a precarizaÇÃo do trabalho dos assistentes sociais …
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
MARIA MICLÉCIA DA SILVA
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO
ÂMBITO DA SAÚDE PÚBLICA
NATAL- RN
2018.1
MARIA MICLÉCIA DA SILVA
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO
ÂMBITO DA SAÚDE PÚBLICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da universidade federal do Rio Grande do Norte- UFRN como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Ma. Anna Luiza Lopes Liberato Alexandre Freire.
NATAL-RN
2018.1
FOLHA DE APROVAÇÃO
MARIA MICLÉCIA DA SILVA
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO
ÂMBITO DA SAÚDE PÚBLICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção de título de Graduação do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Aprovado em / / .
BANCA EXAMINADORA
Profª. Ma. Anna Luiza Lopes Liberato A. Freire Orientadora – UFRN/DESSO
Profª. Ma. Taise Cristina Gomes C. de Negreiros Membro – UFRN/DESSO
Profª. Ma. Lenilze Cristina da Silva dias Membro – UFRN/DESSO
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por ter me permitido, dado força,
coragem e saúde para chegar até aqui, pois não foi fácil ultrapassar as
barreiras para realizar esse sonho. Foram muitas tentativas fracassadas ao
longo dos anos, mas Deus sempre esteve comigo.
À minha mãe, Terezinha, sem ela nada disso seria viável.
À minha irmã, Jailza, que sempre me incentivou a persistir e concluir o
curso, sempre me dando forças e apoiando para continuar.
Agradeço a minha orientadora professora Ma. Anna Luiza Lopes Liberato
pelo grande incentivo e impulsão durante todo o processo de construção desse
trabalho, pela compreensão e sensibilidade.
Agradeço a todos os professores do departamento, os quais tive o prazer
de conhecer, de modo especial aqueles que conheceram mais de perto minha
jornada pela UFRN, que de alguma forma, me ajudaram, incentivando, dando
conselhos e estimulando a concluir o curso.
À coordenação do curso que sempre se fez presente na minha longa
jornada pela UFRN.
Agradeço também aos muitos colegas de trabalho e de vida, que
sabendo da minha história, das dificuldades, sempre me incentivaram,
ajudaram direta ou indiretamente, não irei citar nome pra não correr o risco de
esquecer algum.
Meu muito obrigada a todos vocês que participaram a concretizar esse
sonho em realidade. Valeu a pena todos os momento de estresse, angústias,
choros...
“ Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, por que o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito bela para ser insignificante.” Charles Chaplin
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho á minha irmã Jailma, ( in memorian), sempre estará
presente em minha memória.
RESUMO
Esta monografia apresenta uma discussão sobre a precarização do trabalho do assistente social na saúde. Tal pesquisa é fruto de inquietações apreendidas no decorrer do curso de serviço social, na vivência do estágio obrigatório realizado no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), no ano de 2013, bem como da vivência na área hospitalar, atuando como técnica em enfermagem. O objetivo geral foi analisar o processo de precarização do trabalho do assistente social no âmbito da saúde, tendo como objetivos específicos problematizar a política de saúde no contexto político contemporâneo, e identificar como se apresenta a precarização do trabalho do assistente social especificamente na clinica médica Dr. Leônidas Ferreira. A pesquisa é de natureza/abordagem qualitativa, e, no que se refere ao procedimento metodológico, realizamos pesquisa bibliográfica e uma entrevista com a assistente social da clínica médica supracitada. As categorias de análises do nosso trabalho foram: Saúde, Precarização do trabalho do assistente social, Serviço social e saúde, Neoliberalismo, Política social. Como resultados, podemos destacar que o momento de desregulamentação das legislações tem implicações diretas no trabalho do assistente social e na forma como ele realiza o atendimento em âmbito hospitalar, sendo necessário a essa categoria profissional construir estratégias coletivas de resistência ao modelo de saúde imposto pelo capital na contemporaneidade.
Palavras-Chave: Assistente Social. Precarização do trabalho. Saúde.
Serviço Social. Neoliberalismo. Política Social.
ABSTRACT
A discussion on the precariousness of work conditions of social assistants in the
scope of public health is addressed in this study, which isa result of concerns
raised throughout the course of Social Work. These concerns emerged from the
personal experience of a mandatory internship performed at the Onofre Lopes
University Hospital (HUOL) in 2013 as well as experiencing the healthcare
environment as a nursing technician. The general objective of this research was
to analyze the precariousness of work conditions of social assistants in the scope
of public health. The specific objectives were the following: (I) to raise questions
about health policy in the contemporary political context; (II) to identify how the
precariousness of work conditions of social assistants is presented specifically in
Dr. Leônidas FerreiraMedical Clinic. This research has aqualitative approach and
as for the methodological procedure, a literature review and an interview with the
social assistant of the medical clinic mentioned above were performed. The
categories reviewed were: (I) Health, (II) Precariousness of work conditions of
social assistants, (III) Social work and health, (IV) Neoliberalism, (V) Social Policy.
Among the main results were that the moment of deregulation of laws stressed
direct implications in the work developed by social assistants and how they
perform in a hospital environment. At last, the development of collective strategies
to oppose the health model implemented by the contemporary capital is
undoubtedly necessary.
Keywords: Social assistant. Precariousness of work conditions. Health. Social
Work. Neoliberalism. Social Policy.
LISTA DE SIGLAS
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social CAPs- Caixas de Aposentadorias e Pensões
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CNS - Conselho Nacional de Saúde
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social DPVAT - Danos Pessoais causados por Veículos Automotores por
via Terrestre
HUOL - Hospital Universitário OnofreLopes
IAPs - Instituto Aposentadorias e Pensões
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
LOS - Lei Orgânica da Saúde
MS - Ministério da Saúde
OMS - Organização Mundial da Saúde
SUS - Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL: UM RESGATE SÓCIO-HISTÓRICO
......................................................................................................................... 14
2.1 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988: mudanças de paradigmas no acesso a saúde ............ 14
2.2 Das ofensivas neoliberais, a privatização e mercantilização da política de
saúde na particularidade brasileira ............................................................... 24
3 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE .................................................................... 30
3.1.2 A precarização do trabalho do assistente social na política de saúde na
contemporaneidade ...................................................................................... 35
3.3 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA CLÍNICA MÉDICA DR.
LEÔNIDAS FERREIRA: Desafios da atuação profissional. ......................... 43
4 . CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 52
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 54
Anexos ............................................................................................................ 59
11
1 INTRODUÇÃO
Esta monografia apresenta uma discussão sobre a precarização do
trabalho do assistente social na saúde. Tal pesquisa é fruto de inquietações
apreendidas no decorrer do curso de serviço social, na vivência do estágio
obrigatório no ano de 2013, bem como da vivência na área hospitalar,
atuando como técnica em enfermagem.
Por meio da observação no estágio curricular foi percebido o não
conhecimento ou o não entendimento acerca do trabalho do assistente
social, por parte dos usuários, pois, muitas vezes, solicitavam do assistente
social a resolução de problemas que não estavam dentro das competências
e atribuições de sua profissão.
Observamos a pouca existência de incentivo a um trabalho mais
coletivo, realizado por meio da equipe multiprofissional, mas é relevante
trazer que isso não significa a inexistência. É neste contexto em que se
desenvolve as ações e estratégias essenciais ao fazer do assistente social.
A partir da experiência como estagiária, foi possível observar desde
esse período, em que havia um número insuficiente de assistentes sociais
para o atendimento de toda a demanda, precarizando, dessa forma, o
trabalho do Assistente Social. Além disso, constatou-se que o trabalho era
“reduzido” ao preenchimento de fichas de cadastro com informações que
serviam para o registro do setor e o acesso dos usuários a alguns
serviços/atendimentos. Não havia articulação entre os profissionais da
saúde, tampouco tempo disponível para que pudessem pensar em alguma
estratégia em conjunto.
Compreendemos o estágio supervisionado como lócus privilegiado,
onde o aluno desenvolve sua identidade profissional e passa a visualizar com
mais clareza os processos de trabalho desenvolvidos pelos assistentes
sociais em seus espaços sócio ocupacionais.
No ano de 2014, após passar em concurso público, fui nomeada para
trabalhar na clinica médica Dr. Leônidas Ferreira (situada em uma ala do
12
Hospital Dr. João Machado que estava desativada) na função de técnica de
enfermagem, o que também me possibilitou observar rotineiramente o
trabalho dos assistentes sociais na saúde nesse espaço sócio ocupacional.
Dessa forma, mais de uma vez pude constatar a fragilidade que estava
presente no cotidiano dos profissionais. De 2014 aos dias atuais não houve
mudanças significativas no setor do serviço social. Inicialmente havia uma
assistente social na clinica médica referida, posteriormente contratou-se um
profissional sob o vínculo de plantonista eventual, que permaneceu um
período curto e, atualmente, encontra-se só um profissional para dar conta
das demandas.
Nesse momento (2018), lócus atual do meu trabalho (na função de
técnica de enfermagem), os problemas enfrentados não são diferentes do
campo de estágio, embora seja outro momento, ou seja, cinco anos após a
minha entrada, a precarização do trabalho do assistente social continua.
Nesse sentido, podemos destacar: a não valorização dessa classe
profissional, salários baixos, muitas vezes atrasados, sobrecarga de trabalho
por falta de profissionais, ausência de concursos públicos, tudo isso gera
problemas que recaem não somente no profissional, mas também nos
usuários, de forma que o asssistente social se vê diante de uma conjuntura a
fazer atendimentos aligeirados, de forma a atender demandas imediatas.
Diante disso, o objetivo geral desse trabalho é analisar o processo de
precarização do trabalho do assistente social no âmbito da saúde, tendo
como objetivos específicos problematizar a política de saúde no contexto
político contemporâneo; identificar como se apresenta a precarização do
trabalho do assistente social especificamente na clinica médica Dr. Leônidas
Ferreira.
A referida pesquisa tem natureza/ abordagem qualitativa, e nessa
direção realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre o tema da saúde e a
precarização do trabalho dos assistentes sociais; posteriormente, realizou-
se uma entrevista com a assistente social da clinica médica Dr. Leônidas a
partir da utilização do roteiro de entrevista (Anexo 1).
As principais categorias de análise do nosso trabalho são: Saúde,
Precarização do trabalho do assistente social, Serviço Social e saúde,
Neoliberalismo, Política Social.
13
No que se refere à relevância acadêmica, esse estudo vem contribuir
como base para outros estudos sobre a temática. Quanto à relevância social,
ampliará os conhecimentos dos profissionais, usuários e estudantes,
trilhando no desenvolvimento da sociedade.
Para tal entendimento, abordaremos a política de saúde, de maneira
mais específica, a partir da Constituição Federal de 1988; os rebatimentos do
neoliberalismo na atual conjuntura; o serviço social na saúde e o trabalho do
assistente social na clínica médica Dr. Leônidas Ferreira.
Organizamos nosso estudo da seguinte forma: introdução, capítulo
dois, capitulo três e considerações finais. No capítulo dois buscamos
problematizar a política de saúde no Brasil, especificamente a partir da
Constituição Federal de 1988, as mudanças significativas, a VIII Conferência
Nacional de Saúde, a importância da Reforma Sanitária - movimento esse
que culminou com a nova concepção de saúde. Além disso, discutimos o
advento do neoliberalismo, a lógica privatista que se fortaleceu a partir das
políticas neoliberais e a mercantilização dos serviços básicos, no capitalismo,
que repercutiram napromoção de maior precarização do trabalho, e também
na redução de investimentos na saúde.
No capítulo três abordamos a inserção do serviço social na saúde, sua
importância nessa área, a precarização do trabalho do assistente social, e os
desafios para o seu trabalho, como faz-se, também, a análise da entrevista
realizada .
14
2. A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL: UM RESGATE SÓCIO-HISTÓRICO
Partiremos de uma análise com recorte temporal da década de 1930, até
a ditadura civil militar brasileira na década de 1960, para caracterizar e
problematizar a saúde nestes períodos. Destacaremos o movimento de reforma
sanitária, que foi o responsável por possibilitar mudanças significativas na
saúde no que se refere à proposta de integralidade e universalidade da saúde
pública, se contrapondo ao projeto de saúde privatista. Além disso, trazemos
uma discussão acerca da 8ª Conferência Nacional de Saúde e inserção da
saúde no Constituição Federal de 1988.
2.1 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988: mudanças de paradigmas no acesso a saúde.
Iremos abordar a história da saúde no Brasil, e tomaremos como ponto
de partida o governo de Getúlio Vargas, esse tornou-se o novo Presidente do
Brasil e concretizou lentamente o chamado “Estado Novo”. Diante da crise
econômica e política, inaugurou-se uma nova etapa da sociedade brasileira,
que se caracterizou pela centralização do poder, árbitro dos diferentes
interesses e, como tal, o governo federal ampliou sua área de atuação e
controle, inclusive na área de saúde (NETTO, 2011).
Durante o período de 1933 a 1938, as CAPs são unificadas e
absorvidas pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) que vão
sendo sucessivamente criados, agora congregando os trabalhadores por
categorias profissionais. Em 1933 é criado o IAPM (dos marítimos), em 1934
o IAPC (dos comerciários) e o IAPB (dos bancários), em 1936 o IAPI (dos
industriários), que começou a funcionar somente em 1938, e nesse ano o
IAPETC (dos trabalhadores em transporte e cargas), de acordo com Netto
(2011).
O crescimento da assistência médica nos serviços de Saúde Pública,
contudo, encontrou obstáculos devido ao fraco desenvolvimento das forças
produtivas na área de saúde (dispersão populacional, ausência de produção
15
de bens de consumo duráveis e pequeno número de profissionais formados).
(BRAVO; MENEZES; 2012).
A partir do golpe militar de 1964, mudou-se a concepção de vários
setores administrativos que compõem o Estado. Viveu-se no país o período
da ditadura militar, marcado por atos institucionais e por outros decretos
presidenciais de cunho arbitrário, que alteraram a Constituição no que diz
respeito a direitos de cidadania, informação, organização social e política.
(BEHRING; BOSCHETTI, 2011).
Com o golpe militar de 1964, implementou-se um projeto que data de
1945, e que se revelou inviável no período da democracia populista: a
unificação da Previdência Social, criando-se em 1966 o INPS (BEHRING;
BOSCHETTI, 2011).
O perfil assistencialista da Previdência Social brasileira nesse período
caracteriza-se pelos serviços médicos que passaram a ganhar importância
na barganha clientelista da política de favores, e não mais as aposentadorias
e pensões, que contemplaram todo um segmento de assalariados que, do
ponto de vista da capacidade produtiva, foram sucateadas pelo próprio
sistema, e foi importante do ponto de vista da defesa de seus direitos básicos
(BRAVO, 2011).
A política econômica de então, que preconizava um crescimento
acelerado com uma elevada taxa de produtividade, conjugada a baixos
salários para a grande parte da massa trabalhadora. (BRAVO; MENEZES,
2012).
Esta política não beneficiou a maioria das categorias, mas favoreceu
os trabalhadores especializados, os técnicos e os quadros superiores de
empregados nos setores de ponta da economia. Esses grupos foram
beneficiados por altos salários e incentivos, o que possibilitou o aumento do
consumo desses setores privilegiados, assim como a difusão da ideologia do
consumo no conjunto da sociedade. A saúde passou então a ser vista como
um bem de consumo. Especificamente, um bem de consumo médico.
(BRAVO, 2011; IAMAMOTO, 2012).
No período de 1968 a 1975, generalizou-se a demanda social por
consultas médicas como resposta às graves condições de saúde; o elogio da
medicina como sinônimo de cura e de restabelecimento de saúde individual e
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coletiva; a construção ou reformas de inúmeras clínicas e hospitais privados,
com financiamento da Previdência Social; a multiplicação de faculdades
particulares de medicina por todo o país; a organização e a complementação
da política de convênios entre o INPS e os hospitais, clínicas e empresas de
prestação de serviços médicos, em detrimento dos recursos tradicionalmente
destinados aos serviços públicos. Tais foram as orientações principais da
política sanitária. (SANTOS, 2012; BRAVO, 2011).
A ampliação da seguridade social e da assistência médica às novas
categorias sociais (a Previdência Social incluiu na sua tutela os trabalhadores
rurais em 1971, as empregadas domésticas em 1972 e em 1973 os
trabalhadores autônomos), além da proliferação de contratos de serviços
com empresas privadas, sem controle por parte da previdência dos serviços
contratados, criando condições para a corrupção, foram fatos que
contribuíram para a instauração de uma crise econômica na previdência.
Aliado a isso, instaurou-se uma crise política e econômica, sendo o Estado
responsabilizado pelos problemas econômicos que assolavam o país.
(SANTOS, 2012).
A década de 70 assistiu ao fracasso do Estado na promoção das
mudanças estruturais então propostas, mas também à própria transformação
radical da concepção do que venha a ser mudança estrutural: agora ela
passou a ser entendida como necessidade de adaptação às restrições
impostas pela conjuntura internacional – diminuição do ritmo de crescimento
do comércio internacional; diminuição dos empréstimos comerciais e
aumento da taxa internacional de juros. Passou a predominar, então, a
concepção do Estado enquanto problema. (BRAVO, 2011; BOSCHETTI et
al., 2009).
Nos anos de 1970 e 1980, foi deflagrada uma crise no âmbito da
saúde pública, com proveniência do modelo de saúde previdenciário,
caracterizado pela não contemplação integral dos cidadãos, de forma que as
intervenções da saúde pública, como o controle de endemias, o saneamento
e a vacinação, por exemplo, eram universalizadas, ao passo que o
atendimento só era disponibilizado aos trabalhadores que apresentavam
carteira assinada. (BRAVO, 2011).
Para lidar com essa crise, criando propostas de superação, os
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movimentos de contestação em saúde cresceram em número e intensidade,
de tal modo que, entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80, sindicatos e
partidos iniciaram uma fase de agitação centrada na questão da saúde e da
política de saúde. Cientistas, acadêmicos e tecnocratas discutiam em
congressos e seminários nacionais e internacionais a degradação das
condições de vida da população, em consequência da política econômica
que levara ao “milagre brasileiro”, trazendo para essa discussão o
testemunho de cifras e taxas dramáticas sobre o acúmulo das doenças
endêmicas e epidêmicas. Finalmente, movimentos sociais comunitários –
compreendendo associações de moradores de bairros e favelas, movimento
das mulheres, sindicatos, Igreja e partidos políticos progressistas –,
denunciavam às autoridades e à sociedade civil a situação caótica da política
de Saúde Pública e dos serviços previdenciários de atenção médica, exigindo
soluções para os problemas criados pelo modelo de saúde do regime
autoritário. (BRAVO, 2011; NETTO, 2011).
Na década de 1970, portanto, o país apresentava um modelo
hegemônico médico assistencial-privatista. Mas foi também nesse período
que surgiram os alicerces político ideológicos para o surgimento do
movimento da Reforma Sanitária. (NETTO, 2012).
A Reforma Sanitária veio ao encontro dos descontentamentos com a
Saúde Pública e com a negligência aos cuidados primários de saúde que
assolavam as sociedades em nível mundial, como prova o Congresso de
Alma-Ata, realizado na URSS em 12 de setembro de 1978, promovido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). (BRAVO, 2011).
O Congresso de Alma – Ata veio destacar os efeitos da agudização
dos problemas de saúde do terceiro mundo ou, pelo menos, dar maior
visibilidade à problemática, através do contraste gritante das estatísticas
internacionais comparadas; a observação da natureza dos problemas de saúde
que compunham o quadro da “patologia da pobreza” e dos resultados obtidos
em períodos de poucos anos por alguns países que se propuseram a eliminá-
la; a percepção da crise dos sistemas de saúde nos países industrializados e
de sua inadequação para abordagens amplas dos problemas de saúde dos
países mais pobres da América Latina, para propor e dar prioridade a
programas nacionais amplos, denominados de “extensão de cobertura”, como
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movimento prodrômico de “cuidados primários de saúde”. Nessa reunião, com
134 países representados, muitos deles por seus ministros de saúde, foram
discutidas uma filosofia de trabalho e uma estratégia para levar os benefícios
da medicina moderna a grandes massas de população, principalmente em
países do terceiro mundo. (ALMA – ATA, 1978; BRASIL, 2001).
Os resultados principais da reunião foram apresentados sob forma de
uma declaração contendo dez artigos, que ficou logo conhecida como a
Declaração de Alma-Ata, e de vinte e duas recomendações, feitas ao final da
Conferência. Sobre atenção primária, reafirma-se ser a saúde um direito do
homem, sob a responsabilidade política dos governos, além de estabelecer a
atenção primária como estratégia privilegiada de operacionalização das
metas da Saúde para Todos em 2000 (SPT-2000), implicitamente
incorporando elementos do discurso da saúde comunitária. (ALMA-ATA,
1978; LAVRAS, 2011; BRASIL, 2001).
Em nosso país, a proposta da Reforma Sanitária coincidiu com a
necessidade de expandir a atenção médica, a partir de um modelo de baixo
custo, para as populações excluídas, especialmente as que viviam nas
periferias das cidades e nas zonas rurais. Já nos meados da década de 1970
foi concebido o Programa de Interiorização das Ações de Saúde (PIASS),
dirigido por técnicos comprometidos com a proposta do “movimento sanitário”
que começava a surgir. (BRAVO, 2011).
O PIASS nasceu com a finalidade de implantar uma estrutura básica
de Saúde Pública em comunidades de até vinte mil habitantes, tendo como
diretrizes a ampla utilização de pessoal de nível auxiliar, a ênfase na
detecção de doenças transmissíveis e mais comuns, a detecção precoce e o
encaminhamento a serviços especializados dos casos complexos, ações de
saúde de baixo custo e alta eficácia. (BRAVO, 2011; NETTO, 2011).
Durante o período de 1983 a 1985, com o tipo de financiamento
utilizado pelo AIS, a atividade médica efetuada pela rede pública acabou por
transformar essas unidades em prestadoras de serviços para o INAMPS.
(BRAVO, 2011).
Desta maneira, uma elevada parcela da população encontrava-se
segregada da atenção à saúde, em decorrência a esta circunstância,
intensificavam-se as desigualdades na atenção à saúde, o que ensejou o
19
esforço de estudantes, profissionais da saúde, pesquisadores, instituições
científicas e sociedades de natureza acadêmica a associarem-se e
levantarem questionamentos ao Sistema de Proteção Social respaldado pelo
ente governamental. O objetivo era estabelecer a igualdade no atendimento,
através de uma reconstrução da saúde pública brasileira.
Tal movimento fora denominado Movimento pela Reforma Sanitária,
norteando-se pela defesa dos seguintes aspectos: reforma do sistema de
saúde pública, extensão de sua definição e universalização do atendimento
de saúde. Visava promover a atuação direta do Estado diante da sociedade,
considerando-se o Estado Democrático de Direito, com responsabilidade
pelas políticas de natureza social e, consequentemente, pelas políticas de
saúde. (BRAVO, 2011).
Este contexto fez a sociedade vislumbrar a saúde tal qual um atributo
de natureza política, apresentando sua relevância não só aos fatores
tecnicistas, mas passando a incorporar-se à democracia, no pleito de
universalização da saúde. Suscitava-se, desta forma, as reivindicações que
lastrearam as demandas para a 8ª Conferência Nacional de Saúde, na qual
se aprovou um relatório pautado pelo projeto de reforma sanitária em um
Sistema Único.
A 8º Conferência Nacional de Saúde1 foi um evento importante, pois
configurou as bases doutrinárias do sistema público de saúde. Tal
conferência ocorreu em março de 1986, em Brasília - Distrito Federal. O tema
central foi: a saúde como direito inerente a personalidade e a cidadania; A
reformulação do sistema nacional; E o financiamento setorial, que contou
com a participação de cerca de cinco mil pessoas, dentre as quais: mil
delegados, representantes de diversos movimentos sociais, movimentos
populares de saúde, trabalhadores, usuários, estudantes, intelectuais da
saúde, parlamentares e sindicalistas. A pauta dos debates concentrou-se nos
1 Realizada em Brasília em 1986, com a participação dos diversos movimentos sociais, movimentos populares de saúde, trabalhadores, usuários, estudantes e intelectuais de saúde, parlamentares, sindicatos, entre outros. Neste evento foram discutidos – com conflitos e contradições inerentes a todo o processo de construção de uma nova proposta – os princípios e diretrizes de Reforma Sanitária, destacando-se: o conceito ampliado de saúde, o reconhecimento da saúde como direito de todos e dever do estado, a criação do SUS, a descentralização e hierarquização dos serviços, a atenção integral às necessidades de saúde da população e participação popular (PAIM, 2003; TEIXEIRA,2008).
20
princípios e diretrizes da reforma sanitária, a saúde como direito de todos e
dever do estado, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), participação
popular, entre outros.
De acordo com a nova concepção de saúde expressa na constituição, entende-se que os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país e que os indicadores de saúde da população devem servir de parâmetros para avaliar o desenvolvimento do país e o bem estar da população. A saúde passa a ser direito de todos os cidadãos e a ser assegurada pelo Estado por meio de recursos públicos de acordo com o previsto na lei. O sistema é considerado único, porque os princípios e diretrizes que regem a organização dos serviços e ações de saúde devem ser os mesmos nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), que também terão comando único em cada nível de gestão. (AGUIAR, 2011, p.44).
Segundo Aguiar (2011) a questão da saúde ultrapassou a análise
setorial, referindo-se a sociedade como um todo, não somente o sistema
único, mas a reforma sanitária. A proposta de emenda popular apresentada
por Sérgio Arouca, indicada pelo plenário de saúde para defender no plenário
da constituinte, foi assinada por mais de cinquenta mil eleitores
representando 167 entidades.
O texto constitucional com relação à saúde, após vários acordos
políticos e pressão popular, atende em grande parte às reivindicações do
movimento sanitário, porém não prejudica os interesses empresariais do
setor hospitalar e não altera a situação da indústria farmacêutica. A
constituição federal de 1988 definiu no seu artigo 196 que:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário as ações e serviços para sua promoção e recuperação. (BRASIL, 1988, p.43).
O SUS foi criado pela Constituição Federal de 1988, elaborado no
reconhecimento de diversos direitos, entre eles o direito a saúde para todos
como dever do Estado, que é aplicado através de políticas públicas e sociais,
excluindo o modelo anterior, que dava cobertura apenas àqueles que fossem
segurados da Previdência Social. Entretanto, apesar da existência de
dificuldades, o SUS foi implantado no país como um processo social em
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permanente construção, e que busca a cada dia aprimorar seus serviços.
Regulamentado pelas leis n: 8080/90 que dispõem sobre a promoção,
proteção e recuperação da saúde em todo país e a lei nº 8.142/90 - Lei
Orgânica de Saúde, que dispõe sobre a participação comunitária na gestão
do SUS. Neste sentido, segundo o Ministério da Saúde:
O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda população do País. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado em 1988 pela Constituição Federal brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 80 milhões de brasileiros. Além de oferecer consultas exames e internações, o sistema também promove campanha de vacinação e ações de prevenção e de vigilância sanitária como fiscalização de alimentos e registro de medicamento atingindo assim a vida de cada um dos brasileiros. (BRASIL, 2007, p. 200).
Sua atuação perpassa as esferas municipal, estadual e federal, seus
princípios e diretrizes cobrem todo o território nacional, o SUS é composto
por ações e serviços de saúde pública.
A aprovação do SUS com os princípios e diretrizes da reforma sanitária significou uma grande vitória da sociedade. Não obstante, foi criado em um período em que o Brasil se encontrava em grande instabilidade econômica, altas taxas de inflação e influência da conjuntura internacional neoliberal, que juntamente com o recuo dos movimentos sociais, traz sérias dificuldades para a sua regulamentação e implementação de seus princípios e diretrizes e da concretização das propostas da constituição cidadã. (AGUIAR, 2011, p.38).
Conforme Aguiar (2011), o SUS é financiado pelos recursos da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como da seguridade social,
garantindo à cada esfera a gestão de seus recursos. O orçamento é
elaborado pelos responsáveis da saúde, previdência e assistência, os quais
agem em concordância com as metas e prioridades estabelecidas na Lei de
Diretrizes Orçamentárias.
Aguiar (2011) complementa que até meados de 1988, a saúde no
Brasil era dividida em três grandes grupos, quais sejam: os serviços de
saúde privados; os previdenciários, que são compostos pelos direitos à
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saúde, assegurados pela previdência social (trabalhadores com carteira
assinada) e o terceiro grupo era dos serviços que eram voltados à filantropia,
ou seja, aqueles que não detinham direito algum no que se refere à saúde.
Neste contexto o SUS foi criado, com o intuito de cuidar e promover a saúde
de toda a população, bem como promover um atendimento igualitário,
garantindo à saúde o patamar de direito social básico do cidadão; ou seja, o
SUS foi instituído como um projeto social que se materializa por meio de
ações para promoção, prevenção e assistência à saúde dos Brasileiros.
O Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu da compreensão e do
reconhecimento da saúde enquanto direito a ser efetivado e garantido
mediante políticas públicas, e tem como intuito basilar reorganizar os
serviços da saúde. Deve, para tanto, seguir certos princípios a fim de
atingir seus objetivos (promoção, proteção e recuperação da saúde) em todo
o território nacional. Deste modo, é disposto em um sistema organizacional
formado por unidades que interagem entre si para promoção de um bem
comum, agindo cada qual sob a responsabilidade de uma das três esferas do
governo: federal, estadual e municipal. (BRASIL, 2007, p. 185).
Assim, tendo por base os preceitos fundamentais trazidos pela nossa
Lex Maior, temos a implementação do sistema e o direito a saúde sob os
princípios: da universalidade, equidade e a integralidade da atenção. E ainda,
como princípios organizativos que regem a execução do referido sistema,
temos: descentralização, regionalização, hierarquização do sistema e a
participação com controle social. Visando a democratização das ações e
serviços de saúde pública, garantindo o direito a todos independente de
contribuição com a previdência social, facilitando a participação popular.
(BRASIL, 2007).
Portanto, a construção do SUS se norteia pelos seguintes princípios
doutrinários da Universalidade, que é a garantia de assistência à saúde, para
todo e qualquer cidadão. Segundo o princípio da equidade, deve-se visar
medidas que assegurem que as ações e serviços sociais estejam presentes
em todos os níveis conforme a complexidade de cada caso, independente do
lugar onde esteja o cidadão. (BRASIL, 2007).
Deste modo podemos resumir que todo cidadão/usuário é igual
conforme reza a Constituição Federal, e assim também deve ser perante o
23
SUS, devendo ser atendido conforme suas necessidades até o limite do que
o sistema pode oferecer. O princípio da integralidade diz que devemos
considerar cada indivíduo como um todo único e indivisível e ainda como
parte de um sistema mais complexo que se denomina comunidade. Assim,
as medidas de promoção, proteção e recuperação da saúde devem ser
ofertadas de modo compatível com as características deste indivíduo.
(BRASIL, 2007).
É importante dizer que as unidades que disponibilizaram os serviços
devem atender os requisitos para tornar a assistência integral e ininterrupta,
através dos princípios de regionalização e hierarquização, e esses princípios
são definidos devido ao SUS se constituir de um plano nacional de serviços
que devem ser divididos e organizados de acordo com a área geográfica a
que pertencem, para que a população seja atendida de forma mais eficaz em
cada modalidade de assistência oferecida. Igualmente, o acesso do usuário
se dá em diversos níveis para que possam ser abarcados os principais
problemas e para que se possa oferecer um serviço mais qualificado e
especializado, garantindo a prevenção de problemas que demandam os
serviços de saúde. (BRASIL, 2007).
Têm-se ainda os princípios da Resolubilidade, que tratam sobre a
existência e capacitação do serviço oferecido para cada problema que possa
surgir, ou seja, é necessário que haja sempre a disponibilidade do serviço de
qualidade, correspondente de maneira mais adequada a cada necessidade
que seja trazida pela população, seja um problema individual ou comunitário.
O princípio da descentralização rege o redirecionamento, repartição de
competências no que tange à realização, fiscalização e promoção das ações
e serviços de saúde, entre os diversos entes federativos e os órgãos
governamentais que os compõem. Ainda compõem os princípios a
participação popular, como maior interessada na realização, existência e
continuidade de um serviço público de saúde eficaz, a população deverá
sempre garantir seus direitos e buscar de forma mais participativa a
promoção e o apoio de entidades representativas, para fiscalizar e cobrar o
funcionamento e concretização das políticas de saúde, em todos os níveis de
governo. (BRASIL, 2007).
Tal iniciativa poderá ocorrer a partir da formação de Conselhos de
24
Saúde, com representantes dos usuários, do próprio governo, e dos
profissionais de saúde e/ou prestadores de serviço público na área da saúde.
Igualmente tais Conselhos participam de conferências nacionais e/ou
regionais de saúde, que ocorrem periodicamente, a fim de discutir e definir
quais sejam as prioridades e quais as estratégias mais adequadas para as
ações sobre a saúde. (COSTA, 1998, p.40).
Desta maneira, pode-se perceber que o surgimento, implantação e
funcionamento adequado do SUS deve se dar conforme os princípios
organizacionais e doutrinários supracitados. Aos entes governamentais ou
federativos, caberá o dever de manter o funcionamento deste sistema nas
três esferas de governo, sendo a responsabilidade a nível federal do
Ministério da Saúde, a nível estadual da Secretaria Estadual de Saúde, e a
nível municipal, da Secretaria Municipal da Saúde.
Os recursos que promovem a sustentação do SUS provêm, parte da
Seguridade Social, parte de verbas do tesouro nacional e recursos
provenientes do orçamento da união. Tais recursos juntos compõe o
chamado Fundo Nacional de Saúde regido pelo Ministério da Saúde que está
sob o controle e fiscalização do Conselho Nacional de Saúde. Os valores
arrecadados neste fundo deverão ser decompostos: parte irá ser direcionado
como investimento e manutenção de ações federais e o restante deverá
compor os valores distribuídos entre as secretarias de saúde dos estados e
dos municípios. Para tanto, se observarão critérios no tocante ao crescimento
e distribuição populacional. (BRASIL, 2007b).
Os recursos distribuídos através do Ministério da Saúde, ao chegarem
aos governos estaduais e municipais, são adicionados às quantias
arrecadadas pela própria administração, em seguida serão direcionadas para
a realização dos serviços de saúde, cabendo ainda ao município dispor sobre
a parte que caberá de seu orçamento para tais ações.
2.2 Das ofensivas neoliberais, a privatização e mercantilização da política de
saúde na particularidade brasileira.
A partir da constituição Federal do Brasil de 1988, as Políticas Sociais
25
ganham um novo olhar. Pela primeira vez tínhamos a expectativa dos direitos
sociais garantidos, e o desejo, além das lutas, pelo acesso universal às
Políticas Sociais, pois estas agora estavam inseridas na Constituição. No
entanto, ao mesmo tempo em que sonhávamos com essas garantias, por
outro lado tínhamos o desmonte desses direitos sociais com a chegada do
neoliberalismo. Ana Elizabete Mota afirma que nesse momento:
[...] se dá a integração do Brasil à ordem econômica mundial, nos anos iniciais da década de 90, sob os imperativos do capital financeiro e do neoliberalismo, responsáveis pela redefinição das estratégias de acumulação e pela reforma do Estado. Na prática, isso se traduz em medidas de ajuste econômico e retração das políticas públicas de proteção social, numa conjuntura de crescimento da pobreza, do desemprego e do enfraquecimento do movimento sindical, neutralizando, em grande medida, os avanços e conquistas sociais alcançadas pelas classes trabalhadoras nos anos 80. (MOTA et al, 2009, p. 49).
Nesse sentido, não podemos dizer que a CF de 1988 consolidou a
perspectiva da efetivação dos direitos, uma vez que teve que emergir em
uma conjuntura econômica caracterizada pela reestruturação produtiva e, no
âmbito político, o avanço com que o neoliberalismo impõe diversos contra-
ataques aos direitos sociais. Um exemplo que podemos destacar são as
“brechas”, a iniciativa privada.
No Brasil nunca vivemos de fato esses direitos sociais, pois o
neoliberalismo chegou exatamente nesse momento, mesmo com a criação
de leis como a da seguridade social, que visam à seguridade de direitos
universais como saúde, Assistência Social para quem necessite e
previdência Social ligada à contribuição. O neoliberalismo logo vai “ditar”
onde o Brasil vai investir, através das orientacões do FMI (Fundo Monetário
Internacional) e do BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sob a
justificativa de retomada do desenvolvimento, através do apoio estatal,
mediante desvios de recursos públicos para o capital, pois é o Estado que vai
dar tais condições ao capital. E isso tem influência na materialização dos
direitos, ou na sua não materialização, dadas as condições mencionadas.
Nesse contexto, o Estado volta-se ao desenvolvimento econômico,
enxugando os gastos com as Políticas Sociais, implementando uma Contra-
Reforma que diz que o Estado precisa de novas aquisições, introduzindo
26
uma política de privatizações, políticas seletivas e descentralização. Um
Estado que se afasta de suas responsabilidades com as Políticas Sociais,
abrindo campo para o terceiro setor, a privatizações, inclusive na Saúde, na
Educação e na Previdência.
Nesse sentido, a precarização das Políticas Sociais traz o acirramento
e agravamento da questão social, em que o indivíduo é sempre criminalizado
por suas ações, sem levar em conta os fatores externos, culturais,
econômicos e sociais que o rodeia. No âmbito estatal, o retraimento das
funções do Estado e a redução dos gastos sociais vêm contribuindo para o
processo de desresponsabilização em relação às políticas sociais universais,
e o consequente retrocesso na consolidação e expansão dos direitos sociais.
(CAVALCANTE; PRÉDES, 2010).
Segundo as autoras Behring e Boschetti (2011) a restrição e redução
de direitos, sob o argumento da crise fiscal do Estado, transforma as políticas
sociais - a depender da correlação de forças entre as classes sociais e
segmentos de classe, e do grau de consolidação da democracia e da política
social nos países – em ações pontuais e compensatórias, direcionadas para
os efeitos mais perversos da crise.
A partir da constituição de 1988, a perspectiva da construção de um
padrão público universal de proteção social coloca-se em um quadro de
grande complexidade, aridez e hostilidade, para a implementação dos
direitos sociais, conforme estabelecido no artigo sexto da constituição
federal. Os recursos permanecem extremamente concentrados e
centralizados, contrariando a orientação constitucional da descentralização.
Diante disso, a alocação de recursos para as políticas sociais não alteram
profundamente a estrutura das desigualdades sociais da população
brasileira.
Percebemos que a cada dia os recursos ficam concentrados nas mãos
das elites, consequentemente, quem realmente precisa fica à mercê de
algumas iniciativas públicas e até mesmo da sociedade civil, na esperança
de um dia ser contemplado com algum benefício social.
Mesmo diante desse contexto, podemos destacar alguns avanços, tais
como: a participação no Controle Democrático, com a criação dos espaços
como conselhos, conferências e fóruns, em que a sociedade pode
27
acompanhar os processos de criação de Políticas Públicas, espaço o qual
também pode exercer o controle do Estado, ainda que de forma limitada,
dada a dificuldade de exercermos controle em uma realidade que restringe a
participação popular nas deliberações e outros processos decisórios.
Mota et al. (2009) afirma que:
[...] apesar da desmontagem da prática organizativa dos trabalhadores, é possível identificar a existência de movimentos de resistência e de defesa de direitos conquistados que, mesmo recorrentemente ameaçados e desqualificados pelas classes dominantes e pela burocracia sindical, como está acontecendo no Brasil, vêm obrigando governo a fazer negociações e a produzir recuos no legislativo.
A reestruturação produtiva foi um processo que surgiu na decada de 70,
como um modelo liberal do setor privado e com pouca intervenção
governamental na economia e, trouxe novos métodos de flexibilização da
produção e das relações sociais, o mercado exigiu que o Estado se
preocupasse apenas com o mínimo e que não gastasse tanto com o social,
abrindo espaço e preparando terreno para o mercado se fortalecer ainda
mais. As consequências disto é que, em tempos neoliberais, somos vítimas
de uma onda mercantilizadora de direitos que atinge principalmente os
subalternos, que na visão de Yasbek (2007), são a camada mais pobre da
população, que recorre às políticas sociais.
A privatização dos serviços públicos veio a partir dessa reestruturação,
e é a pricipal estratégia usada em tempos neoliberais, como uma das
medidas para sair da crise do pós 1970, é hoje um entrave para que os
direitos sociais se efetivem de fato. Se por um lado o Estado coloca nas
mãos da iniciativa privada o poder de gerir a “coisa pública”, por outro a
iniciativa privada atuará visando o lucro, portanto, não há como garantir a
efetivação de diretos sociais nesse contexto se o próprio Estado abre mão de
cumprir o seu papel.
Assim, a tendência geral tem sido restingir e reduzir direitos, sob o
argumento da crise fiscal do Estado, transformando as políticas sociais em
ações pontuais [...]. (BEHRING; BOSCHETT, 2009). É com o discurso de que
28
não há verbas que o Estado tenta justificar a falta de interesse em investir no
social, e essa restrição de direitos se reflete, por exemplo, em uma série de
critérios exigidos para adentrar em programas sociais que visam combater a
situação da pobreza.
A privatização, no campo das políticas sociais públicas, compõe um
movimento de transferências patrimoniais, além de expressar o processo
mais profundo da super capitalização. (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p.159-
160).
Deste modo, no que se refere aos principais direitos que sofrem os
maiores impactos da mercantilização, lista-se: saúde, educação, e
previdência. (BEHRING, BOSCHETTI, 2011, p. 155). O Estado não investe
como deveria em políticas de assistência, justamente para deixar o mercado
fortalecido, o Estado não compete com o mercado, muito pelo contrário, ele
permite o seu fortalecimento. Para tentar compensar sua ineficiência, elabora
programas sociais que minorem a questão social:
[...] na tentativa de compensar o que está sendo agravado pela política econômica e pela ausência de efetivas reformas. As múltiplas manifestações da questão social, sob a órbita do capital, tornam-se objeto de ações filantrópicas e de benemerência e de “programas focalizados de combate a pobreza [...]. Ao mesmo tempo expande-se a compra e venda de bens e serviços, alvo de investimentos empresariais que avançam no campo das políticas públicas. (IAMAMOTO, 2009).
Vemos então os diretos transformarem-se em serviços prestados pelo
capital. Estando agora no patamar de serviços, os direitos sociais deixam de
fazer parte das preocupações centrais do Estado, eles são concedidos de
maneira deficitária e com critérios de elegibilidade embasados em critérios
fechados para aqueles que não têm meios de adquirir os tais serviços que
custam caro aos bolsos, resta contentar-se com medidas pontuais, e
pequenas melhorias feitas pelo Estado.
Com o neoliberalismo o perfil das políticas sociais foi embasado em
um trinômio, “caracterizado pela privatização, focalização/seletividade e
descentralização.” (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p.155) :
Ademais, a consequência para a classe trabalhadora também é o
desemprego, pelo fato de muitos trabalhadores não terem acesso à educação
29
de qualidade, e assim não terem oportunidades de se qualificarem para o
mercado, este que se torna cada vez mais competitivo. Ocorre o aumento de
empregos informais, sendo também outra característica desse período que
atinge diretamente a população mais carente, e que as levam a não terem
acesso aos benefícios de um trabalhador com carteira assinada, ou seja,
direito ao trabalho, também levando à diminuição de direitos sociais. “Em
virtude das mudanças econômicas e sociais no país com repercussões na
estrutura do mercado de trabalho, aumentou a desproteção social dos
trabalhadores, expressa nas condições de trabalho e na perda e redução dos
direitos trabalhistas.” (ALENCAR, 2006, p.77).
Vale salientar que algumas das medidas adotadas pelos governos
Brasileiros, em tempos de neoliberalismo, foram medidas de transferência de
renda, o que de acordo com Santana (p, 3) “tendo como primeira experiência
em nível nacional de instituição de um programa de transferência de renda
foi o programa Bolsa-Escola, criado em 1996.” Logo depois surgiram outros
programas de nível municipal, como o Auxílio Gás, Bolsa Alimentação, etc., e
que posteriormente se fundiram em um único programa, o Bolsa- Família,
que por sua vez, abarca em um único programa as demandas das famílias,
que antes recebiam benefícios por outros programas segmentados, citados
anteriormente.
Contudo, o que se observa é que as políticas sociais no neoliberalismo
são políticas focalizadas, descentralizadas, com um número alto de
privatizações dos serviços públicos, o que repercute na sociedade, levando à
diminuição de direitos sociais, negligenciando, assim, sua responsabilidade,
ao coocá-la sob a gerência do capital, gerando mais desigualdades sociais.
No atual contexto de privatização, o capital estende seu dominio para
outras esferas, como educação e saúde, assim, esses que são direitos
constitucionais transformam - se em mercado, em que a produção de
relações sociais se materializa em práticas humanas, que são orientadas
pela racionalidade do capital.
30
3 SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE
O Serviço Social nasceu a partir do surgimento da organização social
no cenário político, por influência direta da Igreja Católica, e teve o respaldo
filosófico do neotomismo, intervindo, inicialmente, nas questões de cunho
social, advindas do modo de produção capitalista. No Brasil, o serviço social
surgiu na década de 1930 (PELLIZZER, 2008, p. 15), como uma ação no
âmbito do tensionamento entre capital x trabalho, das problemáticas sociais
advindas com o desenvolvimento capitalista.
No decorrer do tempo, com a institucionalização do Serviço Social no
Brasil, houve o aprimoramento da função do assistente social, o qual passou
a desempenhar suas atribuições em todos os âmbitos de enfrentamento a
conflitos sociais, sendo o profissional que é integrante da dinâmica das
relações sociais, no que concerne aos conflitos entre o capital e o trabalho:
O serviço social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui apreendidos sob o ângulo das novas classes sociais emergentes - a constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial - e das modificações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o poder de Estado em conjunturas específicas. É nesse contexto no qual se afirma a hegemonia do capital industrial e financeiro, que emerge sob novas formas a chamada "questão social", a qual se torna a base de justificação desse tipo de profissional especializado. (IAMAMOTO, 2003, p. 77).
Desde o momento que demandou o trabalho do profissional de
assistência social, suas atividades desenvolveram-se nas instituições do
Estado, nas empresas e nas entidades filantrópicas, por via da promoção de
serviços sociais, de maneira que o assistente social, quando passou a ser
abarcado na divisão técnica e social do trabalho, teve de atender às
requisições da instituição à qual presta serviço, o que o caracteriza como
assalariado.
O Serviço Social, nos anos 90, atinge sua maturidade, embasado na
teoria social crítica. O projeto da profissão conquista sua hegemonia,
identificado com “um projeto profissional vinculado ao processo de
31
construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de
classe, etnia e gênero”, com um “posicionamento em favor da equidade e
justiça social que assegure universalidade de acesso a bens e serviços
relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão
democrática”. (CRESS, 2005, p. 21).
O Assistente Social que trabalha na área da Saúde (BRAVO, 2004) vai
buscar, através de sua intervenção, a compreensão dos aspectos
econômicos, sociais e culturais que interferem no processo saúde-doença,
buscando estratégias para o enfrentamento destas questões. Seu trabalho
deve ter como eixo central a busca criativa e incessante da incorporação
destes conhecimentos, articulados aos princípios do projeto da Reforma
Sanitária e do projeto ético-político do Serviço Social. É sempre na referência
a esses dois projetos que se poderá ter a compreensão se o profissional
está, de fato, dando respostas qualificadas às necessidades apresentadas
pelos usuários do Serviço Social.
De acordo com Souza et al. (2017,p. 4):
A Constituição Federal de 1988 teve um papel fundamental para edificar um patamar de direitos trabalhistas no serviço público federal, orientando também as outras esferas de governo, no que se refere à gestão da força de trabalho e, foi possível materializar um patamar de trabalho regulamentado e protegido para esses trabalhadores, incluindo neles os assistentes sociais.
Mioto (2006), e Nogueira (2006) corroboram que as estratégias e
ações devem ser pensadas e concretizadas, dentro de suas conexões e
relações, encaminhando-se para uma prática na Saúde eficiente, que implica
aos assistentes sociais e demais profissionais, em equipes multiprofissionais,
a realização de planejamento e avaliação de uma prática na saúde que
contribua para ampliar, desburocratizar e garantir o acesso aos direitos.
Nesse sentido, para eles, essas estratégias e ações facilitam o acesso aos
direitos à saúde e contribuem para o efetivo exercício do controle social.
Mioto (2006), Nogueira (2006) assinalam a importância da construção
da integralidade em saúde pelo Serviço Social, atrelada a três processos
básicos e articulados: os processos político-organizativos, os processos de
planejamento e gestão e os processos sócio-assistenciais.
32
De acordo com Boschetti (2015, p. 651):
A construção do Projeto Ético-Político Profissional só foram possíveis pela conjunção de importantes processos. Primeiro, pela incorporação da teoria crítica marxista no âmbito da pesquisa e da produção de conhecimento pelo Serviço Social, que alçou a profissão à estatura das melhores produções críticas existentes sobre questão social, política social, direitos e emancipação, fundamentos do Serviço Social, ética, e lhe permitiu romper com o pensamento conservador predominante nas ciências sociais.
A consolidação do trabalho do assistente aocial na área da Saúde
pressupõe do mesmo um conhecimento adensado sobre as políticas
públicas, em particular a do SUS, e como essas são garantidas à população.
Mas as demandas que chegam ao Serviço Social nem sempre dizem
respeito à política de saúde; muitas vezes estão ligadas à assistência e
interferem no processo saúde-adoecimento e precisam ser atendidas, pois
precisamos ver o sujeito com um todo, exigindo conhecimento por parte do
profissional.
As práticas desenvolvidas nas unidades hospitalares precisam ser
permeadas pelo acolhimento, pelo respeito ao usuário, entendido como um
cidadão, e não como um mero consumidor de serviços de saúde. É
necessário entender a saúde como um estado de bem-estar completo, físico,
mental e social, e não somente como a ausência de doenças ou
enfermidades, devendo se entendida como um direito fundamental do ser
humano. (CUNHA, 2010).
Portanto, acredita-se que a profissão de Serviço Social muito tem a
contribuir para a efetivação do direito à Saúde Pública, através de uma
intervenção técnico-operativa, bem como atuar no sentido de fiscalizar para
que se cumpram as leis que garantem os direitos aos usuários,
fundamentados no Código de Ética Profissional e nas leis que definem os
direitos concernentes aos usuários da saúde, de mandatários do Serviço
Social.
No que se refere aos deveres profissionais, o artigo 3º do Código de Ética estabelece:
Art. 3º - São deveres do assistente social: a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e
33
responsabilidade, observando a Legislação em vigor; b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da profissão; c) abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes; d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades (CFESS, 1993, p.3).
Bravo (2006) e CFESS (2010) afirmam que o assistente social, além
de atuar pautado em seu projeto ético-político, deve estar em consonância
com o ideário da Reforma Sanitária. No sentido em que a reforma sanitária
nasceu no contexto de luta contra a ditadura na década de 70 e, Foi um
conjunto de ideias que se tinha em relação as mudanças e transformações
necessárias na saúde.
Neste sentido compreende-se, que a definição de necessidades de
saúde ultrapassa o nível de acesso a serviços e tratamentos médicos. Mais
que isso, envolve aspectos éticos relacionados à vida e à saúde, direitos e
deveres, ou seja, da adoção dos determinantes sociais como estruturantes
dos processos saúde-doença, entendendo o processo social como
determinante no atendimento, é que possibilita que as ações dos
profissionais de Serviço Social possam ter espaço no campo da saúde, para
que a Resolução nº 218/1997 reconhecida pelo Conselho Nacional de Saúde
(CNS), que tem o assistente social como um dos treze profissionais de saúde
de nível superior, bem como a Resolução 338/199 CFESS, que reafirma o
assistente social como profissional da saúde possam ser estabelecidas na
prática.
O documento instituído pelo Conselho Federal de Serviço Social
(CFESS), elaborado em 2008, intitulado “Parâmetros para a Atuação de
Assistentes Sociais na Saúde”, tendo como objetivo: referenciar a
intervenção dos profissionais de Serviço Social na área da saúde, com
orientações gerais sobre as respostas profissionais a serem dadas pelos
assistentes sociais às demandas identificadas no cotidiano do trabalho no
setor saúde e àquelas que, ora são requisitadas pelos usuários dos serviços,
ora pelos empregadores desses profissionais. (CFESS, 2008, p. 6).
Cabe ao Serviço Social – numa ação necessariamente articulada com
34
outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de
Saúde (SUS) – formular estratégias que busquem reforçar ou criar
experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde,
atentando que o trabalho do assistente social que queira ter como norte o
projeto ético-político profissional tem que, necessariamente, estar articulado
ao projeto da Reforma Sanitária (IAMAMOTO, 2012; CFESS, 2009).
Para haver uma atuação competente e crítica do Serviço Social na
área da saúde é necessário estar articulado e sintonizado ao movimento dos
trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS; facilitar o
acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da Instituição, bem
como, de forma compromissada e criativa, não submeter a operacionalização
de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que
descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido no
projeto de Reforma Sanitária; tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente
com outros trabalhadores da saúde, espaços nas unidades que garantam a
participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem
tomadas; elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar
assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como estar
atento sobre a possibilidade de investigações sobre temáticas relacionadas à
saúde; efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim
de potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo
de democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação
da população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde,
visando o aprofundamento dos direitos conquistados.
É importante lembrar, que o Serviço Social tem na questão social sua
premissa. Como consequência disso, a prática profissional deverá pautar-se
numa proposta que vise o enfrentamento das questões sociais que se
apresentam "nos diversos níveis de complexidade da saúde, desde a
atenção básica até os serviços que se organizam a partir de ações de média
e alta densidade tecnológica”. (PARÂMETROS, 2009, p. 20).
Conforme se amplia a definição sobre saúde, estende-se a concepção
para o bem-estar físico, mental e social - pois a saúde só poderá ser atingida
em resposta à existência de um contexto de forças e influências sociais,
culturais, emocionais e físicas favoráveis, cujos fatores estão interligados e
35
que devem ser considerados por qualquer ação que se destine a solucioná-
los.
Na busca do objetivo de abarcar uma série de concepções e estados
de saúde, em sua relação com o aspecto social, a formação profissional do
assistente social propicia instrumentos teóricos capazes de identificar a
dinâmica do cotidiano social. E, ao projetar suas ações, torna-se "recurso
vivo", contribuindo desse modo com os usuários, no intuito de transformar as
condições de vida e de trabalho, ou seja, promover a saúde destes.
(PARAMETROS, 2010; BRAVO; MENEZES, 2012).
3.1.2 A precarização do trabalho do assistente social na política de saúde
na contemporaneidade
Cavalcante; Prédes (2010) discorrem sobre a importância de entender
o conceito do termo precário, no que diz respeito a uma mudança, para pior,
na qualidade das condições de trabalho, evidenciada no regime capitalista,
com a passagem da forma de produção fordista para a produção flexível.
A precarização se constrói a partir da realidade concreta das
transformações contemporâneas no mundo do trabalho vivenciadas pelos
trabalhadores, através das más condições de trabalho a que estão
submetidos, refletidas na ausência e/ou redução dos direitos trabalhistas, no
desemprego que assola grande parte da população, na fragilidade dos
vínculos de trabalho, enfim, de diferentes formas que fragilizam
acentuadamente a qualidade de vida do trabalhador. (ARRUDA, 2011;
ROCHA; LINS, 2015).
Para se ter uma ideia dos regimes de contratação que desfavorecem e
reduzem direitos trabalhistas, Iamamoto (2001, p. 49) em sua obra relata que
a polivalência, a terceirização, a subcontratação, a queda de padrão salarial, a
ampliação de contratos de trabalho temporários, o desemprego, são
dimensões constitutivas da própria feição atual do Serviço Social e não uma
realidade alheia e externa, que afeta “os outros”.
Cavalcante; Prédes (2010, p. 8) refere que o crescimento da
precarização está diretamente ligada ao neoliberalismo:
36
A precarização das relações de trabalho no setor produtivo é de que ela é mais acentuada a partir da priorização das formas flexíveis de produção desenvolvidas a partir da década de 1970. Portanto, globalização e reestruturação produtiva são fenômenos imbricados que, com o apoio da contrarreforma do Estado, provocaram mudanças drásticas na vida da população trabalhadora, acentuando o processo de precarização do trabalho e consequentemente induzindo uma grande parte da sociedade ao nível da vulnerabilidade social.
A precarização do trabalho está diretamente relacionada ao aumento
do assalariamento sem carteira assinada, do trabalho autônomo e do
informal, da redução e/ ou ausência de direitos trabalhistas, bem como de
suas respectivas implicações na jornada de trabalho e no tempo de
permanência no trabalho, nos rendimentos do trabalhador, na possibilidade
de acesso aos mecanismos de proteção social e nas condições de trabalho
às quais são submetidos cotidianamente os trabalhadores. (ARRUDA, 2015;
CAVALCANTE; PRÉDES, 2010).
Para o esclarecimento de contrarreforma, encontrou-se, no estudo de
Souza et al.(2017) apud Serpa (2009, p.170) como definição,
o conjunto de medidas que expressam a efetivação de um processo de desconstrução e desproteção das relações de trabalho no serviço público e apontam para um conjunto de mudanças na legislação trabalhista, orientados por “uma ‘nova’ cultura gerencial e na adoção de modernas práticas gerenciais. (SERPA, 2009, p. 170).
Ainda Cavalcante, Prédes (2010) apud Mota (1988, p.110):
No contexto neoliberal, também os serviços sociais participam mais diretamente do processo de acumulação do capital. Serviços como saúde, educação e previdência, que seriam responsabilidade do Estado, passaram a ser mercantilizados, propagando-se a ideia de que o bom é o que é privado, mas que só está ao alcance daqueles que têm condições de pagar por ele. Ao serem incorporados pelo capital, esses serviços têm uma utilidade social voltada para o lucro, ‘de modo a atender às necessidades das indústrias, seja ela farmacêutica, de equipamentos, de produção da cesta básica, dos proprietários de grandes hospitais, creches e escolas, bem como do setor financeiro, voltado para os seguros de vida e previdência’.
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Seguindo a lógica capitalista, os direitos básicos assegurados pela Constituição de 1988 vão sendo pouco a pouco sucateados, através de mecanismos governamentais, para que o mercado financeiro assuma o fornecimento de serviços, visando lucro. Dessa forma, Siqueira (2017) afirma que:
A Reforma da Previdência anunciada como imprescindível pelo governo Dilma não chegou, de fato, a ser implementada. A burguesia, insatisfeita com o governo, articulou a aprovação do impeachment no Congresso Nacional, para formar um novo governo capaz de executar na sua plenitude as reformas necessárias à retomada de acumulação de lucros pelo capital. Tão logo foi conduzido ao poder, Michel Temer, representante de um governo ilegítimo, tratou de reunir os seus ministros para elaborar um conjunto de medidas que ataquem duramente os direitos sociais conquistados há décadas pelos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Além da contrarreforma Trabalhista em tramitação no Congresso Nacional, o. governo conseguiu aprovar a PEC do teto de gastos e a Lei de Terceirização, ampliando a aplicação da terceirização das atividades- meio às atividades-fim.
Bravo, Pelaez, Pinheiro (2018) afirmam que, no advento do governo
Temer, é flagrante a aceleração e a intensificação das políticas que
contribuem com o desmonte do Estado brasileiro, configurando uma nova
fase de contrarreformas estruturais que atacam os direitos dos trabalhadores,
como pode ser observado nos documentos Agenda Brasil. No contexto de
crise estrutural do capital, a saúde tem sido um espaço de grande interesse
de grupos econômicos em sua busca por lucros e em seu movimento para
impor a lógica privada nos espaços públicos. Nesse processo, o caráter
público e universal da saúde, tão caro ao Movimento de Reforma Sanitária e
aos lutadores da saúde, é ameaçado.
Soares (2018, p. 25) corrobora com Bravo; Pelaez; Pinheiro (2018)
no que diz respeito ao:
Processo de contrarreforma na política de saúde vem se dando desde os anos 1990, de forma sistemática no Brasil nos governos Fernando Henrique Cardoso (FHC), passando pelos governos do Partido dos Trabalhadores e até o tempo presente. Porém, mesmo que esse processo seja continuidade desde então, cada governo imprimiu suas particularidades. Até o governo Dilma Roussef, uma
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estratégia comum a todos eles era a não explicitação da contrarreforma na saúde, apresentando-se nos governos FHC como necessidade de aperfeiçoamento da gestão, mas não se posicionando abertamente contra os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS); seja nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), como uma modernização da reforma sanitária, com a necessidade de introdução de novas formas de gestão, abrindo ainda mais espaço para o capital da saúde dentro e fora do SUS.
Bravo; Pelaez; Pinheiro (2018) falam em seus estudos sobre os vários
retrocessos que ocorrem na política do SUS:
Na contramão do SUS, o ministro da saúde ‘[...] apresenta a proposta dos denominados Planos de Saúde Populares (BRAVO; PELAEZ; PINHEIRO, 2018, p. 14)’. Em documento oficial, a justificativa para sua criação seria a da ‘[...] redução de cerca de 1,5 milhões de pessoas que deixaram de fazer uso de planos privados em 2016, devido à recessão econômica e à elevada taxa de desemprego’. (BRAVO; PELAEZ; PINHEIRO, 2018, p. 14). Seria o caso de a instituição governamental procurar aprimorar o sistema público (SUS), para receber mais esta população e não abrir espaço para redução de danos das empresas de planos de saúde. No entanto, em sentido contrário, para solucionar o problema do setor privado, o governo Temer responde de forma direta às necessidades do mercado de planos de saúde para se recomporem.
De acordo com Souza et al. (2017, p.12) o crescimento da
contrarreforma veio através do golpe de 2016, assim como a aprovação da
Lei da Terceirização:
A ofensiva contra o trabalho protegido tem seu agravamento após o Golpe Jurídico Parlamentar em 2016, que afasta da presidência Dilma Roussef, possibilitando o avanço dos interesses do grande capital. Recentemente tivemos a aprovação da Lei 13.429 em março de 2017, a chamada Lei da Terceirização, que regulamenta o trabalho temporário para empresas de prestação de serviços em atividades meios e fins. Essa medida tem implicações significativas sobre os trabalhadores os submetendo a inúmeros riscos, como a perda do emprego, a redução de salários, a precarização das condições de trabalho e ausência de direitos trabalhistas e previdenciários. Em síntese, mascara a contratação temporária sem direitos trabalhistas estabelecendo contratos através de cooperativas representando a flexibilização das relações de trabalho expressa pelo trabalho informal e, como afirma Braga (2015),
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a terceirização é a grande expressão da tragédia do trabalho no Brasil.
Sobre a terceirização, sabe-se que a mesma enfraquece os direitos
adquiridos ao longo dos anos pelo trabalho dos sindicados assim como a
flexibilização das relações trabalhistas, gerando queda nas taxas de
sindicalização. Isso também fez gerar um processo de declínio da
consciência de classe dos trabalhadores, decréscimo do número de
sindicalizados e do exercício de greve. (CAVALTANTE; PRÉDES, 2010).
As formas de terceirização para prestadores privados, a partir de
então, progressivamente incorporadas ao serviço público, incluem desde a
contratação de cooperativas de profissionais até a terceirização parcial ou
integral da operação e gestão de serviços, programas e unidades públicos de
saúde, caracterizando processos de substituição da prestação pública de
serviços.
Teixeira (2018, p.6) afirma que:
A aprovação da Lei da Terceirização e da Reforma Trabalhista é emblemática do que estamos tratando aqui. Allan (2016, p. 332) ao abordar sobre estas recentes legislações lembra que havia um Estado brasileiro, em certo tempo histórico, onde apesar da burguesia tentar findar com o paradigma do direito do trabalho, não conseguiu, posto que a correlação de forças entre capital e trabalho não permitiu.
Segundo BRAZ (2017), o consenso burguês está na necessidade de
acelerar contrarreformas profundas que atendam a quatro objetivos centrais:
- Recolocar o Brasil (e a América Latina) na área de influência
prioritária dos EUA ,no sentido de retomada da sua dominância imperialista
em nosso subcontinente;
- Reduzir os custos do trabalho no país e aumentar a produtividade
média do trabalho com base em novas formas de combinação de mais-valia
relativa (incremento tecnológico para reduzir trabalho necessário e baratear a
reprodução social da força de trabalho) e mais-valia absoluta (sobretudo, via
flexibilização das relações trabalhistas com vistas a atacar as formas de
proteção social do trabalhador);
- Implementar uma cruzada conservadora e reacionária contra os
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avanços sociais no campo das minorias, como forma de promover um
retrocesso cultural e ideológico no país;
- Readequar as políticas sociais a um novo programa neoliberal mais
radical, de modo a criar condições para um ciclo profundo de políticas de
austeridade fiscal que pesarão sobre os trabalhadores.
As ações no sentido da mercantilização da Política de Saúde, todas as
dificuldades de efetivação do SUS e as propostas de retirada dos direitos
sociais em geral e do direito à saúde em específico resultaram, de forma
dialética, no surgimento de novos mecanismos de lutas, como os Fóruns de
Saúde e a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde. Trata-se de uma
luta que é fundamentalmente contra as relações sociais capitalistas que
reproduzem a desigualdade social e a exploração dos trabalhadores, e estão
na raiz da determinação social da saúde e da doença.
A Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde foi criada em 2010
integrando diversas organizações, movimentos sociais e militantes da área
saúde. É uma frente de esquerda, suprapartidária e anticapitalista. Desde
sua criação vem se empenhando em um esforço coletivo para articular as
diversas lutas em defesa do SUS de caráter público, 100% estatal e de
qualidade, bem como contra os processos de privatização os quais o sistema
de saúde brasileiro vem passando; e a favor de melhorias das precárias
condições salariais e de trabalho em que se encontram os diversos
profissionais de saúde.
Nesse sentido, têm sido construídas reflexões e propostas, em termos
de referenciais e de lutas para nortear as ações, e que constituem uma
agenda política, procurando articular, à luta por saúde, a construção de um
novo projeto societário. Como síntese das propostas apresentadas pela
Frente Nacional contra a Privatização da Saúde ressaltam-se:
Sistema de Saúde público, 100% estatal, universal e de qualidade,
sob a administração direta do Estado e contra toda forma de privatização da
saúde;
- Revogação das Leis que criaram as Organizações Sociais,
Fundações Estatais de Direito Privado, EBSERH e Parcerias público-
privadas e retomada da gestão pública estatal, bem como auditoria e
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devolução dos repasses públicos pelas Organizações Sociais;
- Pela eliminação dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, no
que diz respeito à limitação de gastos com pessoal na área de saúde que
podem prejudicar a execução da prestação de serviços à população.
- Reajustes salariais dignos e política de valorização do servidor
público, isonomia salarial, estabilidade no trabalho e Planos de Cargos,
Carreiras e Salários bem como melhoria das condições de trabalho e contra
todas as formas de precarização do trabalho.
Ainda sobre os retrocessos, Soares (2018) discorre sobre os discursos
do governo Temer sobre diminuir o tamanho do SUS, o decurso do golpe e
do governo Temer, a contrarreforma do Estado brasileiro e precisamente da
política de saúde, que entra em uma nova fase de explicitação do processo.
Diante da contrarreforma Souza et al.(2017, p.11-12) postulam que:
No conjunto dessas modificações na legislação podemos incluir duas novas normatizações que não implicam diretamente em quebra de direitos, mas representam alternativas aos ajustes de gastos com a força de trabalho. Podemos destacar a Lei 13.183/2015 que estabelece uma nova regra para aposentadoria, conhecida como 85/95. É uma regra que incide mais sobre as aposentadorias por tempo de contribuição e permite aos trabalhadores se aposentarem com valor integral do salário de benefício a que tiverem direito, em comparação com a regra do fator previdenciário. Conforme dados do DIEESE (2015), a maioria das pessoas se aposenta por idade, representando 56,4%, 16,6% por invalidez e 27% por tempo de contribuição. Dessa forma, haverá uma incidência maior sobre esse público de 27%. A nova regra estabelece que a soma da idade mais o tempo de contribuição, que deve ser de, no mínimo, 35 anos para homens e 30 para mulheres, contabilizando, respectivamente, um total de 95 para homens e 85 para mulheres (SERPA; 2016).
Sobre a Universalidade como princípio doutrinário do SUS ter sido
afetada de forma direta com o Governo Temer, Soares (2018, p.28) relata em
seu artigo:
O governo Temer coloca em patamares jamais vistos o subfinanciamento do SUS num momento de aumento da
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demanda do sistema; quando abre espaço para a regulamentação de planos populares e defende abertamente a desoneração do SUS via oneração dos usuários no consumo de planos privados; ao fazê-lo, segue a risca os fundamentos dos documentos Ponte para o Futuro (FUNDAÇÃO ULLYSSES GUIMARÃES, 2015) e Travessia Social (FUNDAÇÃO ULLYSSES GUIMARÃES, [2016]), como bem apontado por Bravo, Pelaez e Pinheiro (2018). Em verdade, tais ações engendrarão um processo de focalização da política a níveis extremos, inviabilizando, por completo, um SUS para todos.
As leis que foram aprovadas neste período não previam uma fonte
exclusiva de financiamento para a saúde, fazendo-a disputar recursos com a
previdência e assistência social e, com toda uma conjuntura adversa na
aérea econômica, os recursos ficavam cada vez mais escassos, sem contar
a má vontade do governo, chefiado pela ideologia neoliberal, em implementar
uma política de saúde pública e de qualidade.
O SUS tem sofrido com a falta de recursos, com a falta de vontade dos
governantes de efetivar uma política de saúde pública de qualidade que
possa atender aos cidadãos.
De acordo com Soares (2018), mesmo com a contrarreforma existem
os movimentos para impedir o crescimento da mesma:
Com a mobilização do movimento sanitário e a historicidade de apropriação da compreensão da saúde como direito público, havia um tensionamento maior que possibilitou barrar uma contrarreforma ainda mais ofensiva em governos anteriores - como foi o exemplo da tentativa de aprovação de projeto de lei que regulamentava as fundações estatais de direito privado, na gestão Lula da Silva, bem como da audiência da operadora de plano de saúde Amil, que se reuniu com a então presidente Dilma Roussef, a fim de defender a implementação dos planos populares de saúde. Em ambos os casos, o movimento sanitário conseguiu barrar o trâmite do processo.
Orquestrada pela ofensiva neoliberal, a ação sócio reguladora do
Estado se retrai, pulverizando os meios de atendimento às necessidades
sociais dos trabalhadores entre organizações privadas mercantis e não
mercantis, limitando sua responsabilidade social à segurança pública, à
fiscalidade e ao atendimento, através da assistência social, daqueles
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absolutamente impossibilitados de sobreviver. (MOTA, 2010, p. 29).
A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil, com a redução dos
direitos sociais e trabalhistas, o desemprego estrutural e todo o
sucateamento dos serviços públicos, transformando as políticas públicas,
cada vez mais, em ações focalizadas e compensatórias, adquire uma
tendência a debilitar os espaços de representação coletiva e controle social
sobre o Estado.
Diante do que já foi explicitado, podemos observar que a
contrarreforma deseja que o governo não tenha obrigações com a população,
indo de encontro ao que está preconizado na Constituição de 1988.
3.3 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA CLÍNICA MÉDICA DR.
LEÔNIDAS FERREIRA: Desafios da atuação profissional.
O lócus da pesquisa é a Unidade de Clínica Médica Dr. Leônidas
Ferreira, anexo do Hospital Walfredo Gurgel, inserido no espaço físico do
Hospital Psiquiátrico Dr. João Machado (HJM), que estava desativado. Esse
setor foi criado para atender à demanda dos leitos de retaguarda do Hospital
Walfredo Gurgel, com a intenção de desafogar os corredores.
Tivemos como marco da criação dos leitos de retaguarda o Decreto
estadual número 22844 de 4 de julho de 2012, e a Portaria do ministério da
saúde número 1663 de 6 de agosto de 2012 (SOS emergência e rede de
atenção às urgências e emergências). Essa rede de atenção às urgências e
emergências visa articular e integrar todos os equipamentos de saúde para
ampliar e qualificar o acesso humano e integral aos usuários de forma ágil e
oportuna.
A unidade conta com 40 leitos para receber pacientes do SUS atendidos
inicialmente na Rede de Urgência e Emergência do Hospital Walfredo Gurgel.
Com isso se busca a diminuição de pacientes nos corredores. A unidade
recebe apenas pacientes de baixa complexidade advindos do Hospital
Walfredo Gurgel, pois o setor não tem um suporte adequado para atender
demandas de alta complexidade. A maioria dos pacientes da clinica médica
aguarda vaga para cirurgias ortopédicas no Hospital Memorial e no Deoclécio
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Marques. A instituição conta com um quadro de técnicos de enfermagem,
enfermeiros, médicos, nutricionistas, farmacêuticos, fisioterapeuta, dentista e
assistente social.
Diariamente chega ao Serviço Social diversas demandas dos usuários,
e normalmente todas necessitam de uma “resposta” rápida, pois, quando se
trata de saúde, há sempre uma urgência. Essas demandas necessitam tanto
de uma articulação interna, com os demais profissionais, quanto externa,
contato com a rede e a articulação com outras políticas públicas. Procura-se
não perder de vista o foco da instituição, a promoção da saúde, mas, ao
mesmo tempo, ir além das atividades burocráticas e rotineiras, apreendendo
o movimento da realidade, percebendo o usuário em sua totalidade.
Para desenvolver o seu trabalho, o assistente social realiza um
processo de prévia ideação: uma antecipação ideal da finalidade que
pretende alcançar. A sua ação indica uma intencionalidade pautada em
componentes ético- políticos e teórico-metodológicos que expressam a sua
visão de homem, de mundo e de sociedade, mediante a invocação de
valores que a legitimam e da escolha de meios para concretizá-la.
Para contextualizar o trabalho do assistente social no setor citado,
iremos fazer uma discussão sobre os desafios que são colocados a este
profissional.
Existe apenas uma Assistente Social no setor da clinica média para dar
conta das demandas que chegam ao serviço social. Em entrevista realizada
com a Assistente Social, esta discorre sobre as dificuldades do seu cotidiano:
As Dificuldades são muitas: insuficiência de profissionais, falta
de infraestrutura do setor, a gente perde bastante tempo com
atividades manuais. Hoje o hospital ta implantando sistema de
informação de registro de acompanhantes, tem equipado
alguns setores, mas no serviço social ainda não chegou
computador, linha telefônica, a que tinha foi cedida sem nossa
autorização, óbvio, para sala de realização de exames, devido
à necessidade deles, que realmente é bastante grande,
posteriormente foi providenciado uma extensão desse mesmo
número pra gente, mas é uma extensão que não funciona e a
gente permanece sem telefone na sala, então é também uma
45
das principais dificuldades, então a gente percebe que essa
última reestruturação que está tendo, equipando os setores,
colocando internet nos setores, mas no serviço social ainda
não chegou nada disso, nem internet, nem o reestabelecimento
da linha de telefone, nem computador, nem máquina de cópia,
que seria nossa maior necessidade para agilizar.
De acordo com o depoimento da profissional pudemos observar a
inexistência de um dos recursos mais importantes para o trabalho do assistente
social: o telefone. E esse fato é sério, uma vez que o serviço social precisa
desse instrumento para fazer contatos e conseguir informações. Além disso,
tem a falta de computador, máquina de cópia, profissionais em número
suficiente, o que pode ocasionar sobrecarga de trabalho e até mesmo estresse.
Questionada sobre as condições de trabalho, a mesma relata:
A gente tem condições básicas de trabalho no serviço social,
temos sala que resguarda o sigilo, os livros de registro
fornecido pelo hospital, mas a maioria das coisas e dos
instrumentos que precisamos para viabilizar o trabalho a gente
ou não tem ou tem bastante dificuldade, o carro por exemplo foi
negado pela diretoria do hospital. Porque disse que diante da
crise e da questão dos pacientes da clinica a prioridade é para
realização de exames e transferências, então se o serviço
social necessitar para fazer busca de informação,
principalmente dos pacientes que têm problemas com as
famílias, tem vínculos rompidos familiares, o serviço social tem
que decidir se quer usar o carro, sabe que vai inviabilizar a
realização de exames e transferências de pacientes.
Sabemos o quanto é importante se ter uma sala para atender a
demanda na qual se possa manter o sigilo e, com isso o usuário de certa forma
fica mais a vontade pra poder falar, e isso e um ponto positivo quanto ao
trabalho do assitente social, porém é necessário de outros instrumentos para o
assistente social dar andamento na resolução de problemas, como por
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exemplo: o carro. E não dispor do transporte para realizar viagem dificulta o
trabalho do profisional. Ter que optar por realizar realizar exame de paciente ou
realizar visita na residência deveria ser algo que não era para existir, pois
assim se tem um entrave e muitas das vezes o profissional nao consegue dar
respostas as demandas.
A profissional descreve as principais atividades desenvolvidas em sua
rotina:
realização da entrevista social; levantamento das demandas; orientações quanto a rotina e procedimentos realizados no hospital; solicitação de autorização extra de acompanhantes e de entrada de acompanhante; verificação da documentação que é que viabiliza a realização de exames, procedimentos e faz a busca dos dados que estão ausentes; orientações em relação aos benefícios previdenciários e de seguro DPVAT; orientação sobre o atendimento, desses pacientes em outras unidades de saúde e assistenciais; orientações sobre atuação de órgãos judiciais relativo a garantia de realização de procedimentos emergenciais em saúde principalmente essa questão da UTI que eles sempre pedem essa declaração de realização das cirurgias; declarações de internamento que os pacientes sempre pede, hoje a gente tem uma demanda muito grande dessas declarações para realização da prova de vida.
Essas são apenas as principais atividades, podemos perceber que é
muito trabalho pra apenas um profissional, seria necessário mais profissionais
no setor pra poder fazer os atendimentos. Isto so precariza o trabalho do
profissional.
Com relação a sua rotina diz:
A rotina de trabalho começa com o levantamento do senso, o exame do livro de ocorrência pra ver o que foi feito nos dias anteriores e dar continuidade, passar a ver quem entrou no hospital e dar prioridade no atendimento dos que foram admitidos, pra só depois passar a visita nos pacientes mais antigos, que aí a gente já tem um certo controle daquilo que está sendo feito. Então nem sempre da tempo da gente fazer tudo, porque a gente perde muito tempo nas entrevistas, uma vez que a gente não tem computadores na sala, não tem acesso a cópias, a gente é quem paga o carbono que utilizamos, perde muito tempo escrevendo no livro de ocorrência, fazendo os registros no formulário de entrevista, e no meio tempo que a gente está
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fazendo as atividades a gente está fazendo também os atendimentos e as demandas que são mais emergências.
O ideal é que se passasse a visita diariamente aos leitos, porém com o
déficit de profissional isso não é possível, bem como também não é possível
realizar todas as atribuições, tendo que dar prioridade ao mais urgente. Além
de todas as dificuldades vividas, ainda tem a falta de recursos materias, o que
de certa forma prejudica o serviço.
Sobre a jornada de trabalho, a entrevistada afirma que:
O regime de trabalho são 30 horas semanais, porém se tem a legislação, se não me engano é uma portaria que orienta a realização dos plantões, no caso dos hospitais em ser inserido na categoria de 108 horas mensais de trabalho, que seria equivalente a 9 plantões de 12 horas, mas devido à ausência de assistentes sociais no setor, foi feito um acordo para que a gente trabalhe todos os dias 6 horas, rotina de trabalho em que a gente acaba sempre excedendo essas 108 mensais, dependendo da quantidade de dias úteis no mês. O horário de trabalho, o meu é a tarde apesar de ter que fazer de forma quebrada. Para que a gente tente a dar uma amplitude no atendimento, mas a maior parte do meu expediente é no horário da tarde, o serviço social na clinica não funciona 24 horas, devido à quantidade de assistentes sociais ser inferior não tem condições de cobrir toda carga horária e esse é um dos principais problemas com relação principalmente a infraestrutura. Diante disso a gente não consegue atender toda a demanda. A gente não tem direito à insalubridade, de receber produtividade conforme o que se paga em cada hospital, então dependendo de qual hospital você trabalhar, você tem uma produtividade maior.
Diante disso podemos perceber a dificuldade que o profissional
enfrenta, muitas vezes ter que ter dois vínculos empregaticios pra poder ter
uma renda melhor, trabalhar mais pra complementar a renda, Tendo de
enfrentar uma excessiva carga horária de trabalho. Na medida em que o
quadro de funcionários é insuficinte atinge diretamente o usuário, uma vez
que, esse fica sem tendimento, tendo de esperar a chegada do profissional
no hospital, sendo que tem casos que não da pra esperar, diante de tal
situação. O serviço que deve funcionar 24 horas, não é realizado devido à
existência de somente uma profissional num setor com 40 leitos. Outro fato
que merece destaque é o profissinal não ganhar insalubridade mesmo
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trabalhando em local insalubre.
Funciona equipe multiprofissional no setor?
Não. A única iniciativa mais aproximada é articulação dos profissionais de enfermagem, serviço social e medicina em torno das questões de gestão dos leitos através da reunião semanal (toda terça) . Nessa reunião se debate as questões dos pacientes que estão internados por patologias que não estejam relacionadas às fraturas. Não se debate os casos dos pacientes com fratura porque esses dependem somente do NIR para resolução de suas questões. Mas a reunião só começou a acontecer por imposição da implantação do KANBAN para controle da ocupação dos leitos.
O kanban é uma estratégia para diminuir o tempo de internação dos
pacientes. Um dos dispositivos é uma plaquinha que fica em cima do leito do
paciente com nome e data de admissão, e o outro dispositivo é uma prancheta
onde se registra os nomes, diagnóstico e data de admissão dos pacientes.
Carvalho (2012) e Gomes (2016) confirmam que as ações em saúde,
devem ser interdisciplinares, garantindo a atenção integral e atendendo às
necessidades da população usuária, na mediação entre seus interesses e a
prestação de serviços. E ainda, o contexto atual, além de demandar
conhecimento das expressões da questão social, exige a formação para
trabalhar em equipe interdisciplinar, ampliando as ações intersetoriais e
comunitárias, ambos subsídios para a educação em saúde.
O próprio mercado profissional de trabalho sofre os impactos diretos
dessas mudanças societárias que provocam alterações nas relações
estabelecidas entre Estado e sociedade. A retração do Estado frente às suas
responsabilidades sociais manifesta-se na drástica redução de verbas
orçamentárias e no deterioramento da prestação de serviços sociais públicos
que acarretam a redução de postos de trabalho e a não realização de
concursos públicos. Isto ocorre paralelo à transferência, para a sociedade civil,
de parte das iniciativas do atendimento prestado a parcelas da população que
sofrem com as sequelas da questão social, em um movimento em que o
Estado repassa as obrigações e não os recursos.
Os Assistentes Sociais, na Saúde, têm um papel importante no sentido
de concretizar o princípio do SUS, que garante a universalidade no acesso e
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na construção da integralidade em saúde, entendida como um princípio
dotado de vários sentidos que consistem tanto na abordagem do indivíduo na
sua totalidade como parte de um contexto social, econômico, histórico e
político, quanto na organização de práticas de saúde que integrem ações de
promoção, prevenção, cura e reabilitação. Além de garantir acesso aos
diferentes níveis de complexidade da atenção em saúde, oferece respostas
ao conjunto de necessidades de saúde de uma população e não unicamente
a um recorte de problemas. (BRAVO, 2011; BEHING; BOSCHETTI, 2011).
Segundo Nogueira e Mioto (2007), a integralidade está calcada em
dois pilares básicos, que são a interdisciplinaridade e a intersetorialidade. A
interdisciplinaridade, visando integrar saberes e práticas voltadas à
construção de novas possibilidades de pensar e agir em saúde. A
intersetorialidade como uma nova forma de trabalhar, de governar e de
construir políticas públicas, visando à superação da fragmentação dos
conhecimentos e das estruturas institucionais para produzir efeitos
significativos na saúde da população, exige a articulação entre sujeitos de
diferentes setores sociais e, portanto, de saberes, de poderes e vontades
diversos, para enfrentar problemas complexos.
O relato da profissional do anexo corrobora com os discursos sobre a
precarização nas relações de trabalho contemporâneas confirma, mais que
isso, uma intensificação da precarização inerente à essência do modo de
produção capitalista.
Os resultados do trabalho do assistente social em saúde dependem
muito das circunstâncias em que este se realiza, do fazer profissional e do
desejo do assistente social em responder às demandas. Sua visão em
relação aos usuários deve ser enquanto sujeitos de direitos e não como
doentes, pois dessa forma a instituição será vista como um espaço de ajuda
que presta serviços de qualidade a seus usuários.
Carvalho (2012) e Gomes (2016) confirmam que as ações em saúde,
devem ser interdisciplinares, garantindo a atenção integral e atendendo às
necessidades da população usuária, na mediação entre seus interesses e a
prestação de serviços. E ainda, o contexto atual, além de demandar
conhecimento das expressões da questão social, exige a formação para
trabalhar em equipe interdisciplinar, ampliando as ações intersetoriais e
50
comunitárias, ambos os subsídios para a educação em saúde.
Iamamoto (2012, p.24) afirma que:
O Serviço Social reproduz-se como um trabalho especializado na sociedade por ser socialmente necessário: produz serviços que atendem às necessidades sociais, isto é, tem um valor de uso, uma utilidade social. Por outro lado, os assistentes sociais também participam, como trabalhadores assalariados, do processo de produção e/ou de redistribuição da riqueza social. Seu trabalho não resulta apenas em serviços úteis, mas ele tem um efeito na produção ou na redistribuição do valor e da mais-valia.
Após esse relato pode-se refletir acerca da precarização do trabalho
do assistente social no Estado do Rio Grande do Norte, em especial na
Clínica Médica Dr. Leonidas Ferreira. Durante a elaboração dessa
Monografia muitas matérias da mídia e das páginas do governo foram
vinculadas, dizendo respeito à desativação dos leitos da clinica médica por
falta de verbas. Isso causou grande manifestação por parte dos usuários e
dos profissionais, pois isso iria acarretar em perdas para a população. Seriam
40 leitos destinados a saúde a menos no nosso estado.
Durante o relato da profissional, notou-se grande insatisfação da
mesma pelas escassez nas condições de trabalho, devido à sobrecarga de
demandas, como já foi citado anteriormente, reflexo da falta de profissionais.
Concursos são feitos, contudo, o número de cargos destinados a assistentes
sociais é muito abaixo da necessidade das unidades de saúde.
A situação exposta pela assistente social contraria as normativas da
Resolução CFESS nº 493/2006, sobre as condições éticas e técnicas para o
exercício profissional, que prevê a necessidade de espaço físico adequado
para qualquer forma de atendimento ao usuário (abordagens individuais,
grupais ou coletivas), conforme as características dos serviços prestados no
âmbito da instituição.
No último concurso realizado, em 2018, ofereceram somente 1 vaga
para o profissional de serviço social, ou seja, existe uma desvalorização a
cada governo que temos. No mesmo ano houve uma seleção para contrato
temporário, no qual se teve um quantitativo maior de vagas do que para o
concurso público, o que é contráditorio, pois sabe-se que a necessidade de
51
profissionais é bem maior, e que seria necessário abrir mais vagas em
concursos públicos.
O próprio mercado profissional de trabalho sofre os impactos diretos
dessas mudanças societárias, que provocam alterações nas relações
estabelecidas entre Estado e sociedade. A retração do Estado frente às suas
responsabilidades sociais manifesta-se na drástica redução de verbas
orçamentárias e no deterioramento da prestação de serviços sociais públicos,
que acarretam a redução de postos de trabalho e a não realização de
concursos públicos, ou, quando realizados, é irrsória a quanitadade de
vagas.
Não foi citado pela mesma, mas o atraso salarial que vem ocorrendo
há meses pela SSP – RN, vem gerando imensa insatisfação nos profissionais
em geral, o que dificulta até o acesso ao trabalho, pela falta de dinheiro,
muitas vezes.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso desse trabalho observou-se que o Sistema Único de
Saúde, é resultado de muitas lutas e reivindicações, a partir da década de 90
– com o advento da política neoliberal no Brasil –, que os avanços
conquistados na Constituição de 88 vêm, até os dias atuais, sendo afetados .
Este modelo provoca o desmonte da Seguridade Social e precariza as
políticas sociais, ocasionando os processos de precarização, focalização e
privatização, em uma lógica de mercantilização da saúde.
Neste estudo observou-se a necessidade de construir estratégias
coletivas que ampliem a luta pela defesa dos direitos sociais, sendo essencial
o papel do profissional de Serviço Social neste campo.
Diante do exposto até aqui se observa que muitas vezes a atuação
profissional não está de acordo com os valores propostos no projeto ético-
político profissional, restringindo-se aos limites institucionais ou políticos, que
acabam por reduzir as escolhas feitas ao dar as respostas às suas
demandas. Se por um lado a prática profissional tem funcionado como
espaço de acolhimento e recepção das demandas dos usuários, por outro
lado essa prática não reforça nem contribui com um espaço de mobilização,
organização e informações necessárias para que acessem seus direitos.
Neste sentido, é notável que, por mais que o assistente social se
esforce no seu cotidiano, existem barreiras colocadas ao profissional, ou
seja, limites e possibilidades que se colocam em meio às tentativas de
desenvolver estratégias de ação para dar respostas às demandas postas
que, na maioria das vezes, superam a tentativa de contribuir com o
fortalecimento dos direitos sociais.
É preciso acreditar que uma atuação crítica, que supere o aparente e
as concepções imediatamente cotidianas, fortaleça as possibilidades de levar
os sujeitos sociais a avançarem em sua reflexão, encontrando respostas para
problemas que rebatem na saúde e na qualidade de vida desses usuário.
Em virtude dessas desigualdades presentes no cotidiano da
assistência social, abre-se espaço para o clientelismo, reforçando as
características de anos anteriores, em que a assistência social era prestada
como filantropia, como uma forma de favor. A falta de recursos não só
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humanos como materiais também prejudica os atendimentos, são primordiais
investimentos maiores para o setor pois, assim, problemas como a falta de
recursos não serão mais um impedimento para o desenvolvimento de
políticas públicas eficazes.
Exige-se hoje para a contemporaneidade um profissional dinâmico,
que busque no seu projeto ético e político inspiração para a realização de
seu exercício profissional, em que defenda a luta pela por mais justiça social
e por mudanças na ordem da sociedade em que estamos inseridos. Além de
buscar estratégias que sejam capazes de possibilitar a conquista do apoio
institucional na construção de ações que viabilizem a garantia de direitos dos
usuários.
Em seu cotidiano profissional o assistente social vivencia os mesmos
dilemas de qualquer trabalhador, portanto, suas atividades estão suscetíveis
ao domínio e à instabilidade do trabalho, à depreciação dos salários, à
pressão por produtividade e por resultados imediatos, etc. Essa realidade
confirma, na verdade, uma intensificação da precarização do trabalho
inerente à essência do modo de produção capitalista. Situação claramente
percebida nos relatos dos sujeitos entrevistados, os quais revelam a
presença de uma diversidade de situações complexas, difíceis e fatigantes,
que repercutem negativamente em sua saúde física e emocional
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ANEXO 1
ROTEIRO DE ENTREVISTA 1- Quais as condições de trabalho aqui no anexo do João
machado? Qual seu regime trabalhista?
2 - Você tem sala privada? Consegue ter
sigilo? Qual o seu horário de trabalho?
3 - O serviço social funciona 24hs? 4 - Tem carro disponível pro serviço social?
5 - Quais são as atividades (rotina) realizadas pelo serviço social?
6 - Você considera que tem as condições de trabalho necessárias para realizar
todas as atividades? Se não, quais faltam? E porque?
7 - Recebe gratificação,produtividade, insalubridade...? 8 - Quais as principais demandas? Consegue dar encaminhamentos as
demandas que chegam?
9 - Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo assistente
social? No setor existe e funciona a equipe multiprofissional?