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O QUE DIZ E O QUE DEIXA DE DIZER A PORTARIA1643/ 2017 DA SEED-SE AGOSTO/2017

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O QUE DIZ E O QUE DEIXA DE DIZER

A PORTARIA1643/ 2017 DA SEED-SE

AGOSTO/2017

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O que diz e o que deixa de dizer dizer a Portaria 1643,de 02 de março de 2017/SEED-SE

Carga histórica de preconceitos: conceitos de “déficit” e “dificuldades de aprendizagem”

Risco do diagnóstico ser substituído ela estigmatização

Burocratização e controle do trabalho docente

Direção Escolar vai se tornar a fiscal das notas.....

Reação Coletiva da comunidade escolar...

A avaliação do sucesso da aprendizagem restringe-se a uma “nota”

Assessoria pedagógica: Profas. Dras. Lianna Torres e Silvana Bretas, UFS

Revisão:Elda Lima de Araújo GóisHildebrando Oliveira Maia Júnior

Projeto Gráfico: Diego Oliveira

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Para refletir, questionar, debater... Professor(a), se você

quiser conhecer um pouco mais sobre direito edu-

cacional, recomendamos uma visita ao site da re-

vista Gestão Universitária:

http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/catego-

ria/2

Em primeiro lugar ela define que o objetivo principal da Portaria é tentar minimi-zar o problema do fracasso

escolar, através de alternativas pedagógicas, que devem ser pro-gramadas pela escola, para os estudantes que não conseguiram êxito em seus estudos em um de-terminado período do ano letivo. Seu principal foco é o trabalho pedagógico do(a) professor(a) de cada escola.

Entendemos que o fracasso escolar é um problema real, portanto é uma questão a ser enfrentada pelas secretarias de educação, pelas escolas, pelos

professores, envolvendo as fa-mílias dos educandos. Desse modo, a SEED/SE (Secretaria de Estado da Educação), enquanto órgão normativo do governo estadual, ao identificar o pro-blema, usa a prerrogativa de baixar uma Portaria com a fina-lidade de minimizar o proble-ma do fracasso escolar. A SEED ao criar, através de portaria, o “Programa de Intensificação da Aprendizagem para Alunos com Baixo Rendimento Escolar”, não publicou nenhum estudo con-tendo o diagnóstico dos pro-blemas relativos ao fracasso escolar em Sergipe.

Como já dissemos uma Portaria deve explici-tar a sua função, seus princípios, seus objetivos, suas ações, seus responsáveis e suas atribuições em contrapartida dos órgãos envolvidos. Na Por-taria 1643 não se encontram explícitas as reais condições para realizar essa ação tão importante e tão necessária para os nossos estudantes, mui-to menos a contrapartida da Secretaria.

Para entendermos melhor a Portaria 1643 precisamos analisar mais detalhadamente o do-cumento de autoria da SEED/SE.

Uma portaria faz parte do conjunto da legislação edu-cacional do país, do Distrito

Federal, dos estados e dos municípios que tem por fim

estabelecer o modo pelo qual um serviço educacional

deve ser oferecido à popu-lação da escola de um deter-

minado sistema de ensino. Os órgãos normativos do governo estadual ou mu-nicipal, nesse caso, têm a

prerrogativa de elaborá-la e publicá-la explicitando a sua função, princípios, objetivos,

ações, responsáveis e suas atribuições e contrapartida

dos órgãos envolvidos.

O QUE DIZ E O QUE DEIXA DE DIZER DIZER A PORTARIA 1643,DE 02 DE MARÇO DE 2017/SEED-SE

MAS, O QUE A PORTARIA DEIXA DE DIZER?

O QUE DIZ A PORTARIA 1643/2017

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O que a portaria diz?

Os conceitos de “déficit” e “dificuldades de aprendizagem” têm suas origens em teorias, com fortes apelos ideológicos, que procura-vam explicar o fracasso da universalização

da escola pública através da suposta inferioridade cultural e biopsicossocial dos grupos sociais da clas-se trabalhadora. Por isso, o(a) professor(a) que defen-de intransigentemente o direito da plena aprendiza-gem de seus educandos deve ter o cuidado de não adotar a ideia de que os estudantes não aprenderam porque possuem, em si, alguma incapacidade ou pre-

guiça. Sabemos que os problemas estruturais e qua-lidade da escola, articulados às condições da popu-lação trabalhadora, são fatores mais preponderantes na produção do insucesso escolar, do que qualquer explicação das individualidades que adentram na es-cola. O que não significa dizer que não há nada a ser feito, mas que, no nosso entendimento, é preciso res-saltar o que os estudantes, apesar de todos os obstá-culos reais, conseguiram avançar e é necessário criar novos tratos pedagógicos para garantir o seu direito de aprender.

Na parte inicial da portaria, nas considerações, pode-se ler:

Parece que aqui a SEED procura justificar o Programa como parte integrante do processo do ensino e aprendizagem na escola, apresentar seus princípios de respeito à diversidade e saberes dos educandos. Porém, fala em busca de alterna-tivas para sanar “déficit e dificuldade de aprendizagem”.

CARGA HISTÓRICA DE PRECONCEITOS: CONCEITOS DE “DÉFICIT” E “DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM”

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O que a portaria diz?

Ao ler o Art. 2, no seu § 1º, observamos que a portaria reduz o princípio declarado em um con-trole meramente administrativo e burocrático, vejamos:

A AVALIAÇÃO DO SUCESSO DA APRENDIZAGEM RESTRINGE-SE A UMA “NOTA”

Para refletir, questionar, debater...Professor(a), uma importante obra da educação para aprofundar-mos mais o assunto é o livro de Maria Helena Souza Patto. A pro-dução do fracasso escolar. T. A. Queiroz, Editora, Intermeio, 2015. Vale a pena ter esse livro como referencial de pesquisa para a construção da resistência no espaço escolar!

Logo no início do documento podemos identificar uma tendên-cia à burocratização do trabalho pedagógico, onde todo o com-

plexo processo de ensino e aprendi-zagem se canaliza na forma administra-tiva e quantitativa da nota final de um sistema gerenciado tecnologicamente. Assim, a avaliação de resultado pode se sobrepor à avaliação diagnóstica e de acompanhamento. É forçoso recon-hecer que o fracasso ou insucesso es-

colar é o resultado de um sistema edu-cacional congenitamente gerador de obstáculo para o cumprimento de seus objetivos, por isso, é um equívoco mui-to grave tentar fazer crer que a causa está nos perfis psicológicos e sociais dos estudantes ou no despreparo dos professores(as). Quanto mais o trabalho pedagógico, por força da lei, se frag-menta quanto mais adquire caracterís-tica de um trabalho alienado, coisifica os sujeitos escolares.

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O que a portaria diz?

E quem são as crianças, adolescentes e jovens destinatários da Portaria? No Art 1º, encontra-mos o que se segue:

RISCO DO DIAGNÓSTICO SER SUBSTITUÍDO PELA ESTIGMATIZAÇÃO

Para refletir, questionar, debater...Entendemos que a apropriação de conhecimentos culturais, científicos e artísticos passam pela subjetividade dos sujeitos escolares e para que os(as) professores(as) possam efetivar esse trabalho junto aos seus estudantes é preciso conhecer o modo pelo qual os estudantes aprendem melhor, através da convivên-cia e da compreensão de suas realidades. Sugestão de leitura: Miguel Arroyo. Outros sujeitos, Outras Pedagogias, Ed. Vozes

São aqueles e aquelas que sejam identificados(as) a partir de seus supostos “déficit”, “dificuldade de aprendizagem” e “baixo rendimento escolar”. Portanto, identificados em aspectos que os inferiorizam e os diferenciam negativamente. A escola deve

cuidar para não criar estigmas que acentuem ainda mais a disposição para o fracasso do educando na escola: turmas dos fortes e fracos; turmas de alunos com dificuldade de aprendizagem... +

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O que a portaria diz?

E quem serão os professores(as) que assumi-rão as ações do Programa de Intensificação da Aprendizagem para Alunos com Baixo Rendi-mento Escolar? No Art. 4º, lê-se:

O que a portaria diz? Já no Art 8º encontra-se:

Para refletir, questionar, debater...1. Na distribuição da jornada de trabalho do professor(a) qual será o tempo destinado para “observar e registrar” “co-tidianamente” os avanços e dificuldades dos estu-dantes e da turma?

2. É possível assegurar autonomia docente do(a) professor(a) tendo o seu trabalho monitorado pela direção e coordena-ção pedagógica?

3. É papel do(a) profes-sor(a), através de seus registros e pesquisas, pro-duzir subsídios para as “discussões” com a “equipe técnica pedagógica”?

4. Ao transferir a respon-sabilidade para o(a) pro-fessor(a) de produzir um “planejamento específico para atender as dificulda-des dos alunos” as tarefas da SEED, da direção e da equipe técnica pedagógi-ca serão apenas de CON-TROLE DO TRABALHO DOCENTE?

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A r e s p o n s a -b i l i d a d e pelo fra-casso esco-

lar não pode ser considerada de r e sponsab i l i dade exclusiva dos(as) professores(as), do mesmo modo eles não podem ser to-mados como úni-cos e exclusivos responsáveis pela intensificação da

aprendizagem. A Portaria 1643 não deixa claro se serão atribuídas mais au-las aos professores, muito menos como aulas extras serão incorporadas à sua carga horária. Se-rão facultativas ou obrigatórias? Ha-verá horário extra-classe remunerado?

A Portaria 1643/2017 deixa no limbo da in-

definição em que condições reais será implantado o Programa de In-tensificação da Aprendizagem. Há de suspeitar das intenções de uma política reducio-nista cujas defi-nições de ordem prática e contra-partidas não estão devidamente apre-sentadas.

BUROCRATIZAÇÃO E CONTROLE DO TRABALHO DOCENTE

O que a portaria diz?

A portaria 1643/2017 faz referência a “conse-lhos de classe” sem que os mesmos tenham sido criados legalmente, conforme se lê no art. 5º

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Nossa luta, nossa dignidade e autoestima passa pelo êxito de nossos estudantes.

A atividade da direção perpassa a hierarquia escolar que, por sua vez, a SEED ficará mais na condição de controle do que de colaboradora do processo. Além disso, é preciso que o professor não se submeta a simplesmente “dar” uma nota ao aluno, desconsiderando todo tra-

balho pedagógico que poderia ser efetivamente realizado para enfrentar de forma consequente e exitosa o problema do fracasso.

Devemos assumir, em nossos discursos e em nossas práticas, a ga-rantia plena da apren-

dizagem e, por isso, entende-mos que criar condições para que todos aprendam é um ato que envolve a política pública, a formação contínua em local e tempo de trabalho e proces-sos pedagógicos elaborados pelo coletivo da escola com autonomia.

É responsabilidade da SEED/SE criar uma política para me-lhorar o desempenho dos es-tudantes da rede estadual de ensino de Sergipe. Mas, no cum-primento do exercício profis-sional da docência, cabe aos(as) professores(as) de cada unidade de ensino apontar os problemas obscuros da referida Portaria e, sobretudo, sistematizar as con-dições básicas necessárias para a sua implantação.

DIREÇÃO ESCOLAR VAI SE TORNAR A FISCAL DAS NOTAS.....

Para refletir, questionar, debater...

Sugestão de leitura: Avalia-ção: Uma Prática Em Busca De Novos Sentidos. Organização: Maria Teresa Esteban.

Este livro, com diferentes ângulos da avaliação educa-cional, traz para discussão a preocupação com a recons-trução do sentido da avalia-ção. Tem como tema central a avaliação escolar como uma prática que incorpora tensões constituintes das práticas so-ciais e reveladora de seus vín-culos com as ações escolares. É fundamental que a avalia-

ção deixe de ser instrumento de classificação, seleção e ex-clusão social e se torne uma ferramenta para professores e professoras comprometidos com a construção coletiva de uma escola de qualidade para todos. Este livro faz parte da coleção Pedagogias em ação, uma coleção votada para o es-paço/tempo do cotidiano es-colar. Tem como objetivo claro: contribuir de alguma forma, para se entender este momen-to e oferecer conhecimentos que ajudem e estimulem a um maior número de pessoas e de

profissionais a participar do processo de transformação da escola e da sociedade. Tem um público bem definido: to-do(a) aquele(a) envolvido(a) e preocupado (a) com os rumos da educação, com o destino do país e do mundo.

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Reação Coletiva da comunidade escolar...É H

ORA

DE R

EAGI

R

Faz-se necessário que seja remetido a SEED um documento que apresente o diagnóstico estrutural e sistêmico dos problemas do estabelecimento de ensino e quais são as contrapartidas que a Comuni-dade Escolar reivindica da Secretaria de Estado da Educação para que seja possível a implantação do Plano de Intensificação da Aprendizagem para Alu-nos com Baixo Rendimento Escolar.

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Diagnóstico Î Nome da escola, loca-

lização, município; Î Dados de matrícula,

retenção e evasão; Î Explicitar a organiza-

ção da escola: os alunos matriculados por série (ano), o quantitativo de turmas, além de outros dados que por ventura a comunidade Escolar compreenda que se faz necessário a inserção no documento;

Î A organização do currículo da unidade de ensino e as ações mul-tidisciplinares em con-formidade com o projeto pedagógico da escola;

Î Os instrumentos e as metodologias de avalia-ção executados cotidia-namente na unidade de ensino;

Î Quantificação e iden-tificação de estudantes com baixo rendimento na aprendizagem, es-pecificados por turma e ano;

Î Dados do quantitati-vo e do perfil dos Profis-sionais do Magistério e dos Servidores Adminis-trativos lotados na esco-la;

Î Problemas estrutu-rais do prédio escolar.

Contrapartida a ser reivindicada à SEED/SE para im-plantar a Portaria 1643/2017:

Î Medidas imediatas

que precisam ser adota-das pela SEED para re-solver os problemas na estrutura física da escola, como pré-requisito para viabilizar a melhoria das condições de trabalho dos(as) professores(as) e assim permitir a implanta-ção do programa previsto na Portaria nº 1643/2017;

Î Os Equipamentos e Materiais didático-peda-gógicos necessários, que atualmente inexistem na escola, e que precisam ser disponibilizados para via-bilizar condições de tra-balho aos docentes para o alcance do rendimento escolar desejado;

ÎManutenção perma-nente do prédio da unida-de escolar;a

ÎMateriais de consumo, limpeza e higiene;

Î Quando for o caso, re-gistrar o quadro de ca-rência de funcionários administrativos e de pro-fessores(as) para que a escola possa desenvolver as atividades de ensino e aprendizagem;

Î A SEED, juntamente com o DED (Departamen-to de Educação), deve acordar com a Comunida-de Escolar o tempo pre-visto para equipe técni-ca-pedagógica da escola assessore a formulação do projeto específico de intensificação da aprendi-zagem da unidade ensino estadual;

Î A SEED, juntamente

com o DED, deve acordar com a Comunidade Esco-lar o tempo previsto para que a equipe técnica-pe-dagógica da escola possa elaborar de forma parti-cipativa com os docentes a proposta de formação continuada em serviço dos(as) professores(as);

Î A SEED deve estabe-lecer o pagamento das horas extras para os|(as) Professores(as) que vão trabalhar no Programa de Intensificação da Apren-dizagem para Alunos com Baixo Desempenho Esco-lar;

Î Os direitos previstos no Estatuto do Magistério e no Plano de Carreira e Remuneração que preci-sam ser assegurados pela SEED/SE na implantar a Portaria nº 1643/2017.

Conclusão Î Posicionamento da

Comunidade Escolar frente à implantação da Portaria nº 1643/2017;

Î A Comunidade Esco-lar deve explicitar no documento o tempo e o espaço que se faz neces-sário para debater com a SEED/SE o atendimen-to da contrapartida e as condições materiais para a implantação da Porta-ria nº 1643/2017

Î O documento deve ser assinado pelos Profissio-nais do Magistério lota-dos na escola e protoco-lado na DRE e na SEED.

A título de contribuição, propomos o roteiro abaixo para auxiliar na elaboração do documento a ser encaminhado à SEED/SE.

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Rua de Campos, 107 – Bairro São JoséCEP: 49015-220 – Aracaju/Se -Telefax: (0**79) 2104-9800 |

e-mail: [email protected] | www.sintese.org.br