, grande importância econômica e a maior

renda per capita do País essa demanda não seja muito penalizada36. Todavia já vem

sendo anunciado por diversas empresas, inclusive a Telesp Celular, que talvez as metas

sejam prejudicadas.

Sem sombra de dúvida, a redução de algumas tarifas ou a adoção de pacotes

com preços diferenciados para clientes especiais deverão ser o fator fundamental para

assegurar o crescimento da demanda nos dois mercados, em especial na telefonia

celular. Esta já está sendo uma estratégia adotada tanto pelas concessionárias da Banda

A como da Banda B, para garantir market-share e expandir a rede.

No segmento de telefonia fixa , o cálculo das tarifas considera, além da variação

do IGP-DI, o desconto com ganhos de produtividade, entre outros. As consultorias que

trabalharam na avaliação das empresas do STB, estimaram, naquela época, que os

35 Incluindo-se as duas faixas de freqüência ( bandas A e B ).36 Fonte: Departamento de infra-estrutura - BNDES

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ganhos de produtividade nos serviços internacionais deveriam permitir inclusive

redução nessa tarifa de 5% até o final de 1999.

A combinação do crescimento da planta com a diminuição de alguns preços,

tende a favorecer o aumento do tráfego nos dois serviços. É possível que a telefonia fixa

também seja um pouco beneficiada pela crise interna dado que em momentos de

recessão o telefone convencional, eventualmente, se torna uma alternativa comercial

mais barata do que viajar, por exemplo37.

Além disso espera-se maiores investimentos na modernização da planta tendo

em vista a expectativa de alcançar em 1999, aproximadamente, 90% de digitalização na

rede local e atender às metas de qualidade dos serviços.

Já na telefonia celular, a tendência é que os custos sejam reduzidos em virtude

dos seguintes aspectos: avanços tecnológicos; crescimento da concorrência entre os

fornecedores; maior poder de barganha dos grupos estrangeiros que estão no controle de

diversas operadoras com conseqüentes bons resultados nas renegociações dos contratos

de fornecimento.

Um ponto comum aos dois segmentos é a realização de processos de

reestruturação. Quanto antes forem feitos os ajustes, mais rápido as empresas se

tornarão competitivas, nesse sentido as maiores mudanças devem ocorrer nas teles fixas

que ficaram com estrutura mais pesada do que as celulares. Também devem ser maiores

os gastos com campanhas promocionais e propaganda para fazer frente a concorrência e

difundir a nova imagem das empresas. A agressividade nas estratégias comerciais será

determinante na conquista ou manutenção do market-share.

Mais investimentos, mais capacidade de atendimento, mais receitas, mais lucros

e, conseqüentemente, mais impostos a serem arrecadados pela União. Crescimento da

receita tributária, em tese, significa aumento do volume de recursos disponíveis para

37 Varian, Hal R. - Microeconomia Princípios Básicos

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investimentos em saúde, educação e outros programas sociais em que o Governo

promete se concentrar quando sair do papel de empresário.

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9. AVALIAÇÃO ECONOMÉTRICA

9.1 Metodologia

O principal objetivo dos testes propostos é verificar a influência de variáveis

macroeconômicas na determinação da demanda por serviços de telecomunicações e no

investimento realizado por este setor.

Neste sentido, a metodologia de trabalho é definida com base nos estudos

empíricos citados na revisão teórica sobre determinantes da demanda por bens duráveis,

determinantes da demanda por energia bem como sobre de que maneira os indicadores

de política econômica se relacionam com o crescimento da economia de um país.

Visando atender ao objetivo principal desta dissertação, são definidas na

próxima seção (9.2) as hipóteses testadas, que se referem ao comportamento da

demanda por serviços de telecomunicações e do investimento no setor diante de

alterações nas variáveis propostas. As variáveis escolhidas estão listadas na seção (9.3)

seguidas da descrição da análise de regressão na seção (9.4).

9.2 Elaboração das hipóteses

As hipóteses propostas visam relacionar os indicadores macroeconômicos à

demanda por serviços de telecomunicações e ao investimento no setor.

Com base nos estudos empíricos e na disponibilidade de dados, foram

selecionados quatro determinantes a serem testados: renda dos consumidores, formação

bruta de capital fixo, taxa de inflação e taxa de juros real.

Relacionado entre os principais determinantes da demanda sugeridos pela teoria

e testados nos estudos empíricos citados anteriormente, os preços relativos foram

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excluídos dos testes. Isso foi feito por não termos tido acesso à séries de dados

suficientemente confiáveis sobre tarifas médias praticadas pelo setor.

Os estudos citados prevêem comportamentos para cada um destes determinantes,

conforme descrito a seguir:

9.2.1 - Renda dos consumidores

Bens duráveis apresentam relação positiva com a renda dos consumidores. A

demanda por serviços de telecomunicações - lembrando que, como especificado no

capítulo 3, entende-se serviços de telecomunicações por serviços de telefonia fixa e

celular - pode ser entendida como demanda por um bem durável. No período estudado

(de 1974 a 1997 ), os telefones eram considerados bens porque a aquisição do aparelho

era vinculada à compra de ações da companhia estatal TELEBRÁS, além do que estava-

se comprando o aparelho telefônico que dava acesso a linha e que freqüentemente era

transacionado em mercados paralelos de compra e venda de linhas telefônicas.

Ao se esperar que um aumento na renda aumente a demanda pelos serviços

pode-se esperar que haja necessidade de mais investimento no setor.

Hipótese1: Há uma relação positiva entre a demanda por serviços de

telecomunicações e a renda dos consumidores.

Hipótese2: Há uma relação positiva entre o investimento no setor e a renda.

9.2.2 Taxa de Juros

Em sendo o custo de oportunidade do capital do consumidor, ou seja , o valor

dos usos alternativos de seu dinheiro, pode-se esperar que a taxa de juros tenha uma

relação inversa com a demanda por um bem durável. Quanto a relação entre

investimentos e taxa de juros, é de se esperar que os investimentos sofram retração à

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medida que o custo do dinheiro se eleve, segundo Fischer (1985), o crescimento é

negativamente associado à políticas monetárias restritivas .

Hipótese 3: Há uma relação negativa entre a demanda por serviços de

telecomunicações e a taxa de juros.

Hipótese 4: Há uma relação negativa entre a taxa de juros e o nível de

investimentos no setor.

9.2.3 Taxa de Inflação

No caso brasileiro, segundo Contador (1992), o PIB não reflete as mudanças na

distribuição de renda. No caso de um país com inflação elevada, há favorecimento das

classes média e rica devendo por isso ser incluído o termo referente à inflação. Segundo

Fischer (1985), crescimento é negativamente associado à inflação.

Hipótese 5: Há uma relação negativa entre a taxa de inflação e a demanda por

serviços de telecomunicações.

Hipótese 6: Há uma relação negativa entre a taxa de inflação e o investimento

(crescimento) no setor.

9.2.4 Formação bruta de capital fixo

É de se esperar que o investimento no setor esteja associado à formação bruta de

capital fixo do país, pois à medida que mais indústrias e comércio vão se estabelecendo,

a necessidade de comunicação deve aumentar, por isso supusemos relação positiva entre

a formação bruta de capital fixo no país e o investimento no setor de telecomunicações.

Hipótese 7: Há uma relação positiva entre a formação bruta de capital fixo no

país e o investimento no setor de telecomunicações.

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9.3 Seleção das Variáveis

A escolha das variáveis é baseada em três fatores principais: (1) suporte da

teoria (2) utilização em pesquisas anteriores e (3) disponibilidade dos dados, sendo que

o terceiro fator é o mais restritivo.

9.3.1 Variáveis dependentes

! Demanda por serviços de telecomunicações - Representada pelo faturamento

real anual do Sistema TELEBRÁS. Melhor seria escolher a série de número

de linhas telefônicas em serviço porém não foi possível encontrar série

histórica para um período razoável.

! Investimento real - Representado pelo investimento real anual do Sistema

TELEBRÁS

9.3.2 Variáveis Independentes

! Renda dos consumidores - Representada pelo Produto Interno Bruto real,

base de dados secundários fornecida pelo orientador desta dissertação.

! Taxa de juros - Taxa over real, base de dados secundários fornecida pelo

orientador desta dissertação.

! Taxa de inflação - Variação do Índice Geral de Preços- Disponibilidade

Interna ( IGP-DI), base de dados secundários fornecida pelo orientador desta

dissertação.

! Formação bruta de capital fixo - Fonte FGV/RJ

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9.4 Descrição do Método

O experimento utiliza a análise de regressão múltipla de duas amostras de

variáveis entre os anos de 1974 e 1997, baseada nas equações a seguir:

ε+∗β+∗β+∗β+α= InflaçãoJuros)PIB(Log)oFaturament(Log 321

ε+∗β+∗β+∗β+∗β+δ= InflaçãoJuros)Fbcf(Log)PIB(Log)toInvestimen(Log 7654

9.4.1 Resumo das Hipóteses

0:7H;0:6H;0:5H;0:4H;0:3H;0:2H;0:1H 5736241 >β<β<β<β<β>β>β

A utilização de variáveis logarítmicas possibilitará a identificação dos

coeficientes das variáveis independentes como sendo elasticidades em relação a variável

dependente, objetivo principal do trabalho.

9.5 Universo e Amostra

O universo da pesquisa refere-se às empresas operadoras de serviços de

telefonia, até 1998 prestado somente pelas operadoras do Sistema TELEBRÁS. A

amostra utilizada refere-se ao faturamento anual do Sistema TELEBRÁS durante no

intervalo de 1974 a 1997, bem como as outras variáveis utilizadas são tomadas no

mesmo período.

9.6 Limitações do Método

A principal limitação do método está na quantidade de dados da amostra. Isso

porque o mercado brasileiro é limitado em termos de dados disponíveis para análise,

principalmente no que se refere a dados sobre a renda, onde são encontrados valores

díspares vindos de fontes diferentes. Não foram utilizadas séries trimestrais por não

haver disponibilidade da variável renda com esta periodicidade.

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Outra limitação é concernente à não estacionariedade das séries de faturamento e

PIB, constatada pelo gráfico abaixo que mostra a tendência das séries. Este

inconveniente foi sanado retirando-se o componente de tendência da série, deixando-se

apenas as flutuações em torno dela (componente ciclo):

Figura 9.6.1

7.5

8.0

8.5

9.0

9.5

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96

LOGFAT LOGPIB

CFat = Log (faturamento) - LS ( log (faturamento))

CPib = Log (PIB) - LS (log (PIB))

Onde LS( log(x)) é o componente da tendência. Desta forma obtivemos séries

como as da figura abaixo:

Figura 9.6.2

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96

CFAT CPIB

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No que se refere às variáveis investimento e formação bruta de capital fixo, as

séries tem a forma explicitada na figura abaixo, não apresentando componente de

tendência forte.

Figura 9.6.3

2000

3000

4000

5000

6000

600

800

1000

1200

1400

1600

74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96

INVEST FBCF

Ainda quanto às variáveis inflação e taxa de juros, deixa-se claro que não há

problemas de multicolinearidade uma vez que utiliza-se a taxa de juros real.

9.7 Análise de Regressão - Ciclo do Faturamento

A tabela a seguir mostra os resultados das estatísticas descritivas das variáveis

do modelo. As distribuições das variáveis apresentam um comportamento que não é

próximo ao de uma distribuição normal apenas para as variáveis de inflação e juros. O

teste Jarque-Bera que mede o afastamento da "skewness" e da "kurtosis" (3o e 4o

momentos) de uma distribuição normal padronizada indicou 51,12% de probabilidade

de a variável Cfat ser normal e 83,75% para a variável Cpib. As outras variáveis

apresentam valores máximo, mínimo, mediano adequados, que não indicam a existência

de "outliers" ou de incoerência nos dados da amostra.

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78

Tabela 9.7.1

Cfat Cpib Inflação JurosMédia 0,007960 0,000383 -0,009074 0,312888Mediana 0,026448 -0,010540 0,142948 3,609383Máximo 0,320035 0,117371 1,431993 8,915223Mínimo -0,422832 -0,118296 -2,339402 -1,261909Desv.Pad. 0,174468 0,058776 8,512778 4,648420Skewness -0,590845 0,014032 -1,579191 -0,976623Kurtosis 3,060360 2,405099 5,907511 4,173740

Jarque-Bera 1,341702 0,354695 1,689325 5,338776Probabilidade 0,511273 0,837489 0,000215 0,069295

observações 24 24 24 24

O modelo inicialmente testado apresentou correlação serial nos resíduos porque

possivelmente as variáveis testadas não representam o universo de determinantes da

demanda por serviços telefônicos, certamente está faltando o componente preço. Para

corrigir a correlação serial dos resíduos utilizamos o modelo ARMA38, auto-regressivo

de segunda ordem e com média móvel de primeira ordem.

Os resultados descritos na tabela 9.7.2 indicam R2 de 0,66 e R2 ajustado de 0,52

acima das regressões simples para cada uma das variáveis independentes, cujos R2

situaram-se entre 0,05 e 0,14. Além de o R2 ser relativamente alto, o que indica poder de

explicação da variável dependente do modelo, a estatística F obtida, de valor igual a F =

4,74, indica baixa probabilidade de os coeficientes das variáveis dependentes serem

todos iguais a zero. Desta forma, podemos concluir que essas variáveis independentes

contribuem significativamente para explicação da variável Cfat.

As estatísticas t indicam resultados significativos para todas as variáveis

independentes. A regressão indica que o ciclo do faturamento é positivamente

relacionado com o ciclo da renda ( t = 2,49 ), e negativamente relacionada com a taxa de

38 George E.P. Box and Gwilym M Jenkins, Time Series Analysis : Forecasting and Control, revisededition, Holden-Day, 1976.

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juros ( t = -2,82 ) e com a taxa de inflação ( t = -4,24 ), resultados coerentes com as

hipóteses lançadas.

Tabela 9.7.2

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob. ( teste t )Cpib 0,8379 0,3355 2,4975 0,0280Juros -0,0011 0,0004 -2,8285 0,0152Inflação -0,0064 0,0015 -4,2369 0,0012C 0,1480 0,0243 6,0821 0,0001AR(2) -0,6246 0,2349 -2,6595 0,0208MA(1) -0,9894 0,0004 -3,4422 0,0000

R-quadrado 0,66410 Média var. dependente 0,02931R-quadrado ajustado 0,52414 Desv.Pad. Var. dependente 0,12595Erro pad. da regressão 0,08688 Estatística F 4,74489Soma do resíduo quadrado 0,09058 Prob. ( Estatística F ) 0,01267Durbin-Watson 1,84417

A equação logarítmica que expressa o ciclo do faturamento em função do ciclo

da renda, da taxa de juros e da taxa de inflação, onde B é o operador retardo:

ε−+−−+=− *)B*989,01(Inflação*006,0Juros*01,0Cpib*837,0cCfat*)B*624,01( 2 (9.7.1)

Figura 9.7.1

- 0 . 1

0 .0

0 .1

0 .2- 0 .4

- 0 .2

0 .0

0 .2

0 .4

8 0 8 2 8 4 8 6 8 8 9 0 9 2 9 4 9 6

R e s íd u o R e a l E s t im a d o

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80

9.8 Análise de Regressão - Investimento

A tabela a seguir mostra os resultados das estatísticas descritivas das variáveis

do modelo. As distribuições das variáveis apresentam um comportamento que não é

próximo ao de uma distribuição normal apenas para as variáveis de inflação e juros. O

teste Jarque-Bera que mede o afastamento da "skewness" e da "kurtosis" (3o e 4o

momentos) de uma distribuição normal padronizada indicou 67,52% de probabilidade

de a variável Log(Invest) ser normal, 72,40% para a variável Log(Fbcf) e de 83,75%

para a variável CPib . As outras variáveis apresentam valores máximo, mínimo,

mediano adequados, que não indicam a existência de "outliers" ou de incoerência nos

dados da amostra.

Tabela 9.8.1

Log(invest) Log(fbcf) CPib Inflação JurosMédia 8,0347 6,9576 0,0004 -0,0091 0,3129Mediana 8,0268 6,9545 -0,0105 0,1429 3,6094Máximo 8,5621 7,2696 0,1174 1,4320 8,9152Mínimo 7,6305 6,6539 -0,1183 -2,3394 -1,2619Des.Pad 0,2504 0,1538 0,0588 8,5128 4,6484Skewness 0,2458 0,1159 0,0140 -1,5792 -0,9766Kurtosis 2,2399 2,2124 2,4051 5,9075 4,4174

Jarque-Bera 0,7854 0,6460 0,3547 1,6893 5,3388Prob. 0,6752 0,7240 0,8375 0,0002 0,0693

observações 24 24 24 24 24

Os resultados obtidos neste teste não foram significativos como descrevemos na

tabela 9.8.2. Os números apontam R2 de 0,52 e R2 ajustado de 0,42 . Apesar de o R2 ser

relativamente elevado significando razoável poder de explicação da variável dependente

do modelo, a estatística F obtida, de valor igual a F = 4,73 , indica baixa probabilidade

de os coeficientes das variáveis dependentes serem todos iguais a zero. Desta forma,

podemos concluir que essas variáveis independentes contribuem significativamente para

explicação da variável Log(Invest).

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Infelizmente, as estatísticas t indicam resultados não significativos para a

maioria das variáveis independentes. Com exceção da variável Log(Fbcf), que

apresentou t = 3,29, as outras variáveis ou apresentaram estatística t baixa ou resultados

não correspondentes ao esperado. Para as variáveis inflação e taxa de juros o teste é

inconclusivo, já para a variável Cpib, o teste apresentou resultado diferente do esperado

com associação negativa em relação ao investimento. A tabela 9.8.2 mostra os

resultados obtidos.

Tabela 9.8.2

Variáveis Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob. (teste t) Log(Fbcf) 1,6673 0,5054 3,2991 0,0042Cpib -5,7786 1,3326 -4,3365 0,0004Juros 0,0001 0,0010 0,1524 0,8807Inflação -0,0096 0,0058 -1,6649 0,1143C -3,4994 3,5043 -0,9986 0,3320

R-quadrado 0,52700 Média var. dependente 8,0429R-quadrado ajustado 0,41571 Desv.Pad. Var. dependente 0,2531Erro padrão da regressão 0,19344 Estatística F 4,7352Soma do resíduo quadrado 0,63612 Prob. ( Estatística F ) 0,0094Durbin - Watson 1,24266

A variável independente Log(Fbcf) apresentou estatística t significativa indo ao

encontro da hipótese lançada anteriormente, no entanto as outras variáveis apresentaram

testes t não significativos ou em desacordo com a teoria proposta. No caso da variável

Cpib, o teste t foi significativo porém o sinal do coeficiente negativo vai contra a

proposição de ser a renda positivamente correlacionada com o investimento no setor. Já

as variáveis inflação e taxa de juros não apresentaram resultados significativos,

frustrando as expectativas quando ao recrudescimento da atividade da indústria em

períodos recessivos. Tal resultado pode ser explicado pela influência do governo nas

políticas de investimento das empresas estatais.

Novos testes utilizaram análise de resíduos, de forma a verificar a significância

da equação proposta inicialmente. Os resíduos das variáveis foram denominados:

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UCPIB, ULOGFBCF, UOVERREAL, UINFLACAO, porém os resultados encontrados

não foram significativos como se pode verificar pela tabela abaixo:

Tabela 9.8.3

Variáveis Coeficientes Erro Padrão Estatística t Prob.(teste t)C -0,0065 0,0434 -0,1486 0,8837UCPIB -3,3607 1,8521 -1,8145 0,0884ULOGFBCF 1,0280 0,5951 1,7275 0,1033UOVERREAL 0,0006 0,0012 0,4961 0,6266UINFLACAO -0,0081 0,0062 -1,3054 0,2102

R-quadrado 0,2863 Média var.dependente -0,0126R-quadrado ajustado 0,1079 Desv.Pad. Dependente 0,2098Erro padrão da regressão 0,1981 Estatística F 1,6049Soma do resíduo quadrado 0,6281 Prob.Estatística F 0,2214Durbin-Watson 1,1430

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10. CONCLUSÃO

Em relação à análise de regressão da variável ciclo do faturamento, verificou-se

um R2 significativo de 0,66, o que indica bom poder de explicação da variável

dependente do modelo. A elasticidade - renda verificada foi de 0,84 indicando que a

cada ponto percentual de aumento na renda, haverá 0,84% de aumento no faturamento.

Tal resultado indica a característica essencial dos serviços de telecomunicações,

apontando associação forte entre a renda dos consumidores e sua disposição de utilizar

tais serviços. Não se pode deixar de mencionar a ausência de variáveis como as tarifas

dos serviços que, de acordo com a teoria, apresentam forte relação com a demanda,

talvez por esta razão o R2 não tenha sido maior.

Os testes F e t realizados, sugerem resultados significativos para cada uma das

variáveis analisadas. De forma que podemos aceitar a significância dos testes

realizados, que previam sinais específicos para os coeficientes da regressão e revelaram

resultados coerentes com as hipóteses previstas na teoria.

A tabela 10.1 abaixo resume as hipóteses testadas e os resultados encontrados.

Tabela 10.1

Variáveis Hipótese (Sinal do coeficiente) TesteCpib + +Juros - -Inflação - -

É importante ressaltar que todas as variáveis apresentaram resultados de acordo

com o esperado, muito embora a amostra utilizada tenha sido reduzida, o que de certa

forma poderia ter prejudicado o resultado dos testes.

A elasticidade encontrada para taxa de juros foi de -0.0011, indicando que a

demanda não era tão afetada por flutuações na taxa de juros. Muito embora os serviços

telefônicos tenham sido tratados como análogos a um bem durável, a característica de

essencialidade pode ter influenciado os consumidores, que apesar das elevadas taxas de

juros necessitavam do serviço e se sujeitavam à espera de dois anos em média, para

tornar-se assinante.

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A elasticidade encontrada para taxa de inflação foi de -0.0064, tão relevante

quanto a da taxa de juros. Durante vários anos, a tarifa dos serviços de telefonia foi

utilizada como componente do índice oficial de inflação. O governo não reajustava as

tarifas com freqüência de forma que o índice não se elevava. Para sustentar esta situação

fazia-se uso de subsídios cruzados entre os serviços e mesmo entre as operadoras.

Portanto, apesar de a inflação real ser elevada, as tarifas não eram reajustadas. Esse

resultado talvez não permita que se afirme que os consumidores são indiferentes à taxa

de inflação quando decidem utilizar serviços telefônicos, pois esta peculiaridade

brasileira torna a amostra viesada.

Em relação à análise de regressão da variável investimento, verificou-se um R2

pouco significativo de 0,52, o que indica bom poder de explicação da variável

dependente do modelo. Porém, os testes t indicaram resultados inconclusivos para as

variáveis inflação e taxa de juros, bem como resultado em desacordo com o esperado

para a variável CPib. Somente a variável Log(Fbcf) apresentou teste t significativo

(t=3,30). Neste caso, pode-se dizer que o resultado tenha sido prejudicado por vários

fatores, uma vez que o modelo não é rico em variáveis. Porém, o número de

observações também era muito reduzido e a relação que se desejava encontrar talvez

precisasse de mais insumos.

No que se refere às observações qualitativas, a dissertação chamou atenção para

o lapso no total de investimento realizado pelo Governo que esteve quase sempre muito

abaixo do necessário. Apesar disso, o resultado do setor sempre representou um grande

percentual do PIB. As perspectivas dentro da nova concepção da iniciativa privada

tornam-se positivas, tendo em vista o enorme gap tecnológico e a imensa demanda

reprimida existente.

Estes fatos só reforçam a tese de que, como nos países em desenvolvimento

citados nesta dissertação, o Brasil assistirá à uma melhora expressiva no desempenho

dos serviços de telecomunicações somente pelo fato de até então não existir uma

política concreta de investimentos visando o futuro, mas sim apenas de manutenção da

rede existente, o que levou o sistema a estagnação.

Por outro lado, qualquer setor prestador de serviços públicos necessita

sobretudo, de atenção do Governo quanto ao cumprimento de sua regulamentação e da

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implementação da competição. Sem competição os benefícios trazidos pela participação

da iniciativa privada, como introdução de novas tecnologias, investimento para aumento

da planta, etc., não serão concretizados.

Alguns países da América Latina que concederam carência de seis a dez anos

para o início da competição no setor, viram as taxas anuais de evolução do número de

acessos em serviço crescerem 1,5 vez a taxa atingida sob monopólio estatal, porém este

crescimento correspondeu apenas a metade do alcançado por países como o Chile onde

o governo se reservou o direito de emitir novas concessões a qualquer tempo.

Como foi possível verificar através de estudos conduzidos pelo Banco Mundial,

os investidores privados não são contra a competição, contanto que não sejam

prejudicados por incertezas na regulamentação, por obrigações contratuais de prestação

de serviço não realistas e por regras rígidas relacionadas à tarifas e níveis de emprego.

Com o incentivo ao investimento no setor de telecomunicações através do

incentivo a competitividade e regulamentação que se faça cumprir, estará se

impulsionando toda a economia do país.

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86

11. PRÓXIMAS PESQUISAS

Este estudo foi realizado durante período de transição das regras que regiam o setor de

telecomunicações no Brasil, portanto, faz-se necessária a continuação do estudo daqui a

alguns anos, quando a competição estiver totalmente estabelecida, e os dados históricos

forem confiáveis, a fim de verificar-se se ocorreram mudanças na performance da

indústria.

As séries de dados aqui utilizadas compreenderam vários períodos do desenvolvimento

do setor no Brasil mas não foi possível o registro de informações concernentes ao novo

ambiente. Seria interessante inclusive, se fosse possível incluir dados sobre a indústria

de telecomunicações como um todo, ou seja, fornecedores de equipamentos, operadores

e comércio relacionado.

Aproveitando-se parte do referencial teórico relativo ao desempenho do setor pós-

privatização, seria possível traçar um perfil dos resultados obtidos no Brasil e compará-

los aos das pesquisas citadas.

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87

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