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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE PSICOLOGIA O PSICODRAMA E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO: Possíveis conexões Rodrigo Padrini Monteiro Belo Horizonte 2008

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Estabelecer conexões entre a Socionomia, teoria que fundamenta o Psicodrama, e aPsicodinâmica do trabalho, pode contribuir para a construção de um conhecimento específicosobre a relação entre saúde mental e trabalho, a partir da teoria de Jacob Levy Moreno. Estetrabalho realizou um estudo da área de Saúde Mental e Trabalho e da Socionomia. Seu objetivofoi aprofundar o conhecimento da Psicodinâmica do Trabalho e da Socionomia, buscandoestabelecer possíveis conexões entre as duas teorias, procurando contribuir com odesenvolvimento de novos conhecimentos e instrumentos para a intervenção do psicólogo nocampo que busca compreender a relação entre a saúde mental do indivíduo e seu trabalho. Apesquisa bibliográfica efetuada permitiu conhecer os estudos e pesquisas já produzidos sobre otema. Como resultado, foi possível estabelecer conexões entre as teorias em discussão,principalmente em relação à metodologia de trabalho de ambas e suas concepções de homem,trazendo também, vários questionamentos acerca da visão da Socionomia sobre a relaçãohomem-trabalho. Além disso, a pesquisa revelou que o campo da Saúde Mental e Trabalhoencontra-se em pleno desenvolvimento, tratando-se de uma área que ganha cada vez maisimportância e atenção dos psicólogos e demais profissionais envolvidos.

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Page 1: O Psicodrama e a Psicodinâmica do Trabalho: Possíveis conexões.pdf

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

O PSICODRAMA E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO:

Possíveis conexões

Rodrigo Padrini Monteiro

Belo Horizonte

2008

Page 2: O Psicodrama e a Psicodinâmica do Trabalho: Possíveis conexões.pdf

2

Rodrigo Padrini Monteiro

O PSICODRAMA E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO:

Possíveis conexões

Monografia apresentada ao Instituto de Psicologia

da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Orientador (a): Regina Márcia Ramirez Corradi

Belo Horizonte 2008

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3

Rodrigo Padrini Monteiro O Psicodrama e a Psicodinâmica do Trabalho:

Possíveis conexões

Monografia apresentada ao Instituto de Psicologia

da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

-----------------------------------------------------------------------

Regina Márcia Ramirez Corradi (Orientadora) – PUC Minas

------------------------------------------------------------------------

------------------------------------------------------------------------

Belo Horizonte, 06 de Novembro de 2008.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora que trouxe a todo o momento os questionamentos necessários ao

desenvolvimento desse trabalho.

À equipe do IMPSI – Instituto Mineiro de Psicodrama, em especial a Zoé, Ana Luiza e

Maria das Graças, que contribuíram com referências para o estudo e para a compreensão da obra

de Moreno.

Aos meus colegas e a todos que contribuíram, de alguma forma, para a construção desse

trabalho.

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“Mais importante do que a evolução da criação é a evolução do criador”

Jacob Levy Moreno

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RESUMO

Estabelecer conexões entre a Socionomia, teoria que fundamenta o Psicodrama, e a

Psicodinâmica do trabalho, pode contribuir para a construção de um conhecimento específico

sobre a relação entre saúde mental e trabalho, a partir da teoria de Jacob Levy Moreno. Este

trabalho realizou um estudo da área de Saúde Mental e Trabalho e da Socionomia. Seu objetivo

foi aprofundar o conhecimento da Psicodinâmica do Trabalho e da Socionomia, buscando

estabelecer possíveis conexões entre as duas teorias, procurando contribuir com o

desenvolvimento de novos conhecimentos e instrumentos para a intervenção do psicólogo no

campo que busca compreender a relação entre a saúde mental do indivíduo e seu trabalho. A

pesquisa bibliográfica efetuada permitiu conhecer os estudos e pesquisas já produzidos sobre o

tema. Como resultado, foi possível estabelecer conexões entre as teorias em discussão,

principalmente em relação à metodologia de trabalho de ambas e suas concepções de homem,

trazendo também, vários questionamentos acerca da visão da Socionomia sobre a relação

homem-trabalho. Além disso, a pesquisa revelou que o campo da Saúde Mental e Trabalho

encontra-se em pleno desenvolvimento, tratando-se de uma área que ganha cada vez mais

importância e atenção dos psicólogos e demais profissionais envolvidos.

Palavras-chave: Socionomia; Psicodinâmica do Trabalho; Psicodrama; Saúde mental e trabalho.

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7

ABSTRACT

Establishing connections between Socionomy, the fundamental principle of Psychodrama, and

Psychodynamic of Work can contribute to the construction of specific knowledge about the

relation between mental health and work, according to the Jacob Levy Moreno's theory. The

present work carried on a study in the areas of Mental Health and Work, and Socionomy. Its

objective was to deepen into the knowledge about the Psychodynamic of Work and Socionomy,

trying to estabilish possible connections between both theories, looking forward to contributing to

the development of new knowledge and instruments for psychologist’s intervention in the area

which tries to understand the relation between individual's mental health and his work. The

accomplished bibliographic research revealed the studies and researches already made about the

subject. As a result, it was possible to establish connections between the theories in discussion,

mainly about the work methodology of both theories and their vision of man, also bringing up

several questions concerning the Socionomy idea about the man-work relation. Besides that, the

research revealed that the mental health and work area is in full development and constitutes an

important area for improvement and attention as far as psychologists and other professionals are

concerned.

Key-words: Socionomy; Psychodynamic of Work; Psychodrama; Mental Health and Work.

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8

LISTA DE ABREVIATURAS

Amp. – Ampliada.

Ed. - Edição.

Nº - Número

Org. – Organizador (a).

Orgs. - Organizadores

P. – Página.

Vol. – Volume.

Page 9: O Psicodrama e a Psicodinâmica do Trabalho: Possíveis conexões.pdf

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10

2. UM PANORAMA DO CAMPO DA SAÚDE MENTAL E TRABALHO............ 14

3. CHRISTOPHE DEJOURS E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO............... 17

4. JACOB LEVY MORENO E O PSICODRAMA..................................................... 28

5. POSSÍVEIS CONEXÕES.......................................................................................... 34 5.1 Metodologia de trabalho........................................................................................... 34 5.2 Concepção de homem e obtenção de prazer no trabalho...................................... 39 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 43 REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de questionamentos surgidos a partir do estudo simultâneo da

obra de Christophe Dejours, principal representante da Psicodinâmica do Trabalho, e da

Socionomia, ciência desenvolvida por Jacob Levy Moreno, criador do Psicodrama.

Ao longo do estudo de ambos os autores observamos alguns aspectos em comum que nos

chamaram atenção e, a partir daí, consideramos a possibilidade de iniciar um estudo sobre as

possíveis relações entre eles.

Através do contato que tivemos com a obra de Christophe Dejours, desenvolvemos um

interesse crescente pelo estudo na área da Saúde Mental e Trabalho. A partir de uma experiência

prévia com a obra de Moreno, começamos a nos questionar como as questões relativas a esse

campo estariam colocadas dentro de sua teoria.

Ao estudarmos a obra de Moreno, observamos que o autor não trabalhava em sua teoria

com questões especificamente relacionadas à saúde do indivíduo no trabalho e que, de um modo

geral, a bibliografia em Psicodrama nesse sentido era escassa. No entanto, observamos que

diversos aspectos existentes em sua teoria e vários conceitos que compunham sua obra poderiam

contribuir significativamente para as intervenções do psicólogo nas organizações, visando

promover a saúde mental no trabalho. Sendo assim, vislumbramos a construção de

conhecimentos que nos permitiriam compreender os fenômenos relativos à saúde mental no

trabalho, com base na Socionomia, contribuindo para o desenvolvimento de uma bibliografia

específica para esse campo.

A fim de contribuir com esse desenvolvimento, entendemos que um dos processos

necessários tratava de estabelecer relações entre conceitos desenvolvidos por Moreno e uma das

principais abordagens existentes no campo da Saúde Mental e Trabalho: a Psicodinâmica do

Trabalho. Desta forma, acreditamos ser de grande importância propormos, nesse momento, uma

discussão acerca das possíveis relações existentes entre a Psicodinâmica do Trabalho e a

Socionomia.

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11

1.1 Justificativa:

Em um momento de grande crescimento da preocupação e dos estudos na área de Saúde

Mental e Trabalho, torna-se necessária a construção de maiores conhecimentos sobre o tema e de

ampliação das possibilidades de abordagem do mesmo nas organizações. Sendo assim, é

relevante o estudo do trabalho dentro de uma teoria pouco citada nesse campo como a

Socionomia.

Vemos como etapa fundamental para desenvolvermos posteriormente estudos nesse

sentido, a construção de um trabalho que discuta as questões colocadas por uma das principais

abordagens do campo da Saúde mental e Trabalho, em relação à ciência desenvolvida por

Moreno.

A partir do desenvolvimento de novas relações entre trabalho e saúde mental,

fundamentadas por uma outra visão dentro da Psicologia, vislumbra-se a possibilidade de

contribuir também para a construção de novas formas de intervenção no mundo do trabalho, uma

vez que, novas perspectivas de compreensão permitem novas estratégias/instrumentos de

ação/transformação.

1.2 Problema:

Quais as possíveis conexões existentes entre a Psicodinâmica do Trabalho e a

Socionomia?

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1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é realizar um estudo sobre as possíveis conexões existentes

entre a Socionomia, teoria que envolve o Psicodrama, desenvolvida por Jacob Levy Moreno, e a

Psicodinâmica do Trabalho, que tem Christophe Dejours como seu principal representante.

1.3.2 Objetivos específicos

- Resgatar as principais abordagens teóricas utilizadas no campo da Saúde Mental e

Trabalho.

- Descrever, resumidamente, o processo de construção da área de Saúde Mental e

Trabalho.

- Introduzir conceitos básicos da Socionomia.

- Apresentar resumidamente o desenvolvimento da Psicodinâmica do Trabalho e seus

principais pressupostos teóricos.

- Iniciar uma discussão acerca das possibilidades de se realizar uma análise da relação

entre saúde mental e trabalho através da Socionomia.

- Trazer questões que contribuam para a construção de um conhecimento que fundamente

uma visão da questão da saúde no trabalho, a partir da Socionomia.

- Contribuir para o desenvolvimento de novas intervenções no campo da Saúde Mental e

Trabalho.

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13

1.4 Metodologia

Para alcançarmos os objetivos propostos por esse trabalho, utilizamos a pesquisa

bibliográfica. De acordo com Cruz e Ribeiro (2003), uma pesquisa bibliográfica visa um

levantamento dos trabalhos realizados anteriormente sobre o mesmo tema que está sendo

pesquisado no momento.

De acordo com Marconi e Lakatos (2003):

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. (MARCONI, LAKATOS, p.183, 2003).

Inicialmente, realizamos um levantamento da literatura existente no campo escolhido.

Posteriormente, desenvolvemos o aprofundamento e a expansão da pesquisa através da consulta

de publicações terciárias. A seguir, realizamos a triagem e a seleção do material a ser utilizado,

desenvolvendo em seguida a leitura, o fichamento e a sumarização das fontes selecionadas,

auxiliando a redação da pesquisa.

Manzo citado por Marconi e Lakatos (2003) afirma que uma bibliografia adequada

“oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também

explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”. Sendo assim, “a

pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas

propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões

inovadoras” (MARCONI; LAKATOS, 2003).

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2. UM PANORAMA DO CAMPO DA SAÚDE MENTAL E TRABALHO

Para que possamos desenvolver um estudo que traga a possibilidade de novas

contribuições para um determinado campo, é necessário conhecermos os principais estudos e o

processo de desenvolvimento da área escolhida. Sendo assim, pretendemos aqui apresentar

algumas das abordagens mais utilizadas no campo da Saúde Mental e Trabalho e um pouco de

sua história e de sua construção.

De acordo com Lima (2002), a Psicopatologia do trabalho surge a partir de um

movimento ocorrido na França, no final da década de 40, que pode ser chamado de Psiquiatria

Social. A partir desse movimento, são originadas duas correntes de estudo: a organogênese e a

sociogênese. A primeira, baseada em autores como Ey e Sivadon, apresentava uma concepção

organicista da doença mental, provocada por alterações em aspectos orgânicos do indivíduo. A

segunda corrente, baseada em autores como Politzer e Le Guillant, compreendia a origem da

doença mental como uma questão social, procurando estudar o indivíduo acometido por um

distúrbio mental, considerando o meio em que ele vive e sua história pessoal.

Lima (2002) coloca Sivadon como o primeiro autor a utilizar o termo Psicopatologia do

trabalho e como um dos primeiros a discutir as relações entre o surgimento de determinados

distúrbios mentais e tipos específicos de trabalho. Sivadon trouxe à tona a questão do trabalho

enquanto um possível recurso terapêutico, contendo porém, dependendo de sua organização,

fatores facilitadores ao surgimento de distúrbios mentais.

Trazendo ainda contribuições de autores participantes do movimento da Psiquiatria

Social, Lima (2002) apresenta as idéias de um dos expoentes da sociogênese, Le Guillant. O

autor, contemporâneo de Sivadon, “deixa claro que pretende fazer o esboço de uma

psicopatologia social, isto é, que sua pretensão é a de explicitar o papel do meio no surgimento e

no desaparecimento dos distúrbios mentais” (LIMA, 2002, p.59). Buscando demonstrar a

existência de relações entre um determinado trabalho e o surgimento ou agravamento de

distúrbios mentais específicos, Le Guillant trouxe grandes contribuições ao campo da Saúde

Mental e trabalho. De acordo com Lima (2002), a preocupação de Le Guillant em construir um

saber científico em seu trabalho fez com que o mesmo desenvolvesse uma compreensão

fundamental sobre a relação entre objetividade e subjetividade, propondo “uma clínica baseada

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15

na compreensão das condições de vida e de trabalho dos pacientes, conjugada com o resgate de

sua história de vida” (LIMA, 2002, p.61). Essa tarefa conjugava, assim, aspectos objetivos e

subjetivos, envolvidos na saúde dos indivíduos.

Até o momento, foram apresentados os autores que participaram da origem do

estabelecimento do campo da Saúde Mental e Trabalho, inaugurando uma área em que seriam

enfatizados: o estudo do homem a partir do trabalho e a relação existente entre a saúde do

indivíduo e seu trabalho.

O período que se seguiu ao movimento da Psiquiatria Social contou com o

desenvolvimento de várias teorias diferentes sobre o assunto. De acordo com Codo, Soratto e

Vasques-Menezes (2004), são inúmeras as formas de se pensar na área da Saúde mental e

trabalho, dizendo que “revisar todas as formas de fazer ou pensar saúde mental e trabalho,

portanto, é impossível” (CODO; SORATTO; VASQUES-MENEZES, 2004, p.276). Tendo em

vista o objetivo deste trabalho, escolhemos algumas abordagens apresentadas pelos autores acima

citados para compreendermos algumas das principais formas pelas quais a relação entre saúde

mental e trabalho vem sendo estudada. Dentre elas, está a abordagem epidemiológica e/ou

diagnóstica. De acordo com Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.289) essa abordagem “é

herdeira da lógica de epidemiologia geral, que tem como preocupação básica a produção de

conhecimentos sobre o processo saúde-doença, o planejamento de ações políticas de saúde e a

prevenção de doenças”. Além disso, a abordagem epidemiológica considera os diversos fatores

causadores de doenças, tendo como embasamento teórico concepções de Marx e Leontiev.

Segundo Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.289), “a concepção de trabalho compatível a

essa proposta tem sido encontrada em Marx e em Leontiev, para os quais o trabalho/atividade

aparece como fator de construção da individualidade do sujeito, sendo o elo entre sujeito-

sociedade”. Tendo o homem como um ser psicossocial, a subjetividade é entendida nessa a

abordagem “como produto da relação do indivíduo com o mundo concreto” (CODO; SORATTO;

VASQUES-MENEZES, 2004), sendo que a individualidade é construída socialmente. Sendo

assim, a psicopatologia seria estudada a partir dos aspectos singulares do homem e de suas

condições reais de vida, baseando-se em uma concepção sócio-histórica do indivíduo. Essa

abordagem faz uso de uma metodologia que possibilite a investigação de condições subjetivas e

objetivas do trabalho, buscando compreender os diversos fatores envolvidos na saúde do

indivíduo. De acordo com Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.297), para a abordagem

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epidemiológica, “o indivíduo vive e precisa viver em constante metabolismo com a natureza,

fazendo o mundo e sendo feito por ele. Quando este circuito se rompe, por exemplo, quando o

trabalho é alienado, a doença mental ocorre”. A relação entre saúde e trabalho estaria

multideterminada dentro dessa abordagem, enfatizando a possibilidade de transformação do

homem através do trabalho e de sua direção neste processo, como fator promotor de saúde para o

indivíduo.

Não podemos deixar de citar aqui rapidamente a Ergonomia, que trouxe grandes

contribuições ao campo da saúde no trabalho de um modo geral. Segundo Rio (1999, p.21) “a

origem e a evolução da ergonomia estão relacionadas às transformações sócio-econômicas e,

sobretudo, tecnológicas, que vêm ocorrendo no mundo do trabalho”. O autor diz que “a

ergonomia surge de modo mais sistematizado na década de 40, tentando compreender a

complexidade da interação ser humano e trabalho, e oferecer subsídios teóricos e práticos para

aprimorar essa relação” (RIO, 1999, p.21).

De um modo geral, podemos dizer que a Ergonomia busca transformar ou adaptar o

trabalho ao homem. Wisner, citado por Rio (1999, p.24), afirma que a ergonomia é “o conjunto

dos conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de

ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, de

segurança e de eficácia”. Couto, também citado por Rio (1999, p.27), coloca que a “ergonomia é

um conjunto de ciências e tecnologias que procura a adaptação confortável e produtiva entre o ser

humano e seu trabalho [...]”.

Rio (1999) sistematiza a Ergonomia em dois grupos. O primeiro grupo pode ser definido

como “uma ergonomia mais abrangente e filosófica, voltada para o conceito de trabalho, a

psicologia, a psicopatologia, a filosofia, a sociologia do trabalho [...] no sentido de aprimorar a

compreensão e abordagem do trabalho” (RIO, 1999, p.27). O segundo grupo já possui

metodologias específicas elaboradas, sendo colocado como “a ergonomia dos postos de trabalho

(do mobiliário, das ferramentas, do layout, etc.), da organização do trabalho (das pausas, do

enriquecimento do trabalho, etc.), do conforto ambiental (da iluminação, da temperatura efetiva,

etc.)” (RIO, 1999, p.27).

Apresentamos aqui alguns dos aspectos relacionados à origem do campo da Saúde Mental

e Trabalho e algumas das principais abordagens utilizadas na área.

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3. CHRISTOPHE DEJOURS E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Para compreendermos o desenvolvimento da área da Saúde Mental e Trabalho é

fundamental o estudo da obra de Christophe Dejours, psiquiatra francês responsável pelo

desenvolvimento dos principais estudos existentes nesse campo. De acordo com Jacques, citada

por Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004), Christophe Dejours é o principal expoente na

construção e no desenvolvimento da Psicodinâmica do Trabalho. O autor desenvolveu seus

estudos baseado, principalmente, nos trabalhos de Le Guillant, iniciando sua obra pela

Psicopatologia do Trabalho. A principal referência da contribuição de Dejours é a publicação do

livro “Travail: usere mentale. Essai de Psychopathologie du travail”, no ano de 1980, na França.

O livro, traduzido para o português como “A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do

trabalho” foi publicado em 1987 no Brasil. De acordo com Lima (2002), a publicação de seu

livro no Brasil trouxe grandes contribuições ao campo da Saúde Mental e Trabalho, incentivando

novos estudos e mobilizando reflexões e discussões fundamentais para o desenvolvimento do

campo em nosso país. Segundo Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.285), essa

abordagem “buscava a análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela confrontação

do sujeito com a realidade do trabalho”.

É interessante retomarmos aqui rapidamente o percurso teórico de Dejours na construção

de sua abordagem, a fim de compreendermos alguns dos principais aspectos de sua obra e

contextualizarmos seus principais conceitos. Entendemos que a obra de Dejours e de outros

autores da Psicodinâmica do Trabalho é muito extensa e trata-se de uma difícil tarefa realizarmos

uma síntese da mesma. Entretanto, pretendemos aqui introduzir alguns de seus principais

aspectos e descobertas, na busca de clarearmos o seu percurso teórico, assim como os principais

pressupostos e objetivos dessa abordagem.

De acordo com Dejours e Abdoucheli (1994, p.121), “no começo das pesquisas em

Psicopatologia do Trabalho tratava-se de colocar em evidência uma clínica de afecções mentais

que poderiam ser ocasionadas pelo trabalho”. Os autores colocam que o contexto em que surgiu a

Psicopatologia do Trabalho era marcado “por um corpo de conhecimentos muito dominado pela

patologia profissional somática resultante dos danos físico-químico-biológicos do posto de

trabalho” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.121) e que foram Le Guillant e seus

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colaboradores que trouxeram à tona “síndromes que afetavam especificamente a saúde mental

dos operadores de certas profissões” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.121).

Dizendo sobre as origens de seus estudos, Dejours e Abdoucheli (1994) relatam que:

Nos anos 70, em parte como conseqüência dos eventos de Maio de 68 na França, emerge lentamente uma demanda social sobre as condições psicológicas do trabalho e suas conseqüências sobre a saúde, entre os trabalhadores menos qualificados, sobre os quais convergiram, depois de muitos anos, as preocupações sociais e políticas. (DEJOURS, 1994, p. 121).

Os autores dizem que as primeiras investigações estavam voltadas a esse público e que

tratavam-se de pesquisar “uma patologia mental resultante do trabalho repetitivo, sob pressão de

tempo” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.122). Dejours e Abdoucheli (1994) colocam que

suas pesquisas nessa época estavam ligadas ainda a um modelo causalista, tendo como objetivo

“encontrar evidências de doenças mentais específicas do trabalho” (DEJOURS; ABDOUCHELI,

1994, p.122).

Dejours e Abdoucheli (1994) dizem que suas primeiras pesquisas não trouxeram o

resultado esperado, ou seja, “destacar a doença mental caracterizada” (DEJOURS;

ABDOUCHELI, 1994, p.122). Os autores colocam, em seguida, que “ao invés disso,

descobrimos nos operários especializados submetidos ao trabalho repetitivo, problemas psíquicos

que conduziam menos à aparição de doenças mentais clássicas, do que uma fragilização que

favorecia a eclosão de doenças do corpo” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.122). Sendo

assim, suas pesquisas evidenciam apenas comportamentos peculiares dos trabalhadores. Segundo

os autores, tais comportamentos “não podiam ser considerados como patológicos (eles foram

posteriormente ligados às estratégias defensivas destinadas precisamente a lutar contra o medo e

suas conseqüências mórbidas)” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.122). Um desses

comportamentos seria, por exemplo, o excesso no consumo de bebidas alcoólicas.

Essa seria então a primeira contradição encontrada em suas pesquisas sobre saúde mental

e trabalho: a “contradição relativa ao patológico e ao não patológico” (DEJOURS;

ABDOUCHELI, 1994, p.123). Os autores apontam, então, uma segunda contradição em seus

estudos:

Era preciso enfrentar uma segunda contradição entre o domínio da psicopatologia tradicionalmente ligada à ordem individual (a doença mental só tem sentido para

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um indivíduo em particular, o sofrimento e o prazer pertencem ao domínio privado) e o trabalho, de natureza fundamentalmente social, recrutando indivíduos, é claro, geralmente situados num meio social abrindo-se sobre o funcionamento coletivo. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.123).

Os autores afirmam que, se as pressões do trabalho de um determinado grupo eram as

mesmas para todos os trabalhadores, seria plausível encontrar efeitos parecidos sobre a saúde

mental de todos os integrantes do grupo. Entretanto, Dejours e Abdoucheli (1994) dizem que os

resultados de suas pesquisas não foram satisfatórios nesse sentido. A partir desse momento os

autores colocam que seria fundamental considerar o indivíduo que se encontra entre a doença

mental e as pressões do trabalho, com sua singularidade e suas defesas específicas às situações de

trabalho, tendo em vista a impossibilidade de se estabelecer uma abordagem generalizante em

saúde mental e trabalho. As pesquisas demonstravam que cada indivíduo poderia reagir de forma

diferente quando submetido às mesmas pressões do trabalho.

Tendo em vista a singularidade presente na resposta dos indivíduos às pressões do

trabalho, Dejours e Abdoucheli (1994) buscam inicialmente desenvolver uma metodologia de

entrevistas individuais com os trabalhadores. Entretanto, segundo Dejours e Abdoucheli (1994),

as entrevistas individuais traziam mais questões relacionadas à história pessoal do indivíduo do

que relativas ao trabalho em si, dificultando a análise das pressões do trabalho. A partir desse

momento, Dejours e Abdoucheli (1994, p.124) afirmam que entrevistas coletivas passaram a ser

realizadas, “reunindo num local de trabalho comum vários trabalhadores que participavam

voluntariamente da investigação”. Dejours e Abdoucheli (1994, p.125), inicialmente, colocam

que “dessas pesquisas e dessas primeiras experiências metodológicas foi possível extrair aquilo

que era potencialmente desestabilizador para a saúde mental dos trabalhadores: todas as pressões

apareceram como decorrentes da organização do trabalho”. Neste momento, surge um conceito

fundamental para essa abordagem, trazido com base na ergonomia: a organização do trabalho.

Segundo os autores,

Entendemos por organização do trabalho, por um lado, a divisão do trabalho: divisão de tarefas entre os operadores, repartição, cadência e, enfim, o modo operatório prescrito; e por outro lado a divisão de homens: repartição das responsabilidades, hierarquia, comando, controle, etc. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.125).

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De um modo geral, a Psicodinâmica do Trabalho baseia sua discussão sobre os impactos

da organização do trabalho sobre a saúde do trabalhador, com base nos conceitos ergonômicos de

trabalho prescrito e trabalho real. É importante nos determos aqui, por um momento, nesses

conceitos fundamentais dentro da ergonomia e da abordagem em discussão. Em relação ao

trabalho prescrito, Ferreira (2004), ao discutir sobre o bem estar no trabalho, utiliza-se do

seguinte conceito para desenvolver sua análise:

Diferentes serviços da empresa definem, previamente uma produção, um trabalho, os meios para realizá-los: estes são determinados por meio de regras, de normas e de avaliações empíricas. Para um posto de trabalho, um trabalhador, um grupo de trabalhadores serão designadas tarefas, isto é, o tipo, a quantidade e a qualidade da produção por unidade de tempo e meios para realizá-las (ferramentas, máquinas, espaços...). Deste conceito teórico do trabalho e dos meios de trabalho provém o que chamamos de trabalho prescrito, isto é, a maneira como o trabalho deve ser executado: o modo de utilizar as ferramentas e as máquinas, o tempo concedido para cada operação, os modos operatórios e as regras a respeitar. (DANIELLOU, LAVILLE e TEIGER apud FERREIRA, 2004, p.190).

Dentro da ergonomia, o conceito de trabalho prescrito está ligado à definição de tarefa, ou

seja, “o que é prescrito pela empresa ao operador” (GUÉRIN et al, 2001, p.15). Trata-se,

resumidamente, de “um conjunto de objetivos dado aos operadores, e a um conjunto de

prescrições definidas externamente para atingir esses objetivos particulares” (GUÉRIN et al,

2001, p.25). A tarefa encontra-se, ainda, como “um resultado antecipado fixado dentro de

condições determinadas” (GUÉRIN et al, 2001, p.14).

Em contraposição ao trabalho prescrito, está o conceito de trabalho real, ligado, na

ergonomia, ao conceito de atividade. Sobre a atividade, Guérin e outros (2001, p.15) afirmam

que “a atividade de trabalho é uma estratégia de adaptação à situação real de trabalho, objeto da

prescrição. A distância entre o prescrito e o real é a manifestação concreta da contradição sempre

presente no ato de trabalho, entre ‘o que é pedido’ e o ‘o que a coisa pede’”. A atividade é o

trabalho real desenvolvido pelo indivíduo e envolve as condições reais de trabalho e os resultados

efetivos. Noulin, citado por Ferreira (2004), afirma que:

A ergonomia observa e chama a atenção para o fato de que o homem que trabalha não é mero executante, mas um operador, no sentido que ele faz a gestão das exigências, não se submetendo passivamente a elas. Ele aprende agindo, ele adapta seu comportamento às variações, tanto de seu estado interno (fadiga...) quanto dos elementos da situação (relações de trabalho, variações da produção,

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panes, disfuncionamentos...), ele decide sobre as melhores formas de agir, ele inventa ‘truques’, desenvolve habilidades, permitindo responder, de forma mais segura, a seus objetivos. Em uma palavra: ele opera. Assim, sua atividade real sempre se diferencia da tarefa prescrita pela organização do trabalho. (NOULIN apud FERREIRA, p.194).

Estabelecendo a ligação entre esses conceitos e a Psicodinâmica do Trabalho, Merlo

(2002) diz que “é no espaço entre esse prescrito e esse real que pode ocorrer ou não sublimação e

a construção da identidade no trabalho” (MERLO, 2002, p.132). Em relação a este espaço de

criação do trabalhador é que surge uma das principais contribuições de Dejours ao campo da

Saúde Mental e Trabalho. De acordo com Lima (2002, p.64), “seus estudos sobre os impactos do

taylorismo/fordismo1 no psiquismo dos trabalhadores trouxeram elementos importantes e

reveladores a respeito da saúde (física e mental) de milhares de pessoas submetidas a essa forma

de organização de trabalho”. A crítica que se tornou possível, a partir de seus estudos, é de que o

modelo taylorista do trabalho estaria suprimindo o espaço existente entre o trabalho prescrito e o

trabalho real, impedindo o crescimento, o desenvolvimento e a criação do trabalhador. Esses

estudos colocam em evidência o que viria a ser o objeto de intervenção adotado pela

Psicodinâmica do Trabalho: a organização do trabalho.

Retomando, aqui, as primeiras pesquisas e investigações da abordagem em discussão,

podemos dizer que, a partir das contradições anteriormente citadas e dos resultados obtidos com

essa nova metodologia (entrevistas coletivas), Dejours inicia uma mudança no foco de seus

estudos. É interessante apresentarmos aqui um trecho no qual Dejours e Abdoucheli (1994)

deixam clara essa mudança:

Relegando progressivamente à periferia da psicopatologia do trabalho a questão das doenças mentais descompensadas, a problemática é então submetida a uma reviravolta epistemológica: não se trata mais de pesquisar, observar ou descrever as doenças mentais do trabalho, mas de considerar que, em geral, os trabalhadores não se tornam doentes mentais do trabalho. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.126).

Os autores prosseguem colocando uma questão para seus estudos:

1 De acordo com Motta (2003), o taylorismo/fordismo pode ser definido como uma forma de organização de trabalho desenvolvida por Taylor que propunha a divisão das tarefas e principalmente a divisão entre a concepção e a execução do trabalho. Ford posteriormente trouxe contribuições a essa proposta.

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Será necessário, neste caso, considerar a ‘normalidade’ como um enigma: como fazem estes trabalhadores para resistir às pressões psíquicas do trabalho e para conjurar a descompensação ou a loucura? (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.127).

Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.286) colocam que, a partir desse momento,

essa abordagem passa a ter como objetivo “a compreensão das estratégias às quais o trabalhador

recorre para manter-se saudável, apesar de certos modos de organização do trabalho

patologizantes”.

A normalidade, então, passa a ser um enigma, aparecendo “como um equilíbrio precário

(equilíbrio psíquico) entre constrangimentos do trabalho desestabilizantes, ou patogênicos, e

defesas psíquicas” (DEJOURS, 1996, p.152). O autor avança na questão afirmando que esse

equilíbrio é “o resultado de uma ‘regulação’ que requer estratégias defensivas especiais

elaboradas pelos próprios trabalhadores” (DEJOURS, 1996, p.153). Essa normalidade,

conquistada pelo trabalhador, seria atravessada pelo sofrimento, “definido como o espaço de luta

que cobre o campo situado entre, de um lado, o ‘bem-estar’ [...], e, de outro, a doença mental ou a

loucura” (DEJOURS, 1996, p.153).

O conceito de sofrimento torna-se fundamental dentro de sua abordagem. É importante,

neste momento, localizarmos a origem do sofrimento e definirmos o conceito de ressonância

simbólica apresentado pelo autor.

Para Dejours e Abdoucheli (1994, p.137), “o sofrimento é inevitável e ubíquo. Ele tem

raízes na história singular de todo sujeito, sem exceção”. Dizendo sobre o desenvolvimento do

indivíduo, Dejours (1996) coloca que de alguma forma o sujeito assimila a angústia de seus pais

na infância, tomando-a como se fosse seu próprio sofrimento. Dejours (1996) coloca essa etapa

como um cenário inicial do sofrimento e diz que não está ao alcance do indivíduo perceber que

seu próprio sofrimento

[...] se origina da angústia de seus pais. Para metabolizar seu sofrimento, a criança teria necessidade de falar com seus pais sobre aquilo que a faz sofrer. Mas o que a faz sofrer é exatamente o que faz também sofrerem seus pais. De maneira que se aventurar nessa área traz o risco de desencadear a angústia nos pais e de agravar sua própria angústia. (DEJOURS, 1996, p.155).

Segundo o autor, a partir desse momento, instaura-se no indivíduo uma zona de

fragilidade psíquica e uma eterna curiosidade no sujeito. Dejours (1996) diz que a partir daí

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[...] a angústia, o sofrimento e as preocupações fundamentais de seus pais tornam-se um enigma que a criança vai carregar consigo ao longo de sua vida de adulto. Esse enigma estará na origem de uma curiosidade jamais satisfeita, de um desejo de saber e de um desejo de compreender, periodicamente reativados pelas conjunturas materiais e morais cuja forma evoca as preocupações parentais. (DEJOURS, 1996, p.156).

Sendo assim, a criança construiria uma série de teorias a fim de compreender esse enigma,

desenvolvendo-se assim o que Dejours (1996) chama de teatro da infância, ou seja, jogos a fim

de representarem o sofrimento vivido. A partir dessa organização da personalidade, Dejours

(1996) coloca que haverá então, posteriormente, um encontro entre esse teatro da infância e o

teatro do trabalho, visto que “o trabalho é a ocasião de transportar mais uma vez o cenário

original do sofrimento para a realidade social, num teatro menos generosamente aberto [...]”

(DEJOURS, 1996, p.156). É nesse encontro que há a possibilidade de haver ressonância

simbólica. Segundo o autor

Quando existe a ressonância simbólica entre o teatro do trabalho e o trabalho do sofrimento psíquico, o sujeito aborda a situação concreta sem ter que deixar sua história, seu passado e sua memória ‘no vestuário’. Ao contrário, ele confere à situação de trabalho o poder de engajamento para realizar através do trabalho sua curiosidade [...] (DEJOURS, 1996, p.157).

A ressonância simbólica é colocada por Dejours (1996) como uma das condições para que

haja sublimação no trabalho (retomaremos essa questão posteriormente). Entretanto, Dejours

(1992) coloca essa possibilidade como algo raro, passando uma idéia de que tal processo serial

um ideal para a relação do indivíduo com o trabalho. Para Dejours (1992), a organização do

trabalho vem cada vez mais restringindo as possibilidades de atuação do trabalhador e diz que

“esses fatos sugerem uma certa reserva e suscitam um pessimismo em relação ao futuro da

maioria das profissões, atravessadas progressivamente por uma organização do trabalho cada vez

mais autoritária, rígida e parcelizante” (DEJOURS, 1992, p.135).

Segundo Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004),

Dejours propõe que aquilo que é constitutivo do sujeito, a partir de sua história passada, pode manter-se, aperfeiçoar-se ou deteriorar-se em função do uso que pode ser-lhe dado na confrontação com a situação de trabalho. (CODO; SORATTO; VASQUES-MENEZES, 2004, p.286).

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Entendemos que, é no encontro entre a organização da personalidade e a organização do

trabalho que reside então o sofrimento. Dejours e Abdoucheli (1994, p.127) apontam que

inicialmente o sofrimento era caracterizado em sua teoria em um sentido negativo, sendo

“essencialmente concebido como atravessado por forças que favorecem sua evolução natural para

a doença”. Entretanto, ao longo das pesquisas realizadas, Dejours e Abdoucheli (1994) apontam o

surgimento da necessidade de trabalhar a definição desse conceito, dizendo mais tarde que

“podemos distinguir dois tipos de sofrimento: o sofrimento criador e o sofrimento patogênico”.

(DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.137).

Os autores definem o sofrimento patogênico dizendo que o mesmo

[...] aparece quando todas as margens de liberdade na transformação, gestão e aperfeiçoamento da organização do trabalho já foram utilizadas. Isto é, quando não há nada além de pressões fixas, rígidas, incontornáveis, inaugurando a repetição e a frustração, o aborrecimento, o medo, ou o sentimento de impotência. Quando foram explorados todos os recursos defensivos, o sofrimento residual, não compensado, continua seu trabalho de solapar e começa a destruir o aparelho mental e o equilíbrio psíquico do sujeito, empurrando-o lentamente ou brutalmente para uma descompensação (mental ou psicossomática) e para a doença. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.137).

O outro tipo de sofrimento, o sofrimento criativo, seria caracterizado pelo

desenvolvimento pelo trabalhador de soluções originais à produção e à sua saúde. Sendo assim,

essa abordagem passa a enfrentar novos desafios. Segundo os autores,

[...] o desafio real na prática, para a psicopatologia do trabalho, é definir as ações suscetíveis de modificar o destino do sofrimento e favorecer sua transformação (e não sua eliminação). Quando o sofrimento pode ser transformado em criatividade, ele traz uma contribuição que beneficia a identidade. Ele aumenta a resistência do sujeito ao risco de desestabilização psíquica e somática. O trabalho funciona então como um mediador para a saúde. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.137).

Discutiremos posteriormente as contribuições do sofrimento criativo, suas relações com a

saúde do trabalhador e os diversos aspectos envolvidos nesse processo no momento em que

discutirmos o conceito de sublimação.

Ainda em relação às suas pesquisas, os autores colocam que as entrevistas coletivas

proporcionaram o conhecimento de “estratégias defensivas coletivamente construídas para lutar

contra os efeitos desestabilizadores e patogênicos do trabalho” (DEJOURS; ABDOUCHELI,

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1994, p.124). Encontra-se nesse resultado outro ponto fundamental nessa abordagem. Segundo

Dejours e Abdoucheli (1994),

O conflito entre organização do trabalho e funcionamento psíquico pôde ser reconhecido como fonte de sofrimento, ao mesmo tempo como chave de sua possibilidade de análise. Mas o sofrimento suscita estratégias defensivas. A descoberta empírica mais surpreendente foi a das estratégias defensivas construídas, organizadas e gerenciadas coletivamente. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.127).

Dejours e Abdoucheli (1994) afirmam, então, que as pesquisas permitiram descobrir que

os trabalhadores desenvolvem estratégias de defesa coletivas na busca de evitar o adoecimento no

trabalho. Os autores, dizendo sobre o momento de rever o percurso de construção dessa

abordagem, colocam que “hoje podemos responder que essas defesas levam à modificação,

transformação e, em geral, à eufemização da percepção que os trabalhadores têm da realidade que

os faz sofrer” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.128). As defesas desenvolvidas teriam como

objetivo “minimizar a percepção que eles têm dessas pressões, fontes de sofrimento” (DEJOURS;

ABDOUCHELI, 1994, p.128).

Com relação a este mesmo estágio de suas pesquisas, Dejours e Abdoucheli (1994)

discutem diversos aspectos que envolvem as estratégias defensivas e, dentre eles, está a relação

das defesas coletivas com a alienação. Os autores afirmam que “há casos em que a estratégia

defensiva torna-se ela mesma tão preciosa para os trabalhadores que ao se esforçarem para

enfrentar as pressões psicológicas do trabalho acabam por transformar esta estratégia em um

objetivo em si mesma” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.130). Dejours e Abdoucheli (1994)

prosseguem dizendo que, a partir daí,

A estratégia de defesa que não era vista como nada além de uma defesa contra o sofrimento passa a ser vista como promessa de felicidade, e a defesa da defesa, é erigida em ideologia. Por isso, passaremos a falar em ideologia defensiva e não mais em estratégia coletiva de defesa... (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.130).

É importante colocarmos que Dejours (1996) aponta também a utilização pelos

trabalhadores de defesas individuais contra o sofrimento. Segundo o autor,

[...] as defesas coletivas e as ideologias defensivas de profissão não são as únicas a serem utilizadas para lutar contra a doença mental e aliviar o sofrimento. As

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defesas individuais, classicamente arroladas pela Psicopatologia e pela Psicanálise, também desempenham um papel. Entre essas últimas, foi reconhecido um lugar importante para a ‘repressão pulsional’, principalmente nas tarefas repetitivas da organização científica do trabalho. (DEJOURS, 1996, p.154).

Retomando as estratégias defensivas, podemos dizer que esse conceito traz à tona um

aspecto que, de acordo com Dejours e Abdoucheli (1994), perpassa toda a abordagem da

psicopatologia do trabalho: a intersubjetividade. Os autores deixam clara sua preocupação em

nunca considerar o indivíduo isolado e dizem que

Apoiando-se na teoria psicanalítica do sujeito, a psicopatologia do trabalho é antissolipsista e sempre intersubjetiva. Este ângulo de ataque é importante, na medida em que ele privilegia, no fim das contas, as relações com outros sujeitos e com os coletivos. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.138).

Por fim, torna-se necessário trazermos alguns aspectos que norteiam a análise e a

intervenção que a Psicodinâmica do Trabalho realiza sobre o trabalho. De acordo com Codo,

Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.287), dentro dessa abordagem “a organização do trabalho é

analisada pela sua dimensão socialmente construída, subjetiva e intersubjetiva, e não pela

dimensão tecnológica, tarefa-atividade, normas de produção, rotina, etc”. Diferentemente de

algumas abordagens apresentadas anteriormente em nosso histórico, Dejours prioriza os aspectos

subjetivos envolvidos no trabalho em detrimento dos aspectos objetivos e das condições reais de

trabalho do indivíduo. De acordo com Lima (2002), para Dejours o trabalho é abordado, quase

que exclusivamente, por meio do discurso, através do qual o trabalhador fala sobre sua vivência.

Esse aspecto da metodologia, adotada por Dejours, coloca em evidência a influência que

essa abordagem recebe dos pressupostos psicanalíticos. Dejours e Abdoucheli (1994, p.139)

afirmam que “o que interessa prioritariamente à psicopatologia do trabalho é a vivência subjetiva

do trabalho e o lugar do trabalho na regulação psíquica dos sujeitos”. Os autores deixam clara sua

posição no seguinte trecho:

Sublinharemos que a referência à intersubjetividade, à abordagem compreensiva e à construção do sentido pelo sujeito leva-nos a conceder um lugar central à palavra e à enunciação. A via de acesso à vivência subjetiva e intersubjetiva do trabalho passa, para o psicopatologista, quase exclusivamente pela palavra dos trabalhadores e não pela observação dos atos, dos fatos, dos comportamentos ou dos modos operatórios, por mais minuciosa que seja. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.142).

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Sendo assim, a análise e a intervenção realizadas pela Psicodinâmica do trabalho passam

principalmente pela via do discurso, enfatizando a vivência do indivíduo sobre seu trabalho. A

intervenção dessa abordagem passaria por uma ressignificação pelo indivíduo de sua própria

vivência no trabalho, visando uma intervenção sobre o sofrimento, tendo em vista que o

sofrimento é inerente ao trabalho. De acordo com Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004,

p.288), “o tipo de intervenção prevista nesse modelo consiste na realização de um trabalho em

grupo sobre as vivências de sofrimento”. O objetivo de sua intervenção seria, como dissemos

anteriormente, definir as ações que possibilitem a transformação do sofrimento a favor da

produtividade e da saúde psíquica do indivíduo.

Em síntese, a Psicodinâmica do Trabalho é uma abordagem jovem e ainda em construção,

segundo Merlo (2002), tendo trazido grandes contribuições para o campo da Saúde Mental e

Trabalho até o momento.

Acreditamos ter apresentado, resumidamente, os principais aspectos que envolvem a

Psicodinâmica do Trabalho, reconhecendo, possivelmente, a ausência de conceitos e idéias não

menos importantes de seus diversos autores. No entanto, entendemos que aqui foram introduzidas

as idéias necessárias à análise que pretendemos realizar, lembrando que alguns desses conceitos

serão aprofundados posteriormente em nosso trabalho.

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4. JACOB LEVY MORENO E O PSICODRAMA

Apresentaremos aqui alguns conceitos básicos da teoria que envolve o Psicodrama,

fundamentais para a discussão que pretendemos construir. O responsável pelo desenvolvimento

do Psicodrama foi o médico romeno Jacob Levy Moreno (1889-1974). Este autor trouxe grandes

contribuições ao campo da psicoterapia de grupo e ficou conhecido principalmente pela técnica

do Psicodrama. Primeiramente, é importante ressaltarmos que o Psicodrama faz parte de uma

obra maior desenvolvida por Moreno, que tem o nome de Socionomia. Segundo Costa (2000),

A Socionomia é a ciência que trata das leis naturais que regem os sistemas sociais de modo geral, dos grupos humanos e do desenvolvimento do homem fundamentado na sua natureza inter-relacional. Concebe o homem como ser natural e potencialmente genial, co-responsável pelo processo de criação do universo. (COSTA, 2000, p. 136).

Ainda de acordo com o autor,

A Socionomia tem três grandes ramificações científicas – a Sociodinâmica, onde estão as leis que evidenciam a dinâmica de grupamentos humanos; a Sociometria, onde estão aferições métricas das relações, através de instrumentos próprios que respeitam a natureza do objeto estudado; a Sociatria, onde estão os métodos de intervenção: psicoterapia de grupo, psicodrama – método socionômico por excelência, sociodrama, e axiodrama. (COSTA, 2000, p.138).

Não é nossa intenção aqui detalhar cada área da ciência desenvolvida por Moreno, o que

fugiria aos objetivos do presente trabalho, mas sim localizarmos o Psicodrama na obra do autor e

contextualizarmos os conceitos que aqui serão trabalhados.

Como já dissemos, a maior divulgação do trabalho de Moreno ocorreu através do

Psicodrama, cabendo-nos aqui defini-lo resumidamente. O Psicodrama pode ser definido como

um método de intervenção que busca trabalhar os conflitos do indivíduo e do grupo, através de

técnicas inspiradas no teatro. Gonçalves, Wolff e Almeida (1988, p.43) dizem que o Psicodrama

define-se como “o tratamento do indivíduo e do grupo através da ação dramática” sendo que,

segundo Aguiar (1988, p.19), “o Psicodrama nasceu do teatro e dele retirou os principais

conceitos que o fundamentam prática e teoricamente”. Marineau (1992) define o Psicodrama

como:

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Método terapêutico elaborado por Moreno, consistente em investigar situações e conflitos vitais, mais através da dramatização do que pelo relato falado. O psicodrama visa descobrir a ‘verdade’ da vida de cada pessoa em relação com outras pessoas e com seu ambiente. (MARINEAU, 1992, p.168).

Moreno (1974) coloca o Psicodrama “como o método que penetra a verdade da alma

através da ação” (MORENO, 1974, p. 106).

O Psicodrama tem como referencial teórico a Socionomia, ciência desenvolvida por

Moreno ao longo de sua vida. Não nos cabe aqui apresentar o Psicodrama discutindo suas etapas

e técnicas utilizadas, mas sim trabalharmos em cima de alguns dos conceitos que o fundamentam

e que servem de base às intervenções propostas por Moreno e outras posteriormente elaboradas

por outros psicodramatistas. Tendo em vista os objetivos do presente estudo, estaremos

trabalhando aqui, principalmente, com a concepção de homem de Moreno, a idéia de conserva

cultural e dois conceitos inseparáveis dentro de sua obra: a espontaneidade e a criatividade. Além

disso, discutiremos posteriormente questões acerca da metodologia de trabalho na Socionomia.

Em relação à sua visão de homem, Costa (2000, p.137) diz que “a Socionomia traz uma

concepção nova de ‘homem’ e que passou a funcionar como premissa no curso de toda sua

formulação teórica”. Segundo Bustos (1992, p.18), “é subjacente a toda obra de Moreno um ideal

de ser humano, espontâneo, capaz de criar continuamente seu próprio destino”. Bustos (1992,

p.18) diz que Moreno “sugere, sobretudo, a universalidade da capacidade criadora”. Em sua obra,

Moreno busca aproximar o homem de Deus, concebendo o indivíduo como um ser

essencialmente criador.

De acordo com Bustos (1992), o primeiro livro de Moreno traz as raízes de sua concepção

de homem e dos conceitos de espontaneidade e criatividade. Citando a época em que Moreno

acabara de se formar em medicina, Bustos (1992) diz que:

A ela pertence seu primeiro livro: As palavras do Pai. O livro se apresenta com prólogo de Moreno, sem colocá-lo como autor, levando-nos a lê-lo como se fosse de autoria do próprio Deus. Essa circunstância foi interpretada incorretamente como parte de um delírio de grandeza, quando na realidade Moreno pretende que sejamos Deus no ato da leitura, da mesma forma que também ele o foi ao escrevê-lo. (BUSTOS, 1992, p.12).

Assim, Moreno concebe o homem como um gênio em potencial. Costa (2000, p.137) diz

que na Socionomia “o homem é considerado um gênio, apenas necessitando aprender a

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desenvolver esse potencial, dependendo de como lida com a própria espontaneidade” Além disso,

segundo Altoé (2007), Moreno

Compreende o indivíduo a partir de suas relações interpessoais, ou seja, como ser social apto à convivência com os demais que necessita dos outros para sobreviver e que usa para tanto os recursos inatos de espontaneidade, criatividade e sensibilidade. Essas condições favorecem-lhe a vida, o seu desenvolvimento e a criação cultural, que é fruto do trabalho e do pensamento humanos, e, ao contrário do que afirmam outros estudiosos do Homem, não vêm acompanhadas de tendências destrutivas. (ALTOÉ, 2007, p.145).

Após apresentarmos a concepção de homem de Moreno, devemos introduzir um conceito

chave em sua obra: a espontaneidade. Costa (2000, p.137) diz que “a base filosófica da Teoria

Moreniana é a espontaneidade dentro da trilogia – espontaneidade, criatividade e conserva

cultural”.

Moreno (1992) coloca a espontaneidade como uma energia inerente ao ser humano,

presente “em todos os níveis de relações humanas como, por exemplo, no comer, no andar, no

dormir, no relacionamento sexual, na comunicação social, na criatividade, na auto realização

religiosa e no ascetismo” (MORENO, 1992, p.150). Segundo Moreno (1992, p.149), “a

espontaneidade opera no presente, agora e aqui; propele o indivíduo em direção à resposta

adequada à nova situação ou à resposta nova para situação já conhecida”. É importante ressaltar

que o termo espontaneidade, dentro da Socionomia, tem um significado diferente do senso

comum. Schutzenberger, citado por Martin (1984), afirma que:

Espontaneidade não é fazer qualquer coisa em qualquer momento, em qualquer lugar, de qualquer maneira e com qualquer pessoa, o que seria uma espontaneidade patológica. Em psicodrama, ser espontâneo é fazer o oportuno no momento necessário. É a resposta boa a uma situação geralmente nova, e por isto mesmo difícil. Deve ser uma resposta pessoal, integrada, e não uma repetição ou uma citação inerte, separada de sua origem e de seu contexto. (SCHUTZENBERGER apud MARTIN, 1984, p.132).

Sendo assim, o conceito de espontaneidade está intimamente ligado à idéia de adequação

e adaptação, tratando-se de uma resposta adequada pelo indivíduo a si mesmo e ao meio em que

ele vive. A espontaneidade pode ser entendida como “a melhor adaptação a uma realidade que se

aprende a perceber de maneira mais completa” (MORENO apud MARTIN, 1984, p.133).

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Em relação à idéia de comportamento adequado e adaptado à realidade, Martin (1984)

afirma que Moreno não corre risco de ser colocado como um conservador, visto que é muito

conhecida sua preocupação com o progresso constante. Segundo Gonçalves, Wolff e Almeida

(1988),

[...] é preciso compreender o espírito dos escritos de Moreno: sua proposta primordial é a da adequação e do ajustamento do homem a si mesmo. Nesse sentido, ser espontâneo significa estar presente às situações, configuradas pelas relações afetivas e sociais, procurando transformar seus aspectos insatisfatórios. (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988, p.47).

Como já dissemos anteriormente, dentro da Socionomia todos os indivíduos possuem um

potencial criativo a ser desenvolvido. Nesse momento, introduzimos um conceito indissociável da

espontaneidade: a criatividade. Em relação a esse termo, Gonçalves, Wolff e Almeida (1988,

p.47) afirmam que “a possibilidade de modificar uma dada situação ou de estabelecer uma nova

situação implica em criar: produzir, a partir de algo que já é dado, alguma coisa nova”.

Segundo Martin (1984, p.156), “a noção de criatividade não está definida em nenhuma

das obras de Moreno”. O autor coloca que “de suas obras nos fica a impressão de que fala de

criatividade no sentido de progresso, evolução, crescimento, invenção, arte e artesania: tudo o

que suponha inovação ou desenvolvimento” (MARTIN, 1984, p.156). Sendo assim, para Martin

(1984), a criatividade estaria na obra de Moreno em um sentido próximo ao de progresso e de

novidade.

Moreno (1992, p.147) diz que “o universo é criatividade infinita”. O autor define a

criatividade como conceito inseparável da espontaneidade, colocando-a na categoria de

substância, também inerente ao homem. De acordo com Moreno (1992):

A criatividade sem espontaneidade não tem vida. [...] A espontaneidade sem criatividade é vazia e abortiva. A espontaneidade e a criatividade são, assim, categorias de ordem diferente; a criatividade pertence à categoria de substância [...] enquanto a espontaneidade pertence à categoria dos catalisadores. (MORENO, 1992, p.147).

A espontaneidade age, então, como um catalisador para a criatividade humana, estando

intrinsecamente ligada ao processo de criação do homem. Segundo Moreno (1992),

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O universo está repleto dos produtos da interação espontaneidade-criatividade, como em a) o esforço despendido no parto e na criação de novos bebês; b) o esforço que despendemos na criação de obras de arte, ‘conservas culturais’; na criação de novas instituições sociais, conservas sociais e estereótipos; na criação de invenções tecnológicas, robôs e máquinas; e c) o esforço despendido na criação de nova ordem social. (MORENO, 1992, p.147).

Neste trecho surge o conceito de “conserva cultural”, que Moreno (1997) define como um

produto acabado da interação entre espontaneidade e criatividade. Gonçalves, Wolff e Almeida

(1988, p.48) dizem que “todo resultado de um processo de criação ou de um ato criador pode

cristalizar-se como conversa cultural. Conservas culturais são objetos materiais (incluindo-se

obras de arte), comportamentos, usos e costumes, que se mantêm idênticos, em uma dada

cultura”. Segundo Vale (2007),

Há conservas tecnificadas, como o robô e a máquina, que são instrumentos criados pelo homem e importantes para sua sobrevivência; há os produtos de sua criatividade, como o livro e as obras de arte; há também as conservas psicossociais, como os costumes, valores e normas. (VALE, 2007, p.100).

Moreno (1997, p.159) diz que a conserva cultural “é uma mistura bem sucedida de

material espontâneo e criador, moldado numa forma permanente. Como tal converte-se em

propriedade do grande público, algo de que todos podem compartilhar”.

Em relação a esse conceito, Martin (1984) elabora uma questão que nos parece importante

para compreender os conceitos que estamos apresentando nesse trabalho e os propósitos da

Socionomia: “o que impede o desenvolvimento do gênio presente em todos nós?” (MARTIN,

1984, p.129). O autor diz que “a resposta incide no substancial e único mal: as conservas

culturais transmitidas pela educação e pelo ambiente. O homem se sente mais seguro utilizando-

as que vivendo no desconhecido e à mercê da improvisação” (MARTIN, 1984, p.129). Moreno

colocava como objetivo da intervenção com base na Socionomia o resgate e o desenvolvimento

da espontaneidade. Marineau (1992, p.166) afirma que Moreno “via as conservas culturais como

barreiras para a criatividade, e esperava substituí-las por novas e espontâneas formas de

comportamento”.

Na leitura da obra de Moreno pode-se, eventualmente, extrair uma idéia errada quanto à

sua posição em relação às conservas culturais, ou seja, a idéia de que Moreno era totalmente

contra elas. O que deve ser entendido da obra de Moreno é que há, de um modo geral na

sociedade, um apego excessivo às conservas culturais e a comportamentos estereotipados, sendo

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a espontaneidade um recurso pouco desenvolvido pelo homem. Moreno atenta-nos para a

importância de desenvolvermos a espontaneidade, tornando-nos mais aptos a darmos respostas

adequadas às situações que vivemos e às condições que nos são oferecidas. Altoé (2007, p.147)

coloca que “a conserva cultural é necessária ao Homem, pois ajuda na sua constituição e protege-

o, mas deve ser sempre superada, para que mantenha a função de estar a serviço de seu

desenvolvimento e não, de sua estagnação”.

Em relação a isso, é importante citarmos um trecho de Martin (1984) que nos ajuda a

compreender a relação entre conserva cultural e espontaneidade:

É a conjunção do novo com o adequado, o que integra o conceito de espontaneidade. Talvez a luta contra a conserva nos haja induzido falsamente a pensar numa total originalidade, alheia a toda manifestação cultural. Este limite é tão falso como o da servil dependência da cultura. Seria, além de inadequado, absurdo e traumatizante, tentarmos o desenraizamento absoluto do ambiente sócio-cultural a que pertencemos. Nem Moreno, em sua tendência aos extremos, havia intuído um comportamento espontâneo totalmente erradicado e absolutamente novo. A luta contra as conservas chega ao ponto de defender a liberdade de pensar e de agir, mas nunca ao de anular a vinculação com a cultura. (MARTIN, 1984, p.131).

Sendo assim, podemos dizer que uma atuação espontânea do indivíduo no mundo está

ligada ao equilíbrio entre o desenvolvimento da espontaneidade e a ligação estabelecida com as

conservas culturais existentes.

Apresentamos neste capítulo a concepção de homem de Moreno e os conceitos por ele

desenvolvidos, que serão fundamentais para a nossa discussão: espontaneidade, criatividade e

conserva cultural. Realizamos aqui uma tentativa de apresentar tais conceitos de forma resumida,

reconhecendo a complexidade dos mesmos e de outros aspectos envolvidos que, eventualmente,

não foram aqui abordados. Apesar de não termos introduzido outros conceitos essenciais para a

compreensão da obra de Moreno como um todo, acreditamos que o conteúdo apresentado é

adequado aos objetivos de nosso trabalho e à discussão que pretendemos iniciar nesse momento.

Page 34: O Psicodrama e a Psicodinâmica do Trabalho: Possíveis conexões.pdf

34

5. POSSÍVEIS CONEXÕES

5.1 Metodologia de trabalho

Ao longo do estudo da teoria de Moreno e, mais recentemente, do estudo da

Psicodinâmica do Trabalho, encontramos alguns possíveis pontos de convergência e divergência

que acreditamos que deveriam ser discutidos. Neste momento, iniciaremos uma reflexão acerca

de algumas das possíveis relações entre pontos que envolvem a Psicodinâmica do Trabalho e

aspectos da ciência desenvolvida por Moreno.

Na leitura da obra de Dejours, ao acompanharmos o seu desenvolvimento e sua evolução,

percebemos que o autor relaciona a todo o momento sua prática e sua teoria. Podemos destacar

aqui um primeiro aspecto no que diz respeito a um possível paralelo entre a metodologia de

trabalho de Dejours e de Moreno.

No que se refere à metodologia utilizada pela Psicodinâmica do Trabalho, Dejours e

Abdoucheli (1994, p.124), como já dissemos anteriormente, colocam que, inicialmente, “já que

os elos intermediários entre pressões do trabalho e doença mental são fortemente singularizados

em função de procedimentos psíquicos próprios do sujeito, seria lógico, para tentar entender esses

elos intermediários, escolher uma metodologia que privilegiasse as entrevistas individuais”.

Retomando, rapidamente, a experiência de Dejours e Abdoucheli (1994, p.124) com essas

primeiras entrevistas, os autores dizem que a experiência obtida ao longo dos anos com essa

metodologia mostrou que “nas entrevistas individuais os efeitos da transferência e os princípios

de interpretação psicodinâmica conduzem, inevitavelmente, a fazer ressaltar aquilo que, na ordem

singular, está ligado, em parte, ao passado do sujeito e a sua história familiar”. Sendo assim, essa

metodologia não estaria dando ênfase às pressões e às situações concretas do trabalho. A partir

desses resultados, Dejours e Abdoucheli (1994, p.124) dizem que, “para ter acesso à dimensão

específica das pressões do trabalho”, passaram a realizar entrevistas coletivas com os

trabalhadores. Os autores colocam que, através das entrevistas coletivas, foi possível perceber

que o grupo de trabalhadores era capaz de discutir as pressões do trabalho que provocavam

sofrimento e que essas discussões traziam à tona as estratégias coletivas de defesa.

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35

A partir dessas idéias, é possível perceber a importância que Dejours passa a conceder ao

trabalho em grupo e, também, sua preocupação de ver o indivíduo sempre em relação com o

outro. Os autores colocam que “ao longo de toda a abordagem da psicopatologia do trabalho

sobre a relação homem-trabalho, levaremos em conta, sem dúvida, que em qualquer circunstância

ou situação o trabalhador não será nunca considerado um indivíduo isolado” (DEJOURS;

ABDOUCHELI, 1994, p.138). Dejours e Abdoucheli (1994) prosseguem afirmando que para a

Psicodinâmica do Trabalho, não há uma relação entre o homem e o trabalho que seja somente

técnica, cognitiva ou física. Para os autores, a relação com o trabalho em si “é sempre secundária

e mediatizada pelas relações hierárquicas, relações de solidariedade, relações de subordinação,

relações de formação, relações de reconhecimento, relações de luta e relações conflituais”

(DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.138).

Em um artigo publicado recentemente, Dejours (2004) afirma que

No contexto contemporâneo – e talvez já desde há muito tempo – as situações ordinárias de trabalho não podem ser descritas como a justaposição de experiências e de inteligências singulares. Porque, via de regra, trabalha-se para alguém: para um patrão, para um chefe ou um superior hierárquico, para seus subordinados, para seus colegas, para um cliente, etc. O trabalho não é apenas uma atividade; ele é, também, uma forma de relação social [...] (DEJOURS, 2004, p.31).

Segundo Lucca e Schmidt (2004), para Dejours “a discussão em grupo contribui para a

elaboração coletiva de temas relacionados a condições e organização do trabalho, e para o

diagnóstico dos efeitos nocivos destas duas modalidades à saúde física e psíquica dos

trabalhadores”. Essa discussão seria possível através da “construção de espaços coletivos no

ambiente de trabalho” (LUCCA; SCHMIDT, 2004, p.5).

Sendo assim, a Psicodinâmica do Trabalho privilegia uma metodologia que envolva o

grupo, considerando sempre o indivíduo e suas relações de trabalho, utilizando-se do espaço

grupal e da discussão coletiva para realizar tanto o diagnóstico quanto suas intervenções.

Além do caráter coletivo da pesquisa em Psicodinâmica do Trabalho, outro aspecto de sua

metodologia deve ser colocado. Dejours e Abdoucheli (1994, p.139), ao enfatizarem a

intersubjetividade em seus estudos, apontam que “só entrando numa relação intersubjetiva com

os trabalhadores é que teremos chance de ter acesso à realidade”. Falando sobre o método de

pesquisa utilizado nessa abordagem, os autores argumentam que

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36

Todo o processo se desenvolve na interação. A pesquisa em psicopatologia do trabalho tem por si só efeitos sobre as relações sociais de trabalho e abre-se para a ação. A análise das defesas coletivas e das ideologias defensivas é feita pelos próprios trabalhadores, em um processo de interação com os pesquisadores, que praticam a objeção mais que a interpretação e propõem hipóteses a serem discutidas mais do que perícias muito especializadas. (DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p.63).

Dejours e Abdoucheli (1994) estabelecem, então, relações entre os seus procedimentos e

métodos de outros autores que envolvem a pesquisa-ação, ou seja, uma pesquisa realizada na

interação com os indivíduos e desenvolvida com a participação de todos os envolvidos, já

produzindo mudanças ao longo de sua execução.

Em relação à metodologia de trabalho utilizada por Moreno, podemos dizer que este autor

sempre deu ênfase ao trabalho com grupos. Moreno desenvolveu seus estudos privilegiando os

trabalhos com grupos, formulando uma série de instrumentos para esse fim. A Socionomia foi

constituída a partir de várias pesquisas com grupos diversos, com o objetivo de realizar o estudo

das relações interpessoais, sendo que, como já dissemos anteriormente, Moreno, citado por

Lisboa et al (2007, p.118) compreende o homem a partir dessas relações, colocando que “é na

interação eu-tu e na rede de relações que o desenvolvimento humano acontece”.

Vale (2004) diz que Moreno buscava sempre em seu trabalho “um tipo de relação sujeito-

objeto que se afastasse do modelo positivista” (VALE, 2007, p.108). A autora afirma, com base

na Socionomia, que “o pesquisador, durante uma ação sociopsicodramática, transforma-se num

catalisador dos movimentos espontâneos latentes que emergem no interior dos grupos e que, se

conduzidos sistematicamente, vão desembocar em novas formas de organização social” (VALE,

2007, p.108). Sendo assim, o pesquisador trabalha a partir do movimento do grupo,

desenvolvendo uma interação que se caracteriza como instrumento fundamental na pesquisa.

A partir do que foi colocado, já podemos ressaltar algumas semelhanças no que diz

respeito aos pressupostos envolvidos na pesquisa de cada abordagem. Dejours, assim como

Moreno, privilegia a interação do pesquisador com o grupo e acredita que é através dessa

interação que o trabalho deve ser desenvolvido. Podemos dizer que ambos apontam sua

preocupação em não fazer com que o pesquisador tenha um lugar especial na pesquisa, de um

especialista distante do grupo, mas sim de alguém que interage e desenvolve um trabalho em

conjunto. Ambas as abordagens mostram como a própria pesquisa já se trata de uma intervenção,

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37

produzindo mudanças no grupo desde o seu início, utilizando-se do movimento do grupo para a

resolução das questões trabalhadas.

É importante ressaltarmos que

Embora Jacob Levy Moreno [...] não tenha desenvolvido diretamente atividades em empresas, sua metodologia tem sido bastante adotada na prática dos psicodramatistas e/ou sociodramatistas, ditos organizacionais. Entretanto, a inexistência de uma teorização no campo das instituições, em sua obra, limita a leitura do contexto organizacional, não atentando ainda de forma efetiva para as questões relacionadas à saúde no trabalho. (SCHMIDT; FISCHER, , p.2).

Sendo assim, tratamos aqui dos aspectos relacionados aos instrumentos que Moreno

desenvolveu para as intervenções com grupos de um modo geral, não especificamente no campo

da Saúde mental e Trabalho.

A partir da pesquisa desenvolvida no presente trabalho, descobrimos que estudos

envolvendo aspectos teóricos da Psicodinâmica do Trabalho e do Psicodrama já foram realizadas

recentemente. Em um estudo realizado por Lucca e Schmidt (2004), em uma empresa

multinacional de grande porte, os autores adotaram uma metodologia psicodramática, utilizando

técnicas fundamentadas na Socionomia, como atividades que propiciam a expressão do indivíduo

e trazem dados relacionados às condições de trabalho para a discussão no espaço coletivo. Os

autores colocam que, apesar de terem utilizado uma metodologia baseada em Moreno, toda a

análise dos resultados foi realizada tendo, como um de seus referenciais teóricos, a Psicodinâmica

do Trabalho.

Em relação ao desenvolvimento da pesquisa, os autores afirmam que “nossa preocupação

desde o primeiro momento, foi desenvolver uma pesquisa sem fazer do sujeito, um assujeitado e

sim participante do processo” (LUCCA; SCHMIDT, 2004, p.12). Essa posição metodológica,

acompanhada de um referencial psicodramático, relaciona-se com a semelhança entre Dejours e

Moreno que apontamos anteriormente. Ambos os referenciais teóricos enfatizam a construção no

espaço coletivo e a afirmação do indivíduo no grupo.

Ainda no que diz respeito ao processo de pesquisa, Lucca e Schmidt (2004, p.13), ao

comentarem sobre a construção de um espaço coletivo com os trabalhadores, dizem que “o

método psicodramático [...] além de possibilitar esse espaço, torna-se terapêutico [...] ao

favorecer o desenvolvimento da criatividade e da espontaneidade bloqueadas pela organização do

trabalho”. Essa afirmação encontra um paralelo no comentário de Dejours e Abdoucheli (1994,

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38

p.63), ao relatarem que “a pesquisa em psicopatologia do trabalho tem por si só efeitos sobre as

relações sociais de trabalho e abre-se para a ação”. Sendo assim, ambos os processos produzem,

por si só, transformações nos indivíduos, trazendo, ao longo de seu desenvolvimento,

contribuições à saúde psíquica dos trabalhadores.

Até o momento nos ativemos às semelhanças entre as metodologias utilizadas pelas duas

abordagens, entretanto, embora estejamos trabalhando com aspectos mais gerais dos métodos de

ambos os autores, é possível apontarmos uma divergência fundamental no que diz respeito aos

dados que são trabalhados com os grupos.

Para Dejours, como já dissemos anteriormente, o trabalho é abordado apenas através do

discurso, ou seja, a partir do que os trabalhadores falam sobre o seu trabalho. Ao contrário de

Dejours, Moreno se preocupava em abordar as questões por outras vias além do discurso, ou seja,

através da dramatização. Como já foi dito, Moreno desenvolveu o Psicodrama a partir de suas

experiências com o teatro, ao observar os possíveis efeitos terapêuticos que a representação de

papéis pelos atores podia trazer. Dentro do Psicodrama, temos a dramatização como uma de suas

principais etapas e base de seu desenvolvimento. Gonçalves, Wolff e Almeida (1988, p.78)

colocam que “a dramatização é o método por excelência, segundo Moreno, para o

autoconhecimento, o resgate da espontaneidade e a recuperação de condições para o inter-

relacionamento”. A dramatização é uma etapa presente nos diversos métodos desenvolvidos por

Moreno na qual “as pessoas são estimuladas a apresentar suas situações vitais sob a forma

dramática, a representar fisicamente encontros e conflitos que existem somente em suas

lembranças e fantasias” (MARINEAU, 1992, p.166). Dessa forma, outras vias de comunicação

são utilizadas envolvendo a representação física e a expressão corporal.

Não nos estenderemos aqui na definição dessa etapa e dos diversos aspectos envolvidos

na mesma. Nosso objetivo é mostrar a grande diferença existente entre as abordagens em

discussão no que diz respeito à forma de trabalhar com os grupos e aos instrumentos utilizados

por cada uma. Por um lado, Dejours e Abdoucheli (1994) atribuem quase que exclusivamente à

palavra, o meio de acesso às vivências dos indivíduos no trabalho. Por outro, podemos dizer que

os métodos de intervenção baseados na Socionomia ampliam as possibilidades e os meios de

acesso à realidade do trabalho, oferecendo instrumentos que propiciam a análise de conteúdo

trazido, tanto por meio da palavra, como por meio das representações e expressões corporais dos

participantes.

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39

Sendo assim, os princípios que envolvem a metodologia de trabalho de ambas abordagens

encontram vários pontos de convergência, divergindo mais no que diz respeito aos instrumentos

utilizados e no conteúdo a ser analisado.

5.2 Concepção de homem e obtenção de prazer no trabalho

Após discutirmos questões sobre a metodologia de trabalho, introduziremos uma

discussão acerca de um ponto fundamental entre aspectos teóricos de ambos os autores. Trata-se

da questão da concepção de homem adotada por cada abordagem e também dos mecanismos

envolvidos no processo de obtenção de prazer no trabalho.

De acordo com Codo, Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.297), para a Psicodinâmica do

Trabalho “o homem organiza-se a partir de suas experiências na primeira infância. A sexualidade

(libido) é sua maior força motriz”. Dejours, baseado na teoria psicanalítica, utiliza-se do conceito

de sublimação desenvolvido por Freud para compreender a obtenção de prazer no trabalho e os

mecanismos envolvidos no processo de adoecimento ou não do trabalhador. Segundo Codo,

Soratto e Vasques-Menezes (2004, p.297), para Dejours, “o trabalho é portador de sofrimento e

afasta o homem do prazer; o melhor trabalho é o que permite sublimar o sofrimento. Quando há

sublimação, não há desprazer no trabalho”. De acordo com Dejours e Abdoucheli (1994), como

já foi dito anteriormente, o sofrimento pode ter dois destinos, transformando-se em: sofrimento

patogênico ou sofrimento criativo. Já definimos o primeiro e neste momento é necessário

retomarmos o segundo, apresentado apenas de forma resumida anteriormente. Em relação ao

sofrimento criativo, Oliveira (2003) afirma que

O sofrimento passa a ser criativo, quando o trabalho é reconhecido e todo o investimento pessoal demandado e que, de certa forma, está carregado de sofrimento, adquire um sentido, é criativo porque contribui com algo novo para a organização. É neste momento que o trabalho faz a passagem do sofrimento para o prazer. (OLIVEIRA, 2003, p.8).

Segundo Oliveira (2003), essa passagem do sofrimento para o prazer ocorre através da

sublimação. Esse conceito pode ser definido como:

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40

Processo postulado por Freud para explicar atividades humanas aparentemente sem relação com a sexualidade, mas que encontrariam sua origem na força da pulsão sexual. Freud descreveu como atividade de sublimação principalmente a atividade artística e a investigação intelectual. Diz que a pulsão foi sublimada na medida em que ela é desviada para uma nova meta não-sexual e visa objetos socialmente valorizados. (LAPLANCHE; PONTALIS; LAGACHE, 1975, p. 638).

Dizendo sobre a força da pulsão, Laplanche (1989, p.18) diz que “quando falamos de

sexualidade, designamo-la como libido, termo que não significa outra coisa senão a energia da

pulsão sexual”.

Ao discutir a questão do sofrimento no trabalho, Dejours (1992, p.134) coloca que “há

casos em que o trabalho é [...] favorável ao equilíbrio mental e à saúde do corpo”. O autor diz que

“uma boa adequação entre a organização do trabalho e a estrutura mental do operário é possível”

(DEJOURS, 1992, p.134) e coloca que a sublimação é uma das possibilidades para que isso

ocorra. Dejours (1992) afirma que essa adequação pode ocorrer quando

O conteúdo do trabalho é fonte de uma satisfação sublimatória: situação que, a bem dizer, é rara em comparação com a maioria das tarefas, encontrada em circunstâncias privilegiadas, onde a concepção do conteúdo, do ritmo de trabalho e do modo operatório é, em parte, deixada ao trabalhador. Este pode, então, modificar a organização de seu trabalho conforme seu desejo ou suas necessidades; no melhor dos casos, ele pode até fazê-la variar, espontaneamente, com seus próprios ritmos biológicos, endócrinos e psicoafetivos [...] (DEJOURS, 1992, p.134).

Entendemos, a partir das idéias aqui apresentadas, que dentro da Psicodinâmica do

Trabalho, a sublimação configura-se como o principal meio através do qual o indivíduo pode

obter prazer no trabalho, tendo em vista que “o trabalho, quando perpassa a via do

reconhecimento, contribui para a construção da identidade dos sujeitos, identidade esta

responsável pela proteção da saúde mental” (OLIVEIRA, 2003, p.9). É a partir dessa

compreensão que iremos discutir em breve a divergência existente entre as abordagens em

discussão.

Em relação à Socionomia, como já dissemos anteriormente, Moreno compreende o

homem como um gênio em potencial, dotado de recursos inatos como a espontaneidade e a

criatividade. Moreno considera a espontaneidade uma energia presente nas mais diversas

atividades do homem.

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41

Moreno não estabeleceu necessariamente uma bibliografia no que diz respeito à saúde

mental do indivíduo na relação do mesmo com o trabalho. Entretanto, podemos aqui iniciar uma

discussão acerca dos processos envolvidos na obtenção de prazer e proteção do indivíduo no

trabalho. Para Dejours, o conceito de sublimação fundamenta grande parte desse processo,

podendo ser compreendido, como já foi dito, como um ideal no que diz respeito à relação do

homem com seu trabalho. Entretanto, devemos pensar como esse processo se daria se tivermos

como base a Socionomia.

Ao dizer sobre o conceito de espontaneidade e de criatividade, em seu livro “Quem

Sobreviverá?”, Moreno (1992) distingue sua teoria da espontaneidade de postulados teóricos da

psicanálise envolvendo a sublimação e a idéia de conservação de energia. Moreno (1992, p.150)

coloca que “a idéia da conservação da energia tem sido o modelo ‘inconsciente’ de muitas teorias

sociais e psicológicas, como a teoria psicanalística da libido”. O autor prossegue dizendo que

Segundo esta teoria, Freud pensou que, se o impulso sexual não encontrar satisfação em seu objetivo direto, ele tem de deslocar sua energia não utilizada para outra direção. É imperativo que se ligue a local patológico ou encontre saída através da sublimação. Ele não podia conceber que a energia se dissiparia, pois era propenso a crer na idéia física da conservação da energia. (MORENO, 1992, p.150).

Moreno (1992) afirma em seguida que

[...] se, também, fôssemos seguir este preceito de padrão de energia, negligenciando as perenes incongruências no desenvolvimento dos fenômenos físicos e mentais, teríamos de considerar a espontaneidade como energia psicológica – quantidade que se distribui em determinado campo – que, se não encontra realização em certa direção, fluirá para outra de modo a manter seu volume e a equilibrar-se. Teríamos de presumir que o indivíduo tem certa quantidade de espontaneidade armazenada. (MORENO, 1992, p.150).

Nesses trechos fica clara a distinção entre as abordagens no que diz respeito às

concepções de energia envolvida nos processos criativos do indivíduo e em suas relações sociais.

Para Moreno (1992, p.150), “o indivíduo não tem reservatório de espontaneidade, no sentido de

volume ou quantidade estáveis. A espontaneidade está, ou não, disponível em vários graus de

prontidão”. Para o autor a espontaneidade trata-se de uma energia não-conservável, não podendo

ser armazenada, sendo somente utilizada em dado momento ou não.

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A partir das colocações de Moreno (1992), supomos que a compreensão acerca da saúde

mental no trabalho pelos processos de sublimação não poderia ser aplicada a uma teoria

psicodramática direcionada para a saúde mental do trabalhador. Nesse momento podemos

questionar: qual seria a forma de compreensão da Socionomia do processo de realização e

obtenção de prazer no trabalho? Como se daria este processo, tendo em vista as características

particulares da espontaneidade enquanto energia mobilizadora do indivíduo?

O aspecto discutido nesse momento trata de uma distinção fundamental entre as

abordagens, no entanto, ao nosso ver, essa relação também traz alguns pontos que aproximam as

idéias colocadas por Dejours e Moreno.

Ao compreendermos que Dejours coloca a atividade sublimatória como um ideal de

relação entre indivíduo e trabalho, podemos deduzir que o autor, também, nos passa um ideal de

homem criativo e atuante sobre o mundo, ou seja, de um indivíduo capaz de criar sobre seu

trabalho e influenciar sua organização. Além disso, entendemos que os objetivos das intervenções

de Dejours residem, de alguma forma, no propósito de se obter uma adequação entre o indivíduo

e a organização do trabalho, ou seja, um equilíbrio na relação do homem com o trabalho.

Esse ideal nos parece muito próximo da atuação espontânea que discutimos anteriormente

ao apresentarmos os objetivos da Socionomia. Entendemos que a resposta espontânea do

indivíduo, adequada a si mesmo e ao meio em que vive, está muito próxima da idéia de equilíbrio

que acreditamos ter encontrado na obra de Dejours. No entanto, devemos questionar e procurar

desenvolver conhecimentos acerca da relação entre o homem e seu trabalho, de um modo geral,

com base na Socionomia.

Segundo Vale (2007, p.100), Moreno coloca sempre o homem como um ser “[...] que

busca adequação pessoal assim como transformação e evolução de sua vida e de tudo que o

cerca”, enfatizando sempre a autonomia dos indivíduos e seu poder de criação sobre si mesmos e

sobre o mundo. Dejours deixa clara a preocupação da Psicodinâmica do trabalho em desenvolver

um trabalho com o indivíduo que contribua para o desenvolvimento de sua autonomia.

Realizamos aqui uma discussão acerca de algumas das possíveis relações que podem ser

estabelecidas entre a Psicodinâmica do Trabalho e a Socionomia, apresentando alguns aspectos

relevantes no que diz respeito às possíveis conexões existentes entre as abordagens, sejam elas

relações que as aproximam ou que as distanciam.

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43

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procuramos, no presente trabalho, estabelecer algumas relações entre a Socionomia e a

Psicodinâmica do trabalho, aprofundando questões acerca da metodologia de cada umas das

abordagens e também suas concepções de homem.

Ao longo da pesquisa, descobrimos um maior número de relações possíveis do que

imaginávamos encontrar. Tendo em vista o caráter do presente do trabalho, selecionamos alguns

desses pontos para iniciarmos nossa discussão.

Em relação aos pontos discutidos, vimos que as abordagens possuem vários tópicos em

comum, fato que, de certa forma, nos motivou inicialmente para o desenvolvimento desse

trabalho, visto que, ao longo do estudo prévio da obra de ambos os autores, inúmeras

possibilidades de relação entre eles nos chamaram atenção. Encontramos, no entanto, a partir do

momento em que aprofundamos o estudo de seus conceitos, divergências em aspectos

fundamentais das teorias envolvidas, fator que contribuiu para questionarmos qual seria a visão

da Socionomia sobre tais aspectos, principalmente no que diz respeito ao processo de obtenção de

prazer e preservação da saúde do indivíduo no trabalho. Além disso, pudemos questionar a visão

acerca dos processos de adoecimento no trabalho e as demais questões envolvidas.

Observamos ao longo de nossa pesquisa que a Socionomia encontra-se como um

referencial teórico privilegiado para tratarmos as questões que envolvem a relação entre saúde

mental e trabalho. No que diz respeito à concepção de homem, podemos dizer que a Socionomia

visa o desenvolvimento de aspectos, por nós vistos, como fundamentais para contribuirmos com a

promoção de saúde no trabalho, como a espontaneidade e a criatividade. Torna-se cada vez mais

necessário que os indivíduos estejam aptos a dar novas respostas frente as suas condições de

trabalho, desenvolvendo, na medida do possível, comportamentos mais adequados a si mesmos e

às condições oferecidas a eles.

Além disso, acreditamos que a metodologia de trabalho da Socionomia traz vários

instrumentos que envolvem outras vias de comunicação para o indivíduo, contribuindo para uma

outra forma de intervenção nas organizações. Supomos que uma metodologia que envolve a

expressão corporal, a representação física e a dramatização pelos indivíduos de seus conflitos,

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44

possibilita uma maior compreensão das questões que atravessam suas vivências no trabalho e de

suas relações interpessoais no ambiente organizacional.

Devemos dizer que as semelhanças, assim como as divergências encontradas ao longo de

nossa pesquisa, nos motivam significativamente para um estudo aprofundado da obra de Dejours

e de Moreno, assim como para a construção de conhecimentos, com base na Socionomia, para o

campo da Saúde Mental e Trabalho.

Chegando ao fim de nosso trabalho, precisamos ressaltar aqui um ponto importante:

entendemos que as diversas práticas nas instituições que utilizam os instrumentos da Socionomia

trabalham, obviamente, a saúde do indivíduo a todo o momento, partindo do pressuposto de que

as intervenções realizadas visam a organização e as relações interpessoais em sua maioria.

Quando falamos em desenvolver estudos nessa área, com base na Socionomia, não estamos

dizendo, portanto, que intervenções da Socionomia visando a saúde no trabalho não ocorram,

mas que, atentamos aqui, para a construção de conhecimentos específicos no que diz respeito à

relação do homem com seu trabalho, enfatizando os processos de adoecimento e preservação de

sua saúde no trabalho.

Observamos ao longo de nossa pesquisa que a bibliografia disponível a respeito do tema

em Socionomia é escassa e atentamos, portanto, para um maior interesse no estudo do assunto

que discutimos aqui, visto que a Socionomia se mostrou, até o momento, para nós, uma

abordagem privilegiada para lidarmos com as questões da saúde no trabalho.

Acreditamos que, além dos pontos que abordamos no presente trabalho, várias outras

relações devem ser discutidas e aprofundadas. Apontamos a necessidade de um estudo da relação

entre homem e trabalho a partir dos conceitos da Socionomia, estabelecendo-se assim uma visão

sobre o que é trabalho e qual seu papel no desenvolvimento do indivíduo.

Além disso, vê-se a necessidade de aprofundarmos o estudo dos processos de obtenção de

prazer do homem no trabalho, pesquisando quais seriam os mecanismos envolvidos com base nos

conceitos de espontaneidade, criatividade e conserva cultural.

Compreendemos, ao término desse trabalho, que nossos objetivos com a pesquisa

realizada foram alcançados e que os resultados obtidos nos motivam a prosseguir no estudo do

tema. Entendemos que as discussões aqui realizadas não esgotam de forma alguma as conexões

que trabalhamos, mas muito pelo contrário, demandam um aprofundamento e abrem a

possibilidade para novos questionamentos.

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O campo da Saúde Mental e Trabalho apresenta, atualmente, grande crescimento e

acreditamos que este estudo irá contribuir para o desenvolvimento de novas pesquisas na área e

para a construção de novos conhecimentos que possibilitem, cada vez mais, acurarmos nossa

visão acerca dos processos envolvidos na relação entre o homem e seu trabalho.

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46

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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