o risco da insegurança alimentar: os vinhos do vale do juruá

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Prof. José Augusto Rocha Reserva Juruá & Profa. Maria Francisca Rodrigues do Nascimento – Reserva Juruá O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá INTRODUÇÃO Segundo o Zoneamento Ecológico Econômico do Acre, ZEE, (2000) o consumo de frutos de palmeiras como o açaí, buriti, abacaba e patauá fazem parte da alimentação acreana. Tradicionalmente os ribeirinhos utilizam destas espécies para o uso em construção civil, talas para telhados, folhas para cobertura dentre outras utilidades. Segundo RODRIGUES, (2006) os moradores da região do entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor vem perdendo sua fonte de alimento para o pasto e o grado. Isso quando não acontece um evento natural como a enchente de2012, onde boa parte da vegetação nativa e culturas anuais e perenes foram levadas pelas águas do rio Juruá. Causando a falta de alimentos para muitas famílias ribeirinhas, indígenas e extrativistas. Essa mudança na paisagem e seus impactos nas fontes de alimentos desta população tomamos como objeto de estudo. Instituições Parceiras no Projeto OBJETIVO Demonstrar através de registros científicos, o estágio de desflorestamento das diferentes classes de cobertura vegetal encontradas na região de entorno e dentro do perímetro do Parque Nacional da Serra do Divisor. Identificar quais as formações vetais que vem sofrendo maior impacto, pela mudança da paisagem na região. Traçar uma correlação entre as formações impactadas e a segurança alimentar da população ribeirinha. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Apresentar dados estatísticos, sobre os geótopos afetados; Traçar uma correlação entre as classes vegetativas e as fontes de alimentos para a população regional JUSTIFICATIVA A implantação do Parque Nacional, se deu da década de 80, após a constatação da necessidade de manter a ocupação do território acreano e da faixa de fronteira nesta porção amazônica. PLANO DE MANEJO DO PNSD,(2000). Porém na região haviam habitantes como os remanescentes das famílias dos antigos seringais, bem como uma considerável população indígena de diversas etnias. Todos ainda habitando na região. Os ex-seringueiros e indígenas, conhecedores das benesses da floresta, exploraram-na para o seu sustento, mesmo sob a negação de seus patrões. Esse conhecimento levou a um gosto tradicional pelas ofertas de frutos, sementes, caça e outros alimentos encontrados na florestas do Vale do Juruá. Atualmente muitas destas comunidades vem promovendo a troca desta floresta por pastagens de gado ou culturas de subsistência. “A floreta é a nossa dispença” Segundo D. Maria José Rodrigues (76), ex-moradora do Lago Jaburu que lembra como as famílias se fartavam com as safras de açaí, buriti, abacaba e patauá. METODOLOGIA Segundo dados do Diagnóstico do Plano de Manejo do PNSD, (1999) e ALMEIDA, (2008)- Enciclopédia da Floresta, as famílias da região do alto Juruá mantém o habito de degustar os “vinhos” de açaí, buriti, abacaba, pataoá em suas refeições, ou oferece estes aos visitantes como aperitivo, quando em sua safra. Diante destas informações tabulamos dados sobre a cobertura vegetal dentro e no entorno do Parque, afim de estabelecer um cenário sobre a situação da paisagem regional e seus níveis de alterações. Na sequencia procuramos obter informações que comprovassem a média de produção e comercialização de cada vinho, nos mercados do vale do Juruá. Tais informações não encontram-se disponíveis nos índices do censo agropecuário do IBGE para o ano de 2010. Em uma pesquisa de campo com técnicos da Secretaria de Estado da Produção – SEAPROF(2010), montamos as seguintes estimativas (litros/ano): REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA ACRE, Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Acre, Rio Branco – AC, 2000 Volume II e III. ALMEIDA, Mauro – Enciclopédia da Floresta, Cia da Letras, São Paulo, 2009. 456p. APOSTILA DO CURSO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UNILIVRE: Rede Nacional Pró UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1993 2v.. SPVS - SOCIEDADE DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. - Plano integrado de conservação para a região de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Curitiba, 1992, AB Print e Editora. 129 p. RODRIGUES, Marco Aurélio – Ocupação Humana e Conservação no Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) Alto Juruá – Acre, UNICAMP, Campinas 2006 143p. MMA/IBAMA – Relatório do Levantamento do Potencial Ecoturístico do Parque Nacional do Superagui e região de Entorno. SPVS. 1994. IBAMA/SOS AMAZONIS, PLANO DE MANEJO DO PNSD 2000, 328p. TRICART, Jean. ECODINÂMICA. Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977. 91 p. il. (Recursos Naturais e Meio Ambiente. 1) MAAK, Reinhard – GEOGRAFIA FÍSICA DO ESTADO DO PARANÁ. Banco de Desenvolvimento do Paraná, UFPR, Instituto de Biologia e Pesquisa Tecnológica, Curitiba, 1977. CONCLUSÃO Foi constatado que a formação de Floresta Ombrófila Aberta, é a que está sofrendo o maior impacto dentre todas as analisadas. Outro fato claro registrado foi o de que esta mudança de paisagem esta avançando para dentro dos limites do Parque em áreas pontuais, onde ocorrem predominantemente, o plantio de pastagem. Entendemos mediante tais registro científicos que as metas indicadas no Sub-programa de monitoramento e de Educação no Plano de Manejo do Parque pode ser uma boa estratégia para articulação de comunidades onde o processo já está bem acelerado PM PNSD, (2000). ESTIMATIVA ANUAL DE CONSUMO POLPA AÇAÍ BURITI ABACABA PATAOA CRUZEIRO DO SUL ± 48.000 ±26.000 ±11.500 ±13.000 MÂNCIO LIMA ±13.500 ±13.000 ±5.000 ±4.000 RODRIGUES ALVES ±12.600 ±16.600 ±1.200 ±1.400 PORTO WALTER ±1.900 ±1.900 ±1.300 ±4.000 MARECHAL THAUMATURGO ±20.000 ±20.000 ±1.600 ±1.500 Com os dados publicados por RODRIGUES, (2006) realizamos a tabulação por tipologia vegetal e logo após realizamos a sua classificação considerando a possibilidade de avanço no desflorestamento para os próximos anos na região, com foco na faixa de entorno e dentro do perímetro do Parque. Estágio da Cobertura Percentual Cor Com menos de ± 5 % Amarelo Com até ± 10 % Verde Com até ± 20 % Azul Com mais de ± 30 % Vermelho RESULTADOS Após espacialização dos dados constatamos que as formações vegetativas onde ocorrem a presença das principais palmeiras de consumo tradicional, vem perdendo espaço para outras espécies considerando os registros para o ano de 2006. Como a região e formada basicamente por planícies e a disponibilidade de água e recursos hídricos são predominantes para a produção familiar regional, as comunidades estão estabelecidas ao longo dos leitos de rios, lagos e igarapés, onde desafortunadamente ocorrem as palmeiras que são a fonte nutricional de seus alimentos. Em alguns casos a perda da área analisada chegou a 78% do tipo de vegetação. CLASSE DE COBERTURA ÁREAS PERCENTURAL (J) FOD SUBMONTANA 77.388,54 9,18 (A) FOD NOS INTERFLUVIOS COLINOSOS 102.763,22 12,19 (I) FOD NOS INTERFLUVIOS TABULARES 9.441,74 1,12 (A) FOD DE PALMEIRAS NAS PLANICIES ALUVIAIS 50.749,35 6,02 (G) FOD DE PALMEIRA NOS TERRAÇOS ALTOS 36.586,74 4,34 (F) FOA DE PALMEIRA NOS DEPOSITO COLINOSOS 7.840,02 0,93 (D) FOA NOS INTERFLUVIOS COLINOSOS COM BAMBO DOMINADO 72.246,17 8,57 (B) FOA NOS INTERFLUVIOS COLINOSOS COM BAMBO DOMINANTE 193.639,96 22,97 (E) FOA DE PALMEIRA NOS INTERFLUVIOS COLINODOS 289.996,29 34,40 (C) FOA DE CIPÓ 2.352,00 0,27 FODSB – 9,18% FODIC – 12,19% FODIT – 1,12% FODPPA – 6,02% FODPTA – 4,34% FOADC – 0,93% FODSB – 8,57% FODSB – 22,97% FODSB – 0,27% FODSB – 34,40%

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Prof. José Augusto Rocha Reserva Juruá & Profa. Maria Francisca Rodrigues do Nascimento – Reserva Juruá

O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá

INTRODUÇÃOSegundo o Zoneamento Ecológico Econômico do Acre, ZEE, (2000) o consumo de frutos de

palmeiras como o açaí, buriti, abacaba e patauá fazem parte da alimentação acreana.

Tradicionalmente os ribeirinhos utilizam destas espécies para o uso em construção civil, talas

para telhados, folhas para cobertura dentre outras utilidades. Segundo RODRIGUES, (2006) os

moradores da região do entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor vem perdendo sua fonte

de alimento para o pasto e o grado. Isso quando não acontece um evento natural como a enchente

de2012, onde boa parte da vegetação nativa e culturas anuais e perenes foram levadas pelas

águas do rio Juruá. Causando a falta de alimentos para muitas famílias ribeirinhas, indígenas e

extrativistas. Essa mudança na paisagem e seus impactos nas fontes de alimentos desta

população tomamos como objeto de estudo.

Instituições Parceiras no Projeto

OBJETIVODemonstrar através de registros científicos, o estágio de desflorestamento das

diferentes classes de cobertura vegetal encontradas na região de entorno e dentro do

perímetro do Parque Nacional da Serra do Divisor.

Identificar quais as formações vetais que vem sofrendo maior impacto, pela

mudança da paisagem na região.

Traçar uma correlação entre as formações impactadas e a segurança alimentar da

população ribeirinha.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Apresentar dados estatísticos, sobre os geótopos afetados;

• Traçar uma correlação entre as classes vegetativas e as fontes de alimentos para a

população regional

JUSTIFICATIVAA implantação do Parque Nacional, se deu da década de 80, após a constatação da

necessidade de manter a ocupação do território acreano e da faixa de fronteira nesta

porção amazônica. PLANO DE MANEJO DO PNSD,(2000). Porém na região

haviam habitantes como os remanescentes das famílias dos antigos seringais, bem

como uma considerável população indígena de diversas etnias. Todos ainda

habitando na região. Os ex-seringueiros e indígenas, conhecedores das benesses da

floresta, exploraram-na para o seu sustento, mesmo sob a negação de seus patrões.

Esse conhecimento levou a um gosto tradicional pelas ofertas de frutos, sementes,

caça e outros alimentos encontrados na florestas do Vale do Juruá. Atualmente

muitas destas comunidades vem promovendo a troca desta floresta por pastagens de

gado ou culturas de subsistência. “A floreta é a nossa dispença” Segundo D. Maria

José Rodrigues (76), ex-moradora do Lago Jaburu que lembra como as famílias se

fartavam com as safras de açaí, buriti, abacaba e patauá.

METODOLOGIASegundo dados do Diagnóstico do Plano de Manejo do PNSD, (1999) e ALMEIDA,

(2008)- Enciclopédia da Floresta, as famílias da região do alto Juruá mantém o habito de

degustar os “vinhos” de açaí, buriti, abacaba, pataoá em suas refeições, ou oferece estes

aos visitantes como aperitivo, quando em sua safra.

Diante destas informações tabulamos dados sobre a cobertura vegetal dentro e no entorno

do Parque, afim de estabelecer um cenário sobre a situação da paisagem regional e seus

níveis de alterações.

Na sequencia procuramos obter informações que comprovassem a média de produção e

comercialização de cada vinho, nos mercados do vale do Juruá. Tais informações não

encontram-se disponíveis nos índices do censo agropecuário do IBGE para o ano de 2010.

Em uma pesquisa de campo com técnicos da Secretaria de Estado da Produção –

SEAPROF(2010), montamos as seguintes estimativas (litros/ano):

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAACRE, Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Acre, Rio Branco – AC, 2000 Volume II

e III.

ALMEIDA, Mauro – Enciclopédia da Floresta, Cia da Letras, São Paulo, 2009. 456p.

APOSTILA DO CURSO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UNILIVRE: Rede Nacional

Pró UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1993 2v..

SPVS - SOCIEDADE DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. -

Plano integrado de conservação para a região de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Curitiba, 1992, AB Print

e Editora. 129 p.

RODRIGUES, Marco Aurélio – Ocupação Humana e Conservação no Parque Nacional da Serra

do Divisor (PNSD) Alto Juruá – Acre, UNICAMP, Campinas 2006 143p.

MMA/IBAMA – Relatório do Levantamento do Potencial Ecoturístico do Parque Nacional do

Superagui e região de Entorno. SPVS. 1994.

IBAMA/SOS AMAZONIS, PLANO DE MANEJO DO PNSD 2000, 328p.

TRICART, Jean. ECODINÂMICA. Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977. 91

p. il. (Recursos Naturais e Meio Ambiente. 1)

MAAK, Reinhard – GEOGRAFIA FÍSICA DO ESTADO DO PARANÁ. Banco de

Desenvolvimento do Paraná, UFPR, Instituto de Biologia e Pesquisa Tecnológica, Curitiba, 1977.

CONCLUSÃOFoi constatado que a formação de Floresta Ombrófila Aberta, é a que está sofrendo o

maior impacto dentre todas as analisadas. Outro fato claro registrado foi o de que esta

mudança de paisagem esta avançando para dentro dos limites do Parque em áreas

pontuais, onde ocorrem predominantemente, o plantio de pastagem. Entendemos mediante

tais registro científicos que as metas indicadas no Sub-programa de monitoramento e de

Educação no Plano de Manejo do Parque pode ser uma boa estratégia para articulação de

comunidades onde o processo já está bem acelerado PM PNSD, (2000).

ESTIMATIVA ANUAL DE CONSUMO POLPA AÇAÍ BURITI ABACABA PATAOA

CRUZEIRO DO SUL ± 48.000 ±26.000 ±11.500 ±13.000

MÂNCIO LIMA ±13.500 ±13.000 ±5.000 ±4.000

RODRIGUES ALVES ±12.600 ±16.600 ±1.200 ±1.400

PORTO WALTER ±1.900 ±1.900 ±1.300 ±4.000

MARECHAL THAUMATURGO ±20.000 ±20.000 ±1.600 ±1.500

Com os dados publicados por RODRIGUES, (2006) realizamos a tabulação por tipologia

vegetal e logo após realizamos a sua classificação considerando a possibilidade de avanço

no desflorestamento para os próximos anos na região, com foco na faixa de entorno e

dentro do perímetro do Parque.

Estágio da Cobertura Percentual Cor

Com menos de ± 5 % Amarelo

Com até ± 10 % Verde

Com até ± 20 % Azul

Com mais de ± 30 % Vermelho

RESULTADOSApós espacialização dos dados constatamos que as formações vegetativas onde ocorrem a

presença das principais palmeiras de consumo tradicional, vem perdendo espaço para

outras espécies considerando os registros para o ano de 2006. Como a região e formada

basicamente por planícies e a disponibilidade de água e recursos hídricos são

predominantes para a produção familiar regional, as comunidades estão estabelecidas ao

longo dos leitos de rios, lagos e igarapés, onde desafortunadamente ocorrem as palmeiras

que são a fonte nutricional de seus alimentos. Em alguns casos a perda da área analisada

chegou a 78% do tipo de vegetação.

CLASSE DE COBERTURA ÁREAS PERCENTURAL

(J) FOD SUBMONTANA 77.388,54 9,18

(A) FOD NOS INTERFLUVIOS COLINOSOS 102.763,22 12,19

(I) FOD NOS INTERFLUVIOS TABULARES 9.441,74 1,12

(A) FOD DE PALMEIRAS NAS PLANICIES ALUVIAIS 50.749,35 6,02

(G) FOD DE PALMEIRA NOS TERRAÇOS ALTOS 36.586,74 4,34

(F) FOA DE PALMEIRA NOS DEPOSITO COLINOSOS 7.840,02 0,93

(D) FOA NOS INTERFLUVIOS COLINOSOS COM BAMBO DOMINADO 72.246,17 8,57

(B) FOA NOS INTERFLUVIOS COLINOSOS COM BAMBO DOMINANTE 193.639,96 22,97

(E) FOA DE PALMEIRA NOS INTERFLUVIOS COLINODOS 289.996,29 34,40

(C) FOA DE CIPÓ 2.352,00 0,27

FODSB – 9,18%

FODIC – 12,19%

FODIT – 1,12%

FODPPA – 6,02%

FODPTA – 4,34%

FOADC – 0,93%

FODSB – 8,57%

FODSB – 22,97%

FODSB – 0,27%

FODSB – 34,40%