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O REGICÍDIO DE D. CARLOS I Um breve estudo de Astrologia Tradicional Por Helena Avelar e Luís Ribeiro O rei D. Carlos foi assassina- do a tiro no dia 1 de Fevereiro de 1908, quando passava de coche pelo Terreiro do Paço, na companhia da mulher, a rainha D. Amélia, e os dois filhos, D. Luís e D. Manuel. A família real viajava em carruagem aberta, a passo lento, cumprimentando a multidão que se juntara para os ver passar. Quando a carruagem estava prestes a virar para a Rua do Arsenal ouviram-se alguns tiros, disparados no meio da multidão. No meio do caos que se seguiu, dois homens (mais tarde identificados como Manuel Buíça e Alfredo Costa) conseguiram aproximar-se da carruagem e disparar sobre a família real. Figura 1 – Representação do regicídio D. Carlos teve morte imediata. D. Luís, de 20 anos, o herdeiro do trono, ainda conseguiu disparar contra os atacantes com a pistola do seu uniforme, mas foi abatido por uma bala no peito e outra em cheio no rosto. Os regicidas foram capturados e mortos no local. Sobreviveram ao ataque o filho mais novo, D. Manuel, então com 18 anos (futuro D. Manuel II) e a rainha D. Amélia, que num acto notável de coragem enfrentou fisicamente os atacantes. Abordagem mundana Embora o estudo aprofundado das causas e consequências políticas deste atentado ultrapasse largamente o âmbito deste artigo, importa referir que nesta época o país atravessava uma fase de grandes dificuldades económicas e sociais. Vivia-se um clima geral de descontentamento popular, onde o rei e os ministros eram sistematicamente apontados como a causa de todos os males. Na perspectiva astrológica existem três eventos principais relacionados com o regicídio. O primeiro, e mais abrangente, é o eclipse solar de 30 de Agosto de 1905 (o último eclipse total visível em Portugal até à data da morte do rei), que ocorreu a 6º de Virgem e apresentou um obscurecimento de 86%. O mapa do eclipse sugere a queda de um governante poderoso. Copyright © 2008, Helena Avelar e Luís Ribeiro 1

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O REGICÍDIO DE D. CARLOS I Um breve estudo de Astrologia Tradicional

Por Helena Avelar e Luís Ribeiro

O rei D. Carlos foi assassina-do a tiro no dia 1 de Fevereiro de 1908, quando passava de coche pelo Terreiro do Paço, na companhia da mulher, a rainha D. Amélia, e os dois filhos, D. Luís e D. Manuel. A família real viajava em carruagem aberta, a passo lento, cumprimentando a multidão que se juntara para os ver passar. Quando a carruagem estava prestes a

virar para a Rua do Arsenal ouviram-se alguns tiros, disparados no meio da multidão. No meio do caos que se seguiu, dois homens (mais tarde identificados como Manuel Buíça e Alfredo Costa) conseguiram aproximar-se da carruagem e disparar sobre a família real.

Figura 1 – Representação do regicídio

D. Carlos teve morte imediata. D. Luís, de 20 anos, o herdeiro do trono, ainda conseguiu disparar contra os atacantes com a pistola do seu uniforme, mas foi abatido por uma bala no peito e outra em cheio no rosto. Os regicidas foram capturados e mortos no local. Sobreviveram ao ataque o filho mais novo, D. Manuel, então com 18 anos (futuro D. Manuel II) e a rainha D. Amélia, que num acto notável de coragem enfrentou fisicamente os atacantes.

Abordagem mundana

Embora o estudo aprofundado das causas e consequências políticas deste atentado ultrapasse largamente o âmbito deste artigo, importa referir que nesta época o país atravessava uma fase de grandes dificuldades económicas e sociais. Vivia-se um clima geral de descontentamento popular, onde o rei e os ministros eram sistematicamente apontados como a causa de todos os males.

Na perspectiva astrológica existem três eventos principais relacionados com o regicídio.O primeiro, e mais abrangente, é o eclipse solar de 30 de Agosto de 1905 (o último eclipse total visível em Portugal até à data da morte do rei), que ocorreu a 6º de Virgem e apresentou um obscurecimento de 86%.

O mapa do eclipse sugere a queda de um governante poderoso.

Copyright © 2008, Helena Avelar e Luís Ribeiro 1

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Para começar, o eclipse está conjunto ao Meio do Céu, o que o relaciona directamente com os assuntos da Casa X, nomeada-mente o rei e o governo do país. O regente do Ascendente, Marte, está angular na Casa I e em signo de Fogo, formando uma quadratura ao próprio eclipse, o que constitui outro indicador de violência.Além disso, o eclipse ocorre na primeira face de Virgem, a que William Lilly atribui efeitos como “a morte lamentável de algum príncipe ou nobre”.

Com base na duração do eclipse (2 horas e 45 minutos) calcula-se que os seus efeitos se tivessem prolongado até os seus efeitos até Maio de 1908, o que abrange a época do regicídio. Contudo, a sua posição por casa indica que eventos principais deveriam ter ocorrido entre Agosto de 1906 e Julho de 1907. Esta fase é, obviamente, bastante anterior à morte de D. Carlos, pelo que não pode ser directamente correlacionada com o atentado. Coincide, porém, com algumas decisões governamentais importantes, que vieram agravar o descontentamento popular e, em última análise, precipitar o próprio regicídio.

Contudo, este não é o único indicador de problemas. Também o Ingresso Vernal de 1907 apresenta sinais preocupantes.

O mapa tem Ascendente Virgem e Gémeos no Meio do Céu, sendo Mercúrio o regente destes dois ângulos. O estado extremamente debilitado do planeta – em detrimento em Peixes, retrógrado, combusto e cerca-do pelas maléficas! – sugere que tanto o país (Ascendente) como o rei (Meio do Céu) estão em péssimas condi-ções. O “cerco” do significa-dor do rei é um sinal clássico de morte, aprisionamento ou grave problema para o monarca.Marte rege a Casa VIII, da morte e das perdas, e está

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como já referimos num signo de Fogo, sugerindo mais uma vez uma possibilidade de violência. Por outro lado a Lua, posicionada no Meio do Céu (indicador de visibilidade), forma quadraturas a Mercúrio, Sol e Saturno e opõe-se a Marte, acentuando ainda mais a tensão inerente a este mapa. No ingresso de Capricórnio (o último antes da morte do rei) deparamo-nos com uma configuração semelhante.

Mercúrio volta a ser regente do Ascendente e do Meio do Céu e, mais uma vez, está em detrimento (agora em Sagitá-rio) e cercado pelas maléficas. Marte volta a reger a Casa VIII e a estar angular, desta vez na Casa VII, dos opositores e inimigos. Finalmente, o posicionamento do Sol na Casa IV do ingresso também sugere a “queda” de um governante.

Por fim, importa referir que em ambos os ingressos os planetas maléficos estão posicionados nos signos de Sagitário e Peixes, ambos tradicionalmente associados a Portugal.

O mapa natal de D. Carlos

No estudo de mapas natais de reis e governantes, há que ter sempre em mente que o imperativo mundano se sobrepõe ao individual. Por outras palavras, a vida do soberano está fortemente ligada ao destino da nação e aos eventos do seu tempo. O mapa natal deve portanto ser estudado neste contexto mais vasto, pois todos os potenciais e capacidades do indivíduo estão sujeitas às condicionantes do país que governa (e que, de certo modo, também os governa a eles).

Nesta perspectiva, compreendemos que D. Carlos foi assassinado por motivos políticos – foi morto por ser o rei. As suas características pessoais, embora relevantes para determinar o seu estilo de governação, tornam-se secundárias face ao seu estatuto político e social. Assim, o regicídio, mais que a morte trágica de um indivíduo, é o resultado do mau estado da própria nação.

Nesta perspectiva, podemos relacionar o mapa natal de D. Carlos com a anterior conjunção Júpiter-Saturno, que ocorreu em Novembro de 1901 no grau

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14º de Capricórnio. Estas conjunções marcam as principais mudanças sociais e políticas a nível mundial. Neste caso, a conjunção activou o grau Ascendente de D. Carlos, ligando estas mudanças à pessoa do rei.

Além disso, o próprio mapa natal de D. Carlos apresenta alguns indicadores óbvios de morte violenta. O regente do Ascendente, Saturno, está combusto pelo Sol, que rege a Casa VIII; esta combustão ocorre em Balança, um signo humano e violento, indicando uma morte violenta, causada “por mãos humanas”, ou seja, um assassinato.

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não por motivos pessoais).

Também o regente do Meio do Céu, Marte, está combusto pelo regente da VIII, o que relaciona a sua morte com o seu estatuto e imagem pública (foi assassinado por ser rei,

Os indicadores de morte acima referidos foram activados no início de 1908, quando o rei tinha 44 anos de idade. O Ascendente da profecção estava a 18º de Virgem, no final da Casa VIII natal. No retorno solar de D. Carlos para esse ano encontramos também alguns indicadores preocupantes. Vénus (regente da Casa VIII do retorno), está conjunta ao Sol (regente da Casa VIII natal), esta conjunção ocorre na Casa I, estando portanto relacionada com a realidade imediata e a pessoa do rei. No mapa do retorno o Sol rege também a Casa XII, dos inimigos secretos, sugerindo a existência de uma conspiração para matar o rei.

Neste período estava activa uma firdaria Saturno-Marte, que activa os dois ângulos principais do mapa natal: o Ascendente (regido por Saturno) e o Meio do Céu (por Marte). No mapa natal, ambos planetas estão combustos pelo Sol (que, como já referimos, é o regente da Casa VIII natal).

Todos estes factores combinados resultaram no assassinato do monarca.

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