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O rádio dos anos cinqüenta no Nordeste do Brasil: produtores e ouvintes em perspectiva 1 Profa. Dra. Roberta Manuela Barros de Andrade - Universidade de Fortaleza-Ce 2 Profa. Dra. Erotilde Honório Silva- Universidade de Fortaleza- Ce 3 O presente estudo é parte de uma pesquisa que reflete sobre os significados potenciais do rádio a partir de duas perspectivas distintas: a dos produtores do rádio nos anos cinqüenta e a de seus ouvintes no mesmo período, na cidade de Fortaleza, localizada na região Nordeste do Brasil. A pesquisa funda um espaço dialógico entre os sentidos potenciais do rádio naquele período e as transformações que a sua trajetória trouxe às percepções desses sujeitos que atualmente estão inseridos em um outro contexto sócio- político-econômico diferenciado daquele presente nos anos cinqüenta. A pergunta-chave que move este estudo é: como sujeitos sociais pertencentes a um mesmo contexto histórico, criam suas chaves de representação a partir da incorporação de um lugar social específico. Para materializar esta pesquisa, utilizamos a história de vida das comunidades interpretativas do rádio naquele período. Selecionamos para tal, vinte produtores e receptores 1 .Trabalho destinado ao GT História da Mídia Sonora- IV Encontro Nacional de História da Mídia São Luís ( MA ), Brasil - 30 de maio a 2 de junho de 2006 2 . E-mail: [email protected] . 3 . E-mail: [email protected] ; [email protected]

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O rádio dos anos cinqüenta no Nordeste do Brasil: produtores e

ouvintes em perspectiva1

Profa. Dra. Roberta Manuela Barros de Andrade - Universidade de Fortaleza-Ce2

Profa. Dra. Erotilde Honório Silva- Universidade de Fortaleza- Ce3

O presente estudo é parte de uma pesquisa que reflete sobre os significados

potenciais do rádio a partir de duas perspectivas distintas: a dos produtores do

rádio nos anos cinqüenta e a de seus ouvintes no mesmo período, na cidade

de Fortaleza, localizada na região Nordeste do Brasil. A pesquisa funda um

espaço dialógico entre os sentidos potenciais do rádio naquele período e as

transformações que a sua trajetória trouxe às percepções desses sujeitos que

atualmente estão inseridos em um outro contexto sócio-político-econômico

diferenciado daquele presente nos anos cinqüenta. A pergunta-chave que

move este estudo é: como sujeitos sociais pertencentes a um mesmo contexto

histórico, criam suas chaves de representação a partir da incorporação de um

lugar social específico. Para materializar esta pesquisa, utilizamos a história de

vida das comunidades interpretativas do rádio naquele período. Selecionamos

para tal, vinte produtores e receptores daquela década, hoje entre 60 e 80 anos

de idade. Este estudo está, pois, centrado nos mecanismos de construção da

memória individual e coletiva mediados pela mídia.

Palavras-chave: rádio, memória, comunidades interpretativas, gerações.

1.Trabalho destinado ao GT História da Mídia Sonora- IV Encontro Nacional de História da Mídia São Luís ( MA ), Brasil - 30 de maio a 2 de junho de 2006 2. E-mail: [email protected]. 3. E-mail: [email protected]; [email protected]

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O rádio dos anos cinqüenta no Nordeste do Brasil: produtores e ouvintes em

perspectiva

Erotilde Honório SilvaRoberta Manuela Barros de Andrade

Os caminhos percorridos

No Brasil dos anos 50, o rock e a Coca-Cola já haviam se incorporado à

de vida de milhares de jovens que seguindo à moda, exibiam o topete, o rabo

de cavalo, o sapato bicolor e a meia soquete. A revolução sexual comandada

pela pílula anticoncepcional acirrava as discussões sobre o papel da mulher no

espaço público e trazia sub-repticiamente uma nova realidade no interior das

famílias. As mulheres se incorporavam lentamente ao mundo do trabalho em

atividades nunca dantes imaginadas. A guerra do Vietnã sacudia o mundo

numa avalanche de informações do além mar propiciadas pelo advento dos

artefatos tecnológicos. Somados a esses eventos, havia o aumento da

produção e consumo de bens e serviços que marcaram a ‘Idade da Inocência’

ou ‘Anos Dourados’, como ficou conhecida a década no Brasil.

Neste período, o rádio revolucionava a vida brasileira e vivia também a

sua ‘época de ouro’. Os jingles, os reclames, os noticiosos, os programas de

auditório traziam uma modernidade alicerçada na expansão do capital. Os

seriados como "Jerônimo, Herói do Sertão" reatualizavam os protagonistas

rurais para o dia-a-dia do receptor urbano e as radionovelas, como o ‘Direito de

Nascer", resignificavam experiências emocionais no melhor estilo folhetinesco

que passavam a se mesclar ao imaginário dos ouvintes, já fidelizados a este

novo veículo de difusão da indústria cultural.

A importância do rádio na configuração desta nova sociedade é, enfim,

indiscutível. No entanto, poucos estudos têm abordado as interações do rádio

com a sociedade brasileira. Haussen (2001), em uma pesquisa recente, faz um

levantamento das publicações científicas que trazem o rádio como temática

central e reafirma ainda hoje o seu papel coadjuvante como objeto de estudo

na academia frente aos outros meios de comunicação de massa como o jornal,

a televisão, o cinema e recentemente, a própria internet. Mesmo quando o

rádio é tema central dos estudos na área, a maior parte das abordagens se

situa em pesquisas que dão conta de seu impacto, abrangência, produção e

recepção apenas no eixo sul e sudeste do País, esquecendo que sua

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importância foi, e continua sendo, se não maior, mas de grande relevância nos

universos regionais e locais mais distanciados dos grandes centros

desenvolvidos do Brasil. É numa tentativa de dar conta deste vazio que

entabulamos esta pesquisa. Um estudo de tal ordem se insere no que a

literatura cunhou de história do cotidiano.

Como afirma Ludtke (1994), entende-se, aqui, que o termo história do

cotidiano não se define unicamente por tentativas de considerar uma nova

forma de pesquisa histórica e de escrita da história. Este trabalho se inscreve

em uma empreitada mais global: trata-se de reajustar o olhar sobre as

aquisições de uma época em um sentido que leve em consideração os

significados potenciais do rádio em uma década específica, a de cinqüenta, a

partir da percepção de seus produtores e receptores em Fortaleza, capital do

Ceará, estado do Nordeste do Brasil. A importância de uma pesquisa de tal

ordem está não só na compreensão do rádio como uma mediação essencial

para o entendimento do imaginário que constituiu uma dada época, mas

também, para o desvendamento de sua interação com as rotinas diárias de

seus produtores e consumidores.

Em geral, os estudos de comunicação em rádio contemplam

primordialmente o próprio meio e suas especificidades, dando ênfase a seus

conteúdos, às suas vinculações ideológicas, ao papel de seus produtores neste

processo e deixam a descoberto as configurações de sentido produzidas

quando os receptores entram nestas reflexões. Mesmo mais recentemente,

quando os receptores são postos como elemento real em algumas pesquisas,

eles quase sempre aparecem como uma equação isolada que não leva em

conta sua interação com as formas de agir e pensar dos produtores. Assim, o

pressuposto deste trabalho é a noção de que ainda que ocupem posições e

locais diferenciados no jogo social, ambos - produtores e receptores, fazem

parte de um mesmo processo de intertextualidade, pois, atuam como

elementos indissociáveis no interior da cultura midiática.

A pergunta-chave que move este estudo é, pois, como sujeitos sociais

pertencentes a um mesmo contexto histórico, criam suas chaves de

interpretação a partir da incorporação de um lugar social específico. Essas

negociações de sentido, ressaltamos, respondem a um sistema de práticas e

crenças que regulam distintos âmbitos da vida cotidiana dessa comunidade.

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Para materializar esta pesquisa, nos baseamos em depoimentos das

comunidades interpretativas do rádio naquele período. Selecionamos para tal,

vinte produtores e receptores daquela década, hoje entre 60 e 80 anos de

idade. Demos prioridade às falas dos receptores porque entendemos que estas

têm, apesar dos avanços teórico- metodológicos da área4, sido negligenciadas

pela tradição nesta literatura. No entanto, devido ao espaço exíguo deste texto,

sintetizamos suas falas em alguns depoimentos que melhor espelharam as

idéias que desejávamos pôr em discussão. Este estudo5 está, pois, ainda

centrado nos mecanismos de construção de uma memória6 individual e coletiva

mediada pelos meios de comunicação de massa.

A partir das entrevistas com essa comunidade fomos encontrando pistas

para compreender que confrontando ouvintes e produtores estávamos num

campo de múltiplas interpretações que se opunha necessariamente à idéia de

um difusionismo linear e causal. Percebemos nessa interação complexa de

significações entre produtores e receptores que, se em determinados

momentos, suas visões divergiram, na maior parte do tempo, se

assemelhavam ou se completavam nos dando dados importantes para a

percepção do que era a sociedade fortalezense daquele período.

Enfocamos para tal, alguns eixos temáticos como os usos diferenciados

que homens e mulheres davam ao consumo do rádio; a interação doméstica

que as radionovelas propiciavam às ouvintes daquele período; as distinções

estabelecidas entre gerações na escuta radiofônica; as sociabilidades que os

programas de auditório e os bailes dançantes proporcionavam aos ouvintes; as

intertextualidades do rádio com as revistas de fofocas; as relações entre os

noticiosos e a postura política dos produtores e finalizando, o impacto das

4. Os estudos na área na América Latina se centram, modernamente, nas propostas radiofônicas que consomem os setores populares, nos usos populares do rádio, nas rotinas produtivas e nas ideologias profissionais, nas relações entre audiências e processos de construção de identidades, nas mediações, nas formas e nos espaços de produção e de consumo, nas questões do poder e sua interação com os setores populares. No entanto, estes estudos ainda não se difundiram devidamente no universo acadêmico. 5 Este trabalho é parte de uma pesquisa sobre a radiodifusão cearense tomando como suporte a memória dos velhos radialistas, radioatores, radioatrizes, técnicos, empresários, locutores que fizeram sua história e se realiza junto com os estudantes de jornalismo da Universidade de Fortaleza, em Fortaleza, capital do Ceará.6 . A memória é, de acordo com Silverstone (2002) o que se faz recordar pelo testemunho oral e pelo discurso compartilhável. É onde os fios privados do passado se entrelaçam no tecido público, oferecendo-nos uma visão alternativa às versões oficiais da academia e dos arquivos.

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propagandas como carro-chefe da inserção do capital em uma cultura ainda

provinciana.

1. O Rádio é uma questão de gênero?

A percepção, difundida pelos produtores entrevistados para esta

pesquisa, de que o hábito de escutar rádio nos anos cinqüenta era uma

atividade em família encontra variações entre os ouvintes de Fortaleza. Se o

hábito de escutar rádio nos anos cinqüenta acontecia em família, as audiências

reunidas ao redor do aparelho eram primordialmente as femininas. A reunião

para a escuta estava condicionada prioritariamente a uma questão de gênero.

As mulheres costumavam se reunir para escutar seu programa predileto, mas o

acompanhamento das audiências masculinas não seguia necessariamente

este circuito familiar.

A maioria das pessoas passavam o dia escutando rádio, mas não se reuniam para isso. Abria ali, já ouvia, os que passavam ouvia, mas não se reunia para assistir, a não ser minha mãe e minha irmã que gostavam quando passou uma novela aqui chamada “Renúncia” e religiosamente, no horário da novela, me parece que era sete/oito horas da noite, estavam ali no pé do rádio para ouvir a “Renúncia”. (Nirez, 71, funcionário público).

Esta mesma questão de gênero se estabelece quando se trata da

seleção para a escuta dos programas radiofônicos. As mulheres e crianças

escutavam, em geral, as novelas e os programas de auditório. Os homens

ouviam os noticiários, mas, compartilhavam também o gosto pelos programas

de auditório. As expectativas, pois, dos ouvintes, seus níveis de atenção, seus

quadros cognitivos e afetivos durante as emissões variavam, pois, em função

da adaptação dos produtores aos gostos de gênero de seus ouvintes. A

preferência dos homens pelos programas jornalísticos aparece com clareza no

depoimento de Neide.

A transmissão chegava aos rádios e era uma chiadeira, falava um pedaço e cortava outro. Mesmo assim, a gente ia a todas as casas com aqueles rádios velhos e horrorosos ligados na Hora do Brasil, porque os homens, os senhores, gostavam de saber as notícias da política. (Neide Garcia, 61, professora aposentada).

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O rádio já nascia, pois, segmentado, com uma programação destinada a

reafirmar a divisão de papéis sociais entre homens e mulheres. A própria

elaboração da memória da programação daquele período pelos ouvintes desta

pesquisa se apresenta com uma seletividade que se apóia nesta divisão de

gênero. Não é a toa que os homens contam em filigramas os elementos

constitutivos das performances dos apresentadores daquele período bem como

a forma de funcionamento dos noticiosos. Enquanto isso, as mulheres quase

nada lembram dos noticiários daquele período, no entanto, contam os detalhes

o processo de produção de uma radionovela. Aliás, de todos os programas

veiculados naquele período, são as radionovelas os mais lembrados por todas

as depoentes.

Eu me lembro, quando já era adulto, pouco depois da adolescência, 18/19/20 anos, existia, de manhã, um noticiário, “PRENOL”, que era apresentado por Gerson Braz e tinha um companheiro, que eu não me lembro quem era. Era Gerson Braz. Ele e outro apresentavam um noticiário. Um lia uma notícia e o outro lia outra. A rádio Iracema, quando entrou, também tinha esse mesmo estilo. Tinha o “Jornal Iracema” e, pela manhã, meio dia, de hora em hora, tinha um noticiário relâmpago de cinco minutos, notícias de hora em hora. Depois, tinha o noticiário da “Casa das Máquinas”, que era do José Nascimento, também era um noticiário, assim, de pouco tempo, de vez em quando entrava. Aí, ao meio dia, tinha um longo, que eu não me lembro. Às 6 horas da tarde tinha outro longo, mas à noite não tinha. (Nirez, 71,funcionário público)

As novelas não eram feitas na hora. Eram gravadas. Mostrava duas quengas de coco em cima da mesa, e dizendo “o fulano vem a cavalo” e eu ouvindo como era. O barulho da chuva, tudo isso já tinha gravado. Na hora que dizia que vinha o cavalo, se colocava a parte e tinha o diálogo. (Neide, 61, professora aposentada)

As radionovelas se apresentaram, de fato, neste período, como o carro-

chefe da programação radiofônica. No Brasil, patrocinadas por fábricas de

detergentes, produtos de beleza e higiene corporal, a radionovela aparece

somente em 1941, pois só na década de 30, o rádio inicia seu percurso

realmente comercial. Aqui, o caminho trilhado foi semelhante a outros países

da América Latina. Estas surgem como um produto importado, o que significa

no Brasil o reforço do padrão folhetinesco e melodramático cujo público alvo

preferencial é a dona de casa.

Assim, como no resto da América Latina, o sucesso das radionovelas é

imediato, o que fez aumentar desmesuradamente a sua produção. Entre 1943

e 1945, foram transmitidas 116 novelas pela Rádio Nacional. Na década

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seguinte, a Rádio Nacional chegou a apresentar 20 novelas, simultaneamente,

em capítulos diários de meia hora. Como o rádio se popularizou durante toda a

década de 40, o custo do aparelho se tornou bem mais acessível, facilitando a

consagração da radionovela como um gênero efetivamente popular, o que não

havia acontecido com seu antecessor, o folhetim.

Deste modo, na medida em que as radionovelas se consolidavam no

gosto popular, foi pouco a pouco, se fazendo necessária a criação de equipes

especializadas em sua produção. Se no início elas eram importadas, com o

passar do tempo, começam a surgir os textos exclusivamente escritos por

autores nacionais e, posteriormente, locais. Aqui, a primeira novela local

estreou no início da década de cinqüenta. Chamou-se Aos pés do Tirano, de

autoria de Eduardo Campos, à época, diretor dos Diários Associados. A novela

alcançou um índice de audiência não esperado pelos produtores e repercussão

surpreendente nos meios impressos locais. As radioatrizes e os radioatores

ostentavam status de verdadeiras estrelas, motivo de inúmeras reportagens

nos jornais locais.

2. Radionovelas e Imaginário Social

As radionovelas incitavam a imaginação, propondo um lugar específico

para a fantasia. Os efeitos especiais, a interpretação do artista, o seu timbre

de voz, tudo isso iria construir um imaginário peculiar que se adaptava

perfeitamente à ordem melodramática. As novelas davam suporte à

imaginação e criavam mundos próprios, alicerçados nos cânones do imaginário

já devidamente incorporado da regra culta, nos romances e contos difundidos

pela própria indústria cultural, por intermédio das revistas femininas.

E tinha uma coisa das pessoas que trabalhavam em novela que era a grande diferença da televisão. Você imaginava a beleza das pessoas pela voz do artista. Uma pessoa hoje em dia com a minha voz já afônica e grossa só podia fazer papel de bruxa (risos). Exigia-se da personagem uma voz adequada. Por exemplo, a mocinha tinha que ter uma voz suave, tranqüila para que você pudesse imaginar e criar imitando os contos que líamos nas revistas (Neide Garcia, 61, professora aposentada).

Esta ordem narrativa no melodrama nasce historicamente na Revolução

Francesa7. O melodrama aparece em um mundo onde os imperativos 7 . Ver mais sobre as relações entre melodrama e Revolução Francesa em Barbero (1988).

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tradicionais de verdade e ética foram violentamente postos em xeque. Um novo

mundo cria a necessidade de uma nova cronologia e de uma nova moralidade.

Segundo Brooks (1976), nesse contexto, é preciso produzir melodrama para

justificar a incessante luta contra inimigos, vilões, subornadores da nova

moralidade que devem ser expurgados e confrontados para que a virtude

triunfe, tornando as novas representações legíveis e claras para todos.

Podemos dizer que o melodrama é um dos modos de demonstrar, de

tornar operativa a essência moral de um universo pós-revolucionário. Assim,

ele representa ambos, a necessidade em direção a uma nova moralidade e a

impossibilidade de conservar esta moralidade em termos tradicionais. Essa

moralidade se revelava nas radionovelas pelo predomínio do bem, da beleza e

do amor e pelo castigo aos culpados.

Eram pequenos contos e às vezes tinham contos que eram seriados e pela descrição que o autor ou a autora fazia você ficava imaginando aquela pessoa linda. Sempre são lindas, bem sucedidas e termina sempre tudo muito bem. E os ruins ou morrem ou vão para cadeia. (Neide, 61, professora aposentada).

As radionovelas influenciaram ainda nas rotinas domésticas das

audiências daquele período. Essas rotinas são, como bem o disse Lüdtke

(1994), produtos de uma prática social marcada por numerosas variações que

permitiram o consumo de certos produtos culturais. No caso, o consumo das

radionovelas incorporou-se a estas rotinas e delas passou a fazer parte,

modificando hábitos sociais anteriores. Como revela Neide:

Novela tinha todo dia e eu só lembro desse horário. Eu lembro que eu fazia ginásio e chegava correndo do colégio, porque 5h30 tinha “Jerônimo, o Herói do Sertão”, que era a primeira que começava. Era uma novela nacional, mas tinha também as feitas aqui.(Neide, 61, professora aposentada).

No entanto, o consumo de radionovelas, assim como de outros produtos

radiofônicos congêneres estava associado a um tipo de escuta particular que

se relaciona diretamente a uma questão de geração.

3. Escuta Radiofônica e Geração

Os depoimentos revelam ainda uma divisão de geração explícita no

hábito da escuta radiofônica. Para Neide, 61 anos, as pessoas mais velhas

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gostavam de ouvir rádio, mas os jovens e as crianças não. Obviamente, que a

depoente está fazendo referência a uma escuta atenta, fixada no aparelho,

focada exclusivamente nos meandros da trama. Para os mais jovens, os

adolescentes e as crianças, com exceção dos horários destinados às

radionovelas, a escuta do rádio funcionava como pano de fundo para outras

atividades, como brincar, conversar e contar histórias. Os mais velhos,

segundo ela, teriam repassado aos mais jovens, o hábito da escuta cativa.

Quando comecei a ouvir rádio, era por volta dos treze, quatorze anos, pelo que eu me lembro. Eu já fazia primeira série do ginásio, por aí. Tinha aquela “Jerônimo, o Rei dos Sertões”, que era uma novela rural. Depois tinha o “Direito de Nascer”. Essa era um pouco mais tarde. Era aquele dramalhão de chorar e a gente, adolescente, assistia porque os mais velhos assistiam.

Esta noção que se vincula à produção de um habitus8, isto é, uma

gramática generativa relacionada a um conhecimento adquirido e incorporado à

uma série de disposições para agir no mundo social, tornando-se um valor

determinante na conduta de seus agentes, pôde ser notada no depoimento de

Gil Furtado que ressalta o fato de que sua escuta do rádio fazia parte da uma

rotina diária que se formou na geração de seus pais ainda na década anterior.

Desde menino, eu gostava de ouvir rádio. Esse meu interesse ainda menino foi porque durante a Segunda Guerra Mundial meu pai era jornalista e também gostava. Como ele trabalhava em dois expedientes, eu, sempre que tinha oportunidade, ligava um rádio antigo, mas que pegava as estações estrangeiras, porque era um rádio potente. Meu pai gostava muito de ouvir a BBC de Londres na parte noturna. Depois, passados esses cinco anos dessa fase, já na década de 50, eu continuei com o hábito de ouvir rádio e até hoje permaneço com esse hábito.( Gil Furtado, 76, professor aposentado).

Se é verdade que foram os mais velhos que induziram os mais jovens à

escuta radiofônica em Fortaleza, a idéia de que o consumo de produtos

culturais mediados por novas tecnologias esteja relacionado a um sensorium,

oriundo de novas gerações, pode ser posta na berlinda. Aqui, o consumo foi a

criação de um habitus que se constituiu primeiro entre as gerações mais velhas

e, só posteriormente, chegou às mais jovens.

8 . O conceito de habitus nos remete a uma estrutura estruturante mas simultaneamente a um sistema de esquema inconsciente de pensamento, de percepção e de ação (Bourdieu, 1989).

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No caso das radionovelas, o consumo rápido das gerações mais velhas

pode ser explicado pelas próprias características estruturais do novo bem. As

radionovelas reatualizavam uma memória narrativa oriunda do teatro

melodramático9, da literatura de cordel, das narrativas orais comuns no sertão,

dos efeitos sonoros provenientes da arte circense. Estes elementos, híbridos,

ajudaram a constituir um novo gênero de extrema popularidade.

Em contraponto à escuta segmentada Maria José Braz, 72, radioatriz,

testemunha momentos de sua carreira relembrando que ao sair da emissora

encontrava na calçada um amontoado de pessoas de todas as idades, algumas

a enxugarem as lágrimas, emocionadas pelo desfecho do capítulo da novela

que acabaram de ouvir. E ali, estavam para propiciar um encontro com as

radiotrizes e radioatores ‘’objetos de admiração e endeusamento’’, para este

público. Era um momento privilegiado de atenção para essa escuta que

precisava materializar o que o meio e as mensagens antecipavam como

configuração de sentido.

Essa forma de se inserir no mundo no qual a emotividade se torna o foco

central das relações sociais representa, segundo Barbero (1988) formas de

recepção típicas da cultura popular. É esse sabor emocional que definirá o

melodrama radiofônico, colocando-o ao lado do popular justamente quando a

marca da educação burguesa se manifesta oposta, voltada para o controle dos

sentimentos que, divorciados da cena social, se interiorizam e configuram a

vida privada10.

5. Os Programas de auditório e as fofocas de revistas

     A partir de meados dos anos quarenta até meados dos anos cinqüenta, o

rádio no Brasil atingiria seu ponto culminante com os programas de auditório.

Os programas de auditório nasceram com os primeiros programas de calouros,

chegando a se transformar numa nova modalidade de espetáculo de palco. Em

especial, a década de cinqüenta, ficou marcada pela acirrada competição pelo

9. Como nos lembra Cano (apud Enriquez, 1989, 78), o melodrama era um espetáculo musical, poético-literário que girava ao redor de dramas sentimentais e individuais, rico em momentos de conflito e sentimentos profundos (dor, ira, prazer, amor) na qual o texto e a música gozavam da mesma importância e se reforçavam mutuamente na busca da expressão perfeita do sentimento. 10 . Ver mais em Elias (1995).

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título de "Rainha do Rádio" que envolveu em disputas memoráveis cantoras

como Emilinha Borba, Marlene e Ângela Maria. Nessa década, os programas

de auditório das emissoras tornaram-se tão concorridos que era cobrado

ingresso até para assisti-los, ainda que em pé.

Mistura de show musical, espetáculo de teatro de variedades, circo e

festa de adro, esses programas chegaram a alcançar uma dinâmica de

apresentação que conseguia manter o público nos auditórios em estado de

excitação contínua durante três, quatro e até mais horas. Para isso, os

animadores contavam não apenas com a presença de cantores de sucesso,

mas ainda com o suporte musical de grandes orquestras, conjuntos regionais,

músicos solistas, conjuntos vocais, humoristas e mágicos, aos quais se

juntavam números de exotismo, concursos à base de sorteios e distribuição de

amostras de produtos entre o público (Tinhorão, 1981).

Em Fortaleza, os programas de auditório foram os responsáveis pela

popularização do rádio. Na década de cinqüenta, a disputa entre as duas

rádios – Radio Iracema de Fortaleza e a Ceará Rádio Clube - se fazia por

intermédio desses programas, aqui também chamados de programa de

animação. Segundo os produtores, a Ceará Rádio Clube dispunha de um

auditório de 500 lugares, em nada perdendo para os auditórios dos grandes

centros do Sul e Sudeste do País. Os programas Divertimentos em Seqüência,

Fim de Semana da Taba, Clube das Gargalhadas, Festa na Caiçara, Clube

Papai Noel, Programa de Calouros eram disputados pelos freqüentadores em

longas e demoradas filas que antecediam ao seu início para desfrutarem da

proximidade dos seus ídolos, quer fossem os ídolos nacionais, regionais ou

locais.

Tinha na tarde de sábado um programa de auditório chamado “Divertimentos em Seqüência”, que trazia vários tipos de divertimento, assim como esse programas que tem na televisão do Silvio Santos, tinha adivinhações, tinha perguntas e respostas, tinha apresentação de cantores, apresentação de orquestras, apresentação de músicos, tinha calouros, eram vários tipos de divertimento, chamado de “Divertimentos em Seqüência”. (Nirez, 71, funcionário público).

Os rapazes viam no show de calouros a oportunidade para tentar uma

vaga no mundo mágico das celebridades. Para as ouvintes, aquele era um

espaço privilegiado para ‘’flertar, tirar linha, namorar, noivar, casar’’, com um

dos artistas locais ou nacionais que ali se apresentavam. Nesses espaços se

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cunhou o termo popular “macaca de auditório” devido à superlotação dos

espaços. As pessoas chegavam inclusive a ficar penduradas nas colunas, nas

janelas, onde o corpo se adaptasse.

Numa cidade de poucas opções de lazer e carência de transporte - a

freqüência às praias era rara, o acesso aos clubes seletos e aos bailes

dançantes com vitrolas ou orquestras interditados a maioria - os programas de

auditório com suas brincadeiras, com as seções de perguntas e respostas, com

o direito a prêmios ocupavam o espaço deixado pelas diferenças de classe e

pelas políticas públicas que não preenchiam a esta demanda. Nesse sentido, a

distribuição de prêmios bem como a participação efetiva dos ouvintes nos

espetáculos foram elementos comentados em todos os depoimentos realizados

durante esta pesquisa.

Eu ia esporadicamente à Ceará Rádio Clube que tinha mais práticas de curiosidades e perguntas com prêmios. A Rádio Iracema, que funcionava na Praça José de Alencar, tinha programas com as rádios musicais com cantores. Ela sempre trazia cantores de fora. A Rádio Iracema tinha programas com as rádios musicais com cantores. Ela sempre trazia cantores de fora, mas depois que passou minha adolescência eu deixei de freqüentar, mas continuo com o hábito de diariamente ouvir rádio. É uma cachacinha que eu tomo antes de dormir. (Gil, 76, professor aposentado).

Se esta participação era motivada pela aquisição de brindes, estes

últimos eram, em geral, para as audiências femininas, concretizados no ganho

de revistas como Capricho que contava as fofocas dos cantores e cantoras

daquele período cujo acesso era difícil dado às condições econômicas das

poucas ouvintes alfabetizadas, e, portanto, sonho de consumo da maioria.

Eu já estava no fim do ginásio, com 16 para 17 anos, e a gente ouvia os programas musicais. Escrevia para os programas, pedia músicas, dava vários nomes falsos, porque a gente mandava várias cartas para serem sorteadas para ganhar revistas, como Querida e Capricho. A Querida era uma revista muito boa de contos. A Capricho era de fotonovela. A Querida era uma revista de reportagens e contos. O tamanho delas era pequeno, mas bem grossas. Hoje em dia, eu vi numa dessas bancas de revista a Capricho, uma revista deste tamanhinho. Antes era uma revista grande e boa que vinha com fotonovela, reportagens, histórias, fofocas de rádio, que naquela época eram das cantoras e dos cantores.( Neide, 61, professora aposentada).

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Estamos, pois, diante do que podemos chamar, assim como Barthes

(1972) e Fiske (1987), de intertextualidade, ou o que Bahtkin (1998) chama de

dialogismo. Isso é, a concepção de que nenhum texto pode ser lido sem

relação com outros e que, portanto, quando interpretamos um bem cultural

qualquer, estamos colocando em jogo, direta ou indiretamente, um amálgama

de outros conhecimentos que vêm de outros textos trazidos inevitavelmente

para o primeiro.

A intertextualidade, nesse caso específico, consiste na relação dos

argumentos dos programas radiofônicos, aqui denominados de primários, com

outros textos que se referem especificamente a eles, chamados de

secundários. Estes textos secundários, como a crítica, a publicidade, e a fofoca

trabalham para promover a circulação de significados difundidos pelos textos

primários. O texto terciário será, então, o texto final, que circula no plano das

audiências e de suas relações sociais.

Os textos secundários tinham, pois, forte influência nos significados

difundidos pelos programas radiofônicos. O caso das revistas especializadas

daquele período ilustra bem este ponto de vista. Capricho podia até não fazer

parte do conglomerado das emissoras de rádio, mas trabalhava em

cooperação com elas, fazendo circular significados importantes para cimentar o

interesse pelos bens culturais inseridos na nova tecnologia. As fofocas sobre

os artistas, os comentários e entrevistas, as fichas biográficas, bem como o

enaltecimento do “trabalho duro” das estrelas, de seu profissionalismo e dos

segredos de produção dos programas visavam a estabilizar os sentidos

preferenciais difundidos por estes. Esta promoção de uma estratégia de leitura

ajuda a reforçar a idéia de que o mundo das cantoras e cantores de rádio, das

atrizes e dos atores e dos apresentadores se tratava de um mundo real e não

de uma construção imaginária.

As revistas diziam era com quem estavam namorando, se tinham casado ou descasado. Era o novo disco que estava lançando na época, porque era disco, ainda não tinha esse negócio de CD e fita.(Neide, 61, professora aposentada).

Era, obviamente, como é até hoje, uma tentativa de controlar a natural

polissemia dos textos midiáticos. Essas “informações”, por outro lado, iriam

entrar no circuito social, através das conversas cotidianas dos ouvintes, que

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teriam lugar tanto na esfera pública como na privada, instituindo uma rede de

sociabilidades complexa.

Um exemplo dessa sociabilidade eram os programas religiosos. A Hora

do Pobre, programa voltado para a família cearense, e grande receptor de

donativos, apresentado pelo famoso Padre Paixão, na Ceará Radio Clube,

celebrava uma aliança entre a profanidade midiática e a sacralidade das

instituições eclesiais.

Bom mesmo era a Hora do Pobre, celebrada pelo bondoso sacerdote Padre Paixão, autor de frases como “ A morte não avisa, faça seu testamento e deixe qualquer coisa para a Hora do Pobre”. “O aniversário de um filho, de um parente, o casamento da filha, comemore com um donativo para a hora do Pobre”. Está triste. Mande um donativo para a Hora do Pobre”. (Narcélio Lima Verde, 72, locutor de rádio).

]

O sucesso do programa e a enorme quantidade de donativos recebidos

levavam os próprios funcionários da emissora, os mais carentes ou os mais

sabidos a se misturarem aos doadores, fazendo-se passar por assistentes

eclesiais, ou população assistida, recebendo assim, as oferendas, dinheiro ou

donativos outros, antes que eles chegassem ás mãos do bondoso padre.

Em Fortaleza, as alianças entre líderes religiosos e donos dos meios de

comunicação sempre foram claras na cidade. A Hora do Pobre transmitia os

valores e crenças do catolicismo alicerçados na bandeira da caridade cristã, do

respeito à família e do cumprimento das obrigações religiosos publicizadas e,

portanto, reconhecidas socialmente o que dava um status social importante

para os doadores da sociedade daquele período.

5. Os programas musicais e os bailes dançantes

No início dos anos cinqüenta, já se difundia a diversidade musical

existente no Brasil. A consolidação do rádio no sul/sudeste do País, a grande

repercussão da Rádio Nacional do Rio de Janeiro tornara conhecidos

compositores e intérpretes do porte de Ari Barroso e Araci de Almeida.

Cantores como Dick Farney faziam contatos com músicos norte-americanos e

com eles se apresentavam, ganhando fama internacional e credibilizando seu

nome no cenário brasileiro. O samba invade os espaços antes ocupados

apenas pela música clássica e pelos ritmos oriundos da música norte-

americana. Fato relevante no cenário musical acontecido na década de 40 foi a

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criação do baião pelo músico e intérprete Luiz Gonzaga. Vindo do Nordeste,

Gonzaga fazia uma releitura da música popular de uma região conhecida

apenas pela pobreza e o analfabetismo. Nesta década, a descoberta de Luiz

Gonzaga que exibia um instrumental, um ritmo e uma forma de apresentação

criativa, portanto diferenciada do que se conhecia até então, foi um grande

acontecimento, logo apropriado pela indústria cultural, pela fonografia e, em

especial, pelo rádio, novidade ainda para a grande extensão do território

brasileiro. Em 1952, um compositor local, Humberto Teixeira, recria o baião

com a música Kalu, interpretada na voz de uma cantora de sucesso, campeã

dos programas de auditório, Dalva de Oliveira. A música popular que falava de

um universo rural passa a fazer parte do repertório de artistas tipicamente

urbanos.

Outros grandes cantores e intérpretes iniciaram suas carreiras na

década de 50, como Tom Jobim, Billy Blanco e o nordestino Antonio Maria que,

além de compositor, exercia as atividades de roteirista de shows e espetáculos

de revista e principalmente, de jornalista e de cronista das noites da boate

Vogue, responsável pela descoberta de vários talentos da música popular

brasileira como compositores, músicos, letristas e intérpretes. Esse

broadcasting nacional chegava até os nossos arribais por intermédio das

famosas caravanas de artistas. As caravanas eram compostas por artistas

contratados pelas rádios como atração principal dos programas de auditório11.

Esses artistas antigos todos apareciam por aqui.. Todos eles homens e mulheres. Quem você citasse aqui eles vinham. Não vinham assim com freqüência, mas todos eles apareciam e era aquela festa. Eu não gostava de ir pessoalmente, porque aquilo era mais para o pessoal da gritaria que quando chegava o cantor ou a cantora ficavam gritando. Eu gostava de ouvir. (Gil, 76, professor aposentado).

Para as audiências, tanto femininas quanto masculinas aquela era uma

oportunidade ímpar de conhecer o protagonista de um universo distante, quase

irreal, uma vez que os grandes artistas eram cultuados apenas pelas suas

vozes ou pelas suas fotografias em cartazes e revistas de circulação nacional.

Naquele tempo, os artistas de fora eram os mais desejados porque ninguém quase conhecia, porque não existia televisão, só ouvia a voz,

11 . Na própria inauguração dos estúdios da Ceará Rádio Clube foram convidados dois artistas famosos da época: Orlando Silva e Dorival Caymi.

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zné, através de discos, etc, e quando muito se conhecia por fotos, quem tinha acesso, né ou então a voz se conhecia, mas e só quem também tinha um bom rádio. (Neide, 61, professora aposentada).

As canções desse broadcasting se popularizavam por intermédio dos

bailes dançantes produzidos via programas musicais. Esses bailes divulgados

com muita ênfase nas chamadas durante a programação ao longo da semana

era uma outra oportunidade de lazer dantes não existente para as classes

populares. Os mais famosos programas neste estilo, em Fortaleza, foi o Bazar

da Música, e o Rádio Baile lembrado tanto por produtores como por receptores.

Por exemplo, à noite, às nove horas da noite, tinha o “Bazar da Música”, era o único programa de discos para dançar. Tocava duas horas de programa, que as pessoas aproveitavam para ter festinhas em casa, se chamava “Bazar da Música”. Os bailes aconteciam no sábado ou domingo, não lembro bem, mas sei que eram uma vez por semana.(Nirez, 71, funcionário público aposentado).

Mas, não era só de programas musicais que o rádio fortalezense de

alimentava. Também ocupava lugar de destaque nessa programação, os

programas noticiosos.

6. Os Noticiosos e a Política

No Ceará, Os Diários Associados (a Ceará Radio Clube, o Correio do

Ceará e o Unitário e posteriormente, a TV Ceará) gozavam de destaque

especial entre as elites empresariais. Numa terra onde as principais empresas

eram de refinamento de óleo, de produção de cigarros e de revenda de

máquinas de costura, as empresas relacionadas à produção de informação e

entretenimento se destacavam como ícones da modernidade que finalmente

chegavam à província. Essas empresas eram responsáveis pela transmissão

de um imaginário que trazia à cultura local um fervilhar de idéias inovadoras

que eram mediadas pelo trabalho dos locutores, apresentadores, radioatores e

radioatrizes, e, conformavam uma opinião pública que se nutria da credibilidade

sustentada no poderio econômico dos Associados.

Hoje tantos anos depois fico pensando no poder que tinha nesta cidade Os Associados, Ceará Radio Clube, Correio do Ceará E unitário. A força que desempenhava na cidade a opinião da crônica do Ceará, dos programas de crítica como Bate Papo na Praça, a celebre Carrocinha, a popularidade dos radio atores e das radio atrizes do radio teatro Pré-9. A a credibilidade dos noticiosos da pré-9 como noticiário relâmpago, repórter alfa, matutino pré-9, grande jornal pré-9 chegou ao ponto de

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quando a emissora da cidade divulgasse qualquer informação mais importante os ouvintes telefonavam para o 55525 (telefone da pré-9) pedindo da confirmação ou não. (Narcelio Lima Verde, 72, locutor de rádio).

Essa credibilidade antes como agora levou, inclusive, um dos mais

populares locutores daquele período _Paulo Cabral_, aos 28 anos, a ser eleito

prefeito de Fortaleza e, em seguida, Deputado Estadual. Além disso, pertencer

ao quadro de funcionários das empresas associadas era por si só um

passaporte ou um cartão de visita para a entrada num universo interditado às

pessoas comuns. Ou seja, apresentar o crachá da emissora em qualquer

banco era garantia de um atendimento de excelência, uma vez que, os

empréstimos bancários podiam ser feitos para eles sem cadastro. A própria

entrada em clubes seletos dos quais participavam apenas a elite cearense era

permitida e desejada para estes funcionários.

E quem eram os escolhidos para serem apresentadores, locutores

radioatores? Os critérios eram vários. Os produtores reforçam a idéia de que

para serem admitidos no rádio passavam por provas muito severas. Eles eram

submetidos a testes de leitura em duas línguas estrangeiras (inglês e francês).

Deveriam possuir uma tonalidade de voz sonora, grave, empostada, pausada

que os diferenciassem dos homens comuns e ao mesmo tempo incitasse a

imaginação dos ouvintes. Além disso, tinham que conhecer as regras da língua

portuguesa e usá-las adequadamente12.

Esta mesma visão era compartilhada pelos ouvintes daquele período,

em especial, os masculinos, pois, eram eles, os que sonhavam com a

perspectiva de um dia ter o privilégio de ser admitido como locutor de rádio

enquanto que as mulheres não se preocupavam em saber como os sapos se

transformavam em príncipes. Os critérios para a seleção de locutores eram

assim detalhadamente conhecidos pelas audiências masculinas, como

demonstra o depoimento de Gil e Nirez.

12. Neste período, havia uma categoria de profissional na produção dos noticiários denominada de rádioescuta. Este tinha a função de copiar o noticiário das rádios dos grandes centros e disponibilizá-lo para os locutores que tornavam essas notícias o centro dos noticiosos locais. No entanto, como lembra todos os produtores entrevistados, esses profissionais, mal pagos, não tinham preparo na língua portuguesa, cometendo muitas vezes erros de ortografia e gramática. Cabia, pois, aos locutores a correção do texto, demonstrando sua perícia em relação ao domínio da norma culta.

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Tinha testes que eram anunciados. Existia uma seleção, mas eu nunca concorri. Os critérios de seleção eram não gaguejar e ter uma voz que agradasse, porque se um locutor não agradasse, aí era difícil. Eles não tinham uma formação, mas era um pessoal de gabarito. Não sei se eles tinham títulos de formação acadêmica, mas tinham base. Ainda hoje tem o Augusto Borges, Moreira Campos que é um intelectual e foi locutor de rádio. (Gil, 76, professor aposentado).

Havia um concurso para virar locutor na Ceará Rádio Clube Naquele tempo, se exigia muito. O locutor tinha que saber ler francês e inglês. Tinha que ter a pronúncia correta, isso era uma exigência. Para você entrar hoje no rádio ou na televisão, basta você entrar, não tem mais essas exigências. (Nirez, 71, funcionário público).

Os noticiosos dispunham de informes nacionais e internacionais que

eram repassados nas edições das oito da manha, das treze horas, das

dezenove horas e das vinte e uma e trinta. As noticias locais não ganhavam

repercussão na grade de programação do rádio, exceto em casos de tragédias

ou nos períodos eleitorais. O rádio tinha, então, mais a função de fazer

penetrar na terra os interesses da política nacional do que de fazer circular aqui

informações sobre os eventos locais. Este modus operandi, freqüente na

produção das noticias, foi reafirmado por todos os produtores entrevistados.

Esta visão era também compartilhada pelos ouvintes daquele período.

Eram muito restritos. Eram de notícias e estas não eram como as de hoje. Eram notícias radiofônicas, por exemplo, não era ao vivo, não tinha esse negócio de você falar direto do Rio de Janeiro uma notícia que aconteceu. Primeiro, era retransmitida a notícia, e depois eles anunciavam que tinha acontecido no Rio de Janeiro, em São Paulo e no mundo. Hoje não, você pega um rádio e escuta ao vivo o que esta acontecendo. (Gil, 76, professor aposentado)

O foco da atenção dos produtores estava voltado para fora: eventos,

fatos políticos, novidades comerciais, crimes, modismos, entretenimentos que

se originavam nos grandes centros. A nova mídia estava engajada na

construção de um novo mundo sustentado pelo consumo, quer seja de bens,

quer seja de informações. Essa centralização em eventos além dos nossos

arribais levava aos ouvintes a pensar que os locutores praticamente não tinham

opinião sobre as notícias lidas. Eles só relatam a interferência política dos

locutores nos períodos eleitorais.

Naquela época, praticamente não tinham opinião, liam o que vinham escrito no papel. Mas, na época da propaganda política se fazia política.

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Fazia transmissão radiofônica de comícios, fazia transmissão radiofônica de eventos diversos, se transmitia posse de governador, posse de N coisas. (Gil, 76, professor aposentado)

A idéia de que os locutores não participavam da vida política porque não

falavam mal dos políticos no ar era compartilhada tanto por produtores como

por receptores. Este contrato de silêncio se baseava numa aliança secular

entre as elites políticas, empresariais e religiosas cearenses, explicitada no

chamado pacto dos coronéis. Esse equilíbrio só era quebrado quando,

obviamente, interesses particulares eram postos na berlinda. Quando tal fato

se dava, os locutores viravam porta-vozes desses interesses contrariados.

Neste momento, estes profissionais abriam espaço em seus programas para

fazerem tácitas criticas ao poder que naquele momento lhes negava alguma

demanda. Como afirmava Nirez:

O locutor não falava mal do político. Não, só quando tinha o programa que era a “Voz da Estação”, dizendo se a estação era contra aquele tipo de político, o redator fazia e o locutor lia. O primeiro caso aqui foi com Faustino Albuquerque, que era governador do Estado, e, na rádio Iracema, fizeram acirrada oposição ao governo dele. E o locutor fez várias crônicas contra o governo dele e gravaram um disco, uma paródia em cima de uma música famosa na época, chamada Chiquita Bacana, porque o Faustino Albuquerque tinha um sítio em Pacatuba, um sítio lá e lá tinha uma vaca chamada Chiquita Bacana, então fizeram uma paródia. A letra dizia: “Chiquita Bacana lá da Martinica, se veste com a casca de banana nanica”. Eles fizeram: “Chiquita Bacana lá da Pacatuba...”. (Nirez, 71, funcionário público)

Lembramos aqui que as notícias eram intercaladas pelos chamados

reclames, símbolos mais do que óbvios da expansão do capital em uma

sociedade ainda de cunho tradicional.

7. A propaganda e sua repercussão local

A partir do pós-guerra e durante toda a década de 50, consolida-se a

sociedade de consumo, multiplicando produtos como eletrodomésticos,

cosméticos, veículos e confecção. A grande novidade da época foi o

lançamento do refrigerante. Surge também a facilidade de compra, o crediário,

que insere parte significativa da população no consumo de bens e serviços. O

mercado publicitário cresce e os profissionais da área imprimem uma nova

estética à propaganda seja para os meios impressos sejam para os

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radiofônicos com os spots e jingles. Neste período, cerca de 60% do capital

destinado à publicidade, pelas empresas, é aplicado no rádio na forma de

publicidade e/ou de patrocínio de programas. O rádio torna-se o principal

veículo de propaganda, configurando-se numa mídia que já atendia a uma

segmentação de público. As radionovelas anunciavam os produtos

eletrodomésticos, os programas de auditório sorteavam brindes que variavam

da colônia Aqua-velva aos óculos ray-ban, os humorísticos distribuíam o

refrigerante Grapette e os radiojornais recebiam o patrocínio de grandes

empresas. Os principais anunciantes eram lojas de departamentos,

restaurantes, lanchonetes, farmácias e produtos alimentícios.

De acordo com os produtores daquele período, existiam na época, em

Fortaleza, firmas cujos dirigentes eram homens de visão e reconheciam a força

da promoção comercial. No Ceará, tínhamos empresas com slogans

específicos que caíam bem no gosto popular, como Casa Vilar, a mais antiga

do Ceará; Flama Símbolo de Distinção; Lojas A Cruzeiro, as mais completas da

cidade e Casa das Máquinas, o maior crediário do Ceará. Ao lado desses

testemunhos, havia a produção de jingles que todos, produtores e ouvintes,

repetem de memória, cantarolando, e emitindo juízos de valor sobre a beleza

da musica, da eficácia dos locutores e de sua adaptabilidade aos gêneros

radiofônicos no qual se inseriam.

Por exemplo, você estava escutando um programa de música erudita, a propaganda era de acordo. Hoje em dia não, você tá assistindo numa televisão um disco, seja bíblico, aí entram: “Casas Bahia, não sei o quê...”, ou seja, não há respeito da parte comercial ao programa que está sendo exibido. Naquela época, tinha sim. (Gil,76, professor aposentado)

Tanto produtores como receptores lembram que naquele tempo, quando

a música que antecedia a fala do jingle soava, já se sabia a qual produto

estava se fazendo referência. Glice Sales 65, rádioatriz, quando entrevistada,

repete de memória, dramatizando, uma verdadeira avalanche de anúncios e

reclames. Um exemplo: Ela é linda! Aaah!, Usa Pond’s! Aaah! Está noiva!

Ooooh! - Fiu... Fiu... É uma uva! - Quem: Eu, cavalheiro: - Não! GRAPETTE!

O suporte econômico advindo da venda de comerciais transformou as

duas rádios, Ceará Rádio Clube e Rádio Iracema em grandes competidoras no

que se refere à contratação de artistas nacionais e internacionais. De parceria

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com os clubes de entretenimento freqüentados apenas pela elite, realizaram

contratações que envolviam somas consideráveis em dinheiro no sentido de

garantir a presença da atração, aumentando a audiência da emissora e

angariando mais anunciantes. Assim, a cultura local entrava em contato com os

artistas, músicos, compositores que se apresentavam preferencialmente no sul

e sudeste, permitindo uma atualização com o gosto nacional. Outras formas de

atualização eram as revistas e o cinema. Tinhorão (1981, 43), qualifica este

momento do rádio comercial moderno como o estabelecimento de uma

radiofonia destinada a atender ao gosto massificado dos ouvintes para maior

eficiência da venda das mensagens publicitárias.

À guisa de conclusão, o que podemos afirmar, baseados nas memórias

dos depoentes desta pesquisa, é que o rádio, quando relembrado hoje,

adquire, no período em questão, uma tonalidade de artefato mágico para esses

indivíduos. O tom emocionado, presente em todas as entrevistas, quer seja na

posição de produtores, quer seja na situação de ouvintes, espelha, uma intensa

relação emocional com o então novo meio. O passado é, para estes indivíduos,

mediado pela lembrança dos programas e anúncios vistos e ouvidos nos anos

cinqüenta em Fortaleza. Logicamente, que este é um passado reconstruído

uma vez que esta memória mediada midiáticamente, ao mesmo tempo que

inclui, exclui determinados elementos.

Assim, destacamos a. o rádio como formador de uma comunidade

imaginária no qual se estabelecia uma fronteira difusa entre os valores

dominantes daquela sociedade e sua necessidade de adaptação a novos

contextos, b. Seu papel inequívoco como mediador na construção de uma idéia

de urbanidade para uma sociedade ainda de hábitos rurais, c. As novas

sociabilidades oriundas da intermediação dos programas radiofônicos e o papel

político na medida em que fornecia uma opção de lazer à uma classe social_ a

popular_ até então marginalizadas das benesses dos processos produtivos, d. Os discursos, que supostamente pertenciam individualmente a cada um dos

informantes, na verdade, configuraram diálogos que saíram do âmbito do

privado e entraram no âmbito público e vice-versa.

Na visão dos entrevistados a forma intensa como o rádio marcou a

década de cinqüenta em Fortaleza não se compara com a inserção de

nenhuma outra tecnologia que veio a posteriori. Os ventos de mudança que

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com ele vieram não puderam ser vistos, segundo os depoentes, como

dissociados da efetiva participação do meio em suas rotinas diárias. Com

certeza, o rádio foi capaz de produzir os textos que alimentaram a memória

destes indivíduos.

Este foi um pequeno panorama dos sentidos potenciais do rádio em uma

cidade do Nordeste do Brasil. Este estudo nos ajuda a pensar o rádio como

uma prática significante de espaço de produção e sentido, de dialogicidade, de

experiência cultural. Com esta pesquisa, apresentamos algumas das

possibilidades de pensar estas questões. No entanto, ressaltamos a sua ainda

exigüidade frente à pluralidade de sentidos que tal perspectiva teórico-

metodológica nos traz. Neste aproche, trata-se de se considerar a distância

entre nós e os outros, entre o tempo atual e o tempo histórico como um

elemento que nos leva a perceber esta pesquisa como um trabalho de

reconstrução que deve ser considerado em toda a rede de complexidade que

carrega consigo.

Bibliografia

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