o projeto político pedagógico e a inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de...

51
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão POR: Jane Lobo da Silva Malheiros Orientador: Profª. Maria Esther Araújo Co-orientadora: Profª. Giselle Böger Brand Rio de Janeiro 2014

Upload: doanh

Post on 11-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA

O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão

POR: Jane Lobo da Silva Malheiros

Orientador: Profª. Maria Esther Araújo

Co-orientadora: Profª. Giselle Böger Brand

Rio de Janeiro

2014

Page 2: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA

O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão

POR: Jane Lobo da Silva Malheiros

Monografia apresentada como requisito

para conclusão do curso de pós-

graduação “LATO SENSU” em Educação

Especial e Inclusiva.

Rio de Janeiro

2014

Page 3: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar forças, capacidade e

sabedoria, pois sem ele nada sou mas com

ele tudo posso.

A minha família, meu esposo Henrique pelo

carinho, amor e companheirismo e minha filha

Luiza pela inspiração e motivação para lutar e

conquistar.

Ao meu pai por seu exemplo de sabedoria e

dedicação, a minha mãe pelo exemplo de

força e perseverança.

As minhas irmãs, a minha avó, minhas tias,

tios e amigos que me amam, sustentam e

apoiam no decorrer da minha vida.

A família do meu marido que me recebeu e

apoiou em um momento em que eu precisava

não me sentir só.

À Comunidade da Igreja Assembleia de Deus

Ministério Hebrom do Rio do Ouro,

por sermos uma grande família em Cristo

Jesus.

As pessoas com deficiência com as quais

trabalho por trocarem comigo experiências e

aprendizados.

A todos que contribuíram diretamente ou

indiretamente na confecção desse trabalho.

Page 4: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

4

DEDICATÓRIA

Dedico a todas as pessoas que venham

procurar em meus escritos algo que some

com seu trabalho voltado a uma perspectiva,

semelhante a minha, de lutar pela garantia

real do direito a todos de inclusão, dignidade,

amor e respeito, aniquilando a utopia e

conformismo imposto de forma sutil pelo

sistema educacional que emerge nosso país.

Somos todos diferentes por isso somos

iguais!

Page 5: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

5

EPÍGRAFE

“A dor me ensinou que... Os melhores momentos da vida não são necessariamente os mais agradáveis. São os mais expressivos no coquetel vital dos sonhos e pesadelos; das luzes e sombras; dos risos e lágrimas; das presenças e ausências; das dores e amores vividos... Momentos ímpares que nos despertam do sono letárgico da indiferença e nos impelem à ação criativa, forçando-nos moldar um novo ser – sensível e amoroso - menos apegado às coisas triviais e mais comprometido com os valores essenciais desta preciosa dádiva chamada vida. Caminhar é preciso, mesmo que seja sobre brasas...”

“A invisibilidade social é uma

poderosa venda que usamos para não enxergarmos as misérias humanas escancaradas nas sarjetas da sociedade capitalista.”

Maria Aparecida Giacomini Dóro

Page 6: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

6

RESUMO

O presente trabalho discute sobre temas que podem influenciar

diretamente no sucesso ou insucesso da inclusão escolar, isto é, criar estratégias de

educação sobre o aparato da lei que venham a não só garantir a inclusão, mas a

permanência e formação dos alunos buscando dar-lhes condições de exercer ativamente

sua cidadania.

Do Estigma e invisibilidade social à Inclusão escolar, passando pelo

conhecimento das leis, discutindo sobre os projetos políticos pedagógicos e as políticas

afirmativas e compreendendo a educação inclusiva, como um instrumento da educação

especial, este trabalho vem propor uma reflexão sobre o quanto os temas citados estão

interligados e são de suma importância para a construção de histórias individuais de

superação e sucesso.

Este trabalho é fruto das reflexões de uma profissional que acredita na prática da

inclusão, seja ela onde for desde que seja feita com compromisso, pautada no

cumprimento das leis e alicerçada nos sentimentos que nos diferem dos demais animais

e nos faz autodenominarmos humanos.

Palavras-chave: Projeto Político Pedagógico, Estigma e invisibilidade social, Leis,

Políticas Afirmativas e Educação Inclusiva.

Page 7: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

7

METODOLOGIA

Este trabalho será desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica com os

principais autores relacionados aos temas apresentados.

De forma didática será envolvido diversos conceitos de autores, estudos, reflexões

e experiências para entender um pouco mais sobre a inclusão, leis e suas praticas.

A pesquisa será de forma qualitativa, tendo como base opiniões, pesquisas e

analises feita em trabalhos bibliográficos principalmente pelos seguintes autores:

Valdelúcia Alves da Costa, Rosita Edler Carvalho e Ilma passos Alencastro Veiga.

Também será embasado em documentos que são parâmetros oficiais que regem a

política da Educação Especial nacional e internacionalmente.

Ao longo deste estudo foram mencionados vários períodos históricos para pontuar

a trajetória espaço-temporal dos acontecimentos relacionados ao tema proposto.

Page 8: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

8

SUMÁRIO

Resumo...........................................................................................6

Metodologia......................................................................................7

Introdução........................................................................................9

Capitulo 1- Pessoa com Deficiência e a luta contra a invisibilidade social:

Rompendo paradigmas na educação.....................................13

Capitulo 2 - Leis, um caminho para garantir a igualdade social.

...............................................................................................24

Capitulo 3 - Educação Inclusiva e o Projeto Político Pedagógico.

................................................................................................35

Conclusão...........................................................................................46

Referências Bibliográficas.................................................................49

Page 9: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

9

INTRODUÇÃO

A escola hoje, apesar de se dizer democrática e abarcar todos os exemplos da

macrossociedade – etnias, religiões, preferências sexuais, culturas – ainda se baseia num

único tipo de aluno, fugindo de seu principal papel: o de oportunizar, viabilizar e

garantir um ensino para todos.

O professor por sua vez, pensa que sabe tudo e se põem em um papel de mero

transmissor de conhecimento, fugindo de sua principal competência que é a de

educador. Dentro dessa conjectura não rever o Seu Projeto Político Pedagógico exclui-

o, como também a escola, da tarefa de mudar de atitude, pois é mais difícil abrir mão de

um “poder do saber”, para humildemente trabalhá-lo como uma construção processual e

ininterrupta.

A sustentação de um projeto escolar inclusivo implica necessariamente

mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma

organização curricular idealizada e executada pelos seus professores, diretor, pais,

alunos, e todos os que se interessam pela educação na comunidade em que a escola se

insere.

Ainda hoje o corpo discente não se libertou de paradigmas passados de uma

escola tradicional de ensino, e nem tão pouco as redes de ensino possuem em seus

respectivos PPP abordagens sobre inclusão, as que já estão buscando modificar essa

realidade e reformular este documento faz de uma maneira superficial e manipuladora,

já outras nem se mobilizaram para tal transformação de estrutura.

É necessário o quanto antes reverter o processo educacional excludente das

nossas escolas, de modo que a instituição passe a se dedicar essencialmente à formação

de sujeitos éticos, políticos, justos, cooperativos e autônomos. O PPP é um instrumento

Page 10: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

10

imprescindível onde mostra a organização e a pretensão do trabalho realizado e a se

realizar progressivamente nas escolas trazendo a singularidade de cada espaço. Planejar

é buscar um futuro diferente.

Dentro deste trabalho de pesquisa busca-se compreender melhor as barreiras e

possibilidades à inclusão educacional; busca-se um diálogo entre: o estigma, sofrido

pela pessoa com deficiência e as políticas públicas, que buscam minimizar o efeito das

ações preconceituosas; a estrutura de uma verdadeira educação inclusiva; A importância

do planejamento escolar e as ações que devem estar contidas no PPP; uma breve

comparação com o ideal buscado e a realidade praticada quanto à execução das políticas

inclusivas encontrada em algumas escolas do Rio de Janeiro.

Acredita-se que através de analise, questionamentos e reflexões poça alcançar

uma melhor compreensão da relação entre o sucesso e insucesso da vida social e

profissional de pessoas com deficiência.

No capítulo I – será conceituada a invisibilidade social, a partir principalmente

dos conceitos de Ligia Assumpção Amaral, comparando com a trajetória de lutas contra

a discriminação das pessoas com necessidades especiais ao longo dos anos de nossa

história até os dias atuais.

A necessidade de diminuir o estigma e aumentar a possibilidade de equidade no

acesso aos direitos e serviços, comumente gera políticas publicas para as minorias.

Assunto que será abordado no seguinte capítulo.

No capitulo II está apresentado algumas das políticas públicas realizadas em prol

da pessoa com deficiência, trata-se de uma reflexão de sua eficácia no âmbito escolar.

Saber que instrumentos legais são oferecidos é fundamental para se estruturar

argumentos iniciais que levem a inclusão da pessoa com deficiência, porem sua eficácia

perpassa ao mero conhecimento, sendo necessário também sua adesão à ideologia

Page 11: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

11

social. O projeto de pesquisa coordenado pela Profª Doutora em Educação da UFF

Valderlúcia Alves da Costa (Rio de Janeiro 2005-2007) é uma das principais fontes de

pesquisa para estruturar os conteúdos deste capitulo.

O capitulo III fala da importância do Projeto Político Pedagógico como

estimulador de comportamentos, aquisição de valores, atitudes e habilidades de

pensamento frente ao dinamismo das mudanças sociais possibilitando uma pratica

inclusiva de sucesso na educação escolar.

A Pretensão final deste trabalho monográfico é que as reflexões contidas possam

contribuir para alcançar-se uma melhor compreensão da relação entre o sucesso e

insucesso da inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação no cotidiano das escolas de ensino

regular, a luz do Projeto Político Pedagógico (PPP).

Com o decorrer dos capítulos espera-se que seja possível analisar sobre a prática

da educação inclusiva e refletir respostas para a pergunta corrente nas escolas: De que

forma a educação pode colaborar mais para a inclusão social? Por que ainda hoje é

difícil encontrar abordagens sobre inclusão nos PPP das escolas? Por que há rejeições

pelo corpo docente de deixar de lado o formato das escolas tradicionais? Por que assusta

falar e colocar em pratica temas como avaliação diferenciada, currículo adaptado e

executar projetos que incluam todo o alunado? Por que não há um plano veemente de

capacitações para vencer os tabus que impedem uma escola transformada e

transformadora dos seus alunos em cidadãos ativos na sociedade? Tais questionamentos

devem nos levar a uma reflexão e busca de respostas, para que possamos contribuir de

alguma forma no rompimento das amarras ao avanço da educação em nosso quadro

escolar.

Page 12: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

12

Devemos nos inquietar ao analisarmos os conceitos da educação inclusiva e a

legislação posta em cheque frente à realidade das relações existentes entre a construção

democrática do projeto político-pedagógico e a inclusão de fato dos alunos com

deficiência na escola comum. E pensarmos em como através da conscientização de

humanidade é possível mudar essa realidade cruel e excludente educacional.

Page 13: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

13

CAPITULO I

Pessoas com Deficiência e luta contra a invisibilidade social:

Rompendo paradigmas na educação.

Ao longo dos anos vimos vários episódios de como a sociedade

culturalmente rejeita, nega e aniquila “o diferente”, Historicamente podemos citar

diversas atitudes discriminatórias, preconceituosas, xenófobas tomadas em relação aos

que não se enquadravam ao modelo de normalidade e aceitação imposta por um grupo

que detinha em um dado tempo o domínio ideológico de um povo.

Na Grécia a valorização do corpo, a idolatria do belo corpo físico

simétrico e perfeito sempre foi o referencias sobre o que é ser uma pessoa normal, onde

a perfeição só podia ser alcançada com a união da beleza e da virtude. A mitologia

Grega cita formas de castigo, como a cegueira, considerada fruto da ira divina, assim

segue: “O ferreiro divino Hefaísto nasceu manco e tão feio que sua mãe, Hera, atirou-o

no rio Oceano. Salvo pelas ninfas, tornou-se um artesão famoso.”.

No Estado Espartano, devido à necessidade de estarem constantemente

em guerras, adotaram a medida de criar apenas os bebês mais fortes, banalizando a

destruição dos bebês “disformes”, pois havia a ideia de que estes bebês iriam prejudicar,

futuramente, o desenvolvimento de expansão e dominação social e territorial adotado na

época. Nessa sociedade o estado era possuidor da vida de todos os Espartanos, então o

pai de um recém-nascido era obrigado a levar o bebê a uma espécie de comissão oficial,

formada somente por anciãos de reconhecida autoridade na sociedade, esta comissão

decidiria o direito de vida do recém-nascido: se a criança lhes parecesse feia, disforme e

franzina, em nome do Estado e da chamada “linhagem”, esta comissão ficasse com a

criança e a levaria a um lugar chamado “Apothetai”, que significa “depósitos”, um

Page 14: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

14

abismo situado em uma cadeia de montanhas, para de lá arremessá-la. No entanto, se o

bebê fosse considerado “normal”, o pai tinha a responsabilidade de criá-lo até os 6 a 7

anos de idade e, depois, o Estado se responsabilizaria por sua criação, encaminhando-o

à preparação na arte de guerrear.

Em Roma antiga, tanto os nobres como os plebeus tinham permissão

para sacrificar os filhos que nasciam com algum tipo de deficiência, na Lei das XII

Tábuas havia determinações específicas onde se reconhecia o direito de um recém-

nascido de viver ou não; dentre as condições para a negação do direito de vida eram: a

ausência da chamada "vitalidade" e distorções da forma humana, ou seja, que

apresentavam sinais daquilo que os romanos chamavam de "monstruosidade", estes não

tinham condições básicas de capacidade de ter direitos naquela sociedade. Os recém-

nascidos com deformidades físicas eram mortos no próprio momento do parto, por

afogamento ou exposição às margens do rio Tibre. Muitas vezes o infanticídio legal não

era praticado, sendo a crianças recolhida por um escravo ou alguma família plebeia

pobre que a usaria mais tarde como meio de pedir esmolas, até mesmo da família que a

abandonou as margens do rio.

Para os Hebreus, segundo relatos bíblicos os deficientes como também

as viúvas eram desprezados e ficavam as margens da sociedade, vistos como

improdutivos e indignos; no caso dos deficientes, adiciona ainda o fato pejorativo de

serem indicadores de impureza (fruto do pecado ou interferência de maus espíritos),

tinham que esmolar para sobreviverem, ficando expostos nas ruas e praças. Tolerados

pela sociedade eram proibidos ate mesmo de entrarem no Templo para Adorar a Deus.

Tomando trechos Bíblicos para aludir a afirmativa acima quanto o

lugar do deficiente dentro dessa sociedade, bem como das demais existentes no mesmo

período histórico e ainda tendo como base registros do Livro Bíblico de LEVÍTICO,

Page 15: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

15

que vem a ser dentro do Pentateuco, onde se relata a partida do povo de Israel do Êxodo

do Egito mostrando como eles deveriam em seu comportamento se relacionar com Deus

e uns com os outros em sociedade, vê-se no capítulo 21 versículo de 16 a 21, o

impedimento de todos os doentes e deficientes, na participação nos rituais, por serem

considerados impuros para o culto a Deus:

“Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:

Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que

houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus.

Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como

homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente

compridos, Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, Ou

corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que

tiver testículo mutilado.

Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver

alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor;

defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.”.

(SBB, 2004, p. 165)

Na bíblia também há referência à deficiência física ou mental como

castigo, que, no caso, com o descumprimento dos mandamentos, o indivíduo receberia

uma punição divina. Vimos em DEUTERONÔMIO capítulo 28, versículo 15, 28 e 29:

“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não

cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te

ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão.”.

(SBB, 2004, p. 164)

“O Senhor te ferirá com loucura, e com cegueira, e com pasmo de coração;

E apalparás ao meio-dia, como o cego apalpa na escuridão, e não prosperarás

nos teus caminhos; porém somente serás oprimido e roubado todos os dias, e

não haverá quem te salve.”.

(SBB, 2004, p. 265)

Page 16: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

16

Na passagem da escolha de Davi como Reis também vemos preconceito

com os diferentes, Davi o mais novo dos irmãos, sempre estava fazendo o trabalho para

a família, diferentemente de seus irmãos, era ruivo e franzino. Lemos esta passagem em

I Samuel capítulo 16, versículo 7:

“Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para

a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê

como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o

Senhor olha para o coração.”.

(SBB, 2004, p. 391)

Existem também situações na Bíblia Sagrada em favor do dever de

respeitar a pessoa com deficiência, conforme trecho que segue em LEVÍTICO capítulo

19, versículo 14, como aponta SBB (2004) “Não amaldiçoarás o surdo, nem porás

tropeços diante do cego, mas temerás o Senhor teu Deus, porque eu sou o Senhor.”(p.

163).

Com o inicio do Cristianismo, tendo como principio os ensinamentos de

Jesus Cristo como amar ao próximo como a nós mesmo e o ideal da igualdade para

todos, os males sofridos pelas pessoas antes marginalizadas na sociedade são

amenizados.

Já na época da Inquisição os deficientes são severamente perseguidos

novamente, vistos como obra demoníaca, de bruxaria e como loucos muitos foram

levados à fogueira. A atitude principal da sociedade com relação ao deficiente era a de

intolerância e de punição, representada por ações de aprisionamento, tortura, açoite e

outros castigos.

Com o fim do sistema Feudal, o enfraquecimento de pensamentos

voltados somente para o misticismo religioso e a valorização do pensamento humanista,

Page 17: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

17

bem como os avanços da ciência e experimentação, os deficientes tornam-se um

problema de saúde publica.

Tomando os Ideais de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade” que

centralizaram as ideologias presentes no século XVIII, surgem os famosos hospitais

gerais que se tornaram uma combinação de asilo, para a exclusão, e de hospitais para

cura e estudos, criando um local para encobrir os mal vistos da nova sociedade

revolucionária do velho continente. Neste mesmo período ocorre a implantação dos

manicômios e afirmava-se que não havia diferenças entre doenças físicas e doenças

mentais.

Com a Revolução Industrial a seleção de indivíduos é inicialmente cruel,

mas conforme o mercado começa a exigir uma maior produção, ocorre à primeira

manifestação de inclusão dos deficientes, principalmente dos deficientes físicos.

A Segunda Guerra Mundial e seu período foram marcados por exclusão e

extermínio de pessoas com deficiência. A ascensão dos regimes totalitários em todo

mundo acentuou a intolerância nos mais diversos níveis sociais.

Os mutilados na guerra foram considerados heróis nos Estados Unidos,

já na Alemanha de Hitler eram usados como experiência científica, e este mesmo

governante promoveu o holocausto de milhões de judeus através de um programa

sistemático de extermínio étnico patrocinado pelo estado Nazista fundamentado, entre

outros, na busca de uma raça pura, para ele a raça Ariana, para ele os Judeus eram

considerado como uma raça deformada, e não só os judeus foram perseguidos, mas todo

aquele que supostamente seriam obstáculos à "pureza racial", como os ciganos, os

deficientes físicos e os homossexuais, também assassinados em grande número nos

campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Page 18: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

18

Após a Segunda Guerra Mundial surgiu à necessidade de reincluir na

sociedade os mutilados de guerra, e assim os deficiente também começaram a ser

integrados. Em 1948, a comunidade internacional se reúne na sede da ONU, em Nova

York e documenta a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que preconiza em seu

artigo 1º: “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas

de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de

fraternidade.” No artigo 25 há menção à pessoa com deficiência, designada de

“inválida”:

“1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a

sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,

cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em

caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda

dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância

têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas, dentro

ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.”.(ONU, 1948)

A Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência,

aprovada pela Organização das Nações Unidas, ONU, em nove de dezembro de 1975,

garantiu aos portadores de deficiência os direitos inerentes à dignidade humana, bem

como previu que as necessidades especiais seriam consideradas no planejamento

econômico e social.

Sob o prisma desses movimentos mundiais em 1988 é feita no Brasil A

constituição brasileira, a primeira carta magna que enfatiza em seu corpo a tutela da

pessoa portadora de deficiência como visto no Art. 227 do §1°; II:

“criação de programas de prevenção e atendimento especializado para

os portadores de Deficiência física, sensorial ou mental, bem como de

integração social do adolescente. Portador de deficiência, mediante o

treinamento para o trabalho e a convivência, e a. Facilitação do acesso

Page 19: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

19

aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e.

Obstáculos arquitetônicos.”. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988).

Em 1990, o governo federal desenvolveu o “Estatuto da criança e do

adolescente”, que em seu Art.11§ 1º “A criança e o adolescente portadores de

deficiência receberão atendimento especializado (...) Art.54 III - atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede

regular de ensino.”. (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990, p. 9-42)

Em julho de 1994, à cidade espanhola de Salamanca recebeu a

conferência internacional sobre necessidades educativas especiais, organizada pelo

governo espanhol em cooperação com a UNESCO, onde os principais assuntos foram

os princípios, as políticas e as práticas na área das necessidades especiais e a definição

de um quadro de atuação. A declaração de Salamanca, como ficou conhecida, teve seu

pilar de apoio na ideia de “escola para todos”.

“[...] sabe-se que as pessoas desviantes/diferentes/deficientes tinham,

conforme o momento histórico e os valores vigentes, seu destino selado

de forma inexorável: ora eram mortas, assim que percebidas como deficientes,

ora eram simplesmente abandonadas à “sua sorte”, numa prática então

eufemisticamente chamada de “exposição”. (AMARAL, 1995, p. 43)

Podemos afirmar frente a esses exemplos que o significado de perfeição é

relativo e transitório e que está ligado aos sentimentos e a identidade cultural; à maneira

pela qual uma determinada sociedade enxerga as pessoas; aos interesses políticos e

econômicos de um determinado grupo que detém o domino ideológico de um povo;

varia também de um país para outro e é determinado dentro de um período temporal

histórico. Logo ele é uma construção variável regional, temporal política e social.

Page 20: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

20

Refletindo um pouco sobre o conceito de identidade de um povo como

construção social, como determinação de um padrão determinado e imposto como

perfeito, e único modelo a ser seguido, quando este é escolhido se exclui tudo e todos

que fogem ao modelo eleito, ou seja, o termo identidade se torna assim difuso e como

um clichê, encorajando, assim, um crescente uso mais relaxado e irresponsável do

mesmo quando somamos a ele adjetivos pessoais, sociais, étnicos, de gênero, de

profissional, entre outros.

De acordo com o antropólogo Kabengele Munanga:

“A identidade é uma realidade sempre presente em todas as sociedades

humanas. Qualquer grupo humano, através do seu sistema axiológico sempre

selecionou alguns aspectos pertinentes de sua cultura para definir-se em

contraposição ao alheio. A definição de si (autodefinição) e a definição dos

outros ( identidade atribuída) têm funções conhecidas: a defesa da unidade do

grupo, a proteção do território contra inimigos externos, as manipulações

ideológicas por interesses econômicos, políticos, psicológicos, etc.

(MUNANGA, 1994, p.177-178).

Vimos então que a Identidade é necessária para a criação de um “Nós”

coletivo, e segundo a antropóloga Silvia Novaes (1993), esse nós se refere a uma

identidade, no sentido de uma igualdade, que, na realidade, não pode ser verificada de

maneira muito efetiva, mas torna-se um recurso indispensável ao sistema de

representações de um grupo social qualquer que terá condições de reivindicar para si um

espaço social e político de atuação em uma situação de confronto, sendo assim, a

historia social ao longo dos anos vem privilegiando um grupo eleito, como estando

dentro desses padrões normais estabelecidos ao longo da construção do conceito de

identidade de um determinado povo e excluindo e tirando os direitos da minoria que não

se enquadra nos mesmos.

Page 21: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

21

Trazendo essa conjectura para a história das pessoas com limitações

físicas, sensoriais ou cognitivas dentro da sociedade ao longo dos anos podemos

entender o quanto foi e tem sido difícil para estes se fazer serem aceitos e incluídos, há

uma tendência cultural errônea de não se aceitar o que não é igual, enquanto é certo que

a relação com as diferenças, só nos propiciam trocas e crescimento. Por isso se torna

imprescindível à quebra de todo e qualquer paradigma preconceituoso e excludente.

A luta pela sobrevivência, cidadania e visibilidade social dos deficientes

sempre esteve presente na historia do homem, porem em muitos minorizada, ou até

mesmo restrita, a histórias isoladas de uma trajetória individual. Apenas há poucos anos

atrás é que o homem tomou sobre si a responsabilidade humana de garantir e lutar pelos

direitos de igualdade social.

O princípio da igualdade está previsto no rol dos direitos e garantias

fundamentais da Constituição da República, precisamente no caput art. 5º, o qual

preceitua que “todos são iguais perante a lei, não havendo qualquer distinção,

garantindo a todos a inviolabilidade do direito a igualdade (...)”. (CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988).

A paridade ou uniformidade perante o Direito de que todos são iguais

perante a lei, não se limita ao sentido meramente formal, porque essa declaração

encobre as disparidades entre as pessoas. É necessário que o próprio direito forneça

meios eficazes para impedir as desigualdades e para promover a igualdade real e

concreta.

Acerca da importância do princípio da igualdade explica Paulo Bonavides:

“O centro medular do Estado social e de todos os direitos de sua ordem jurídica

é indubitavelmente o princípio da igualdade. Com efeito, materializa ele a

Page 22: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

22

concepção estrutural do Estado democrático contemporâneo. De todos

os direitos fundamentais a igualdade é aquele que mais tem subido de

importância no Direito Constitucional de nossos dias, sendo, como não poderia

deixar de ser, o direito-chave, o direito-guardião do Estado social” (Bonavides,

2001, p. 340-341).

A desconstrução do preconceito é menos simples do que se imagina no

senso comum. O desconhecimento faz com que alguns indivíduos pratiquem atos

benevolentes, oferecendo aos deficientes oportunidades ilusórias, que não são

encontradas com facilidades, estes podem estar repletos de preconceito que irão

promover um estigma ainda maior para determinado sujeito atendido desta forma.

Negar ou abandonar o deficiente, ou seja, promover sua invisibilidade

social pode ter assim um caráter sutil de compensação ou simulação de inclusão, como

por exemplo, a inserção de uma pessoa com deficiência em salas de aulas regulares que

não tem recursos necessários e nem profissionais preparados e dispostos a desenvolver

atividades que concretizem a inclusão. Assim diz-se incluído aquele que só está

depositado, dando uma justificativa irreal do cumprimento da Lei, sem de fato executá-

la.

Ou também quando o profissional acolhe o deficiente colocando sob ele a caricatura de

“o bonzinho”, “coitadinho”, “o ajudante da tia”, como se ele servisse só para isto, sem

de fato se preocupar em educá-lo e prepará-lo para descobrir e desabrochar suas

próprias potencialidades.

A Escola tem um papel importante na formação da Identidade de uma

Sociedade. E deve se perguntar que Identidade Social está ajudando a manter? E qual

Identidade quer formar? Não podemos mais inocentar as praticas docentes frente ao

Page 23: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

23

aumento de ações pontuais de preconceitos e discriminações. Os (as) professores (as) ao

silenciar-se, compactuam com a proliferação de nossa miséria cultural e política; não

cumprindo com sua função de educador e eximindo-se de construir práticas pedagógicas

e estratégias de promoção da igualdade no cotidiano da sala de aula, aprofunda cada vez

mais o hiato existente em superar e romper de fato com o mito da democracia e inclusão

para todos.

Page 24: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

24

CAPITULO II Leis,

Um caminho para garantir a igualdade social.

O simples sancionar de uma lei não muda a forma comum de agir de uma

sociedade. É preciso trabalhar em prol da mudança dos hábitos que constitui aquilo que

é normal para aquela cultura.

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo,

torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente,

ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se

a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela

tampouco a sociedade muda."

(Freire, 2000, p.67)

Ao longo da historia, a deficiência foi tratada em ambientes hospitalares

e assistenciais, O grau de desconhecimento sobre as deficiências e suas potencialidades,

fez com que um número considerável de pessoas com deficiência mental, e outras

deficiências, fossem tratadas como doentes mentais, internadas em instituições e

completamente apartadas do convívio social ou levadas para serem estudadas em

hospitais-escolas possibilitando ou não sua reabilitação a sociedade.

Na época do Brasil Império se deu a criação de dois Institutos para

atendimento ao deficiente: – Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje o Instituto

Benjamim Constant, IBC; 1857 – O Instituto dos Surdos Mudos, hoje atual Instituto

Nacional da Educação dos Surdos, INES; com estes feitos começa a ser levado para

estes deficientes a oportunidade do ensino sob-responsabilidade do governo, mas logo

depois essa responsabilidade passaria as instituições particulares e associações de pais.

No inicio do século XX, a escolarização estava associada à razão

e ao progresso, por isso a importância de educar um grande contingente de pessoas

Page 25: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

25

(educação das massas), no entanto, este tipo de escolarização não conseguiu escolarizar

a todos de forma igual e com a qualidade que tanto se esperava. Nessa época houve a

criação do Instituto Pestalozzi (1926) para o atendimento aos portadores de deficiência

mental, em 1954 a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, APAE e

em 1945 é criado por Helena Antipoff o primeiro centro para tratar de pessoas com

superdotação.

Em 20 dezembro de 1961, é visto pela primeira vez o termo “educação Especial”

na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 4.024

“Art. 88. A educação de excepcionais deve, no que for possível,

enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na

comunidade. Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente

pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação de

excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial

mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções."

(Brasil, LDB, 1961)

Neste contexto a educação das pessoas com deficiência no Brasil, passa

da responsabilidade apenas familiar e instituições particulares, para novamente

responsabilidade também do governo; nesse período alem das instituições acima

citadas, são criadas também as escolas especiais, em 1961 com a Lei 5.692/71, que dá o

direito dos alunos portadores de necessidades especiais a uma educação provida pelo

governo porem, esta não é incluída no sistema geral de ensino, não se faz nenhuma

política publica efetiva. As pessoas com deficiência eram silenciadas em uma cruel

segregação social, as políticas assistencialistas não visavam o desenvolvimento dos

potenciais individuais e sim a ajuda -no sentido de pena, a diferença sendo vista como

incapacidade- para aqueles que eram vistos como: “diferentes” da forma eleita pela

classe capitalista produtora como perfeita e aceita socialmente; vistos como “incapazes”

Page 26: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

26

e “coitados”, sentenciados a um lugar a margem do exercício de cidadania, excluídos do

convívio dos ditos “normais”. A educação como forma geradora de mão de obra

homogenia para o mercado de trabalho descartava qualquer um que não apresentasse os

padrões para obterem aquela formação bancaria proposta naquele momento social.

“[...] a sociedade brasileira criou as instituições de educação especial, que

cumprem um papel ambíguo. Criadas para ‘integrar e normalizar’, elas

legitimavam a retirada dos alunos com deficiência das classes comuns,

afastando-os do contexto geral da educação e da sociedade, explicando, dessa

maneira, a não inclusão social das pessoas com deficiência. Nesses termos, as

instituições destinadas ao atendimento escolar de indivíduos com deficiência

cumprem um único papel: os excluem de maneira violenta.” (Costa, 2005, p.26)

Assim sendo como aconteceu em outros lugares ao longo da historia, no

Brasil a trajetória de conquistas a visibilidade e participação social do deficiente passa

primeiro pela eliminação e exclusão, depois para uma integração parcial, o

assistencialismo, tempo marcado de um preconceito velado, de desconhecimentos e

despreparo profissional, de rótulos e olhares sociais de inferioridade e ajuda, para um

maior êxito e um caminhar para a inclusão com um avanço da legislação nacional e

internacional sobre o tema.

Historicamente o combate à segregação e exclusão escolar, a abertura

para um pensar em propostas educacionais democráticas começa a surgir com o advento

da Constituição Federal da Republica (Brasil, 1988) que cita o compromisso liberal do

Estado brasileiro de educar a todos, sem qualquer discriminação ou exclusão social:

“(...)1988- Constituição da República Federativa do Brasil.

[Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil:

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.]

Page 27: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

27

[Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,

será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando

ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho.]

[Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes

princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na

escola]” (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA

DO BRASIL DE 1988).

Seguindo a mesma linha de integração da Constituição Federal de 1988,

o ECA (1990) vem seu artigo 55 reforça os dispositivos legais supracitados ao

determinar que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou

pupilos na rede regular de ensino”; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(Lei nº. 9.394 de 1996) no Capítulo V possui três artigos (58, 59, 60) e um parágrafo

único, onde podemos encontrar assuntos referentes ao currículo, terminalidade

especifica, formação de professores, qualificação para o trabalho, programas

suplementares e caracterização das instituições especializadas. Tomando como

exemplo, cito o artigo 58 (Brasil, LDB, 1996): “Entende-se por educação especial, para

os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na

rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.”; Este

artigo mostra claramente a Educação Especial, como modalidade de educação escolar,

que deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para os educandos

portadores de necessidades especiais. Comparada às outras leis anteriores, esta dá uma

ênfase maior a Educação Especial, pois a tornando uma modalidade de ensino, o poder

público terá que gerar um investimento maior específico para a inclusão.

Já O Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853/89 (1999), que

dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,

define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e

Page 28: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

28

modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao

ensino regular. A Resolução CNE/ CP nº 1/202, Estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as

instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular formação

docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as

especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais, possibilitando que

esse professor saia mais capacitados e propensos a experiências educacionais

objetivando a inclusão. O Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos (2006) traz

as políticas afirmativas; E por fim ressalto O Plano Nacional de Educação (PNE, 2011)-

Projeto de lei que define a “Meta 4” pretende: “Universalizar, para a população de 4 a

17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.”; Dentre

as estratégias para este fim, está garantir repasses duplos do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

(FUNDEB) a estudantes incluídos; implantar mais salas de recursos multifuncionais;

fomentar a formação de professores de AEE; ampliar a oferta do AEE; manter e

aprofundar o programa nacional de acessibilidade nas escolas públicas; promover a

articulação entre o ensino regular e o AEE; acompanhar e monitorar o acesso à escola

de quem recebe o benefício de prestação continuada.

Outros documentos que explicitaram este ideal de democracia e educação

para todos, e que modificaram paradigmas mundiais foram também, a Declaração

Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), os quais

orientam que as escolas se ajustem às necessidades de todos os alunos: “As escolas

devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas,

intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (UNESCO, 1994); bem como A

Page 29: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

29

Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2009), aprovada pela ONU

e da qual o Brasil é signatário, onde em seu Artigo 24 estabelece que os Estados Parte

devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino,

determinando que as pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema

educacional geral e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino

fundamental gratuito e compulsório; e que elas tenham acesso ao ensino fundamental

inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na

comunidade em que vivem.

Há também outras leis importantes de serem mencionadas como política

publica adotada pelo Estado a fim de garantir a Inclusão das pessoas com deficiência em

todas as esferas sociais que são: a Lei 7853/89 (1989)- Legislação Infraconstitucional-

que Garante o exercício dos direitos básicos, ressaltando e descriminando o que

significa o direito: à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao

amparo à infância e à maternidade. Dentre as postulações destinadas ao trabalho ressalto

a obrigatoriedade do apoio a: formação profissional e ao ingresso nos cursos

profissionalizantes. A lei também abrange sobre: à: promoção de ações que facilitem a

inclusão laboral; adoção da legislação que discipline a reserva de vagas no mercado de

trabalho; empenho do Poder Publico para o surgimento e manutenção de vagas,

inclusive àquelas que exijam maior grau maior de customização.

O art. 8° da referida lei é de suma importância para o conhecimento de

empregadores e pessoas com deficiência, pois decreta ser crime sob pena de reclusão,

recusar emprego ou trabalho à pessoa, por causa da sua deficiência.

A Lei n° 8.213 (1991) Na subseção II que trata sobre a habilitação e

reabilitação do profissional com deficiência, explicando o que isto significa e

esclarecendo o que deverá ser proporcionado através dessas ações; esta lei é a famosa

Page 30: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

30

“lei de cotas”, o art.° 93 da mesma estipula o percentual de reservas de vagas

obrigatório para a contratação de funcionários.

O Decreto 3.298 (1999) que Regulamenta a lei 7.853/89. Os princípios

deste celebram que as ações para assegurar a plena integração devem ser desenvolvidas

pelo Estado e pela sociedade civil, ressalto: “respeito às pessoas portadoras de

deficiência, que devem receber igualdade de oportunidades na sociedade por

reconhecimento dos direitos que lhe são assegurados, sem privilégios ou paternalismo”.

Em 2001 - Convenção Interamericana para eliminação de as formas de

Discriminação Contra as Pessoas com Deficiência. Esta convenção passa a fazer parte

da legislação Brasileira através do decreto 3.956/01. Nela vimos os termos deficiência e

discriminação sendo detalhados e ficando claro que a diferenciação não é discriminação,

desde que estruturada quando necessária, e apropriada para o bem estar da pessoa com

deficiência; Entretanto, aceitação de processos diferenciados é facultativo à pessoa com

deficiência.

E em 2006 – Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com

Deficiência, um documento da ONU que visa ao atendimento às necessidades

especificas da pessoa com deficiência. A principal preocupação, que levou a elaboração

deste, foi o comum desrespeito dos direitos sociais no novo quadro do mercado global.

Ao postular sobre o trabalho o documento reafirma a importância das políticas

afirmativas para a inclusão, com dignidade, da pessoa com deficiência no mercado de

trabalho.

Ainda menciono como um avanço nacional a Lei Nº 4.169, de 4 de

dezembro de 1962 - Oficializa as convenções Braille para uso na escrita e leitura dos

cegos e o Código de Contrações e Abreviaturas Braille e a Lei de oficialização da

Page 31: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

31

Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em abril de 2002 (Lei n. 10.436, de 24 de abril de

2002).

As políticas de educação e os movimentos de Inclusão dos alunos com

deficiência, nas escolas publicas, possibilitam um direito individual, legalmente

adquirido por todos, de se ter uma educação democrática, humana e justa, levando as

instituições de ensino, tal como os professores, a organização de práticas pedagógicas

que considerem as diferenças de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, físico e

sensorial; que contemplem em seu Projeto Pedagógico atendimento a diversidade dos

alunos, objetivando o ensinar como promissor de garantir sua cidadania e inclusão no

mercado de trabalho.

A escola como um espaço sócio-democrático deve acolher toda a

diversidade humana se adequando as demandas especificas; os professores devem ter a

consciência da importância de encontrarem alternativas que possibilitem, a cada aluno,

sua formação emancipatória, criativa e apta à formação de seu conhecimento.

“ Dessa maneira, o processo de inclusão de alunos com deficiência, deve

ocorrer no interior da escola como espaço sócio-democrático, no qual o acesso

ao conhecimento contribui para o reconhecimento da diferença como essência

da humanidade, a solidariedade, a manifestação da criatividade, originalidade e

autoria, como também para a vivência solidária de experiências, considerando

que a escola como espaço para todos deve promover a remoção das barreiras à

aprendizagem, deixando de enfatizar as deficiências dos alunos como obstáculo,

destacando, sobretudo, sua humanidade e, consequentemente, seu direito à

educação escolar e o acesso ao conhecimento em espaços educativos

democráticos.” (Costa, 2002, p.79)

Tomando como referencia o projeto de pesquisa CNPQ coordenado pela

Profª Doutora em Educação da UFF Valderlúcia Alves da Costa (Rio de Janeiro 2002 e

2005 - 2007), evidencia que o movimento em prol da inclusão tem sido discutido e

Page 32: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

32

ampliado, porem na realidade temos ainda professores resistentes e se sentindo

despreparados para atuarem em classes inclusivas; outros favoráveis a inclusão, culpam

sua pratica tradicional como sendo resultado de uma escola que não disponibiliza

espaços inclusivos ou por não terem visto questões relativas a práticas inclusivas e nem

aos deficientes em sua formação inicial.

“Assim, conseqüentemente, os professores revelam-se desmotivados,

desencorajados, responsabilizando o Estado e eximindo-se de responsabilidade,

em sua maioria. E, mais, mantêm-se atrelados a práticas pedagógicas

tradicionais, conservadoras, excludentes e discriminatórias, impossibilitando a

si próprios pensar sobre a diversidade humana no âmbito escolar.

(...)Conforme afirmado anteriormente, os professores não se percebem

pertencentes ao sistema público de ensino, não se sentem responsáveis pela

educação de seus alunos; culpabilizam o Estado e se sentem vítimas do sistema

político vigente, não considerando a autonomia docente como capaz de fazer

frente ao que consideram "Não terem sido preparados para a inclusão". Dessa

maneira, adaptam-se e se submetem ao que as "Leis" prevêem para o próprio

fracasso produzido por suas práticas conservadoras e homogeneizadoras.”

(Costa, 2002, p.67)

Seguindo a mesma fonte de pesquisa, verifica-se um grande hiato entre

“a escoa que temos e a escola que queremos”, evidenciando praticas pedagógicas atuais

como antagônicas as Leis que respaldam a Inclusão em nosso País.

A escola contemporânea, em sua grande maioria, ainda reproduz praticas

segregadoras não atendendo a diversidade humana; buscando alunos padronizados,

aptos a exigência do mercado de trabalho capitalista, como outrora.

“Admitir a educação inclusiva na atualidade brasileira requer refletir sobre a

escola que temos e na escola que queremos. Sobre a escola que temos, faz-se

necessário algumas constatações históricas: é segregadora, pois não atende à

diversidade humana; educa para a homogeneização; a adaptação; e a reprodução

social; desconsidera as diferenças humanas e de aprendizagem; reproduz a

Page 33: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

33

lógica da produção capitalista dominante; hierarquiza os alunos pela avaliação e

reprovação, dentre outras.” (Costa, 2002, p.67)

Tomando o significado atribuído a Inclusão, como um processo contínuo

que visa preparar a escola e seus profissionais para que, todos os alunos, encontrem

respostas pedagógicas para as suas necessidades educacionais específicas, por meio de

ações que busquem a qualidade e a equidade na educação; Os educadores precisam

despertar novos métodos de ensino em sua prática cotidiana, o professor deve se pensar

como ser autônomo capaz de recriar suas técnicas de ensino, lançando-se na experiência

do fazer pedagógico junto com o aluno levando em conta a subjetividade e diferença

constante em cada aluno. Assim ambos, professor e aluno, são praticantes de um eterno

aprender a aprender. O professor deixa de ser, nessa lógica o único detentor do saber,

aquele que transmite conhecimento; para ser de forma democrática e cooparticipativa

em sua relação aluno-professor, aquele que através das experiências vividas cria e recria

seus saberes, se aperfeiçoando a cada nova etapa de seu trabalho.

É importante que este docente se veja como agente mobilizador social,

aquele que desperta nos alunos um senso critico social, importantíssimo para nossa

contemporaneidade; esse profissional não pode mais querer se eximir da culpa pelo

comodismo que o leva a reprodução e/ou consentimento das desigualdades sociais que

proliferam ao longo de nossa historia favorecendo determinas classes dominantes que

hoje estão no poder, perpetuando as estruturas sociais vigentes que massacram de forma

silenciosa, porem muito violenta, a grande massa ainda desfavorecida de nosso país

pelo preconceito ideológico e social.

Enquanto propiciarmos as desigualdades dentro daquele que deveria ser

um espaço de praticas democráticas e inclusivas, não estaremos de fato educando;

Page 34: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

34

mostrando que é possível conviver e trocar com as diferenças, sem causar diferenças

nem perdas de nossa humanidade.

Somente dando aos alunos a oportunidade de se relacionarem em meio às

diferenças é que vamos lhes proporcionar o crescimento humanitário, o

desenvolvimento da sensibilidade e da identificação com os indivíduos, vivenciando a

diversidade humana e cultural e assim combatendo a violência.

É importante levarmos em consideração que alunos com deficiência e

sem deficiência podem aprender juntos a se valorizarem, percebendo que cada um tem

uma experiência a ser compartilhada e construída, rompendo com o pensamento de uma

educação meramente conteudista, que não prepara ninguém a aprender a aprender frente

às constantes mudanças de nossa era globalizada e digital que exigem a todo o momento

ao homem uma maior capacidade de flexibilização e mudança; onde as verdades não

são absolutas e sim transitórias dependendo sempre de cada descoberta feita pela

humanidade.

“A lei através da repressão, busca principalmente negar,

desqualificar,obstruir a via de acesso do indesejável. A norma, embora

possa incluir em sua tática o momento repressivo, visa,

prioritariamente prevenir o virtual, produzindo fatos novos. A

regulação e o mecanismo de controle que estimula, incentiva,

diversifica, extrai, majora ou exalta comportamentos e sentimentos até

então inexistentes ou imperceptíveis. Pela regulação os indivíduos são

adaptados à ordem do poder não apenas pela abolição das condutas

inaceitáveis, mas, sobretudo, pela produção de novas características

corporais,sentimentos e sociais.” ( FREIRE, 1989, p.50)

Sendo assim, concluímos que norma é aquilo que as pessoas fazem no

dia a dia, sem necessariamente ser legalizado, o que não quer dizer que é ilegal, e lei é

uma forma de impor barreiras para manter a ordem.

Page 35: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

35

CAPITULO III

Educação Inclusiva e o Projeto Político Pedagógico.

“(...) A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os

níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado,

disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo

de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular.

(...) Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a

proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às

necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos

globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos,

a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum,

orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses

alunos.” (MEC, 2008.)

É comum no discurso sobre educação social, democracia social e

inclusão, colocarmos a escola com uma autonomia absoluta sobre as modificações da

sociedade, como se fosse à única instituição capaz de forma milagrosa ou mágica a

salvar o mundo das desigualdades sociais. A escola tem sua importância de atuação, de

produtora e reprodutora de praticas e ideologias sociais, porem não pode carregar sobre

si este fardo de redenção, pois não é única instituição responsável por possíveis

transformações. A escola é uma instituição social criada e recriada pela sociedade, que

influência nesta e por esta é influenciada. Ou seja, a escola de qualidade é um desafio

constante e para todos.

Para falarmos da educação inclusiva precisamos diferenciar Inclusão de

Integração. O movimento da integração permitiu o acesso às escolas, mas não a

permanência, pois na integração a pessoa deve estar preparada para o ambiente, sem que

esse passe por mudanças substanciais.

Page 36: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

36

“A educação especial, em todo o mundo, a partir da integração teve

que ser reestruturada. Apesar da criação de sala com recursos para

atender ao aluno com necessidades especiais, ele continuava sendo

considerado especial e tendo um atendimento segregado. O conceito

de integração começou então a ser revisto, por ser considerado

ultrapassado e a escola inclusiva foi, gradativamente, implantada em

vários países (Estados Unidos, Canadá, Espanha, Portugal, Itália,

Nova Zelândia) e o movimento se fez na direção da inclusão total”

(Glat, 1998, p.53)

Ao definir a Educação Especial como uma modalidade de educação escolar, que

perpassa transversalmente todos os níveis de ensino, A atual Lei de Diretrizes e Bases

para a Educação Nacional, Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no Capítulo V,

coloca a Educação Especial como integrante da rede regular de ensino, para pessoas

com necessidades educacionais especiais atendendo as demandas de todos os níveis de

ensino, desde a Educação Infantil ao Ensino Superior. Esta modalidade de educação é

considerada como um conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio que

estejam à disposição de todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de

atendimento.

É importante ressaltar que uma escola com orientação inclusiva é aquela

que se preocupa com a modificação da estrutura, do funcionamento e da resposta

educativa que se deve dar a todas as diferenças, e isto deve ser feito de forma

harmoniosa entre todos os profissionais e em todos os espaços escolares.

A Declaração de Salamanca indica de forma enfática a escola inclusiva e

reconhece que a mesma só se efetivará com o aprimoramento dos sistemas de ensino,

mas ainda existem fortes razões que impedem a inclusão de crianças e jovens com

necessidades educacionais especiais no ensino regular, travestindo modernas posturas

educacionais retrógradas.

Page 37: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

37

Sendo assim, é importante que exista um projeto de educação que esteja

em consonância com a realidade do respeito aos direitos e deveres de todos numa

sociedade, independente delas possuírem determinadas especificidades que as tornam

diferentes por variadas causas. Como afirma Freire (2005): “A realidade social,

objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não

se transforma por acaso.” (,p.41)

A escola pode ser um espaço inclusivo quando deixa de focar na

presença apenas do alunado ou na educação embasada no rendimento e sim quando o

conteúdo curricular e as atividades de aprendizagem consideram as diferenças

individuais sem assumirem uma abordagem homogeneizadora. O trabalho na

diversidade começa pelo reconhecimento da diferença e da pariedade de direitos;

quando as diferenças tem oportunidade de se integrarem a uma unidade que não as

anulam, mas que ative o potencial criativo entre cada sujeito em um dado contexto de

experiência educacional vivido.

O Projeto Político Pedagógico apresenta e propõe reflexões da realidade

nos ajudando a analisar, organizar e registrar de que maneira que nos leva a alcançar

nossos objetivos, metas e sonhos dentro de um determinado tempo preestabelecido.

Exibe propostas de ações concretas a serem executadas; considera a escola como um

espaço de formação democrático de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos que

atuarão individualmente e coletivamente na sociedade que pertencem; e define e

organiza as atividades e os processos educativos necessários a dinâmica de ensino e

aprendizagem.

Nele deve constar comprometimento com múltiplas questões e

necessidades sociais e culturais da população para garantir condições de acesso e de

Page 38: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

38

permanência de crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, deficientes, enfim que

contemplem a todos e em todos os níveis educacionais.

“Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro.

Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se,

atravessar um período de instabilidade em função da promessa que cada

projeto contém de estar melhor do que o presente. um projeto educativo

pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As

promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo

seus atores e autores.” (Gadotti, 1994, p.579)

Podemos ver então que o PPP é uma modificação do presente visando o

futuro, porem em cima de analises do cotidiano passado, por isso encontra-se associado

da historia e da cultura de uma sociedade, de que forma a concebemos e produzimos.

Ele esta vinculado ao desenvolvimento humano, de como será feito essa formação de

valores sociais tendo no espaço escolar a oportunidade de promover a formação

integral: homem, cidadoa e trabalhador. É fato de que os fracassados na escola, e

aqueles que dela não tem acesso, são muitas vezes os mesmos excluídos do trabalho, da

participação política e da cidadania.

O projeto pedagógico é político, vivo e dinâmico e sempre dialoga com

as referencias ideológicas e estruturais da sociedade.

Os desafios de se formular uma proposta pedagógica para a educação que

induzam ações de mudança social é uma tarefa de todos envolvidos no processo

educativo que tenha a consciência da grave crise de exclusão social que sofrem parcelas

da população brasileira que ainda não tiveram condições eficazes de se organizar e

reivindicar uma escola democrática. Fazem parte deste grupo a minoria étnica, cultural e

social, que frequentam escolas publicar, porque esta escrito na Lei, porem as mesmas

não contemplam em seu currículo sua cultura, seus saberes e interesses e nem tão pouco

Page 39: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

39

dão conta de suas necessidades diferenciadas de recursos para aprender, fazendo com

isto uma força educacional.

“É na dinâmica do currículo em desenvolvimento que se expressam os

entendimentos acerca da realidade e da participação efetiva dos sujeitos

individuais, dos grupos organizados e das instituições na construção e/ou

transformação social. Daí por que a busca de alternativas curriculares para a

inclusão cidadã e para a participação política no mundo contemporâneo,

dominado pela globalização cultural, econômica, tecnológica e midiática, exige

da escola não só a matricula obrigatória, a consideração das demandas sociais,

a busca de atualidades nas informações e o respeito às diferenças.” (Anna Rosa

Fontella Santiago, 2012, p.45)

Por isso os conteúdos curriculares não podem ficar presos a praticas tradicionais

de informações dos conhecimentos; eles devem ser contextualizados de forma critica e

de interesse relevante na vida do aluno. Um Projeto Político Pedagógico comprometido

deve levar em conta os fatores de formação humana com estratégias metodológicas e

currículos coerentes frente à realidade cultural, a especificação, a individualidade e a

subjetividade de saberes, respeitando as diversidades e priorizando a potencialização de

cada ser possibilitando assim sua integração de forma plena nas relações e práticas

sociais. Dessa forma as metas e finalidades do PPP não podem ser homogenias e nem

fixas limitando o saber, legitimando o fracasso escolar e agravando a exclusão social.

Cada um ao chegar à escola já traz uma bagagem contendo experiências,

vivencias e conhecimento do mundo, o que deve ser ampliado é o desenvolvimento de

suas habilidades que incorpore o conhecimento a ação, bem como ampliados seus

conceitos prévios que foram construídos pelo senso comum, ressignificando saberes já

Page 40: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

40

existentes em um permanente processo de construção e reconstrução tal qual é a

dinâmica social.

O projeto político pedagógico na pratica deve ser aquele tem contido e si

as orientações e os caminhos a se trilhar para a concretização na praticas sistemáticas de

uma realidade que se deseja atingir.

Dentro de uma perspectiva inclusiva o ensino deverá ser gradual, e em

classes apropriadas de acordo com a faixa etária, desenvolvimento de interesses,

diversidade e necessidades especiais de cada aluno, respeitando a etapa do

desenvolvimento cognitivo em que se encontram, ou seja, o processo de aquisição de

conhecimento (cognição), envolvendo fatores diversos como o pensamento, a

linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que fazem parte do seu

desenvolvimento intelectual, de como assimilam e compreendem cada informação

passada.

Os conteúdos didáticos deveram ser atualizados, contextualizados e

sempre aperfeiçoados e os recursos didáticos devem ser os mais variados possíveis.

Se formos procurar no dicionário de português o significado da palavra

ensinar terá: s.m. Ação, arte de ensinar, de transmitir conhecimentos. / Orientação no

sentido de modificar o comportamento da pessoa humana. / Instrução. / Orientação. /

Educação. /Atividade de magistério.

Já A etimologia da palavra ensino deriva de ensinar, que vem do

latimin+signare e significa pôr marcas ou sinais, designar e mostrar coisas.

Em ambos os conceitos vemos que ensinar não é uma mera transferência

e sim uma atitude modificadora, por isso sua importância, pois podemos ajudar a

construir ou destruir sujeitos.

Page 41: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

41

Ensinar não é apenas transmitir algo de um para o outro, não é algo que

esteja pronto; ensinar é fazer pensar, é estimular o raciocínio levando-o ao entendimento

e a ação.

Segundo a teoria dos Quatro Pilares da Educação, ou seja, uma educação

direcionada para os quatro tipos fundamentais de educação, assunto publicado no artigo

do relatório para a Unesco (1996) com o tema, Educação: um tesouro a descobrir,

trazendo o discurso da pós-modernidade de Lyotard: aprender a conhecer, aprender a

fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser, preocupando-se com a edificação

geral do individuo: bons costumes, exercício da cidadania, formação de caráter visando

o respeito a individualidade e diferença que cada um possui possibilita um PPP que vise

a inclusão de todos na sociedade.

Aprender a Conhecer refere-se à aquisição do conhecimento, ao próprio

processo cognitivo: o raciocínio lógico, compreensão, dedução, memória. Mas esse

processo não pode se encerrar apenas na transmissão de conhecimento é necessário que

se desperte nos alunos o desejo de querer aprender a aprender, o professor deve mostrar-

lhe mecanismos para que ele mesmo construa seus conhecimentos (autoaprendizagem).

É necessário construir sujeitos que tenham sede de querer saber cada vez mais. Assim o

aprendizado torna-se um processo inesgotável.

Aprender a Fazer Indissociável do aprender a conhecer, que lhe confere

as bases teóricas, o aprender a fazer refere-se essencialmente em aplicar, na prática, os

seus conhecimentos teóricos.

Aprender a viver com os outros atua no campo das atitudes e valores, é

aprender a se respeitarem como sujeitos únicos porem iguais no cumprimento do

propósito de Deus. Cai neste campo o combate ao conflito, ao preconceito, às

Page 42: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

42

rivalidades milenares ou diárias; a discriminação seja ela qual for e se aposta na

educação como veículo de paz, tolerância e compreensão.

Aprender a ser Este tipo de aprendizagem está totalmente entrelaçado

com os outros três. Considera-se que a Educação deve ter como finalidade o

desenvolvimento total do indivíduo “espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético,

responsabilidade pessoal, espiritualidade”.

O aluno só aprende realmente pela pratica, cabe ao professor direcionar a

mente do aluno para que ele mesmo ache suas respostas respeitando o tempo e a

capacidade cognitiva de cada um.

O uso de recursos didáticos diversos se torna imprescindível para o

aprendizado. O professor precisa evitar o excesso de verbalismo em uma época onde

vivemos impregnados de informações visuais por todos os lados: na televisão, nos

celulares, computadores, tablets, nos outdoor das ruas, etc... Vivemos na era digital, da

internet, impregnados por jogos eletrônicos interativos; os brinquedos falam com as

crianças, somos a todos os momentos atraídos pelo movimento, pelas cores, pelo brilho,

não podemos disputar a atenção e interesse do aluno com métodos ultrapassados

(somente pela exposição oral), devemos levar nosso aluno a ter sede de conhecimento,

devemos instigá-lo a uma busca insaciável por saber; às vezes ao ligarmos um

retroprojetor, levarmos um cartaz, fazer uma dramatização do tema, já vivifica de

maneira diferente nossas aulas e com isso oportunizamos o aprendizado deforma a

abranger necessidades especificas de um aluno com deficiência. Quando o professor se

mostra disposto a quebrar barreiras do formalismo educacional sua pratica pedagógica

enriquecedora beneficia a todos os educandos envolvidos no processo e não somente os

portadores de alguma necessidade educacional especial presente no grupo.

Page 43: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

43

Podemos utilizar métodos como debates, discussão em grupo, gincanas,

júri simulado, painéis, simpósios, dinâmica de grupos, dramatização, músicas, filmes,

gravuras, pequenos vídeos, jogos, desenhos, fotografias, slides, transparências, quadro

de giz, mapas, recortes de revistas, produção de texto, pesquisa bibliográfica na

biblioteca, seminário, simulado, pesquisa interativa de informática, trabalhos em grupo,

aula de campo, viagens de estudo, exposição, palestras, movimentos, oficinas-mostras,

aulas expositivas, enfim tudo que dinamize e faça aluno participar e praticar o conteúdo.

Há uma gama de escolhas de métodos atraentes de ensino que levam uma maior eficácia

da inclusão do cotidiano didático-pedagogico escolar. A tecnologia Assistiva em muito

tem contribuído para a difusão de praticas pedagógica inclusiva e dinâmica, utilizando

recursos digitais.

Outro fato a se relevado é que os estímulos chegam à mente através de

nossos órgãos do sentido: visão, audição, paladar, olfato e tato. A todo instante estamos

sentindo sensações e enviando estímulos e informações diversas ao cérebro por isso é

tão importante à diversidade de recursos pedagógicos na aprendizagem, ou seja, visuais

(figuras, filmes, etc...), pela experimentação (teatro feito pelos alunos após um estudo);

pela audição (musicas relacionada ao tema proposto); etc...

Para se ter uma ideia segundo William Glasser (William Glasserin, Seven

Ways of Knowing, 1967), aprendemos: 10% do que lemos; 20% do que ouvimos; 30%

do que vemos; 40% do que vemos e ouvimos; 70% do que discutimos com outros;

80% do que experimentamos pessoalmente e 95% do que ensinamos a alguém., por isso

a mudança de métodos de ensinos ultrapassados é um ganho para todos.

“O que o professor faz só é relevante em função do que leva seus alunos a fazerem. Em

outras palavras, o autentico educador não é o que apenas aponta o caminho do

conhecimento, mas o que conduz seus alunos diligentemente ao longo desse caminho. A

Page 44: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

44

missão precípua do professor é estimular a busca do conhecimento e não trazê-lo pronto

para a sala de aula.” ( Tuler, 2013, p.132)

È importante que o professor conheça sua classe, suas limitações de

aprendizagem, seus interesses e necessidade, qual o nível intelectual, escolar,

sociocultural e espiritual, o nível vocabular e a experiência, entre outras informações

que for relevante para direcionar o que, quando e como ensinar.

A avaliação diagnostica deve também, ser repetida periodicamente para

saber ate que ponto a classe aprendeu.

Portanto, transmissão e assimilação são processos que compõem uma

metodologia de construção coletiva de conhecimento.

Assim a metodologia sugerida para uma verdadeira inclusão deverá ser

desenvolvida através de práticas pedagógicas mais dinâmicas possíveis, abstendo-se da

preocupação de trabalhar com sistemas que privilegiam somente a quantidade de

informação, como objetivo principal de ensino, que utilizam questionários para reforçar

o conteúdo e avaliações que servem apenas para medir a assimilação dos mesmos; e

praticas conservadoras e homogeinizadoras do saber que só segregam e rotulam

diferenças, e sim focada no conhecimento seguido da pratica, trabalhando conteúdos

significativos para a formação do aluno, pois mais importante de que o aluno conhecer a

historia da Independência do Brasil, por exemplo, é saber de que forma ela interveio e

intervém em sua vida social atual e como pode mudar tais realidades, e mais, saber

quais os benefícios que terá com tal atitude. Propicionando um ambiente que favoreça a

troca de múltiplos saberes e experiências que despertem e promovam as potencialidades

Page 45: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

45

de cada um, sabendo que a inteligência não se limita a um único formato e sim a um

caráter múltiplo e diverso.

O processo de avaliação não é aferir saberes, mas constituir o processo

cognitivo.

A avaliação não se limita ao julgamento sobre sucesso ou fracasso do

aluno, é compreendida como um conjunto de atuação que tem a função de alimentar,

sustentar e orientar e intervenção pedagógica. Através dos resultados que se pretende

obter pode se constatar o progresso, as dificuldades e se fazer uma reordenação de todo

trabalho desenvolvido.

Deste modo a avaliação não deve ficar presa em um dos aspectos do

processo educativo, mas todo trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e as

implicações na formação da identidade, dos valores e da ética dos alunos.

Tomando como fonte todas as informações acima explicitadas, o fato é

que a escola deve se preocupar fundamentalmente em suprir aquilo que o próprio aluno

identifica com primordial para seu aprendizado e crescimento.

Uma metodologia inclusiva deve contemplar o desenvolvimento

cognitivo através da interação social, da troca de ideias, da troca de experiências, da

troca de afetividades, da cooperação, do senso critico reflexivo e da pratica, sendo assim

a dinâmica do saber não para, pois desenvolve sempre a necessidade e construção de

novos saberes.

“Na ausência do outro, o homem não se constrói”.

“O saber que não vem da experiência não é realmente saber”.

“O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa”.

(LEV VIGOTSKY - 1896-1934).

Page 46: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

46

CONCLUSÃO

Diante do exposto, pode-se concluir que a maneira como as pessoas

são tratadas pode diferenciar sua independência e suas oportunidades e que,

talvez o fator relevante não seja a existência das deficiências, e sim como as

pessoas reagem a elas.

Percebomos que existe uma lacuna entre as políticas educacionais e a

prática escolar. A escola ainda é conteudista e segregadora perpetuando

ideologias capitalistas ultrapassadas. É necessário priorizar praticas

educacionais que respeitem a diversidade cultural e social e ao interesse

coletivo e individual ao mesmo tempo. Os pensamentos divergentes atuando

em um mesmo espaço de produção mostram a capacidade essencial para a

criatividade enxergando e permitindo múltiplas respostas a respeito de algo.

Faz-se urgente uma grande quebra de paradigmas educacionais,

estamos em pleno século XXI, e ainda se vivencia uma educação bancaria, o

aluno como mero receptor e o professor detentor do saber e das “verdades”;

onde a escola pode ser comparada como uma indústria com suas sirenes para

começar e terminar as aulas e para os intervalos; ensinando conteúdos

específicos individuais e fragmentados; agrupando crianças por faixa etária,

como se fossem todas iguais, como se todos tivessem data de validade; sem

falar na forma de avaliação utilizada, onde o saber processual não é levado em

conta. Formamos alunos como se fossem blocos homogêneos saindo da

escola para o mercado de trabalho e ainda não nos damos conta de que o

próprio mercado de trabalho mudaram suas exigências.

As Leis legitimam a educação para todos, mas que “todos”, pois

há uma parcela social desprovida desse espaço de aprendizagem, enquanto

outra apenas esta presente, mas não dialoga de forma democrática neste

ambiente fadados por fim a evasão, e ao evadirem da escola evadem também

do direito de um exercício pleno de cidadania, de uma vida digna e porque não

dizer de seus sonhos. A escola ainda não da importância a questões como se

as crianças que estão agrupada em uma determinada faixa etária tem os

Page 47: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

47

mesmos interesses e pensamentos, se aprendem de forma melhor ou pior em

determinada hora do dia, se aprendem melhor em grupos grandes, menores ou

se precisam aprender isoladamente, as interferências culturais e regionais que

carregam.

Vivemos em uma era digital que em nosso dia a dia estamos

envoltos com as mais diversas formas de tecnologias: vários canais de TV, ai

fones, ai pedes, celulares, tabletes, entre outros, mas na sala de aula os

professores utilizam as mesmas ferramentas de outrora, o quadro e o hidrocor

– substituto do giz. Não alcançamos grande parte do alunado, que é rotulado

como desinteressado ou por vezes deficiente, mais corriqueiro no momento

serem enquadrados como TDAH, e assim tacamos remédios como Ritalina

para que fiquem calmos e voltem a se encaixar no “padrão” dos demais alunos,

ou que se não tem perfil para estudar o melhor é que fiquem em casa. O que

estamos fazendo com nosso compromisso de educar? É urgente que se

repensem nas metodologias e nos métodos utilizados na escola. Que o

professor se reinvente e se recrie em sua pratica frente à realidade de nossa

geração.

O mundo se mostra cada vez mais estimulante e cativante, ele é

3D, mas o professor tem medo de mudar o que é confortável, os métodos

tradicionais. Os alunos já vem hoje para a escola repletos de informações,

diferente do passado onde era na escola que iriam obter o conhecimento geral,

a nossa tarefa se da em auxilia-los em como decodificar estas informações, em

como enquadra-las em seu cotidiano, e ate mesmos em direcionar quais são

relevantes ao conhecimento e quais não são, é ensina-los a aprender a

aprender. Neste sentido tanto aluno como professor vive em uma eterna

dinâmica de aprendizagens.

Os profissionais da educação precisão dentro do Projeto Político

Pedagógico construir e pensar na sua pratica em propostas possíveis, dentro

das contradições existentes no próprio sistema, o qual, a todo o momento,

culpa o professore e a escola, mas a estrutura como um todo segue métodos

rotuladores, segregadores, discriminatórios e tradicionais de avaliação, como o

ENEM, a Prova Brasil, o Vestibular, entre outros, que não levam em

Page 48: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

48

consideração individualidades do ser humano ou individualidades culturais e

sociais. Por outro lado podemos afirmar que nunca na historia da humanidade

se teve uma abertura para a democracia educacional, para uma gama de

políticas publicas e leis atuantes neste foco, para tantos intelectuais voltados a

acharem soluções visando à inclusão de todos na aprendizagem como agora.

A escola tem que acolher e preparar o aluno para um eterno

aprender, pois o mundo esta em constantes mudanças as tecnologias avançam

a cada segundo gerando novas descobertas, as visões de verdade também

mudam com este avanço cientifico e tecnológico. O que a escola tem que de

fato ensinar é como cada um pode se tornar cidadãos éticos e atuantes em

suas potencialidades subjetivas; que tenham iniciativa e tomada de decisão

frente aos obstáculos –requisito priorizado pelo mercado de trabalho atual- que

tenham poder criativo; que desenvolvam no ser humano a sociabilidade, os

valores morais, e a diversidade de saberes. O professor deve deixar de lado as

amarras que ainda o prende ao conteúdo informativo e se ater a ensinar a este

alunado a como usar as ferramentas dispostas na sociedade.

Page 49: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

WILKINSON, Philip. O livro ilustrado da mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes heróis e deuses do mundo inteiro. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2002.

SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986.

BÍBLIA sagrada, português. Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Rio de Janeiro. CPAD 200.

AMARAL, Lígia Assumpção. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hércules. São Paulo: Robe Editorial, 1995. p. 43.

MUNANGA, Kabengele e GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global; Ação Educativa, 2004. NOVAES, Silvia Caiuby. Jogo de espelhos. São Paulo:EDUSP,1993.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direto Constitucional: A importância do Princípio da Igualdade. São Paulo: Malheiros editores, 2001.

COSTA, Valdelúcia Alves da. (2005). Formação e Teoria Crítica da Escola de Frankfurt: Trabalho, educação, indivíduo com deficiência. Niterói, EdUFF.

COSTA, Valdelúcia Alves da. (2002). Produção do conhecimento na educação dos indivíduos com deficiência. Revista Movimento da FEUFF, nº 6, Niterói, Rio de Janeiro.

FREIRE, Paulo. (1985). Pedagogia do Oprimido. 14ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

GADOTTI, Moacir. (1994). “Pressuposto do Projeto Pedagógico”. Anais da Conferência Nacional de Educação para Todos, Brasília: MEC.

HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

TULER, Marcos. Abordagens e Práticas da Pedagogia Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2013

CARVALHO, Rosita Edler. Escola Inclusiva: A Organização do Trabalho Pedagógico. Porto Alegre: Mediação, 2013.

VEIGA, Ilma passos Alencastro (Org.), Vários autores. Quem Sabe faz a Hora de Construir o Projeto Político Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 2012 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

Page 50: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

50

VEIGA, Ilma passos Alencastro (Org.), Vários autores. Escola: Espaço do Projeto Político Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1998 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

________Brasil. Constituição (1998). CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988: promulgada em 5 de outubro de 1998, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a nº 28/2000 e Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a nº 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2000.

________Brasil. 1990. ECA Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990: Lei Federal nº 8069, promulgada em 13 de julho de 1990.

________Brasil. 1996. LDB Lei nº. 9.394 de 1996: Lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB) Belo Horizonte: UFMG,1997.

_______Brasil. 1999. Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853/89: dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1999.

________Brasil. Resolução CNE/CP nº1/2002, Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, 2002, promulgada em 6 de novembro de 2001.

________ Brasil. Plano Nacional de Educação - PNE/Ministério da Educação. Brasília, DF: INEP, 2001.

_______ UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE, 1994

.________ ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 2006.

________Brasil. Lei 7853/89, Legislação Infraconstitucional, 1989, promulgada em 20 de dezembro de 1999. _______Brasil. Lei n° 8.213, “lei de cotas”, promulgada em 24 de julho de 1991.

_______Brasil. Decreto 3.298, Regulamenta a lei 7.853/89, promulgado em 20 de dezembro de 1999.

_______ MEC, Ministério da Educação e Cultura, Convenção de Guatemala, 1999. Convenção Interamericana para eliminação de as formas de Discriminação Contra as Pessoas com Deficiência. Esta convenção passa a fazer parte da legislação Brasileira através do decreto 3.956/01, 2001,

Page 51: O Projeto Político Pedagógico e a Inclusão · mudanças nas propostas educacionais da maioria de nossas escolas e em uma ... Ainda hoje o corpo discente não se libertou ... com

51

_______ONU. 2006. Convenção Internacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, 13 de dezembro de 2006 (Aprovado pela ONU); 30 de março de 2007. _______MEC/SEESP. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: SEESP/MEC, 2001.

Webgrafia:

SCHEWINSKY, Sandra Regina. A Barbárie do preconceito contra o deficiente – todos somos vítimas. In Revista Eletrônica Acta Fisiátrica 2004; 11(1). Disponível em: <http://www.actafisiatrica.org.br/v1%5Ccontrole/secure/Arquivos/AnexosArtigos/A87FF679A2F3E71D9181A 67B7542122C/artigo%2001%20acta_v11_n01.pd> data de acesso: 02/04/2014.

WIKIPÉDIA. Holocausto, In Enciclopédia eletrônica: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Holocausto> data de acesso: 02/04/2014.

WIKIPÉDIA. Quatro Pilares da Educação, In Enciclopédia eletrônica: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Quatro_Pilares_da_Educa%C3%A7%C3%A3o> data de acesso: 02/04/2014.