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Leonídia Alfredo Guimarães ASPECTOS TEÓRICOS E FILOSÓFICOS DO PSICODRAMA SALVADOR – BAHIA Ano de Organização dos textos produzidos: 2000

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Page 1: Aspectos Teoricos Filosoficos Psicodrama

Leonídia Alfredo Guimarães

ASPECTOS TEÓRICOSE

FILOSÓFICOS DO PSICODRAMA

SALVADOR – BAHIAAno de Organização dos textos produzidos:

2000

Page 2: Aspectos Teoricos Filosoficos Psicodrama

ÍNDICE

Aspectos Teóricos e Filosóficos do PsicodramaPor Leonídia Alfredo Guimarães

Introdução

Cap. 1 : História do Psicodrama – Da Evolução do Criador à Evolução daCriação...................................................03Cap. 2: Bases Filosóficas do Psicodrama – Um ensaiopsicodramático.....................................................................09Cap. 3: A Socionomia como PropostaIntegrativa.......................................................................................................16Cap. 4: Sobre a Teoria dosPapéis ................................................. .......................................................................22Cap.5 : A Criação de Cenas através da Forma e a Emergência deConteúdo.............................................................24Cap. 6 : A Música como ObjetoIntermediário.............................................................................................................26Cap. 7 : As Técnicas doIngeridor...............................................................................................................................30Cap. 8: Efeitos do Psicodrama – algumas incompatibilidades entre contexto einstrumento...................................36

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Textos Anexos escritos por outros autores

Anexo I - Aspectos da Unidade Funcional para complementação depersonalidades............................................ 48 Por Alfredo e Cia, Roberto Glauss e Suzana Etcheverry Anexo II – Coletânea sobre Filosofia Hermética – YogaKundalini .............................................................................54 Por Celina Estela SantosAnexo III – Texto de Dinâmica de Grupo – JardimZoológico ................................................................................... 58 Por Lauro de Oliveira Lima

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Capítulo 1

História do Psicodrama:Da Evolução do Criador à Evolução da Criação.

O Criador do Psicodrama

Jacob Levy Moreno nasceu em Bucareste- Romênia, em 18 de maio de 1889, às 16:00 horas.Morreu em Beacon- Estados Unidos, quatro dias antes de completar os seus 85 anos, em 14de maio de 1974, no Instituto Moreno de Nova York. Era descendente de família judia, oriundada Península Ibérica. Seu pai era judeu de origem espanhola e sua mãe eslava . Jacob Levy,o primogênito entre seis irmãos. A família emigrou sucessivamente para a Turquia, Mar Negroe para as margens do Rio Danúbio, local onde Moreno viveu até os 5 anos de idade. Em1895, a sua família radicou-se na Áustria, em Viena, cidade onde Moreno cresceu, estudouFilosofia e Medicina e desenvolveu as suas primeiras experiências com o Teatro Espontâneo,até o ano de 1924.

Concepção do Psicodrama

Moreno conta que aos 4 anos e meio organizou uma brincadeira com algumas crianças noporão da sua casa, empilhando cadeiras sobre uma mesa, até o teto, para brincar de serDeus : seus amigos faziam o papel de anjos e incentivavam para que ele voasse até o chão,ação dramática assumida pelo pequeno protagonista embalado pelos sonhos de ser Deus. Oresultado imediato foi uma fratura no braço esquerdo. A longo prazo, essa experiência étomada como uma Cena precursora da criação do Psicodrama. Moreno ao mesmo tempo emque dirige a cena, transforma-se em autor e ator do drama. Seu público compartilha eestimula o protagonista à ação. A experiência marca e a idéia germina na adolescência.

Durante a adolescência (1908-1911), Moreno apaixona-se pelo teatro, pela filosofia e portrabalhos comunitários de recreação. Lê Rousseau, Pestallozi , Froebel e gosta do contatocom pequenos grupos de crianças, nos jardins de Viena, onde propõe e improvisabrincadeiras, distribuindo-lhes papéis. A experiência oferece-lhe estímulos para que realizeem 1911, no Kindergarden, um Teatro de Crianças, a sua primeira sessão de TeatroEspontâneo, ainda como estudante.

Em 1909, Moreno ingressa na Universidade de Viena, primeiro como estudante de Filosofia,depois de Medicina.. Faz aulas de psiquiatria e psicanálise com Freud, mas não identifica-seà teoria freudiana : conta que, num rápido encontro com Freud, após uma aula sobre a

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Interpretação dos Sonhos, foi questionado acerca das suas ocupações e respondeu oseguinte: “ O Senhor vê as pessoas no ambiente artificial do seu Gabinete. Eu vejo-as na rua, na casadelas, em seu ambiente natural. O Senhor analisa os sonhos das pessoas. Eu procuro dar-lhes mais coragem para que sonhem de novo. Ensino as pessoas a como brincarem de serDeus”.

Ao que parece, a irreverência de Moreno para com os modelos sociais estabelecidos vai lhepermitir a concepção da sua idéia original; mas, em contrapartida, o veremos passar anos afio aprimorando-se para assumir oficialmente o seu papel de psicoterapêuta e ser finalmenteaceito no meio científico. Enquanto não chega esse momento, Moreno vive, experimenta,confunde-se nos papéis de criador – criatura- cidadão. Mas não desiste : Entre 1913 e 1914,realiza a sua première como estudante de psiquiatria, participando de um trabalho com umgrupo de meretrizes do Spittelberg, bairro de Viena, assistido por um médico e um psiquiatrapsicanalista.

Em 1914, formula o seu Convite a um Encontro, onde já podemos ver alguns dos conceitosbásicos estabelecidos, posteriormente, para o Psicodrama : a psicoterapia frente a frente,centrada no aqui e agora, a postura de contato direto e caloroso com o paciente e a técnicade inversão de papéis:

Divisa

Mais importante do que a ciência, é o seu resultado,Uma resposta provoca uma série de perguntas.

Mais importante do que a poesia, é o seu resultado,Um poema invoca uma centena de atos heróicos.

Mais importante do que o reconhecimento, é o seu resultado,O resultado é dor e culpa.

Mais importante do que a procriação é a criança.Mais importante do que a evolução da criação é a evolução do criador.

Em lugar de passos imperativos, o imperador.Em lugar dos passos criativos, o criador.

Um encontro de dois : olhos nos olhos, face a face.E quando estiveres perto, arrancarei teus olhos

E os colocarei no lugar dos meus;E arrancarei os meus olhos

Para colocá-los no lugar dos teus

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Então ver-te-ei com os teus olhosE tu me verás com os meus.

Assim, até a coisa comum serve ao silêncioE o nosso encontro permanecerá a meta sem cadeias:

Um lugar indeterminado, num tempo indeterminado Uma palavra indeterminada para um homem indeterminado.

(Psicodrama,2ª edição,SP.,1978)

De 1915 a 1917, Moreno realiza um outro trabalho de grupo, dessa vez no campo deMittendorf, com soldados tirolesses refugiados em Viena. Após este trabalho, concebealgumas idéias a respeito das estruturas grupais e do efeito terapêutico do grupo sobre oindivíduo.

Em 1917, após formar-se em Medicina, Moreno publica a revista Daimon, tendo comocolaboradores alguns membros do movimento expressionista vienense: Franz Kafka, MartinBuber, Max Scheller, Francis James, Jacob Wasserman, Arthur Schmitzler e Franz Werfel.Moreno mantém a publicação da revista Daimon até 1920 e nela publica as suas primeirasexperiências e principais idéias.

Conta-nos Moreno que, no início da sua carreira , não conseguia conter o seu desejomessiânico de recriação do universo social e de construir um palco para expurgar as dores esofrimentos dos pequenos grupos. Admirava Marx, pela sua preocupação social ehumanística em relação ao povo, mas, criticava-o por haver esquecido o cidadão enquantoindivíduo. Moreno era então um socialista convicto e atuante, embora não adepto. Dirigia suaenergia para questões sociais, é certo , mas sem esquecer-se nunca da sua própriaexistência, que queria libertária, espontânea e criativa. Parece profundamente religioso, aocitar Cristo, Buda, Maomé e Gandhi, mas critica os existencialistas profetas que, do seu pontode vista, não conseguiram consolidar sua própria existência e que morreram prisioneiros dosseus ideais, a exemplo de Nietzche e Kierkegaard. Admira e reconhece como verdadeirosrepresentantes do existencialismo, um grupo que estava inserido no seu contexto histórico esocial, surgido no período de 1900 a 1920, em Viena, e que praticava a filosofia do Seinismo ,segundo a qual, Ser e Saber são condições inseparáveis, influindo-se mutuamente. Estafilosofia, também chamada de Hassidismo, é originária da Cabala e do judaísmo místico.Reúne numa só realidade a existência e o pensamento, e defende além da existência de umDeus cósmico, presente em cada pessoa enquanto centelhas divinas, a manutenção do fluxonatural e espontâneo da existência, a importância de viver-se o momento presente, sem ater-se ao passado ou ao futuro, a importância da liberdade, espontaneidade e criatividade.

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A filosofia do Hassidismo aproxima-se em alguns aspectos das idéias de Bergson ( élan vital)e da teoria do Eu e Tu de Martin Buber. Ao mesmo tempo, diferenciam-se : O Deus deMoreno não é um Deus-Tu, um Deus-Ele é um Deus igual a ele próprio, presente nele e porisso em relação direta, não hierárquica, inseparável, transcendente, tipo : “Eu sou Deus” e,que lhe permite falar pelo outro. Moreno escreve na orelha do seu livro Psicodrama : “Deus éespontaneidade. Daí o mandamento: Sê Espontâneo”.

O Hassidismo é portanto, a filosofia de base de Moreno e do Psicodrama , pois são dessesconceitos que Moreno formula posteriormente a Doutrina da Espontaneidade – Criatividade.Poderemos ver a influência de outras correntes filosóficas, como a fenomenologia de Husserle o materialismo histórico de Marx, posteriormente, à medida em que o psicodrama, asociometria, a psicoterapia de grupo e a proposta da sociatria vão estabelecendo o contornodos métodos psicodramáticos.

Mas, a partir da sua fenomelogia existencial, já era possível a Moreno, investir numa açãomais elaborada e abrir espaços onde pudesse explorar as suas idéias. Em 1920, Morenopublicou o seu primeiro livro Das Testament des Vaters e depois, realizou o seu 1º Ato PúblicoPsicodramático, no dia 1 de abril de 1921, dia dos loucos, na Áustria, dia da mentira, paranós. Neste evento, realizado no período de pós guerra e com o governo austríaco em plenadesordem, Moreno propôs como tema dramático a escolha do Rei da Áustria e conseguiuvários voluntários para encená-lo. Mas o público não elegeu nenhum dos Reis representados,o que deve ter sido bastante frustrante para Moreno, levando-se em conta inclusive que aliestavam sendo lançadas as bases para o enquadre do Sociodrama, trabalhadoposteriormente.

Moreno persegue as suas idéias e projeta no ano seguinte ( 1922 ), com a ajuda do seuirmão William, um Teatro da Espontaneidade (Das Stegreiftheater), em Viena, onde passa arealizar improvisações espontâneas com um grupo de atores profissionais, até descobrir quea representação espontânea de situações da vida cotidiana produzem efeitos terapêuticos(1924) . A história que Moreno nos conta é que uma das atrizes que freqüentava o teatro como seu marido, e que elegia sempre papéis dóceis e carinhosos para representar; era segundoo marido, uma verdadeira megera na intimidade do lar. Intrigado com a incongruência, Morenopassou a dar-lhe papéis opostos aos que vinha representando. Soube posteriormente, atravésdo marido desta atriz, que ela tornara-se mais calma e carinhosa com ele. Descobriu, dessaforma, os efeitos terapêuticos do seu manejo técnico e passou a designar o seu TeatroEspontâneo como Teatro Terapêutico. Moreno atribuiu a essa atriz o nome de Bárbara e aomarido, o nome de George, para citar o seu primeiro Caso Clínico. São eles os seus primeiros“pacientes- espontâneos”, ou seja, isentos de um contrato terapêutico, já que a proposta deMoreno era apenas de representação dramática, com atores profissionais.

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Nessa época, o trabalho de Moreno consistia em dirigir peças espontâneas a partir de temasescolhidos pelo grupo. Costumava usar também, a leitura de jornais do dia, para escolha edramatização de matérias com as quais o grupo se identificava. Esse técnica ficou depoisconhecida com o nome de Jornal Vivo. Ao perceber o valor terapêutico do trabalho que vinhafazendo, Moreno usou novamente o seu manejo técnico com outro casal , Robert e Diora.Mas desta vez não conseguiu o sucesso que esperava : Diora separou-se de Robert e, no diaseguinte ele suicidou-se. René Marineau cita, na bibliografia que fez de Moreno, que esteepisódio abalou profundamente as convicções de Moreno, e provou uma parada parareflexão. Incomoda a Moreno, o fato de não haver previsto a possibilidade de suicídio eleresolve, no ano seguinte, mudar-se da Áustria.

Ao sair da Áustria, Moreno já dispunha de vários recursos técnicos para desenvolver oPsicodrama : o setting da sessão e algumas técnicas, como a inversão de papéis e o duplo, jáhaviam sido bastante exploradas e testadas, e já haviam indicado o seu valor terapêutico. Oano de 1924 fez, então, duas revelações a Moreno: uma relativa ao valor terapêutico dadramatização espontânea e da inversão de papéis; e outra de alerta, quanto ao uso dessesmétodos sem enquadre clínico. Mas, podemos considerar concebida a teoria básica doPsicodrama.

Neste mesmo ano, é editado o O Teatro da Espontaneidade. Neste livro, Moreno definiuquatro enquadres psicodramáticos : o Axiodrama, onde o público assume o papel deinstigador sistemático para desvendar a Cena a partir da pessoa privada do ator, derrubandoas suas máscaras e conservas culturais; o Teatro de Improviso, onde o drama é encenado daforma como surge, com atores e protagonistas espontâneos; o Teatro Terapêutico, ondeexiste um conflito a ser trabalhado e as pessoas representam a própria vida; e o Teatro doCriador, mais próximo ao que mais tarde ficou conhecido pelo nome de Psicodrama Individual.Moreno projeta também nesse livro, o seu palco psicodramático e refere os caminhos dasociometria, da psicoterapia de grupo e do psicodrama terapêutico.

Tomemos, então, o ano de 1924 como o ano de nascimento do Psicodrama, na mesma Vienade Freud e em plena efervescência da Psicanálise. Com certeza, não era este o contextohistórico e cultural propício à Moreno e ao desenvolvimento do Psicodrama. Conta-se até, queem 1921, Moreno tivera um sonho “antecipatório”, da sua saída da Áustria. Moreno decide,finalmente, deixar Viena.

Evolução do Criador e sua Criação

Em 1925 Moreno muda-se para os Estados Unidos e instala-se em Beacon- Nova York. Em1927, casa-se com Beatrice Beecher e passa a assumir, sucessivamente, os papéis sociaispara os quais fora preparado : abre uma Clínica Psiquiátrica, anexa à sua residência e realiza

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no ano seguinte, a sua primeira demonstração pública do Psicodrama, no Carnegie Hall, ondepassa a dirigir sessões de Psicodrama Público, três vezes por semana, até 1931. Neste ano,publica a Revista Improviso , abordando sobre os seus métodos de psicoterapia de grupo epaulatinamente vai encontrando apoio às suas idéias, participando de Conferências e fazendodemonstrações do seu trabalho em Escolas, Igrejas e Universidades. Em 1932, apresenta emFiladélfia, no I Congresso de Psiquiatria da Sociedade Americana, o trabalho que realizaracom os prisioneiros de Sing Sing, denominando- o de Psicoterapia de Grupo. Compra brigacom Slavson, líder americano da psicoterapia de grupo, e vai adiante, dedicando-se a umapesquisa sobre as relações interpessoais na Comunidade de Hudson, com jovensdelinqüentes. Encontra a colaboração de Helen Jennings, que na época era orientada no seuCurso de pós-graduação- Universidade de Colômbia, por Gardner Murphy , abrindo-se dessaforma uma grande rede sociométrica para Moreno, no campo da Psicologia Social e daSociologia. Publica, em 1934, Quem Sobreviverá? reeditado posteriormente com o nome deFundamentos da Sociometria.

Consolidação do Psicodrama e da Sociometria

Os Fundamentos da Sociometria são bem acolhidos pela comunidade científica americana,praticados e desenvolvidos. Moreno é convidado a ensinar na Universidade. A partir de 1934,torna-se cidadão americano e, em 1936, abre um Hospital Psiquiátrico em Beacon, realizandotrabalho com psicóticos, em comunidade terapêutica. Anexo ao Hospital, passa a funcionartambém, a partir de 1941, o Instituto de Psicodrama de Nova York , freqüentado porpsicoterapeutas do mundo inteiro, em busca de formação. Moreno dedica-se à transmissãodos conhecimentos que adquiriu durante todo o desenvolvimento da sua teoria e prática, eautoriza seus formandos a proceder a formação de outros Psicodramatistas nos seus paísesde origem, conferindo-lhes o título de Diretor de Psicodrama. Funda também, a AssociaçãoAmericana de Sociometria e torna-se membro da Associação Psiquiátrica Americana. VáriosCongressos de Psicodrama são organizados em diversos países, e em 1968, Moreno recebeo título de Doutor Honores Causa, pela Universidade de Barcelona.

Disseminação do Psicodrama

A partir de 1946, o Psicodrama de Crianças começa a expandir-se na França, através doCentro Claude Bernard, a cargo de Jean Delay, Fouquet e Mireile Monod, que tem comocolaboradores André Berge, Henri Buchene, Françoise Dolto e Serge Lebovinci.

Em 1950, ainda na França, o Psicodrama se bifurca, dando origem ao Psicodrama Triádico eao Psicodrama Analítico. Segundo Didier Anzieu, formam-se quatro principais correntes :

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A de Serge Lebovinci, que confronta os métodos morenianos à psicanálise individual, e quefracassa;

A de Gravel e Bourreau que adotam as reformas de Mireile Monod, segundo as concepçõesde Slavson;

A de Anne-Marie Spenh, que conserva a noção de papel e representação dramática; e A de Anne-Ancelin Schutzenberg e Didier Anzieu, representantes, em Paris, do Psicodrama

Triádico e do Psicodrama Analítico, respectivamente. Ambos se baseiam nas noções teóricasde Jacques Lacan, considerando a representação dramática como uma estrutura, fazendo-aintervir no campo do Imaginário. Não adotam o modelo teórico proposto por Jacob LevyMoreno, apenas o seu setting terapêutico.

Em 1954, Moreno realiza a sua primeira demonstração pública do Psicodrama na França, porocasião do I Congresso Internacional de Psicoterapia de Grupo. E em 1960, faz o mesmo naRússia, ano em que publica também, o seu livro Psicoterapia de Grupo e Psicodrama .

Em 1962, o Psicodrama chega ao Brasil, através de Pierre Weil, que formou-se emPsicodrama na França, com Anne-Ancelin Schutzemberg, formada no Instituto de Nova York.Pierre Weil radicou-se em Belo Horizonte e adotou a linha do Psicodrama Triádico, abrindoum Núcleo de formação em Psicodrama.

Em 1963, o Psicodrama começa a difundir-se na Argentina, através de Jaime Rojas-Bermúdez, que após receber o título de Diretor de Psicodrama, no Instituto de Nova York,passou a realizar formações em Psicodrama Terapêutico e Aplicado, fundando a AssociaçãoArgentina de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo- AAPGP. Outros Diretores de Psicodrama,fazem o mesmo e o Psicodrama chega : Na Venezuela, através de Robert Fontaine eFernando Risques. No Peru, através de Dalida de Platero. E chega ao Uruguai, em 1970,através de Raymondo Dinello.

Entre 1969 e 1970 o Psicodrama desenvolveu-se rapidamente, tanto na Argentina, sob aliderança de Jaime Rojas-Bermúdez ( AAPGP )quanto no Brasil, inicialmente através deAlfredo Correia Soeiro, formado por Rojas-Bermúdez, e que mantinha o Grupo de Estudos dePsicodrama de São Paulo- GEPSP.

Nesse período, após o IV Congresso Internacional de Psicodrama, realizado em BuenosAires, surgiram as divergências teóricas nos dois grupos liderados por Rojas-Bermúdez,criador da Teoria do Núcleo do Eu, e as duas associações cindiram-se : Na Argentina, foramcriados vários Institutos de Psicodrama, permanecendo AAPGP. No Brasil, o antigo grupo doGEPSP foi extinto : alguns membros criaram a Associação Brasileira de Psicodrama eSociodrama –ABPS, que permaneceu vinculada à Rojas-Bermúdez; e outros membros,

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criaram a Sociedade de Psicodrama de São Paulo – SOPSP, que passaram a vincular-seaos Institutos de Psicodrama criados na Argentina.

Em Salvador, Bahia, o Psicodrama foi introduzido por Waldeck e Graciela D’Almeida , casalformado por Rojas-Bermúdez , na Argentina, após a realização da 1ª Semana de Psicodramada Bahia, em julho de 1973. Em abril de 1974, Waldeck D’Almeida fundou e assumiu apresidência da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo – ASBAP, quesegue a orientação teórica de Rojas-Bermúdez.

Do 1º grupo de formação da ASBAP, surgiu um outro grupo dissidente de Rojas-Bermúdez,que concluiu sua formação através da SOPSP, e que fundou posteriormente, a SOPBA –Sociedade de Psicodrama da Bahia, que é liderada por Paulo Amado e Romélia Santos.

Recentemente, em 1994, foi criado um outro centro de Psicodrama em Salvador, o CEPS –Centro de Psicodrama e Sociodrama, fundado por Thereza Valladares, formada pela ASBAPe que segue a mesma linha de Rojas-Bermúdez.

Após o surgimento de vários centros de formação em Psicodrama no Brasil, surgiu a propostade criação da FEBRAP- Federação Brasileira de Psicodrama, fundada em 1976, com afunção de integrar esses diversos centros enquanto entidades federadas e de regulamentarcurrículos de formação para obtenção do título de Psicodramatista. A FEBRAP congregaatualmente, um total de 40 entidades federadas : 17 em São Paulo; 04 no Paraná, e 01 emSanta Catarina (Região Sul); 03 no Rio de Janeiro; 01 em Vitória do Espírito Santo e 01 emJuiz de Fora (Região Sudeste); 03 na Bahia e 03 em Fortaleza (Região Norte/Nordeste); 03em Brasília, 01 em Minas Gerais, 01 no Mato Grosso do Sul e 01 em Goiânia ( Região CentroOeste).

Referências BibliográficasANZIEU, D.- Psicodrama Analítico, Campus, RJ,1981BERMÚDEZ, R.J.- Introdução ao Psicodrama, Mestre Jou, SP,1970FONSECA FILHO, S.J.- Psicodrama da Loucura-Correlações entre Buber e Moreno, Ágora,SP, 1980MARINEAU, F.R.- Jacob Levy Moreno- 1889-1974 : Pai do psicodrama, da sociometria e dapsicoterapia de grupo, Ágora,SP,1992MORENO, J.L. – Fundamentos do Psicodrama, 1ª ed. 1959,Summus,Vol.20, SP, 1983 ..............................Psicodrama, Cultrix, 2ª Ed. em Português, SP., 1974

Observação:Dados sobre Federadas : retirados do site da FEBRAP

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Capítulo 2

Bases Filosóficas do Psicodrama : Um ensaio psicodramático

“Cada um dos nossos pensamentosnão é mais do que um instante de nossa vida

Nós utilizamos cada dia, para alcaçar um pouco de verdade”Romain Rolland – Jean Christophe

Sabe-se que, tanto a teoria quanto a prática psicodramática, traduzem uma posturafilosófica basicamente existencial , textualmente explícita e particularizada pelo seu criador,Jacob Levy Moreno. Mas cabe sobre este tema, algumas reflexões, mesmo que sejam postasa nível de um “ensaio psicodramático teórico”.

Comecemos, então, examinando a “panorâmica” traçada por Moreno (Fundamentos doPsicodrama, 1983) a respeito do movimento existencialista moderno, iniciado por Hegel eKierkegaard e prosseguido por Sartre e Heidegger.

Vimos que, historicamente, Moreno divide o movimento existencialista moderno emtrês fases, começando pelo Existencialismo Cristão de Kierkegaard, em meados do séculoXIX, passando pelo Existencialismo Heróico encarnado pelo Seinismo e surgido antes daSegunda grande guerra mundial ( 1900-1920), cujos principais expoentes filosóficos foramJohn Kellmer, Leon Tolstoi e Charles Péguy , incluindo na terceira fase do movimento, oExistencialismo comtemporâneo de Heidegger e Sartre.

KIERKEGAARD Kierkegaard comtrapunha-se à compreensão do indivíduo enquanto manifestação do

Espírito Absoluto, a ser incorporado no sistema, como sugeria Hegel, insistindo nanecessidade de apropriação subjetiva da verdade e ligando o pensar racional a algo queestivesse vinculado à raiz mais profunda da existência. Em nome do cristianismo peloindivíduo, Kierkegaard defendeu a subjetividade e a singularidade deste, assumindo comobandeira a defesa pela liberdade e responsabilidade individuais. Sublinha dessa forma, asdiferenças que são características da subjetividade, de forma contrária a Hegel, que defendea liberdade como razão de ser essencial de todo progresso, em detrimento do indivíduo livre.

As idéias de Kierkegaard , com quem Moreno conviveu por longo tempo, são tomadascomo uma das bases filosóficas do Psicodrama, embora Moreno realce em sua análise deKierkegaard que o mesmo não conseguiu consolidar a sua própria existência enquanto umfenômeno geral, prejudicando a sua vida particular à favor da Igreja Cristã. Pensamos que,com essa análise crítica, Moreno realça a sua própria proposta ao criar os pilares filosóficos

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do Psicodrama, ou seja, em vez de realizar uma análise da existência, Moreno propõe-se como seu método a realizar uma análise existencial.

Prosseguindo a sua análise acerca do movimento existencialista moderno, Morenositua o período de 1900 a 1920 como equivalente à existência profética de Kierkegaard, destavez “in actu” e “in situ” , marcado pela transformação da existência e do pensamento,mesclados à uma só realidade.

Esta fase, chamada de Existencialismo Heróico, foi iniciada por John Kellmer, LeonTolstói e Charles Péguy, considerados grandes pensadores existencialistas. Moreno contudo,critica-os veementemente, atribuindo aos mesmos uma “neurose de criatividade”, uma vezque, tal como os seus antecessores profetas, não conseguiram realizar a sua própriaexistência e também, aos seus sucessores do próximo período que, segundo Moreno, nãoconseguiram dar à sua existência uma nova expressão de pensamento, isolando-se docontexto histórico.

Moreno escolhe como verdadeiros representantes do Existencialismo Heróico o grupodo “Seinismo” : representantes adeptos a uma “ciência do ser” , que expressava de formaplena a filosofia existencial e fenomenológica, onde a idéia do Ser foi adotada e vivida, sem oreconhecimento de limites e incluindo cada instante da existência. Surgido antes da 2a Guerra,também em Viana, o Seinismo defendia o pensamento segundo o qual SER e SABER sãoinseparáveis; sendo que o Ser é uma pre-condição do Saber, pois a partir do Saber nunca sepoderia alcançar o Ser. Os princípios básicos deste grupo consistiam em manter o fluxonatural e espontâneo da existência sem ater-se ao passado ou ao futuro, vivendo sempre asituação do momento presente, o instante, a espontaneidade e a criatividade.

É dispensável registrar que é desta idéia filosófica básica que decorrem os principaisconceitos teóricos do Psicodrama, delineados por Moreno na Teoria da Espontaneidade.

Chegamos então, à terceira fase do movimento existencialista moderno, denominadopor Moreno como Existencialismo Intelectual Contemporâneo, onde figuram como destaqueHeidegger e Sartre no campo da filosofia, e Jaspers, no campo da psiquiatria . Esta fase ficoucaracterizada por uma preocupação radical com o conhecimento dos problemas da existência,adotando uma corrente de pensamento essencialmente racional .

Moreno não demonstra simpatias por esta corrente de pensamento, embora atribua-seo conceito moreniano de subjetividade ao conceito de subjetividade de Sartre, o qual teria sidoampliado para incluir o fenômeno como histórico.

Sartre acentua a questão da subjetividade como uma verdade inter-subjetiva, quenesse sentido é a-histórica. Moreno, ao contrário, toma a subjetividade como um fenômenohistórico, tal como Marx e Husserl, onde a verdade inter-subjetiva é encarada do ponto devista da realidade e do “aqui e agora” , ou seja, a partir do conhecimento vivencial doindivíduo, o que inclui seu pensamento, sentimento e ação. Nesse sentido, não vimos comochegar a uma correspondência de pensamento entre Moreno e Sartre no que se refere aoconceito de subjetividade.

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Contudo, outras influências filosóficas ficam patentes no delineamento dado ao métodopsicodramático, principalmente no que diz respeito à Sociometria, à Psicoterapia de Grupo eao Sociodrama, incluindo-se aqui também a dinâmica de construção do Eu, traçada porMoreno na Teoria dos Papéis.

Nos seus primeiros escritos Moreno refere-se continuamente à Freud e a Marx,opondo-se às suas teorias. Posteriormente, já em 1969, durante a realização do IV CongressoInternacional de Psicodrama, na Argentina, Moreno sintetiza as suas críticas à Marx com oseguinte discurso : “ Nunca se procurou trabalhar de baixo para cima. Karl Marx foi um grande pensador, masquis trabalhar com as grandes massas, esquecendo-se dos pequenos grupos, das pessoas, eesses pequenos grupos não tinham pais, não tinham mães, não tinham seu próprio eu epermaneceram passivos, esperando Hitler, esperando Mussolini ... Que aconteceu? Nada.Muito ruído, demasiado ruído...Seguramente, vocês dirão que já têm ouvido palavras; é certo,tem existido muitos homens sábios; Buda, Cristo, o foram. São palavras sábias, mas asabedoria não é suficiente, falta ação” ( Moreno, em Introdução ao Psicodrama, J.G.Rojas-Bermúdez, 1970).

Vejamos então um pouco do pensamento de Karl Marx e em que medida poderíamosencontra-los na teoria psicodramática.

A DIALÉTICA MARXISTADe acordo com a dialética marxista – método dialético proposto pelo materialismo

histórico, a realidade ou o indivíduo não podem ser dicotomizados. O concreto é a síntese demúltiplas inter-relações. Por isto não existe linearidade, ou seja, causa e efeito absolutos.Dessa forma, cada fato ou fenômeno teriam múltiplas causas, formando uma rede de relaçõesintrínsecas de realidades subjetivas, que num dado momento existem e que por isso sãohistóricas.

Marx combateu o materialismo mecânico e abstrato da ciência natural, que excluía ahistória e seus processos, defendendo o naturalismo ou humanismo, fortemente presente emsuas idéias. No seu entender, os cientistas naturais partiam do idealismo, filosofia segundo aqual não é o mundo dos sentidos, em constante mutação, que constitui a realidade e simessências incorpóreas ou idéias.

O materialismo histórico de Marx, em contraste ao existencialismo de Hegel, ensinaque o processo vital da realidade humana deve partir de homens reais e atuantes, baseando-se na realidade objetiva, a qual, traz os seus ecos ideológicos.

Vimos nesse ponto, uma correspondência importante entre os pensamentos deMoreno e os de Marx, que estuda a existência e a sua história a partir do homem real e dascondições econômicas e sociais em que vive, e não a partir das suas próprias idéias.

Consideremos, também, que a crítica que Marx faz a Hegel no que se refere àconsciência transcendental esotérica, decorre do próprio conceito de transcendência de

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Hegel, que parte da lógica formal para alcançar a lógica transcendental. Em Husserl,encontramos um outro conceito de transcendência, que parte de uma perspectiva naturalista,defendida por Marx, e que é proveniente do mundo dos sentidos; 2) No que se refere aoconceito de Deus, encontramos uma citação do próprio Moreno, criticando também os líderesprofetas, ao tempo em que personaliza o seu conceito de Deus :“ Na atualidade, quando o Deus-Eu esta universalizado, como em meu livro, todo o conceitode Deus se converte em humildade, debilidade e inferioridade : micromania mais quemegalomania. Deus jamais foi tão humildemente descrito e tão universal quanto em suadependência como em meu livro. Foi uma transformação importante a do Deus cósmico doshebreus, o Deus-Ele, em Deus vivo de Cristo, o Deus-Tu. Mas foi ainda muito maisdesafiante a transformação do Deus-Tu em Deus-Eu, que põe toda a responsabilidade emmim e em nós, no Eu e no Grupo... Os líderes, profetas e terapeutas de todos os tempos,sempre tentaram jogar o Deus e tentaram impor o seu magnífico poder e superioridade sobrea pobre gente, ao homem pequeno. No mundo psicodramático, a moeda deu a volta. O queencarna o Deus já não é mais o amo, o grande sacerdote ou o grande terapeuta” .( Psicodrama da Loucura, Fonseca F., 1980).

Voltando à Marx, vimos que ele distingue claramente o seu materialismo histórico domaterialismo contemporâneo dos existencialistas ideológicos, criticados por J.L. Moreno, ondeo objeto e a realidade não são apreendidos pelos próprios sentidos e a realidade é tomadacomo objeto de contemplação ( Anschawing) e não como uma prática da atividade sensorial.

Chegamos aqui a um outro ponto polêmico : até que ponto podemos considerar queMoreno sofreu influências marcantes de Martim Buber , filósofo seguidor do hassidismo ecriador da Teoria do Eu-Tu, também judeu radicado em Viena e que trabalhou na revistaDaimon entre 1918 e 1920 ?

O HASSIDISMOSegundo o que se sabe, o hassidismo é uma seita religiosa judia , originária da Cabala

e que provem do judaísmo místico, o qual prega a existência de um Deus cósmico, presenteem cada pessoa enquanto centelhas divinas. Embora este tipo de pensamento pareça terinfluenciado bastante a Moreno, no início dos seus trabalhos, vimos, a partir da citaçãoanteriormente colocada, que Moreno evoluiu posteriormente o seu conceito cósmico-místico.

Podemos verificar isso mais claramente ao estudar a Teoria Geral dos Papéis , a qualparte de um conceito dialético ativo, mais condizente à Dialética Marxista, onde os papéisemergem das formas reais e tangíveis que o eu adota, formando uma rede de relaçõessubjetivas e inter-subjetivas, lastreadas pela Tele e o Encontro. Em Buber, pelo que pudemosver, existe uma relação dialógica entre o EU-TU, sugerindo uma relação unilateralcontemplativa, passiva e idealizada, e que hierarquiza os pares. A perspectiva do Encontromoreniano é pois, diferente da perspectiva do Encontro de Buber : Moreno defende a relação

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horizontal, ativa e direta, baseada no inter-relacionamento dinâmico. E vem dessa perspectivafilosófica, o desenvolvimento da Sociometria e da Psicoterapia de Grupo, ao que nos parece.

Resta-nos agora examinar sobre uma outra corrente filosófica, que do nosso ponto devista encontra-se estreitamente relacionada à teoria e prática psicodramática. Trata-se daFenomenologia de Husserl, assunto que trataremos agora.

NOÇÃO GERAL DE FENOMENOLOGIA

A palavra fenômeno ( aquilo que aparece) foi usada na filosofia desde Platão e Aristóteles,adquirindo no decorrer do tempo um sentido cada vez mais subjetivo. Em Husserl, desliga-secompletamente da relação a qualquer objeto exterior à consciência, referindo-se ao puroobjeto imanente enquanto aparece na consciência.

A palavra fenomenologia foi usada inicialmente por Lambert, em 1764, assumindo osignificado de “doutrina da aparência” . Posteriormente foi usada por Kant e sobretudo porHegel, mas sempre num sentido diferente daquele que lhe deu Husserl.

Em sentido corrente, a palavra fenomenologia, derivada de logos ( razão, descrição), éusada para descrever ou dar uma razão íntima ao fenômeno. Mas, recebe a partir de Husserlum significado particular : “ a fenomenologia é também e principalmente um método filosóficoe uma atitude especificamente filosófica” .

Baseando-se nesta noção de fenomenologia Husserl elabora um método de depuraçãorigorosa ( Epoché), de tudo o que não oferece garantia suficiente de uma EvidênciaApodíctica ( intuição pura, sensível, intelectiva e universal) . Toma como objeto o fenômenopuro ( consciência inter-subjetiva) acerca do qual não poderá haver nenhuma dúvida. Seumétodo de evidenciação é um método descritivo, que explora a intuição pura na presença doobjeto, e rigorosamente analítico, buscando averiguar tudo o que se pode incluir comoexperiência transcendental.

O método fenomenológico de Husserl, como já foi dito, consiste em fazer reduções daspartes questionáveis ou sujeitas a deduções e contradições. Desenvolve-se gradualmente,submetendo-se a várias epochés : 1) redução do objeto à consciência; 2) redução psicológicado objeto; e 3) redução transcendental do objeto.

Durante a redução psicológica ainda não se põe “entre parênteses” a existência naturalou mundana do eu, nem os seus atos ou vivências ( Erlebnis), os quais conservam um caráterpsicológico. Através da redução do objeto, Husserl pretende atingir a consciênciatranscendental, chamada de consciência pura, pondo “entre parênteses”a existênciapsicológica.

Assim, a fenomenologia de Husserl põe “fora de circuito” a realidade da natureza, atémesmo a realidade do céu e da terra, dos homens e dos animais, do próprio eu e do eualheio. Mas retém o sentido de tudo isso. É este o eu puro que pode apreender, sem perigode erro, tudo o que se lhe apresentar como fenômeno da consciência. Foi dessa forma queHusserl disse haver chegado a um idealismo transcendental fenomenológico. Esse idealismo

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mantém-se contudo, apenas na atitude transcendental. Na atitude natural a realidade éconcebida como existente em si mesmo, independente da consciência. O mundo não é umailusão subjetiva, mas uma realidade natural, aspecto que coincide com o “objeto intencional”da fenomenologia .

Finalizando, vamos analisar agora, as cinco principais características fenomenologiahusserliana:

1) O “APRIORI” ( EPOCHÉ) Temos de proceder com plena ausência de pressupostos e com inteira liberdade ,

“reduzindo” ( epoché) todas as influências de opiniões científicas ou filosóficas, parapodermos nos orientar exclusivamente pelas coisas em si, aprioristicamente, admitindo-seque “Não é das filosofias que deve partir o impulso da investigação, mas sim das coisas e dosproblemas”( Husserl) .

2) A EVIDÊNCIAO fundamento radical tem de ser evidente por si mesmo, os fatos devem excluir as

dúvidas de modo absoluto e imediato ( evidência apodíctica), tal como um reflexo, uma auto-reflexão, plenamente esclarecedora do sentido da coisa ( Sinn). Esta noção de evidência estarelacionada ao conceito de intuição . A intuição enquanto uma evidência apodíctica é : -uma intuição sensível ( evidência de sentimento)

- uma intuição intelectiva ( Imagem), aquilo que pode afirmar o conteúdo- uma intuição eidética ( Perceptiva), evidência de conceitos universais, essências e “eidos” que

podem ser apreendidos de imediato através da presença do objeto e na sua corporiedade, oude modo indireto, através de uma recordação ou Imagem. No caso da Imagem, temos umaintuição originária, também chamada de percepção, no sentido estrito (wahrnehmung).

3- A INTENCIONALIDADEA intencionalidade parte do eu e invade temporariamente os dados materiais,

unificando-os em ordem à constituição e designação do objeto enquanto consciente esignificado. Informando os dados materiais, dá origem à compreensão subjetiva, que é oelemento real da vivência, chamado de “Nóesis” . A nóesis é projetada ao objeto, originando avivência objetivamente orientada, que Husserl chama de “Noema” . O noema é o elementoirracional ou intencional da vivência ( aquilo que foi colocado “entre parêntesis” ) . Esseelemento irreal encontra o sentido do objeto intencional ou o sentido objetivo e, por isso,transcende a vivência para um pólo oposto ao eu puro. Porém, essa transcendência efetua-sena imanência. O objeto intencional difere pois do objeto real, existente em si mesmo, exteriorà consciência. Foi dessa forma que Husserl chegou a um idealismo transcendentalfenomenológico, admitido por poucos, onde por exemplo, o sentimento existe enquantoqualidade ( amor, por exemplo), independentemente da vivência e de que realmente haja umobjeto intencional ( alguém, um outro ).

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Vimos então que o conceito de intencionalidade de Husserl, não trata aintencionalidade como uma qualidade subjetiva dependente de um objeto externo ( ex.: quemama, ama a alguém) . Isto contrapõe-se a Sartre, que considera sempre o fenômeno comohistórico e enquanto uma evidência da relação sujeito-objeto.

4- A LÓGICA DA CONTRADIÇÃOHusserl chama a atenção para o ato e a conteúdo do ato. Enquanto a Psicologia

Experimental diz que não pode haver um conteúdo do ato , sem o ato, ele argumenta que issonão implica que as leis reguladoras do ato e do conteúdo sejam as mesmas; se assim fosse,teríamos que reger os conteúdos pelas leis que regulam os atos. Neste caso, a verdade quese refere ao conteúdo ficaria dependente do processo psicológico que se refere ao ato,levando-nos a um puro subjetivismo e relativismo da verdade. Considerando que a verdade éobjetiva e absoluta, Husserl vê aí um contradição lógica. Afirma então que o que se dá éjustamente o contrário : é o ato que depende das leis do conteúdo, para estar emconformidade com a matemática.

É nesse ponto que Husserl rompe com a lógica formal e parte para o estudo do fenômenopuro, formulando a lógica da contradição ou a lógica da verdade, mais profunda e radical, nodomínio da qual se manifesta o impulso reflexo de evidenciação.

5- A INTERSUBJETIVIDADE

Quando a objetividade se fundamenta pela relação a um objeto exterior, basta provar estaimposição como necessária, para garantir sua validez. Mas se o objeto é considerado comomeramente significado, o único modo absolutamente válido de garantir o seu caráter deexistência é esclarecer que o conhecimento dele não é meramente subjetivo ( em única direção ), mas intersubjetivo ( em direção dupla ). Dessa forma fica afastada aidéia de anomalia individual.

Segundo Husserl, é graças a uma espécie de intropatia ( Einfuhlung) que se constitui aconsciência transcendental, e outros eus como sujeitos cognoscentes, idênticos a mimmesmo. O objeto intencional constituído de intersubjetividade ( em dupla direção) é paraHusserl o fenômeno no seu pleno grau de evidência..

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CONCLUSÃO

Ao término do nosso estudo, e de acordo com tudo o que foi aqui colocado a respeitodas principais correntes filosóficas, que direta ou indiretamente, poderiam terinfluenciado o pensamento de Moreno, ao criar o método psicodramático, chegamostambém à conclusão de que, várias correlações metodológicas podem ser feitas entreo Psicodrama e a fenomenologia de Husserl, como por exemplo :

1) O conceito de Intersubjetividade e os conceitos de Tele e Encontro;2) A lógica da Contradição e a proposta do “faz de conta” da dramatização, em busca da

verdade;3) O conceito de Intencionalidade e o valor dado à vivência e à representação de personagens

“ausentes” à sessão de Psicodrama;4) O conceito de Evidência Apodíctica e a isenção à interpretação terapêutica; a busca de uma

compreensão vivencial psicodramática, a estimulação à intuição sensível do paciente; e orespeito à sua verdade. Lembrando-se aqui também, o método de Construção de Imagens,introduzido por Rojas-Bermúdez.

5) O “a priori” e a entrada em cena com textos espontâneos, improvisados no placo pelopaciente, a apelação à criatividade também do terapeuta, que deve isentar-se de qualquerjuízo anterior para ir em busca da Cena esclarecedora, aceitando e fazendo atuar a fantasiado paciente.

Não obstante as semelhanças, não podemos deixar de perceber que Moreno, ao criar edesenvolver o Psicodrama, partiu sempre de uma perspectiva própria, singular e específica acada momento de produção científica, utilizando-se plenamente da sua liberdade,espontaneidade e criatividade, dando a todos os seus conceitos e métodos um sentidoparticular ( Sinn) representante do seu próprio estilo pessoal de pensamento.

Entendido dessa forma, acreditamos que qualquer tentativa de “enquadrar” a concepção dopensamento moreniano numa única corrente filosófica, será sempre uma questãocontrovertida. Num certo sentido, impossível. Melhor seria então, se dar conta de que, dentrode uma proposta tão ampla e flexível da concepção do ser humano, não cabe limites. Mantera mente aberta e captar o significado de cada proposta socionômica, parece-nos ser a atitudemais lúcida, podendo-se dessa forma integrar à filosofia do Psicodrama, diferentes modelosfilosóficos, que podem ir do existencialismo cristão de Kierkegaard ao materialismo histórico –humanista de Marx, cuidando-se apenas de não ferir ou desvirtuar os supostos existenciaisbásicos da sua teoria.

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Lembremos então : Moreno percebia o indivíduo como parte integrante do Universo,propondo-lhe uma análise existencial e fenomenológica da sua existência, sem estabelecerlimites entre a vida e a morte, entre o eu e os papéis ou entre a fantasia e a realidade. Comisso, criou um novo conceito de papel, que provém da catarse total oriunda do ato de nascer elibertar-se, vendo o indivíduo como síntese de uma “integração sintética de todos oselementos” presentes na natureza e nos espaços preenchidos pelo indivíduo, em suasrelações com o mundo, com as pessoas e com os seus papéis.

Sua visão do ser humano é tão ampla quanto o é sua proposta psicoterapêutica, através daSocionomia, indo do teatro terapêutico espontâneo à sociatria e, quem sabe, à possibilidadede “suspensão” real do personagem “analista- terapeuta” através da “Vídeo Terapia”, propostanão desenvolvida até o momento , mas guardada talvez para o futuro?

BIBLIOGRAFIA

1. FONSECA FILHO,S.J.-PSICODRAMA DA LOUCURA,ED.ÁGORA,S.P.,19802-FROOM,ERICK – CONCEITO MARXISTA DO HOMEM,ZAHAR ED. R.J.-19793-FRAGATA, J. S. – PROBLEMAS DA FENOMENOLOGIA DE HUSSERL, BRAGA LIVRARIACRUZ, 19624-LUIJPEN. W. – INTRODUÇÃO À FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL, EPU. UNIVERSITÁRIALTDA, S.P.,19735-MORENO,J.L. – FUNDAMENTOS DO PSICODRAMA,EDITORIAL SUMMUS,S.P.,1983.................................. – PSICOTERAPIA DE GRUPO E PSICODRAMA, ED. MESTREJOU,S.P.,1974................................. – PSICODRAMA, ED. CULTRIX, S. P. , 1974.................................. – O TEATRO DA ESPONTANEIDADE, ED. SUMMUS,S.P. , 19846-RANSON GILES,T. – HISTÓRIA DO EXISTENCIALISMO E DA FENOMENOLOGIA, EPU,S.P., 19737-ROJAS-BERMÚDEZ,J. G. – INTRODUÇÃO AO PSICODRAMA ED. MESTRE JOU, S.P. , 1970

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Capítulo 3

A Socionomia como proposta integrativa

Jacob Levy Moreno, ao conceber a idéia do Psicodrama, talvez por ultrapassar, em muito, asidéias científicas da sua época, mostrava-se uma pessoa inquieta, inconformada àsexigências sociais e aos conceitos e valores vigentes no meio científico, inclusive a nívelfilosófico. A sua compressão do ser humano, vai além das noções do existencialismo deKierkergaard (1), embora delas se aproximem e, da mesma forma, das idéias do élan vital edo conceito de momento, de Bergson. Sua noção de Encontro – olho no olho, face a face,simétrico e em dupla via, difere, também, do conceito de Encontro de Martin Buber - onde seprioriza uma relação mais comtemplativa, tipo sujeito-objeto. Dirigem-se para o Hassidismo(2), mais ainda não é isso, ou só isso que lhe basta. Ele deseja um ser humano socialmenteatuante, tal como Marx, mas, preocupa-se com a preservação da liberdade individual ecoletiva, com a criatividade e espontaneidade que é aprisionada pelo sistema. Propõe, então,uma análise existencial da existência – o Dasain ou Dasainálise, onde o indivíduo é convidadoa concretizar a sua própria existência, vivendo, existindo e fazendo-se existir em atos, nãoapenas em palavras, e onde será estimulado a exercitar a sua espontaneidade e criatividade.

Pautado nessas idéias filosóficas, por muitos chamada de Religião do Encontro, Morenotrilha caminhos que o levam à concepção do Teatro Espontâneo e descobre o valorterapêutico da representação espontânea e inversão de papéis, através do Caso Bárbara(1924). Em seguida, propõe-se a fazer um trabalho terapêutico , dentro do mesmo enquadre,e assume o Caso Robert – Diora. Seu Teatro Terapêutico, falha - Moreno não obtém osucesso esperado, neste 2º Caso. Ao que parece, seus primeiros pacientes espontâneos ,fazem-no entrar num novo ciclo evolutivo, a partir da sua própria experiência e da vivência doseu papel profissional, despertando-lhe para novos aspectos referentes à sua descoberta :uma 1ª via- valor terapêutico da dramatização de papéis, lhe indica o caminho inicial dopsicodrama: o Teatro Terapêutico; e uma 2ª via – limitações do Teatro Espontâneo, atinge aconsciência do seu papel de psicoterapeuta, a necessidade de reflexão, de método, de açãosocial específica e especializada. Moreno, então, dirige-se para Nova Iorque (1925), embusca de um novo espaço, e inaugura uma nova fase de aprimoramento científico da suaproposta de trabalho. É dentro desse contexto de evolução pessoal que as suas idéiasrealmente frutificam e surge, de fato, o psicodrama, a sociometria, a psicoterapia de grupo e asociodinâmica ( 1934).

A sua proposta de fazer emergir e praticar uma análise existencial fenomenológica -Dasainálise, é repensada e, ao ser ampliada para incluir de forma dialética o Contexto Social

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e a adequação de papéis, vislumbra tantas possibilidades de trabalhar-se com o Psicodrama,que tornou –se necessário delinear os seus vários segmentos, especificar diferentesenquadres e definir o corpo teórico do Psicodrama, numa espécie de coluna dorsal : aSocionomia.

Dentro dessa perspectiva, a Socionomia seria uma ciência - aquilo que é ao mesmo tempo onada e o tudo que contém, ou seja, uma proposta de estudar cientificamente, as leis queregem o comportamento social e de grupo, levada a cabo por Moreno, desde a suaadolescência.

A fim de melhor compreender todas as propostas de Moreno, vamos fazer a retrospectiva dealguns conceitos filosóficos que poderão nos guiar ao praticar o Psicodrama, em suasdiversas formas.

Princípios Básicos

Além dos princípios filosóficos básicos, definidos por J.L. Moreno, que podem ser melhordetalhados através da seita praticada pelo Seinismo ou Hassidismo – Filosofia ExistencialFenomenológica, parece-nos essencial, a nível metodológico, que observemos as cincoprincipais noções da fenomenologia de Husserl, adaptando-as à nossa práticapsicodramática, as quais, podem, em muito, enriquecê-la . Essas noções são as que seseguem:

1) O APRIORI (ÉPOCHÉ) : Segundo Husserl, não é das filosofias que devem partir o impulsoda investigação, mas sim das coisas em si e dos problemas que temos à frente –fenômeno puro. E para realizarmos essa investigação, é necessário uma total ausência depressupostos à vivência, que se considere o fenômeno puro, em seu estado original, e sechegue à uma compreensão do mesmo através da vivência de um Evidência Apodíctica -consciência intersubjetiva, da qual não se tem nenhuma dúvida.

No Psicodrama, é dessa forma que fazemos a entrada em Cena, com textos espontâneos,improvisados no palco pelo Protagonista, fazendo atuar realidade e a fantasia, em busca daCena esclarecedora.

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2)A EVIDÊNCIA : Na Evidência Apodíctica, os fatos devem excluir a dúvida, via a vivência eatravés,

Da intuição sensível – evidência de sentimentos Da intuição Intelectiva – através de uma Imagem Da intuição Perceptiva -Recordações que partem de Conceitos Universais : essências eeidos apreendidos, de forma direta, na presença do objeto na sua corporiedade, ouapreendidos de forma indireta, através de uma Imagem.

No Psicodrama, adotando-se este tipo de postura, o terapeuta pode isentar-se a fazerInterpretações do fenômeno, utilizando-se das técnicas especiais- duplo, espelho,inversão de papéis, construção de Imagens, etc., durante a etapa de Dramatização.

3)A INTENCIONALIDADE : Segundo este conceito, a Intencionalidade parte do Eu e invadetemporariamente os dados materiais, unificando-os, e designando o objeto, enquantomeramente consciente ou significado, ou seja, na sua imanência ( ausência exterior do objeto). O que acontece durante a vivência é uma : Compreensão subjetiva dos fatos Uma vivência do objeto significado na sua imanência ( ausência exterior do objeto

significado) O “faz de conta” do Psicodrama em busca da verdade , via o interjogode papéis reais e fictícios.

Este elemento irreal da vivência é colocado “entre parênteses”; e Preserva-se o Sentido da vivência (Sinn) para transcendê-lo fenomenologicamente

Exemplo em Husserl : O sentimento existe enquanto qualidade ( AMOR), independente deque haja um objeto intencional (Alguém, um Outro).

No Psicodrama, o Ego-auxiliar tem como função representar papéis dos personagensinternos do paciente, ausentes à sessão, para presentificá-los na sua corporiedade,conferindo maior realidade à fantasia. Este elemento irreal da vivência, é colocado “entreparênteses”, conservando-se apenas o seu sentido original, para transcender aexperiência.

4) A LÓGICA DA CONTRADIÇÃO : Segundo a Lógica Formal , existiria sempre umrelativismo da verdade , pois teríamos de reger o Conteúdo com as mesmas leis que regulamos Atos , ou seja, os atos e seus conteúdos seriam regidos pelas mesmas leis. Husserl fazuma distinção entre o Ato e o Conteúdo do Ato , e rompe com a lógica formal, separando oAto do Conteúdo do Ato. Propõe a Lógica da Verdade ou Lógica da Contradição, onde é oAto que rege o Conteúdo, ou seja, o Ato independe das leis do Conteúdo e dessa maneira,aquilo que se vê não pode ser de outra maneira, é o fenômeno puro .

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No Psicodrama, esta noção de Lógica da Verdade, também existe, pois, parte-se sempreda Ação e da vivência psicodramática, para o estudo do fenômeno. Através da vivência dadramatização ou da Construção de Imagens, pode-se chegar ao Conteúdo do Ato semprecisar inferi-lo, através de uma Interpretação.

5) A INTERSUBJETIVIDADE : Husserl, também diz, que o conhecimento não é meramentesubjetivo - em única direção, ele é intersubjetivo - em direção dupla, de ambos os lados. Vemdaí o valor dado à vivência.

No Psicodrama, prioriza-se a ação, a vivência e a experiência do outro, da relaçãointerpessoal . Temos, também, o Conceito de Tele - emissão, recepção e percepção demensagens e sentimentos, em dupla direção .

Observemos agora, o fator dinâmico da teoria moreniana, presente na sua concepção do serhumano e que aproximam-se das idéias de Marx , para tentar verificar o Encontro das idéiasde Marx com as idéias de Moreno :

A DIALÉTICA MARXISTAMARX diz que: A realidade e o indivíduo não podem ser dicotomizados e por isso não existe linearidade

( causa e efeito absolutos);

Cada fato ou fenômeno possui múltiplas causas e formam uma cadeia de relaçõesintrínsecas e de realidades subjetivas, que num dado momento existe e que por isso éHistórica;

Marx defende o naturalismo e humanismo, dizendo que é do mundo dos sentidos, emconstante mutação, que devemos ver a Realidade, e não a partir das idéias ou ideais, deessências incorpóreas.

Seu entendimento do processo vital da realidade humana é construído a partir dehomens REAIS e ATUANTES; e

Considera que existe uma Dialética entre a Realidade Objetiva e a Realidade Subjetiva,onde a realidade subjetiva é tomada como uma prática da atividade sensorial, que éapreendida pelos próprios sentidos e não através de uma atividade contemplativa dopensamento – das idéias.

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Vejamos, agora, o pensamento de Moreno, a respeito da personalidade e do Universo Social,bem como a sua proposta psicoterapêutica.

MORENODiz que a Organização da Personalidade decorre da interação dinâmica de três fatores:

forças hereditárias ( fatores biológicos) forças sociais ( Tele = relações interpessoais x relações de fantasia = Átomo

Social) forças ambientais ( papéis sociais = realidade externa x realidade interna)

Moreno decompõe o Universo Social em três Dimensões: Sociedade Externa = família, estado, igreja, etc Matriz Social ou Átomo Social = mundo socioafetivo Realidade Social = que é o reflexo da oposição dialética entre a Realidade Social vigente (

Realidade Externa) e a realidade interna dos grupos ( Relações Tele = redessociométricas).

Consideramos que, vem desse pensamento de Moreno, o desenvolvimento de TécnicasEspeciais, como: a Psicoterapia de Grupo, o Psicodrama Grupal,

a Sociometria e o Sociodrama.

O QUE É A SOCIONOMIA ?

Moreno define a Socionomia como a ciência que estuda as leis que regem ocomportamento social e grupal, a partir de 3 pontos de referência :

SOCIUS ( companheiro) : Inserção do Indivíduo em Pequenos Grupos; METRUM ( a medida ) : Estudo das Relações Interpessoais; DRAMA ( ação ) : método psicoterapêutico

RAMOS DA SOCIONOMIA(SUB-DIVISÕES)

1) SOCIODINÂMICA : Estudo da organização e evolução dos grupos

Principais Ferramentas Sociodinâmicas: ROLE – PLAYING : treinamento e adequação de papéis.

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TEATRO ESPONTÂNEO : 1º Enquadre Psicodramático- representaçãoespontânea de papéis.

JORNAL VIVO : técnica de aquecimento para a ação e dramatização. PSICODRAMA EDUCACIONAL: aplicação do Psicodrama ao contexto

educacional de ensino-aprendizagem. PSICODRAMA PÚBLICO – Vivência do Psicodrama numa única sessão, aberta

ao público. PSICODRAMA INSTITUCIONAL – aplicação do Psicodrama às organizações.

Ex: Reuniões Setoriais, Reuniões de áreas ou de diretorias, Seleção de Pessoal,Entrevistas de admissão, Resolução de Conflitos Organizacionais.

2- SOCIOMETRIA : Estudo das forças de atração e repulsão, organização grupal eredes sociométricas, da comunicação e afetividade grupal. Instrumento da Sociometria : Teste Sociométrico Permite conhecer a posição dos indivíduos no grupo : as redes sociométricas do

grupo, seu líder popular, líder socioafetivo, membros isolados, rechaçados,status sociométrico ( cotas de amor e simpatia), Átomo Social ( relacionamentossocioafetivos); Tele ( emissão , recepção e percepção de sentimentos); funçõese papéis assumidos por cada componente do grupo.

3- SOCIATRIA : Parte da Socionomia que se dedica ao tratamento do Indivíduo e doGrupo, através do Psicodrama e do Sociodrama. Diferentes enquadres e objetivosterapêuticos são definidos:

Psicoterapia de Grupo e Psicodrama Grupal Psicodrama Individual Psicodrama Bi-Pessoal Psicodrama de Casal Psicodrama Infantil

Sociodrama Público Sociodrama Institucional Sociodrama Educacional Sociodrama Familiar

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Psicodrama de Família

Objetivo do Psicodrama : Propõe-se ao aprofundamento psicoterapêutico do indivíduo, ou doindivíduo inserido no grupo.Protagonista : o Indivíduo

Objetivo do Sociodrama : Propõe-se ao tratamento sociodinâmico das relações interpessoais, em grupos operativos-grupos de estudo, trabalho, igrejas, comunidades. Protagonista : o Grupo

NOTAS

(1) Para Kierkergaard, Hegel havia suprimido a distinção entre Deus, o mundo e oindivíduo, mergulhando tudo num único sistema, representado pelo Espírito Absoluto ,onde o racional é o real e onde o indivíduo e o seu extremo coincidem concretamenteno Universal. Dentro de um sistema assim fechado, que leva tudo à abstração, eleconsidera que o próprio homem é absorvido no absoluto das idéias, restando-lhesapenas delimitar um lugar dentro do Sistema. É com este aspecto da filosofia deKierkergaard que Moreno parece se identificar, uma vez que, tal como Kierkergaard,defende uma doutrina onde o indivíduo, sua subjetividade, liberdade e singularidade,são princípios básicos.

(2) O Hassidismo é uma seita religiosa proveniente da Cabala-Judaísmo Místico, quedefende a filosofia do Seinismo , segundo a qual, Ser e Saber são inseparáveis. Reúnenuma só realidade a existência e o pensamento. Defende o naturalismo, a manutençãodo fluxo natural e espontâneo da existência, o valor do momento presente e o estímuloà espontaneidade e criatividade.

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Capítulo 4

Sobre a Teoria dos Papéis

O primeiro ato do indivíduo , o nascer, traz à baila questões referentes à suaidentidade. J.L.Moreno transcende a existência imediata e relaciona ao indivíduo umaprimeira “identidade cósmica”, na qual existe em estado puro uma possibilidade espontâneae criativa, natural à sua essência mais profunda, e da qual os papéis somam as suasramificações expressivas, funcionais e culturais. Ou seja, os papéis expressam as formasreais, imaginárias e simbólicas que o eu adota ao interrelacionar-se com o outro, mas trazconsigo uma Identidade que, mesmo caótica e indiferenciada, existe.

Define Moreno ( 1928) que toda configuração de papel envolve duas partes, exigindouma vinculação, mesmo que fictícia, com um outro. Daí decorre a principal característica dopapel : sua função complementar . É dentro dessa complementariedade que o Eu vaiconstituir-se.

O desempenho de papéis antecede, pois, o surgimento do Eu : é através do interjogode papéis, atribuídos à criança, pela mãe, enquanto ego auxiliar, e no suprimento das suasnecessidades básicas de sobrevivência, carinho e atenção, que os papéis vão sedesenvolvendo e desenhando os “embriões do Eu” em “ eus - parciais”. Diz ainda Moreno,que esses “eus-parciais esforçam-se de tempos em tempos por reunir-se e unificar-se” e queo papel pode ser tomado como cada uma das “unidades de conduta”.

Poderíamos então dizer que o Eu, ao emergir dos primeiros papéis que desempenha,ou seja, dos papéis psicossomáticos, confere, aos mesmos, uma função estruturante. Aospoucos, esse Eu vai-se organizando, adquirindo conteúdo e expressão emocional,ampliando o seu campo de atuação e começa a jogar papéis mais complexos, que envolvemas suas funções simbólica e imaginativa. Passa então, a jogar papéis psicodramáticos, até

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poder trilhar caminhos, desde o mundo social, para o desempenho de papéis maisestruturados, com significados, experiências e funções sociais definidas.

É sobre este processo de “nascimento”, aquisição, auto conhecimento e interaçãosocial que se debruça a Teoria dos Papéis de Jacob Levy Moreno. A Teoria dos Papéisabrange em seu conjunto, três tipos de papéis: os papéis psicossomáticos, os papéispsicodramáticos e os papéis sociais.

Os papéis psicossomáticos são papéis “emergentes e espontâneos”, que existemdesde o nascimento e que se apoiam nas funções fisiológicas. Ao mesmo tempo em querepresentam funções orgânicas inatas, exigem a presença de um outro, de um papelcomplementar, para expressar-se e constituir-se num primeiro vínculo : o vínculo maternal.

Nesse primeiro Universo, a mercê da existência insubstituível de um vínculo queprovê idealmente todas as necessidades básicas de sobrevivência, a criança vivencia osseus papéis em suplementariedade, ou seja, sem que esteja consciente do seu papel e dopapel do outro. Isto quer dizer, além de outras coisas, que se o outro “falha” em seu papel,registra-se também uma “falha” no Eu.

Muitos desenvolvimentos teóricos, tanto em psicanálise quanto em psicodrama,fazem referências especiais a esse primeiro mundo da criança, a exemplo da teoria doNúcleo do Eu de Rojas-Bermúdez, dos estudos de Melanie Klein, Margareth Ribble, RenéSpitz e muitos outros.

Mas, na Teoria dos Papéis de J.L. Moreno esse é um momento que, além depassagem, representa a fantasia, possibilita a ação espontânea e o desenvolvimento daatividade criadora.

Os papéis continuam a “emergir” e surgem os papéis psicodramáticos, herdeirosparadoxais da “brecha entre a realidade e a fantasia”. Esses papéis surgem como fruto dodespertar do Eu em relação ao outro, da noção do vínculo em sua complementariedade.Apoiam-se nas funções da psique ( percepção e imagens mentais) e no jogo de inversão depapéis. Conferem realidade à fantasia e vice-versa.

Segundo Moreno, ao ocorrer a “brecha entre a realidade e a fantasia” , a criançaentra no seu segundo Universo , onde ocorrerá uma “divisão” do eu :

PAPÉIS PSICODRAMÁTICOS PAPÉIS SOCIAIS

FANTASIA REALIDADE

MUNDO PSICOSSOMÁTICO MUNDO SOCIAL

IMAGINÁRIO REAL

E

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PAPÉIS PSICOSSOMÁTICOS

A Matriz de Identidade, originalmente cósmica e espontânea, cede espaço à MatrizSocial, dando início a um processo de “inversão de identidade”, que tem início após aconfiguração dos papéis psicossomáticos e se completa após o surgimento dos papéispsicodramáticos que, embora ainda conservando realidade e fantasia, vem instalar a criançanum contexto histórico e social, fazendo-a perder gradualmente a espontaneidade ecriatividade, características de personalidade, até aqui, mais marcantes. Por conseguinte asua capacidade de vincular-se a essa Matriz Espontânea vai sendo suprimida pelotreinamento, condicionamento e socialização crescentes, fazendo-a absorver do referidocontexto as suas “conservas culturais” e novos modelos de conduta nele baseados.

Se por um aspecto isto lhe é favorável, dado às inesgotáveis experiências econstruções humanas que possibilita, por outro, é limitante a nível de ação libertária criativa,aprisionando ou dificultando a expressão plena dos papéis que traz “em germe”, ao nascer :o meio social, cultural , político, étnico, religioso ou familiar, poderão ou não bloquear, emdiversos níveis, as suas possibilidades de desenvolvimento e crescimento emocional esocial.

Moreno então nos fala de papéis ausentes, mortos, futuros, mal desempenhados,ansiosos, cristalizados, rígidos, inadequados e patológicos, colocando-os enquanto “partesnão - resolvidas do Eu postulado” , espontâneo. Sugere o Psicodrama como “palco deliberdade e libertação” onde o indivíduo vai ser estimulado a procurar a sua verdade e (re)encontrar-se.

Referência Bibliográfica : Moreno,J.L. – Psicodrama, Ed. Cultrix, 1978.

Maio de 1998.

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Capítulo 5

A Criação de Cenas através da Forma e a Emergência de Conteúdos

Para melhor compreender o método psicodramático de Rojas-Bermúdez, psicodramatistaargentino que desenvolveu a teoria do Núcleo do Eu, é importante, acredito, absorver asprincipais diferenças entre o seu enquadre técnico-formal e o método moreniano,basicamente centrado na técnica de dramatização de papéis. Bermúdez, ao longo do seutrabalho clínico, desenvolveu uma metodologia de trabalho própria, acrescentando algumastransformações de estilo e técnica ao enquadre original, definido por J.L.Moreno. Bermúdezsugere enquanto procedimento sistemático a Técnica de Construção de Imagens, nocontexto dramático, como técnica de aquecimento ou desaquecimento, pesquisa e trabalhoterapêutico.

Ao começar a minha prática como Psicodramatista estagiária, na ASBAP (1993), sentiadificuldades em adaptar-me ao método psicodramático proposto por Rojas-Bermúdez, emsua íntegra. A dificuldade provinha, creio eu, de uma tendência mais arraigada no trabalhoverbal e do hábito, anteriormente incorporado, de ouvir e investigar verbalmente o materialtrazido para a sessão. O processo de conceber alguma hipótese de direcionamento para aprodução de Cenas , através da escuta é muito lento e este aspecto me serviu de motivopara a experimentação do modelo proposto. Familiarizando-me aos poucos com estametodologia , pude perceber que, de fato, aquecer o Protagonista para a produção de umaImagem, era realmente mais favorável à obtenção de conteúdos e, da mesma forma, paraum melhor desenvolvimento da sessão psicodramática. Na maioria das vezes, criava-se apartir daí uma cena a ser trabalhada, independentemente da dramatização propriamentedita, favorecendo também, a construção de hipóteses terapêuticas, o envolvimento do grupoe o aquecimento do protagonista. Esse relaxamento de campo pareceu-me essencial,compensando, de alguma forma, o trabalho despendido junto ao paciente para a produçãode uma Imagem, uma vez que esse tipo de linguagem – falar através de uma forma oualegoria, não é muito comum na nossa cultura.

A utilização sistemática desse método de trabalho, me permitiu visualizar as cenas expostas,ao invés de ouvi-las e repeti-las no Cenário, o que acredito que tenha sido bom tambémpara os pacientes, fazendo-os voltar o seu olhar para si mesmos, ao tempo em queconstróem o seu drama e o vivenciam. Pude perceber, também, que o método permite aevolução ou não das formas criadas no Cenário, para uma dramatização, desenvolvendo-se

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de maneira fluída e enriquecendo o desempenho de papéis, além de pontuar asintervenções necessárias de uma forma conjunta.

Segundo Bermúdez, a Imagem traz o aspecto básico conflitante, registrado e identificado naImagem, o qual é espontaneamente assumido pelo protagonista. Este fato possibilita-nos oprosseguimento do trabalho terapêutico, muitas vezes sem passar pela produção de cenasonde são desenvolvidos papéis – método moreniano, uma vez que a própria Imagem podeser capaz de possibilitar o insights e a catarse de integração objetivada. Quando issoacontece, a Imagem fala por si mesma, a compreensão é imediata e fortemente sentida pelopaciente como a sua verdade.

Facilita-se tal compreensão fazendo-se uma leitura das formas em cena, com oenvolvimento do protagonista ou, como orienta Bermúdez, passa-se a “investigar asrelações existentes entre os seus elementos expressivos e a verificar as inter-relaçõesexistentes entre cada parte e contra-parte da Imagem”. Através dessa metodologia,normalmente o protagonista chega à auto-compreensão e à auto-avaliação.

Dentro da minha experiência com a técnica, houve ocasiões onde tornou-se desnecessário,inclusive, passar o protagonista para a Imagem e pedir-lhe o Solilóquio. Ao fazê-lo tomardistância da Imagem e visualizá-la, obtinha-se insights da situação, tornando-sedesnecessário o desdobramento técnico-metodológico do procedimento. Nessas ocasiões, aqualidade da Imagem era muito boa. Notamos que certos pacientes conseguem maisfacilmente uma auto-compreensão significativa logo após o processo de produção daImagem ou, no momento seguinte, ao assumir o lugar de cada parte e contra-parte daImagem para realizar o Solilóquio, etapa do procedimento considerada por alguns como um“assumir e inverter papéis” – embora particularmente acredite ser mais adequado utilizaressa terminologia para “unidades de conduta”(desempenho de papéis) e não para unidadesde gestos e posturas corporais, que compõem representação plástica de uma situação,como estados de ânimo, a percepção simbólica de um conflito ou papel, etc. ou seja, aImagem reflete, estrutura, decompõe elementos, mas é estática. Ela pode levar ao jogo depapéis, mas se isto acontece, tecnicamente estaremos passando à fase clássica dedramatização ( jogo de papéis).A utilização desse método nem sempre é uma tarefa fácil. Requer muito tempo de prática,determinação e paciência por parte do terapeuta. Principalmente quando estamos lidandocom pacientes muito bloqueados nos seus afetos, com poucos recursos expressivos emuitas dificuldades de simbolização. Percebi, no entanto, que mesmo para essas pessoas, oexercício continuado de produzir Imagens, pode servir-lhes de estímulo ao desenvolvimentodos seus canais cenestésico e visual, permitindo-lhes de alguma forma ampliar o seucontato com o seu mundo interno de sensações, sentimentos e fantasias, ajudando-os a

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melhorar também a qualidade dramática das suas Imagens e a liberar o seu potencialcriativo para o desempenho de papéis.

Escrito Psicodramático apresentado no II Encontro Regional Norte/NordesteRealizado em Salvador-Bahia, 1994 e

Publicado no Jornal EM CENA da FEBRAP-Ano15-No.1/ 1998

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Capítulo 6

A MÚSICA COMO OBJETO INTERMEDIÁRIO

Focar a atenção do paciente, diminuir o controle do eu, facilitar o acesso ao material inibidoe restabelecer a comunicação perturbada, são alguns dos aspectos mais corriqueiros paraquem lida com a psicoterapia psicodramática. A isenção ao método de exploração doinconsciente através dos símbolos verbais e das técnicas de interpretação, impõempermanentemente ao psicodramatista a busca de novos recursos interacionais. Não nosbasta “ouvir”, é preciso “operar”, entrar em setting, e aquecer o paciente para a produçãopsicodramática.

A utilização da música como Objeto Intermediário e psicoterapêutico – tal como a utilizaçãodos títeres e das máscaras, surge no Psicodrama, como mais um recurso técnicooperacional, estudado e difundido no meio psicodramático por Jaime Rojas-Bermúdez.Incorporando-se às técnicas de aquecimento grupal ou individual e às técnicas auxiliares, autilização da música no contexto terapêutico cumpre o objetivo de fazer emergir materialterapêutico em estado subliminar.

Como no plano pessoal sempre tive interesse pela música, desde muito pequena, não tiveresistências em utilizá-la como recurso técnico no meu trabalho clínico. Mas, reconheço seràs vezes delicado o manejo terapêutico da música, em sessões de psicoterapia. Precisamosdispor de um grande repertório musical, que nem sempre faz parte das nossas preferênciase que, é claro, possa estar presente a cada sessão. Além disso, ter desenvolvido alguma, senão muita, sensibilidade musical em relação ao grupo, ou ao protagonista, e usá-la comadequação, observando-se os objetivos terapêuticos em cena.

Alguns aspectos teórico-práticos são então importantes para trabalhar-se terapêuticamentecom a música, até mesmo quando se trata de um simples processo de aquecimentopreparatório, pois é preciso captar corretamente o clima do grupo e as necessidades doprotagonista. É este o motivo pelo qual me interessei em pesquisar sobre este tema, háalgum tempo atrás (1993) , ao começar a fazer atendimentos de Psicodrama Grupal.Vejamos então o que diz Bermúdez a esse respeito.

Segundo Rojas-Bermúdez, a música enquanto instrumento técnico-terapêutico, pode serconsiderada “como se” fosse um Objeto Intermediário , embora não possua todas as suas

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características, teoricamente definidas como tendo existência real e concreta e como tendoas seguintes qualidades : 1) não desencadear reações de alarme ; 2) ser amplamentemaleável; 3) permitir, por seu intermédio, a comunicação com o paciente, substituindo ovínculo e mantendo a distância; 4) ser adaptável às necessidades do indivíduo; 5) serassimilável a ponto de permitir que o indivíduo possa identificá-lo consigo mesmo; 6) quepossa ser instrumentado como prolongamento do indivíduo; 7) que possa ser reconhecido eidentificado imediatamente, com o indivíduo.

Usamos a música como objeto intermediário no processo comunicacional com o paciente,“Em virtude das possibilidades que dá ao terapeuta de estabelecer contato com certospapéis do paciente sem desencadear reações de alarme. Este contato é o que permite,ulteriormente, a interação dos papéis e a criação de vínculos”( Introdução ao Psicodrama –Rojas-Bermúdez).

Ela pode ser dirigida para o grupo ou para o indivíduo. Quando dirigida para o indivíduo,levamos em consideração as suas dificuldades para criar vínculos entre o Papel e o seuComplementar. Nesse caso, pode-se dirigir a música tanto para o Papel do protagonistaquanto para o Papel Complementar. Decorre daí a categorização da música enquantoComplementar, Suplementar ou Indutora .

A MÚSICA COMPLEMENTAR

Tem como finalidade oferecer ao protagonista um papel complementar adequado,possibilitando-lhe a vivência do vínculo requerido para a situação. Ao tratar-se, por exemplo,de um conflito relacional encoberto entre os papéis de mãe - filho, o estímulo musicaldeverá se adequar inicialmente ao material explícito trazido pelo paciente, até que se possaintroduzir pouco a pouco algum conteúdo materno simbólico ( papel complementar ). Essaforma de acesso terapêutico, da periferia para o centro, permite ir focando gradualmente oestímulo específico que se quer oferecer, até que o protagonista ( paciente) , possa vivenciaro seu papel de filho mediante o estímulo musical. O Ego-Auxiliar ( assistente terapêuticoencarregado de desenvolver papéis no contexto psicodramático), poderá ou não serintroduzido na Dramatização, assumindo os conteúdos da música complementar. Porém, omais freqüente é limitar a ação do Ego, sobretudo se existir dificuldades no protagonistapara a criação de vínculo.

A MÚSICA SUPLEMENTAR

É usada quando o objetivo terapêutico é suprir uma parte carente do papel do protagonista.Ou seja, quando ocorrem discrepância ou desintegração de conteúdos, fazendo com que oprotagonista pense, sinta e atue de forma descoordenada, gerando dificuldades para o

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estabelecimento de vínculos. Sabemos que, quando existe uma certa clareza entre osconteúdos ( o que se pensa e o que se sente), integra-se melhor o agir no mundo. É isso oque Bermúdez chama de papel bem desenvolvido, do qual surgirá determinado vínculo,estabelecendo-se uma interação espontânea entre o papel e seu complementar, a partir daqual pode-se adequar terapêuticamente a situação em cena e objetivar o vínculo no “aqui eagora” .

Ao contrário, se não existir essa integração entre o pensar-sentir-agir, a interaçãoespontânea para o processamento do vínculo vê-se dificultada, criando psicopatologias nopapel desenvolvido. Dessa forma, a pessoa pode aparentemente desenvolver bem o seupapel, a partir de estereótipos culturais, mas não integrá-los a nível de conteúdos. Ex.: Umfilho que atua como filho, pensa como filho, mas não se sente como filho, evidencia umacarência no seu sentir-se filho (psicopatologia na área corpo) e necessita de um papelsuplementar para suprir a carência de registros. Nesse caso, começaríamos com umadramatização – já que o paciente pensa e age bem como filho, introduzindo em certomomento a música suplementar como Objeto Intermediário – estímulo que supre a ausênciade sentimento na relação. Esse estímulo pode ser intensificado até que o protagonista passea jogar o papel com espontaneidade de sentimento.

A MÚSICA INDUTORA

É usada com o objetivo de estimular o aparecimento de determinados papéis e utilizadaquando o protagonista encontra-se em situação conflitiva, devendo assumir um papelrequerido pela situação, e joga outro papel ( dificuldade de estabelecer o contra-papel ). Étambém usada quando o clima emocional apresenta-se difuso, com possibilidades de umaatuação irracional, por falta de uma canalização adequada do papel requerido ( ausência decontra-papel). Pode ser usada para aquecer ou desaquecer a dramatização. Um estadoagressivo, por exemplo, pode ser induzido com a focalização do papel de herói, estimuladocom músicas desse teor, um estado amoroso, com músicas românticas, e assimsucessivamente.Quando dirigida para o grupo, a música, ainda como objeto intermediário na comunicaçãoterapêutica, recebe uma outra classificação técnica , uma vez que o objetivo agora seria ode facilitar a integração do grupo. Temos então :

A MÚSICA HOMOGENEIZANTE

Utilizada quando durante a fase de Aquecimento , o grupo demonstra sinais de dispersãogrupal temática ou afetiva, dificultando a emergência de um protagonista. Tem como objetivohomogeneizar o clima do grupo e facilitar a emergência de um protagonista , centralizando ofoco de atenção grupal, numa mesma temática, criando-se um fundo comum para os

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integrantes do grupo e possibilitando-lhes passar à fase de Comentários de forma maisprodutiva.

A MÚSICA FACILITADORA

É usada no sentido de acelerar o aparecimento do emergente ou da catarse e normalmenteé manejada quando o clima do grupo sugere um estado afetivo muito forte, mas encoberto,que não aparece explicitamente, mas que se faz sentir no clima grupal, ou em algummembro específico do grupo. Oferece uma oportunidade para o alívio de tensões e auto-esclarecimento. No caso da música facilitadora da catarse, fala-se em descarga afetivaquando o protagonista chega ao pranto, por exemplo, ou à cólera. No caso da catarse deintegração, fala-se em músicas que facilitam a integração de conteúdos pessoais ou grupaise que desbloqueiam o emergente, provocando uma mudança significativa.

A MÚSICA INIBIDORA

Usada para desaquecer estados afetivos muito agitados, que podem chegar a desencadearatos irracionais , maníacos ou violentos. A introdução de uma música sacra, por exemplo,pode facilitar novas formas de expressão dramática da violência ou da produção maníaca,inibindo a atuação irracional.

São essas as formas de utilização terapêutica da música como objeto intermediário, emPsicodrama. Rojas-Bermúdez sugere a sua utilização esporádica: 1) em sessões individuaisde Psicodrama Clássico, quando o paciente apresenta transtornos de comunicação muitointensos, no nível verbal, ou se apresenta em estado de alarme; 2) Em sessões dePsicodrama Grupal, quando existem transtornos de integração entre os membros do grupo,ou então como aquecimento específico para a emergência do protagonista. Em todos oscasos, observa-se a necessidade de obtenção de material encoberto ou explícito, a partir doqual se possa escolher corretamente o estímulo musical requerido, a partir de uma hipótesedramática ou terapêutica.

Passando a fazer uso das possibilidades de instrumentação clínica da Música como técnicaauxiliar ou de aquecimento grupal, pude ir percebendo aos poucos que, tal como astécnicas verbais auxiliares, elas podem funcionar, de acordo com o alvo e a clientela , comoum “duplo” do paciente, como um “espelho”, ou ser usada para fazer uma “interpolação deresistências”, facilitando sobremaneira o desenvolvimento do processo terapêutico Algunspsicodramatistas podem continuar preferindo utilizar apenas as técnicas clássicas. Mas seráesta uma simples questão de escolha? Acho que talvez seja uma simples questão deescolha ou de preferência de estilo , quando estamos trabalhando com pessoas que

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dispõem de recursos comunicacionais saudáveis, com psicopatologias menos graves.Levando em conta que Bermúdez desenvolveu suas técnicas não-verbais a partir dotrabalho clínico com psicóticos crônicos, muda-se o contexto. É preciso pensar no paciente,em formas de acesso ao bem-estar e, principalmente, em despojar-se de preconceitos. Aforça com que vem crescendo a Musicoterapia, no nosso tempo, pontua a existência denovos encontros entre a capacidade de libertação humana através das artes em geral.

ILUSTRAÇÃO CLÍNICA DO USO DA MÚSICA COMO OBJETO INTERMEDIÁRIO

7ª sessão : A fase de aquecimento se prolonga, sem a emergência de um protagonista.Umapaciente pergunta-me o que é que eu vou fazer com todo o material que o grupo vemtrazendo para a sessão. Após breve discussão grupal , solicito à cada elemento do grupo aconstrução de Imagens de como eles vêm a relação terapeuta - paciente. As Imagensassinalam a ausência de vinculação e distorções do papel do terapeuta, responsabilizando-opela “guarda” de conteúdos. Durante a fase de comentários, a paciente protagônica revelaque vem sentindo muito medo em ralação a tudo, sem uma razão específica, há cerca deuma semana. A tentativa de trabalhar a situação através de Imagens, estanca no momentodo Solilóquio – a paciente demonstra sinais de alarme e não consegue produzir mais,embora permaneça no Cenário, saindo e entrando da Cena. Peço-lhe que tente permanecerna mesma posição e observar os seus sentimentos. Intervenho então com a utilização demúsica instrumental suave, com o objetivo de relaxar o campo. Ao observar sinais dedistensão, introduzo músicas que trazem os conteúdos expressos ( solidão e tristeza). Apaciente chora. Após essa descarga afetiva, passa ao relato de farto material infantilrelacionados a sexo e violência, restabelecendo o vínculo terapêutico.

13ª sessão : Uma paciente chega à sessão deprimida e revoltada com a ausência da mãe aoseu aniversário. É tomada como protagonista , mas recusa-se a passar ao Cenário. Comotodo o interesse do grupo se dirige para ela, faço uso da técnica de Construção de Imagens ,como espelho, tentando com isso uma “interpolação de resistências”. O grupo vai mostrandoà paciente como percebe a sua relação com a mãe. No final, peço-lhe que escolha umaImagem e após algumas discussões sobre a escolha, a paciente aceita passar ao Cenário eassumir o seu lugar na mesma. A partir daí passo a usar músicas com conteúdo materno e apaciente reage extravasando os seus sentimentos através do choro. Após o alívio dessastensões, a paciente pôde passar à dramatização do tema trazido, desenvolvendo bem tantoo seu papel, quanto o da mãe.

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Essas foram as duas primeiras oportunidades que tivemos de fazer uso da música enquantoobjeto intermediário . A partir daí passamos a compreendê-la como um recurso deampliação do fenômeno tratado, como se estivéssemos a oferecer ao paciente uma “lupa”,para a auto-compreensão dos seus sentimentos.

Referências BibliográficasRojas-Bermúdez, G. Jaime. - Que és el Sicodrama Editorial Celcius – 1984

- Introdução ao Psicodrama –Ed. Mestre Jou –1977- Títeres e Sicodrama –Editorial Celcius – 1985- Avances en Sicodrama – Editorial Celcius-1988

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Capítulo 7

AS TÉCNICAS DO INGERIDORArtigo decorrente de monografia de conclusão de Curso

Salvador - Bahia, 1998Sinopse

Neste estudo abordo questões referentes a utilização das Técnicas do Ingeridor emPsicodrama Grupal, pesquisando conceitos teóricos que ofereçam subsídios para a suaprática. Indo além disso, busco alcançar a fundamentação teórica dessas técnicas, seusobjetivos e efeitos terapêuticos, trilhando as suas origens e o contexto clínico referencial noqual foram inseridas.

UnitermosTécnicas Auxiliares / Psicodrama Grupal / Técnicas de Aquecimento / RealidadeSuplementar / Comunicação Natural / Estrutura Social / Matriz de Identidade Total / PapéisPsicossomáticos / Núcleo do Eu. / Papel de Defecador / Técnicas do Ingeridor.

Historicamente, as Técnicas do Ingeridor, tal como a grande maioria das técnicaspsicodramáticas clássicas, provêm do teatro. Representam simbolicamente as situações denascimento e morte e, em Psicodrama, caracterizam-se como técnicas auxiliares,manejadas com o objetivo de vivenciar conteúdos simbólicos pertinentes à estruturação doPapel de Ingeridor. Foram adaptadas à Teoria do Núcleo do Eu e introduzidas no meiopsicodramático por Jaime Rojas - Bermúdez, durante os seus Seminários. Vale ressaltarcontudo, que não encontramos registros das referidas Técnicas na bibliografia do autor quedesenvolveu o seu uso em psicoterapia e psicodrama grupal.

O procedimento dessas técnicas, bastante conhecidas tanto em teatro quanto emPsicodrama, consistem em : 1) Pôr o protagonista deitado , no Cenário, olhando para umgrupo de pessoas postas de pé , ao seu redor, realizando movimentos de aproximação eafastamento e olhando fixamente para o sujeito . Como normalmente o protagonista sorri, ogrupo também lhe retribui o sorriso; 2) O grupo carrega o protagonista, embalando-o nosbraços e depois o suspende até o alto, realizando um pequeno passeio no Cenário, com elenessa posição.

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Levando adiante a tarefa de buscar subsídios teóricos para a aplicação clínica das Técnicasdo Ingeridor, e objetivando encontrar alguns referenciais relativos ao seu tipo de produçãocênica, consideramos ser possível situá-las a partir de alguns conceitos morenianos que sedestacam como regras fundamentais básicas dentro do Psicodrama.

Vimos a princípio que, durante a aplicação dessas técnicas, prioriza-se a comunicação não-verbal com o paciente, intensificando-se dessa forma as suas sensações cenestésicas. Oprocedimento técnico das mesmas, encontra-se então associado a um tipo de produção queparte do Diretor para o protagonista, com o objetivo explícito de “aquecê-lo para a ação” .

Durante esse processo de aquecimento, as Técnicas do Ingeridor oferecem a oportunidadede criar uma realidade suplementar para o paciente, aquecendo-o para participar maisativamente da produção e, vão criando possibilidades de vivenciar conteúdos latentes queaos poucos, vão emergindo no cenário.

Define Moreno que é através desse tipo de procedimento que o Diretor de Psicodramacumpre a sua função de produtor de cena, com a finalidade de “envolver o paciente na suaprópria experiência e tornar mais tangíveis as suas alucinações” , criando uma ponte,através de uma realidade suplementar, onde o mesmo possa sentir-se em situação e atuar apartir dos seus próprios fantasmas, compondo espaços entre o real e o imaginário da suaexistência.

Penso que uma das características mais marcante das Técnicas do Ingeridor sejaexatamente a de produzir uma realidade a nível simbólico, proporcionando ao protagonista“tornar real o que é fictício” e “passar para fora o que esta dentro”, em busca da Catarse deIntegração, sem perder os parâmetros de vivência da realidade imediata.

Moreno esclarece ainda que o Psicodrama abrange todas as formas de expressão, as quaispodem ser estimuladas a emergir na sessão através de estímulos de várias espécies, sejameles visuais, corporais, musicais, cromáticos, olfativos, rítmicos ou psicoquímicos. O objetivoé que estes estímulos sejam usados como impulsores, que sirvam ao processo deaquecimento e que levem à Catarse de Integração . Voltaremos a essa questãoposteriormente.

Uma outra característica das Técnicas do Ingeridor, observada a partir deste estudo, refere-se ao desencadeamento de “esquemas produtores” . Essas Técnicas fazem emergir umasérie de comportamentos espontâneos, a exemplo da resposta - sorriso e das imagensmentais e cenestésicas que produzem. Vimos, por exemplo que a Técnica 1, ao focar aatenção no olhar e no que acontece ao redor, instrumentando as noções de distância-proximidade, evoca a “Gestalt–Sinal” ( resposta - sorriso), como produto da

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complementariedade e do encontro, facilitando o estabelecimento de vínculos e orelaxamento de campo necessário à elaboração de conteúdos.

A Técnica 2 (onde o protagonista é levantado pelo grupo), ao focar a atenção nas noções dedeslocamento no espaço e peso, parece produzir uma “vivência oceânica”, mesclando asensação de solidão e abandono a uma sensação de tranquilidade e sossego.

Provoca um desligamento total do ambiente, sem que o indivíduo perca a noção de ondeprovêm os estímulos . Por exemplo, o protagonista sente “como se” estivesse morto, massabe que não está morto. É similar ao que diz Bernis a respeito das imagens mentais :

“ Sabe-se de onde provêm as sensações experimentadas e que estas fazem parte das suaspróprias aspirações imaginárias, as quais são dotadas de existência durante a vivência”(p.92,93).

Referendada nos conceitos teóricos vistos até aqui, supomos que a primeira parte doprocedimento das Técnicas do Ingeridor, incidem espontaneamente os iniciadores físicos,mentais e ambientais necessários à produção de uma “realidade suplementar” , fazendo oindivíduo entrar em contato com as suas fantasias e com partes dissociadas de si mesmo; eque num segundo momento , cria-se uma fusão imaginária entre realidade e fantasia,característica do Primeiro Universo da Matriz de Identidade Total, onde todos os papéis sãovivenciados em suplementariedade.

No que se refere aos “esquemas produtores”, conceito que provém da Etologia, sabe-se queeles produzem certas “disposições anímicas” a partir da combinação estímulo externo –estímulo interno, e que desencadeiam comportamentos inatos e estados de ânimoespecíficos relacionados a um mesmo contexto, e que são reconhecidos e experimentadospor indivíduos da mesma espécie de forma conjunta e universal.

Discutimos até aqui sobre alguns aspectos de produção psicodramática das Técnicas doIngeridor, que facilitam ao protagonista durante a sua vivência concretizar e exteriorizar osseus fantasmas, e ser acompanhado e compreendido pelo próprio grupo, também envolvidona ação dramática enquanto egos-auxiliares.

Mas, tendo em vista que Rojas-Bermúdez desenvolveu as Técnicas do Ingeridor adaptando-as do teatro à Teoria do Núcleo do Eu, consideramos ainda necessário voltar o nosso olharpara esse arcabouço teórico, em busca das indicações do manejo clínico dessas técnicas.

Sabemos preliminarmente que a construção teórica da Teoria do Núcleo do Eu repousa nanoção de Primeiro Universo da criança ( mundo psicossomático), onde não há distinção

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entre realidade e fantasia. O que Bermúdez (1978) oferece é por assim dizer, uma leiturapsíquica e neurofisiológica da estruturação dos papéis psicossomáticos de Ingeridor,Defecador e Urinador.

Orienta-se para tanto, no amadurecimento do Sistema Nervoso e em algumas disciplinasafins, a exemplo da Etologia e da teoria psicanalítica de Pichón Rivière .

Destacamos como ponto central da Teoria do Núcleo do Eu, a noção de focalizaçãodos estímulos em cada processo estruturante, por que é a partir do “foco de estímulo” que oNúcleo do Eu vai se estruturando, primeiro a partir do papel de Ingeridor, depois a partir dopapel de Defecador e posteriormente, a partir do papel de Urinador, fazendo a diferenciaçãoentre as áreas Corpo–Ambiente (Papel de Ingeridor), Mente - Ambiente ( Papel deDefecador) e as áreas Corpo - Mente (Papel de Urinador).

Com o amadurecimento do Sistema Nervoso, as noções de proximidade - distância edeslocamento no espaço e peso, delimitam os espaços interiores , o próprio corpo, doespaço externo interiorizado , área Ambiente. Já vimos de que forma tais elementos marcama sua presença nas técnicas em estudo ( pág. 3 e 4 ).

Define Bermúdez que é a partir da complementariedade entre as estruturas genéticas esociais que se produz a Marca Mnêmica - registro de ocorrências, sem a qual não ocorrerá oregistro da experiência, resultando numa porosidade a nível de papel psicossomático, emestruturação. É esta circunstância de “vazio” de complementariedade que dá margem àpatologia de papel, circunstanciando o desencadeamento das psicopatologias que afetam odesempenho de papéis.

Refere Bermúdez (Que és el Sicidrama,p.97 a 109) que ao ocorrer uma porosidade nopapel de Defecador, situação que nos interessa particularmente analisar neste estudo, aárea Corpo passa a receber uma “atenção especial” do indivíduo, ficando “sobre valorada”enquanto fonte de informação mais segura, dado à confusão que se estabelece entre asáreas Mente - Ambiente .

É assim que, na patologia do Defecador, confunde-se o que é pensado com o que ocorrefora de si mesmo

A orientação de Bermúdez , no que diz respeito ao manejo das psicopatologias, é afastar-seestrategicamente da área confusional e atuar em campo relaxado, onde é possível algumadiscriminação de conteúdo. A nível teórico, o campo relaxado corresponde à área sobrevalorada pelo paciente ( área não confusional) – “aquela área limitada por dois papéispsicossomáticos sãos”.

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Dessa forma, se existe confusão entre as áreas Ambiente-Mente , a via de acesso maisfavorável seria através da área Corpo, ou seja, através dos seus sentimentos e emoções oindivíduo teria maior capacidade de elaboração.

Isto esclarece porque na patologia do Defecador, pode-se utilizar como ponte o própriocorpo, trabalhando-se à partir das Técnicas do Ingeridor, ou seja, desse lugar, o indivíduopoderia discriminar melhor o que provém de fora e o invade- o luto conseqüente das suasperdas afetivas, por exemplo; e o que provém de dentro e ele deposita no ambiente - porexemplo: como foi que você adivinhou o meu pensamento? .

Usamos aqui como exemplo ilustrativo o caso clínico de uma paciente Melancólica -porosidade no papel de Defecador relativa à área Mente, que apresentava breves períodos dehipomania ( vicariância no papel de Urinador), intercalados a crises de vômito e distúrbiosgastrointestinais ( somatizações). As suas tentativas de interação e integração ao meioambiente vinham sendo frustadas, fazendo-a retornar freqüentemente à sua depressão .

Estava em Psicodrama Grupal há cerca de um ano e meio e ainda sentia grandes dificuldadesde estabelecer um relacionamento amoroso estável, um trabalho, ou mesmo ser bemsucedida nos seus planos de ingresso numa universidade. Socialmente, mantinha-se apáticae reticente quanto aos seus atributos pessoais, demonstrando baixa auto-estima e evoluindosilenciosamente em direção a pensamentos suicidas, após um rompimento amoroso.

Trabalhar essa paciente a partir do papel de Urinador, por exemplo, usando técnicas deDramatização, passou a ser pouco produtivo – colocando-nos em questão outras vias deacesso terapêutico - e em determinado momento impossível, visto que em períodos dedepressão profunda a paciente recusava-se ao desempenho de papéis inviabilizandoquaisquer ação por parte do grupo e do Diretor de Psicodrama. Foi dentro desse contextoclínico que utilizamos as Técnicas do Ingeridor como recurso técnico auxiliar, seguidas detrabalho corporal e psicodramático, sendo essa intervenção muito bem sucedida.

Os resultados efetivos obtidos nesse caso, durante a sessão, logo após e muito tempo depoisda mesma, ficou gravado na memória grupal ao ponto de incentivar-me a buscar umaprofundamento teórico das técnicas manejadas. Não sabemos porque razão foiespecificamente essa vivência que possibilitou uma “catarse de integração” tão significativapara essa paciente, mas as mudanças efetivas ficaram cristalizadas num “renascer” histórico,compartilhado por todo o grupo.

Talvez ajude nesse momento do trabalho levar em consideração o que diz Bermúdez emrelação ao manejo clínico das psicopatologias , principalmente no que se refere à função doEu : “... A principal fonte de riquezas que o Núcleo do Eu oferece ao Eu, a nível de atos, é

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todo o processamento dos dados correspondentes à relação do corpo com o ambiente físico”(Ibdem,p.130), ou seja, que através dos seu agir corpóreo o Eu pode reencontrar o equilíbrioperdido através das suas próprias sensações.

É importante frisar entretanto, que não acreditamos que a aplicação dessas Técnicas, por simesmas, sejam capazes de refazer mecanismos reparatórios ou produzir catarses deintegração. De forma mais clara, estamos a dizer que o responsável pela elaboração ourestauração dos mecanismos reparatórios é o Eu e não os papéis psicossomáticos ou alguma“técnica clínica”.

Dentro do referencial teórico pesquisado, os papéis psicossomáticos e as vivências quepossam remeter aos seus processos elaborativos, podem apenas pôr em evidência osmecanismos internos do Núcleo do Eu, a fim de processar as informações internas eexternas. A nível psicológico, o Eu, faz uso desses mecanismos enquanto defesaspsicológicas, responsabilizando-se por um “processo íntimo de elaboração”, quenormalmente escapa ao controle exterior, de acordo com Bermúdez (Ibdem, p.93), e com anossa própria experiência, anteriormente relatada.

Creio ser esta uma das preocupações mais presentes em toda esta comunicação, que sepropõe com cuidado e rigor a seguir um percurso científico, sem dar margem a engodostecnicistas, firmando conceitos que abrem novos horizontes para a discussão das questõesque coloca a respeito do valor terapêutico das técnicas apresentadas. Pode-se dessa maneiraaprender um pouco mais sobre os processos elaborativos psicodramáticos, estudados à luzda teoria do Núcleo do Eu.

Pode-se também compreender melhor que em psicoterapia, lidamos com realidades internasque se mesclam a fantasias cuja lógica normalmente transcende a compreensão objetiva dosfenômenos observados, permitindo passagens, insights e vivências especiais . Talvez por issoas técnicas psicodramáticas proponham-se a usar métodos de interação psicoativas para darvazão a esses fenômenos, ampliando a realidade objetiva para dar forma e conteúdo aosmesmos.

O importante, como diz Moreno, é que essas técnicas sirvam ao processo de aquecimento,funcionem como impulsores e levem à Catarse de Integração, pois são esses os objetivosdas técnicas psicodramáticas. O terapeuta como produtor psicodramático, buscará fazer comque o paciente e o grupo funcionem como agentes da própria cura, facilitando-lhes odesenvolvimento da tele existente , a catarse de integração, e a recuperação daespontaneidade e criatividade perdidas .

Dentro dessa perspectiva as Técnicas do Ingeridor pareceram cumprir plenamente as funções

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terapêuticas, tanto de aquecimento quanto de auxiliar técnico para a emergência deconteúdos, associações, vínculos , estímulos e possibilitam a reintegração de elementosconstruídos a partir da sua vivência terapêutica.

O seu manejo clínico é bastante simples e ao mesmo tempo eficiente, permitindo o máximoenvolvimento do paciente e do grupo. Como acontece com as outras técnicaspsicodramáticas, haverá a necessidade de proceder uma objetivação dos conteúdosexpressos, durante e após a sua aplicação. Talvez seja preciso recorrer ao uso de outrastécnicas para complementar a vivência dentro dos parâmetros de uma “concretizaçãosimbólica”, ou quem sabe, revitalizar condutas através de exercícios bioenergéticos. Contudo,o canal para um acesso mais profundo ao paciente estará aberto e através desse canal pode-se chegar à catarse de integração.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Capítulo 8

Efeitos do Psicodrama - Algumas Incompatibilidades entre contexto e instrumento

SINOPSE

Neste final de século, além das mudanças de paradigma científico, podemos contar com cerca desetenta e oito anos de descoberta e uso clínico do Psicodrama. Pensamos, então, naspossibilidades de atualizar algumas práticas psicodramáticas, a exemplo das Sessões Abertas depsicodrama e Psicodrama Público. Neste trabalho, coloco em foco alguns aspectos éticos - filosóficos e éticos terapêuticos, teóricos eexperienciais , que se insinuam incompatíveis aos eventos públicos psicodramáticos, assinalandopara a sua inadequação na atualidade.

UNITERMOSPsicodrama Terapêutico, Psicodrama Público, Sessão Aberta, Choque Psicodramático e ChoqueEmocional.

Freud e Marx ( 1) estiveram na linha de frente da ciência deste início de século, trazendo comoestandarte toda a força e a penetração científica do determinismo e materialismo psicológico doséculo XIX. Podemos imaginar a tamanha dificuldade de se lançar alguma proposta científicarevolucionária no campo da psicologia e da psiquiatria, dentro deste contexto, ainda que incorporadaa um substancial movimento “corpo a corpo” junto à sociedade e aos profissionais da área.

Foi exatamente dentro deste cenário que o Psicodrama começou a ser praticado por Jacob LevyMoreno, na mesma Viena onde estava em efervescência a psicanálise freudiana. A prática dopsicodrama moreniano começou nessa época, através do teatro espontâneo ( 1922) , depoisinstituído como teatro terapêutico em sessões abertas de psicodrama ( 1924) e através dedemonstrações públicas dirigidas pelo autor, na qualidade de Psicodrama Público.

Historicamente, com a mudança de Moreno para os Estados Unidos, foram sendo formados váriospsicodramatistas e iniciou-se em muitos países um processo intenso de organização teórica dopsicodrama. Paralelamente, através dos Psicodramas Públicos em sessões abertas , Morenocontinuou processando o método psicodramático e a disseminação do seu enquadre terapêutico,hoje chamado de Psicodrama Clássico . Aos poucos, o psicodrama ficou sendo reconhecido e

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praticado no meio científico como uma linha psicoterapêutica alternativa, pertencente à terceiraforça, também chamada de terceiro movimento psiquiátrico ou ainda, como dizia Moreno, “a terceiravia da psicanálise” ( 4 ).

Podemos considerar que este projeto inicial de disseminação do psicodrama deslanchado porMoreno, teve pleno êxito, dado à grande aceitabilidade do método psicodramático e da sua filosofiano meio psicológico e psiquiátrico, antes mesmo do seu criador ter podido se concentrar maisdetalhadamente no embasamento teórico do seu método à nível psicológico .

Voltando à década de 1930, vimos o quanto esta mudança de Moreno para os Estados Unidos , foiseguida de grandes avanços teóricos e metodológicos, tanto em relação à Sociometria que passoua contar com a colaboração de vários profissionais ligados à área da psicologia social, quanto daPsicoterapia de Grupo que começava a ser tema de grande interesse da psicologia e de psiquiatrasligados à área da psicoterapia.

Sabemos também que os primeiros psicodramatistas formados por Moreno eram adeptos de outrascorrentes teóricas e que receberam estímulos deste, não apenas para praticar, mas sobretudo paraenriquecer os seus métodos terapêuticos com o psicodrama. E que esta grande abertura foicorrespondida com entusiasmo pelos seus seguidores, resultando numa grande diversificação deenquadres psicodramáticos.

Aqui no Brasil, tivemos inicialmente um acesso mais amplo ao modelo trazido pelo psiquiatra epsicanalista argentino Jaime Rojas Bermúdez (1968) que segundo a sua prática clínica comopsicoterapeuta foi traçando limites e contornos ao método original moreniano, que diferiamessencialmente da forma como Moreno inicialmente havia praticado o Psicodrama, ou seja, emsessões abertas e públicas.

Nossos referenciais teóricos do Psicodrama – como segunda geração em diante, foram portantoacrescidos das contribuições teóricas bermudianas, inicialmente quanto à adaptação da sessãoaberta de psicodrama para o setting psicoterápico em sessões sistemáticas e periódicas; eposteriormente , através da teoria do Núcleo do Eu e da técnica de Construção de Imagens , queacabou transformando-se numa nova metodologia psicodramática de trabalho clínico, que situa ametodologia de Imagens entre a fase de aquecimento e a fase de dramatização, ou onde se substituia necessidade de dramatização pelo desdobramento do trabalho elaborativo da Imagem. Foi este oPsicodrama Terapêutico trazido ao Brasil por Bermúdez, o qual na atualidade, dado ao seu nível dedesenvolvimento , direcionamento e aprofundamento teórico, já permite até dissidências .

Também os franceses, trouxeram para o Brasil uma outra abordagem teórica do psicodrama queesta ganhando cada vez mais força e adesão, talvez pelo momento histórico que vivemos de“transpessoalidade”, onde é dado maior prioridade a certos aspectos do desenvolvimento existencial

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do ser humano. Trata-se do Psicodrama Triádico praticado por Anne Ancelin Schutzemberg einicialmente disseminado por Pierre Weil , que radicou-se no Brasil , e que atualmente vemdesenvolvendo uma nova linha de abordagem teórica chamada Psicodrama Transpessoal .

Esses são apenas alguns exemplos de bifurcações teóricas do psicodrama terapêutico, maisevidentes para nós brasileiros, embora outras tendências já comecem a ganhar espaço,principalmente através da teoria sistêmica e da PNL-Programação Neurolingüística. Pensamos que,embora essas dissidências não tenham sido complicadas por rupturas mais significativas à nível datécnica psicodramática, esta situação à nível teórico desencadeou uma visão incompleta e confusaa respeito do que é o Psicodrama enquanto uma prática psicoterapêutica. Isto, aliado à diversidadede propostas teórico-práticas do Psicodrama vem contribuindo, ao meu ver, para descaracterizar econfundir ainda mais a prática do psicodrama como psicoterapia.

Queremos nos concentrar aqui, na discussão de alguns aspectos referentes à prática original dopsicodrama enquanto teatro em sessão aberta , principalmente em forma de demonstraçõespúblicas, como foi inicialmente praticado e divulgado por Moreno, ou seja, em sessões dePsicodrama Público e que, neste momento, vem a ser o nosso objeto central de reflexão.

A prática da sessão aberta de psicodrama em sessão única merece toda a nossa atenção,exatamente por tratar-se de uma técnica psicodramática original com objetivos muito bemdelineados, basicamente vinculados à sua disseminação, e ao que nos parece, fora de época epropósito, já que deixou de ser necessária . Sobretudo porque encerra em si uma questão ética damaior importância e que pode tornar-se bastante delicada quando, por exemplo, em situações degrande aquecimento as relações grupais , sociais e interpessoais ultrapassam o momento emocionalou a capacidade simbólica e elaborativa do grupo ou do protagonista – a exemplo dos choquespsicodramáticos.

Nesse sentido uma das questões que desejamos abrir para discussão refere-se ao uso doPsicodrama Terapêutico, tal como hoje é praticado pelos terapeutas psicodramatistas, em contextosdescaracterizados, onde por exemplo, o auditório não esteja interessado em sofrer os seus efeitosterapêuticos, ou até quando o estejam, mas de forma não comprometida quanto à sua função deagentes terapêuticos de transformação pessoal .

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Dessa forma, é preciso caracterizar melhor a prática dos eventos públicos de psicodrama, cujosobjetivos normalmente não levam em conta as situações de emergência que podem aflorar nassessões abertas, estimuladas pelos métodos de ação, fazendo perder de vista o fato de que, querestejamos ou não em contexto psicoterapêutico, nosso instrumento de trabalho é terapêutico porexcelência. Essa qualidade intrínseca ao instrumento parece ser inerente ao método psicodramáticoe independe do treinamento de papel profissional do psicodramatista.

Vamos agora adentrar mais de perto neste tema, realçando os seus efeitos negativos e implicaçõeséticas mais comprometedoras.

Pela introdução ao assunto, fica claro que deixaremos ao fundo os acertos relativos à essa prática edestacaremos dela os desacertos, para que possamos avaliar possibilidades de controle técnico daprática das sessões abertas de psicodrama, ou não .

1 – CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A influência do psicodrama terapêutico como escola

A idéia moreniana de que somos co-participantes do Universo, responsáveis e livres quanto àsnossas escolhas e ações, e nosso principal agente de cura, contraria inteiramente o determinismopsicológico defendido pela psicanálise, centrado não na realidade imediata, mas metafísica, de quevivemos num contexto social a mercê do mesmo e sem poder de livre-arbítrio, alienados e carentesde nossas próprias forças, afetados pelo poder inconsciente do acúmulo, conservação ouestagnação da nossa energia física vital (1) .

Felizmente, junto ao crescente esclarecimento científico proporcionado pela física quântica emrelação ao comportamento dos átomos e partículas de energia, que estão sempre em movimento adinfinitun, vem crescendo o valor atribuído às últimas descobertas no campo das psicoterapias pormétodos de ação.

Pensamos que o espaço terapêutico e social recentemente aberto por essas pesquisas na área dafísica quântica, trouxeram ao psicodrama e outras psicoterapias alternativas de caráter humanístico,existencialista e holístico, um designe mais favorável à solidificação do psicodrama terapêutico,enquanto escola psicoterápica técnica e teoricamente diferenciada da psicanálise ortodoxa,basicamente ocupada na reintegração corporal, mental, física e espiritual do ser humano.

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Ponderamos que Moreno criou uma escola cujo modelo de ação se propõe a preservar tanto opensar reflexivo quanto a possibilidade de expressão emocional contida em cada ação.

Dentro dessa leitura teórica, que fazemos do Psicodrama, isto eqüivale a dizer que é exatamente nointermédio dessa articulação entre o pensar - sentir - agir, que a espontaneidade e a criatividade vãose produzindo, aos poucos, e vão sendo liberadas na psicoterapia ou na vida comum ou no teatro,através do desempenho de papéis.

Esta noção esta de acordo com o que formula Bermúdez na sua teoria do Núcleo do Eu e representauma possibilidade de aprofundamento teórico da nossa clínica psicodramática.

Dentro desse pensar teórico – que é um pensar expressivo, através da atividade vital, proposta pelaação psicodramática, encontramos a diferença entre a saúde e a doença, entre os papéis bemdesenvolvidos, mal desenvolvidos, pouco desenvolvidos ou patológicos. Isto define para opsicodramatista um modus operandi bem articulado à proposta moreniana de representaçãodramática de papéis, visando a cura e o desenvolvimento da espontaneidade, articulada a um bomdesempenho de papéis, visando possibilitar ao indivíduo uma ação social e existencial efetiva nomundo.

Esta proposta de praticar uma psicoterapia de base existencial fenomenológica, baseada nãoapenas na realidade subjetiva do paciente ou na noção de doença mental, passa pela circunstânciade testar a realidade, utilizando-se como filosofia de ação o desempenho social de papéis e , dessaforma, ultrapassa a noção do valor exclusivo da introspeção para a resolução de conflitos mentaisou relacionais tal como foi preconizado pela psicanálise .

Na nossa prática clínica, através da metodologia ensinada por Bermúdez, vislumbramos anecessidade de um momento anterior à representação de papéis através do trabalho com asImagens Mentais - reais, imaginárias e simbólicas, no sentido de tornar possível uma reflexão daação anterior ao ato e posterior à ação verbalizada. Este manejo clínico mostra - se favorável aotrabalho terapêutico com o paciente e é muito esclarecedor para o terapeuta psicodramatista.

Porém, dentro deste enquadre psicodramático trazido por Rojas Bermúdez , ainda continua em cenaa prática de sessões abertas de psicodrama , de psicodrama e sociodrama públicos, práticas queestamos a questionar nesta comunicação como pouco adequadas à qualidade terapêutica do nossoinstrumento de trabalho.

As incompatibilidades éticas dos eventos públicos

As incompatibilidades do psicodrama em sessão aberta com a sua prática terapêutica e com asrecomendações clássicas psicanalíticas , que visam num primeiro instante uma reflexão da ação

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para a elaboração posterior da emoção, referem-se mais de perto aos mecanismos de defesa quesão mais facilmente solapados pelos métodos de ação, levando ao acting-out irracional ou àabreação. Às vezes, sem que seja este o desejo do protagonista e/ou do grupo, nem tampouco aproposta do psicodramatista, pode acontecer do protagonista sofrer um superaquecimento e/ou umbrusco desaquecimento, pelo excesso de carga emotiva contida numa cena ou imagem ou jogodramático, a exemplo dos choques psicodramáticos.

Sabemos ( 2, p 143 ) que os choques psicodramáticos estão sujeitos ao controle terapêutico etrazem em sua essência o grande potencial do psicodrama de colocar em movimento os processosnaturais de cura, através da própria emoção. Moreno acreditava que a externalização da doençatrazia a cura e relacionava inclusive, os choques psicodramáticos como uma técnica psicodramática( ver psicodrama de crianças, a pág.) – embora, pessoalmente não tenha visto dela uma únicademonstração que não fosse acidental . No nosso entendimento, essa qualidade de externarconteúdos é própria à natureza do instrumento.

Felizmente temos hoje algumas considerações publicadas sobre o choque psicodramático, não comouma técnica psicodramática, mas como um efeito desagradável, arriscado e danoso. Capaz de sertrabalhado psicodramaticamente sim, mas indesejável porque contém e desencadeia muitascomplicações e comprometimentos que ferem a nossa ética profissional :

“ O choque psicodramático e outros aquecimentos profundos podem também expor o protagonista eoutros membros do grupo ao perigo ou ao dano físico, uma vez que a violência pode acompanhar afase reativa .... Um tipo diferente de dano que pode acompanhar o aquecimento ocorre quando oprotagonista irrompe em segredos ou confidências que possam ser embaraçosos ou mesmo pessoalou profissionalmente danosos “( Idem p. 144).

Ponderando que a ocorrência dos choques psicodramáticos tem como cenário usual complicador assessões abertas de psicodrama, essa prática já se mostra, de início, inadequada aos nossospropósitos terapêuticos.

Um outro aspecto dessa questão, refere-se aos “choques emocionais” sofridos na sessão aberta depsicodrama, que são denominados igualmente de choque psicodramático mesmo sem trazernenhum benefício terapêutico ao paciente e que precisam ser devidamente discriminados do choquepsicodramático terapêutico, enquanto técnica psicodramática – aquele que pode ser manejado pelopsicodramatista, como recurso técnico, normalmente através da técnica do espelho e é bastantedistinto em seus efeitos.

Os choques espontâneos não controlados, desencadeados a partir do uso inadequado doinstrumento , parece - nos similar ao que aconteceu com o uso indiscriminado do métodopsicanalítico de divã, com pacientes onde a grande tendência à dispersão de pensamento e

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associações de idéias inviabilizava o processo analítico, contrapondo-se às associações livres ( 7,184).

O psicodramatista, por exemplo, poderá usar a técnica do espelho sabendo que poderá produzir um“choque psicodramático” no paciente, até que ele possa ir fazendo uso do espelhamento de umaforma produtiva, durante várias sessões de psicodrama, sem que seja obtido nenhum efeitoterapêutico eficaz a nível de insight e catarse de integração, da parte do paciente; ou seja, emboratenham sido revividos repetidas vezes na sessão de psicodrama, “choques emocionais”, os mesmosnão se transformaram em “choques psicodramáticos terapêuticos”.

Soeiro, C.A.( 8, p 141), acrescentou à 2ª edição do seu livro Psicodrama e Psicoterapia , um capítuloda autoria de Carlos Alberto Saad onde o autor tece algumas avaliações interessantes sobre a éticado psicodrama, confrontado à sua filosofia de ação, e que transcrevo a seguir :

“ O foco da apreciação ética recaí sobre o contexto psicoterápico, o que permite julgar o bom oumau uso do método. Dito de outra forma, o uso ético ou antiético do método psicodramático depsicoterapia :

a) o bom uso do método ocorrerá sempre que o terapeuta cooperar no processo usando osinstrumentos e técnicas com vistas ao “aquecimento” para a ocorrência de “atos espontâneos” e,como meta no horizonte, a conquista da “catarse total” ou “catarse de integração”...

b) o mau uso do método ocorrerá sempre que o terapeuta utilizar os instrumentos e técnicas doPsicodrama como uma manipulação contentora da dinâmica grupal e as dramatizações serviremsomente para a percepção das situações da vida real, objetivando soluções estratégicas dedentro da própria conserva cultural, o que produziria experts em sobrevivência social e nuncarevolucionários espontâneos, autores do próprio script de vida.

C ) a aplicação dos instrumentos e técnicas do Psicodrama em outras áreas da ação humana –pedagogia, treinamento de papéis para o trabalho, seleção de candidatos para instituições, etc. estasubmetida a uma outra e diferente ética, que não se constitui no objetivo deste trabalho, mas essadiferença deve ser conhecida pelo profissional que se utiliza dessas “técnicas aplicadas” aoPsicodrama” .

Na nossa forma de pensar o psicodrama, não bastaria percebe-lo como um instrumento em busca decatarse, nem tampouco rebelar-se contra a utilização do método como um conjunto de técnicasisoladas, e/ou preocupar-se apenas em estabelecer limites éticos à uma má utilização do métodopsicodramático em contexto terapêutico ou aplicado . É preciso sim, aprofundar as nossas práticasterapêuticas e ir estabelecendo os limites da técnica e do instrumento psicodramático; além disso,

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entende-lo como um instrumento diretivo mobilizador de conteúdos emocionais e ajustá-los à estecontexto.

Ao que parece, pretende –se ainda deixar em aberto, com grande facilidade, o fato de que ascaracterísticas terapêuticas intrínsecas ao instrumento e a sua qualidade de mobilizador espontâneo,impõe necessariamente vários limites éticos ao seu uso enquanto método terapêutico, exigindo umapostura mais clara dos seus usuários , psicodramatistas terapêuticos formados para o exercício dapsicoterapia e não da dramaterapia, termo com o qual vem sendo definido o psicodrama terapêutico,fora do Brasil.

Segundo Jonathan Moreno, voltou-se a discutir a respeito da natureza do psicodrama - se seriateatro ou terapia ? entretenimento ou educação? ( 2, p. 142-147).

2 – COMENTÁRIOS E DISCUSSÃO

Aspectos relativos à prática terapêutica em sessão aberta

É relativamente fácil compreender como a espontaneidade e a criatividade possibilitam através dointerjogo de papéis, sedimentar um método de psicoterapia grupal desde que conservando o seucaráter sistemático , quer se trate este de um grupo terapêutico, familiar, de estudo, de trabalho,religioso ou comunitário.

Da mesma forma, é certamente fácil compreender como operar o instrumento, desde que emsituação de controle sistemático : tudo depende do contexto, considerando-se o contrato com ogrupo – psicoterapia, grupo de formação ou de encontro, psicodramático ou sociodramático.

Embora seja este o trunfo do psicodrama, dispondo o psicodramatista de uma infinidade de técnicaspara operar de diversos modos, com caminhos e possibilidades de ação diferentes para cadaocasião, é exatamente nesse contexto de excesso de possibilidades , que o psicodramatista poderáser chamado a exercer uma ação de controle sobre o instrumento e precisar suspender a açãodramática dado à sua inoperância.

Num determinado trabalho público, por exemplo, tínhamos como proposta realizar uma vivênciatendo como suporte a técnica de retramatização -– técnica destinada a grandes grupos, criada porArnaldo Libermann a partir do enquadre sociodramático ( 3 ). Pelas circunstâncias apresentadas,precisamos adaptar a técnica a um pequeno grupo de seis componentes, ao qual acrescentamos,consentidamente, o nosso ego-auxiliar na condição de participante

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Vimos então, que várias adaptações precisaram ser feitas a fim de dar prosseguimento à propostadeste trabalho, onde fomos chamados a tomar várias decisões que alteraram não apenas oprocedimento usual da técnica de retramatização como os resultados previstos, a nível dos seusefeitos e produto final da vivência.

Embora a proposta de retramatização de personagens internos seja bastante mobilizadora epessoal, pensávamos ser possível fazer uma adaptação satisfatória da técnica naquele grupo,principalmente por tratar-se de profissionais em formação, havendo apenas um elemento de foramas que já fazia terapia psicodramática há vários anos. Estávamos, pois, num grupo mais ou menoshomogêneo, não apenas quanto ao grau de instrução e desenvolvimento pessoal, mas tambémuniforme quanto à idade, sexo e status sócio- cultural e econômico. Ou seja, aparentemente, o grupoestava em condições de aquecimento mais ou menos favorável em relação à proposta e falando amesma linguagem.

Prosseguimos então com a proposta. A partir das escolhas do grupo, o enquadre técnico foi sendoadaptado : (1) inicialmente para acolher a um isolado sociométrico espontâneo e dar continuidade àtécnica de retramatização; (2) coloca-lo em contato indireto com o conteúdo produzido pelo grupo,através da elaboração de uma história a respeito desse conteúdo; e (3) num terceiro momento, paraintegrar o emergente a um dos grupos formados, através da tarefa conjunta de produzir adramatização de uma das três histórias elaboradas, durante o procedimento específico da técnica deretramatização .

A adaptação do procedimento original teve êxito nessas fases de aquecimento e atingiu o seu ápicedurante a dramatização das historias, apresentadas em espelho, para o grupo.

O Sharing, porém, trouxe surpresas e ficou prejudicado pelo excesso de mobilização demonstradaapós as dramatizações das histórias, representadas com muita emotividade e qualidade dramática,possibilitando fortes ressonâncias afetivas com os personagens representados.

Com a passagem para o contexto grupal, na fase de comentários, emergiu a situação imprevista : apessoa que funciora como emergente na fase de aquecimento, fazendo-nos alterar o enquadre paraum psicosociodrama, sofreu um rápido desaquecimento interacional conosco e com o grupo,passando a desqualificar o trabalho realizado e a afrontar o grupo com a sua recusa à participação ecompartilhamento da vivência, afirmando “ não ter ido fazer psicodrama” e por isso “estar se sentindoexposta” – choque psicodramático ?

Em conclusão, nada pode ser feito além de acolher este protagonista em sua recusa e passar acompartilhar com ele os personagens representados, continuando a respeitar o seu momentointerno, a sua a privacidade e a sua nova escolha.

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A inadequação da sessão aberta como contexto

Após algum estudo desse caso acima relatado, concluímos sinteticamente que havia algumaincompatibilidade que ia além de qualquer falha na adaptação da técnica ou de qualquer indisposiçãomomentânea do grupo para a vivência – resistência consciente. E que esta incompatibilidade diziarespeito a algum aspecto situado entre o contexto e o instrumento, durante a ação dramática, aoqual só tivemos acesso durante o fechamento do trabalho, quando então ficou patente a incoerênciade atitudes do protagonista que parecia encerrar através de uma incorreção em seu comportamentoético e social, algum tipo de protesto contra uma ressentida ação manipulativa, a qual fora expostosimplesmente por estar presente à vivência, e para todos os efeitos , sem a sua permissão. Nassuas ambíguas palavras ele fora participar de um workshop e não de “uma sessão de psicodrama” -o famoso “estou sofrendo, por favor não me toque” .

Ao que tudo indica, foi precisamente este contexto não-terapêutico que serviu de muralha para oestancamento da espontaneidade e criatividade conseguidas até então, pelos participantes destavivência.

Podemos também concluir que a emergência de material com forte carga afetiva não processada,aflorou durante as dramatizações ultrapassando o timing do grupo e assustando o protagonista,servindo de barreira transferencial para o enfraquecimento da tele grupal e consequentemente,suspendendo o trabalho da direção antes de obter-se algum insight da objetivação do instrumentoenquanto um técnica de representação dramática dos papéis significativos daquele grupo.

A nível relacional, a resistência ( negativa à participação ) posterior à vivência assinala a ocorrênciade um “choque emocional” que poderia ou não transformar-se num “choque psicodramático”integrando a vivência traumática, posto que a catarse aconteceu em forma de acting-out irracional,ou seja, os sentimentos jorraram em forma de emoção situando a tele entre a resistência e atransferência. Situação não prevista para uma vivência em sessão única e aberta mas, como vimos,passível de ocorrer.

É importante frisar que a avaliação feita pelo protagonista pertence a uma pessoa culta porém “leigana área” e como tal , serve de parâmetro para demonstrar como o psicodrama pode ser visto defora, pela sociedade, através desse tipo de prática isolada. No caso relatado havia como contornaros efeitos imediatos da técnica, sobre o protagonista – que dispunha de um contexto terapêuticopessoal para a elaboração da vivência mas...

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Mas, consideremos outras circunstâncias onde pudesse ter havido um controle possível :

O psicodramatista poderia ter sido chamado a protagonizar a cena do grupo, no início da sessão, eter aceito o jogo, fazendo uso de alguma manobra de dispersão de conteúdos para sustar a açãoespontânea grupal e/ou do protagonista, conduzindo-os a uma situação de controle. Conforme refereSaad, neste caso o psicodramatista estaria sendo antiético a nível filosófico, em relação aocompromisso ideológico psicodramático de ir em busca da catarse de integração psicodramática,indo também de encontro à proposta existencial-fenomenológica do psicodrama de seguir o pacientee acolher o fenômeno puro.

Ao deixar de lado o tema trazido pelo grupo, por exemplo, introduzindo como estímulo outros temaspara serem trabalhados ou usando alguma técnica psicodramática específica, a exemplo do JornalVivo , onde todos poderiam se propor a representar “papéis sociais” em conserva, estaria opsicodramatista ultrapassando limites éticos ? Neste caso a técnica estaria sendo usada paradesaquecer o grupo, intencionalmente e estaria sendo desrespeitado o tema original e espontâneotrazido pelo grupo .

Aparentemente, contudo, a monobra poderia dar certo havendo até grandes chances de aceitaçãodo jogo, por parte do grupo, principalmente pela porta que estaria se abrindo para a fuga deconteúdos mais pessoais e/ou emocionalmente desconfortáveis.

Ocorre que, mesmo deixando-se de lado os compromissos ideológicos com a técnica, esse estadode desaquecimento seria apenas superficial; embora o trabalho pudesse prosseguir mantendo-se otema na superfície, estava ele presente na corrente do co-inconsciente grupal, em estadosubliminar . Neste caso, poderiam ser prevenidos, por algumas horas, os acidentes típicos : choquespsicodramáticos, revelações de dados confidenciais comprometedores, injúrias e violências,comportamentos antiético profissional ou agressão moral em forma de exposição pública...

Mas, de qualquer forma, a nível terapêutico, o que definiria o sucesso da dispersão do tema rejeitadopelo psicodramatista, seria a resolução ou o processamento do tema emergente do grupo e, dessaforma, se estaria apenas fugindo à uma temática que provavelmente retornaria, deixando clara aineficácia dessa estratégia, pouco usual em psicoterapia, contexto onde se reserva espaço total paraa verdade . Além disso, poderia se esperar um retorno do conteúdo grupal investido com mais forçaainda. Segundo Moreno ( 5) :

“ Mais importante do que a ciência é o seu resultado, Uma resposta provoca uma centena de perguntas.”

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Busca de correções e controle

Pensamos que, seja qual for a direção dada ao trabalho público – aprofundar ou superficializar anível de conteúdos pessoais, o que definiria filosoficamente uma postura ética profissional adequada,seria acolher o conteúdo grupal como soberano e inviolável ao manejo particular do protagonista, aser respeitado pelo terapeuta e pelo grupo, mesmo que nem sempre seja o mesmo conscientementesentido, expresso ou percebido como patrimônio particular – cabe ao psicoterapeuta investigar eseguir, e não direcionar e se esquivar.

Todos esses aspectos reunidos, exige também uma postura ética muito flexível, no sentido deavaliar qual seria a capacidade do protagonista e do grupo, de suportar o contato direto com oconteúdo emergido ou que poderia vir a emergir, no caso de se estar fazendo um possívelplanejamento da ação para o setting da sessão aberta. Seria necessário, nesse caso, avaliar aspossibilidades grupal e individual de entrar em contato direto com o próprio grupo, com opsicodramatista e com uma situação não – resolvida ( 7 p.180-183) .

Infelizmente, no caso de trabalhos públicos, além de termos de levar em conta a inadequação docontexto, o mais provável é não sabermos qual seria a capacidade do grupo e/ou do protagonistapara lidar com o material emergido nem durante, nem após a sessão aberta de psicodrama . Essassão variáveis e situações para com as quais precisamos estar bem preparados, na melhor dashipóteses, para saber lidar com as possibilidades de choques emocionais e psicodramáticos e, namelhor das hipóteses, para saber evitar os choques emocionais em detrimento da “banalização douso do psicodrama como instrumento terapêutico” .

Neste ponto, me vem à lembrança o grande trabalho que foi para a psicanálise discriminar asassociações de idéias das associações livres. Os psicanalistas tiveram como pista o fato dasassociações de idéias se dispersarem do conteúdo e as associações livres estarem relacionadas,mesmo que simbolicamente, com o tema central que estava sendo tratado. E tiveram como trunfo,também, o comportamento de evitação fóbica freudiano que redundou no uso do divã psicanalítico,uma vez que determinados pacientes tendiam mais à dispersão de idéias quando no divã e outrosadaptavam-se melhor às associações livres quando em estado de relaxamento( Idem, 184).

A nível do psicodrama em sessão aberta, sabemos que poderá ocorrer uma formação reativa após asessão, por parte de algum membro do grupo que se sentiu “deixado pendente” ou “precisando deum útero” ou “carente de atenção”, “desprestigiado” ou “preterido”, exatamente depois que terminoua sessão e começou a “ver o filme” - Jonathan Moreno cita um caso de formação reativa após aocorrência de um choque psicodramático, onde um paciente foi trabalhar a sua raiva do terapeutanuma sessão aberta de psicodrama, na ausência do terapeuta ...”relatando o que parecia ser umtrabalho mal feito” ( 2, p.144).

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A essa altura já é possível extrair deste texto algumas considerações :

(1) Temos a noção de que os choques psicodramáticos produzem catarses e são seguidos deinsights ou de formações reativas , ou seja :

- que produzem resistência e são seguidos de transferência – isto é, de distorções do vínculo e datele,

- que produzem uma reação emocional não simbolizada que leva a uma formação reativa - que esta formação reativa é patológica principalmente pela sua intensidade, e- que poderíamos chama-la num primeiro momento, apenas de choque emocional , por estar aemoção em estado bruto e inacessível ao protagonista enquanto sentimento e/ou conteúdo próprio;

(2) Segundo a definição dada por Moreno ao Choque Psicodramático sabemos que :

- ao produzir uma reação emocional exagerada típica de “acting-out” o choque psicodramáticogeralmente é seguido da catarse de integração, e- os insights terapêuticos normalmente dependem do momento do processo do paciente e do timingdo protagonista ; e que - neste caso é possível uma simbolização de conteúdo e da emoção o confronto terapêutico com omaterial traumático é mais característico ao que Moreno denominou de choque psicodramático .

Resta-nos definir como lidar com essas possibilidades de choques acidentais, que são em princípio,inadequados ao avanço do processo do paciente , à credibilidade do psicodrama, da competênciatécnica do psicodramatista e ao conforto emocional do grupo em seu conjunto .

Uma das formas possíveis, já conhecidas no meio psicodramático, poderia ser o cuidado com o usoda técnica de Espelho.

Outra possibilidade seria o uso sistemático da técnica de construção de imagens, antes da vivência,para permitir uma introvisão da ação como dizia o próprio Moreno (5), tomando-se o cuidadocontudo, de não utilizar a Imagem como uma forma de desaquecimento ou fuga de conteúdospessoais do protagonista – conforme falamos anteriormente.

Com certeza existem outros caminhos e técnicas preventivas tão ou mais eficazes do que asimagens, mas acredito que para o sucesso de qualquer uma delas talvez seja essencial umacondição : a adequação do contexto.

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Achamos necessário que o terapeuta psicodramatista se reserve o direito de atuar em contexto depadronização geral, característico ao processo de qualquer psicoterapia convencional .

Fora deste contexto, haveriam de ser estudadas quais as técnicas mais adequadas a trabalhos destegênero, cujo objetivo não fosse servir de agente terapêutico ao grupo mas antes a cumpririnteresses de divulgação da técnica psicodramática, no fundo demonstrando poderes, sem saberes.

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Efeitos das sessões abertas de psicodrama

Consideramos que cabe a nos, psicodramatistas atuais, repensar a respeito de alguns métodos epráticas psicodramáticas originais que possam estar em estado de conserva cultural, que sejaimprodutiva, inadequada, ultrapassada ou até contraproducente ao avanço e à credibilidade dopsicodrama, principalmente como um método de psicoterapia, deixando brechas à uma má utilizaçãodo mesmo enquanto instrumento terapêutico eficaz, ou reduzindo-o a uma mera técnica de açãosocial manipulativa e consequentemente não - ética.

Não podemos perder de vista que ao lidar com as emoções das pessoas, estamos ativando alémdas memórias coletivas, memórias individuais conscientes e inconscientes, comportamentos,fantasias, desejos, sentimentos e vivências particulares experimentadas nos diversos grupospercorridos ao longo de uma vida. Cabe, então, não apenas refletir a respeito do que pode e/ou devepermanecer oculto, comportar-se como desejo, fantasia ou possibilidade dramática durante asessão. É preciso não perder de vista que geralmente são esses personagens ausentes quecompõem o mundo particular e individual potencialmente capaz de insinuar o drama individual oucoletivo, a ser tratado como tal, impondo limites à utilização do instrumento em ambiente inadequadoou contexto descaracterizado .

Pode acontecer do evento público torna-se um fracasso, no sentido de não deixar marcas ouprodutos além de um efeito de curiosidade ou complacência do auditório . Ou ele pode se configurarnum fracasso por ter deixado o protagonista ou o grupo muito mobilizado. Mas sabemos que aelaboração de uma situação traumática pode emergir a partir de qualquer estímulo relacionado aoprotagonista, ao terapeuta, ao Ego-Auxiliar, ao grupo, ao momento de cada componente ou àtécnica utilizada. E que todos eles podem funcionar como obstáculo , dificultando a situação ecomplicando a obtenção de uma discriminação objetiva do instrumento.

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Sugestões de Jonathan Moreno

Jonathan Moreno sugere que o objetivo da sessão aberta de psicodrama seja educacional outeatral , limitando-se o assunto : (1) à uma exploração mais superficial a nível de jogo de papéis sociais ; (2)ou que as sessões sejam conduzidas como um sociodrama onde não entre em cena conteúdospessoais mas representações dramáticas que visem ao bem – estar do grupo, encorajando a suacoesão para uma atividade cooperativa : “Os membros do grupo desempenham papéis sociais, taiscomo professor, guarda policial, burocrata ou político, mais do que papéis individuais, e asrepresentações baseiam-se inicialmente em protocolos familiares aos membros da cultura, entãomodificados pelo grupo com base nas preocupações que dele emergem. Dessa forma, comfreqüência, resulta um sentimento de solidariedade social reforçado” ( 2, p 145-6 ).

Sugere ainda que este estilo de montagem do sociodrama em setting aberto, possa reduzir asambigüidades relativas à natureza do psicodrama, especialmente quanto ao fato do psicodramapoder ser caracterizado como terapia ou como teatro. A finalidade segundo o autor, seria ao queparece, manter a situação descaracterizada para que assim se possa obter uma mistura de terapiasocial, entretenimento e teatro, que fosse eticamente segura ( Idem, p.147).

Conclusão

Embora em alguns aspectos consideremos válidas as suas sugestões, dentro da nossa realidadeteórico- prática e cultural , parece ser útil continuar questionando o uso dessa modalidade detrabalho psicodramático como uma proposta isolada, não terapêutica, desde quando em suas raízes,o que se quis demostrar foi exatamente o contrário, ou seja, os efeitos terapêuticos do psicodrama,tratando-se de testar na realidade qual era o grau de potência ou impotência do instrumento.

Em função desses e de outros tantos aspectos abordados neste trabalho, como as questões éticase o respeito ao momento do paciente e à filosofia psicodramática, aspectos que consideramosessenciais à continuidade da prática clínica psicodramática é que avaliamos ultrapassados ospropósitos dessa prática, pelo menos a nível sociátrico.

Este tipo de reflexão pode não estar de acordo com algumas das premissas de convivência entrevisões opostas mas pensamos ser possível um nível de diálogo quanto a reflexões e/ou resoluçõesnecessárias :

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(1) continuar praticando o psicodrama em forma de teatro, já que toda ação é uma ação possui assuas bases e interesses comunitários, mas como diferenciar essa prática do psicodramapsicoterapêutico?

(2) é possívell que se torne mais evidente a diferenciação dos campos de aplicação do psicodrama,não apenas como teatro terapêutico, como uma “dramaterapia” vinculada ao teatro, dirigida epraticada por psicodramatistas teatrólogos , artistas e outros profissionais, ou enquanto um role-playing, ou como uma simples técnica de abordagem ou de aquecimento, sem confusão deenquadres ?

(3)é possível continuar aprofundando o psicodrama como psicoterapia ,estabelecendo parâmetros e definindo o seu enquadre técnico terapêuticosem ponderar a respeito das suas possibilidades teóricas de conexão com outras linhas ?

(4) as atuais tendências do psicodrama em direção às teorias psicanalítica , comportamental,sistêmica e holística, são teoricamente compatíveis ou incompatíveis ?

(5) Como cuidar para que o psicodrama não seja desvirtuado como prática clínica psicológica, comopsicoterapia individual e psicoterapia de grupo ?

Referências Bibliográficas

1.Brander, Nathaniel - Auto-estima, Liberdade e Responsabilidade, 2ªedição Ed. Saraiva, SP 1997 2.Holmes,P. , Karp, M. , Watson M. – O Psicodrama após Moreno – Inovações na teoria e na prática,Ed. Ágora, SP 19983.Libermann, A – “ Retramatização : a ação dramática como agente de transformação – umaproposta sociondramática” in Revista Brasileira de Psicodrama, volume 3 fascículo II , FEBRAP, SP ,19954.Moreno, J.L. – Psicoterapia de Grupo e Psicodrama Ed.Mestre Jou SP 19745......................... Psicodrama Ed. Cultrix 2a edição SP 19786Moreno, Zerka-Psicodrama de Crianças7.Ruesch, Jurgen – Comunicación Terapéutica, 1ª edição Ed. Paidós, Buenos Aires, 19648.Soeiro, Alfredo Correia – Psicodrama e Psicoterapia, 2ª edição Ed. Ágora, SP 1995

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ANEXOS

ANEXO I - ASPECTOS DA UNIDADE FUNCIONAL

Por Alfredo H. Cia, Roberto Glauss e Suzana M. Etcheverry

I - Complementação de Personalidades para Estruturação de Unidade Funcional

Habitualmente na prática psicodramática, é comum encontrar certas dificuldades, mais oumenos sérias, na integração eficaz da associação Diretor – Ego-Auxiliar, que terá de constituir-se oque se tem dado chamar Unidade Funcional..

As vezes essas dificuldades tendem a ir desaparecendo à medida que progrida o tempo detrabalho em comum, como conseqüência lógica de uma integração progressiva. Porem às vezes,pelo contrário, observa-se que as dificuldades não só não desaparecem, como parecem ire-seagudizando paulatinamente. A reflexão sobre a possível origem desta situação nos tem levado aprocurar achar uma explicação racional para a mesma, o que tem constituído a base da exposiçãoque segue em continuação.

Sobre a base de que a personalidade “normal” pura, praticamente não existe, podemosestabelecer uma correlação entre distintos tipos de personalidades, procurando determinar apossível capacidade entre os mesmos, com vistas a formação de uma UF psicodramática eficiente.

Podemos trabalhar com distintas tipologias : Jung, Krestchmer, Heymans, Sheldon, etc. para,a partir de cada tipo descrito, tratar de determinar as possíveis correlações positivas ou negativaspara nosso objetivo.

Desde o ponto de vista da Teoria da Comunicação e tomando os tipos de personalidadepsicopatológicas descritas por Ruesch, consideramos como necessidade prévia uma adequadaelaboração através do período de tratamento terapêutico-didático psicodramático que deve realizarcada um dos aspirantes a Diretor ou Ego-Auxiliar. O Síndrome psicopatologico individual que tenhamapresentado em uma ocasião, tais aspirantes, terão de ir-se reduzindo ate chegar ao quepoderíamos chamar o elemento nuclear da personalidade, também chamado temperamento; o que,tal como geralmente se aceita é imodificável.

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A partir dessas premissas, então, podemos estabelecer uma série de possíveis combinaçõesentre as distintas personalidades que poderiam integrar uma UF ( Diretor-Ego-Auxiliar) e tratar depredeterminar seu maior ou menor grau de eficiência potencial.

Aplicando então este esquema comunicacional, a hipótese é que não resultará convenienteque se forme uma UF entre dois integrantes ( eventualmente também pode ser mais de dois) cujapossível incompatibilidade possa resultar numa tendência a gerar “ruídos” que possam alterar afidedignidade das mensagens, criando confusão no protagonista e no auditório.

Assim, por conseguinte, seria conveniente que tal integração se faça sobre a base de umconhecimento prévio que permita, por exemplo, evitar a possibilidade de que se unam duas pessoasque apresentem o mesmo tipo de alteração em seus receptores, de modo tal que nos doispredominem os distais por sobre os proximais ou vice-versa; ou melhor, que apresentem dificuldadessemelhantes em sua função simbolizante; ou similar dificuldade para a interpretação das mensagensmetacomunicacionais; o predomínio do mesmo sistema de codificação ( digital ou analógico ) ; ouidêntica dificuldade de correção das mensagens mediante “feedback”; etc. Resumindo : Se deverátratar de não combinar duas personalidades com escotomas coincidentes.

Aplicando o enquadre teórico do Núcleo do Eu de Rojas-Bermúdez, podemos efetuar umraciocínio similar ao precedente e que se pode ainda, definir com maior precisão. Considerando quea prática indica, tal como antes o mencionamos, que a personalidade “normal”pura , não existe, istoimplicaria que na Fórmula Estrutural egóica de cada um dos integrantes de uma UF, existiria umadada alteração, por uma porosidade ou “diátese” na estrutura de um papel psicossomático; por suavez, isto implica na contaminação entre os conteúdos de duas áreas de conduta, indene somenteuma delas, denominada “área sobrevalorada” e que, por conseguinte, passa a ser a áreapredominante de eleição do comportamento, por ser a única que não apresenta elementos deconfusão.

Segundo isto, então, a estruturação de uma UF ideal deveria achar-se sobre a base de umanão coincidência, nas respectivas Fórmulas Estruturais de seus membros, de um mesmo papelpsicossomático poroso ou diatésico. Desta maneira se poderia obter uma Complementação entre osmembros da UF de modo tal que se verifique uma verdadeira suplementação do papel poroso deum, por um papel indene do outro e vice-versa.

Isto implicaria que em dita UF, tomada como uma integridade, não ficariam áreas de condutaconfusas; e dizer que se teria criado entre duas pessoas, um Núcleo do Eu idealmente são, o queredundará em indubitável benefício para o trabalho terapêutico em equipe.

Quanto à diferença dos possíveis mecanismos reparatórios para um mesmo papelpsicossomático alterado, embora possam dar lugar a distintas personalidades, segundo qual seja a

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área de predomínio dos mecanismos correspondentes, ainda assim, seria inconveniente acombinação dessas personalidades. Por exemplo: Histérico e Fóbico, ambos com carências nopapel de Ingeridor.

Resumindo: A combinação de personalidades integrantes de uma UF deve fazer-se entremembros que apresentem, cada um deles, um só papel psicossomático poroso, que por sua vez,não coincida com o do outro.

Cabe notar que, no caso em que a UF se forme com mais de dois integrantes, estes conceitossão de similar aplicação porquanto sempre se tratará da associação de dois papéis com funçõesperfeitamente delimitadas, para a consecução de um objetivo em comum : o trabalho terapêutico emequipe.

ASPECTOS DA UNIDADE FUNCIONAL

“ Os campos de trabalho do Ego-Auxiliar”

Uma das circunstâncias que reasseguram a tarefa da UF dentro da estrutura do Psicodrama,é que os campos de trabalho de cada um de seus integrantes estão claramente delimitados.

Estes campos de trabalho estão também delimitados para cada etapa da sessão, a partir daconsideração das quatro distintas funções do Ego-Auxiliar.

Vamos mencionar aqui somente o referido a este papel do Ego-Auxiliar, entendendo queconstitui –se uma invasão de campo não trabalhar nessas condições estabelecidas para o papel.

AQUECIMENTO

Como na etapa de aquecimento o Ego-Auxiliar, colocado no contexto grupal, recebe oaquecimento que realiza o Diretor, na medida em que sua responsabilidade se refere ao seu papelde Ego-Auxiliar e, em função de ser ele um OBSERVADOR SUBJETIVO OBJETIVADO eINVESTIGADOR SOCIAL, sua atitude é em termos gerais passiva e de recepção. Portanto, toda ainformação que se produza da parte do grupo, contribuirá para formar uma atmosfera emocional queo Ego-Auxiliar irá registrando para o seu trabalho.

É por isto que fica claro que ainda as perguntas que o Ego-Auxiliar faz, devem estar dirigidasà obtenção de uma maior ou melhor identificação emocional e não para apontar o materialterapêutico que possa estar mobilizando o Diretor.

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Durante essa etapa de aquecimento, o Ego-Auxiliar pode intervir ativamente, na medida emque o faz para ir conformando seu campo de trabalho, o emocional ou afetivo.

DRAMATIZAÇÃO

Durante esta Segunda etapa da sessão, no contexto dramático, é claro que o Ego-Auxiliar,como agente terapêutico do Diretor, deve seguir sua linha terapêutica; mas, ao distinguir doismomentos na tarefa de agente terapêutico destacamos isto: trabalha-se a partir da consigna doDiretor; é no entendimento dessa consigna que, dramaticamente, o Ego-Auxiliar tem a total liberdadede complementar os papéis que oferece ao protagonista como um papel da sua criação. Nummomento posterior, deve-se então ajustar as características de seu papel com a linha terapêuticaque o Diretor marca. O mudar esta linha, constituiria uma invasão do campo de trabalho do Diretor.

Tratando-se desta etapa e desse contexto, o que o Ego-Auxiliar deve evitar é fazer umainterpretação verbal direta ao protagonista. No cenário, dramaticamente, o Ego-Auxiliar conta comum recurso técnico : a interpretação do papel. Esta lhe permite, sem afetar a sua relação com oprotagonista, fazer-lhe chegar a sua informação.

COMENTÁRIOS

Nesta etapa, na medida que o Ego-Auxiliar transmite ao grupo o resultado de suas vivênciasno cenário, ou ainda do contexto grupal, completa sua tarefa dentro dos lineamentos que faz do seupapel. Esta , talvez não seja demais dizer, não é uma fase de interpretações verbais da parte doEgo-Auxiliar, tampouco do Diretor. Mas é permitido assinalar as condutas verbais e não-verbais quetenham registrado no aqui e agora.

Como último ponto, queremos mencionar que no caso, não comum, mas possível, de invasãodo campo dramático a nível histriônico, da parte do Ego-Auxiliar, devido à sobreatuação do mesmo,o campo invadido não seria o do Diretor, mas o do protagonista.

II - PATOLOGIA DA UNIDADE FUNCIONAL

Teoricamente, uma UF bem treinada não teria motivos para apresentar comportamentos patológicos,durante a sua tarefa ou fora dela. Todavia, eles podem aparecer de vez em quando, como resultadode conflitos crônicos interpessoais não resolvidos, alheios à UF. Esta tarefa, compartilhada durantemeses e, às vezes, anos, pode dar lugar a situações de conflito pessoais, que cheguem a perturbara relação profissional, manifestando-se no dito vínculo. Em outras ocasiões, tratam-se de conflitosinterpessoais estimulados pela tarefa, e que depois de certo tempo irrompem a nível de UF.

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No momento, chegou-se a um nível de profissionalismo onde os conflitos interpessoais não incidemna tarefa. Esta claro que , cedo ou tarde, a UF deverá ser dissolvida, caso isto não aconteçaespontaneamente, ou através de uma supervisão clínica da UF. Neste caso, será dado um tempo aogrupo para elaborar esta separação e processar a mudança, sem contamina-lo.

Essas possibilidades viabilizam a manutenção de papéis bem desenvolvidos, que permitem apermanência dos vínculos do subsistema de instrumentos.

Uma das circunstâncias onde se evidenciam transtornos mais freqüentes na UF, sobretudo nosprincipiantes, são os estados de alarme, que podem chegar a superar o papel profissional, levandoum dos membros a desvincular-se do seu companheiro de equipe. A falta de confiança em si mesmoe no desempenho do outro, tende a eliminar o outro do vínculo. Para esses casos, toma-se comouma medida profilática, começar a trabalhar em UF, com a ajuda de um profissional experiente, aoqual se delegue a solução das situações agudas que podem apresentar-se.

Em resumo, o vínculo Diretor-Ego-auxiliar, pode ser perturbado quando um ou outro se afastam dopapel profissional para uma relação mais comprometida, como a que envolve o indivíduo em suatotalidade ( Ver Esquema de Papéis). Isto significa que a patologia de papel da UF pode ter comoponto de partida, tanto o Diretor, como o Ego-Auxiliar , como vimos abaixo.

PATOLOGIA DA UF A PARTIR DO DIRETOR

Deve-se considerar, a princípio, todas as condutas resultantes da própria personalidade do Diretor,que estão encobertas pelo papel, a exemplo das ideologias e racionalizações. A desconfiançaexcessiva sobre a capacidade e idoneidade do outro, a incapacidade de realizar uma leitura dasformas dramáticas sem comprometer-se pessoalmente ou querer participar delas, ou ainda, os zelosprofissionais e o receio de ser desqualificado pelo Ego-Auxiliar.

Outro item a tratar relaciona-se com a ideologia psicoterapêutica. Se a mesma estiver centrada nacomunicação verbal, o Ego-Auxiliar se deshieriarquiza e deixa de ser funcional.

Um terceiro item, refere-se ao compromisso econômico, pois, trabalhando-se em equipe, deve-secompartir honorários.

Por último, a necessidade do Diretor de não ter uma testemunha qualificada que possa avaliar o seutrabalho.

PATOLOGIA DA UF A PARTIR DO EGO-AUXILIAR

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Como no caso do Diretor, a estrutura de personalidade dá lugar a uma série de transtornoscomportamentais que podem perturbar a tarefa. Neste caso, a desconfiança extrema do Ego-Auxiliar, pode gerar temores de que o Diretor o coloque em situações perigosas e o deixe entregue àprópria sorte.; o excessivo comprometimento pessoal nas dramatizações, ou pelo contrário, aimpossibilidade de ser um detetor de conteúdos, dado ao seu afã de controlar a dramatização parafins pessoais.

Os problemas ideológicos podem manifestar-se questionando-se a consigna, deixando o Diretornuma posição embaraçosa, ou explicitando-se o seu desacordo com a mesma.

O fator econômico pode também gerar conflito e deve ser levado em conta, sobretudo quando oEgo-Auxiliar supervaloriza o seu trabalho e desvaloriza o trabalho do Diretor.

Por fim, a competência profissional e/ou pessoal do Ego-Auxiliar, pode dar origem aoestabelecimento de relações alheias à tarefa, e em alguns casos, gerar relações substitutivas,quando em um grupo terapêutico, “por casualidade” , o Ego-Auxiliar passa a tratar pacientes queabandonaram o grupo.

SINTOMAS PATOLÓGICOS DA UNIDADE FUNCIONAL

1) No Contexto Social : mudanças de horário, questionamento dos honorários, vestuário, linguagem,duração das sessões, freqüência, características do grupo. Ou seja, quando a sintomatologiacompreende aspectos contratuais, previamente aceitos, o seu questionamento posteriorevidencia alterações na dinâmica da UF.

2) No Contexto Grupal : avaliações negativas ou suspeitas quanto ao trabalho do outro, sobretudoquanto à direção da dramatização ou quanto ao papel jogado; comentários que deixamtransparecer cumplicidade com o protagonista ou com algum membro do auditório; atrasos nachegada, faltas, distrações manifestas e saídas desnecessárias.

3) No Contexto Dramático : É neste contexto onde se manifestam, particularmente, os sintomascorrespondentes à patologia da UF :

- Da parte do Diretor : A mais importante é a diminuição das intervenções do Ego-Auxiliar, nasdramatizações, até uma total inatividade; consignas confusas, humilhantes ou rigorosas;substituição do Ego-Auxiliar por um espontâneo , para repetir a cena; deixar que o Ego-Auxiliarse comprometa pessoalmente nas dramatizações, atribuindo-lhe um papel similar ao seu , quepode afetar pessoalmente o seu desempenho, fazendo-o sair do papel profissional; submetê-lo acircunstâncias de super- esforço físico que o esgotem, ou expor o Ego à violência de um pacienteou do grupo.

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- Da parte do Ego-Auxiliar : Não respeitar de início, a consigna do Diretor, passando a jogar opapel a seu critério, atitude completamente diferente das modificações que são introduzidasdurante a dramatização; trabalho a contragosto, evidenciando que se desempenha o papelapenas a partir da consigna, sem estar convencido de que este seja o papel conveniente;desconexão do Diretor, passando à cena sem reparar ou pedir novas consignas para prosseguira dramatização, forçando o Diretor a introduzir outro personagem ou subir ao cenário para darnovo curso à dramatização; sobreatuação ou provocação de situações que impliquem em sexoou violência; interrupção do papel jogado para fazer comentários a respeito, desautorizando ahipótese terapêutica do Diretor. Por fim, o Ego-Auxiliar, em condições anormais, poderá utilizar-se das dramatizações para obter benefícios secundários que não se relacionam com o papeljogado. Por exemplo, aproveitando-se da situação para agredir ou seduzir o Protagonista.

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ANEXO II - COLETÂNEA DE FILOSOFIA HERMÉTICA

YOGA KUNDALINI

Coletânea de vários autores Por Celina Santos

A yoga kundalini, uma divisão da tantra yoga, tem ultimamente recebido bastante atenção nosEstados Unidos. Deste desdobramento da yoga, decorre um método altamente estruturado deautodesenvolvimento através de exercícios e meditações cuidadosas, e também uma maneirafascinante de considerar os relacionamentos corpo-mente. Meu interesse pessoal pela kundalinicomeçou quando percebi pela primeira vez que a perspectiva kundalini quanto à estrutura doprocesso psicossomático é em certos aspectos assombrosamente similar a algumas das abordagensocidentais, como a bioenergética, a energética reichiana, o rolfing e a quiroprática.

A idéia central do Kundalini é que dentro do miolo da coluna, numa região oca que sedenomina canalis centralis, encontra-se um conduto energético que os hindus chamam de“Sushumna”. Ao longo deste conduto, desde a base do ânus até o alto da cabeça, flui a maispoderosa de todas as energias psíquicas, a energia Kundalini. Além disso, existem de cada ladodeste canal, dois outros canais acessórios, um chamado “Ida”, cuja origem situa-se à direita da baseda coluna, e outro, chamado de “Pingala”, que se inicia à esquerda. Estas duas correntes psíquicas,que correspondem ao masculino (IDA) e ao feminino (PINGALA) nas forças vitais, são consideradascomo energias que se enrolam em torno da coluna e de Sushumna, em sentido ascendente, comocobras, entrecruzando-se em sete pontos importantíssimos. Cada um destes sete vértices édenominado CHAKRA ou “círculo de energia” sendo considerado um centro de consciência.Segundo a antiga literatura hindu, cada Chakra esta voltado para aspectos muito específicos docomportamento e do desenvolvimento humano.

Exatamente o que são os sete Chakras e a quais aspectos do desenvolvimento humanocorrespondem ? Conquanto eu vá responder a estas perguntas com maiores detalhes, conforme forpassando à investigação e à discussão de todas as regiões do corpo-mente envolvidas, apresentareiaqui uma breve descrição de todos os Chakras. São os seguintes, em ordem ascendente, tal comose manifestam no corpo-mente:Chakra 1 – Chakra da raiz, Muladhara. Localizado na base da coluna; relaciona-se com o grandepotencial humano, com a energia primitiva e com as necessidades básicas de sobrevivência.Chakra 2 – Chakra do baço, Svadhisthana. Localizado na altura dos genitais; relaciona-se com osimpulsos sexuais e com os relacionamentos interpessoais primários.Chakra 3 – Chakra do umbigo, Manipura. Localizado no umbigo; relaciona-se com as emoções emestado bruto, com impulsos do poder e com a identificação social.Chakra 4 – Chakra do coração, Anahata. Localizado acima do coração, relaciona-se comsentimentos de afeição, amor e auto-expressão.

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Chakra 5 – Chakra da garganta, Vishudha. Localizado na frente da garganta; relaciona-se com acomunicação, a expressão e a auto-expressão.Chakra 6 – Chakra frontal, Ajna. Localizado no espaço entre as sobrancelhas; relaciona-se aspoderes da mente e à autopercepção intensificada.Chakra 7 – Chakra da coroa, Sahasrara. Localizado no alto da cabeça; relaciona-se com aexperiência da autocompreensão ou do esclarecimento.

Percebemos de imediato que cada um destes Chakras não só correspondem a uma regiãoespecífica do corpo físico, como também se relaciona a uma categoria particular ou qualidadepeculiar do comportamento e do desenvolvimento humanos. Além disso, parece existir umaprogressão implícita nas localizações descritivas destes Chakras, a qual sugere um caminho a serpercorrido pelo indivíduo em seu trajeto até a saúde corpomental ótima e até o entendimentocompleto de suas potencialidades humanas. Pois, segundo o mapa oferecido pelo próprio corpo, oexplorador da vida atravessa sua própria história e suas raízes planetárias ( pés e pernas); asnecessidades básicas de sobrevivência ( ânus e a região do primeiro Chakra); os impulsos sexuais eos relacionamentos interpessoais primários ( genitais e a região do segundo Chakra); as emoçõesprimárias, os impulsos de poder e a identificação social ( barriga, região lombar das costas e a regiãodo terceiro Chakra); a compaixão, o amor e a auto-expressão ( peito, braços, alto das costas e aregião do quarto Chakra); comunicação de pensamento e auto-identificação ( garganta, pescoço,queixo e a região do quinto Chakra); ampliação dos poderes mentais e autopercepção intensificada( face e região do sexto Chakra); e dirige-se para o auto-atendimento ou esclarecimento ( região dosétimo Chakra).

Existem muitas pessoas que sentem a necessidade de cada Chakra ascendente, com suascorrespondentes em termos de comportamento humano, antes de estar desbloqueado edesenvolvido para que a próxima região possa ser completa e proveitosamente aproveitada.Segundo esta perspectiva, as diversas qualidades e características dos sete Chakras São vistas nãocomo elementos a serem ignorados ou evitados, mas antes como desafios criativos a seremcultivados e transformados. Por este modelo, a evolução através dos Chakras e os vários poderes eatributos que cada um representa podem ser entendidos como desenvolvimento natural e orgânicoda vida humana através de seus vários níveis de consciência e de percepção comportamental.

Uma vez que a natureza psicossomática de cada Chakra está relacionada a um ponto emparticular ao longo da coluna, bem como a um nível específico de desenvolvimento psicossocial, oespaço de vida do Yogue Kundalini é devotado à tarefa de desenvolver-se de modo a evoluir atravésdas diversas qualidades e desafios dos Chakras; este caminho vai fazendo com que o enfoque daenergia Kundalini se dirija sempre para cima, subindo desde a base da coluna até chegar no alto dacabeça.

O Yogue consciente é desafiado não só a ativar estes centros do corpo-mente e a liberar aenergia aí contida, como ainda a manter esta cumplicidade de forças energéticas entre IDA ePINGALA em equilíbrio harmonioso.

Dentro do sistema Kundalini de considerar e de investigar o corpo-mente, existem muitasmetáforas úteis que lançam uma forte luz nos diversos níveis de envolvimento e de conscientização

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do organismo humano. Por este motivo, e visto que os relacionamentos dos Chakras do Kundalinisão tão similares aos que tenho descoberto em minhas próprias pesquisas, e nas de pessoas doOcidente, tais como Reich e Lowen, decidi incluir diversos elementos informativos oriundos dosistema Kundalini em minha presente discussão. O interesse que possa haver da parte de vocêspelo aspecto esotérico ou astrais do sistema Kundalini, não é relevante aos propósitos deste livro. Oimportante é que vocês ouçam as descrições de unidade e de estrutura psicossomática oferecidaspor esta disciplina milenar, comparando-as com noções recentemente desvendadas e popularizadasda psicologia humanista contemporânea e da medicina holista. Acho que vocês ficarão surpresoscom tantas similaridades.

Isto não quer dizer que cada região do corpo mente não possa ser estudada e atualizada amenos que explorada segundo uma determinada ordem; o que se quer dizer é que a ordem implícitados Chakras parece sugerir o percurso mais sensato para orientar uma viagem dentro dainvestigação de si mesmo. Diz-se que cada uma das regiões dos Chakras do corpo mente, projetamuma vibração específica, muito semelhantes às vibrações que os instrumentos musicais produzem; oChakra mais baixo cria a vibração mais profunda e densa. Cada Chakra ascendente projeta umatonalidade vibratória menos densa, menos profunda, sendo que o sétimo representa o ponto daenergia mais elevada dentro de nós.

Segundo esta perspectiva, as regiões dos Chakras mais inferiores podem ser entendidascomo fundamentos sobre os quais repousam os outros mais elevados e refinados. Sugere-se aindaque as pessoas que deixaram alguma tensão por resolver , nos Chakras mais inferiores, correm orisco de contaminar os envolvimentos e os elementos dos seguimentos de Chakras superiores.

Um exemplo do tipo de problemas que surgem quando as pessoas “pulam” algum Chakra édado pela seguinte passagem de William Schtz :

Quanto mais o homem progride em sua evolução anímica, tanto mais regularmente estruturadose tornará o seu organismo anímico. O homem com uma confusa vida anímica é embaraçado, nãoestruturado. Mas até mesmo em tal organismo anímico, o clarividente pode perceber uma formanitidamente diferenciada do meio circundante. Esta se estende do interior da cabeça até o centro docorpo físico; assemelha-se a uma espécie de corpo autônomo, provido de certos órgãos. Aquelesórgãos que, por ora se pretendem abordar são espiritualmente percebidos nas imediações dasseguintes partes do corpo físico :1- alto da cabeça2- entre os olhos3- nas imediações da laringe4- região do coração5- vizinho à chamada cavidade do estômago6- no abdômen7- no cóccix

Essas estruturações são denominadas pelos ocultistas de Chakras ( rodas) ou “flores de lótus”;são assim chamadas por causa da semelhança com rodas ou flores . Essas “flores de lótus” são nohomem pouco evoluído de cores escuras e calmas ( imóveis). No homem evoluído elas estão em

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movimento e possuem matizes brilhantes. Essas flores são os órgãos sensíveis da alma e suarotação representa a expressão de que estão se efetuando percepções no plano supra sensível.

O órgão sensível espiritual situado na vizinhança da laringe permite o discernimento clarividentedo modo de pensar de um outro ser anímico e possibilita a observação mais profunda dasverdadeiras leis dos fenômenos da natureza.

O órgão na vizinhança do coração desvenda um conhecimento clarividente da espécie de índolede outras almas. Quem o desenvolveu também é capaz de reconhecer determinadas forças maisprofundas em animais e plantas. E o órgão que fica nas imediações da cavidade do estômago,quando desenvolvido se alcança o conhecimento de faculdades e talentos das almas.

Certas atividades anímicas relacionam-se pois, com as formações desses órgãos sensíveis equem executa essas atividades de um modo bem determinado contribuirá de alguma forma para odesenvolvimento dos respectivos órgãos ou respectivas “flores de lótus”.

A evolução de processa da seguinte forma: o indivíduo terá de dedicar atenção e cuidados acertos processos que geralmente vem executando despreocupada e destraídamente. Existem oitodesses processos :

I – Consiste na maneira como se adquirem representações. Com relação a isso, o homem costumaentregar-se ao acaso. Enquanto proceder assim, sua “flor de lótus” de 16 pétalas ( próximo à laringe)permanecerá totalmente inerte; apenas começará a ativar quando ele tomar sobre si aresponsabilidade de auto educar-se nessa direção. Cada representação terá de ganhar importânciapara ele. Nela ele terá de experimentar uma determinada mensagem, uma notícia sobre coisas domundo exterior. E não se deverá dar por satisfeito com representações carentes de tal importância.II – Relaciona-se com as resoluções do homem. Ele deverá somente decidir-se, até mesmo nosassuntos mais insignificantes, a partir de deliberações conscientes e fundadas. Todo agir irrefletido,todo ato insignificante, deverão ser afastados de sua alma.III – Refere-se à fala: Dizer apenas o que tem sentido e importância. Toda fala por falar desviar-lo-ádo seu caminho. A maneira costumeira de conversar, em que se fala de maneira desconexa eentrecruzada, deve ser evitada. Isso não quer dizer que , porventura, ele deva renunciar ao contatocom seus semelhantes. É precisamente na vida social que sua fala terá de ganhar significado. Acada um ele corresponderá com palavra e resposta, compenetrada e deliberadamente, e fará opossível para não falar demais, nem de menos.IV – Refere-se a estabelecer ordem nos atos exteriores : o indivíduo terá de procurar organizar seusatos de tal forma que estejam em sintonia com os atos dos seus semelhantes e com o desenrolardos acontecimentos do seu meio ambiente. Procurar organizar seu agir de tal forma que este seentrose harmoniosamente no seu meio ambiente, na sua situação de vida e assim por diante.Quando algo de fora o impelir a agir, ele observará cuidadosamente de que forma poderá melhorcorresponder a esse estímulo. Quando agir, a partir de si mesmo, ponderará nitidamente sobre osefeitos de seu procedimento.V – Refere-se à organização da vida como um todo. O indivíduo procura viver em conformidade comas leis da natureza e do espírito. Não se precipitará nem será inerte. Ele terá de considerar a vida

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um meio de trabalho e organizar-se de acordo. Organizará o cuidado com a saúde, com os hábitos eassim por diante, de maneira a garantir uma vida harmoniosa.VI – Diz respeito às aspirações humanas. O indivíduo examinará suas faculdades, suascapacidades, e procederá de acordo com tal autoconhecimento. Evitará o que ultrapassar suasforças e não deixará de fazer o que estiver dentro das mesmas. Por outro lado, estabeleceráobjetivos relacionados com os ideais, com os sagrados deveres de um homem. Não se acomodarámeramente como uma roda na engrenagem humana, mas tentará compreender suas tarefas,procurando transcender o dia-a-dia. Aspirará a desempenhar cada vez melhor e mais perfeitamentesuas tarefas.

VII – Refere-se ao esforço para aprender da vida o mais possível. O indivíduo não deixará passarnada sem que lhe seja motivo para acumular experiências que possam ser úteis para a vida. Se poracaso, tem desempenhado algo de maneira inexata ou incompleta, isso o motivará para mais tardeexecutá-lo de forma correta e perfeita. Ao olhar outros em ação, ele os observará para semelhantefinalidade. Procurar acumular um rico tesouro de experiências, a fim de sempre poder consultá-lo.Nada fará então, sem remontar a vivências anteriores que lhe possam servir de ajuda para as suasdecisões e ações.VIII – Finalmente, a oitava recomendação, consiste em efetuar de tempos em tempos, umaintrospeção no seu próprio íntimo. Procurar aprofundar-se em si próprio e auto-analisar-se, inclusivequanto aos princípios de vida estabelecidos e deixar-se percorrer em revista mental sobre seusconhecimentos, meditar sobre os seus deveres e sobre o conteúdo e o objetivo da sua vida.

Esses assuntos estão sendo abordados aqui, com vistas ao desenvolvimento da “flor delótus”. Por meio dessas atividades ela de tornará cada vez mais perfeita. Quanto mais aquilo que umhomem pensa e faz se sintonizar com o desenrolar do mundo exterior, mais rapidamente ele sedesenvolverá. Quem pensa ou fala algo inverídico, matará algo no germe da “flor de lótus”.Veracidade, sinceridade, honestidade são, nessa relação, forças construtivas. Mentiras, falsidades edeslealdade são forças destrutivas..

O indivíduo deve estar cônscio de que, nesse sentido, o que vale não é apenas a “boaintenção” , mas a efetiva ação. Se eu penso ou digo algo que não corresponde à realidade, estoudestruindo algo no meu órgão sensível, mesmo acreditando possuir suficiente razão para isso, pormelhor que seja. É como no caso da criança que se queima quando põe a mão no fogo, embora issoapenas ocorra por ignorância.

Referências :Os chakras (Lead Beath) ; Yoga ( Hermógenes); Filosofia Hermética.

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ANEXO III

O JARDIM ZOOLÓGICOExtraído do livro “Treinamento em Dinâmica de Grupo” Lauro de Oliveira Lima

LEÃO O Rei da reunião, o dono do assunto, quando “urra” todos os participantes se calam.Psicologicamente, possui uma “juba” imponente que torna inquestionável sua ascendência sobre osdemais “animais”. Os “ratinhos” tremem de medo de Ter de falar frente ao leão... Mas o Leão não éagressivo : esta tão certo de sua superioridade que pode mostrar-se tranqüilo e senhor de si. Porvezes, boceja despreocupado, paciente com as peraltices dos outros “animais”.

HIENA Não tem opinião própria. Adora o leão. Aprova tudo o que o leão diz e reclama do grupo nãodar a devida importância ao que disse ele. De vez em quando, lembra ao grupo o que disse o leão.Acha o leão espirituoso e ri de tudo o que ele diz. Balança a cabeça aprovadoramente quando o leãofala. Quando o grupo acaba, vai correndo cumprimentar o leão. O leão sabe que pode sempre contarcom as suas hienas : quando fala, nem sequer olha para elas, pois já sabe que dali virá aprovação.

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TIGRE É um leão ressentido por não ter suas hienas e não ser reconhecido pelo grupo como o Rei.Por isso fica de mal humor – por vezes mesmo violento. Geralmente é mais competente que o leão,mas não tem o charme do rei dos animais... Se fosse menos agressivo, destronaria facilmente oleão. Mas, é por natureza, caustico e irônico, provocando irritação no grupo. O grupo procura colocá-lo na jaula, ou não tomar conhecimento da sua presença.RAPOSA Esta sempre surpreendendo o grupo com as suas artimanhas. Quando quer, faz o grupotodo correr em sua perseguição, como uma matilha de cães de caça, ladrando em seu encalço.Desvia o grupo do tema, sem que ninguém perceba. Sofisma, torce os argumentos, enleia o grupo.Jamais caminha em direção ao objetivo. Vale a pena ver a raposa brincando de se esconder, com ogrupo atarantado... PAVÃO Esta sempre de leque aberto, mostrando a policromia de sua “cultura”. Não se interessapelo grupo nem pelo seu objetivo : o grupo para ele é apenas platéia para quem desfila napassarela... Não perde ocasião de mostrar conhecimentos, faz citações e demonstra que os outrosnão sabem usar as palavras. É realmente coisa digna de se ver. Pena que seja tão preocupadoconsigo mesmo... COBRA Esta no grupo só para envenenar as relações. Fica enroscada, esperando a hora certa dedar o bote. Se alguém comete uma asneira, ela salta do ninho e põe aos olhos de todos, a fraquezado participante. Chama sempre a atenção do grupo para tudo que possa envenenar as relaçõesentre os membros. Provoca briga entre duas pessoas e fica de fora. Esta sempre incitando os outrosa “comer a maçã” .PAPAGAIO Fica “ no pau de arara” , falando por todos os poros : comenta tudo. Tem um caso acontar a propósito de tudo o que se diz, fala alto e grita. Mas, ninguém dá importância ao que ele diz,da mesma forma que, ele mesmo, não dá importância a si próprio. Fala por falar. É o que sabe fazer.Geralmente, esta inteiramente por fora do assunto.

CORUJA É o inverso do papagaio. Não fala, mas presta muita atenção ! Olha com doçura paracada um que intervém na discussão, mas se vê que não é para replicar. Pisca os olhos quando não

entende, mas sem franzir a testa. Vê-se que lamenta, mas não protestará. Toma susto quandoalguém a interpela . Pede desculpas, quando tem de participar.

CARCARÁ Não gosta de discussões : irrita-se com discussão, mesmo quando acha que o gruponão progride de outro modo. Como ele é : PEGA, MATA E COME. Quer sempre decisões rápidas.Não topa muita filigrana... Intervém só para liquidar com o assunto. Dá a impressão de que esta alipara sanear o ambiente. Esta sempre trombudo e impaciente. Às vezes, não se contém, e se levantacomo protesto... mas volta. Por ele não haveria a discussão.GIRAFA Pela maneira de sentar-se e de sorrir ironicamente, vê-se que acha o grupo indigno de suaparticipação. Esta, em sua sabedoria, com a cabeça muito além das fronteiras que estão discutindo.Seu silêncio não permite que se saiba se é mesmo assim tão competente... Se é interpelado, sorricondescendentemente. MACACO É o “ festivo” do grupo : Anedoteiro, espirituoso, bagunceiro, inteligente e superficial.Sempre que intervém provoca o riso. Todos esperam dele uma gracinha... Ninguém o leva a sério.Anima o grupo, mas acaba irritando. No final da reunião, esta amuado e sem graça...

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GAIVOTA Fica voando por alto. Eleva a discussão para “os primeiros princípios e primeiras causas”.Quem quiser acompanhá-lo terá de levantar vôo. Para não dizer que esta fora da realidade, de vezem quando dá um “pique” no assunto e pega um “peixe” que vai deglutir lá nas alturas. Voa comelegância, mas está distante do grupo. Nasceu para ser solitário.CÃO Inteligente, fareja bem o assunto, mas ladra demais. Faz muito barulho por pouco.Esta semprevigilante para defender suas idéias : não deixa passar nada! Seu dono é sua crença. Não cede ummilímetro. Tem razão, mas poderia ser mais plástico.

BOI Difícil de mover, obstinado e lento. Nada o apressa. Fica sempre onde esta : não caminha nopasso do grupo. Tranqüilo, fala pouco. Quando todos esperam que ele esteja lá longe, percebem queele ficou parado na mesma idéia. Não se atemoriza com os outros animais. Vai devagar e sempre.Pode-se obter dele um bom rendimento, mas sem pressa...

ELEFANTE Sem sutileza : não percebe as nuanças. Leva tudo “no peito”. Seria um ótimoexecutivo, mas não tem habilidade para discussões. É pesado demais para viver em grupo. Quandointervém, é para acabar a reunião : quer logo iniciar a ação.GATO Mia para chamar a atenção, muito discretamente. Solicitado, se enrosca e não quer falar...Comprador de simpatias, dengoso, podendo dar um salto, contudo, se aparecer um ratinho.Conserva as unhas ocultas, prefere agir depois da reunião. Contempla a reunião com olhoscândidos, como se não tivesse maldade e fosse inofensivo. É traiçoeiro.COELHO Simpático, ágil e pulador. Não tem planos, não é conseqüente. Cheira e experimentatodas as idéias que aparecem. Não se importa com a lógica. Salta de uma idéia para a outra semescrúpulo. Se os animais de grande porte aparecem, oculta-se. Quando eles saem da arena, ocoelho se esbalda... na arena.ESQUILO Acanhado, fugidio, embaraçado. Fica “ quebrando sozinho suas nozes”. Se o interpelam,enrubesce e se retrai. Dificilmente participa, apesar de estar muito interessado. Se insistirem muito,não volta mais às reuniões dos dias seguintes...ARAPONGA Tem canto monótono e insistente. É sempre igual e vibrante. Volta sempre ao tema.Tem idéia fixa. Não é que seja cabeçuda : é que é monocórdio. Só tem uma idéia e é incapaz deseguir uma discussão.PICA-PAU Não tem o bom humor do macaco, mas interfere em tudo e é aparentementeparticipante. Pega uma idéia e fica “picando-a” em mil pedacinhos. Para ele não há objetivo a atingir:sua função é “picar” cada idéia que aparece, esmiuçando todos os detalhes. Mas só age àsbicadas... e atropeladamente. Os outros continuam, mas ficam ouvindo, de longe, o pica-pau picandoo que ficou para trás.ARANHA É mestra em teia, onde se envolvem os mosquitos e besouros. Para ela a discussão éuma obra de arte. Cada fio deve ficar amarrado no outro. Não prepara um plano, apenas constróiuma armadilha para emaranhar os incautos. Torna a discussão um novelo de fios emaranhados.

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OURIÇO Fica espinhento a propósito de tudo. Para ele, não há no grupo, idéias : tudo sãointenções! Esta, pois, sempre eriçado em seus espinhos para que não o engulam. Ninguém podeajudá-lo com tantos espinhos à vista.ANTÍLOPE ( BAMBI ) É arisco: esta sempre farejando o ar para ver se não o querem pegar sesurpresa. Examina cada idéia como se dentro dela houvesse perigo. As palavras para ele temestranha magia. Tem medo até da brisa. Esta sempre de sobreaviso. Com ele é difícil caminhar, poisnão confia em ninguém. Seu problema é de “nominalismo”...HIPOPÓTAMO Fica mergulhado no assunto, até as narinas. Não tem leveza, nem sabe caminhar.Cada tópico para ele é um “atoleiro” . Sai da discussão ainda impregnado de dúvidas e ”molhado” dadiscussão. Não supera as etapas. Leva a discussão para casa.RATINHO Circula entre os animais fugidios. Nunca aparece. Rói as idéias por” trás do pano”. Porvezes, é ele quem salva o leão de um impasse, descobrindo como descoser a armadilha. Atravessaa cena em diagonal, às correrias. Rói seu queijo no buraco onde vive metido. ZEBRA Em cada fase da discussão, apresenta ponto de vista diferente. Concilia idéias opostas semperceber a incoerência. Pode-se dizer que tem o pensamento “listado”... Entusiasma-se igualmente,por duas direções opostas. É preto ou branco, não tem meio termo. Não sabe somar as idéias.CAMALEÃO Esta de acordo com a maioria: é ele mesmo quem afirma isto. A discussão para ele éuma oportunidade de verificar para que lado está soprando o vento. Pretende sempre estar “deacordo” com os participantes, por mais divergentes que sejam as posições tomadas.

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