o processo de formaÇÃo profissional dos assistentes sociais e o desafio da pesquisa - Édina...

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Souza, C.M. (2013). O processo de formação Professional do Assistente Social e o desafio de investigação. . Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervención Social, 3 (4), 95-112 O PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS E O DESAFIO DA PESQUISA THE PROCESS OF FORMATION OF PROFESSIONAL SOCIAL WORKERS AND THE CHALLENGE OF RESEARCH Édina Casali Meireles de Souza TRABAJO SOCIAL GLOBAL 2013, 3 (4), 95-112 Resumo O presente artigo foi estruturado após a participação no Seminário “El desafío de la Investigación desde la práctica profesional: una reflexión desde la implantación del grado en Trabajo Social”, em fevereiro de 2012, na Faculdade de Trabalho Social da Universidade de Granada. Na oportunidade, apresentamos nossa contribuição trazendo para o debate, a estrutura e organização da formação profissional dos Assistentes Sociais da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora – Brasil, acentuando a importância da prática investigativa nesse processo, enquanto forma de efetivar a correlação teórico-prática no exercício profissional, tema central do presente artigo. Abstract This article was structured apos to participação no seminar "The challenge of research from professional practice: a reflection from the implementation of the degree in Social Work", in February 2012, the Faculty of Social Work at the University of Granada. On occasion, we present our contribution to bringing the debate, the structure and organization of vocational training of Social Workers, School of Social Service of the Federal University of Juiz de Fora - Brazil, emphasizing the importance of investigative practice this process as a means of effecting correlation between theory and practice in professional practice, the central theme of this article. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PC. Prática profissional, investigação, Serviço Social, Desafio KW.- Professional practice, research, Social Work, Challenge _________________________________________________________________________________

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O presente artigo foi estruturado após a participação no Seminário “El desafío de la Investigación desde la práctica profesional: una reflexión desde la implantación del grado en Trabajo Social”, em fevereiro de 2012, na Faculdade de Trabalho Social da Universidade de Granada. Na oportunidade, apresentamos nossa contribuição trazendo para o debate, a estrutura e organização da formação profissional dos Assistentes Sociais da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora – Brasil, acentuando a importância da prática investigativa nesse processo, enquanto forma de efetivar a correlação teórico-prática no exercício profissional, tema central do presente artigo.

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  • Souza, C.M. (2013). O processo de formao Professional do Assistente Social e o desafio de investigao. . Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social, 3 (4), 95-112

    O PROCESSO DE FORMAO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES

    SOCIAIS E O DESAFIO DA PESQUISA

    THE PROCESS OF FORMATION OF PROFESSIONAL SOCIAL

    WORKERS AND THE CHALLENGE OF RESEARCH

    dina Casali Meireles de Souza

    TRABAJO SOCIAL GLOBAL 2013, 3 (4), 95-112

    Resumo O presente artigo foi estruturado aps a participao no Seminrio El desafo de la Investigacin desde la prctica profesional: una reflexin desde la implantacin del grado en Trabajo Social, em fevereiro de 2012, na Faculdade de Trabalho Social da Universidade de Granada. Na oportunidade, apresentamos nossa contribuio trazendo para o debate, a estrutura e organizao da formao profissional dos Assistentes Sociais da Faculdade de Servio Social da Universidade Federal de Juiz de Fora Brasil, acentuando a importncia da prtica investigativa nesse processo, enquanto forma de efetivar a correlao terico-prtica no exerccio profissional, tema central do presente artigo. Abstract This article was structured apos to participao no seminar "The challenge of research from professional practice: a reflection from the implementation of the degree in Social Work", in February 2012, the Faculty of Social Work at the University of Granada. On occasion, we present our contribution to bringing the debate, the structure and organization of vocational training of Social Workers, School of Social Service of the Federal University of Juiz de Fora - Brazil, emphasizing the importance of investigative practice this process as a means of effecting correlation between theory and practice in professional practice, the central theme of this article. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- PC. Prtica profissional, investigao, Servio Social, Desafio KW.- Professional practice, research, Social Work, Challenge _________________________________________________________________________________

  • Trabajo Social Global

    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    O desafio da formao profissional Parte do reconhecimento de que o mbito da teoria no materialismo histrico-dialtico o da

    produo de conhecimentos, enquanto o mbito da prtica, o da efetividade da ao sobre

    o mundo. A pesar de suas diferenas, formam uma unidade pois no existe teora que no

    se baseie numa prtica existente e a prtica no fala por si mesma, ou seja, no

    diretamente terica.

    Nessa relao direta entre teoria e prtica que se desenvolve o processo de investigao,

    posibilitando a produo do conhecimento atravs da pesquisa. Por isso, a atividade

    intelectual deve questionar a realidade para responder situaes e demandas postas pela

    realidade social ou, gerar novas, a partir da reflexo sobre as mesmas.

    Nessa direo, impensvel desencadear a formao dos Assistentes Sociais sem a devida

    valorizao da pesquisa, como o caminho terico-metodolgico - social e histricamente

    situado - capaz de permitir subsidiar uma interveno profissional sobre as vrias

    expresses da questo social.

    Desde a ltima dcada do sculo XX, a interveno profissional dos Assistentes Sociais

    vem se tornando uma questo importante no debate acadmico, em especial, no que diz

    respeito ao processo de nossa formao profissional, diante das mltiplas dimenses sobre

    as quais atuamos.

    O projeto profissional do Servio Social no Brasil foi sendo construdo a partir de

    modificaes referentes ao quadro de necessidades sociais com as quais a profisso opera;

    de transformaes sociais, econmicas e culturais que ocorreram nos diferentes momentos

    histricos e, de alteraes decorrentes do prprio processo de desenvolvimento da profisso

    (Netto, 2005).

    Nessa direo, a formao profissional dos Assistentes Sociais enfrenta atualmente, trs

    grandes desafios. O primeiro consiste na articulao entre a dimenso macro-societria

    referente ao reconhecimento do terreno scio-histrico no qual a profisso atua, e

    dimenso profissional que compreende as respostas tcnico-profissionais dos Assistentes

    Sociais (Iamamoto, 1999).

    O segundo, refere-se ao rompimento com a dicotomia entre a dimenso terico-

    metodolgica e a tcnico-operativa, ou seja, a clssica discusso da dicotomia entre teoria e

    prtica. O terceiro, a necessidade de se buscar o rompimento com a iluso de que a

  • Souza, C.M../ O processo de formao Professional do Assistente Social e o desafio da investigao.

    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    apropriao dos contedos das disciplinas tericas e dos instrumentos tcnico-operativos

    suficiente para o aluno e para os Assistentes Sociais realizarem seu processo de trabalho.

    Dada a diversidade de espaos scio-ocupacionais nos quais os profissionais atuam e pela

    natureza das suas aes nos diferentes mbitos do exerccio profissional, fundamental

    reconhecer a complexidade desse trabalho. Dessa forma, as aes se revestem de

    inmeras caractersticas que dificultam a sua apreenso, organizao e produo do

    trabalho e do conhecimento, razo pela qual, a produo de conhecimentos acerca dessa

    realidade, condio bsica para a profisso.

    Este conhecimento, que incorpora tanto a dimenso terica-metodolgica - baseada nas

    principais vertentes das Cincias Sociais e Humanas e da Teoria Social Crtica - e tcnico-

    operativa, agrega ainda, todo o conhecimento relacionado realidade, ao campo scio-

    ocupacional no qual os Assistentes Sociais esto inseridos e, aos sujeitos destinatrios da

    ao profissional. A aquisio desses conhecimentos, entretanto, pressupe a existncia de

    uma atitude investigativa, a qual permitir a compreenso das particularidades existentes

    nos diferentes campos de exerccio profissional, assim como na definio de aes

    profissionais que melhor respondam s demandas e necessidades postas pelos sujeitos.

    Por fim, no se pode negligenciar no processo de formao dos Assistentes Sociais, o

    investimento na sistematizao e documentao das aes desenvolvidas. Pelo fato de as

    aes dos Assistentes Sociais estarem prioritariamente calcadas no uso da linguagem, a

    visibilidade da interveno realizada s obtida quando ocorre o registro eficiente dessa

    ao. Alm disso, estes registros permitem congregar dados que podem resultar em

    avanos - tanto no momento em que se analisa a interveno, procurando estabelecer

    novas prioridades, reconhecer as demandas, dentre outros - quanto no momento de reflexo

    crtica da realidade dos espaos scio-ocupacionais e de seus processos de trabalho, no

    intuito de ampliar os conhecimentos sobre a profisso e a sociedade.

    Pesquisa: ponto de partida do processo formativo e interventivo do

    Assistente Social

    Debater a importncia da Pesquisa Social no processo de formao e do exerccio

    profissional para ns, Assistentes Sociais, deve partir do entendimento de que o objeto de

    nossa ao determinado social e historicamente.

  • Trabajo Social Global

    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    Por isso, a prtica de investigao permite-nos desvendar e analisar a realidade, a partir de

    um referencial terico e metodolgico, considerando a complexidade desta, notadamente

    marcada por particularidades e diferenas.

    Dado o carter especializado do trabalho desenvolvido pelos Assistentes Sociais em

    qualquer rea de interveno, esta ao sempre delimitada por uma intencionalidade e

    orientada por um objetivo, determinado pela formao acadmica promovida pelas

    Universidades, quer pblicas ou privadas. A definio dessa posio mostra-se

    especialmente contundente e necessria, uma vez que cabe ao profissional, imprimir sua

    ao, os saberes acumulados em seu processo formativo, a partir do referencial terico-

    metodolgico e tcnico-operativo, que sustentaro sua interveno.

    Nestes termos, impossvel pensar uma ao profissional a partir da falsa dicotomia entre

    teoria e prtica, j que defendemos a inexistncia de uma interveno que no seja pautada

    pelo conhecimento cientfico. Reconhecendo a importncia da Pesquisa para o estudo da

    realidade, reafirmo que a mesma fundamental no processo de formao profissional dos

    Assistentes Sociais, para orientar a organizao e o desenvolvimento da interveno destes

    profissionais.

    Contribuies ao debate

    Otvio Ianni (2003), grande pensador crtico brasileiro, afirma que a pesquisa uma

    aventura do esprito e que, seguindo o pensamento crtico, este no dissocia o social do

    poltico. Para alm disso, insiste que ns no devemos nos conformar com idias

    aparentemente certas ou convincentes, ao contrrio, que sempre necessrio duvidar e

    questionar a aparente certeza dos fatos, ou seja, deve fazer parte, principalmente entre ns

    educadores e mais ainda, de Servio Social, tendo em vista o objetivo da nossa ao

    profissional a interrogao constante sobre o que, aparentemente, parece certo e

    verdadeiro. Faz parte, portanto, do nosso compromisso social e poltico de professor.

    Entretanto, no processo de formao profissional, no se trata de estimular essa aventura

    individualmente, ao contrrio, deveria ser pensada numa dimenso coletiva, para ser

    apropriada tambm coletivamente, no somente pelo conjunto de professores e alunos, mas

    pelos prprios profissionais atuantes nas diferentes reas, bem como, por parte da

    populao com a qual trabalhamos. Assim, importante se estimular no mbito do processo

    formativo, reflexes capazes de permitirem um olhar mais ampliado e crtico sobre a

    realidade na qual atuamos.

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    Yasbeck (2005) insiste em apontar ser impossvel pensar a formao profissional, sem que

    seja realizada a problematizao do contexto scio-histrico sobre o qual intervimos, ou

    seja, sobre a dinmica e as transformaes da sociedade capitalista contempornea.

    Refletir o lugar poltico dessas questes , para a autora, o ponto de partida para se

    repensar a formao profissional.

    Isso porque, no contexto atual da dinmica capitalista, as expresses da questo social vm

    se mostrando de forma mais intensa, extensa, novas (ou no) e diferenciadas

    precarizao das relaes de trabalho, desemprego, violncia domstica, drogatizao,

    envelhecimento, discriminaes, excluses, entre tantos outros que poderia exemplificar -

    exigindo uma atuao adequada, qualificada e coerente com os objetivos da profisso.

    Contudo, a construo de propostas profissionais pertinentes requer um acompanhamento

    atento da dinmica societria, balizado por recursos terico-metodolgicos, que possibilitem

    decifrar os processos sociais nas suas mltiplas expresses e determinaes, ou melhor

    dizendo, na sua totalidade. Nestes termos, afirmo a busca necessria, no processo de

    formao profissional dos Assistentes Sociais, a indissocivel articulao entre profisso,

    conhecimento e realidade.

    Com essa indicao, reconhecemos como sendo um dos problemas centrais para as

    Unidades de Ensino de Servio Social, promover a mediao entre o ensino terico e o

    ensino da prtica, para o aluno se apropriar de um instrumental de anlise e efetivar uma

    apreenso crtica das situaes nas quais atua, compreendendo a particularidade de seu

    objeto de interveno. Por isso, as Unidades de Ensino devero dar especial ateno e

    estmulo Pesquisa.

    Sendo o Servio Social uma profisso com forte dimenso prtico-interventiva,

    fundamental que tenha uma base terica e metodolgica para promover a explicao da

    realidade, e definir as possibilidades de sua interveno. A dinamicidade dos processos

    scio-histricos na contemporaneidade vm requerendo novos conhecimentos para

    compreend-los e explic-los. Para tanto, se faz necessrio buscar uma base terica e

    metodolgica a partir do legado das Cincias Sociais e Humanas e, da Teoria Social Crtica,

    assim como a realizao de pesquisas sobre essa realidade.

    No Brasil, o Servio Social se inseriu enquanto profisso na diviso social e tcnica do

    trabalho, e desenvolve uma interveno concreta a partir de um conhecimento que a orienta

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    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    terica, metodolgica, tcnica e eticamente. Esse conhecimento como j referenciamos,

    deve partir da anlise da conjuntura macro social, poltica e econmica, que envolve a

    reflexo sobre o modelo capitalista, seu processo de financeirizao, a adeso dos pases

    ao receiturio neoliberal e os rebatimentos dessa opo sobre o modelo de Estado, Polticas

    Sociais, polticas pblicas, democracia, cidadania, poder local, pobreza, entre outros.

    Sendo assim, reafirma-se a necessidade de se buscar e garantir um conhecimento capaz de

    subsidiar a natureza interventiva do Servio Social, mas, para alm dessa posio, um

    conhecimento contra-hegemnico, para darmos conta de explicar e compreender a

    realidade atual e, o que ela produz nas diversas dimenses em que se expressa.

    Se concordarmos que o conhecimento no neutro ao contrrio do que pressupunha a

    tradio positivista nos instigar a produo de um conhecimento capaz de atender s

    demandas especficas da profisso e as possibilidades de enfrentamento das vrias

    expresses da questo social na conjuntura atual. Isso no significa nada mais nada menos

    do que reconhecer que o poder social das prticas se baseia no conhecimento que a

    orienta.

    Trata-se, portanto, de um enorme desafio para a formao profissional. A produo de

    conhecimentos no pode ser uma atividade mecnica, despolitizada e refm das demandas

    do mercado, e sim, uma constante, consistente e com clara posio ideolgica, no sentido

    da produo cientfica deste. Isso significa a indicao de um posicionamento coletivo,

    vinculado ao processo de formao profissional, de que estudos e pesquisas permitem

    contribuir com o conhecimento da realidade, orientando a atuao sobre esta de forma

    criativa, competente e inovadora, frente aos novos desafios colocados para a profisso na

    atualidade.

    Refora-se, portanto, a idia de que o conhecimento possibilita decifrar e compreender a

    realidade, utilizando-o como um guia, um iluminador do trabalho a ser realizado, sendo

    dessa forma, indispensvel ao processo de formao profissional.

    Nessa direo, a pesquisa de situaes concretas objeto do trabalho do Assistente Social

    um dos caminhos possveis para se conseguir a compreenso da realidade e de seus

    fenmenos sociais particulares, com os quais lidamos cotidianamente. Decifrar os processos

    sociais nas suas determinaes gerais e particulares permite-nos superar a falsa dicotomia

    entre teoria e prtica, alm de fortalecer o rompimento com as concepes tecnicistas da

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    ao profissional. Essas orientaes devero subsidiar a formao prtica dos alunos de

    Servio Social, bem como, de professores e supervisores de campo.

    Um provvel aprisionamento concepo de que a prtica exclusivamente uma AO e

    orientada por ela prpria, pode estar encaminhando um maior investimento da dimenso

    tcnico-operativa, em detrimento de uma necessria reflexo da prtica profissional e na

    sistematizao do conhecimento produzido a partir dela. Disso resulta a compreenso de

    que nossa capacidade operativa soma-se uma necessria fundamentao terica para

    construo do conhecimento.

    No podemos desconsiderar que ns, profissionais do social, temos uma riqueza de prtica,

    com vivncia de situaes concretas e cotidianas, e de relao direta com vrios segmentos

    da sociedade, que poucas profisses tm. Discutir a prtica profissional e o processo

    formativo dos futuros Assistentes Sociais de qualquer pas exige que se revele o contexto

    em que a mesma se realiza, com o que e quem se articula, e que finalidades possui.

    As prticas so construes sciopolticas e so eminentemente histricas. Temos uma

    prtica que transita entre demandas, carncias e necessidades. A partir do objetivo de

    nossa profisso, temos que conhec-las em profundidade, movimento este s garantido

    com o aprendizado e o exerccio da pesquisa.

    A indissolvel relao entre teoria e realidade, viabilizada pela pesquisa, possibilita-nos

    identificar todo o terreno a partir do qual surgem as diversas demandas profissionais por

    parte da sociedade civil, do Estado, do Terceiro Setor, do empresariado, entre outros.

    Dinamizar a pesquisa ao longo do processo de formao dos Assistentes Sociais nas

    Universidades hoje um dos principais desafios das Unidades de Ensino. Para tanto, h

    que se implementar iniciativas de apoio pesquisa docente, estimulando a constituio de

    Grupos de Estudos e Pesquisa, promovendo intercmbios interinstitucionais com estes

    Grupos, realizao de Seminrios, workshops e outras atividades que podero ser

    pensadas a partir das condies de cada Unidade.

    Para alm dos docentes, h que se envolver neste processo de estmulo e apoio s

    atividades de pesquisa, os profissionais orientadores da prtica profissional, bem como, os

    alunos de graduao e ps-graduao. A instituio de Bolsas de Iniciao Cientfica e a

    construo de Bancos de Dados sobre o municpio e as Instituies nas quais atuamos,

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    podem ser um ponto de partida significativo e expressivo. Temos condies, a partir do

    nosso exerccio profissional quer seja acadmico ou profissional de produzir

    conhecimentos sobre a realidade em que atuamos e sobre nossa prpria interveno sua

    pertinncia, qualidade, eficcia, eficincia e coerncia.

    Mais do que a produo deste conhecimento cientfico, a sistematizao reflexiva e analtica

    do exerccio profissional, mesmo que a partir da prtica acadmica, pode oportunizar a

    organizao de Bancos de Dados relativos s reas trabalhadas nessa prtica, e tambm,

    contribuir com reflexes para buscar melhorias nos mbitos em que as mesmas so

    desenvolvidas.

    Retomando uma reflexo de Yasbeck (2005), no decorrer da sua trajetria que o Servio

    Social constri as referncias que formatam a sua identidade profissional, desenhada a

    partir da sua insero na realidade, de seu modo de pensar e de agir e, principalmente, de

    seu projeto volto a insistir tico, poltico, terico-metodolgico e tcnico-operativo, que

    vai conferir profisso, sua finalidade e direo social.

    Cabe ento, a cada Universidade, definir qual ser esse projeto e que papel a pesquisa

    representar nele: uma atividade ad hoc, paralela, sazonal, de pouca importncia e

    significado? Ou, uma atividade inerente e indissocivel do processo formativo do Assistente

    Social, visando a efetiva articulao entre profisso, conhecimento e realidade, incorporada

    como uma dimenso constitutiva da ao profissional.

    impensvel, INTERVIR/AGIR, sem CONHECER/REFLETIR. O no cumprimento dessa

    correlao direta poder afetar sobremaneira a qualidade da nossa interveno profissional,

    comprometendo inclusive, nossa insero enquanto profisso na sociedade, uma vez que

    poderemos incorrer no grave erro de desenvolvermos uma prtica pela prtica e o risco de

    revertermos a profisso mera acolhedora de demandas (espontneas ou histricas) sem

    um movimento de referncia e contra-referncia.

    Subsidiar nossa interveno profissional baseado na prtica pela prtica pode nos levar a

    uma situao mais fragilizada do que a de uma refilantropizao da ao profissional, mas a

    de reduzir nosso trabalho ao Planto Social, nos bons moldes pensados pela nossa

    precursora Mary Richmond ainda que ressalvados os avanos que a mesma trouxe ao

    processo formativo de nossa profisso sua poca.

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    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    O papel da Universidade no processo da formao prtica dos Assistentes

    Sociais: a experincia da Faculdade de Servio Social da UFJF

    A Faculdade de Servio Social est vinculada Universidade Federal de Juiz de Fora, uma

    Universidade pblica, que valoriza na formao profissional de seus alunos, a integrao

    efetiva entre ensino-pesquisa-extenso.Sendo uma instituio de nvel superior, com carter

    pblico, reconhece que um de seus papis fundamentais a produo, preservao e

    transmisso do conhecimento cientfico acumulado, e no somente, a qualificao de mo-

    de-obra especializada para o atendimento das demandas do mercado. Tem, portanto, uma

    funo pblica de produo de novos conhecimentos e tecnologias, de forma a contribuir

    criticamente com a vida social, poltica, econmica e cultura na realidade na qual se insere.

    Nessa direo, o desafio da Faculdade de Servio Social da UFJF tem sido formar e

    qualificar Assistentes Sociais crticos e competentes, a partir de um projeto tico-poltico

    definido pela Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social (ABEPSS).

    Este projeto foi construdo e legitimado na passagem dos anos oitenta aos noventa do

    sculo XX, e configurado a partir de uma estrutura bsica como um processo, em contnuo

    desdobramento. Tem como centralidade, o reconhecimento da liberdade como valor central

    concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas concretas.

    Vincula-se a um projeto societrio que prope a construo de uma nova ordem social, sem

    explorao/dominao de classe, etnia e gnero.

    Coerente com esses objetivos, os princpios que fundamentam a formao profissional so:

    a dimenso interventiva e investigativa como condio central da formao profissional; a

    afirmao da unidade entre teoria e prtica; a adoo de uma teoria social crtica; a

    indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extenso; o exerccio do pluralismo; a

    transversalidade do ensino da tica e da pesquisa; o estgio obrigatrio com superviso

    profissional acadmica e de campo.

    Destaca-se, portanto, a preocupao da Instituio com o estabelecimento da unidade entre

    conhecimento terico e conhecimento prtico, ressaltando no somente a dimenso

    interventiva, mas tambm, a dimenso investigativa, diante da necessidade de apropriao

    da teoria social moderna para buscar alternativas e definir prioridades.

  • Trabajo Social Global

    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    No quadro atual das transformaes societrias tpicas do capitalismo, das novas demandas

    do mercado de trabalho e da cultura profissional, a preocupao com a formao

    profissional dos futuros Assistentes Sociais reside no debate relativo a prepar-los para

    responderem qualificadamente (do ponto de vista operativo) e legitimadamente ( do ponto

    de vista scio-poltico), s situaes vivenciadas nos diferentes mbitos de nossa

    interveno institucional.

    Sendo assim, a competncia tico-poltica dos Assistentes Sociais no se restringe mera

    vontade poltica ou adeso a valores, mas, capacidade desses profissionais de torn-los

    concretos atravs das dimenses ticas, polticas, intelectuais e prticas (Iamamoto, 1998).

    Essa competncia est contida no Cdigo de tica e determinada pelos valores de

    liberdade e de justia social articulados democracia, e dentre destacam-se: a orientao

    social a indivduos, grupos e populao; assessoria e apoio aos movimentos sociais em

    relao s polticas sociais, no exerccio e na defesa dos direitos civis, polticos e sociais da

    coletividade; elaborao, implementao, execuo e avaliao de Polticas Sociais junto a

    rgos da administrao pblica, direta ou indireta, empresas, entidades e organizaes

    populares. Prev ainda, as aes de pesquisa para subsidiar o exerccio profissional, o

    planejamento, a organizao e os estudos socioeconmicos.

    O desafio do ensino da prtica na formao em Servio Social

    O perfil profissional que buscamos engloba uma qualificao fundamentada terico-

    metodolgica e tcnica-operativa, baseada nas vertentes principais das Cincias Sociais e

    Humanas e da Teoria Social Crtica, conjugada a uma formao tico-poltica,

    correspondente ao definido pelo projeto acadmico estabelecido pela ABEPSS.

    Nessa direo, afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o repdio do arbtrio e

    dos preconceitos, contemplando o pluralismo, tanto na sociedade como no exerccio

    profissional. Possui uma dimenso poltica clara a favor da equidade e da justia social, na

    perspectiva da universalizao do acesso a bens e a servios relativos s polticas e

    programas sociais; a ampliao e a consolidao da cidadania so explicitamente postas

    como garantia dos direitos civis, polticos e sociais das classes trabalhadoras.

    declaradamente democrtico considerada a democratizao como socializao da

    participao poltica e socializao da riqueza socialmente produzida.

  • Souza, C.M../ O processo de formao Professional do Assistente Social e o desafio da investigao.

    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    Do ponto de vista profissional, o projeto implica o compromisso com a competncia, que s

    pode ter como base o aperfeioamento intelectual do Assistente Social. Sendo assim,

    enfatiza a necessidade de uma formao acadmica qualificada, fundada em concepes

    terico-metodolgicas crticas e slidas, capazes de viabilizar uma anlise concreta da

    realidade social, buscando uma (auto)formao permanente e estimulando uma constante

    preocupao investigativa.

    O referido projeto ainda prioriza uma nova relao com os usurios dos servios oferecidos

    pelos Assistentes Sociais, tendo por base o compromisso com a qualidade destes, incluindo

    uma preocupao com a divulgao pblica dos recursos institucionais, por entender essa

    ao como um instrumento indispensvel para a democratizao e universalizao dos

    direitos, e tambm, para abrir as decises institucionais participao dos usurios.

    No projeto, tambm encontra-se delimitado, o desempenho tico-poltico dos Assistentes

    Sociais indicando que este, s se potencializar se os profissionais articularem-se com

    outras categorias profissionais que compartilham de propostas similares e, com os

    movimentos que se solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.

    Para cumprir com estes princpios, diretrizes e objetivos, a Faculdade de Servio Social da

    UFJF estabeleceu que o ensino terico-prtico dos futuros Assistentes Sociais ocorrer

    atravs da disciplina obrigatria de Estgio Supervisionado, a qual objetiva inserir o aluno no

    espao scio-ocupacional para promover a sua capacitao para o exerccio profissional.

    O Estgio Supervisionado na Faculdade de Servio Social da UFJF O curso de Servio Social da UFJF incluiu o Estgio Supervisionado como disciplina

    obrigatria desde a sua criao em 1958. Desenvolvido em seis perodos semestrais, o

    Estgio Supervisionado realizado do VI ao VIII perodo, ou seja, em trs semestres

    consecutivos. Os alunos tm de cumprir uma carga horria de 170 horas/semestre,

    totalizando no final do curso 510 horas de Estgio.

    A Chefia do Departamento de Fundamentos do Servio Social e a Comisso Orientadora de

    Estgios (COE) so os responsveis por buscar e avaliar as Instituies na qual os estgios

    sero desenvolvidos e, analisar as possibilidades de se efetivarem enquanto campo de

    prtica aps uma visita institucional, na qual so verificadas: as condies fsicas da

    mesma, a equipe de profissionais, o trabalho a ser desenvolvido, o nmero de estagirios e

    de que perodo do curso podem incorporar, a definio do supervisor de campo, entre outras

    questes pertinentes a cada Instituio.

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    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    Respeitadas estas condies, os Campos so apresentados aos alunos no final do V

    perodo, atravs do Supervisor de Campo e dos estagirios aos mesmos vinculados, para

    que os novos alunos possam se candidatar s vagas definidas, a partir de um processo

    seletivo que envolve prova escrita, anlise de currculo e entrevista a ser realizada pelo

    Supervisor de Campo.

    Os Campos de Estgio so aglutinados por temticas, compondo as Oficinas de Superviso

    Idoso, Infncia e Juventude, Prefeituras, Sade, Assistncia Social, Movimentos Sociais,

    entre outros. A Poltica de Prtica Acadmica estabelece por perodo, os objetivos do

    Estgio Curricular sendo do Estgio I focalizao no treinamento para a anlise

    Institucional; Estgio II treinamento para a prtica do planejamento da interveno

    profissional; Estgio III no treinamento para a anlise crtica, para o desenvolvimento com

    maior autonomia e capacidade propositiva, sistematizao e problematizao sobre a

    interveno profissional.

    Tambm esto definidos pela Poltica de Prtica Acadmica os objetivos das Oficinas de

    Superviso, constitudas como disciplinas obrigatrias, com durao de trs horas

    semanais:

    a) Oficina de Superviso I / alunos do V perodo

    - objetivo: introduzir o aluno no campo de estgio e orientar sua iniciao nas temticas

    referentes ao seu objeto de investigao e interveno, com vistas elaborao de um

    Plano de Trabalho a ser desenvolvido na instituio.

    - ementa: promover o conhecimento das expresses particulares da questo social e das

    polticas sociais especficas da realidade institucional e da populao; definio e

    problematizao do objeto de trabalho a ser privilegiado pelo aluno; elaborao do plano de

    trabalho para o estgio envolvendo o planejamento, a interveno e a definio de uma

    temtica de investigao a ser realizada ao longo do estgio

    b) Oficina de Superviso II / alunos do VI perodo

    - objetivo: orientar a execuo do plano de trabalho e a avaliao das aes realizadas pelo

    aluno, fundamentadas no desenvolvimento dos processos terico-metodolgicos e tcnico-

    operativos do trabalho no campo

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    - ementa: execuo do plano de estgio; reviso e ampliao bibliogrfica sobre as

    temticas vinculadas rea de atuao do estgio; avaliao ds aes desenvolvidas;

    proposies de estratgias terico-metodolgicas, tico-polticas e tcnico-operativas

    necessrias ao trabalho a ser executado

    c) Oficina de Superviso III / alunos do VIII perodo

    - objetivos: propiciar o aprofundamento ao nvel da anlise do objeto de investigao e de

    interveno e assegurar maior autonomia profissional ao estagirio estimulando-o a assumir

    funes de coordenao de frentes de trabalho em comum acordo com o supervisor de

    campo

    - ementa: acompanhamento acadmico do estgio e avaliao permanente do processo de

    interveno com identificao de possveis modificaes e aprofundamentos no processo

    interventivo

    Os Campos de Estgio so acompanhados por um professor da Faculdade de Servio

    Social, Assistente Social, agregados s Oficinas de Superviso, ou seja, cada conjunto de

    Campos de Estgio de reas temticas comuns so supervisionados por um professor. Por

    sua vez, cada Campo de Estgio conta com a superviso direta de um Assistente Social,

    profissional da instituio ao qual o aluno se vincula.

    Ao professor - Supervisor Acadmico - atravs da disciplina de Oficina de Superviso, cabe

    a reflexo terico-metodolgica das questes relativas ao exerccio profissional e

    formao do aluno; estimular a curiosidade cientfica e a atitude investigativa.

    Ao Supervisor de Campo cabe o acompanhamento, a reflexo e o apoio s atividades

    realizadas pelo aluno a partir do Plano de Estgio. Nessa perspectiva de sua competncia

    acompanhar o desempenho do aluno; identificar deficincias e/ou carncias terico-

    metodolgicas e tcnico-operativas e contribuir para sua superao; estimular a curiosidade

    cientfica e a atitude investigativa no exerccio profissional; atribuir clareza ao papel

    profissional; orientar os alunos na elaborao dos relatrios; refletir valores, posturas e

    comportamentos no desempenho do aluno no seu trabalho como estagirio.

    Para estabelecimento de uma efetiva articulao entre supervisores acadmicos e de

    campo so obrigatrias a realizao de trs Oficinas de Superviso Integradas, institudos

    como espaos de articulao entre os mesmos. Destes espaos participam os Supervisores

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    Acadmicos, os Supervisores dos Campos de Estgio e o conjunto de estagirios

    integrantes de cada Oficina de Superviso.

    Nestes encontros so efetuadas discusses referentes interveno profissional daquela

    temtica, atividades para promover a articulao entre os profissionais e a troca de

    informaes e garantir uma reflexo capaz de imprimir uma qualificao naqueles espaos

    de aprendizagem. Alm dessas atividades esto previstas visitas dos Supervisores

    Acadmicos e dos estagirios de cada Oficina, aos diversos Campos de Estgio integrantes

    das mesmas.

    Os procedimentos de acompanhamento e avaliao do Estgio Curricular so feitos a partir

    de alguns instrumentos: Dirio de Campo a ser elaborado por cada estagirio; Boletim

    Estatstico Mensal; Relatrio Semestral de Atividades; Avaliao do Supervisor Acadmico e

    de Campo de cada estagirio.

    A vinculao entre formao prtica do aluno e o estmulo prtica investigativa intrnseca

    no processo pedaggico da Faculdade de Servio Social, tanto que vrios Campos de

    Estgio so, ao mesmo tempo, projetos de extenso e agregam como uma de suas

    atividades, projetos de pesquisa. Atravs das agncias de fomento como FAPEMIG, CNPQ,

    CAPES e a prpria UFJF, os alunos podem construir projetos de pesquisa e solicitar apoios

    financeiros para a prtica de Iniciao Cientfica.

    Ocupando um lugar de destaque na formao profissional dos futuros Assistentes Sociais, a

    pesquisa reconhecida como uma oportunidade mpar e privilegiada para permitir a

    solidificao da relao Universidade Sociedade. A formao acadmica atravs do

    ensino da prtica de estgio possibilita o aluno identificar a dinamicidade dos processos

    histricos, os quais exigem uma permanente atitude investigativa, para subsidiar a

    elaborao de propostas de interveno capazes de atender aos objetivos estabelecidos.

    H um entendimento de que o domnio terico-metodolgico s se atualiza e se solidifica se

    aliado pesquisa da realidade. A partir desse processo acumulativo de reconhecimento e

    anlise da realidade, se pode contribuir com revises e melhorias concretas no mbito das

    Instituies onde so desenvolvidos os Estgios, assim como, promover a constituio de

    Bancos de Dados fundamentais ao Servio Social, referentes, por exemplo, questo social

    do municpio, populao, instituio, ao territrio especfico em que atuam, do poder

    local, dos movimentos sociais, indicadores sociais e econmicos, entre outros.

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    A sistematizao das investigaes realizadas, dos bancos de dados, dos relatrios das

    atividades e dos estudos realizados, so estimulados (no obrigatrios) para se constiturem

    no Trabalho de Concluso de Curso dos alunos, atividade esta que se inicia no VII perodo

    e finaliza-se no VIII. Trata-se de uma exigncia curricular para cumprimento e finalizao do

    curso de Servio Social, a ser elaborada como uma monografia cientfica na qual o aluno

    sistematiza o seu conhecimento, como resultado de um processo de investigao,

    preferencialmente provocada pela prtica de Estgio.

    O TCC pode ser elaborado individualmente ou no mximo por trs alunos, orientados por

    um professor e submetido avaliao de uma Banca examinadora composta por trs

    docentes, sendo um deles o orientador do trabalho.

    Concluses

    O debate acerca da importncia da pesquisa tanto no processo de formao profissional dos

    Assistentes Sociais quanto na atuao profissional dos mesmos no Brasil, vem se

    destacando nas ltimas dcadas, tendo em vista a efetiva preocupao com o

    estabelecimento da indissocivel articulao entre profisso, conhecimento e realidade.

    A valorizao das competncias relativas postura investigativa no Servio Social

    pressupe, portanto, o investimento das Unidades de Ensino para estimular essa atividade,

    articulada contudo, concepo de educao assumida pelo Estado, entendendo-a no

    como um gasto pblico, mas na concepo defendida por Chau, como um investimento

    social e poltico, o que s possvel se a educao for considerada um direito e no um

    privilgio, nem um servio... (2003:11).

    A prtica da pesquisa no Servio Social se constri e se consolida, medida em que a

    profisso enfrenta as inmeras e diversificadas demandas sociais decorrentes do

    agravamento da questo social em suas mltiplas manifestaes, tendo como referncia a

    perspectiva terico-metodolgica crtica. Consequentemente, essa postura acadmica exige

    uma capacitao para prosseguir nesse caminho cientfico, de forma a assegurar que a

    postura investigativa no exerccio profissional esteja sempre presente, fortalecendo a

    pesquisa como uma das dimenses constitutivas da prtica profissional.

    Dessa maneira, reconhece-se o papel da pesquisa como um dos aspectos fundamentais

    para o processo de formao profissional do Assistente Social, enquanto uma atividade que

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    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    deve reforar o debate acerca de que essa formao deve proporcionar o desenvolvimento

    de uma capacidade crtica, investigativa e interpretativa da realidade social, por parte de

    docentes, discentes e profissionais envolvidos nesse processo, e no, de pautar as aes

    sob um conhecimento aparente das relaes sociais. Afinal, toda cincia seria suprflua se

    a aparncia e a essncia das coisas se confundissem... (Marx, 1959).

  • Souza, C.M../ O processo de formao Professional do Assistente Social e o desafio da investigao.

    Trabajo Social Global. Revista de Investigaciones en Intervencin Social. Vol. 3, n4. Junio 2013, 95-112

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    dina Evelyn Casali Meireles de Souza, doutora em Servio Social, professora vinculada ao Departamento de Fundamentos do Servio Social, Facultade de Servio Social, Universidade Federal de Juiz de Fora (Brasil).

    Email: [email protected]