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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pedagogia Tatiana Goduto Nobre O PROFESSOR E A ÉTICA NA EDUCAÇÃO LINS SP 2016

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pedagogia

Tatiana Goduto Nobre

O PROFESSOR E A ÉTICA NA EDUCAÇÃO

LINS – SP

2016

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TATIANA GODUTO NOBRE

O PROFESSOR E A ÉTICA NA EDUCAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, do curso de Pedagogia, sob a orientação da Profª Ma. Fatima Eliana Frigatto Bozzo

LINS – SP

2016

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Tatiana Goduto Nobre

O PROFESSOR E A ÉTICA NA EDUCAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Centro

Universitário Católico Salesiano Auxilium para obtenção do título de graduação

do curso de Pedagogia.

Aprovado em ________/________/________

Banca Examinadora:

Profª Orientadora: Ma. Fatima Eliana Frigatto Bozzo

Titulação: Mestre em Odontologia - Saúde Coletiva - Universidade do Sagrado

Coração - USC - Bauru

Assinatura: _________________________________

1º Prof(a): Ma Karina de Fatima Gomes

Titulação: Mestre em Literatura pela Universidade Federal do Mato Grosso do

Sul

Assinatura: _________________________________

2º Prof(a): Ma Gislaine Lima Silva

Titulação: Mestre em Psicologia do desenvolvimento e aprendizagem - UNESP

- Bauru

Assinatura: _________________________________

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos amores da

minha vida... Meu pai, minha mãe,

minha avó e minha irmã. É tudo

por vocês!

Tatiana

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, Pai de todo o universo e Senhor de todas

as coisas, que me permitiu chegar até aqui e me sustentou em todos os

momentos.

Também a Maria, mãe de Deus e minha, que pelo título de Auxiliadora,

intercedeu por mim nos momentos de desespero e foi meu auxílio nas

inseguranças e incertezas.

Aos meus amados pais, Jussara e Valter, a minha eterna gratidão por serem

quem são e por me ensinarem a serem quem sou hoje. Sem vocês esse sonho

jamais se tornaria real. Nenhum agradecimento chegará perto do que vocês

realmente merecem.

A minha irmã, Poliana, gratidão imensa por todo apoio e pela maior força do

mundo que me deu durante esses quatro e claro, por me aguentar durante os

períodos mais críticos e por não me deixar desistir de tudo, o meu eterno

obrigado por todo amor e paciência que tem por mim e comigo.

A minha vó, D. Cida, pelos mimos e carinhos e por me fazer querer mostrar

sempre o meu melhor.

Aos meus amigos, Talita, Guilherme e Guilherme, pelo companheirismo

constante, pela fraternidade e pelos momentos compartilhados ao longo dos

anos.

Ao meu amigo Deivid, que mesmo de longe, me apoiou e se fez presente nos

momentos complicados e de muita ansiedade, sem contar as preces sempre

feitas por mim.

A minha orientadora, Fátima, por acreditar em mim e me confiar um tema

"incomum", agradeço imensamente todo o apoio e carinho durante os 4 anos e

principalmente na reta final.

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Aos demais professores, por estarem sempre dispostos a desprenderem de

seus conhecimentos, repassando-os aos acadêmicos e enriquecendo o nosso

repertório de saberes.

Ao UniSALESIANO, por me oportunizar não somente concluir minha primeira

graduação, mas também, vivenciar com o estágio um clima de família e

amizade que tive o prazer de desfrutar por esses anos.

A todos que de alguma forma passaram e fizeram parte da minha vida durante

esses anos de graduação, o meu muito obrigada, cada um tem sua parcela de

importância em quem eu me tornei hoje.

Tatiana Goduto Nobre

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EPÍGRAFE

"Tu não és para mim senão uma pessoa inteiramente igual a cem

mil outras pessoas. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não

tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos

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necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu

serei para ti a única no mundo..."

O Pequeno Príncipe

RESUMO

A ética e a moral estão presentes em tudo, e dentro da escola isso não deve ser diferente. Os temas inerentes a elas precisam ser trabalhados juntamente com as demais matérias do currículo e as diversas competências dos professores tem a capacidade de tornar esse trabalho possível. Essa pesquisa tem por objetivo buscar uma reflexão sobre a ação do professor e a importância dos valores éticos na educação. A partir de como o ser humano vive, age e convive na sociedade, é importante demonstrar como o professor envolvido no processo ensino-aprendizagem tem seu papel fundamental na construção e no desenvolvimento do educando, focando a importância da ética na práxis pedagógica educacional, visando a construção do saber. A metodologia utilizada nesse trabalho foi bibliográfica referendado por alguns autores. Os resultados obtidos mostram que o professor é um grande influenciador na vida dos seus educandos e por este motivo, faz-se necessário refletir sobre sua postura e suas ações perante os mesmos. Conclui-se então que existe a necessidade de uma implementação intensa e veloz da ética dentro da escola, a fim de serem resgatados o diálogo e o respeito entre os educandos. Com esse resgate torna-se possível a formação de cidadãos diferentes, capazes de pensar e se posicionar frente as diversas situações que podem vir a ser enfrentadas no dia a dia de cada um deles. E um trabalho em conjunto com o professor, a família e todo corpo escolar torna mais fácil o entendimento do aluno sobre o processo que formação completo em que está inserido.

Palavras-chave: Ética. Professor. Moral.

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ABSTRACT

Ethic and moral are present in everything, and within school this should be no different. The themes inherent to them need to be worked together with the other subjects of the curriculum and the diverse skills of teachers have the ability to make this work possible. This research aims at reflecting on teacher action and the importance of ethical values in education. Based on how the human being lives, acts and lives in society, it is important to demonstrate how the teacher involved in the teaching-learning process plays a fundamental role in the construction and development of the student, focusing on the importance of ethics in educational pedagogical praxis, aiming at The construction of knowledge. The methodology used in this work was a bibliographical one endorsed by some authors. The results show that the teacher is a great influencer in the lives of his students and for this reason, it is necessary to reflect on their attitude and their actions towards them. It is concluded that there is a need for an intense and speedy implementation of ethics within the school, in order to rescue the dialogue and respect among learners. With this rescue, it is possible to form different citizens, capable of thinking and positioning themselves in the face of the different situations that can be faced in each day of each one of them. And working together with the teacher, the family, and the whole school body makes it easier for the learner to understand the process than the full education in which it is embedded. Keywords: Ethic. Teacher. Moral.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Ética e moral.......................................................................................14

Figura 2: Diversidade.........................................................................................26

Figura 3: Tirinha............................................................................................... 32

Figura 4: Tirinha Armandinho............................................................................ 33

Figura 5: Crítica ao excesso de reuniões..........................................................34

Figura 6: A luta...................................................................................................35

Figura 7: Tempo.................................................................................................36

Figura 8: Ética....................................................................................................36

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação

PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO, ÉTICA E MORAL .......................................... 14

1 A ÉTICA E A MORAL............................................................................ 15

CAPÍTULO II – A DIVERSIDADE DOS PROFESSORES E SUAS

COMPETÊNCIAS..............................................................................................26

1 PROFESSORES E SUAS COMPETÊNCIAS................................................ 27

2 DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS PROFESSORES...................... 31

CAPÍTULO III – O PROFESSOR E A ÉTICA...................................................39

1 O ELO ENTRE O PROFESSOR E A ÉTICA................................................ 40

CONCLUSÃO................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS................................................................................................. 46

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INTRODUÇÃO

Atualmente ouve-se sobre o papel do professor na formação do aluno, e

em alguns casos, é depositado nos mesmos toda responsabilidade de não

somente ensinar, mas também educar as crianças que vem cruas de casa,

sem uma base familiar sólida.

A escola, como espaço físico, tem um papel fundamental na formação

do educando, por ter como significado ser o local do saber instituído, onde todo

o conhecimento tem início e a aprendizagem se constrói dia a dia.

Segundo Telma Vinha (1999), o professor, sendo uma figura importante

dentro da construção da autonomia, deve considerar que as regras

estabelecidas também cabem a ele, e que é no dia a dia, nas pequenas ações

que demonstram para o aluno a importância do cumprimento das regras

Faz-se importante tratar sobre esse assunto, pois, nos dias atuais, os

alunos que chegam e saem de nossas vidas estão a todo tempo passando por

mudanças e novas experiências, percorrendo o caminho da construção do seu

"eu" e tudo que vem sendo construído depende dos exemplos encontrados

durante o percurso.

A ética tem como função ser a reflexão da moral, vindo de encontro, a

moral é a prática da ética e ambas regem o comportamento dos seres

humanos e suas escolhas.

Para Piaget (1994), a moral é dividida em dois tipos. A moral autônoma,

que ocorre quando uma pessoa governa a si mesma, é responsável por seus

atos e leva em conta o outro antes de tomar uma decisão; e a moral

heterônoma, que é quando a pessoa é governada pelos outros, que justifica o

que faz e o que sente em nome de um terceiro.

Conforme Vries e Zan (1998), o ambiente sócio moral da criança é

formado, em grande parte, de incontáveis ações e reações do adulto para com

a criança que formam o relacionamento adulto-criança. As relações com outras

crianças também contribuem para o ambiente sócio moral, mas o adulto

frequentemente estabelece os limites e possibilidades dessas relações.

Todo indivíduo, e de forma especial, nesse caso, o aluno, necessita de

bases morais bem definidas (CAIADO, 2009), de forma que saiba como lidar

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com situações onde tenha que resolver seus conflitos sozinho e para que seja

capaz de solucioná-los sem a intervenção de um adulto.

Por conta dessa influência, deve-se ter cuidado com algumas práticas

escolares, que são equivocadas e não contribuem para o desenvolvimento do

aluno, tornando a criança dependente e com necessidade de regulação do

adulto o tempo todo para resolver conflitos e situações desafiadoras (SILVA:

SILVA, 2013)

Dentre essas práticas, algumas delas, que vem diretamente do professor

não contribuem na formação moral positiva do aluno, pois as mesmas se

prendem em castigos e punições, contrariando assim, as práticas positivas que

contribuem de fato para a formação de crianças autônomas, deste modo, a

criança terá a chance de construir seu autocontrole (SILVA: SILVA, 2013).

Quando o professor respeita os alunos, estimula-os ao respeito também

entre eles, porém, isso não significa a abstenção de regras para regerem o

comportamento em sala de aula, pelo contrário, os limites devem ser claros e

podem ser criados juntamente com os alunos, a fim de haver uma consciência

coletiva do que deve ou não ser feito nos ambientes onde convivem.

Para Lerner (1972), entender a linguagem da criança é buscar a razão

de seus comportamentos, compreender suas atitudes, avaliar suas motivações.

A mesma situação pode ser interpretada sob diferentes aspectos e, no entanto,

a ação do educador só pode ser adequada se ele perceber o que se passa

mais profundamente com a criança.

Essa pesquisa tem como objetivo buscar uma reflexão sobre a ação do

professor e a importância dos valores éticos na educação e a partir de como o

ser humano vive, age e convive na sociedade, é importante demonstrar como o

professor envolvido no processo ensino-aprendizagem, tem seu papel

fundamental na construção e no desenvolvimento do educando, focando a

importância da ética na práxis pedagógica educacional, visando a construção

do saber.

Reflexões serão alinhavadas com contribuições bibliográficas baseadas

em definições no entorno da importância da ética, contribuindo assim, para

uma melhor educação, educadores mais atentos ao seu trabalho e alunos mais

envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

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No primeiro capítulo serão descritas as definições de ética e moral e a

importância da conduta adequada do professor para a formação de seu aluno

tanto dentro, quanto fora da sala de aula.

Dando sequência, no segundo capítulo, serão abordados os diversos

tipos de professores e suas competências, mostrando assim, que existem

variadas formas de encarar o processo de ensino-aprendizagem existente hoje.

Por fim, no terceiro capítulo, ambos os anteriores serão correlacionados

fazendo a conexão da importância do trabalho com a ética e a moral dentro do

contexto escolar.

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CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO, ÉTICA E MORAL Figura 1: Ética e moral

Fonte: www.google.com.br/search?q=etica&espv=

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1 A ÉTICA E A MORAL

Ética, é um tipo de saber que regulamenta as ações dos seres humanos,

princípio que rege um comportamento adequado e ações dentro dos

parâmetros das normas da sociedade onde cada pessoa está inserida,

refletindo sobre os diversos tipos de morais e as diferentes maneiras de

justificar a vida.

"[...] A ética é um eterno pensar, refletir, construir. E a escola deve

educar seus alunos para que possam tomar parte nesta construção, serem

livres e autônomos para pensarem e julgarem". (BRASIL, 1997, p. 72)

Elucidar o que é moral, fundamentar a moralidade, ou seja, procurar as

razões que dão sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente, e

destinar aos diferentes campos da vida social, de modo que se adote nesses

âmbitos sociais uma moral critica, isto é, em vez de um código moral

categoricamente forçado ou da falta de preceitos morais, são as três funções

básicas destinadas à ética.

A moral pode ser empregada de diversas formas. Como substantivo, por

exemplo, pode ser usada para referir-se a conduta pessoal de alguém, um

modelo ideal de comportamento, um sistema a ser seguido que reflete

deliberada forma de vida e também como um código moral que funciona como

um manual de instruções para as ações humanas.

De acordo com Rios (apud MATTOS, 2002), a ética pode ser

compreendida como a reflexão crítica sobre o ethos, entendido como o espaço

da cultura, do mundo transformado pelos humanos. Para Rios, a ética pensa

criticamente a moral enquanto conjunto de valores, princípios que orientam a

conduta dos indivíduos e grupos nas sociedades.

De acordo com o Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL,

1997) , o papel da escola é o de propor atividades que levem o aluno a pensar

sobre sua conduta e a dos outros, a partir de princípios e não de receitas

prontas, pode-se dizer que a ética se faz presente.

O educador deve desenvolver nos alunos sua visão critica de como agir

perante os outros, propondo atividades que levem esses a pensar sobre sua

conduta e a dos outros a partir de princípios, e não de receitas prontas.

(BRASIL, 1997)

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Entretanto, essa é uma tarefa bastante difícil, pois é preciso possuir

critérios, valores, e mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses

valores para nortear as ações de seus alunos em sala de aula e no meio social.

Cabe ao professor mostrar a seus alunos a diversidade de valores que

está presente na própria sociedade brasileira e esses devem aprender também

conceitos como a liberdade, tolerância, saber conviver com o diferente, com

mudanças e transformações, pois a escola deve educar para que todos

possam fazer parte na construção e serem livres para pensarem e julgarem

quando necessário.

Dessa forma, espera-se também que o aluno possa perceber e respeitar

diferentes pontos de vista nas situações de convívio, dialogando como

instrumento de comunicação de ideias, buscando assim, resolver os problemas

que surgirão, na solução de conflitos, colaborando na sensibilidade nas

questões sociais, na construção e no reconhecimento das regras e dos limites

impostos pela escola, formas de discriminação e injustiças existentes no

convívio social.

A educação vai muito além do que se pode ver, e por se tratar de algo

mais complexo não pode ser resumida apenas a cumprimento de currículo e

transmissão de conhecimento, no qual o aluno recebe toda informação e tem

que usá-las para realização das avaliações, que ao fim de tudo, é o que acaba

sendo levado em conta.

Para Cortina e Martinez (2005, p.9):

Ética é um tipo de saber que se tenta construir racionalmente, utilizando para tanto, o rigor conceptual e os métodos de análise e explicação próprios da filosofia. [...] a Ética pretende desdobrar conceitos e argumentos que permitam compreender a dimensão moral da pessoa humana nessa sua condição de dimensão moral, ou seja, sem reduzi-la a seus componentes psicológicos, sociológicos, econômicos ou de qualquer outro tipo [...].

Com as mudanças que a educação sofre ao longo dos anos e,

consequentemente, sua evolução, a visão de que o aluno aprende com maior

qualidade quando existe proximidade com o professor e liberdade para que se

expresse vem sendo reconhecida cada vez mais.

Diz Freire:

Uma das tarefas do educador ou educadora, através da análise política, séria e correta, é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos, para a esperança, sem a qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos e quando lutamos, enquanto

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desesperançados ou desesperados, a nossa é uma luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo (2013, p. 11).

Essa educação se fará, mais que meramente transmitir conhecimentos,

numa relação educador e educando, que buscará uma melhor qualidade em

seus conhecimentos, pois tanto aquele que tem o papel de ensinar, como

aquele que deveria estar ali presente para aprender, estará vivendo uma

experiência de troca de todos os aprendizados, saberes que representam e

caminhos a serem percorridos por ambos.

No mundo de hoje, mesmo as pessoas procurando novos horizontes e

conhecimentos, novas culturas e novas pessoas, a relação com os mais

próximos fica cada vez mais deficitária. Como diz Fogel (2002, p. 94) ―[...] por

afeto cabe entender todo e cada verbo constitutivo do existir, do viver. Verbo,

isto é, todo e qualquer modo de ser possível do homem, modo este que abre

um campo de relacionamentos [...] e este é ação, atividade.‖

A cada dia que passa entende-se e compreende-se menos a pessoa

que se tem ao lado e, surpreendentemente se espera que seja recebido algo

que, infelizmente, não é oferecido.

Educação é o processo pelo qual aprende-se uma forma de

humanidade. E ele é mediado pela linguagem. ―Aprender o mundo humano é

aprender uma linguagem, porque os limites da minha linguagem denotaram

limites do meu mundo.‖ (ALVES, 1993 p. 90).

A compreensão do mundo passa pela compreensão das relações que

ligam o ser humano ao seu meio ambiente, e então, a partir dessa

compreensão do mundo, torna-se possível compreender seu semelhante.

Não é possível que alguém compreenda o mundo sozinho, portanto, é

esse o momento o qual a escola e principalmente o professor, que tem acesso

diário e direto ao aluno, tem a oportunidade e também o encargo de ajudá-lo a

obter esse conhecimento.

Após essa etapa de conhecimento de mundo, que jamais se encerra,

mas, vai se aprimorando com o passar do tempo, torna-se possível o início do

ensino a como ver o outro, a entendê-lo e principalmente a compreendê-lo. E

diferente do que se supõe, não é necessário incluir mais uma matéria ao

currículo e sim, que a ética seja incorporada nas áreas já existentes e no

trabalho educativo da escola e até mesmo nos momentos extraclasse.

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Compreender o outro, não deve ser apenas ensinado, mas também

praticado, visto que, só é possível que o professor ensine ao aluno aquilo que

tem pra ele como verdade, portanto, se o professor utiliza um discurso na sala,

porém, se um aluno precisa de sua compreensão e ele não a coloca em

prática, seu discurso será falho.

Mesmo que o professor usufrua de diversos meios tecnológicos para

incentivar e investir em suas aulas e atividades, se não existir o contato

humano, a proximidade e a demonstração de real interesse em seu aluno,

pode-se haver uma obstrução das possibilidades de sucesso ao fim de cada

ciclo.

É um pensamento utópico esperar que exista uma fórmula concreta para

embasar as ações ideais para a relação entre docente e educando, no entanto,

em tempos onde máquinas vêm tomando proporções de presença colossais e

o acesso a informação fica cada vez mais perto, é imprescindível que se invista

cada vez mais na humanidade das relações.

Determinado por normas rígidas o comportamento do aluno, esse

deverá aprender a controlar "as suas emoções, a sua imaginação, a sua

sensibilidade e a sua afetividade" (BERTRAND e VALOIS, 2005, p. 10), pois

deverá se ajustar aos padrões aceito pela sociedade.

A não abertura para o diálogo com o outro, para entendê-lo e fazer-se

entender dificulta ainda mais as relações humanas e, quando se fala

especificamente da relação professor e aluno, se não houver compreensão de

ambas as partes, o caminho percorrido levará ao fracasso.

A escola deve ter um papel fundamental na construção dos valores de

ética para que todos possam conviver na escola com respeito, pois assim,

podem auxiliar na vida pessoal e no contato do dia a dia pelas diferenças,

muitas vezes provocadas pela própria exclusão.

Como diz o PCN:

[...] No campo da ética guarda-se a proposta de uma educação em

valores. Valores de diversas ordens estão presentes na vida escolar, em todos os seus aspectos — ao promover a aprendizagem nas diversas áreas, os professores estão, de alguma maneira, procurando despertar nos alunos o respeito por inúmeros valores humanos, como a exatidão, a precisão, a curiosidade, a verdade. Com esses valores articulam-se os valores morais, objetos da reflexão ética. Assim, a ética atravessa a proposta educacional da escola e o planejamento e execução do trabalho de cada um dos professores e da relação de

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todos os que compõem a comunidade escolar. Pode-se observar isso de várias maneiras. (BRASIL, 1997, p.83)

A função da escola, levanta muitas vezes questões ética, com seu

próprio desenvolvimento na aprendizagem dos alunos, refletindo sobre as

questões de conhecimento - esse não pode ser neutro - precisa ter sempre

fundamentos de valorização dos estudos em questão, pois, "estudar também é

exercício da cidadania: é por meio dos diversos saberes que se participa do

mundo do trabalho, das variadas instituições, da vida cotidiana, articulando-se

o bem-estar próprio com o bem-estar de todos". (BRASIL, 1997, p.83)

A afetividade, entre os fatores ligados a aprendizagem, sem dúvidas é o

mais importante instrumento para o crescimento e desenvolvimento do aluno e

suas habilidades durante seu processo escolar.

Quando uma relação está pautada pela afetividade, engloba muito mais

do que se imagina. Inclui respeito mútuo, liberdade para se expressar com o

outro, responsabilidade com os compromissos assumidos, confiança em si

mesmo, e desta forma, no outro.

Ao se verificar mais de perto, a tendência afetivista sensibiliza os alunos

sobre as questões morais, a ética, pois "as regras devem ser desejáveis para

serem legitimadas, e isso leva ao campo afetivo" (BRASIL, 1997, p. 81). Mas é

preciso ressaltar que a ênfase na efetividade pode levar a uma moral

relativista. ―Cada um é um e tem seus próprios valores. Esse individualismo é

incompatível com uma vida em sociedade [...] cada individualidade deve

conviver com as outras, portanto, deve haver regras comuns" (ibid, p.81). É

preciso tomar cuidado para que não se tenha uma invasão á intimidade do

aluno.

Atualmente a sociedade vive inserida em uma onda de estresse e falta

de compreensão que acaba causando uma insatisfação comum a todos, o que

dentro do ambiente escolar é passado do professor para o aluno e vice versa.

A relação do professor com seu aluno, não deve ser apenas profissional,

mas sim, uma relação no qual os conteúdos, tanto éticos quanto morais sejam

potencializados, pois inevitavelmente, permeiam as aulas, os temas

transversais e outros assuntos que aparecem e transcendem o currículo.

Toda educação será uma construção profundamente ética, quando os

conteúdos forem importantes e significativos, selecionados e assumidos por

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professores e alunos, numa atitude de prazer e desafiadora, por curiosidades e

construídas a partir de todo o conhecimento.

A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética... [...] a prática educativa tem de ser, em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza. [...] Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos. [...] Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. [...] Se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando (FREIRE, 2002, p. 36-37).

Apesar de complexas, as relações humanas são fundamentais e

extremamente necessárias na realização comportamental e profissional de

cada pessoa. Esse vínculo entre professor e aluno envolve interesses e

intenções de ambas as partes sendo esse diálogo o expoente das

consequências.

Quando fala-se sobre desenvolvimento comportamental, fortalecimento

de relações, modelos de troca de experiências e acréscimo de valores nos

membros da espécie humana, a educação é uma das fontes mais importantes,

pois pode proporcionar tudo isso ao longo do processo escolar.

O diálogo é um dos importantes fatores de relacionamento que a escola,

através de seus professores, podem buscar para melhorar o relacionamento e,

até os valores de ética tão discutido. Como diz os PCN:

O diálogo é uma arte a ser ensinada e cultivada, e a escola é o lugar privilegiado para que isso ocorra. No entanto, existem concepções diferenciadas a respeito do que é o diálogo no processo de ensino e aprendizagem. Frequentemente o diálogo é visto apenas como o momento em que o aluno responde ao professor sobre assuntos abordados e discutidos. A expectativa é de que a conversa a respeito do que está sendo aprendido contemple aquilo que foi eleito como conteúdo necessário para aprendizagem. Nessa perspectiva, o diálogo reduz-se à intenção de avaliar se os alunos realmente entenderam o que o professor ensinou. Por outro lado, pode-se pensar no diálogo como um ―bate-papo‖ informal a respeito de assuntos variados ou de situações cotidianas, desvinculadas do conteúdo da área de conhecimento. Ao analisar essas duas formas de diálogo, vê-se que ambas possuem preocupações que não podem ser descartadas. Porém, o ideal é que se pense no diálogo como uma prática cotidiana na sala de aula, que tem a preocupação de integrar as experiências de vida dos alunos e professor, e a relação viva com o conteúdo que será sistematizado, tornando a aprendizagem significativa. (BRASIL, 1997, p. 108)

O professor reconhecendo a importância que tem no processo de

construção humana no aluno, passa a entender a necessidade de ser um

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facilitador da aprendizagem, precisa estar aberto às novas experiências,

procurar compreender as reais necessidades dos alunos e buscar, com um

trabalho conjunto, a realização mútua de uma aprendizagem de qualidade.

Nesse processo é importante considerar o papel dos sujeitos de

aprendizagem, alunos e professores, que interpretam e dão sentido a todos os

conteúdos que estão na escola, partindo dos valores construídos e das

emoções e sentimentos, pois esses e a ética são construídos a partir de

diálogos na interação estabelecida entre as pessoas envolvidas no processo

ensino-aprendizagem.

A educação em valores deve partir de aprendizagens significativas do

ponto de vista ético, propiciando aos educandos o desenvolvimento de sua

capacidade dialógica, tomando consciência dos próprios sentimentos e que

desenvolvam a autonomia de tomada de decisões em situações que muitas

vezes saem de controle por serem situações conflitantes do ponto de vista

ético e moral.

Um dos instrumentos mais poderosos que a escola tem para cumprir seu

papel é estimular os alunos a refletir, usando a prática, e não discursos, em

situações reais para que esses possam desenvolver atitudes coerentes em

relação aos valores éticos e morais que se queira ensinar. O convívio escolar é

um grande elemento na formação ética dos alunos, pois é necessário que

todos revejam o ambiente escolar e o convívio social, a partir das próprias

relações que ali se encontra, buscando ambientes melhores.

A construção de conhecimentos pelos alunos é uma junção do

conhecimento prévio que é trazido com sua bagagem pessoal e da sociedade

em que vive, unidos pelos ensinamentos ao longo da permanência na escola

com o currículo das matérias que fazem parte de sua aprendizagem.

Uma das formas de se trabalhar a convivência é o emprego de técnicas

de resolução de conflitos do dia a dia na escola, principalmente se esses

apresentam características éticas que precisem considerar, ao mesmo tempo,

os aspectos afetivos e cognitivos que caracterizam cada um dos envolvidos.

Como diz Moreno (et al, 2000, p. 12) "agressões não têm como causa a

ignorância das matérias curriculares, mas estão frequentemente associados a

uma incapacidade de resolver os problemas interpessoais e sociais de uma

maneira inteligente". A autora faz uma reflexão que os conteúdos curriculares

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tradicionais não auxiliam a enfrentar os males da própria sociedade ou os

conflitos éticos do cotidiano.

Para Johnson e Johnson (1999, p. 23) "determina que os conflitos

sejam destrutivos ou construtivos não é sua existência, mas sim a forma como

são tratados". Os autores falam que os conflitos quando são tratados

construtivamente podem trazer resultados positivos, melhorando muito a

resolução dos problemas, o desempenho e o raciocínio dos envolvidos.

Desta forma, mais uma vez, reforça-se a importância do papel de

intermediário, mediador, que é necessário que o professor exerça para

conseguir que ambos os conhecimentos andem lado a lado e, então, seja

possível a construção do ser humano e não apenas do aluno preparado para

as provas da escola.

O que não significa que essa relação mais próxima e humanitária deva

interferir na hierarquia que existe dentro da sala. O professor ainda é quem

deve possuir o controle da sala, podendo realizar qualquer tipo de atividade

sabendo que, logo após a terá sob controle novamente.

Para Imbert (apud JOHANN, 2002, p.140):

A educação tem a obrigação de propor um engajamento ético [...] A educação pressupõe tal engajamento em uma práxis em que cada qual consegue separar-se das definições e designações que trabalham por conta das propriedades do eu; neste caso, a práxis educativa é entendida como processo de inscrição das rupturas que suportam o poder de conduzir-se como sujeito.

Não é necessário ser um tirano para que os alunos o obedeçam, pelo

contrário, quando o professor consegue manter uma relação saudável, de

empatia, é capaz de usar sua capacidade de ouvir, refletir e compreender, o

aluno se sente a vontade, o que facilita a devolutiva empática dentro das

relações.

Segundo Gadotti (apud SILVA, 1999, p.2) "o educador para por em

prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve

antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que

mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida".

Trabalhar com uma abordagem global do seu aluno também é um

caminho para facilitar a relação humana entre alunos e professores. Quando o

educando sente que seu conhecimento prévio não é descartado e sim utilizado

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dentro do contexto escolar, ele se sente mais valorizado e passa a participar de

forma ativa dentro da sala de aula e das atividades propostas, facilitando

também a relação fora da escola, com outras pessoas. Por esse diferencial na

formação, saindo do comum, não utilizando apenas o currículo, mas mostrar

que ele é capaz de se relacionar com o mundo lá fora, de se comunicar,

compreender o outro e também fazer-se compreender pelo outro.

O desenvolvimento da autonomia é um processo que requer a

participação do adulto na sua orientação. Essa forma ideal de educação deve

ser realizada pelo professor "coerentemente com os valores colocados como

objetivo da educação dos alunos e de reconhecer que a autoridade na escola

se referencia numa sociedade que ser democrática." (BRASIL, 1997, p. 47-48)

Conscientemente ou não, o professor transmite valores e princípios e

essa ponte feita entre os conhecimentos de ambos os lados fazem com que a

opinião do aluno seja formada e, com a exposição dessa opinião, faz-se

possível modelar cada um e educar para o mundo que ele encontra quando

não está na escola.

O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os

alunos tem haver com a relação que ele tem com a cultura e a própria

sociedade. Como Abreu e Masetto afirmam:

É o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade. (apud SILVA, 1990, p 115)

O professor, como educador da atual era em que o mundo se encontra,

deve ter como principal objetivo, formar um aluno autônomo, que esteja

preparado para acompanhar as mudanças do mundos e também, que seja

consciente de seus deveres e responsabilidades sociais.

A relação entre professor e aluno, embora complexa, é uma peça

fundamental na formação das relações em geral, e assim, como cada modelo

de relação possui suas peculiaridades e circunstâncias próprias, sem excluir as

bases comuns aos demais tipos de relações.

Segundo Freire (1996, p. 96):

O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um

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desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, sua dúvidas, suas incertezas.

Cada aluno tem sua particularidade e para que seja possível fazer bom

uso de tudo o que o aluno traz consigo, é necessário que o professor esteja

preparado para os mais diversos tipos de situações que, sem dúvida,

encontrará ao decorrer da convivência.

É essencial que o professor saiba lidar com essas diversas situações a

fim de se evitar os conflitos que podem ser gerados, mantendo assim, o

controle sobre o aluno e autoridade sobre os comportamentos dos mesmos e,

também, de seu próprio.

Fazer uso da humanidade e da compreensão é um dos meios mais

propensos ao sucesso para evitar os conflitos, já que tudo se torna mais fácil

quando se tem a situação clara na mente.

A busca de uma aproximação entre a educação e ética é lenta, mesmo

que se aprofunda em reflexões sobre a realidade em que os seres humanos

vivem nos dias atuais, ainda é preciso muito trabalho para que se possa haver

uma conexão efetiva.

Entretanto, os professores precisam estar atentos a isso, para que a

ética, com seus valores, atitudes e procedimentos seja presença marcante

entre os conteúdos diferenciados, nas diversas áreas de conhecimento, mesmo

sendo difícil. A escola, dentro de seus limites, pois, não pode controlar todos os

fatores de formação de seus alunos, pode possibilitar a esses uma discussão

sobre eles, seus valores, possibilitando assim, construir outras atitudes.

É da educação e da ética que virá o sentido da ação criadora e da moral

o direcionamento do caminho a ser percorrido.

Sabe-se que a escola e a educação que ali é realizada, não será a única

responsável pela construção a que se busca, mas, o educador deve estar

atento para que durante suas reflexões, na sua prática cotidiana, possa exercer

influências a seus alunos sobre valores, atitudes e até os procedimentos

durante conflitos que possam surgir no convívio de seu dia a dia.

As intervenções do próprio professor pode produzir mudanças, mas,

essas não dependem apenas de ações pedagógicas, e nem o que a própria

escola pode criar, porém as atitudes dos alunos também tem implicações, tanto

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psicológicas quanto sociais, nas relações com familiares e comunitárias. Pode-

se, entretanto, usar a ética direcionada em ações pedagógicas na função de

seus objetivos dentro de um conteúdo programado.

A ética é um tema presente no cotidiano de cada um. Essa discute sobre

a liberdade, práticas e valores, tradição e costumes, relacionamento entre

grupos, que a própria sociedade impõe. Trata-se portanto, de discutir o sentido

ético da convivência humana nas suas diversas relações com dimensões da

vida social em que o aluno está inserido.

Para um comprometimento mais amplo com a formação da cidadania, a

escola deve ter, como um dos seus objetivos, a reflexão sobre as diversas

faces das condutas humanas, cabendo aos professores mobilizar os conteúdos

para que esses não sejam isolados, mas sim, que façam parte dos diversos

aspectos em cada área de conhecimento, compreendendo as atitudes, normas

e valores assumidos pessoalmente por cada um a partir dos sistemas da

própria sociedade.

Uma das finalidades da incorporação da ética nas diversas áreas de

aprendizagem é ajudar os educadores a planejar a continuidade do seu

trabalho, ajustando-o á prática educativa de seu aluno, buscando oferecer-lhes

condições para que possam superar obstáculos que a vida, no dia a dia, traz.

É necessário que se faça sempre uma retomada dos valores, da

capacidade de diálogo, participação e atitudes tomadas erroneamente, para

que sejam construídas e temperadas eticamente, pois, a formação de seu

aluno resultará de práticas educativas em que esses, sejam lhes passados

como moldes a serem assimilados de uma maneira de ser e de viver como a

sociedade impõe.

A busca de caminhos para que a ética seja implantada na educação de

uma maneira geral, ainda é longa, porém, se algumas das ideias aqui refletidas

colaborarem para que se possa, ao menos cogitar com um uma melhor

aprendizagem, seus objetivos serão considerados atingidos, mesmo que seja a

longo prazo.

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CAPÍTULO II

A DIVERSIDADE DOS PROFESSORES E SUAS COMPETÊNCIAS

Figura 2 - Diversidade

Fonte: www.google.com.br/search?q=diversidade+de+professor&

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1 PROFESSORES E SUAS COMPETÊNCIAS

Mesmo em meio a tantas adversidades e dificuldades, ainda encontra-se

muitos professores dispostos a dedicar sua vida pela educação, e mesmo que

não exista uma receita pronta a ser seguida, há um norte que pode servir de

exemplo e modelo de como deve, ou deveria ser, um professor juntamente com

sua conduta pessoal e seu comportamento frente as situações que encontra.

Ser professor no século XXI vai além das formações pré-requisitadas, é

mais do que ter concluído o curso de licenciatura plena ou até mesmo dominar

alguma área específica de formação. Envolve muito mais do que simplesmente

estar a frente de uma sala de aula e discursar.

Antes de qualquer coisa, um professor precisa de ética para que seja

capaz de se integrar ao meio em que convive e com as pessoas que estão

inseridas nesse meio, e em relação aos seus alunos necessita ser capaz de

superar a ideia de ser transmissor do saber, romper com a atitude de quem

ensina e instrui, a favor do que provoca e incentiva nos alunos, como trabalhar

de forma cooperativa na construção da aprendizagem.

É necessário que saiba criar ambientes de aprendizagem, oportunizar

situações onde os educandos aprendam de diferentes maneiras, utilizando

variadas mídias e as múltiplas possibilidades que a tecnologia proporciona,

sem esquecer, é claro, da humanidade nas relações, do saber ouvir o que os

alunos tem a dizer.

É preciso também, que o professor esteja em constante reflexão sobre a

sua prática, para que seja capaz de discernir sobre a forma como está

trabalhando e como isso afeta seus alunos.

E para que essa prática seja inserida, Perrenoud (2002), traz dez

motivos ligados às ambições recentes dos sistema educativo, onde faz-se

necessário que o professor coloque em prática essa reflexão.

Entre esses motivos, não há cronologia nem hierarquia. Podemos esperar que uma prática reflexiva: compense a superficialidade da formação profissional; favoreça a acumulação de saberes de experiência; propicie uma evolução rumo à profissionalização; prepare para assumir uma responsabilidade política e ética; permita enfrentar a crescente complexidade das tarefas; ajude a vivenciar um ofício impossível; ofereça os meios necessários para trabalhar sobre si mesmo; estimule a enfrentar a irredutível alteridade do aprendiz; aumente a cooperação entre colegas; aumente as capacidades de inovação." (p.48).

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O mundo vive em constante mudança, as tecnologias se renovam, o

trabalho se transforma, a comunicação se inova, a vida se recicla e até mesmo

o pensamento se modifica, dessa forma, a prática docente passa a ter que

refletir sobre o mundo, os professores são os intelectivos e moderadores, que

interpretam ativamente a cultura, os valores e os saberes em transformação.

Philippe Perrenoud, em seu livro "Dez competências para ensinar"

(2000), traz novas ideias de um modelo exemplar de professor, que pode ser

usado como base para modelizar o comportamento e as ideias de professores

que estão saindo agora da formação ou do que estão buscando sua

remodelação.

O primeiro tipo de professor citado é aquele capaz de organizar e dirigir

situações de aprendizagem. Nessa primeira competência, pede-se que o

professor conheça os conteúdos a serem ensinados e seus objetivos de

aprendizagem, sendo capaz de trabalhar a partir das representações dos

alunos, mesmo com seus erros e obstáculos à aprendizagem que possam

surgir, e que consiga construir e planejar dispositivos e sequencias didáticas

envolvendo os alunos em atividades de pesquisa e projetos de conhecimento.

(PERRENOUD, 2000) ―Uma situação de aprendizagem não ocorre ao acaso e

é engendrada por um dispositivo que coloca os alunos diante de uma tarefa a

ser realizada, um projeto a fazer, um problema a resolver‖. (p. 33)

Administrar a progressão de aprendizagem é o que traz a segunda

competência. O professor precisa pensar na totalidade do processo,

concebendo e administrando situações-problema ajustadas ao nível e as

possibilidades dos alunos, adquirindo uma visão longitudinal dos objetivos do

ensino, pois ―essa visão também exige um bom conhecimento das fases de

desenvolvimento intelectual, [...] aprendizagem e desenvolvimento e julgar se

as dificuldades de aprendizagem se devem há outras causas‖. (p. 47);

tomando decisões de progressão e rumos de aprendizagem. (PERRENOUD,

2000)

A terceira competência conceber e fazer evoluir os dispositivos de

diferenciação, diz que

Certas aprendizagens só ocorrem graças a interações sociais, seja porque se visa ao desenvolvimento de competências de comunicação ou de coordenação, seja porque a interação é indispensável para provocar aprendizagens que passem por conflitos cognitivos ou por formas de cooperação‖. (PERRENOUD, 2000,p. 56)

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Nessa terceira competência também traz o saber administrar a

heterogeneidade de seus alunos, ampliando a gestão de sala de aula para que

possa fornecer apoio integrado aqueles alunos portadores de grandes

dificuldades, pois,

Toda pedagogia diferenciada exige a cooperação ativa dos alunos e de seus pais. Esse é um recurso, assim como uma condição, para que uma discriminação positiva não seja vivenciada e denunciada com uma injustiça pelos alunos mais favorecidos. Portanto, é importante que o professor dê todas as explicações necessárias para conseguir a adesão dos alunos, sem a qual suas tentativas serão todas sabotadas por uma parte da turma. (PERRENOUD, 2000,p. 64)

O professor capaz de envolver os alunos em sua aprendizagem e em

seu trabalho é o que pede a quarta competência. Deve-se desenvolver o

desejo de aprender, o relacionamento com o saber, a capacidade de uma auto

avaliação, para que a criança possa se definir no seu projeto pessoal na

aprendizagem. (PERRENOUD, 2000)

Os mais alheios ao próprio conteúdo do saber em jogo oferecem, inevitavelmente, menores garantias de uma construção ativa, pessoal e duradoura dos conhecimentos. Todavia, diante de tantos alunos que não manifestam nenhuma vontade de saber, uma vontade de aprender, mesmo frágil e superficial, já é um consolo. (PERRENOUD, 2000,p. 70)

O trabalhar em equipe, que ainda é o mais temido por todos, faz com

que muitos busquem combater obstáculos e resistência por parte dessa

equipe, pois precisam elaborar projetos em conjunto; muitos estarão á frente de

dirigir um grupo de trabalho; necessitando saber encontrar e negociar as

modalidades ótimas de trabalho em função dos problemas a serem resolvidos.

―Viver com as neuroses dos outros exige não apenas uma certa tolerância e

uma forma de afeição, mas também competências de regulação que evitam o

pior‖. (PERRENOUD, 2000, p. 91) são as qualidades pedidas na quinta

competência.

A participação da administração da escola encontra-se na sexta

competência, nela entram: elaborar, negociar um projeto da instituição;

administrar os recursos da escola; coordenar, dirigir uma escola com todos os

seus parceiros; organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação

dos alunos. (PERRENOUD, 2000)

Uma nova organização do trabalho, pela introdução, por exemplo, de ciclos de aprendizagem, modifica o equilíbrio entre responsabilidades

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individuais e responsabilidades coletivas e torna necessário, não somente um trabalho em equipe, mas também uma cooperação da totalidade do estabelecimento, de preferência baseada em um projeto (PERRENOUD, 2000, p. 107)

Conseguir informar e envolver os pais, assim como dirigir reuniões de

informação e de debate, fazer entrevistas e envolver os pais na construção dos

saberes vem como algo crucial na sétima competência, onde faz-se necessário

que o professor consiga manter uma boa relação com os pais de seus alunos,

incluindo-os nas ações escolares, visando um bem maior. (PERRENOUD,

2000)

O uso das novas tecnologias da informação e da comunicação, que são

inseridos na oitava transformam as maneiras de se comunicar, de trabalhar, de

decidir e de pensar. O professor predica usar editores de textos, explorando

didáticas e programas com objetivos educacionais. (PERRENOUD, 2000)

Dessa forma, a oitava competência traz a discussão da questão da

informática na escola, pois os professores precisam utilizar editores de texto;

explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos objetivos

do ensino; comunicar-se à distância por meio da telemática e utilizar as

ferramentas multimídia no ensino. Sendo assim, essa competência mostra a

importância da atualização do professor quanto a tecnologia, para que esteja

integrado ao mundo interligado em que vive-se hoje, o que facilitará a relação

com o aluno que já vem de tal realidade. (PERRENOUD, 2000)

A verdadeira incógnita é saber se os professores irão apossar-se das tecnologias como um auxílio ao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem. (p. 139)

A nona competência vem como uma ação social e também humana,

onde é necessário que o professor seja capaz de enfrentar os deveres e os

dilemas éticos da profissão.

Nesta, Perrenoud (2000) traz a prevenção a violência na escola e fora

dela, bem como todas as suas subdivisões, como lutar contra os preconceitos

e as discriminações sexuais, étnicas e sociais; participar da criação de regras

de vida comum referente à disciplina na escola, ás sanções e à apreciação da

conduta; analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação em aula;

desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de

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justiça. ―Sua competência é saber o que faz, o que supõe idealmente um

trabalho regular de desenvolvimento pessoal e de análise das práticas‖ (p. 152

E por fim, na décima competência, espera-se que o professor seja capaz

de administrar sua própria formação contínua, saber explicitar as próprias

práticas; estabelecer seu próprio balanço de competência e seu programa

pessoa de formação, envolvendo-se em tarefas em escala de uma ordem de

ensino ou do sistema educativo; acolher a formação dos colegas e participar

dela, adicionando mais qualidade ao que é passado para o aluno.

(PERRENOUD, 2000) ―Seria importante que cada vez mais professores se

sentissem responsáveis pela política de formação contínua e interviessem

individual ou coletivamente nos processos de decisão‖ p. 169

2 DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS PROFESSORES

Em todas as áreas de trabalho, diariamente os profissionais encontram-

se em dificuldades e com desafios a serem vencidos, e com os professores

essa realidade não é diferente.

Essas adversidades, muitas vezes, acabam desanimando os mesmos

no exercício de sua função, impossibilitando assim o desenvolvimento de um

trabalho a altura do que é necessário.

Nos parágrafos a seguir, serão listadas e dissertadas sobre algumas

dessas situações corriqueiras enfrentadas pelos profissionais que dedicam

suas vidas as salas de aula.

2.1 Mediação

Essa é uma ideia que há tempos é divulgada no meio educacional, e não

se limita apenas ao professor sendo o mediador entre o aluno e o

conhecimento pronto do material didático e sim um conhecimento "constituído

por determinantes culturais, sociais e políticos e entendido em sua

historicidade", como bem explicita Anna Helena Altenfelder (2015, p. 1),

pedagoga e superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,

Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em um de seus artigos na revista

Construção Psicopedagógica.

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A ação do professor, nesse caso, é a de ―organizar a relação do aluno com os objetos do conhecimento, [...] garantindo a aprendizagem.‖ Mas a aprendizagem, explica a autora, a partir de uma perspectiva vigotskiana, é um fator propulsor para o desenvolvimento do sujeito. Esse desenvolvimento tem dois níveis: o real, que mostra o que o indivíduo faz por si próprio; e o potencial, o que consegue fazer com a ajuda de outros. É nesse nível potencial que está "a essência da mediação docente. (ALTENFELDER, 2015, p. 1).

Os conhecimentos, neste caso, não fazem parte de um ajuntamento

aleatório e sim de uma seleção feita pela escolarização ao longo dos anos e da

construção da sua própria história e que tem relação direta com os conteúdos

que a cultura de determinada escola considera serem adequados e de certa

forma os repensa e reinventa.

Trabalhar com esses conteúdos não tem como finalidade somente a

aquisição desses conhecimentos, vai muito além, tendo como principal objetivo

a maneira como são adquiridos e o processo de formação do aluno que,

aliadas ação docente com uso do conhecimento prévio do aluno, o faz

transcender seu conhecimento.

No entanto, para que isso se torne possível, existe a necessidade que o

professor seja amparado pela instituição escolar e a partir daí, se torne um

gerador de espaços e relações, o que permitirá essa transcendência na

aprendizagem do aluno.

FIGURA 3 - Tirinha

Fonte: http://cardapiopedagogico.blogspot.com.br/2015_03_09_archive.html?view=classic

Como se vê na figura acima, a professora propõe uma discussão sobre

um assunto e quando o alunos tentam se pronunciar ela os interrompe, tirando

assim a oportunidade de problematizarem e terem suas dúvidas sanadas.

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Essa ação, consequentemente, poderá levar a um bloqueio de um

conhecimento que poderia ter sido adquirido usando como base os

conhecimentos prévios dos alunos, se bem aproveitado pela docente.

2.2 Técnicos de futebol

Em uma sociedade que vive a base de resultados mensuráveis e

rápidos, encontra-se muita dificuldade no exercício do professor, ainda mais

por tratar-se de um trabalho a longo prazo e não de uma ação isolada em

busca de respostas imediatas.

Além disso, é visto amiúde, outros ofícios onde os profissionais são

chamados de professores, comparação a qual não seria injusta, caso os

professores fossem de fato tratados e respeitados da mesma forma com que

outros são.

Na figura a seguir, pode-se perceber uma crítica a intensa

desvalorização que o professor enfrenta todos dias, e até mesmo uma surpresa

por ainda existirem profissionais dispostos a dedicarem-se à essa profissão

mesmo em meio a tantas adversidades.

FIGURA 4 - Tirinha Armandinho

Fonte: http://tirasarmandinho.tumblr.com/page/51

Esse professor socrático desapareceu do mundo contemporâneo, não existem mais condições fáticas para ele existir. Porque ninguém escuta o professor, ele é um ser abandonado, tem algo da mendicância pedagógica, para criar uma imagem do ponto de vista do hábitat pedagógico, o ambiente escolar", sentencia. (AQUINO, 2015, p. 1)

Tudo isso estaria ligado a desmotivação e descrença de verdades que

antes davam sentido a vida, o que inevitavelmente diminui o encantamento por

coisas em que se era motivado até mesmo a lutar, se fosse necessário.

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Esse desencantamento acaba causando um esfriamento da fé no

trabalho do professor, já que diversas outras situações e formações passam a

impressão de obterem o mesmo resultado, em menor tempo e com menos

dedicação.

Caberia então ao professor, trabalhar mais do que como narrador dentro

da sala de aula, sendo também um gestor das relações, situações e desafios

que os alunos enfrentam todos os dias, sem perder também a função de

motivador que coloca obstáculos no caminho incentivando que os alunos se

esforcem e encontrem uma saída para os mesmos.

2.3 Burocracia

Cada vez mais, são vistas situações onde ações tomadas pelo professor

são boicotadas pela burocracia. Muitas dessas ações poderiam ser as únicas

alternativas que solucionariam, por exemplo, dificuldades de aprendizagem ou

algum problema que possa ser comum a toda sala.

Essas normas, além de impedir certas ações também acabam tomando

um tempo que poderia ser gasto de outra forma pelo professor e acaba sendo

inutilizado com o preenchimento de formulários repetitivos, entrega de

documentos outrora documentados e até mesmo reuniões não produtivas,

onde os mesmos assuntos são tratados diversas vezes.

FIGURA 5 - Crítica ao excesso de reuniões

Fonte: Imagem retirada do aplicativo Instagram - 2016

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Na figura supra anexada é possível identificar uma sátira quanto as

incontáveis reuniões marcadas, sem valia alguma, apenas para fins de

cumprimento de calendário ou para assuntos supérfluos, tempo esse, que

poderia ser usado de melhor forma, como já citado, para maior dedicação do

professor no preparo de suas aulas e seus materiais, por exemplo.

2.4 Retomada

Apesar de tantas adversidades encontradas, ainda existem pontos em

comum que podem ser úteis na reconstrução do espaço do professor,

independente de qual seja seu estilo próprio de conduzir e motivar suas aulas e

seus alunos.

FIGURA 6 - A luta

Fonte: http://jottaclub.com/2015/03/projetos-e-artigos-para-trabalhar-com-os-problemas-de-indisciplina-escolar/

A principio, diferente do que se pensa, a escola deve ter seu ritmo

próprio. O que inclui suas próprias normas subdivididas em seus espaços, e

também seu próprio tempo, que não é, nem deve ser, o mesmo tempo da

sociedade.

Essas particularidades formam um conjunto de garantias, no qual

professores e alunos entram em uma relação onde o objetivo comum seja a

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construção da autonomia do educando que é construída a partir do contato

com os conteúdos trazidos pelo professor juntamente com o conhecimento pré

adquirido pelo aluno, que ele põe em prática quando instigado.

Para que esse novo olhar voltado para um novo modelo de como

ensinar se torne possível, é necessário que os professores conversem entre si,

troquem informações e agreguem seus conhecimentos, fortalecendo assim

seus projetos pessoais de ensino e consequentemente o aumento da qualidade

do ensino dos alunos.

2.5 Tempo

Proporcionar ao aluno um tempo único que não se misture, nem se

dissolva no tempo da vida cotidiana é uma das alternativas que fazem com que

o professor consiga atuar de forma próxima ao aluno, uma vez que dentro dos

muros escolares o tempo é um presente que suspende o passado junto todas

as suas cargas e também o futuro e seus medos.

Como por exemplo no filme "Escritores da liberdade" onde a professora

Gruwell, vivida pela atriz Hilary Swank, se depara com a realidade de uma

escola totalmente tomada pela violência e por conflitos constantes envolvendo

preconceito racial e a partir daí, enxerga a necessidade de novas formas de

trabalho para que os aluno falem mais de si e então seja possível trabalhar

formas para que repensem seus valores.

FIGURA 7 - Tempo

Fonte: http://ericksilveira.blogspot.com.br/2011/09/corrupcao-e-opiniao-publica.html

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Não sendo possível ver esse tempo realmente acontecer

cotidianamente, Aquino, (2015, p. 1 ) explica-o bem: "O tempo pedagógico não

é um tempo de Cronos, e nem um tempo de Kairós. É o tempo de Aion, é o

tempo da simultaneidade, um tempo outro, o tempo do diálogo entre um

professor e um aluno", diz, recorrendo às noções temporais da Grécia Antiga.

2.6 Identidade

Como visão geral da atual situação do professor do Brasil, pode-se dizer

que o mesmo não possui sua identidade, diferente de outras profissões, por

exemplo, que possuem formações específicas e muito particulares de sua área

de atuação, facilitando assim a criação da mesma.

Em nosso país, diversas instituições oferecem formações para quem

deseja ser licenciado em pedagogia, diferente de outros países, que reúnem

todas as licenciaturas (plena ou específicas) em um único instituto,

fortalecendo assim sua identidade e garantindo que saibam que são

licenciados, aptos a lecionar tais matérias.

Toda essa formação e essa certeza do que são e qual seu papel dentro

da sociedade, nascem durante o processo dentro da universidade. É ali, na

formação intensa do professor que ele deveria se descobrir, encontrar sua

identidade.

Bernardete Gatti, em "Professores para quê?", defende:

Ele precisa de conhecimentos fundantes de filosofia, sociologia, psicologia e história da educação, que dêem uma base interdisciplinar compreensiva do ser humano em desenvolvimento na sociedade." E precisa conhecer práticas socioeducacionais associadas a essas perspectivas. "Não estou falando que tem de conhecer a tecniquinha disso ou daquilo. Tem de conhecer práticas importantes para suas relações com os alunos, que lhe deem possibilidade de refletir. Caso contrário, será um executor de protocolos. (apud BARROS, 2015, p. 1) .

"Deter o conhecimento de como ensinar, relacionando-o ao contexto de

onde o fará, levando em conta as dimensões cognitiva, política, cultural e

afetiva, é o que pode dar identidade ao professor", vislumbra Altenfelder (apud

BARROS, 2015, p. 1), do Cenpec. "É o que pode fazê-lo acreditar em si

mesmo", (p. 1), diz, acrescentando que "o ato de refletir sobre o próprio

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trabalho, repensando, a partir disso, a prática e modificando a forma de

"pensar, agir e sentir", é um fator de ampliação de sua consciência" (p. 1).

2.7 Saídas e descaminhos

Diferente de tempos atrás, ir para escola aprender apenas os conteúdos

não é mais o propósito e o que incentiva os alunos e até mesmo os pais na

participação da vida escolar.

Aprender conteúdos de português, matemática, ciências, entre outras

disciplinas, não é mais o único porque as crianças frequentam a escola nos

dias de hoje.

Pais e educadores concordam que o universo escolar é também muito

útil para a socialização, para a troca de experiências, para o trabalho das

emoções, para o aluno se descobrir, e se redescobrir, como indivíduo, entre

muitas outras finalidades.

Conseguir que todos esses objetivos sejam devidamente alcançados

não é função apenas do professor, mas seu papel é, sim, um dos mais

decisivos no aproveitamento que crianças e adolescentes fazem de suas

vivências no meio escolar.

Por isso, é importante que ele avalie constantemente seu

comportamento, visando avaliar como anda sua influência sobre cada

integrante da sala. Do contrário, alunos desestimulados podem brotar aos

montes, prejudicando, sem sombra de dúvida, o processo de aprendizagem em

todos os aspectos.

Para Simão de Miranda (apud BARROS, 2015, p. 1), educador, mestre

em Educação e doutor em Psicologia pela Universidade de Brasília, o trabalho

do professor no combate ao desestímulo é diário.

Ele precisa investir na sua relação com as crianças, mostrar que gosta de conviver com elas e de partilhar todos aqueles momentos. Ele deve passar confiança, para que os alunos dividam seus medos e inseguranças, inclusive aquelas ligadas ao aprendizado.

A criança vê no adulto uma figura de segurança, e no professor, além

disso, como um exemplo de postura a seguir e conduta a levar por todo o

processo escolar e também pela vida.

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CAPÍTULO III

O PROFESSOR E A ÉTICA

Figura 8 - Ética

Fonte: http://profecoelho.blogspot.com.br/

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1 O ELO ENTRE O PROFESSOR E A ÉTICA Professores comprometidos com o trabalho e alunos ativos dentro da

escola, fazem o processo de ensino-aprendizagem funcionar eficazmente.

Para que se assuma um trabalho competente na escola, é necessário

que haja esse envolvimento e também que a família e todo o corpo educacional

estejam em sintonia, a fim de uma formação de fato completa do educando.

Aulas excessivamente burocráticas, que ficam somente presas ao

currículo e desligadas da relação professor-aluno, são prejudiciais para o

processo de ensino aprendizagem, pois distanciam uma relação que tem

extrema importância na formação do educando.

É necessário que o aluno seja instigado, incentivado a buscar

conhecimento, e não mais que ele receba o conhecimento pronto e o coloque

em prática.

Essa ideia de que a criança é uma página em branco, proposta pelo

método empirista não funciona mais nos dias de hoje, pois os alunos chegam

repletos de conhecimentos pré adquiridos e é primordial que esses sejam

usados no ambiente escolar.

Piaget define a aprendizagem humana como a construção de estruturas de assimilação, ou seja, aprender é construir estruturas de assimilação. Em outras palavras, aprende-se porque se age para conseguir algo e, em segundo momento, para se apropriar dos mecanismos dessa ação primeira. Aprende-se porque se age e não porque se ensina. (BECKER, F. 2003, p. 14).

Por este caminho, a escola construtivista, proposta por Piaget (1994),

busca novos rumos para a educação, rescindindo o ideal de o professor como

alguém que impõe o saber.

O aluno passa a ter voz ativa em sala de aula, podendo se posicionar e

questionar quanto aos conteúdos e situações que se depara enquanto está

dentro da sala de aula. Essa nova liberdade possibilita uma nova postura

também frente a sociedade, onde ele vai vivenciar, realmente, o que até então

havia encontrado muitas vezes apenas como exemplo.

E por isso, repito que ensinar não é transferir conteúdo a ninguém, assim como aprender não é memorizar o perfil do conteúdo transferido no discurso vertical do professor. Ensinar e aprender têm que ver com o esforço metodicamente crítico do professor de desvelar a compreensão de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de ir entrando como sujeito em aprendizagem, no processo de desvelamento que o professor ou a professora deve deflagrar. Isso

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não tem nada que ver com a transferência de conteúdo e fala da dificuldade, mas, ao mesmo tempo, da boniteza da docência e da discência. (BECKER, F. 2003, p. 16. apud FREIRE P. 1996, p. 143).

Cada professor, com sua competência deve ser capaz de proporcionar

aos seus alunos condições para que se desenvolva dentro desse processo e

que seja capaz de se tornar um ser autônomo e de voz ativa dentro da

sociedade.

Para que isso se torne possível, é necessário que ética e moral sejam

trabalhadas diariamente dentro de sala aula e também no espaço de

convivência comum a todos no ambiente escolar.

Trabalhar com esses temas não deve ser uma ação isolada, a curto

prazo, e sim, algo que seja construído juntamente com a evolução do

conhecimento e desenvolvimento de cada educando.

Não é necessário implantar uma matéria exclusiva no sistema

educacional para que temas que envolvam ética se tornem parte do currículo

nas escolas.

Moral e ética são temas transversais que deveriam estar presentes no

trabalho em todos os campos do conhecimento, seja em áreas das ciências

humanas ou exatas.

E desenvolver essas práticas não deve ser motivo de sofrimento para os

professores, algo visto como obrigatoriedade e entrar como cumprimento de

currículo e sim, como prazer, como algo que aconteça naturalmente no dia a

dia em sala de aula.

Pode-se ariscar dizer que a ética é um tema bastante complicado, e

podemos enfatizar que a ausência de ética tem sido constante principalmente

no núcleo da família, da escola e da comunidade, base da sociedade, e

necessita atentar um olhar mais humano, pois a ética é uma forma racional de

procurar viver de forma humana com outros humanos e em harmonia.

Finalizamos com inclinação ao que nos fala Kramer, ―[...] precisamos pôr na

ética nossas mãos e nosso coração. Não uma ética supostamente tecida na

solidão de um sujeito individual [...]‖. (KRAMER, 1993, p. 170)

Não se pode perder a oportunidade de formar a mente e o coração dos s

educandos. E se o trabalho tiver de ser realizado através de uma disciplina

específica, que seja bem-feito e que haja contextualização com o momento

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presente. Sem duvida o momento em que se vive é de transição, de rupturas e

de buscas, e no bojo dessa procura, é natural que haja conflitos, ansiedades e

equívocos.

O professor, por ter uma grande influência sobre os alunos e ter como

função ser formador de seres pensantes, deve ter por objetivo, ensinar formas

de os mesmos saberem discernir sobre os acontecimentos que presenciarem,

para então poderem se posicionar.

Se, por um lado, as condições prévias do sujeito cognitivo residem no sujeito biológico, nas profundezas de um passado que remonta há mais de três bilhões de anos, cujas transformações não deixaram vestígios ou deixaram vestígios precários, por outro lado, as condições prévias desse sujeito estão em suas próprias mãos, em sua capacidade de agir sobre o meio físico ou social e, de retorno, agir sobre si mesmo. Ao agir sobre o meio, o sujeito retira (abstrai) não apenas qualidades desse meio (físico ou social), mas também retira qualidades de suas próprias ações. O sujeito constitui-se como sujeito pelo que ele retira das coordenações de suas próprias ações. O sujeito não é tal apenas pela sua herança genética, como também não é apenas pela pressão que o meio ou a cultura exercem sobre ele. Suas ações, à medida que ele se apropria delas, de seus mecanismos íntimos, têm o poder de construir sua subjetividade. (BECKER, F. 2003, p. 33-34).

O processo de formação do aluno é um conjunto do que ele já conhece

e traz consigo quando vem à escola, unido ao conhecimento que adquire

quando está nela.

Essa ponte entre o conhecimento prévio e o conhecimento pós-adquirido

é função do professor, que tem por objetivo maior ser mediador entre o aluno e

o conhecimento.

Mediação essa que entra diretamente na proposta construtivista de

Piaget e que vem como contraproposta ao empirismo, que era o método

utilizado unanimemente até tempos atrás.

O construtivismo, proposto por Piaget (1994), vem como uma visão

revolucionária para a educação, onde parte-se do princípio de que a criança

traz consigo conhecimentos pré-adquiridos e não é mais visto como uma

página em branco.

Piaget tem mostrado que, "desde o princípio, a própria criança exerce o

controle sobre a obtenção e organização de sua experiência do mundo

exterior" (GOULART, 2001, p.67), ou seja, ela é capaz de selecionar o que

tomará pra si como verdade da realidade que faz parte.

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Ainda para Piaget (1994), o conhecimento não é estático, imutável,

irredutível as necessidades, pelo contrário, deve ser dinâmico, aberto a sofrer

alterações de acordo com o contexto encontrado.

Basicamente, pode-se dizer que construtivismo é:

a ideia que sustenta o indivíduo - tanto nos aspectos cognitivos e sociais do comportamento como nos afetivos - não é um mero produto do ambiente, nem um simples resultado de suas disposições internas, mas, sim, uma construção própria que vai se produzindo, dia a dia, como resultado da interação entre esses dois fatores. (CARRETERO, 2002, p. 10).

Deste modo, o conhecimento não é uma cópia da realidade e sim, uma

construção constante do ser humano, onde a cada dia se aprende um pouco, a

fim de manter uma constância de aprendizagem.

Na percepção de Paulo Freire (1987), se professores e alunos

exercessem o poder de produzir novos conhecimentos a partir dos conteúdos

impostos pêlos currículos escolares, estariam de fato, consolidando seu poder

de contribuir para a transformação da sociedade. Daí, a importância de se

ressaltar a relação intrínseca existente entre objetivos propostos e conteúdos a

serem estudados. "Em última instância, a organização dos conteúdos estará

intimamente relacionada com o objetivo maior da educação escolar, que é

propiciar a aquisição do saber sistematizado (ciência), tido como instrumento

fundamental de libertação do homem." (SAVIANI,1984, p36).

Todo ser humano tem sempre algo novo a ser aprendido e algo novo a

ser ensinado, pois vive-se em constante mudança e transformação na

sociedade e no mundo, de tal forma, que todo conhecimento é válido.

Ainda hoje, tem-se uma visão da ética como algo de restrição, recheada

de proibições e de nãos o tempo, no entanto, essa ideia tem de ser deixada de

lado, afinal, a ética tem muito mais a ver com a abertura de novas fronteiras e

de novos conhecimentos.

Quando pensa-se em questões, muitas vezes sem resposta pronta ou

de praxe, que exigem certo discernimento, se faz uso então das virtudes éticas,

as quais tem necessidade de serem ensinadas e talhadas, e dentro da sala de

aula, o professor vem como primeiro responsável em cumprir esse papel.

Engana-se quem pensa que apenas manter uma boa conduta e ser

obediente o torna uma pessoa ética, até então, está apenas cumprindo as

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normas. A partir do momento, que o sujeito torna-se capaz de discernir e se

posicionar frente as situações, ele passa a se tornar ético.

Segundo Moretto, (2001, p 48)

A ação do educador deve pautar-se na ética profissional vista como o compromisso de o homem respeitar os seus semelhantes, no trato da profissão que exerce. Este é o foco da ética profissional: o respeito. O corolário deste valor é um conjunto de valores, como a competência do profissional, a constante atualização no domínio dos conteúdos, a honestidade de propósitos na educação, a avaliação eficiente e eficaz dos alunos. Assim, podemos afirmar que educar é, por essência, uma atividade ética, tendo em vista as consequências para a vida dos educandos‖.

Dentro da sala de aula é preciso que o professor busque trabalhar

temas que sejam também de interesse dos alunos, pois muitas vezes, o que a

escola quer discutir não é o que eles querem discutir.

No entanto, falta compreensão por parte da escola quanto aos temas

interessantes aos alunos, temas esses que poderiam servir para um trabalho

efetivo e com resultados consideráveis se trabalhados com projetos que

também partissem dos educandos e não somente do corpo escolar.

Existem temas complexos e muitas vezes não bem aceitos para serem

trabalhados e entra-se então em um grande desafio de como trabalhá-los em

um ambiente tão diversificado e com tantas opiniões, tendo que manter um

respeito mútuo e um diálogo agradável.

Mais uma vez, entra o professor como mediador dessas situações e

instigador do debate e da conversa entre alunos com as mais diferentes ideias

e conceitos sobre um mesmo assunto.

E tendo em vista o que o aluno vai encontrar quando estiver além dos

muros da escola torna-se importante que a ética seja trabalhada de forma

interdisciplinar, e não se limite apenas a uma matéria ou a um professor, e sim

a todo o conjunto escolar, como citado anteriormente.

"Professores há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que

se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é

vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande

esperança". (ALVES, 1993, p.11).

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CONCLUSÃO

Conclui-se com essa pesquisa que há a necessidade de uma

implementação intensa e veloz da ética dentro da escola, a fim de serem

resgatados o diálogo e o respeito entre os educandos.

Com esse resgate torna-se possível a formação de cidadãos diferentes,

capazes de pensar e se posicionar frente as diversas situações que podem vir

a ser enfrentadas no dia a dia de cada um deles.

Trabalhar com ética e temas inerentes a ela, tem que ser algo natural

que aconteça no decorrer do processo educacional e que esteja inserido nas

matérias do currículo.

O refletir sobre a ética pode exigir também maior respeito e uma

aprendizagem com mais qualidade, pois leva o aluno a se tornar crítico e

perceber o que é melhor para ele.

Nos dias atuais encontra-se professores com competências diversas e

que possuem modos de ensinar diferentes, situação que pode ser muito

valorosa se os mesmos forem capazes de refletir sobre como suas

competências influenciam seus alunos.

Cada professor que passa pela vida de um aluno é visto como um

modelo para ele, percebe-se então a necessidade de que o educador tenha

sempre uma postura ética, pois é um influenciador poderoso na conduta dos

adultos do futuro.

É necessário saber posicionar-se, portar-se, corrigir-se quando

necessário e não somente ensinar a seus educandos como fazer isso, mas

também aprender com eles, pois cada aluno traz consigo experiências e

vivencias que podem somar para a formação do educador.

Deste modo, também faz-se muitíssimo importante o envolvimento da

família e todo corpo escolar na formação dos alunos, pois ele vive e convive

em cada um desses espaços, tornando necessários uma conexão e um diálogo

alinhado entre eles, evitando um conflito interno da criança.

Quando professor, aluno, escola e família estiverem em sintonia total,

será finalmente possível fazer o processo de ensino-aprendizagem funcionar

eficazmente.

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