o segredo É ser esportÂneo: uma breve introduÇÃo da historia do circo
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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
HISTÓRIA
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO:
UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTÓRIA DO CIRCO
SÃO PAULO
2014
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LUCAS GONÇALVES DA SILVA
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO:
UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTORIA DO CIRCO
Monografia apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de
Licenciatura plena em História pela
Universidade Nove de Julho.
Orientadora: Profª MS. Katia Kenez
SÃO PAULO
2014
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LUCAS GONÇALVES DA SILVA
O SEGREDO É SER ESPORTÂNEO:
UMA BREVE INTRODUÇÃO DA HISTÓRIA DO CIRCO
Monografia apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de
Licenciatura plena em História pela
Universidade Nove de Julho.
Data de entrega: XX de XXXXXXXX de 2014
Resultado: _____________________
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Orientador
________________________________
Convidado
________________________________
Convidado
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os
artistas circenses que um dia pisaram
os seus pés no picadeiro.
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“Temos de saber o que fomos, para saber o que seremos”
(Paulo Freire)
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RESUMO
A origem contemporânea do circo, surgiu com Philip Astley, sub-oficial da
cavalaria inglesa e sua companhia Astley’s Royal Amphithéatre of Arts, e desde
então o termo picadeiro foi criado e utilizado, para designar o palco do circo. A arte
circense pode ser vista em três ambientes. O primeiro com os circos” tradicionais”,
compostos por famílias que durante gerações mantém viva essa arte; o movimento
do novo circo, que é a junção da linguagem teatral com novos tipos de maquiagem,
cenários de palco, iluminação e linguagem multimídia e por último os artistas de rua.
O circo no Brasil está mudando, com o questionamento sobre a presença de animais
em espetáculos circenses. Esse dilema tem gerado leis que proíbem os circos com
animais de se apresentarem em algumas cidades. Para agravar a situação do circo,
o brasileiro tem frequentando pouco os picadeiros
Palavras-chave: Circo, Circo no Brasil,
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – Astley Royal Amphitheatre of Art .............................. 15
Ilustração 2 – A moradia dos artistas .............................. 20
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
1. CONTEXTUALIZAÇÃO 13
1.1. ORIGEM DO CIRCO MODERNO 13
1.2. O CIRCO NOS ESTADOS UNIDOS 16
1.3. OS NÔMADES 18 1. 4. OS NÔMADES CIRCESES 19
2. O CIRCO NO BRASIL 20
2.1. O CIRCO EM SÃO PAULO 23
2.2. E NOS DIAS ATUAIS 24
2.3. E O QUE ACONTECEU 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS 29 BIBLIOGRAFIA 92
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INTRODUÇÃO
Hoje tem marmelada?
Tem, sim sinhô.
Hoje tem goiabada?
Tem, sim sinhô
O palhaço, o que é?
É ladrão de mulhé.
Quem de nós, adultos, crianças ou jovens, não temos uma boa lembrança
das horas mágicas passadas sob a lona do circo? Das boas risadas que nos roubam
os palhaços, da admiração pela habilidade dos acrobatas e malabaristas, além do
olhar preso ao voo mágico dos trapezistas? Esta arte, que vem de outros séculos,
mantém-se viva em todo o país.
O circo constitui uma forma de expressão fundamental na formação cultural
brasileira, por conta de sua inerência e sua capacidade de influência em todo o
território. Apesar de ser uma das manifestações mais tradicionais do mundo, essa
expressão adquire formas contemporâneas que se articulam permanentemente com
outros setores da cultura.
A linguagem se adaptou às dimensões locais e culturais do Brasil, assimilou
traços das culturas afro-ameríndias, assimilou os regionalismos do país e tornou-se
uma das mais importantes manifestações artísticas brasileiras, com grande
penetração popular, chegando a atender mais a população do que, por exemplo, o
cinema nacional.
O circo, uma arte milenar que sobreviveu ao longo da história humana.
Entretanto, o circo de 50 anos atrás é totalmente diferente de 2014, assim como
deverá ser diferente no futuro. Essa arte milenar é uma miscelânea de várias artes,
apresentadas em um palco, no caso o picadeiro. Atualmente, a arte circense é
dividida em sua maioria ramificações: “tradicional”, que é a visão mais romântica do
circo, constituída por famílias que há várias gerações vivem sob a lona; ”o novo
circo”, que está inovando a linguagem dessa arte, inserindo elementos teatrais e
multimídia, buscando uma concepção contemporânea, sendo que a maioria de seus
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artistas não são de famílias tradicionais; e por fim os “artistas de rua”, que são uma
constante, desde os tempos do Brasil império, e que sem lona e com muito
improviso mantém a arte circense em sua essência mais simples.
Perceberemos que o circo, na verdade, pode ser comparado a uma pequena
cidade ambulante. Todos os artistas moram em casas com rodinhas, ostraillers.
Cada vez que o circo muda de lugar, todas as coisas usadas no espetáculo (lona,
ferragens, cadeiras, arquibancadas, acessórios, roupas, etc.) e também as casas
dos artistas são transportadas. Transportam também amor, sonhos, amizades.
Amizades que nem sempre perduram, pois mudam para locais diferentes, o que
dificulta um pouco os relacionamentos duradouros, devido às distâncias. Resta
contar uns com os outros e o bom relacionamento é imprescindível, pois é o que os
torna uma grande família. É, portanto, o circo um eterno tráfego de vida e sonho
deixando, por onde passa, um rastro de alegria e ligações passionais dessa arte
secular que envolve a todos nós. Circo é Paixão.
Além de notarmos as origens do circo, navegaremos pelo o circo em diversos
lugares que ajudaram a formar o circo no Brasil.
E também conversaremos com pesquisas realizadas em todo o território
nacional, que buscaram classificar e entender melhor a dimensão do circo. E por
meio das estatísticas culturais tornam-se tanto mais necessárias quanto mais se
amplia a definição de Cultura e quanto mais se relaciona Cultura e Desenvolvimento.
Dados ou indicadores podem medir que parte da sua riqueza uma determinada
sociedade dedica à Cultura, como esses produtos culturais são gerados ou
difundidos, quantos empregos geram, quanto contribuem, em suma, para a riqueza
do país. Eles também podem permitir aos países compreender melhor sua própria
situação, inserir a Cultura no ambiente das políticas de desenvolvimento.
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1. CONTEXTUALIZAÇÃO
As artes do circo antecedem a criação do circo moderno em 1776. A arte faz
parte da história do homem desde os tempos “das cavernas”. Força, flexibilidade,
agilidade, equilíbrio, audácia e coragem, são elementos comuns aos artistas de
circo. No que se refere ás disciplinas que integram as artes do circo, esse debate
não poderia ser mais efervescente. Acrobacia, aéreos, equilibrismo, malabarismo,
ilusionismo, circo-teatro, animais, palhaços. Como categorizar como classificar algo
tão grande e tão diverso. E preciso realizar essa categorização?
Visamos nesta instancia relatar a tamanha singularidade do circo, e as suas
especificidades, elas que forma o circo em nossos dias atuais.
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1.1. ORIGEM DO CIRCO MODERNO
A terminologia “circo”, em nosso Dicionário de Língua Portuguesa Aurélio,
refere-se ao mesmo neste sentido: “recinto formado por uma armação desmontável,
coberta de lona, de forma circular, para espetáculos acrobáticos, cômicos, equestres
e etc.” e, talvez, essa colocação esteja correta, porém, não em sua totalidade. A
palavra circo pode referir-se diretamente ao espetáculo ou então como muitas vezes
é utilizada, referindo-se ao local que realiza as apresentações e, muitas das vezes,
pode ocasionar certa confusão.
As artes circenses existem deste que o mundo é mundo. Há exemplos que
podemos resgatar em imagens rupestres na Europa, sem esquecer de relatos de
uma suposta origem na China em anos antes de Cristo, bem como existem relatos
na Grécia clássica, na Roma antiga, entre inúmeros outros lugares que podemos
utilizar como exemplos, pois as artes circenses acompanham o ser humano em todo
o seu processo de transformação e evolução ao longo dos ciclos.
Porém, se seguirmos friamente a colocação de nosso Dicionário de Língua
Portuguesa e nos atarmos única e exclusivamente no âmbito que menciona e
classifica, o circo, sendo um local de espetáculo fechado e restrito para a
apresentação, adestramento ou para a exibição de diversas proezas, seria algo
relativamente novo, de uns 200 anos.
Atualmente, a arte circense pode ser dividida em três principais ramificações:
tradicional, que é a visão mais romântica do circo, constituída por famílias que há
várias gerações vivem sob a lona; o novo circo, que está inovando a linguagem
dessa arte, inserindo elementos teatrais e multimídia e buscando uma concepção
contemporânea, sendo que a maioria de seus artistas não são de famílias
tradicionais; e, por fim, os artistas de rua, que são uma constante, desde os tempos
do Brasil império, e que sem a lona e com muito improviso mantém a arte circense
em sua essência mais simples.
O livro “O show não pode parar”, por exemplo, se configura como um retrato
da arte circense, pois essas companhias são todas nômades por percorrerem o
Brasil (CUNHA 2010). Entretanto, não nos cabe limitar ou rotular de nenhuma
maneira essa expressão artística milenar conhecida amplamente em todo o mundo.
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Nosso propósito é difundir o circo e não conceituá-lo, visto que, desta forma,
limitamos o que o circo mais presa, a sua, liberdade.
Por que empregamos essa colocação, de um circo relativamente “jovem”, de
uns 200 anos, em vez de remontar a sua tradição longínqua em um passado
remoto? A grande parte dos registros e pesquisadores do tema veem o circo como
conhecemos hoje: itinerante e com diversas exibições, sendo popularizado em
Londres porque, desde o século XVII, as apresentações equestres apresentavam
grande aceitação em toda a Europa, já que a equitação era uma habilidade
praticada por militares que as aperfeiçoaram para se apresentar à nobre e também
para combates, ocasionando uma situação nova.
“Alguns grupos de ex-cavaleiros militares saíram dos “muros aristocráticos” das exibições particulares para a nobreza, ‘organizando espetáculos ao ar livre, em geral nas praças públicas, mediante pagamento’” (SILVA 2004 p. 33)
Dessa maneira, o circo começa a ganhar algumas das características que formam o
perfil de circo que conhecemos nos dias de hoje, sendo elas:
“A composição do espaço físico e arquitetônico, onde ocorriam as apresentações, era em torno de uma pista de terra cercada por proteção em madeira, na qual se elevavam em um ponto pequenas tribunas sobrepostas, semelhantes a camarotes, cobertas de madeira, como a maior parte das barracas de feira daquele período, acopladas a pequenos barracões.” (SILVA, 2004.P 34)
Todas essas características foram introduzidas por um homem que foi influenciado
por algumas ações culturais francesas que, para muitos, é considerado como o
inventor desse espetáculo circense que chamamos circo. Ashley foi um inglês que
com o seu desligamento do regime militar se dedicou a apresentações a céu aberto
de suas habilidades equestres nos espaços já mencionados.
Até agora, esse espaço a céu aberto não tinha um nome definido porque sua
arquitetura era extremamente similar aos anfiteatros franceses, que podemos
chamar de um espaço multiuso, pois haviam diversas exibições. Porém, ambos
necessitavam de algo em comum, visto que as suas apresentações eram a céu
aberto e necessitavam de um bom clima.
Não é segredo que a Inglaterra tinha forte tendência agrícola devido ao seu
sistema climático que fornecia fortes chuvas para a sua produção agrícola. Chuvas
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essas que dificultavam as apresentações a céu aberto de Ashley e sua trupe,
fazendo com que ele construísse um anfiteatro permanente e de madeira com o
nome de Astley Royal Amphitheatre of Arts, em 1779 (Silva 2004). O lugar foi
levantado com tamanho requinte e luxo, conforme ilustração abaixo:
Astley Royal Amphitheatre of Art
Segundo Bolognesi (2002), o anfiteatro seguiu os modelos de salões de
OPHERA da sua contemporaneidade, recebendo até encenações de peças
shakespearianas, como Ricardo III.
O tamanho do sucesso alcançado por Ashley, um pouco mais de um ano da
formação de seu anfiteatro em 1780, fez com que um de seus cavalheiros, por nome
de Hughes, inaugurasse sua própria companhia com o nome de Royal Circus (Silva
2004), sendo a primeira vez que esse espaço reservado pra exibições aparecesse
com o nome de circo.
O seu fundador Hughes mudou radicalmente a alocação do ambiente
inaugurado, dando assim um espaço maior ao número de expectadores e
ocasionando uma revolução na maneira de apresentar. Desse modo, o Royal Circus
foi ganhando mais luz em suas exibições, pois havia a divisão das alocações de
público, colocando algumas pessoas em camarotes superiores e deixando a antiga
pista com espectadores. Ainda assim, todos os espetáculos apresentados eram
realizados nas costas dos cavalos, sendo ele um dos grandes personagens dessa
época que chamamos de circo moderno (BOLOGNESI, 2002).
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Fica evidente que tanto Ashley quanto Hughes inovaram na maneira de
apresentar as artes circenses para o público, sendo a sua apresentação em um local
fechado e não mais nas ruas, e com uma grande diversidade de artistas, desde ex-
militares, como saltimbancos, ciganos, adestradores de animais, acrobatas, atores
do teatro. Sendo assim, fica evidente que ambos criaram uma nova forma de
“organização artística” (SILVA, 2004).
Théophile Gautier, poeta francês do século XIX, afirmava que o circo era um espetáculo essencialmente visual, uma opéra de l’oiel, e devia isso não somente aos seus uniformes cintilantes, ao esplendor de seus cenários, mas, sobretudo ao fato de que sua essência era a “ação”. A atração do circo consistia precisamente na ausência ou, antes, na insignificância da palavra (SILVA,2004 p. 42 e 43)
Essa foi a essência do circo durante seu primórdio. A pouca ou quase não
utilização do diálogo entre artistas, modalidade essa que foi amplamente aceita e
difundida por toda a Europa, ganhou inúmeros representantes que serão de grande
importância para a continuidade do circo no mundo. Sendo assim, surgiu uma nova
classe que se estabelece para a sociedade e para a economia europeia: um grupo
artístico circense mais organizado.
1.2. O CIRCO NOS ESTADOS UNIDOS
Devido as diferentes situações que acorreram ao longo da história europeia e
ocasionaram uma forte onda de imigração que emanava da Europa para todas as
partes do globo terrestre, não foi diferente com os artistas circenses. As chamadas
famílias circenses - que se dão com as relações de casamento entre outros artistas
e até entre outras famílias circenses, ato esse que estabelecem assim as “dinastias
circenses” - também se organizaram por todo os continentes que receberam essa
onda imigratória europeia. Não sendo diferente assim do continente americano, que
recebeu inúmeras famílias circenses em diferentes momentos.
Nos Estados Unidos, foi construído um anfiteatro de madeira muito
semelhante com o já construído na Inglaterra. Segundo Silva (2009), não era
sempre possível encontrar espaços adequados para as exibições em ar livre nos
Estados Unidos. Devidos as pequenas cidades e longas distâncias em solo
americano, os anfiteatros eram construídos nas cidades principais. Graças a essa
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facilidade de armação e desarme do circo, ele consegue ser transportado, não
ficando nada em seu terreno.
“Portadores que eram da tradição nômade conseguiram viver por
séculos em consequência de sua capacidade de integração e, em particular, à funcionalidade de seus instrumentos e à essencialidade e praticidade de seus conhecimentos. Aos poucos as tendas foram aumentadas e aperfeiçoadas, principalmente graças à invenção dos mastros centrais que possibilitavam, além de suporte do tecido, dos aparelhos aéreos e da iluminação, aumentar o espaço do redondel. As coberturas mudaram de panos de algodão para lona simples e depois impermeável. De início, os espetáculos eram durante o dia, sendo que, por volta de 1845, os diretores de circo sob a tenda começaram a se apresentar à noite, iluminando o espaço com tochas de resina e velas de sebo; posteriormente, é claro, foi iluminado a gás, acetileno e eletricidade. No começo, o começo do material era feito com carroças puxadas por animais e, depois, através de rios e ferrovias. Como todos e tudo era transportado junto, o circo ambulante americano transformou as pequenas passeatas de uns poucos artistas - que eram realizadas na Europa para propaganda da estreia, em particular na Inglaterra -, na ‘grande parada’ composta por todos os artistas e animais da companhia, acompanhada de grande fanfarra. O espetáculo explorou, também, com bastante intensidade o chamado side-show, que reunia além de alguns monstros trucados, os fenômenos mais assustadores que se podia encontrar: obesidades de todo tamanho, mulheres barbadas, homens cachorros, Hércules, anões, animais deformados.” (SILVA, 2003, p. 32 e 33).
Quando, no início do século XIX, Purdy Brown, juntamente com os irmãos
Nathan e Seth, cobrem a arena com uma “cava” (tenda), que possuía um mastro
central, fazendo surgir os moldes do “circo americano” ou circo de lona. Mas, foi nas
mãos de Phineas Taylor Barnum que o circo coberto foi difundido, pois ele era um
homem de negócios e um extraordinário publicitário. Utilizou cartazes coloridos e
uma tenda enorme, dando novo ritmo aos espetáculos.
Já que os que americanos mais sabem fazer é “show business”, o circo
ganha proporções imensas e se torna um espetáculo de dimensões gigantescas
como um grande acontecimento itinerante.
Em contrapartida, muitos artistas na Europa ainda se apresentavam nos
espaços construídos de madeira, os conhecidos “circos estáveis”, que os protegiam
das alterações climáticas. Entretanto, quando esses artistas futuramente retornam a
Europa, adotam quase que, definitivamente, o estilo nômade em suas
apresentações.
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1.3 OS NÔMADES
Há de se saber que, para entendermos a história do Circo, precisamos
entender que a mesma está ligada com a história dos Ciganos ou Nômades. Pois
bem, foram realizadas pesquisas para detectar o que se produz a respeito, de
tamanho movimento cultural e artístico desses movimentos.
A primeira referência utilizada é o Dicionário de Língua Portuguesa Aurélio e,
quando verificamos o termo “nômades”, é apresentado diversas colocações, como
“errantes” ou “vagabundos” - termos pejorativos que os classificam e dão um
sentindo distorcido - ou classificados como sem “domicílio fixo” e com a “atividade
desconhecida”. É preciso discutir o conceito de nômades, pois, quando são taxados
de “errantes” ou “andarilhos”, nos passa uma visão que se descolavam, sem
proposito, entretanto e totalmente oposto a isso.
Segundo Silva (2007):
Nenhum grupo nômade, seja de circenses, ciganos, árabes do deserto ou outro, distribui homens e animais em um “espaço aberto indefinido”. Os trajetos nômades seguem “pistas e percursos” diferentes dos sedentários, e a construção de sua memória e da sua forma de viver no mundo é diferente. Mesmo que o nômade tenha como característica essencial o deslocamento contínuo, e mesmo que se distribua de forma heterogênea em espaços livres e não circunscritos, observa-se que para eles há referências fixas que, inclusive, garantem essa mobilidade e o seu modo de viver. Este é o seu modo de ter casa, de realizar seu trabalho e de construir a sua família.
Em “O nomadismo e a memória”, a autora Duarte (1995) avalia positivamente
o “nomadismo” e diz:
“Sua constância no ininterrupto ato de percorrer espaços sem delimitá-los, mas simplesmente localizando-os, distribuindo-se de forma heterogênea. Em espaços livres e não circunscritos, faz do nômade o próprio homem da desterritorialização, deslocando-se numa terra que “tende a devir simples solo ou suporte”. Essa lógica passa a conceituar o nomadismo afirmativamente, ou seja, a partir do que ele é, de suas especificidades e singularidades.”
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1.4. OS NÔMADES CIRCENSES
De acordo com a obra “Circo espetáculo de Periferia”, a moradia dos artistas
circenses eram as caravanas (carretas ou trailers) e barracas de lona. Essas eram e
são os tipos de habitação que se localizam nos fundos do circo, lugar esse onde
moram os artistas e, eventualmente, o proprietário com sua família. Muitas das
vezes, as caravanas pertenciam ao próprio dono do circo, que as emprestava aos
artistas, ou eram construídas pelos próprios artistas para seu uso, modalidade essa
conhecida como circo família.
Demonstrando assim, uma das peculiaridades dos “nômades circenses” era
que a sua moradia também era o meio de locomoção dele e de seus familiares.
A moradia dos artistas
http://4.bp.blogspot.com/_Sk1KpuqeFLg/TQzC44DiZbI/AAAAAAAADiQ/fYQgehs8IZ8
/s1600/A+LOna+Nova+2.jpg dia 13/06/2014
Devemos saber que os trajetos a serem percorridos pelos artistas circenses
eram um percurso estrategicamente definido por um roteiro de viagem. Muitas das
vezes, aproveitando as datas comemorativas de cada localidade que visitavam no
país, e a proximidade das cidades.
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Além disso, definir o roteiro de viagem implicava “preparar” as cidades de destino: fazer a propaganda, escolher o terreno, reservar as acomodações necessárias, entrar em contato com as autoridades locais. Este movimento é até hoje realizado e denominado “fazer a praça”. Assim, para o circense, o ponto de referência é o destino do trajeto e não o percurso ou o trajeto (SILVA, 2008, p.112).
Modalidade essa exemplificada que podemos encontrar no belíssimo filme “O
Palhaço”, de 2003, ganhador de diversos prêmios nacionais e internacionais
protagonizado por Selton Mello. No filme, Benjamim (Selton Mello) trabalha no Circo
Esperança junto com seu pai Valdemar (Paulo José). Juntos, eles formam a dupla
de palhaços Pangaré & Puro Sangue e fazem a alegria da plateia. O longa-
metragem, demonstra também essa locomoção das famílias circenses pelo interior
do Brasil, em busca de um lugar para se instalar, demonstrando a rotina de um Circo
pequeno e itinerante pelo Nordeste brasileiro.
2.0. CIRCO NO BRASIL
No Brasil, sugere-se que tenha chegado em 1500, na frota de Pedro Álvares
Cabral, através das palhaçadas de um tripulante que veio em sua expedição. Seria
ele, Diogo Dias, segundo relata Pero Vaz de Caminha em carta enviada ao Rei D.
Manuel (1495-1521):
E além do rio andavam muitos deles, dançando e
folgando uns ante outros, sem se tomarem pelas
mãos, e faziam-no bem. Passou-se então além do
rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém que é
homem gracioso e de prazer, e levou consigo um
gaiteiro nosso, com sua gaita, e meteu-se com eles a
dançar, tomando-os pelas mãos. E eles folgavam e
riam e andavam com ele mui bem, ao som da gaita.
Despois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão,
muitas voltas ligeiras e salto real, de que se eles
espantavam e riam e folgavam muito. (CAMINHA,
1500).
O termo “gracioso”, para a época, possuía o significado que hoje conhecemos
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como o bobo, ou melhor, o palhaço. Assim como o “salto real” seria o salto mortal e
as “voltas ligeiras” seriam acrobacias, geralmente utilizadas nas apresentações dos
saltimbancos da época. Para muitos, o circo simboliza a alegria e a simplicidade e é
visto como um dos mais antigos saberes populares e artísticos do mundo. O
picadeiro é o palco da arte circense e por eles desfilam os “profissionais do circo”,
sempre com muita magia e encantamento.
E não poderia ser diferente em solo brasileiro: há diferentes caminhos que
nos demonstram como e por quem o circo chega até nós. Esses caminhos podem
ser divididos em algumas ramificações que nos demonstram suas origens, como,
por exemplo, a chegada dos Imigrantes Ciganos e dos artistas de rua que aqui
estavam.
Os ciganos que chegaram por aqui sofreram forte e inflexíveis perseguições
em Portugal durante o século XVIII, sob o reinado do Dom João V. Sendo assim, os
ciganos portugueses foram sendo degradados assim para as Colônias Ultramarinas,
como afirma Teixeira (2000):
Em fins do século XIX, ciganos vindos da Europa central e dos Bálcãs trouxeram para o Brasil também ursos, animais exóticos capazes de atraírem multidões de curiosos, porque inexistentes na fauna brasileira. Certamente estes ciganos pertenciam ao subgrupo Ursari, assim denominados porque se especializaram no adestramento de ursos. Seja como for, no interior mineiro tornaram-se “famosos” os ‘ursos de ciganos’, que dançavam canhestramente ao som do pandeiro e do canto monótono (TEIXEIRA, 2000, p.41)
Visto esse cenário que foram recebidos, sendo expulsos da Metrópole e indo
à Colônia, os ciganos não sabiam o que se reservava ao chegarem a seu destino
(SILVA, 2009). A princípio, eles foram recebidos com um misto de receio e fascínio
não sendo tão atingidos da maneira aguda como foram na Europa.
Segundo Renato Rosso (1985), os ciganos chegaram pelo Nordeste brasileiro
e, em seguida, foram se dirigindo paulatinamente para todo o território brasileiro.
Muitos desses grupos que desembarcaram no Brasil já haviam se destacado na
Europa, nas artes cênicas, na música e no artesanato. Desta forma, as famílias
ciganas que chegaram ao Brasil foram indo de cidade em cidade, demonstrando as
suas habilidades em adestramento de animais (ursos, cavalos, etc.), bem como o
seu talento para ilusionismo e dança, lembrando que nada era parecido com o circo
que temos como referência.
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Outra fator recente da história dos ciganos e do circo é que algumas famílias
admitem a possibilidade de suas origens serem ciganas, porque houve e ainda
existe um certo ranço de preconceito e até certa perseguição aos grupos ciganos
por inúmeras razões, muito diferentes a outros grupos de artistas itinerantes.
Nesse cenário, nasce uma das ramificações das “origens” do circo no Brasil.
A utilização do plural na palavra “origens” visa demonstrar a possibilidade de uma
outra abertura de nascimento da história do circo. Portanto, a partir da chegada dos
imigrantes, iremos traçar nosso caminho rumo a história do circo no Brasil.
Os artistas que chegavam ao Brasil, como imigrantes ou ciganos, ou aqueles
que aqui se encontravam, mantiveram alguns padrões próprios das suas tradições e
formações como artistas. Em contrapartida, eles inventaram, renovaram, criaram
adaptaram e até mesmo incorporaram habilidades de outras áreas de cultura. É
impossível estudar o circo, sem estudar a música, as artes cênicas, já que as
diferentes áreas foram tomadas como inspiração para o circo.
No Brasil, as apresentações circenses eram feitas nas ruas, nas feiras, nos
tablados, nos palcos teatrais e também nos ambientes fixos, assim como na Europa.
Porém, particularmente no Brasil, as observações e adaptações nas tecnologias de
estruturas nas construções arquitetônicas dos espaços, visto a chegada dos
imigrantes.
Nos primeiros anos do século XIX, o Brasil se torna uma rota importante das
turnês de alguns circos estrangeiros, que desembarcavam nos portos mais
aquecidos dos Brasil, sendo eles o de Salvador e do Rio de Janeiro. Muitos desses
circos estrangeiros que chegavam por aqui eram, especialmente, argentinos.
Algo que podemos perceber é que alguns dos artistas que não retornavam à
sua terra de origem e por aqui ficavam percebiam que não haviam espaços cobertos
para as suas apresentações, como na Europa ou nos Estados Unidos. Ou seja, os
imigrantes que por aqui estavam tiveram que desenvolver algumas adaptações
ligadas a realidade do local, porém, tendo sempre como referência os
conhecimentos dos modelos vistos fora da Latino América.
“Pelos relatos, quando aqui chegaram, as primeiras formas de
apresentação, em recintos fechados, eram denominadas de circo de tapa-
beco, circo de pau-a-pique e circo de pau fincado.” (SILVA, 2008, p. 22)
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Essa denominação foi dada pela forma de disposição arquitetônica que os
circos se utilizavam para se apresentar. Entender a disposição arquitetônica é
importante para entender o circo, porém, não é suficiente para analisar como um
todo o circo no Brasil.
2.1. CIRCO EM SÃO PAULO
E São Paulo, foi uma dessas cidades que está na rota frequentada pela trupe
dos artistas circenses. São Paulo, cidade de imigrantes oriundos de diversas partes,
possuía em média 200 mil habitantes, cento e poucas indústrias movidas à vapor,
oito jornais diários e três theatros e inúmeras atividades recreativas, algumas
domingueiras como a boccia, críquete e o football, elemento esportivo introduzido
recentemente na cultura da cidade de São Paulo. As atividades paulistanas eram
diversas, e suas divulgações, quando ainda não eram fixas, fazia com que os
artistas circenses realizassem o que os próprios denominam de “fazer a praça”, que
é distribuir a sua programação e propaganda nas regiões circo vizinhas do local
aonde eles iriam se apresentar, realizando assim sua propaganda, que a alma do
negócio. Os mesmo se dividiam na tarefa de divulgação, das mais diversas e
diferenciadas maneiras de realização.
Já em São Paulo, nos primeiros anos do século XX, existiam diversos circos
que se locomoviam pela cidade, como o circo Americano, que se localizava no Largo
da Concórdia, O Circo Oriente montado na Rua dos Imigrantes, do Bom Retiro, ou O
Circo dos Touros, no Parque da Vila Mariana, não se pode esquecer que a genética
do circo e ser andarilho, podendo se fixar hoje na Vila Mariana e amanhã, na região
do Brás, isso deixa claro a aceitação que vinha dos paulistanos.
Como nós seres humanos necessitamos de oxigênio para sobreviver, o circo
necessita, de espectadores, tanto para a gratificação dos próprios artistas, também
para que o mesmo consiga resistir as despesas, geradas pelo espetáculo.
Precisamos ter em mente que, o circo se fixa, em locais onde existam pessoas (o
público), e em São Paulo eles encontraram um terreno propício para germinar a
semente circense.
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O circo era bem-vindo em todos os lugares onde se alocava, desde as
regiões mais nobres até as regiões periféricas da cidade não importando a classe
social, que pertenciam a um exemplo demonstrado pelo autor
“No largo da concórdia apareceu o Circo Universal de propriedade de Albano Pereira e com três clowns, Antônio Freitas, Henrique Oson e Henrique Grunwwald. No dia 20 de junho, os índios guaranis que vieram a pé de São João Batista do Rio Verde para pedir ao governo providência contra a invasão de suas terras por bandos de ciganos, compareceram ao Circo Universal “Riram-se a valer, e divertiram muito as pessoas que
ali se achavam” (ARAÚJO,1981, p 259)
Muitas das vezes, os circos servidos das respectivas licenças retiradas na
prefeitura e na polícia, vinham e armavam suas lonas e, em alguns casos, suas
tábuas. E geralmente, esses lugares já eram pré-determinados, muitas das vezes
era um largo ou um terreno baldio, visto a necessidade de instalação de todos os
aparatos, que se nesse
ssita para a apresentação dos espetáculos que ali aconteceriam
2.2. E NOS DIAS ATUAIS
Já observamos em capítulos anteriores que, o chamado circo
“contemporâneo”, com picadeiro e lona, surgiu em meados do século XVII, com o
Suboficial da cavalaria inglesa, Phillip Astley. Ele descobriu que um homem pode se
manter em pé no dorso de um cavalo, em uma arena de treze metros. Dessa forma
o local onde se executavam tais feitos eqüinos foi denominado picadeiro, surgindo
assim o termo. Entretanto ainda no começo de tal forma de entretenimento,
percebeu-se que havia
Monotonia nas apresentações exclusivas de acrobacia eqüina, segundo Bolognesi
(2002). Dessa forma o picadeiro acabou por agregar as artes dos Saltimbancos -
artistas populares que se apresentavam desde a idade média em feiras, praças
públicas pela Europa.
Ao longo do tempo agregaram-se mais números, afim de sempre atrair mais
público, para as suas apresentações. E segundo Bolognesi :
(...) mas, o espetáculo nascido naquela oportunidade e que, em suas características gerais, se mantém até os dias de hoje é apenas demonstração de habilidades?
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Certamente, não. Para este espetáculo, além das habilidades, concorrem pelo menos outro seis elementos: coreografia música, indumentária, efeitos de luz, linguagem falada e animais selvagens. (BOLOGNESI,2002,p 3 )
Podemos inferir que o circo procura sempre se atualizar, justamente para
conseguir atrair novos públicos, e assim sobreviver. Essa ação é justificada com
Bolognesi (2002, p.1) “as artes circenses também têm buscado no teatro e na dança
formas de inovação”, e evidente que os artistas buscavam em diferentes campos do
mundo artístico, como outras artes também, aderiram a movimentos que
transcenderam os picadeiros.
No Brasil as primeiras manifestações de arte circense, até então não
denominadas desse jeito, surgiram no Brasil com duas vertentes, uma com
imigrantes ciganos e outra com os artistas de rua da época. Os imigrantes ciganos,
vieram em considerável número no Século XVIII isso, pois, durante o reinando de
Dom João V, houve uma acentuada perseguição aos Ciganos em Portugal, sendo
degredados para as colônias ultramarinas, como já pudemos contestar no começo
do capitulo 2 desse trabalho.
Dessa forma, os ciganos e suas famílias, iam de cidade em cidade mostrar
sua capacidade com domas de animais (ursos e cavalos), ilusionismo e dança, mas
em nada parecido com o circo, tal como o concebemos. Para Torres (1998) o circo
chegou ao Brasil em 1830 impulsionado pelos ciclos econômicos, as grandes
companhias vinham se apresentar no Brasil. Esse vinda mudou profundamente as
apresentações dos ciganos e tantos outros artistas de “rua”, e também essas
grandes companhias europeias, pois ambas se “assimilaram” e assim foram
transformando o circo no Brasil. Tais movimentos foram acalorando ainda mais esse
cenário circense no Brasil, tais relados são provas de como era a aceitação em solo
brasileiros, podendo ser classificado por diversas maneiras, pelo novo, pelo
estrangeiro, pelas cores, pelas sensações, qualquer uma dessas linhas defendidas
entre tantas outras, pela aceitação do circo, não estará equivocada, entretanto,
esses tempos eram outros. Hoje em dia como andará de “pernas” o circo no Brasil?
Por isso, para conhecer o universo desta arte milenar que trabalha com o
encanto e a imaginação, foram convidadas diversas instituições, entre elas, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pesquisadores, especialistas e
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estudiosos do tema, artistas, profissionais e escolas de circo de diferentes estados,
que participaram dos debates, das reflexões e da construção de propostas sobre a
atividade do circo no país.
E o IBGE, revelou algumas pesquisas que foram realizadas, apresentando
todo um trabalho que está sendo desenvolvido para um desafio, de mapeamento da
atividade circense no pais.
Na pesquisa do IBGE de 2000, cerca de 2.705 mil trabalhadores, estavam
ocupados diretamente com o circo. Sendo distribuídos da seguinte forma.
Ao analisarmos o mapa acima, perceberemos uma concentração de
trabalhadores do circo nos estados de SP (23,2%), RJ (19,2%) e MG (8,8%), que
juntas detinham mais da metade (51,2%) dos circenses. Outra característica dos
ocupados no circo é o seu nível de escolaridade.
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Os trabalhadores do circo com instrução de até 8 anos de estudo (ensino fundamental) representavam 65,5% do total da ocupação. Para o total de ocupados o percentual encontrado como até 8 anos de estudo foi menor (55,3%). Por outro lado, ocupados em geral com 9 ou mais anos de estudo atingem 36,4% do total, sendo que esta proporção cai para 29,8% para os ocupados nas atividades circenses. (IBGE, 2007, p.11)
Outro dado interesse que o IBGE, traz em seu levantamento estatístico é, a
média de salário para quem trabalha no circo é de três salários mínimos, dados que
nos ajuda a realizar um perfil, porém evitando a generalização dos trabalhadores
dos circos no Brasil.
Há uma outra pesquisa realizada pelo mesmo instituto, informou que as
famílias brasileiras gastaram em média, cerca de 0,05% do total do orçamento (R$
64,53) com o circo, no ano de 2003. Esse número chega a ser drasticamente
inferiores se comparamos com anos anteriores aonde o circo era junto com o
cinema um das principais saídas culturais das famílias brasileiras.
2.3. O QUE ACONTECEU
Alguns pesquisadores, mencionam que, o progresso tecnológico no
transcurso do tempo, como, a invenção da televisão e sua propagação entre todas
as camadas sócias, foi uma das causadoras, outros buscam entender essa caída,
visando a perca de um possível essência do circo. A diversas linhas que se pode
seguir para tentar compreender, porém, quando se apaga apenas a uma se perde
todo um seguimento que te levam ao mesmo lugar, por isso nesse caso,
acreditamos que estão corretas essas afirmações sobre a gradual caída do circo, no
Brasil. Porém elas são apenas baixos focos de luzes em uma noite escura, devemos
observar em um todo quais foram os motivos e assim perceber que não existe
apenas um causador, que não existe um único “vilão”, e tão pouco uma resposta
para essa pergunta.
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Vimos anteriormente que as famílias brasileiras gastavam em média 0,5% do
total do orçamento cultural com circo. Outro fator da mudança significativa do novo
ambiente foi à aprovação, em algumas cidades brasileiras, da lei que proíbe animais
“trabalhando” ou sendo utilizado em qualquer tipo de exibição no circo.
Acesso 10/10/2014
Para agravar a situação, a mídia veiculou matérias que expõem uma situação
precária do circo, levantando a questão, será que a arte milenar morrerá em pleno
começo do século XXI?
Na edição 100 (17/04/2000), a revista Época relatou um fato dramático, na
matéria “não era dia de circo”, onde o garoto José Miguel dos Santos Fonseca Jr, 6
anos, foi devorado por leões no circo Vostok. Fato amplamente divulgado em toda
mídia da época, criando os primeiros questionamentos sobre a participação dos
animais em espetáculos circense.
Nosso proposito, e trabalhar em uma possível e real, probabilidade que possa
nos ajudar a ver, com uma maior totalidade o que aconteceu com o circo.
Demonstraremos que as leis aprovadas, também, foram uma das causadoras da
diminuição do público. A lei que proíbe, qualquer participação de animais em circos
ou similares. Como já observamos em capítulos anteriores, o circo, contemporâneo
que nasceu por Astley, já tinha como um de seus principais atrativos os animais
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participando das exibições, não sendo diferente o “circo americano” e tampouco o
que se instalou no Brasil, pelos imigrantes e ciganos.
Para muitas, das pessoas dessa época e de algumas cidades do interior do
nosso Brasil a única maneira de se observar animais, era por intermédio das
apresentações nômades circenses, que propositaram tamanha interação, entre
público, artista e animais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O segredo do circo é a sua comunicação imediata. O circo trabalha é sempre
trabalhará com a emoção, com o insólito, com o prazer é com o inesperado. O circo
é a arte que utiliza as mais primitivas sensações e como é um passe de mágica
transformá-la em um prazer estético, quase palpável para seu público. Por isso, o
circo e fascinante, pois leva seu público a ver repetidas vezes os mesmos números
com novas e prazerosas emoções e deliciosas gargalhadas.
O circo, por sua natureza itinerante, constituído por famílias nômades embora
obrigado a atender exigências burocráticas e fiscais das esferas administrativas
municipal, estadual e federal, utiliza quase que nunca os patrocínios estatais, seja
porque as políticas culturais estão for do seu alcance.
Como vimos anteriormente no Brasil, costumou-se dizer que existem três
tipos de circo: os grandes, que cada vez mais são números menores, os médios e
os pequenos. A verdade é que existem muitos no nordeste, no Rio e em São Paulo,
principalmente nos municípios do interior. São Paulo, a capital, era considerada
também o grande centro ou a praça para onde os artistas e profissionais circenses
vão, e muito deles com seus trailers, procurando emprego.
Olhando hoje, pelo lado econômico a atividade circense é uma atividade com
retorno arriscado em um mercado inseguro, insólito. E difícil também, porque é mais
difícil para que a criança queira seguir uma carreira circense. Por esse motivo, foram
criadas as escolas nacionais de circo, para que essa arte milenar não se perca no
transcorrer do tempo.
A inúmeras teses que, buscam encontrar as razões para a forte queda
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do circo no Brasil e até mesmo em um âmbito mundial. Não buscaremos de
maneira alguma taxar ou rotular possíveis motivos para a caída de público em
apresentações circenses em este trabalho.
Como mencionado anteriormente não seria honesto apontar para um
causador comum, para as frequentes quedas nos números de frequência a ida ao
circo. É sim, importante realizar estudos e pesquisas como já vem sendo feitos, para
detectar, que foram inúmeras e diversas situações que levaram a situação do circo
no pais.
Portanto a arte circense atravessa um momento delicado, em sua história
como em um tudo, por isso algumas medidas foram tomadas no âmbito
governamental, como o aumento em editais. Porque após a proibição da utilização
de animais no circo a sua queda foi drasticamente, assim os circos grande foram
tornando-se cada vez menor e os pequenos entrando em extinção. Mais o
importante e saber que sempre existirá a chama circense no coração de todos esses
artistas, e que o circo não deixar de existir. E não podendo esquecer que o segredo
e ser espontâneo.
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