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O RESULTADO ARRECADATÓRIO DO REFIS, DO PAES E DO PAEX E SEU IMPACTO NA SENSAÇÃO DE RISCO SUBJETIVO PELOS DEVEDORES Cristiano Neuenschwander Lins de Morais Lupércio Camargo Severo de Macedo Raquel Teresa Martins Peruch Borges Curso de Administração Tributária – ESAF Orientador: João Paulo Martins da Silva

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O RESULTADO ARRECADATÓRIO DO REFIS, DO PAES E DO PAEX E SEU IMPACTO NA SENSAÇÃO DE RISCO

SUBJETIVO PELOS DEVEDORES

Cristiano Neuenschwander Lins de Morais Lupércio Camargo Severo de Macedo Raquel Teresa Martins Peruch Borges

Curso de Administração Tributária – ESAF

Orientador: João Paulo Martins da Silva

Page 2: O RESULTADO ARRECADATÓRIO DO REFIS, DO PAES E DO … · números referentes ao comparativo entre o valor recuperado em determinado exercício com o estoque disponível para cobrança,

Resumo O presente trabalho tem o objetivo de analisar, de maneira crítica, os processos de cobrança tributária no Brasil, abordando os pontos que maior prejuízo tem trazido para o sucesso das estratégias de cobrança, especialmente os problemas decorrentes do papel nefasto que as chamadas iniciativas de “regularização fiscal” vem tendo como protagonista dos baixos níveis de desempenho na efetiva recuperação dos créditos públicos no País. Palavras-chave Parcelamentos especiais. Arrecadação. Cobrança coativa.

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1. INTRODUÇÃO

Muito tem se discutido no Brasil acerca do processo de cobrança tributária, em especial no âmbito da União, tendo em vista que há razoável consenso no sentido de que a cobrança coativa no Brasil não tem tido resultados eficazes seja na efetiva recuperação de créditos, seja mesmo no que tange à criação de uma sensação de risco subjetivo que possa estimular o devedor/contribuinte a promover o cumprimento espontâneo de suas obrigações tributárias.

Essa conclusão, que, ao que parece, vem se fundando na análise fria de números referentes ao comparativo entre o valor recuperado em determinado exercício com o estoque disponível para cobrança, no entanto, não resiste a uma detida análise dos arcabouço normativo do Brasil, em especial as diversas normas – constantemente reproduzidas pelos Estados membros – de parcelamentos que tem o objetivo de promover a “regularização” fiscal da cadeia produtiva.

Na realidade, tal qual vem sendo editadas, tais normas – como as Leis nº

9.964/2000, nº 10.684/2003, Medida Provisória nº 303/2006 e Lei nº 11.941/2009 – não produzem, nem de longe, o efeito desejado, já que, na realidade, uma após a outra, na grande maioria dos casos, tem servido, apenas, para uma regularização temporária que só consulta aos interesses de devedores que, na realidade, acabam por se desfazer do patrimônio conhecido, escudando-se na certificação de sua regularidade em virtude da adesão a essa espécie de norma introdutora de benefícios fiscais.

A efetiva solução de um passivo fiscal em virtude da adesão a esses

parcelamentos é situação absolutamente rara, sendo fácil se verificar que, na realidade, os devedores passeiam pelas espécies de parcelamento sem que, na realidade, consigam de fato solucionar seus enormes passivos tributários.

A conclusão está embasada em números, em especial o de devedores que

participaram do primeiro parcelamento (REFIS – Lei nº 9.964/2000) e estão, com as mesmas dívidas, transferindo os saldos de parcelamentos, ano após ano, para os novos parcelamento instituídos.

Não é raro o administrador tributário, ao receber um contribuinte/devedor, se

ver às voltas com perguntas como: “Quando é que vai ser editado um novo REFIS?”

“Ouvi dizer que o congresso inseriu um artigo em uma medida provisória reabrindo o prazo para o REFIS. O senhor já ouviu alguma coisa nesse sentido?” Aqui se descortinam duas importantes facetas do administrador tributário; uma

a de assessor do ator político e a outra, a de responsável pela cobrança tributária coativa.

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Não há possibilidade de importante aumento no sucesso da cobrança tributária sem que o administrador tributário, com fundadas razões técnicas, venha a convencer os atores políticos (Deputados e Senadores, Ministros e Presidente da República) de que leis como as que veiculam programas de recuperação fiscal não consultam ao interesse público, já que não trazem incremento importante à arrecadação e reduzem a sensação de risco subjetivo que leva o contribuinte a cumprir espontaneamente suas obrigações tributárias.

Deve-se lembrar, ainda, que tais espécies de parcelamento aumentam, em

muito, o tempo de cobrança, circunstância que reduz, em relação diametralmente oposta, as chances de sucesso da cobrança.

Por fim, neste contexto também é importante abordar, aqui, as propostas de

alteração no modelo de cobrança tributária encaminhadas pelo Governo Federal ao Congresso Nacional e seus possíveis efeitos no cumprimento das obrigações tributárias pelos contribuintes. 2. OS PARCELAMENTOS ESPECIAIS INSTITUÍDOS PELO GOVERNO FEDERAL E AS REPERCUSSÕES NA ATIVIDADE SUBSTANTIVA DE COBRANÇA TRIBUTÁRIA: A FALÁCIA DA RECUPERAÇÃO FISCAL E OS PREJUÍZOS À ATIVIDADE DE COBRANÇA:

Não parece fugir à compreensão geral a ideia de que mais sucesso se tem nas estratégias de cobrança quando se busca a solução de um passivo tributário novo do que quando são cobrados créditos públicos antigos, originados de fatos geradores cuja riqueza subjacente de há muito já foi consumida pelo decurso do tempo.

Imagine-se, então, no Brasil, uma cobrança executiva iniciada no ano de 1999,

referente a tributos originados de fatos geradores ocorridos em 1995.

A execução fiscal, ajuizada no início do ano de 2000, é colhida, ainda antes da citação do devedor para pagar ou oferecer bens à penhora, pela edição da Lei 9.964, de 2000, o que, já de início, paralisa os atos de cobrança coativa disponíveis para as Procuradorias Fiscais.

Computado o tempo de maturação dos sistemas informatizados de controle do

parcelamento em referência, podemos, sem muita chance de erro, afirmar que essa cobrança, iniciada nos anos de 1999, ficou paralisada no mínimo dois anos até que encerrada a etapa de consolidação dos débitos e disponibilizadas as ferramentas de exclusão do parcelamento.

No fim do ano de 2001 esse devedor é excluído do programa, tendo a cobrança

retomado seu curso, por exemplo, no início do ano de 2002.

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Finalmente é obtido sucesso na citação do devedor, que não oferece bens à penhora, sendo aberta vista dos autos, por exemplo, à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para indicação de bens à penhora.

No início do ano de 2003, após espera de longos meses pelas respostas aos

ofícios de diligências, a Fazenda Nacional localiza bem e o indica à penhora. Alguns meses de demora no despacho judicial, outros tantos para a expedição

do mandado e mais alguns para o seu cumprimento, chegando a cobrança ao pálio da Lei nº 10.684/2003 (PAES), que veicula norma de parcelamento que permite a solução do passivo fiscal em quinze (anos).

Nova suspensão é requerida, novo prazo de consolidação dos débitos e nova

demora na consolidação dos débitos e na construção das ferramentas para controle dos créditos parcelados e para exclusão dos devedores do parcelamento.

Chega-se então ao ano de 2005, onde novo pedido de suspensão é feito, no

aguardo da primeira exclusão do parcelamento ocorrida no ano de 2006, período no qual foi editada, também, a Medida Provisória nº 303/2006 que, apesar de perder sua eficácia, produziu efeitos em relação ao Parcelamento Excepcional, que autorizava parcelamentos em 130 (art. 1º) e 120 (art. 8º) meses.

Repete-se a mesma sucessão de eventos e, passados mais dois anos, pode-se

retomar a cobrança que, ao fim do ano de 2008, início de 2009, prossegue seu curso, não tendo obtido sucesso na penhora do bem indicado pelo fisco pois, no período em que medeou a indicação do bem e a efetivação do ato constritivo, o mesmo foi vendido pelo devedor, sendo aberta vistas dos autos da execução fiscal ao credor, novamente, para indicação de outro bem.

Feitas novas diligências, a cobrança executiva é encaminhada ao Poder

Judiciário, com nova indicação de bens à penhora, no início do ano de 2009, tendo, após novo retardo inerente à retirar da inércia a máquina do Judiciário, é expedido o mandado de penhora, entregue ao Oficial de Justiça que, ao apresentá-lo ao devedor, é surpreendido com a notícia de este aderiu ao parcelamento instituído pela Lei nº 11.941/2009, que suspendeu a exigibilidade de seus créditos tributários e lhe permitiu, de logo, a obtenção de uma Certidão Positiva com Efeitos de Negativa, utilizada, mais uma vez, para viabilizar a alienação do bem indicado à penhora.

A cobrança executiva, protagonista desse triste relato, completa dez anos, sem

que tenha sido, sequer, garantida por patrimônio do devedor que seja suficiente à sua satisfação.

A riqueza que deu origem ao crédito tributário já completa quinze anos e a

situação econômica do devedor pode, eventualmente, ser cada vez pior, alcançando, finalmente, a insolvência.

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Excluído o devedor do mais recente parcelamento, retomada a cobrança, a Fazenda Nacional passará a alegar a fraude à execução, na busca da satisfação de seus créditos já próximos da maioridade.

Qual será a reação do Poder Judiciário quando opostos os Embargos por

aqueles terceiros que, antes mesmo da penhora, adquiriram bens de raiz, escudados na apresentação de certidões fundadas no artigo 206 do CTN em virtude de adesão a parcelamentos como os instituídos pelas Leis nº 9.964/200, nº 10.684/2003, pela Medida Provisória nº 303/2006 e pela Lei nº 11.941/2009?

Parece razoável admitir que o Poder Judiciário, por intermédio do órgão

competente para uniformização da interpretação da lei federal, qual seja, o Superior Tribunal de Justiça, ao fim de longas discussões, tenderá a considerar que o adquirente de boa-fé não poderia ser prejudicado pela cobrança, já que a certidão a que alude o artigo 206 do CTN, em virtude de adesão a um parcelamento amplo e irrestrito como o da Lei nº 9.964/200 acompanhou, por exemplo, o instrumento de transferência.

Qual a perspectiva de sucesso dessa cobrança? Próxima do nulo. Qual a razão, então, de se adotar com tanta constância essa espécie de

parcelamento, que paralisa por completo as baterias das administrações tributárias responsáveis pelas cobranças executivas?

Poder-se-ia alegar que a finalidade é puramente arrecadatória, o que não

resistiria ao exame do efetivo reforço de caixa proporcionado por essas modalidades de parcelamento.

Poder-se-ia afirmar, ainda, que a finalidade é proporcionar a regularização fiscal

de dívidas antigas, permitindo ao devedor a retomada da normalidade de suas atividades empresariais.

Ocorre que tal hipótese acaba por ser descartada pela quantidade efetiva de

devedores que, ao fim do prazo do parcelamento, tem como resultado a liquidação de seu passivo tributário.

Ora, sem esforço, é possível verificar a imensa dança das cadeiras causada

pela edição desses parcelamentos de “recuperação fiscal”. Com o intuito de comprovar as assertivas acima tecidas, faremos uma análise

dos números gerencias dos parcelamentos de débitos federais instituídos pelos diplomas legais acima citados, números esses extraídos dos sistemas de controle dos referidos parcelamentos.

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Veja-se na figura 1 abaixo reproduzia, imagem extraída do sistema informatizado de controle do parcelamento instituído pela Lei nº 9.964/2000 (REFIS), onde está demonstrado o número de optantes pelo parcelamento:

Figura 1

Como se vê com razoável facilidade acima, temos 109.988 contas REFIS rescindidas e apenas 8.020 contas encerradas, ou seja, dos 129.180 optantes iniciais do REFIS, somente cerca de 6% aproveitaram a oportunidade para a liquidação do passivo fiscal. Hoje temos apenas 5.611 optantes ativos no parcelamento REFIS que, passados mais de dez anos da adesão ao parcelamento não conseguiram, ainda, solucionar o seu passivo fiscal. Para onde foram os quase 110.000 optantes que tiveram suas contas rescindidas no parcelamento instituído pela Lei 9.964/2000? Fácil responder essa pergunta, e a resposta está na consulta gerencial do parcelamento seguinte, aquele instituído pela Lei 10.684/2003.

Vejamos a figura 2, que nos mostra a carteira de crédito do PAES (Lei nº 10.684/2003):

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Figura 2

Foram selecionados apenas os optantes pessoas jurídicas exatamente para permitir a comparação com o parcelamento REFIS, que não admitia a opção por devedores pessoas físicas. Aqueles optantes excluídos do REFIS, quase com certeza, serão encontrados entre os 374.715 optantes do PAES, sendo de se verificar que desses optantes iniciais, 232.570 tiveram suas contas rescindidas sem solução do passivo tributário, o que equivale dizer que quase 92% do valor parcelado no PAES por pessoas jurídicas continuou sem solução. Esse passivo sem solução, sem a menor sombra de dúvidas, prosseguiu em sua migração, chegando, no ano de 2006, ao parcelamento instituído pela Medida Provisória 303/2006, cuja carteira encontra-se retratada nas figura 3 e 4 abaixo, sendo a figura 3 para os débitos do art. 1º da MP 303/2006, que equivaliam ao período de débitos que poderiam ter feito parte do PAES e a figura 4 para os novos débitos, com vencimento em período que não poderia ter sido inserido no PAES:

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Figura 3

A figura 3, portanto, nos mostra que tivemos 85.828 adesões ao parcelamento PAEX (art. 1º), tendo 45.137 optantes, responsáveis por 93,40 % dos créditos em cobrança sido excluídos do referido parcelamento sem solução do passivo tributário. Hoje a administração do PAEX (art. 1º), se dá exclusivamente para 14.734 optantes, que são responsáveis por apenas 4,572% da carteira inicial. Para o artigo 8º da MP 303/2006, que abrangia débito com vencimento após 28 de fevereiro de 2003 até dezembro de 2005, temos a figura 4, que demonstra a existência de 158.883 opções pelo parcelamento. Desse universo de optantes, apenas 11.920 permanecem ativos no ajuste, sendo certo que já tivemos 82.471 contas rescindidas sem solução do passivo, o que corresponde a aproximadamente 83% do valor parcelado originariamente. Como vemos, aproximadamente 90% do estoque parcelado nos três parcelamentos especiais retratados acima não foi solucionado.

Houve, contudo, uma constante: a paralisação da cobrança.

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Figura 4:

O baixo percentual de recuperação proporcionado pelos referidos parcelamentos

especiais, aliado à alta taxa de migração de contribuintes entre os diversos parcelamentos especiais, acarreta longa paralisação e inefetividade às execuções fiscais, com a consequente diminuição da sensação de risco subjetivo dos devedores.

Como visto, no período compreendido entre os anos de 2000 a 2009, houve a

instituição pela União de 04 (quatro) programas gerais de parcelamento especial – sem contar os programas de parcelamento especial destinados a universos específicos de contribuintes – quais sejam, o REFIS, o PAES, o PAEX e as modalidades de parcelamento especial da Lei nº 11.941/09.

Durante todo esse período, as execuções fiscais ajuizadas contra os devedores

optantes dos referidos parcelamentos especiais permaneceram praticamente paralisadas.

Isto porque não houve qualquer restrição de inclusão do saldo remanescente do

parcelamento especial anterior nos programas de parcelamento subsequente.

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O resultado não poderia ser outro: alta taxa de migração de contribuintes nos diversos parcelamentos especiais, em manifesto prejuízo às atividades de cobrança.

As assertivas acima podem ser comprovadas através dos dados abaixo,

extraídos de apurações especiais nos sistemas de controle dos referidos parcelamentos especiais:

Tabela 1: Migração nos parcelamentos especiais

Tipo de parcelamento Migração

Optantes excluídos do REFIS com opção pelo PAES 45.493

Optantes excluídos do REFIS com opção pelo PAEX 22.085

Optantes excluídos do REFIS com opção pelo parcelamento para ingresso no Simples Nacional 7.383

Optantes excluídos do REFIS com opção pelo parcelamento da Lei nº 11.941/09 2.222

Optantes excluídos do PAES com opção pelo PAEX 56.508

Optantes excluídos do PAES com opção pelo parcelamento para ingresso no Simples Nacional 20.517

Optantes excluídos do PAES com opção pelo parcelamento da Lei nº 11.941/09 22.356

Optantes excluídos do PAEX com opção pelo parcelamento da Lei nº 11.941/09 43.137 Fontes: Apurações especiais nos sistemas de parcelamento

Vejamos, agora, o quadro de optantes pessoas jurídicas do parcelamento

instituído pela Lei 11.941/2009.

Na Lei 11.941/2009, para permitir uma comparação razoável em relação aos demais parcelamentos, deve-se verificar a situação dos débitos que não ostentam natureza previdenciária, já que a administração desses créditos passou à Receita Federal do Brasil recentemente, não tendo feito parte dos parcelamentos objeto dos gerenciais anteriores, exceto no que diz respeito ao REFIS.

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Figura

5

A figura 5 nos revela, de logo, que há 349.435 optantes pessoas jurídicas que aderiram ao parcelamento instituído pela Lei nº 11.941/2009, nas modalidades relativas a débitos não previdenciários.

Restou devidamente comprovado que as Leis nº 9.964/2000, nº 10.684/2003 e

a Medida Provisória nº 303/2006, em nenhum caso, mereceram a alcunha recebida de Programas de Recuperação Fiscal, já que aproximadamente 90% do estoque parcelado não foi regularizado e, em 100% dos casos, os referidos parcelamentos possibilitaram a paralisia dos atos de cobrança executiva a serem praticados, afastando cada vez mais a riqueza produzida do valor gerado para ser cobrado.

Idêntico prognóstico pode ser feito em relação às modalidades de parcelamento

da Lei nº 11.941/2009, instituída em maio de 2009, especialmente levando em consideração a circunstância de que, passados quase dois anos da instituição do novel parcelamento especial, ainda não houve a consolidação de qualquer modalidade.

A redução da probabilidade de sucesso da atividade substantiva de cobrança

tributária, portanto, é evidente.

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3. NOVO MODELO DE COBRANÇA TRIBUTÁRIA. BREVE ANÁLISE CRÍTICA Existem quatro diferentes projetos de lei tramitando no Congresso Nacional que buscam, em alguma medida, remodelar o processo de cobrança coativa de tributos no País. Para o presente trabalho temos especial interesse em dois deles, já que os dois restantes visam regulamentar a oferta de garantias extrajudiciais e a dação de imóveis em pagamento e outro propõe mudança no Código Tributário Nacional. Os dois outros, se aprovados, terão importante impacto nos procedimentos cobrança, já que um nos revela como principal inovação a constrição administrativa preparatória de bens visando a garantia do crédito tributário e o outro propõe a criação de modalidades de transação tributária. Passemos a analisar, em primeiro lugar, o Projeto de Lei nº 5.080/2009, em tramitação no Congresso Nacional, que dispõe sobre a cobrança da dívida ativa da Fazenda Pública e dá outras providências. Com destaque para o disposto nos artigos 3º e 4º, temos a proposição, pelo Poder Executivo, de novo modelo de busca de garantias para o crédito público1.

1 Art. 3o Os atos de constrição preparatória e provisória serão praticados pela Fazenda Pública credora, cabendo seu controle ao Poder Judiciário, na forma prevista nesta Lei. Art. 4o Concluída a inscrição em dívida ativa, será realizada investigação patrimonial dos devedores inscritos por parte da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, da Procuradoria-Geral Federal, da Procuradoria-Geral do Banco Central do Brasil e pelos órgãos correspondentes dos Estados, Municípios e Distrito Federal, caso a referida investigação patrimonial não tenha sido realizada com êxito quando da constituição do crédito. § 1o Fica o Poder Executivo autorizado a instituir Sistema Nacional de Informações Patrimoniais dos Contribuintes - SNIPC, administrado pelo Ministério da Fazenda, inclusive com base nas informações gerenciadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, organizando o acesso eletrônico às bases de informação patrimonial de contribuintes, contemplando informações sobre o patrimônio, os rendimentos e os endereços, entre outras. § 2o Os órgãos e entidades públicos e privados que por obrigação legal operem cadastros, registros e controle de operações de bens e direitos deverão disponibilizar para o SNIPC as informações que administrem. § 3o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, mediante convênio, poderão ter acesso ao SNIPC, nos termos do inciso XXII do art. 37 da Constituição. § 4o O acesso ao SNIPC não desobriga o atendimento às informações adicionais requisitadas em caráter geral ou particular aos Cartórios de Registro de Imóveis, Detrans, Secretaria do Patrimônio da União, Capitania dos Portos, Juntas Comerciais, Agência Nacional de Aviação Civil, Comissão de Valores Mobiliários, Bolsas de Valores, Superintendência de Seguros Privados, Banco Central do Brasil, Câmaras de Custódia e Liquidação, Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, bem como qualquer outro órgão ou entidade que possua a finalidade de cadastro, registro e controle de operações de bens e direitos. § 5o Os resultados da investigação patrimonial no âmbito do SNIPC serão disponibilizados ao órgão responsável pela cobrança da dívida.

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Tais normas, juntamente com o disposto no art. 9º do referido projeto2, tem o evidente intuito de reduzir o tempo entre o vencimento da obrigação de pagamento da obrigação tributária e sua efetiva garantia pela constrição de bens suficientes à sua realização. Não temos dúvidas, portanto, que a medida, se aprovada, resultará em evidente incremento no sucesso das estratégias de cobrança, reduzindo o prazo para a efetivação da realização do crédito público, já que serão consideravelmente reduzidos os trâmites burocráticos para a obtenção de garantias suficientes à satisfação dos créditos submetidos à cobrança executiva. Tais medidas servirão também, em larga escala, para reduzir os efeitos nocivos de parcelamentos como aqueles discutidos linhas acima, pois se as cobranças serão propostas já com as garantias efetivadas, sem a intervenção, nessa fase, do Poder Judiciário, as chances de sucessos na empreitada aumentarão consideravelmente, já que, ainda que editada nova lei contendo proposta de “regularização fiscal”, tal cobrança será colhida pela lei já com as garantias efetivadas, cabendo ao devedor, nesse caso, administrar seu passivo fiscal de modo a que, ao fim do parcelamento tenha a devolução da disposição plena de seu patrimônio, sob o risco de, em caso negativo, ver vendidos seus bens, na forma prevista no referido projeto de lei.

§ 6o Por intermédio do SNIPC poderão ser geridas as informações e as transmissões das ordens recebidas do Poder Judiciário às pessoas e órgãos vinculados ao sistema. § 7o Ficam sujeitos às penalidades previstas na Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, os serventuários e auxiliares de justiça que não cumprirem as determinações transmitidas pelos órgãos responsáveis pelo gerenciamento do SNIPC. 2 Art. 9o O despacho da autoridade administrativa competente que determinar a notificação, observados os prazos e as hipóteses do art. 5o, também ordenará: I - a efetivação da constrição preparatória e a avaliação de bens, respeitada a ordem estabelecida no art. 655 da Lei no 5.869, de 1973, sobre tantos bens e direitos quantos bastem para garantir o débito; II - a intimação da constrição preparatória ao devedor; e III - o registro da constrição, cujas custas ficarão, ao final: a) a cargo do devedor se for a execução julgada procedente; ou b) a cargo da Fazenda Pública, caso seja indevida a constrição ou seja a execução julgada improcedente. § 1o Havendo informação acerca de bens passíveis de penhora, a constrição preparatória poderá ser levada a efeito por meio da averbação da certidão de dívida ativa no cadastro pertinente, inclusive por meio eletrônico. § 2o Efetivada a constrição preparatória, resta vedada a alienação ou a constituição de ônus sobre o bem ou direito objeto da constrição pelo prazo de cento e vinte dias, sem prejuízo do disposto no art. 185 da Lei no 5.172, de 1966. § 3o Decorrido o prazo do § 2o sem a convolação da constrição preparatória ou da provisória em penhora ou arresto, por parte da autoridade judiciária, os órgãos de controle e registro de bens e direitos deverão promover automaticamente a desconstituição da constrição, comunicando imediatamente esse ato ao SNIPC, preferencialmente por meio informatizado.

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Não podemos nos furtar a examinar, de outro lado, o Projeto de Lei nº 5.082/2009, em trâmite também no Congresso Nacional, que trata da instituição da transação tributária. No decorrer do presente trabalho discorreu-se – com fundadas demonstrações fáticas – acerca dos efeitos nocivos dos parcelamentos denominados “PROGRAMAS DE RECUPERAÇÃO FISCAL” nos processos de cobrança coativa, em especial pela eternização das cobranças, sem que tenham efeitos arrecadatórios importantes ou mesmo de solução do passivo fiscal dos devedores. Parece, ao menos a princípio, que a instituição de hipóteses de transação tributária, por proposta do contribuinte, pode gerar um efeito de perenização desses processos de paralisia da cobrança coativa, já que não será necessária, sequer, a edição de nova norma legal instituindo o parcelamento, bastando que o interessado requeira a transação tributária para que obtenha a suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Ainda que se possa entender como razoável a instituição do modelo para casos como o de contribuintes em processo falimentar ou de recuperação judicial, tem-se como certo que o modelo poderá causar imensos prejuízos ao processo de cobrança coativa, já que pereniza a relação de suspensão de exigibilidade, com iniciativa do contribuinte que, a qualquer momento, poderá suscitar a proposta de transação. A medida, em especial no que diz respeito aos contribuintes solventes, terá um efeito aterrador de diminuição do risco subjetivo, o que poderá redundar, inclusive, na perigosa redução da arrecadação espontânea, eis que o contribuinte, a todo momento, poderá se valer da proposta de transação tributária para suspender a exigibilidade de seus créditos. Não há dúvidas que devemos discutir alterações no modelo de cobrança executiva dos créditos públicos, parece-nos, no entanto, que certas medidas propostas, a par de inovar, acabam por alterar de forma substantiva a relação obrigacional tributária, com potenciais prejuízos às atividades de cobrança. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos resultados de adesão e de arrecadação dos programas de recuperação fiscal instituídos pelas Leis nº 9.964/2000, nº 10.684/2003 e pela Medida Provisória nº 303/2006, demonstra que os referidos parcelamentos especiais não atingiram a finalidade pretendida de promover a solução do passivo fiscal dos contribuintes.

Em linhas gerais, verificou-se que aproximadamente 90% do estoque parcelado

nos referidos programas não foi regularizado. Constatou-se igualmente alta taxa percentual de migração do estoque parcelado

pelos contribuintes nos sucessivos parcelamentos especiais.

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Paralelamente, a adesão aos parcelamentos especiais e a migração do estoque

pelos diversos programas de parcelamento especial acarretaram a paralisia dos atos de cobrança executiva, afastando cada vez mais a riqueza produzida do valor gerado para ser cobrado.

Idêntico prognóstico pode ser feito em relação às modalidades de parcelamento

da Lei nº 11.941/2009, instituída em maio de 2009, especialmente levando em consideração a circunstância de que, passados quase dois anos da instituição do novel parcelamento especial, ainda não houve a consolidação de qualquer modalidade.

Dentro de tal ótica, também se enxerga com preocupação a proposta legislativa

de regulamentação da transação tributária, diante da possibilidade realização de propostas de transação pelos contribuintes, com eficácia suspensiva imediata da cobrança coativa, sem qualquer discriminação do histórico fiscal ou da solvência do contribuinte.