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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE HANIEL CARLOS DE SOUZA LIMA O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO MARUIM EM NATAL-RN: UM EMBATE ENTRE A IDENTIDADE TERRITORIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO NATAL-RN 2015

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Page 1: O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO … · Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Geografia do ... A994s Lima, Haniel Carlos de

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE

DO NORTE

HANIEL CARLOS DE SOUZA LIMA

O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO MARUIM EM NATAL-RN:

UM EMBATE ENTRE A IDENTIDADE TERRITORIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

NATAL-RN

2015

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HANIEL CARLOS DE SOUZA LIMA

O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO MARUIM EM NATAL-RN:

UM EMBATE ENTRE A IDENTIDADE TERRITORIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Licenciatura Plena em Geografia do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

do Rio Grande do Norte, em cumprimento às

exigências legais como requisito parcial à obtenção

do título de Licenciado em Geografia.

Orientadora: Mª Maria Luiza de Medeiros Galvão.

NATAL-RN

2015

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Ficha elaborada pela Biblioteca Setorial Walfredo Brasil / IFRN.

Ficha elaborada pela Biblioteca Setorial Walfredo Brasil / IFRN.

A994s Lima, Haniel Carlos de Souza O Processo de desapropriação da comunidade do Maruim em

Natal-RN: um embate entre a identidade territorial e o crescimento econômico / Haniel Carlos de Souza Lima. – 2015. 110 f. Orientadora: Mª Maria Luiza de Medeiros Galvão.

Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Geografia) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, 2015.

1. Identidade territorial. 2. Desapropriação. 3. Comunidade do

Maruim/Natal-RN. I. Título.

CDU 911.375.632

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HANIEL CARLOS DE SOUZA LIMA

O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO MARUIM EM NATAL-RN:

UM EMBATE ENTRE A IDENTIDADE TERRITORIAL E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Licenciatura Plena em Geografia do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

do Rio Grande do Norte, em cumprimento às

exigências legais como requisito parcial à obtenção

do título de Licenciado em Geografia.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado em ____/____/_____, pela

seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Maria Luiza de Medeiros Galvão, Mª. – Presidente

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

____________________________________________________

Maria Cristina Cavalcanti Araújo, Dra. – Examinadora

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

____________________________________________________

Marcos Antônio Alves de Araújo, Me. – Examinador

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

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Dedico esse trabalho aos meus familiares e

amigos mais próximos que me deram apoio

nos momentos que precisei.

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AGRADECIMENTOS

Por tudo o que tens feito, por tudo o que vais fazer, por tuas promessas e tudo o que és,

eu quero te agradecer com todo o meu ser... Te agradeço meu Senhor [...]. BESSA, Ana Paula

Valadão.

Aos familiares e amigos, que acompanharam minha trajetória acadêmica e torceram por

mim nos dias difíceis, sempre me estimulando e dando forças para não desistir da caminhada.

Aos meus queridos pais, Ailton e Aurineide, pela educação, ensinamentos e valores

cristãos que me foi dado, além de incentivos a buscar através dos estudos dias melhores. Não

poderia ter nascido em outra família, pois vocês são os melhores pais que eu podia ter.

Aos meus “chatos” e “irritantes” irmãos, Aninha e Diego, pela amizade e convivência,

por vezes turbulentas, mas como diz uma música da minha cantora predileta, que vocês não

curtem muito: “Irmãos são feitos assim, tão diferentes, mas o amor que corre nas veias é

maior do que tudo”.

À minha querida e amada avó Ana (Nazinha) que durante o início da escrita dessa

pesquisa deu um susto em toda família sendo acometida de uma enfermidade grave, mas que

com a mão de Deus e sua vontade de viver deu a volta por cima. O amor que tenho por ti não

tem explicação, é inenarrável. Obrigado por existir.

À minha esposa, ai que emoção! E.S.P.O.S.A. a quem devo muita gratidão por não

desistir de mim nem do meu intento acadêmico, por me incentivar, cobrar, brigar e

principalmente me dar colo nos momentos mais difíceis, momentos que só ela sabe que

passei. Deus colocou esse anjo em forma de mulher em minha vida e sempre serei grato por

tua existência. “Eu te escolhi, não vou voltar atrás, vou me lembrar do que Deus fez por nós

Nosso amor é eterno, firmado em Deus [...] que nunca passará”.

Aos meus colegas da turma de Licenciatura em Geografia do IFRN, diante de tantas

“tertúlias” e “vivências” geográficas não há como esquecer a maioria de vocês tão cedo.

Especialmente, quero agradecer ao grupo das “Pacots girls” Rayane, Luciana, Glícia e a

agregada e intrigante Mayara, vulgo Mayke, vocês viraram mito em nossa turma e ao lado de

cada uma, as aulas noturnas no IFRN eram muito mais divertidas, sentirei muita falta daquela

convivência diária.

Aos amigos do interior, Cristiane, a quem tive a honra de testemunhar em seu

casamento, Carlos Gustavo e Raul, quanta coincidência me tornar amigo dos alunos que

moravam mais distante, vocês têm espaço reservado em meu coração.

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À colega de turma Ana Carolina por facilitar o contato com a SEHARPE, foi uma ajuda

fundamental para o andamento dessa pesquisa.

Ao meu querido calouro Francisco (ou Chico, tão somente), já gostei de ter te

conhecido. Muito obrigado a você e a Raulzito pelo auxílio no trabalho de campo, sem a

grande ajuda de vocês o que seria de mim naquele dia? Vocês dispuseram de seus tempos

para ajudar um amigo, só Deus poderá recompensá-los.

Aos professores do curso de licenciatura em Geografia do IFRN que colaboraram direta

ou indiretamente para meu desenvolvimento e aprendizagem que serviram de porta de entrada

para meu aprimoramento profissional. Em especial aos professores Ednardo (Tio Ed),

Francisco Carlos e João Correia.

À professora Maria Cristina, por promover a atividade na disciplina de geografia da

população que norteou minha escolha ao tema sobre a desapropriação da Comunidade do

Maruim e por seu comprometimento e alegria em sala de aula.

Aos moradores da Comunidade do Maruim, por ter abrido as portas para que muitas

discussões e resultados dessa pesquisa se tornassem possíveis. Sempre atenciosos e

receptivos, nunca se negando a responder as perguntas.

Por último e não menos especial, muito pelo contrário, agradeço fervorosamente a

minha querida e admirável orientadora, a professora Ma Maria Luiza (Malu), cujo seu maior

atributo foi ser deveras paciente e atenciosa comigo. Nunca se negando a emprestar e indicar

livros que me ajudaram na construção desse trabalho. À ela, todo meu apreço.

[...] Não posso explicar, tudo o que sinto agora, nem mil palavras poderiam expressar.

És mais que uma canção, bem mais emoção, és mais que uma mera fantasia, és meu dia-a-dia,

és a minha vida, TUDO PARA MIM.

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Natal tem, nas Rocas, bem escondida,

uma ferida, pequena chaga social,

chamada favela do Maruim.

Espremido entre o rio e a rua,

o Maruim é o lixo discreto,

é a dor calada do silêncio.

Na lama, caminham pés que

nunca chegarão à parte alguma.

Nesses pés caminham vidas que

de há muito foram apagadas.

Emanoel Barreto (2006).

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RESUMO

O estudo do conceito de Território tem se colocado como tarefa árdua para diversos

estudantes e pesquisadores das Ciências Sociais, sobretudo a Ciência Geográfica, pois desde

as primeiras escritas sobre o tema, os estudiosos não conseguiram encontrar um denominador

comum para identificar aquele conceito, devido às múltiplas problemáticas que ele carrega.

Diante disso, o expoente da Geografia brasileira Rogério Haesbaert, desenvolveu, pautado em

outros estudos sobre o tema, seus próprios conceitos, os quais são largamente utilizados na

academia. Dentro desse universo, estudamos a Identidade, a qual, atrelada a Geografia passa a

ser nomeada de Identidade Territorial, que é a identidade exercida quando há relação com o

território. É exatamente com a junção desses debates que nos deparamos com o estudo central

dessa pesquisa, a Comunidade do Maruim na Cidade do Natal e o projeto de desapropriação

por parte da Prefeitura, que como consequência, provocará a iminente perda da Identidade

Territorial presente na vida dos moradores daquela Comunidade, os quais vivem há décadas

no mesmo local e criou vínculos afetivos com este. Mirando o desenvolvimento econômico

para o Rio Grande do Norte, encontra-se o Porto de Natal, o qual busca através da expansão

de seu espaço, maior autonomia e o consequente crescimento econômico, no entanto, esbarra

na presença da Comunidade do Maruim em sua área adjacente, a qual, de acordo com a lei

municipal que definiu a Zona Especial Portuária-ZEP em 1992 é um espaço pertencente

aquele. Com base nisso, surge um relevante conflito fundiário em solo urbano, que há muitos

anos se apresenta na Cidade do Natal, mas apenas nas últimas décadas o Poder Público se

atentou para o problema e se articulou para tentar resolvê-lo, criando mecanismos e projetos

os quais serão mostrados nesse trabalho. Metodologicamente, essa pesquisa buscou fontes

bibliográficas pertinentes ao tema; visitas a órgãos da Prefeitura para colher dados oficiais do

projeto de desapropriação da Comunidade; apresenta resultados e dados estatísticos extraídos

da visita in loco a Comunidade estudada e mostra fotograficamente nuanças pertinentes ao

debate aqui levantado. O resultado acerca do projeto de desapropriação proposto pela

Prefeitura do Natal para a Comunidade do Maruim será demonstrado nas Considerações

finais, fato que nos ajudou a fundamentar ainda mais essa instigante pesquisa.

Palavras-Chave: Território. Identidade Territorial. Comunidade do Maruim. Desapropriação.

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ABSTRACT

The study of the concept of Territory has been placed as an arduous task for many

students and researchers in the Social Sciences, especially the Geographical Science, because

since the first written on the subject, scholars have failed to find a common denominator to

identify the concept, due to many problems that it carries. Therefore, representative of the

Geography developed, based on other studies on the topic, their own concepts, which are

widely used in the academy. Within that universe, we studied the Identity, which linked to

Geography becomes named Territorial Identity, which is the identity exercised when there is

a relationship with the territory. It is exactly with the junction of those debates that we

encounter the central study of this research, the Community of Maruim in the City of Natal

and the project of expropriation by the City Hall, which as a result will cause the imminent

loss of Territorial Identity present in the lives of the residents of that Community, who have

lived for decades in the same location and created affective bonds with this. Targeting

economic development for the state of Rio Grande do Norte, lies the Port of Natal, which

seeks, through the expansion of its space, greater autonomy and the consequent economic

growth, however, stumbles in the presence of the Community of Maruim in its surrounding

area, which, according to the municipal law that defined the Special Area Port-SAP in 1992 is

a space belonging to the Port. Based on this, a relevant land conflict arises in urban ground

that for many years presents in the City of Natal, but only in the last few decades, the Public

Authorities has looked for the problem and articulated to try to resolve it by creating

mechanisms and projects which will be shown in this paper. Methodologically this research

sought relevant bibliographic sources to the theme; visits to organs of the City Hall to gather

official data of the project for the expropriation of the Community; presents results and

statistical data extracted from the on-site visit to the Community studied and shows

photographically relevant nuances to discussions here raised. The result about the

expropriation project proposed by the City of Natal to the Community of Maruim will be

shown in the final considerations, a fact which helped us to justify even more this exciting

research.

Keywords: Territory. Territorial Identity. Community of Maruim. Expropriation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 -

Figura 2 -

Figura 3 -

Figura 4 -

Figura 5 -

Figura 6 -

Figura 7-

Figura 8 -

Figura 9 -

Fotografia 1 -

Crescimento do tecido urbano na Comunidade do Maruim.

Linha do tempo mostrando o Porto de Natal e a Comunidade do

Maruim com seus direitos na legislação municipal e na portaria

ministerial.

Situação fundiária da Comunidade do Maruim e do Porto de Natal

Maquetes em 3D do projeto inicial para o Residencial Maruim.

Planta baixa de unidades habitacionais a serem construídas no

Residencial Maruim.

Planta de situação proposta para intervenção urbanística na área

remanescente da Comunidade do Maruim.

Maquete em 3D proposta para intervenção urbanística na área

remanescente da Comunidade do Maruim.

Maquete em 3D proposta para intervenção urbanística na área

remanescente da Comunidade do Maruim e adjacência.

Layout do Porto de Natal com as novas áreas já integradas.

Vista aérea dos Bairros das Rocas e da Ribeira com destaque para a Comunidade do Maruim.

61

64

66

93

94

96

96

98

99

16

Fotografia 2 -

Fotografia 3 -

Fotografia 4 -

Vista aérea do Porto de Natal.

(A) e (B) Porto de Natal no início de sua operação.

Fachada da Colônia de Pesca da Comunidade do Maruim.

18

55

59

Fotografia 5 -

Fotografia 6 -

Fotografia 7 -

Canto do Mangue (Ribeira) na década de 1930.

Comunidade do Maruim em 1982.

Mulheres exercendo atividade pesqueira na Comunidade do Maruim.

60

60

72

Fotografia 8 - Minérios próximos às casas na Comunidade do Maruim. 79

Fotografia 9 - Esgotamento sanitário na Comunidade do Maruim. 80

Fotografia 10- Coleta de lixo na Comunidade do Maruim. 81

Fotografia 11- (A) encanação despejando efluentes domésticos no Rio Potengi;

(B) lixos e esgotos lançados no Rio Potengi.

82

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Fotografia 12-

Fotografia 13-

Fotografia 14-

Fotografia 15-

Localização dos terrenos propostos para o reassentamento da

Comunidade do Maruim.

Distância entre o terreno escolhido para o reassentamento da

Comunidade do Maruim em relação a atual localidade da mesma.

Obras do Residencial Maruim 36% concluídas

Vista aérea dos setores do Porto de Natal.

91

92

95

99

Gráfico 1 - Grau de instrução da Comunidade do Maruim.

69

Gráfico 2 - Quantidade de anos que os moradores vivem na Comunidade do

Maruim.

70

Gráfico 3 - Principais características, que segundo os moradores da Comunidade

do Maruim, melhor definem a localidade.

71

Gráfico 4 - A importância do Rio Potengi e seu mangue para a vida dos moradores

da Comunidade do Maruim.

73

Gráfico 5 - Razões pelas quais, segundo os moradores da Comunidade do Maruim,

a mesma deve permanecer no Bairro da Ribeira.

74

Gráfico 6 - Fontes de renda ou ganhos das famílias da Comunidade do Maruim.

75

Gráfico 7 - De que maneira a administração pública vem conduzindo a saída dos

moradores da Comunidade do Maruim da atual localidade.

77

Gráfico 8 - Razões que segundo os moradores da Comunidade do Maruim são

apontadas pela Prefeitura do Natal como principais motivos para a

realocação.

78

Gráfico 9 - O que a Comunidade do Maruim propôs a Prefeitura do Natal como

contrapartida da desapropriação.

83

Gráfico 10 - O que a Comunidade do Maruim considera como inserto em relação à

desapropriação.

84

Mapa 1 - Aglomerações Subnormais na Cidade do Natal. 43

Mapa 2 -

Mapa 3 -

Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS) na Cidade do Natal com

destaque para a Comunidade do Maruim.

Zona Especial Portuária (ZEP) da Cidade do Natal.

53

56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 -

Tabela 2 -

Histórico da movimentação geral de cargas no Porto de Natal 2008-2014

(em ton.)

Projeção de movimentação de cargas no Porto de Natal para os anos de

2010-2017.

57

100

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LISTA DE SIGLAS

AEIS

AERU

Área Especial de Interesse Social

Área Especial de Recuperação Urbana

BNH Banco Nacional de Habitação

CODERN Companhia Docas do Rio Grande do Norte

FCP Fundação da Casa Popular

HIS Habitação de Interesse Social

IAP‟s Instituto de Aposentadorias e Pensões

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFRN Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

MC Ministério das Cidades

PDN Plano Diretor de Natal

PDZ Plano de Desenvolvimento e Zoneamento

PMCMV Programa Minha Casa Minha Vida

PRAC Plano de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais

SEHARPE Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos

Estruturantes

SEMURB Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

SEMTAS

SPU

Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social

Superintendência do Patrimônio da União

TDR Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização

U.H.s

ZEP

ZEPH

Unidades Habitacionais

Zona Especial Portuária

Zona Especial de Preservação Histórica

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 A CIDADE, O TERRITÓRIO, A IDENTIDADE E AS DINÂMICAS

TERRITORIAIS

23

2.1 A CIDADE COMO LÓCUS DAS COMUNIDADES 24

2.2 O TERRITÓRIO E A IDENTIDADE 26

2.3 AS DINÂMICAS TERRITORIAIS DE TERRITORIALIZAÇÃO,

DESTERRITORIALIZAÇÃO E RETERRITORIALIZAÇÃO (TDR)

30

3

3.1

3.2

A QUESTÃO HABITACIONAL NO BRASIL E SUAS PROBLEMÁTICAS

INSERÇÃO DAS FAVELAS NO BRASIL – BREVES COMENTÁRIOS

DIREITO À MORADIA, HABITABILIDADE E HABITAÇÃO

38

39

44

3.3 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL (HIS) 47

3.3.1 Habitação de Interesse Social (HIS) na Cidade do Natal 50

4 PORTO DE NATAL X COMUNIDADE DO MARUIM 54

4.1 PORTO DE NATAL: HISTÓRIA E CONTEXTO ATUAL 55

4.2

4.3

COMUNIDADE DO MARUIM: HISTÓRIA E CONTEXTO ATUAL

CONFLITO FUNDIÁRIO URBANO

58

63

5

5.1

6

MARUIM: DO INÍCIO AO “FIM”

DISCUSSÕES ACERCA DA DESAPROPRIAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS (PARA NÃO CONCLUIR)

67

68

87

REFERÊNCIAS 103

APÊNDICE A – Formulário aplicado aos moradores da Comunidade do Maruim 110

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1 INTRODUÇÃO

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15

Há muitos anos, conceituar e entender o significado de „território‟ para cada

concepção analisada, tem sido tarefa árdua para diversos estudiosos da Ciência Geográfica.

Em vista disso, esclarecemos desde já, que nossa pesquisa analisa o mesmo,

predominantemente, a partir dos entendimentos apresentados pelo geógrafo Rogério

Haesbaert, que estuda o território através de três dimensões: jurídico-política, simbólico-

cultural e econômica, no entanto, outros autores se farão presentes para auxiliá-lo no

entendimento daquele conceito tão complexo. A dimensão simbólico-cultural, representada

pela temática da Identidade Territorial, será sem dúvida a mais comentada nessa pesquisa

quando formos tratar acerca do território, contudo, não deixaremos de citar as demais

dimensões quando for conveniente.

A Identidade Territorial é algo intrínseco na vida de qualquer grupo de pessoas que

compartilham do mesmo território. Se levarmos em conta que o território apropriado foi

sendo construído ao longo de muito tempo por todos, onde gerações de famílias e estilos de

vida foram instituídos, as implicações são ainda maiores. Nesse sentido, Haesbaert (1999,

p.172) fala que “a identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente

através do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo

das idéias quanto no da realidade concreta”, e:

É na trama de todos os dias, como fala Di Méo (1998, p. 48), “aquém e além do

político e do econômico, que se manifestam, realizam-se e concretizam-se os

mecanismos de identificação coletiva”. Esses mecanismos contribuem para a

manifestação identitária em termos de pertencimento a um território. (DI MÉO 1998

apud MORAIS, 2008, p.37).

É dessa forma que a Comunidade do Maruim (fotografia 1), localizada entre os

Bairros das Rocas e da Ribeira, Zona Leste da Cidade do Natal no Rio Grande do Norte (RN),

se encontra, dotada de identidade pelo território, o qual começou a se desenvolver a partir da

década de 1920 com a criação de uma colônia de pesca, posteriormente transformada em vila

de pescadores. Hoje, seus moradores precisam ser desapropriados para atender as

necessidades do Porto de Natal que requer mais espaço para suas operações em decorrência

das exigências do mercado econômico mundial.

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Fotografia 1 - Vista aérea dos Bairros das Rocas e da Ribeira com destaque para a

Comunidade do Maruim.

Fonte: Google Earth adaptado (2013).

A necessidade de ampliação do Porto se dá pela falta de espaço na área em que o

mesmo se localiza, de modo que, segundo especialistas da Companhia Docas do Rio Grande

do Norte – CODERN1, seu crescimento só se tornaria possível a partir da remoção da

Comunidade do Maruim da área do seu entorno. Quanto a esse fato, o Plano de

Desenvolvimento e Zoneamento – PDZ do Porto de Natal descreve que:

Esta ampliação é absolutamente exigível em decorrência da necessidade de

disponibilidade de espaços físicos para a movimentação de contêineres. A

integração do Pátio Norte com a área ocupada pela Comunidade do Maruim, que

possui cerca de 14.000m² [tamanho questionável], resultará numa área total de

aproximadamente 27.500m², o que representa um aumento na capacidade de

armazenamento [...] (COMPANHIA... 2010, p. 90).

E finaliza dizendo que “Do exposto, a execução do PDZ do Porto de Natal é um

desafio de gestão a ser enfrentado, cujo benefício maior é o desenvolvimento socioeconômico

do RN”. (COMPANHIA... 2010, p.100).

O PDZ é o instrumento de comunicação oficial do Porto de Natal que serve de base

para implantar e operacionalizar as ações e projetos de infraestrutura que serão desenvolvidas

1 A partir de 1983 [...] a administração do Porto de Natal passou a ser uma atribuição da Companhia Docas do

Rio Grande do Norte - CODERN. (COMPANHIA... 2010).

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pelo mesmo ao longo do tempo. No entanto, há muitos anos esbarram na existência do

Conflito Fundiário Urbano com a Comunidade do Maruim para poder se apropriar de tal área,

e a partir daí executar o planejamento idealizado. O Porto está situado à margem direita do

Rio Potengi acerca de 3 km de sua foz.

É nítida a necessidade do crescimento do Porto de Natal em favor da economia do Rio

Grande do Norte, no entanto, desapropriar – ou em termos geográficos desterritorializar –

uma Comunidade com tantos anos consolidada, não é tarefa fácil, visto que inúmeras

imbricações estão presentes; o sentimento da perda da identidade pelo território é a principal

delas. Na nossa pesquisa, as dimensões do território que os moradores da Comunidade do

Maruim se apropriam, assumem um caráter material-simbólico, ou seja, estão ligados tanto ao

apego a “terra”, onde foram construídas suas casas, como aos recursos econômicos

disponíveis para suas sobrevivências nas proximidades da Comunidade, sobretudo pela

existência do Rio Potengi à margem das suas casas. É o que Haesbaert (2005, p. 6777) quer

mostrar quando diz que “para os “hegemonizados”2 o território adquire muitas vezes tamanha

força que combina com intensidades, iguais funcionalidades (“recurso”) e identidade

(“símbolo”)”. Desta forma:

“perder seu território é desaparecer”. O território, neste caso, “não diz respeito

apenas à função ou ao ter, mas ao ser”. [...] muitas vezes [...] é entre aqueles que

estão mais destituídos de seus recursos materiais que aparecem formas as mais radicais de apego às identidades territoriais. (BONNEMAISON; CAMBRÈZY,

1996 apud HAESBAERT, 2005, grifo nosso).

Em vista disso, no palco entre dominantes e dominados, a apropriação ao território

assume papéis diferenciados, onde, o primeiro privilegia seu caráter funcionalista-

mercantilista (o território como recurso), já o segundo, valoriza-o para que possa ter

“garantido” sua sobrevivência cotidiana (o território como abrigo e também como recurso).

(HAESBAERT, 2005, p. 6776-6777). Tais nuanças dão lugar à conhecida temática da

Desterritorialização, que no nosso caso, assume uma múltipla dimensão proposta por

Haesbaert (2004), uma vez que conjugam fatores de caráter econômico-político e simbólico-

cultural em sua problemática.

Deste modo, temos, de um lado, o Porto de Natal, amparado pela lei municipal que

criou a Zona Especial Portuária (ZEP) em 1992, que confere direitos sobre áreas adjacentes ao

mesmo e a lei Federal dos Portos de 2013, que defende, entre outras coisas, a expansão dos

2 Termo usado por Milton Santos em suas escritas para descrever as pessoas que estão aquém do poder do Estado

(“ator hegemônico”). (SANTOS, et al. 2000 apud HAESBAERT, 2005).

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portos, desde que seja comprovada a eficiência para a operação portuária. Do outro, a

Comunidade do Maruim defendida por leis Federal e Municipal que garantem o direito a

habitação por situar em uma Área Especial de Habitação de Interesse Social (AEIS); Zona

Especial de Preservação Histórica (ZEPH), por se localizar no Bairro da Ribeira; pela própria

ZEP, pois faz parte da área próxima ao Porto e por se inserir numa área de vulnerabilidade

social, rodeada por diferentes implicações a serem comentadas ao decorrer desta pesquisa.

Diante desses fatos, este trabalho estuda o processo de desapropriação da Comunidade

do Maruim a partir da análise do embate entre a identidade territorial presente na vida dos

moradores daquela e a busca pelo crescimento econômico do Rio Grande do Norte,

evidenciado pela ampliação do porto da Cidade do Natal (Fotografia 2).

Fotografia 2 - Vista aérea do Porto de Natal.

Fonte: Alex Régis (2012).

A Comunidade do Maruim me foi “apresentada” no quarto período do curso de

licenciatura em Geografia do IFRN, em um projeto integrado entre as disciplinas, com o

objetivo de investigar a existência de projetos de educação ambiental entre as escolas que

atendiam estudantes de comunidades ribeirinhas. O segundo contato, esse de cunho mais

explorador, foi requisito parcial da avaliação final na disciplina de Geografia da População,

no quinto período do curso. O objetivo da atividade era fazer um diagnóstico socioambiental

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em alguma comunidade ribeirinha e posteriormente apresentar os resultados para a turma,

imediatamente a Comunidade do Maruim apareceu como nossa principal opção. Foi a partir

desses contatos que me interessei em estudar aquela Comunidade de maneira mais intensa,

pois por observar que a mesma apresentava diversas problemáticas com contextos “geo-

históricos” me deixou deveras instigado.

Metodologicamente o trabalho buscou fontes bibliográficas pertinentes ao tema, como

livros e revistas científicas em bibliotecas e acervo próprio; pesquisas em sites com temáticas

acadêmicas e periódicos oficiais com assuntos relacionados à pesquisa; visita a órgãos oficiais

da Prefeitura do Natal como à secretaria responsável por problemas habitacionais; visita in

loco a Comunidade estudada, onde podemos conversar e fazer aplicações de formulários para

traçar o perfil populacional, identitário e social daquela comunidade além de registros

fotográficos e fonográficos de aspectos importantes que serão discutidos ao longo do trabalho.

Para realização dessa pesquisa elaboramos um formulário que foi aplicado com uma

parcela da população da Comunidade do Maruim escolhida aleatoriamente, a fim de

quantificar e qualificar, concomitantemente, àquela. O formulário contém oito perguntas

indiretas e fechadas3, onde a população entrevistada poderia indagar sobre as questões, algo

típico da coleta de dados via formulário. Para justificar o uso do formulário como instrumento

de pesquisa de campo, Andrade (2005, p. 151) explica que “O formulário é usado quando se

pretende obter respostas mais amplas, com maior número de informações”. Dentre algumas

vantagens em se aplicar os formulários Andrade (2005, p. 151) relata que o mesmo:

[...] pode ser aplicado para qualquer tipo de informante, seja ou não alfabetizado,

uma vez que pode ser preenchido pelo pesquisador; apresenta mais flexibilidade,

pois o pesquisador pode reformular perguntas, adaptando-as a cada situação, modificando itens ou tornando a linguagem mais clara; o pesquisador pode explicar

melhor os objetivos da pesquisa, esclarecer o significado de termos ou explicar

melhor o objeto da questão; o formulário possibilita a coleta de dados mais

complexos e mais numerosos que o questionário; o pesquisador preenche ou orienta

o preenchimento, proporcionando mais uniformidade na anotação das respostas.

Diehl e Tatim (2004, p. 70) confirmam a importância no uso do formulário dizendo

que “[...] é um dos instrumentos essenciais para a investigação social, e seu sistema de coleta

de dados consiste em obter informações diretamente do entrevistado”. Podemos verificar na

coleta de dados a maioria das vantagens elencadas por Andrade, uma vez que, apesar de ser

um instrumento de pesquisa que requer maior tempo para execução, as perguntas puderam ser

adaptadas ou reformuladas a depender da situação encontrada ou de determinado entrevistado,

3 Perguntas fechadas são aquelas que indicam três ou quatro opções de resposta ou se limitam à resposta

afirmativa ou negativa, e já trazem espaços destinados à marcação da escolha (ANDRADE, 2005).

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fazendo com que a entrevista se tornasse mais elucidativa e o formulário fosse preenchido

com maior rigor, tornando as respostas mais verossímeis possíveis. Para escrever as questões

presentes no formulário da pesquisa foram necessários estudos prévios acerca da Comunidade

do Maruim, para entender a temática pela qual a mesma está inserida e a partir daí aproximar

as opções de respostas do formulário de acordo com os acontecimentos pelos quais aquela

Comunidade passa e estará sujeita a passar nos próximos anos. Julgamos a escolha de

perguntas pré-definidas através de formulários, porque são melhores para tabular e explicar os

resultados, uma vez que, se utilizássemos o recurso entrevista, por exemplo, as respostas

seriam variadas e em nosso caso seriam difíceis de serem esmiuçadas na presente pesquisa.

Apesar de escolhermos a técnica do formulário, foram feitas perguntas extras a fim de buscar

mais informações com relação à identidade dos moradores da Comunidade do Maruim para

com o local onde vivem, além de termos ouvido diversos relatos que também serão descritos

nesse trabalho.

No total foram entrevistadas 36 pessoas adultas, sendo 34 acima de 18 anos e apenas

duas com 14 e 16 anos, mas que já fazem parte da classe trabalhadora da Comunidade,

executando atividades no ramo da pesca. A escolha de 36 formulários se deu a partir de

estatística básica, de acordo com o total de moradores existentes na Comunidade estudada,

por volta de 700. Para selecionar certa parte da população de determinado lugar, faz-se

necessário se atentar para quais tipos de procedimentos serão mais apropriados para atender a

pesquisa, no nosso caso, a amostragem probabilística aleatória simples foi a mais adequada,

visto que atende aos critérios propostos para a temática do trabalho. De acordo com Diehl e

Tatim (2004, p.64) a amostragem probabilística aleatória simples se constitui por:

[...] poder ser submetida a tratamento estatístico, o que permite compensar erros

amostrais e outros aspectos relevantes para representatividade e a significância da

amostra [...] A escolha dos participantes da amostra é feita ao acaso (ou seja, é

aleatória), podendo ser utilizadas diferentes formas de sorteio dos participantes

quando cada membro da população tem a mesma probabilidade de ser escolhido.

Por compensar erros amostrais e qualquer pessoa da Comunidade ter a mesma

probabilidade de ser escolhido para os questionamentos, esse tipo de procedimento se torna

vantajoso, pois não há distinção entre as pessoas, tornando o trabalho mais verossímil e isento

de proselitismos.

De acordo com a abordagem do problema, essa pesquisa pode ser classificada segundo

definições de Diehl e Tatim (2004, p. 51-52) tanto qualitativamente como quantitativamente,

uma vez que, procuramos tratar as informações por meio de técnicas estatísticas (pesquisa

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quantitativa) e descrever, compreender e classificar os processos dinâmicos vividos por

grupos sociais, fatores típicos da pesquisa qualitativa. O dado qualitativo é empregado em

questões onde queremos saber sobre a identidade territorial dos moradores da Comunidade do

Maruim, o emprego desse tipo de abordagem auxilia o pesquisador a entender melhor os

fenômenos estudados, já que é feita através da análise direta e interativa com o objeto de

estudo.

As indagações feitas aos moradores da Comunidade do Maruim têm cunhos

exploratório-descritivos, ou seja, buscamos encontrar nas respostas dos entrevistados, dilemas

e situações vivenciados pelos mesmos em relação à proposta de realocação da comunidade,

Procuramos adquirir ainda, informações acerca da identidade da população do Maruim para

com o local os quais vivem (na Ribeira do Rio Potengi) e quantificá-los para com seus graus

de escolaridade, renda familiar e tempo de vivência na comunidade, questões muito

importantes para definição de alguns aspectos visualizados na pesquisa de campo e postos a

discussões neste trabalho.

Essa pesquisa está dividida em 5 seções: na Introdução, apresentamos resumidamente

os temas que nortearão essa pesquisa, tais como o Território, a Identidade Territorial, a

dinâmica territorial da Desterritorialização e sua implicação na Comunidade do Maruim e

mostramos a situação do Porto de Natal, da Comunidade do Maruim e seus direitos garantidos

por lei, o que ocasiona o Conflito Fundiário Urbano existente. Na segunda seção, de natureza

teórica, teceremos discussões acerca dos principais conceitos utilizados ao longo do trabalho,

como a Cidade, o Território, a Identidade e as Dinâmicas territoriais. Em seguida, na terceira

seção, faremos breves considerações em relação ao surgimento das Comunidades no Brasil e

especificamente na Cidade do Natal; mostraremos leis que garantem o direito à moradia;

conceituaremos a Habitabilidade e a Habitação e por fim, contextualizaremos historicamente

a Habitação de Interesse Social no Brasil e em Natal. Na quarta seção, apresentaremos o Porto

natalense, a Comunidade do Maruim, seus devidos contextos históricos e suas condições

estruturais e sociais. Além disso, traremos um debate acerca do Conflito Fundiário Urbano

pelo qual aqueles enfrentam há muitos anos. Já na quinta seção, de natureza empírica,

exibiremos e discutiremos os resultados gerados da análise dos dados coletados na visita in

loco, sobre os aspectos socioeconômicos e estruturais da Comunidade do Maruim. Para

finalizar esta pesquisa, nas Considerações finais – as quais acrescentamos a nomenclatura

“para não concluir” de Rogério Haesbaert4 – traremos as impressões e inquietudes durante o

4 Em muitas de suas escritas o geógrafo Rogério Haesbaert prefere terminar seu texto com a nomenclatura “Para

não concluir”.

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estudo e construção desta pesquisa; acrescentaremos informações com relação a pesquisa de

campo, como comentários extras de moradores que as perguntas do formulário não

conseguiram abarcar, mas que são pertinentes a pesquisa; visões pessoais quanto a demais

aspectos sociais existentes na Comunidade do Maruim e ainda mostraremos o projeto atual

da Prefeitura do Natal em relação a construção do denominado “Residencial Maruim”, local

para onde as famílias daquela Comunidade serão realocadas.

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2 A CIDADE, O TERRITÓRIO, A IDENTIDADE E AS DINÂMICAS TERRITORIAIS

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2.1 A CIDADE COMO LÓCUS DAS COMUNIDADES

Antes de começar tecer quaisquer comentários sobre determinada temática urbana, faz-

se necessário conceituar o que se entende por Cidade; quais os atores sociais presentes nela; o

que a mesma carrega em si, levando-se em conta as contradições e/ou coerências. De fronte a

isso, Souza (2005, p. 28) diz que:

[…] uma cidade é um local onde pessoas se organizam e interagem com base em interesses e valores os mais diversos, formando grupos de afinidade e de interesse,

menos ou mais bem definidos territorialmente com base na identificação entre certos

recursos cobiçados e o espaço, ou na base de identidades territoriais que os

indivíduos buscam manter e preservar […]

A Cidade, acima conceituada, abrange muitas relações cotidianas do homem no espaço

geográfico. Em nosso caso, o espaço da Cidade suscitará toda a discussão da pesquisa, pois é

nela que ocorrem os conflitos que serão abordados circunstancialmente. Algo bastante

interessante descrito pelo autor e que ocasionará comentários posteriores nesse trabalho, é o

fato da Cidade ser também um lugar de formação de identidade territorial, onde as pessoas

buscam preservá-la e manter relações por muito tempo. Se valendo de outra definição sobre

Cidade, Braga e Carvalho (2004, p. 2) relatam que:

[...] a cidade, ao mesmo tempo em que favorece o processo civilizatório, pois demanda, na difícil tarefa de construir espaços amigáveis, relações sociais solidárias,

exige uma ação social cada vez mais sofisticada, em que os conflitos possam ser

resolvidos progressivamente de forma mais democrática, mais justa, mais rica,

sobretudo culturalmente, mais sadia e sustentável.

É importante destacar um aspecto novo mostrado no conceito de Braga e Carvalho,

pois trazem à tona a questão dos conflitos existentes nas cidades, tais acontecimentos podem

surgir das mais diferentes formas e por diferentes setores da sociedade, visto que a dinâmica

do espaço na cidade ocorre de forma mais rápida e constante que no campo. De posse dessa

situação, Corrêa (1997, p. 171) descreve que:

[a dinâmica da cidade] trata-se de um espaço complexo, simultaneamente

fragmentado e articulado, reflexo e condição social, campo simbólico e campo de

lutas. Sua complexidade torna-se maior em razão da poderosa inércia que suas

formas possuem [...].

É sabido que, quanto maior for a cidade ou núcleo urbano, maior será sua

complexidade, fragmentação e articulação do espaço, visto que conforme Corrêa (1997),

certas transformações nas cidades são, em grande parte, condicionadas por sua dimensão

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demográfica. Algumas transformações virão a surgir em decorrência do aumento populacional

de determinada cidade, sendo importante observar, no entanto, cada singularidade inerente a

dado lugar, seja pelo contexto histórico urbano ou regional mais consolidado ou pela inserção

mais rápida aos processos urbano-capitalistas. Natal, no Rio Grande do Norte, considerada

uma Capital Regional nível 2A5 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

passa por várias transformações inerentes ao recorrente aumento populacional ao longo dos

anos. De acordo com Corrêa (1997), a descentralização e seu impacto no núcleo central, a

ratificação de setores residenciais seletivos, a “explosão” da periferia popular e os novos

territórios que surgem, são as principais transformações que ocorrem nas cidades em

constante crescimento.

Entre as transformações elencadas por Corrêa, as mais pertinentes para a construção

dessa pesquisa são as questões ligadas à afirmação e segregação residencial e o vertiginoso

crescimento da periferia popular (formada por comunidades próximas ou afastadas das áreas

centrais). Esses fatos são discutidos por Souza (2005, p 82), onde argumenta que:

[Os] dois grandes conjuntos de problemas, ou duas grandes problemáticas,

associam-se fortemente às grandes cidades: a da pobreza e a da segregação

residencial. A pobreza, obviamente, nada parece ter de típica ou especificamente

urbano, à primeira vista [...] Contudo, a pobreza urbana se reveste de

peculiaridades, tanto por conta de suas formas e expressão espacial características

(favelas, periferias pobres, áreas de obsolescência), quanto por causa das estratégias

de sobrevivência, legais e ilegais, que a elas se vinculam [...]

Além da pobreza está atrelada ao aparecimento de favelas e periferias, a segregação

residencial também está diretamente ligada ao seu surgimento, de modo que, segundo Souza

(2005, p. 83-84):

A segregação residencial é um fenômeno urbano, e da grande cidade muito mais que

das cidades pequenas [...] é um resultado de vários fatores, os quais, entre si, são

altamente problemáticos: da pobreza (e do racismo...) ao papel do Estado na criação

de disparidades espaciais em matéria de infra-estrutura e no favorecimento dos

moradores da elite [...]

Todas estas questões apresentadas pelos autores citados, contribuem para nos

esclarecer algumas nuanças presentes em uma cidade grande ou em uma metrópole, pois cada

5 [As capitais regionais] como as metrópoles, também se relacionam com o estrato superior da rede urbana. Com

capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles, têm área de influência de âmbito

regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por grande número de municípios. [...]

este nível [...] tem três subdivisões [A, B, C]. O primeiro grupo [onde Natal se enquadra] inclui as capitais

estaduais não classificadas no nível metropolitano e Campinas. (IBGE, 2008).

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vez mais cidades brasileiras tendem a passar por transformações inerentes ao crescimento

urbano acelerado e a falta de planejamento.

2.2 O TERRITÓRIO E A IDENTIDADE

Durante muitos anos a temática sobre “território” foi negligenciada pelas Ciências

Sociais, as quais deveriam deter total domínio acerca daquele conceito, uma vez estudam o

homem e suas múltiplas espacialidades na natureza. Aquelas ciências começaram a se

apropriar dos conceitos de território e territorialidade a partir da década de 1960 nas escritas

dos sociólogos Lyman e Scott. Na Ciência Geográfica, a primeira grande obra que tratava

especificamente sobre o território foi escrita por Torsten Malmberg em 19806, denominada de

Territorialidade Humana, que embora tenha recebido diversas críticas por ter fundamentação

teórica de cunho behaviorista, se tornou uma obra de referência para a Geografia e estreitou

os laços de comunicações entre as demais ciências da área social, fato até então pouco

difundido (HAESBAERT, 2004, p. 36).

Por ser um conceito amplo, o território pode incorporar diferentes significados a

depender da ciência que o estude, assim, o que é dado mais foco na Geografia, pode passar

despercebido na Sociologia ou na Psicologia, por exemplos. Na nossa pesquisa, focalizamos o

estudo do Território a partir do viés Geográfico e para um melhor entendimento delimitamos

suas definições de acordo com as obras do geógrafo brasileiro Rogério Haesbaert, no entanto,

também nos valeremos de auxílios de outros pesquisadores.

Para Haesbaert (2004, p. 40), três dimensões ajudam a definir o território, a dimensão

político-jurídica, a econômica e a simbólico-cultural. As primeiras dimensões se identificam

quanto as suas ideologias material-concreta (o território como interesse e exercício do poder),

já a última tem caráter subjetivo, onde o território é visto como produto da

apropriação/valorização simbólica, algo que não se ver apenas se sente, o que também é

conhecido por “Identidade Territorial”. Na maioria das vezes, um só território pode engendrar

todas essas dimensões em sua composição, seja por imposição dos agentes hegemônicos ou

pelo contexto histórico de formação e consolidação do território dos hegemonizados, acerca

disso Haesbaert (1997) conclui que o território abarca:

[...] sempre, ao mesmo tempo, mas em diferentes graus de correspondência e

intensidade, uma dimensão simbólico-cultural, através de uma identidade territorial

atribuída pelos grupos sociais como forma de „controle simbólico‟ sobre o espaço

6 Jean Gottman já havia escrito sobre a temática do território nos anos de 1952, 1973 e 1975, no entanto, foram

contribuições pontuais, sem grandes aprofundamentos. (HAESBAERT, 2004).

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onde vivem e uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar: a

apropriação e ordenação do espaço como forma de domínio e disciplinarização dos

indivíduos. (HAESBAERT, 1997, p. 42).

Na visão de Haesbaert, por menor que sejam as interações, as dimensões do território

nunca se manifestam completamente separadas uma da outra, dessa forma, sempre há um

pouco de cada dimensão no universo da outra. Essa definição é apoiada por Di Méo (1998

apud COELHO NETO, 2013, p. 46) quando fala que a edificação do território:

[...] combina as dimensões concretas, materiais, aquelas dos objetos e dos espaços,

aquelas das práticas e das experiências sociais, mas também as dimensões ideais das

representações (ideias, imagens, símbolos) e dos poderes. Acrescentamos que esses

diferentes registros encontram seu princípio unificador e sua coerência no sentido que os indivíduos conferem a sua existência terrestre, através do espaço que eles se

apropriam e do qual eles fazem um valor existencial central

Nesse sentido, observamos a presença da prática do “poder” – agora não associado

somente ao poder político – em todas as dimensões que um território pode tomar, deste modo,

seja num sentido mais concreto de “dominação” ou de sentido mais simbólico de

“apropriação”, as relações de poder entram em cena. Os processos de “apropriação” e

“dominação” são distinguidos por Henri Lefebvre, onde descreve que o primeiro é muito mais

simbólico e impregnado das marcas do “vivido”, do valor sentimental de uso, já o segundo é

mais funcional, concreto e atrelado ao valor de troca. (LEFEBVRE, 1986, p. 411-412 apud

HAESBAERT, 2005, p. 6774-6775). Desta forma, podemos inferir que o território é

desenvolvido “a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material

das relações econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais

estritamente cultural” (HAESBAERT, 2004, p.79).

É exatamente nessa direção que a presente pesquisa encontra seu principal problema a

ser destrinchado, pois, no território da Comunidade do Maruim, objeto de estudo central desta

monografia, reside atualmente cerca de 700 pessoas que desde a formação da Comunidade,

datada da década de 1920, nasceram, cresceram e viram centenas de famílias se instalarem na

localidade ao longo do tempo. Além disso, muitos moradores retiram seus sustentos através

da pesca oriunda do Rio Potengi que fica às margens de suas casas, fato que contribui

substancialmente para manter a ligação dos mesmos ao ambiente no qual ainda vivem. A

partir desse fato, entendemos que o território representa para os habitantes desta Comunidade

mais que um espaço de terra, um abrigo para se proteger das chuvas, ou um “ganha-pão”, o

território é marcado por memórias, símbolos e heranças do passado. Desta forma constatamos

a presença de uma proeminente “Identidade Territorial”. No entanto, visando o crescimento

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econômico do Estado do Rio Grande do Norte, a Prefeitura do Natal propôs a desapropriação

da Comunidade do Maruim em contrapartida ao aumento na área do Porto da cidade, fato que

coloca em evidência um Conflito Fundiário Urbano de difícil resolução, uma vez que, tanto o

Porto quanto a Comunidade têm seus direitos pela terra e por habitação garantidos por leis.

Nesse contexto, voltamos a nos referir a Haesbaert e sua discussão acerca das dimensões que

um mesmo território pode assumir. Em nosso caso, a problemática apresentada nos remete às

dimensões “simbólico-cultural” e “político-disciplinar”, onde a primeira diz respeito ao

“controle simbólico” dos grupos sociais ao espaço onde vivem a partir da sua Identidade

Territorial (Comunidade do Maruim) e a segunda refere-se ao exercício do poder político

(Prefeitura) para o controle e delimitação do espaço e de seus indivíduos através da

desapropriação da já referida Comunidade.

Conforme podemos perceber, a temática da identidade aparece em nosso trabalho pelo

olhar geográfico, ou seja, como Identidade Territorial, a qual é compreendida como a

identidade estabelecida em sua relação com o território, pois conforme Haesbaert (1999, p.

179) “as identidades só são territoriais quando sua estruturação depende da apropriação

simbólica no/com o território”.

Os geógrafos franceses Joel Bonnemaison e Luc Cambrèzy concedem atenção especial

ao estudo da dimensão simbólica do território. Para eles, o território é “o lugar fundador das

identidades locais e a mola secreta de sua sobrevivência” (BONNEMAISON; CAMBRÈZY,

1996, p. 9 apud MORAIS, 2008, p. 34). Aqueles geógrafos acreditam que todo grupo de

pessoas tem indispensável necessidade de se relacionar com o lugar os quais vivem;

acrescentam que o “poder do laço territorial revela que o espaço é investido de valores não

apenas materiais, mas também éticos, espirituais, simbólicos, e afetivos” e finalizam dizendo

que o território é, consequentemente, “um construtor de identidade, talvez o mais eficaz de

todos”. (BONNEMAISON; CAMBRÈZY, 1996, p. 10-14 apud HAESBAERT, 2004, p. 72-

73, grifo nosso). Nesse sentido, observamos a articulação entre o poder simbólico, a

identidade e o território. Tal questão é elucidada por Haesbaert (1997), o qual diz que:

[...] esse poder simbólico, ao se manifestar pode fazer uso de elementos espaciais,

representações ou símbolos, constituindo assim uma identidade territorial, ou seja,

um conjunto concatenado de representações socioespaciais que dão ou reconhecem

uma certa homogeneidade em relação ao espaço ao qual se referem, atribuindo

coesão e força (simbólica) ao grupo que ali vive e que com ele se identifica.

(HAESBAERT, 1997, p. 50, grifo nosso).

Podemos inferir, então, que é a partir da ação do poder simbólico atribuído histórico e

culturalmente com o território, de determinada população, que surge a Identidade Territorial,

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que por sua vez, se revela como a principal “arma” dos hegemonizados frente ao poder

político dos agentes hegemônicos.

As Identidades Territoriais consolidadas por um grupo de pessoas que compartilham

de um mesmo território, se apresentam tanto nas memórias construídas no passado, quanto

nos dilemas sociais contemporâneos. Para confirmar esse comentário, Haesbaert (2007a apud

MORAIS, 2008, p. 36) relata que:

A construção das identidades territoriais possui duas dimensões, uma ancorada na

memória coletiva, construída em torno do passado para confirmar uma diferenciação

e construir, com maior sucesso, uma identidade. E outra ancorada nos referenciais

espaciais, tanto do passado como do presente que podem ter várias origens.

Os referenciais espaciais que o autor fala muda de acordo com cada território

estudado, desta forma, tais referenciais podem estar ligados à existência de elementos da

natureza como: um rio, uma praia, um parque ecológico e/ou também pela presença de

conjunturas que facilitem a vida dos habitantes do lugar, como o acesso mais rápido a

serviços públicos e privados essenciais, a exemplos de escolas, hospitais, delegacias e meios

de transporte. Para reforçar o entendimento da temática sobre a Identidade Territorial atrelada

a memória coletiva, acrescentamos o que explana Morais (2008, p. 36), onde diz que:

A identidade territorial é construída valendo-se do reconhecimento de alguma

origem comum, ou de características que são partilhadas com [outras] pessoas, ou

ainda, com base em um mesmo ideal. O que significa dizer que o passado

transforma-se em uma narrativa não fixa e [influenciada] pelos interesses do

presente [...].

Vale destacar que, para consolidação de uma Identidade pelo território, os

“protagonistas” guardam em suas memórias coletivas, fatos importantes que reafirmam o

apego ao território ao longo do tempo, esses fatos arquivados na memória, manifesta o que Di

Méo (1998 apud Morais 2008, p. 37) chama de “ancestralidade da identidade” e que

interpretamos como algo que passa de geração a geração e que continua sendo lembrado nos

dias atuais, servindo para reforçar a identificação coletiva com o território. Di Méo (1998

apud Morais 2008, p. 37) reflete acerca da importância da coletividade em relação à produção

do território dizendo que “[...] não apenas as experiências comuns vividas em um passado

fundam a coletividade como entidade [social e territorial], mas também, o fato da coletividade

se esforçando em produzir um passado comum e, freqüentemente, um território”.

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2.3 AS DINÂMICAS TERRITORIAIS DE TERRITORIALIZAÇÃO,

DESTERRITORIALIZAÇÃO E RETERRITORIALIZAÇÃO (TDR).

Para anteceder a discussão a cerca das dinâmicas territoriais, devemos entender o

papel da “Territorialidade” nesse contexto. De fronte a isso, utilizando-se de uma visão

otimista, Haesbaert (2007b, p. 7) diz que a Territorialidade se torna mais ampla que o

território, uma vez que, “a todo território corresponde uma territorialidade, mas nem toda

territorialidade implica na existência de um território”, com isso, enquanto o Território

necessita de uma base material, concreta, a Territorialidade pressupõe um “[...] referencial

territorial (simbólico) para a construção de um território [...]” (HAESBAERT, 2007b, p. 7).

Isso significa dizer que a Territorialidade pode existir no imaginário de um grupo social,

mesmo que um território não exista de fato, como por exemplo, com os Judeus e a “Terra

Prometida”. A partir disso, podemos confirmar a força que a Territorialidade exerce sobre

determinado estrato da população e constatar sua importância para nossa pesquisa.

Como forma de complementar o entendimento sobre o tema, Saquet (2007, p. 127)

infere que:

A territorialidade é o acontecer de todas as atividades cotidianas, seja no espaço do

trabalho, do lazer, da igreja, da família, da escola etc., resultado e determinante do

processo de produção de cada território, de cada lugar; é múltipla, e por isso, os territórios também o são, revelando a complexidade social e, ao mesmo tempo, as

relações de dominação de indivíduos ou grupos sociais com uma parcela do espaço

geográfico, outros indivíduos, objetos, relações [...].

Entendemos, portanto, que as práticas sociais cotidianas de utilização e produção do

território se efetivam a partir da proclamação de uma territorialidade, onde a mesma é inerente

à formação e consolidação dos indivíduos e dos grupos sociais transformadores do território.

É ancorado por essa definição que surge a discussão sobre as dinâmicas territoriais as quais

suas ideologias se apresentam na maioria – ou talvez em todos – dos territórios da atualidade.

A partir do avanço da globalização se acentuaram as relações de poder no campo

econômico, político e simbólico entre a sociedade e o espaço, com isso, o estudo das

dinâmicas territoriais tem sido fundamental para interpretar as transformações que acontecem

nos territórios ao redor do mundo, uma vez que, “O território [...] pode ser caracterizado a

partir da indissociabilidade entre a prevalência de um tipo de combinação do movimento de

territorialização-desterritorialização-reterritorialização (processos) e suas respectivas

territorialidades (práticas)” (DAL POZZO, 2012, p.12). Portanto, simplificando o

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entendimento acerca das dinâmicas da (TDR) temos que “a criação de territórios seria

representada pela Territorialização, a sua destruição (por mais que seja temporária) pela

Desterritorialização e a sua recriação pelos processos de Reterritorialização”. (CHELOTTI,

2013, p. 5).

O geógrafo brasileiro Roni Blume, resume o entendimento sobre a temática da

Territorialização (T) conforme as acepções feitas por Claude Raffestin no livro “Por uma

Geografia do poder” de 1993. Raffestin apoia a ideia de que a dinâmica da Territorialização

ocorre de duas maneiras, de forma concreta – quando os limites (do território) são

representados e efetivados – ou abstratamente, quando os mesmos são apenas idealizados

(RAFFESTIN, 1993, apud BLUME, 2004). De posse disso “a territorialização pode ser

compreendida através da maneira pela qual o espaço passa pela gênese da apropriação para se

transformar em território, através da ação” (BLUME, 2004, p. 155), e neste sentido, “a

„apropriação‟ cria uma ligação entre o executante e o espaço, formalizando o domínio”

(BLUME, 2004, p. 155). Desta maneira:

A apropriação condiciona a territorialização, sendo esta configurada a partir das

transformações determinadas pela comunidade, na tentativa de generalizar sobre o

espaço a sua permanência. Desse modo, o ato de efetivar a permanência deve visar

além da reprodução sob determinado território, a sua posse. (BLUME, 2004, p.156,

grifo nosso).

Assim, podemos depreender que a Comunidade exerce certo tipo de “Poder”, pois se

apropria (toma posse) de determinado Espaço e a partir dele constrói um Território. Diante

disso, Haesbaert (2002, p. 45) aduz que a Territorialização é:

O conjunto das múltiplas formas de construção/apropriação (concreta e/ou simbólica) do espaço social, em sua interação com elementos como o poder

(político/disciplinar), os interesses econômicos, as necessidades ecológicas e o

desejo/a subjetividade.

O Poder acrescentado por Haesbaert é o exercido pelo Estado, o qual é apontado por

Raffestin como o poder mais fácil de visualizar, uma vez que, se apresenta de forma explícita,

tornando mais simples sua identificação. Tal Poder, com inicial maiúscula, “[...] se manifesta

por intermédio dos aparelhos complexos que encerram o território, controlam a população

e dominam recursos” (RAFFESTIN, 1993, p. 52, grifo nosso). No entanto, “como

consequência [...] inspira a desconfiança pela própria ameaça que representa” (RAFFESTIN,

1993, p. 52). Compreendemos, então, que tal desconfiança provém dos agentes

hegemonizados – já citados por nós anteriormente – em contrapartida as ações de controle e

domínio dos recursos nos territórios por parte do Estado (agente hegemônico). Aparece aí o

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poder (nome comum) com inicial minúscula, citado por Raffestin. Este poder está presente em

todos os lugares, em cada relação, na curva de cada ação e vem de todos os lugares, é aquele

poder que não se ver, é astuto, ou como prefere Raffestin é insidioso. Haesbaert (2004, p.198)

fala sobre a ambiguidade do papel reterritorializador ou desterritorializador do Estado dizendo

que o mesmo “carrega sempre, indissociavelmente, o papel destruidor de territorialidades

previamente existentes, mais diversificadas, e a fundação de novas, em torno de um padrão

político-administrativo mais universalizante”. Nesse caminho, Haesbaert continua a discorrer

sobre o poder e as dinâmicas territoriais, para ele:

[...] Se territorializar-se envolve sempre uma relação de poder, ao mesmo tempo

concreto e simbólico, e uma relação de poder mediada pelo espaço, ou seja, um

controlar o espaço e, através deste controle, um controlar de processos sociais, é

evidente que, como toda relação de poder, a territorialização é desigualmente distribuída entre seus sujeitos e/ou classes sociais e, como tal, haverá sempre, lado a

lado, ganhadores e perdedores, controladores e controlados, territorializados que

desterritorializam por uma reterritorialização sob seu comando e desterritorializados

em busca de uma outra reterritorialização, de resistência e, portanto, distinta daquela

imposta pelos seus desterritorializadores. Esta constatação, muito mais do que um

mero jogo de palavras, é extremamente importante, pois implica identificar e colocar

em primeiro plano os sujeitos da des-re-territorialização, ou seja, quem des-

territorializa quem e com que objetivos. Permite também perceber o sentido

relacional desses processos, mergulhados em teias múltiplas onde se conjugam

permanentemente distintos pontos de vista e ações que promovem aquilo que

podemos chamar de territorializações desterritorializantes e desterritorializações

reterritorializadoras (HAESBAERT, 2004, p. 259, grifo nosso).

Inferimos que até mesmo para efetivar uma territorialização as relações de poder estão

presentes, colocando em jogo os agentes hegemônicos “versus” os agentes hegemonizados.

As diferenças entre esses agentes estão visíveis quando nos detemos a enxergar quem

realmente controla determinado território. No nosso caso – o estudo sobre uma Comunidade a

beira de sua desapropriação (agente hegemonizado) – se configura um ótimo exemplo dessa

discussão, tendo em vista sua posição como “objeto” controlado pelo poder do Estado (agente

hegemônico).

Para ajudar na compreensão dessa problemática acerca dos territórios dominados

como expressão da territorialização desterritorializadora a qual nosso objeto de estudo central

está mergulhada, Dal Pozzo (2012, p.10) simplifica que tal expressão é uma:

Combinação processual em que grupos ou classes sociais, de forma induzida, submetem-se a um precário controle sobre o território e, portanto, tendem a estar

numa condição de subalternidade frente aos territórios dominantes. Além disso,

assume-se, nesses territórios, o risco de desterritorialização como perda das

condições materiais [ou identitárias] do território e/ou indução a um processo de

circunscrição territorial mais acentuado remetendo-se, portanto, às noções de

inclusão social precária ou de segregação socioespacial, impostas por uma

correlação desigual de forças entre dominantes e dominados.

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Essas considerações enriquecem o conceito de que as relações que se estabelecem num

território dominado pelo poder concreto (poder hegemônico) são baseadas no que Raffestin

aponta como relação dissimétrica, a qual ocorre quando “favorece o crescimento de uma

estrutura em detrimento de outra e, num extremo, a destruição de uma estrutura por outra”

(RAFFESTIN, 1993, p.36). Resumimos, então, que aquelas relações “tendem a favorecer o

desenvolvimento dos territórios dominantes (pela ênfase ao reconhecimento de suas próprias

necessidades) em detrimento dos territórios dominados” (DAL POZZO, 2012, p. 59). Essa

relação de dominância do poder concreto frente ao poder simbólico levanta o debate acerca da

dinâmica da Desterritorialização (D).

Em seus estudos em relação à dinâmica territorial da Desterritorialização (D), Rogério

Haesbaert, por vezes, alista proposições sobre o tema como forma de simplificar o

entendimento do leitor. Em Haesbaert (2002), são enumeradas cinco teorias em relação àquela

dinâmica do território, para o autor, dependendo da ênfase que damos a determinado aspecto,

temos uma “Desterritorialização baseada numa leitura econômica (deslocalização),

cartográfica (superação das distâncias), “técnico-informacional” (desmaterialização das

conexões), política (superação das fronteiras políticas) e cultural (desenraizamento simbólico-

cultural)” (HAESBAERT, 2002, p. 132). Em resumo, o mesmo complementa o raciocínio

dizendo que:

Na verdade, parece claro, são processos concomitantes: a economia se multilocaliza,

tentando superar o entrave distância, na medida em que se difundem conexões

instantâneas que relativizam o controle físico das fronteiras políticas, promovendo,

assim, um certo desenraizamento das pessoas em relação aos seus espaços imediatos

de vida. Mas o que se vê, na realidade, são relações muito complexas. [...] A desterritorialização que ocorre numa escala geográfica geralmente implica uma

reterritorialização em outra [...] (HAESBAERT, 2002, p. 132-133).

Induzimos que a Desterritorialização pode apresentar vertentes diferenciadas a

depender do estudo que faremos acerca do território, dado que a realidade socioespacial da

contemporaneidade se mostra um tanto complexa, pois num mesmo território podemos situar

distintas situações e imbróglios com difíceis soluções.

Para nosso estudo a respeito de uma Comunidade dotada de simbolismos, adquiridos

ao longo dos anos coletivamente, a visão culturalista da Desterritorialização apontada por

Haesbaert (2002) é a que nos responde com maior rigor o que estamos propondo nesta

pesquisa. Para aquele autor:

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[...] uma desterritorialização culturalista [é aquela] percebida a partir de uma leitura

do território como fonte de identificação cultural, referência simbólica que perde

sentido e se transforma em um “não-lugar”. Estes “não-territórios”, culturalmente

falando, perdem o sentido/o valor de espaços aglutinadores de identidades, na

medida em que as pessoas não mais se identificam simbólica e afetivamente com os

lugares em que vivem, ou se identificam com vários deles ao mesmo tempo e podem

mudar de referência espacial-identitária com relativa facilidade. (HAESBAERT,

2002, p. 131).

Nos últimos tempos, o principal agente causador da Desterritorialização culturalista

citada por Haesbaert é o fenômeno da globalização, a qual é centrada – primordialmente – em

interesses e práticas econômicas. Blume (2005, p.8) confirma esse argumento inferindo que

“A desterritorialização com sentido de exclusão sócio espacial se constitui em uma das mais

perversas imposições geradas pelo resultado da globalização econômica” e Haesbaert (2007c,

p.68) acrescenta dizendo que:

A Desterritorialização, [...] antes de significar desmaterialização, dissolução das

distâncias, deslocalização de firmas ou debilitação dos controles fronteiriços, é um

processo de exclusão social, ou melhor, de exclusão socioespacial. [...] Na sociedade

contemporânea, com toda sua diversidade, não resta dúvida de que o processo de

“exclusão”, ou melhor, de precarização socioespacial, promovido por um sistema econômico altamente concentrador, é o principal responsável pela

desterritorialização.

De posse desses argumentos, verificamos que o poder econômico estimulado pela

globalização vem dominando cada vez mais os processos socioespaciais ao redor do mundo,

modificando hábitos, imprimindo costumes e impondo transformações no espaço geográfico.

De fronte a tamanho poderio advindo das relações econômicas, sobretudo a pedido das

grandes corporações mundiais, as populações com poucos recursos ficam à margem da

sociedade e a única fonte de poder que conseguem recorrer é ao apego simbólico-afetivo com

o lugar/território os quais vivem. Não estamos querendo, com isso, minimizar a influência do

poder simbólico frente ao poder econômico, no entanto, se voltarmos a lembrar dos termos

“controladores” e “controlados” ou “agentes hegemônicos” e “agentes hegemonizados”, já

citados nessa pesquisa, conseguiremos entender qual exerce maior comando no “jogo” das

relações do cotidiano atual.

Medeiros (2007) fomenta nosso comentário e acrescenta um novo dado a esse

processo “globalizador-economicista” em que estamos envolvidos, expondo que:

De certa forma, o processo de desterritorialização apresenta um viés econômico

muito forte à medida que nega a reprodução de um determinado grupo em uma

porção específica do território, fazendo com que ocorra seu deslocamento e a

tentativa de re-territorialização (econômica, política, social, cultural) em outro

lugar. Em ambos os processos (desterritorialização/re-territorialização), forças

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sociais, econômicas, políticas atuam como elementos de manutenção, expulsão ou

atração (quando no processo de re-territorialização) de grupos envolvidos.

(MEDEIROS, 2007, p. 4, grifo nosso).

A autora apresenta ao nosso debate acerca das dinâmicas territoriais a

Reterritorialização (R), a qual também é proveniente das artimanhas que o poder econômico-

político exerce sobre os territórios.

Sabendo que a Reterritorialização tem como indicativo analítico a construção de novos

localismos, estes podem ocorrer pela “reapropriação política ou simbólica do espaço”

(HAESBAERT, 1997, p. 117) e conforme Blume (2004, p. 161), o processo de se

reterritorializar “além de promover o debate no sentido de reforçar certas práticas territoriais,

também surge como uma resistência ao processo desterritorializante”. Referente a essas

afirmações, Chelotti (2013, p. 18-19) fala que:

O processo de reterritorialização não é um processo simples, pois implica mudança

de vida, de lugar de morada, enfrentar o novo, o desconhecido. A (re)adaptação ao

novo lugar tende a ser mais difícil quando se trata de um lugar totalmente diferente

do de origem, tanto no que se refere à cultura quanto ao ambiente. Mas a

reterritorialização não modifica apenas a vidas das pessoas que estão chegando,

modifica também o novo lugar, na medida em que novas relações necessitam de ser

(re)estabelecidas, num constante processo de aprendizagem e descobertas.

Toda mudança na vida de qualquer pessoa gera consequências, essas podem ser boas

ou más, isso irá depender do que ocasionou tal mudança e com qual intenção. Em nossa

pesquisa, estamos estudando uma Comunidade que reside num mesmo local acerca de 90

anos e em virtude de um planejamento entre a Prefeitura do Natal e o Porto da Cidade a

mesma será desapropriada. Com isso, só em sabermos desse fato, já conseguiremos identificar

que a mudança pela qual aquela Comunidade passará não terá fácil desdobramento, uma vez

que, diversas nuanças estão presentes na discussão. Nessa temática sobre desapropriações

promovidas pelo poder político e o processo de Reterritorialização por um grupo social, Alves

(2011, p. 40) argumenta que:

[...] no caso das áreas pobres dos centros urbanos, objeto de intervenção do Estado

através de políticas e programas de infraestrutura, constata-se a ação sobre territórios

que passam a se fragmentar, no processo de desterritorialização. Por sua vez, a

intervenção com uma proposta de reterritorializar esse assentamento em outra base

espacial, tem expectativas de que haja uma acomodação, uma aceitação por parte

dos assentados. Entretanto, do lado deles há um movimento de reterritorialização.

Depreendemos dessa afirmação que, diante dos projetos de desapropriações, embora o

poder político se preocupe em disponibilizar uma nova base territorial para os assentados

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(Comunidade), muitas vezes, não é levado em conta o apego simbólico-afetivo dos habitantes

daquela localidade em relação ao território os quais vivem, e é exatamente por causa dessa

falta de entendimento daquele poder frente à Comunidade que ocasiona o retorno das pessoas

as bases territoriais as quais se identificavam, pois:

O encontro com uma nova realidade certamente provocará uma desterritorialização

dos processos simbólicos, quebrando muitas vezes as coleções organizadas pelos

sistemas culturais com novas ressignificações e redimensionamento dos objetos,

coisas e comportamentos e isso tudo, certamente, imbricado de conflitos. (MEDEIROS, 2007, p. 3).

A “quebra” nos processos simbólicos provocada pela Desterritorialização a um grupo

social (Comunidade) poderá ocasionar novas problemáticas, as quais atingirão – mesmo que

com forças diferenciadas – tanto os agentes desterritorializantes como os agentes

desterritorializados e certamente conferirá ao “novo” e ao “antigo” Território daquele grupo

social, novas significâncias, visto que:

[...] quando se observa que a reterritorialização ocorre pelo sentimento de

pertencimento a um lugar, pela reapropriação simbólica do espaço, ao se trabalhar

aspectos ligados com a identidade da comunidade. Esta confere ao espaço

geográfico uma propriedade que o distingue de outros territórios, sendo a distinção

proporcionada pelo entendimento das particularidades e pela valorização da

diversidade territorial. (ALVES, 2011, p. 40).

Medeiros (2007), explanando acerca de agricultores assentados na condição de

migrantes na Campanha Gaúcha, descreve um caminho com o qual entendemos que a

Comunidade do Maruim pode vir a passar quando de sua efetiva Desapropriação e posterior

Reterritorialização. Segundo a autora:

Ao partir, [do seu lugar de origem] este agricultor sem terra saiu de um universo que recebeu como herança ao nascer e que agora vai se confrontar com o que é lhe dado

neste momento. O que ocorre aqui é um duplo processo inserido neste ato de sair e

de chegar, pois, ao mesmo tempo em que expressa as ilusões daqueles que saem,

expressa também o sofrimento daqueles que atravessam a fronteira do desconhecido.

É partir de então que uma nova necessidade se impõe, ou seja, que é preciso mudar o

modo de ver o mundo interno e o mundo externo dando espaço para o surgimento

de novos valores que lhe orientarão e lhe permitirão organizar-se no novo ambiente.

Neste preciso momento é fundamental contar com a cooperação de amigos, parentes

o que lhes dará uma segurança para viver como grupo em terra desconhecida. O

viver em grupo lhes permitirá assim um enraizamento não tão doloroso quanto foi o

desenraizamento e assim a construção da sua identidade com o novo7. 7 Deveremos observar que nosso referente espacial se situa na Cidade e não no campo Rural, como no caso do

estudo de Medeiros. Também precisamos distinguir que o processo de reterritorialização mostrado pela autora é

pautado na migração dos agricultores e em nosso caso tratamos da desapropriação de uma Comunidade. Mesmo

apresentando semelhanças a respeito do processo de Reterritorialização a que estão/serão submetidos, se diferem

pelo contexto histórico que ambas construíram ao longo do tempo.

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As semelhanças entre os agricultores assentados da Campanha Gaúcha e os moradores

da Comunidade do Maruim vão além da questão da Reterritorialização. Mesmo ainda não

tendo sido efetivada as desapropriações da Comunidade do Maruim, ouvimos em nossa

pesquisa de campo comentários sobre as incertezas acerca do futuro que permeiam a vida dos

moradores daquela Comunidade e pudemos constatar que muitos se valem do apego coletivo

e familiar para encontrar coragem em enfrentar os dias vindouros.

Em Chelotti et. al (2012) encontramos uma conclusão para esse debate acerca das

dinâmicas de Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (TDR), de forma a

compreendermos sua dinamicidade nos territórios e sua contínua perpetuação doutrinária.

Os processos geográficos de T-D-R não são estanques, pelo contrário, configuram-

se como processos dinâmicos inerentes à própria sociedade. Assim, não quer dizer

que um trabalhador sem-terra assentado (reterritorializado) tenha encerrado esse

processo. [...] muitos desistem do lote e tornam-se novamente desterritorializados.

Por isso é que os processos geográficos de T-D-R não são encarados como uma

fórmula matemática, na qual o somatório de fatores gera um resultado definitivo.

(CHELOTTI et. al, 2012, p. 79).

Além de estarem suscetíveis a qualquer uma das dinâmicas territoriais apresentadas

nessa seção, os territórios existentes no mundo contemporâneo estão dominados por um

processo de inserção em redes, ou como fala Haesbaert, territórios-rede e suas multiplicidades

de territórios. Em nosso trabalho não se fez necessário adentrar nessa discussão, pois, o objeto

de estudo central de nossa pesquisa se encontra inserida prioritariamente nos debates acerca

de territórios simbólicos e suas problemáticas frente ao poder político-concreto amparado pelo

Estado, temáticas as quais foram amplamente explicadas anteriormente.

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3 A QUESTÃO HABITACIONAL NO BRASIL E SUAS PROBLEMÁTICAS

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3.1 INSERÇÃO DAS FAVELAS8 NO BRASIL – BREVES COMENTÁRIOS

Em busca de entendermos, mesmo que em breves comentários, como aconteceu a

inserção das favelas no Brasil, temos que partir da definição do que é considerado Favela.

Muitos autores assinalam como características que definem aquelas, “a precariedade das

construções, a ausência de infra-estrutura e as irregularidades relativas à legislação edilícia,

uso e parcelamento do solo” (CORDEIRO, 2009, p.35). Para o Plano Diretor de Natal (PDN),

Favela é definida como:

Assentamento habitacional com situação fundiária e urbanística, total ou

parcialmente ilegal e/ou irregular, com forte precariedade na infraestrutura e no

padrão de habitabilidade, e com população de renda familiar menor ou igual a 3

(três) salários mínimos, sendo considerada como consolidada a partir do segundo

ano de sua existência. (PREFEITURA... 2007).

Desde o Censo de 1950, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apura

dados referentes às Favelas no país, no entanto, o Instituto utiliza outra denominação

conhecida como Aglomerado Subnormal para apresentar informações sobre a população

residente e o número de domicílios ocupados em “favelas, invasões, grotas, baixadas,

comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros assentamentos irregulares”.

(IBGE, 2010).

Para Santos (1980, p. 24) “As favelas surgiram desde o início do século [XX], mas sua

proliferação se dá com particular pujança nos Núcleos urbanos metropolitanos no período que

vai do começo dos anos de 1930 até o final da década de 1950”. Todavia, foi a partir do início

da década de 1940 que seu desenvolvimento se deu com maior intensidade quando foi

promulgada a Lei do Inquilinato9. Na verdade, a conhecida Lei do Inquilinato é um decreto-

lei, e sua promulgação constituiu uma das principais causas da transformação das formas de

provisão habitacional no Brasil, onde a mesma desestimulou a produção rentista e

consequentemente transferiu para o Estado e para os trabalhadores a tarefa de construir suas

moradias (BONDUKI, 2002, p. 209). A criação do Decreto-lei do Inquilinato aconteceu:

8 Excepcionalmente nessa seção utilizaremos o termo “Favela” em vez de “Comunidade”, pois, na maioria das

bibliografias que serviram de base para nossa pesquisa, a primeira expressão é mais comumente empregada. 9 A Lei do Inquilinato foi o decreto-lei promulgado em 1942 durante o governo de Getúlio Vargas que

determinava o congelamento dos aluguéis residenciais de qualquer natureza como forma de prover maior

quantidade de moradias para as populações de baixa renda e os trabalhadores operários residentes nas maiores

cidades brasileiras. Aquele decreto visava também regulamentar as relações entre os locadores e inquilinos e a

criação de Institutos voltados a construções de habitações sociais. (BONDUKI, 2002).

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Em meio a uma das mais graves crises de moradia da história do país, provocando o

surgimento de formas alternativas de produção de moradias, baseadas no auto-

empreendimento em favelas, loteamentos periféricos e outros assentamentos

informais [...] além disso, no mesmo período consolidou-se a aceitação, pelo Estado

e pela população, de alternativas habitacionais precárias, ilegais e excluídas do

âmbito capitalista, como a favela e a casa própria em loteamentos clandestinos e

desprovidos de infraestrutura. Este processo ocorreu numa conjuntura dinâmica de

transformações políticas, urbanização, crescimento econômico, mobilização popular

e redesenho urbano. (BONDUKI, 2002, p. 209).

No meio dessas transformações, outras condições contribuíram consideravelmente

para “lotar” as cidades de formas habitacionais irregulares.

O crescimento demográfico – acentuado a partir da década de 1940 – e o êxodo rural

provocaram um intenso crescimento urbano, que, somados ao elevado preço da terra

urbanizada, levaram a parcela mais carente da população, incapaz de participar do

mercado formal de imóveis, a ocupar espaços urbanos vazios, públicos ou privados, na busca de estabelecer uma moradia. Esse processo descreve, de forma sucinta, a

formação dos assentamentos irregulares e das favelas, tão comuns no cenário urbano

brasileiro. (DANTAS, 2013, p. 22).

Por causa da crescente concentração populacional nas grandes cidades, as quais não

estavam preparadas para receber tão numerosos contingentes de pessoas num curto período de

tempo, ocasionou à falta de moradias e serviços urbanos. As periferias que começam a se

formar crescem sem infraestrutura adequada e com serviços como a rede de água, energia

elétrica e demais equipamentos públicos essenciais, funcionando de forma precária, com isso

os problemas de saúde pública apontaram em toda a parte.

Processos semelhantes aos descritos na citação acima também ocorreram na Cidade do

Natal, porém de maneira diferenciada do restante do país, os quais podemos verificá-los com

detalhes a partir da explicação de Almeida (2005, p. 106):

O papel desempenhado por Natal, na década de 1940 durante a II Guerra Mundial e

o rápido crescimento populacional conseqüente deste fato, representou um marco

deste momento que culminou na eclosão da primeira grande crise habitacional

representada pela escassez de moradias e elevações crescentes nos valores para

locação. Havia dessa forma, uma situação diferente da verificada no resto do país,

caracterizada pelo congelamento dos aluguéis através da Lei do Inquilinato (1942) e

pela crise dos materiais de construção que desapareceram do comércio e elevaram

de preço.

Mesmo passando por toda essa dificuldade apresentada, Natal seguiu na contramão

dos problemas e negligenciou a Lei do Inquilinato e os altos custos em materiais para

construir moradias usando a estratégia de incorporar os aumentos nos preços dos materiais aos

valores dos aluguéis e das vendas de imóveis, com isso, a partir de meados da década de 1940

intensificaram as construções de vilas operárias e militares na Cidade, empreendidas,

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sobretudo, pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP‟s), a partir daí ocorre um

crescimento da atividade imobiliária. Almeida (2005) continua a discorrer sobre o contexto

histórico em que Natal está inserida com relação à crise na habitação, de acordo com a autora:

A crise social e econômica se estendeu até os anos de 1950, sendo intensificada

pelas diversas secas ocorridas. Em fins dessa década uma outra crise de moradias eclodiu na cidade, resultando no surgimento das primeiras ocupações irregulares

com casas precárias no espaço urbano, características do que naquele momento já se

denominavam favelas. Percebe-se então, que da mesma forma que na cidade de São

Paulo da década de 1940, as favelas que surgiram na capital norte-rio-grandense

foram frutos de uma crise habitacional. (ALMEIDA, 2005, p. 106).

É valido destacar que encontramos em nossas pesquisas outras formas de ocupações

irregulares na Cidade do Natal antes mesmo da década citada pela autora, inclusive a Favela

do Maruim – nosso objeto de estudo – é datada do início da década de 1920. Para justificar

essa espécie de contradição em relação ao início da inserção das Favelas em Natal, Almeida

(2005, p. 106) infere que:

Apesar de existirem anteriormente em Natal, as habitações precárias só passaram a

serem consideradas um “problema urbano” – não somente sanitário – pelas

autoridades, em meados da década de 1950 e início da década de 1960, quando se

mostraram um empecilho ao projeto de industrialização proposto pela elite política

na época.

Percebemos então, que as Favelas na Cidade do Natal começaram a surgir quando da

ineficiência do poder público em prover habitações para uma grande quantidade de pessoas

que chegavam para residir no espaço urbano, vimos ainda que os mesmos processos de

precarização das moradias pelos quais muitos habitantes de Natal foram submetidos também

puderam ser verificados de formas semelhantes em outras cidades do país, uma vez que, a

conjuntura política na época corroborava para tal acontecimento.

Dando um salto em nosso debate, pois aqui queremos enfatizar apenas o processo

inicial que se deu no tocante ao surgimento das Favelas nas cidades brasileiras, observaremos

dados referentes à quantidade de pessoas que residem atualmente em áreas de ocupações

irregulares ou, conforme o IBGE, em Aglomerados Subnormais.

Em 1953 o IBGE fez um estudo com base no Censo de 1950, denominado “As Favelas

do Distrito Federal e o Censo Demográfico de 1950”, até então, o Rio de Janeiro era a capital

do país, esse foi o primeiro levantamento em que as Favelas aparecem em seus dados. O

termo Aglomerado Subnormal passou a ser utilizado no Censo de 1991, no entanto, foi a

partir do ultimo Censo realizado, em 2010, que as pesquisas dos diversos tipos de

aglomerados puderam ser analisadas de maneira mais eficaz em virtude das inovações

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tecnológicas e introdução de novos métodos de trabalho que aprimoraram a pesquisa, como

por exemplo, a utilização de imagens de satélite e GPS.

De acordo com os dados do Censo de 2010, o Brasil possui um total de 15 868

Aglomerados Subnormais, onde vivem 11 425 644 de pessoas. Essa quantidade de pessoas

equivale acerca de 6% do total da população do país. No entanto, se levarmos em conta que

para se constituir como um Aglomerado Subnormal é preciso ser caracterizado como “um

conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais” (IBGE, 2010), certamente

teremos no país uma quantidade muito maior de pessoas residindo em áreas irregulares, os

quais também necessitam de atenção por parte do poder público.

Em Natal, de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e

Urbanismo (SEMURB) atualizado no Anuário Natal de 2014, e em conformidade com a

nomenclatura proposta pelo IBGE, a Cidade possui 41 aglomerações subnormais das quais

estão distribuídas em suas quatro Zonas geográficas e onde residem 80 774 pessoas em 22

561 domicílios (IBGE, 2010). A Zona Oeste da Cidade é a região que concentra maior

quantidade de aglomerações subnormais, com um total de 16, no entanto, é na Zona Norte da

Cidade onde existe um maior número de pessoas residindo naquelas aglomerações, chegando

a um total de 31 686 habitantes. No geral, mais de 10% da população natalense vive em áreas

com algum tipo de irregularidade, fator que requer atenção do poder público na promoção de

uma gestão urbana que atenda aquelas localidades de forma eficaz. De posse disso, Castro

(2007, p.22) reflete que:

O processo de gestão urbana é fundamental para construção de uma política urbana e

habitacional e de ambiente saudável que iniba a ocupação de espaços como

assentamentos populares, construção nas encostas, áreas de risco, mananciais e áreas de preservação. É fundamental que os gestores urbanos utilizem o planejamento

urbano para buscar a habitabilidade urbana e o desenvolvimento local.

No mapa a seguir podemos visualizar os Aglomerados Subnormais presentes na

Cidade do Natal, bem como localizá-los em suas Zonas geográficas.

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Mapa 1 - Aglomerações Subnormais na Cidade do Natal.

Mapa 1 – Aglomerados subnormais na Cidade do Natal.

Fonte: Prefeitura Municipal do Natal e SEMURB (2014).

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3.2 DIREITO À MORADIA, HABITABILIDADE E HABITAÇÃO

Mesmo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, datado de 1948 e o

Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais de 1966 já tivessem

reconhecido o direito à moradia, no Brasil, esse direito só adquiriu força com a promulgação

da Constituição Federal de 1988. Desta feita, conforme o art. 6º da Constituição federal de

1988, retificada pela Emenda Constitucional nº 64 de 2010, são direitos sociais “a educação, a

saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados [...]”. (BRASIL, 1988,

grifo nosso).

Essa Lei Federal traz à tona diversos questionamentos acerca da questão do acesso à

moradia – aqui entendida como um lugar digno para morar com todas as infraestruturas

necessárias disponíveis – a todos os brasileiros sem distinção por nenhuma circunstância. Para

reforçar o que se entende por moradia digna, Fernandes (2003) por meio da Agenda Habitat

para os Municípios10

relata que:

[...] reconhecemos a obrigação dos Governos de permitir que as pessoas obtenham

um lar, protejam e melhorem suas moradias e bairros. Nós nos comprometemos com

a meta de melhorar as condições de vida e de trabalho em uma base igualitária e

sustentável, de forma que todos tenham moradias adequadas, que sejam sadias, seguras, acessíveis e a preços viáveis, que incluam serviços básicos, instalações e

áreas de lazer, e que estejam livres de qualquer tipo de discriminação no que se

refere à habitação ou à garantia legal da posse. Deveremos implementar e promover

esse objetivo em total conformidade com padrões de direitos humanos.

A incorporação do direito à moradia e dos princípios da política de desenvolvimento

urbano na Constituição significou um impulso decisivo para novas ações de qualificação e

ordenamento do território da cidade, pois com isso, os governos municipais passaram a tomar

iniciativas buscando criar instrumentos de gestão da política urbana a partir das referências do

texto constitucional (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2010). De acordo com Dantas (2013,

p.12):

A dimensão prestacional do direito à moradia, por seu turno, pressupõe uma atuação

positiva do Poder Público, no sentido de fornecer substrato normativo e material

para a concretização da norma. São exemplos de medidas de ordem normativa

adotadas pelo Estado: a edição do Estatuto da Cidade e dos Planos Diretores. Já as

prestações materiais abrangem desde financiamentos a juros subsidiados para a

aquisição de moradias, até a efetiva construção, pelo Poder Público, de habitações

populares.

10 A Agenda Habitat para os municípios foi proposta na Segunda Conferência Global para os Assentamentos

Humanos – Habitat II, realizada em junho de 1996 em Istambul. Onde o Brasil e mais 170 países discutiram

temas e propostas acerca da temática de moraria e desenvolvimento sustentável.

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A exemplo das prestações materiais citadas no comentário acima temos o Projeto

Minha Casa Minha Vida – PMCMV – do Governo Federal, instituído pela Lei nº 11.977/09,

que autoriza, entre outras benefícios, a concessão de subsídio econômico para facilitar a

aquisição, construção ou requalificação do imóvel residencial. Já em relação à construção de

habitações, nosso maior exemplo é o projeto de construção do Residencial Maruim, onde

detalharemos seu desenvolvimento nas considerações finais dessa pesquisa, pois faz parte do

nosso estudo.

O §1º da Constituição Federal quanto ao cumprimento de seu artigo 5º, prevê que as

normas de direto fundamental devem ser imediatamente aplicadas e cumpre ao Estado agir

com recursos à sua disposição, o que atribui a criação de medidas concretas para a efetivação

do direito à moradia. O não cumprimento desta norma pelo Estado, ou pelo menos seu

planejamento, no sentido de assegurar aquele direito, configura-se violação a direito

fundamental, sendo cabível tutela judicial, com a adoção de uma posição positiva pelo Poder

Judiciário. (DANTAS, 2013, p. 17-18). Concluindo essa discussão, Dantas (2013, p. 17) diz

que:

Do exposto, [...] a efetivação do direito a moradia, na sua dimensão positiva, deve ser constantemente buscada pelo Poder Público através de planejamentos

orçamentários estratégicos, que permitam a gradual concretização do direito, em

prazo razoável. Em isto não ocorrendo, estaria caracterizada uma omissão

inconstitucional dos órgãos estatais, merecedora de tutela judicial.

Com base nisso, verificamos através de estudos urbanos de algumas cidades

brasileiras, que o direito à moradia garantido pela constituição, não está sendo levado a sério

pela maioria dos gestores daquelas, uma vez que, encontramos diversos exemplos de cidades

que não contemplam projetos voltados às questões habitacionais e as que apresentam não o

fazem de maneira abrangente, limitando-se a criar conjuntos habitacionais em áreas

periféricas da cidade sem levar em conta as necessidades das pessoas de se relacionarem com

o núcleo urbano central onde seus trabalhos e ocupações estão localizados. Há, contudo,

cidades que começaram a ser preocupar com essa problemática, e desenvolvem projetos de

revitalização e/ou urbanização em Aglomerados Subnormais ou em áreas históricas centrais,

como é o caso de Natal e o Bairro da Ribeira, contemplado pelo Plano de Reabilitação de

Áreas Urbanas Centrais – PRAC – Ribeira do Ministério das Cidades.

O [PRAC-Ribeira] define áreas a serem reabilitadas e um conjunto de ações e

intervenções integradas, necessárias à requalificação dos espaços urbanos. Dentre os

principais objetivos do Programa destacam-se o estímulo e a consolidação da cultura

de reabilitação urbana e edilícia nas áreas urbanas centrais e a ocupação dos vazios

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urbanos e da recuperação do acervo edilício, preferencialmente para o uso

residencial, articulando esse uso a outras funções urbanas. (TINOCO; BENTES

SOBRINHA; TRIGUEIRO; 2008, p. 24).

São projetos como estes que podem ajudar as grandes cidades a resolver ou pelo

menos minimizar os problemas habitacionais decorrentes do inchaço populacional urbano e

concede às áreas esvaziadas do espaço urbano, novas significâncias.

No entanto, para se lograr êxito em programas habitacionais que promovem o direito à

moradia é necessário se atentar para uma questão muito importante, o princípio da

habitabilidade, uma vez que, é a partir do entendimento e comprometimento para com esse

princípio que aqueles programas podem se tornar eficazes.

Para o PDN (2007) o termo Habitabilidade11

refere-se a “qualidade da habitação

adequada ao uso humano, com salubridade, segurança e acessibilidade de serviços e

infraestrutura urbana”. De forma mais abrangente e se detendo a assentamentos humanos,

Fernandes (2003, p. 118-119), diz que:

A habitabilidade, um atributo importante da qualidade de vida, está intimamente

relacionada às condições espaciais, sociais e ambientais das edificações.

Particularmente no caso da habitação, os projetos devem ser ecológica e

culturalmente adequados, proporcionando aos moradores um ambiente de vida

saudável, habitável e sustentável [...] A habitabilidade das áreas edificadas é um

aspecto muito importante na qualidade de vida dos assentamentos humanos.

Qualidade de vida supõe a existência de atributos que permitem atender às

aspirações diversificadas e crescentes dos cidadãos que vão além da satisfação de necessidades básicas. A habitabilidade se refere às características espaciais, sociais e

ambientais, bem como às qualidades que contribuem exclusivamente para que as

pessoas tenham um sentimento pessoal e coletivo de bem-estar e um sentimento de

satisfação por residirem em um assentamento em particular. As aspirações em

relação à habitabilidade variam de lugar para lugar e evoluem e se alteram com o

tempo. Além disso, diferem de acordo com os diversos grupos populacionais que

compõem as comunidades.

Desta forma, entendemos que muito mais que apenas garantir um espaço com paredes

levantadas e cercadas por muros, os programas habitacionais devem garantir moradias

atreladas à aspectos qualitativos de bem-estar social e assim promover o princípio da

habitabilidade de maneira efetiva.

Como estamos tratando de provisão de moradias na Cidade, o conceito de

habitabilidade urbana, mais específico que o anterior, deve ser lembrado. Para tanto,

utilizamos a ideia de Bonduki (2002, apud COHEN, 2004, p. 27-28), o qual infere que:

11 O termo habitabilidade pode ser empregado como habitabilidade na unidade habitacional ou habitabilidade

urbana, ambos conceitos serão explicados nessa seção. (CASTRO, 2007).

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O conceito Habitabilidade Urbana parte do pressuposto de que habitação seria

entendida em seu sentido macro, conjugando-se ao direito à cidade, ou seja, de estar

inserida na malha urbana, baseada em sua relação com a rede de infra-estrutura e a

possibilidade de acesso aos equipamentos públicos. Este conceito diz respeito a

questão do pertencimento ao território urbano e da inclusão dentro de um amplo

contexto urbano. Por meio do desenvolvimento deste conceito, também poderia se

dar visibilidade ao pleno exercício de fruir, usufruir e construir um espaço com

qualidade saudável/habitável.

Nesse sentido, podemos identificar que no conceito de habitabilidade urbana a

população deve ser plenamente atendida pelos serviços de infraestrutura e equipamentos

urbanos, inclusão territorial e pertencimento a um espaço saudável.

Mais especificamente tratando de habitação, de acordo com o dicionário Houaiss da

língua portuguesa, aquele termo se refere ao: “ato ou efeito de habitar. [...] lugar ou casa onde

se habita; morada; vivenda. [...] (jur.) direito real que têm uma pessoa e sua família de ocupar

ou usar casa alheia [...]” (HOUAISS; VILLAR, 2009). Se detendo ao termo jurídico que o

dicionário traz, podemos intentar que a habitação, sugere um direito, o de ocupar ou tomar

posse de uma casa, essa definição se torna abrangente, pois leva em consideração diversos

fatores, sendo o mais óbvio, a falta da habitação e como consequência, a necessidade do

indivíduo em habitar-se.

O debate sobre a falta de habitações no país é bastante complexo, pois envolve toda

uma conjuntura histórica a qual explanaremos de forma resumida logo mais.

3.3 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL (HIS)

As primeiras referências que se tem acerca das habitações construídas visando o

interesse social no Brasil surgiram a partir do final do século XIX (1880), quando as

estruturas urbanas da época não conseguiram absorver o grande crescimento populacional que

fora proporcionado pela elevada quantidade de imigrantes que vieram ao país impulsionados

pela expansão das atividades agrícolas, especialmente a cafeicultura. Atrelado a isso, o

aparecimento de atividades tipicamente urbanas também fortaleceu o deslocamento de

pessoas para a Cidade, uma vez que, esta oferecia melhores condições de vida. Com isso, o

mercado de trabalho se expandiu e um grande contingente de pessoas passaram a habitar nas

cidades, no entanto, em péssimas condições higiene e com pouco saneamento básico.

(BONDUKI, 2002, p. 17).

Complementando esse entendimento Bonduki (2002, p. 20) fala que:

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Os problemas que mais preocupavam as autoridades eram os que agravavam as

condições higiênicas das habitações, dado que no final do século [XIX] foram

inúmeros os surtos epidêmicos que atingiram as cidades brasileiras. Essa questão

passou a receber tratamento prioritário do Estado e pode-se dizer que a ação estatal

sobre a habitação popular se origina e permanece na Primeira República voltada

quase que apenas para esse problema.

O problema higiênico-sanitário tornou-se o principal instrumento para interferência

estatal na sociedade, e dentro dessa problemática a questão habitacional tomou evidência,

pois, com a regulamentação do Código Sanitário em 1894 foram criadas propostas de

intervenções em habitações precárias com o intuito de melhorar as condições de vida de seus

moradores os quais eram preponderantemente operários. Neste momento a habitação tornou-

se “o embrião da legislação” (BONDUKI, 2002, p.33).

Dando continuidade ao contexto histórico das HIS no Brasil se valendo das escritas de

Almeida (2005 apud SACHS, 1999), vemos que:

Os saberes e técnicas higienistas regraram as intervenções no campo da habitação em geral até a década de 1930, quando, após a “Revolução de 30” a política do país

conferiu um papel de destaque às massas urbanas, inserindo a habitação popular na

estratégia de desenvolvimento nacional durante a Ditadura Vargas (1930/45).

A partir do período citado (década de 1930), a habitação passou a ser vista como

condição básica de reprodução de força de trabalho e, portanto, como fator econômico na

estratégia de industrialização do país assim como elemento de formação ideológica, política e

moral do trabalhador. (ALMEIDA, 2005 apud BONDUKI, 2002). A partir desse momento

passou a ser de responsabilidade do Estado o intento de garantir moradia digna aos

trabalhadores e com isso foi preciso ocorrer investimentos públicos e se valer da utilização de

fundos sociais específicos, resultando no fortalecimento de órgãos estatais encarregados da

produção ou financiamento de habitações, como os IAP‟s e a Fundação da Casa Popular

(FCP). (ALMEIDA, 2005).

Na década de 1940, o avanço em relação à provisão de habitações sociais por parte do

Estado se firmou quando foi promulgado o já citado Decreto-lei do Inquilinato, que congelou

os aluguéis das moradias para atender as demandas dos trabalhadores operários nas cidades

que precisavam de moradias próximas aos locais de trabalho, no entanto, devido a manobras

de locatários e forças políticas, ocorreu um agravamento na crise habitacional, pois o mercado

de locação desacelerou promovendo muitos despejos. As pessoas ora despejadas procuravam

os locais periféricos das cidades para se instalar devido a segregação residencial por parte dos

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mais abastados e com isso as cidades cresceram ainda mais e, por conseguinte, o número de

pessoas vivendo em favelas também.

Conforme Bonduki (2002) o final do governo de Vargas em 1945, resultou na

interrupção de um processo que caminhava para a criação de uma política habitacional

consolidada no país, uma vez que, dispunha de recursos e capacitação técnica através das

instituições voltadas as questões de moradia como exemplo os já citados IAP‟s. Conforme

Almeida (2005, p.18) a partir da década de 1950:

A intensificação da industrialização emanada pelo sonho de modernidade, representado pelo nacionalismo econômico e desenvolvimentista do governo

Juscelino Kubitschek, levou à criação de outros órgãos com o intuito de firmar uma

política habitacional no Brasil [...] incluindo uma subsecretaria para habitação e

favela [...]

Até 1964 nenhuma modificação significativa foi feita, no entanto, após o início de um

governo antipopulista ocorreu a extinção dos IAP‟s e a centralização da previdência no

Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), e a partir daí as atribuições das carteiras

prediais e da Fundação da Casa Popular foram transferidas para o Banco Nacional de

Habitação (BNH), órgão recém criado, que passou a produzir e financiar empreendimentos

imobiliários até o ano de 1986 quando foi extinto e deu lugar a Caixa Econômica Federal, que

hoje, além de cumprir os papéis que o BNH cumpria, tem diversas outras atribuições.

De acordo com Bonduki (2002), na década de 1980, programas habitacionais

alternativos foram desenvolvidos por algumas prefeituras, num momento em que se ampliou a

crise do Estado brasileiro e houve uma instabilidade do Sistema Financeiro da Habitação. De

fronte a isso, mesmo que de maneira lenta, começaram a surgir novas propostas de gestão

urbana calcadas na:

Defesa do desenvolvimento sustentável, baseado na participação comunitária e no

respeito ao meio ambiente, buscando romper a idéia de crescimento e progresso a

qualquer custo [...] A necessidade de enfrentar o desafio da cidade real, com projetos

de urbanização de assentamentos precários, o desenvolvimento de novas formas de gestão dos empreendimentos habitacionais, como a autogestão e a cogestao,

incorporando a parceria com organizações não-governamentais, a adoção de

critérios sociais nos financiamentos e a valorização da arquitetura nos projetos

habitacionais passaram a ser defendidas ao lado de medidas como a descentralização

das políticas habitacional e urbana, ampliando-se a participação dos municícios e

das organizações não-governamentais, e a revisão da legislação urbanística elitista.

(BONDUKI, 2002, p. 321-322).

Espelhado nessa nova forma do “fazer” urbano podemos inferir que estamos vivendo

uma nova fase na história da habitação brasileira, uma vez que, novas ideias de políticas

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urbanas foram formuladas e começam a aparecer nas cidades brasileiras. Contudo é “um

processo longo e demorado, que somente se consolidar-se-á depois que muitas experiências

ou práticas com outras perspectivas forem conhecidas, avaliadas e aperfeiçoadas”

(BONDUKI, 2002, p. 322).

3.3.1 Habitação de Interesse Social (HIS) na Cidade do Natal

Historicamente, a produção de habitações na Cidade do Natal ganhou força a partir da

Segunda Guerra Mundial, quando a cidade sediou a maior base americana fora dos Estados

Unidos. A participação no conflito acabou por atrair investimentos em infraestrutura e deu

início ao mercado de terras quando da criação do primeiro loteamento da cidade em 1946.

Com isso, Natal se expandiu em ritmo acelerado, onde como comparação temos que em 1950

a cidade possuía cerca de 10% da população do Estado, já no ano 2000 essa porcentagem

subiu para 25% e se mantêm nessa constância até hoje. (MORAES; VIVAS; BENTES

SOBRINHA, 2008 apud SILVA, 2003).

A década de 1940 é marcada pelo aparecimento dos primeiros assentamentos

informais e precários como o Passo da Pátria e a Comunidade de Mãe Luiza12

. Esses locais se

tornaram o abrigo de muitas pessoas que chegavam à cidade devido as secas que ocorriam no

interior do Estado e proporcionado pelo avanço da cidade em virtude do já comentado

contexto histórico atrelado a Segunda Guerra Mundial. Esse processo perdurou até início da

década de 1960, quando foi criado O BNH pelo Governo Federal e o processo de crescimento

imobiliário da cidade começou a se desenvolver, sobretudo pela incorporação de empresas de

construção civil a esse processo. (MORAES; VIVAS; BENTES SOBRINHA, 2008).

Outro momento importante para a habitação na Cidade do Natal se deu a partir da

década de 1980 quando o Estado passou a construir habitações em áreas periféricas da cidade.

Quanto a isso, Moraes; Vivas e Bentes Sobrinha (2008 apud SILVA, 2005) falam que:

A expansão habitacional ocorrida em Natal, notadamente a partir dos anos de 1980,

seguiu um modelo de urbanização periférica, primordialmente através da segregação

da população mais pobre em áreas específicas da cidade. A construção de conjuntos

habitacionais por parte do Estado e a abertura de loteamentos, na maioria ilegais,

consolidaram extensas áreas residenciais.

12 Nossa pesquisa mostra que anteriormente a essa data, por volta de 1920, deu-se a formação do que hoje é a

Comunidade do Maruim, a mesma pode ter sido a primeira forma de assentamento informal da Cidade.

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As áreas residenciais que o Estado fez nascer tinham diversas contradições, pois

existiam carências em serviços e infraestrutura como: escolas, transporte público, saneamento

básico, segurança, direito fundiário e habitacional, entre outros.

Dentro dessas implicações as pesquisas sobre a formação do mercado imobiliário em

Natal evidenciaram que nos últimos 60 anos a Cidade passou a apresentar taxas de

crescimento populacional cada vez maior. Na década de 1980 sua área já era considerada

100% urbanizada13

de acordo com órgãos oficiais o que dificultou a ação do Poder Público

em atendar uma demanda tão numerosa de pessoas que chegavam à Cidade.

No entanto, a partir de meados da década de 1990, com a revisão do PDN de 1984 os

assentamentos irregulares da cidade passaram a figurar como Áreas Especiais de Interesse

Social (AEIS). Embora que o PDN de 1984 já houvesse contemplado aquelas áreas sob outra

denominação, as atuais AEIS, aparece com novas definições e regulamentos para facilitar a

ação por parte do Estado em prover melhoria ou intervenções nos assentamentos.

Mais tarde, no período de elaboração do atual PDN, que compreendeu os anos de 2004

a 2007, ocorreu uma reformulação nas regulamentações das AEIS como contrapartida de

priorizar as dimensões social e urbanística das populações e assentamentos, articulando-as em

observância ao processo de identificação das áreas de pobreza predominantes na cidade.

Dessa forma, a metodologia enunciada tomou como base a produção do Mapa

Social como um instrumento focalizador da pobreza da cidade, através da definição

da Mancha de Interesse Social (MIS). No interior da [MIS], identificou as [AEIS],

ampliadas em seu conceito e delimitação, através da incorporação das Áreas de

Risco. (MORAIS; VIVA; BENTES SOBRINHA, 2008).

Desta maneira, tais conceitos foram discutidos e incorporados no PDN de 2007 e as

AEIS ficaram assim definidas:

Art. 22 - Áreas Especiais de Interesse Social [...] são aquelas situadas em terrenos

públicos ou particulares destinadas à produção, manutenção e recuperação de

habitações e/ou regularização do solo urbano e à produção de alimentos com vistas à

segurança alimentar e nutricional, tudo em consonância com a política de habitação de interesse social para o Município de Natal, e compreende:

I - terrenos ocupados por favelas, e/ou vilas, loteamentos irregulares e

assentamentos que, não possuindo as características das tipologias citadas,

evidenciam fragilidades quanto aos níveis de habitabilidade, destinando-se à

implantação de programas de urbanização e/ou regularização fundiária;

II - terrenos ocupados por assentamentos com famílias de renda predominante de até

3 (três) salários mínimos, que se encontram em área de implantação ou de influência

13 É valido destacar alguns estudos acadêmicos que mostram áreas na Cidade do Natal que ainda apresentam

características rurais no espaço urbano, tais como o modo de viver e o trabalho voltado à agricultura familiar

onde sua produção é voltada para o mercado local ou para subsistência.

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de empreendimentos de impacto econômico e submetidos a processos de valorização

imobiliária incompatíveis com as condições sócio-econômicas e culturais da

população residente;

III - terrenos com área mínima de 1.000 m2 (mil metros quadrados) destinados à

produção de alimentos de primeira necessidade voltada à população com renda

familiar predominante de até 3 (três) salários mínimos, com objetivo de garantir o

abastecimento destinado ao suprimento da cesta básica e ou da complementação

nutricional diária;

IV - glebas ou lotes urbanos, isolados ou contíguos, não edificados, subutilizados ou

não utilizados, com área superior a 400m² (quatrocentos metros quadrados),

necessários para a implantação de programas de habitação de interesse social.

V - os prédios desocupados ou subutilizados ou aqueles que possam causar risco ao

entorno pela sua condição de degradação, localizados em áreas centrais da cidade,

cujos projetos terão tratamento diferenciado, resguardando as características próprias

de cada imóvel e sua importância histórica. (PDN, 2007).

Quanto a Comunidade do Maruim, a mesma foi reconhecida com uma AEIS a partir

de 1984, quando a Lei 3.175/84 a instituiu como Área Especial de Recuperação Urbana

(AERU) e posteriormente incorporada às demais AEIS no PDN de 1994, a qual também se

encontrava inserida na Zona Especial Portuária (ZEP) de 1992.

No mapa a seguir poderemos visualizar as AEIS existentes na Cidade do Natal, no

entanto, em virtude de ter sido confeccionado em 2007, alguns dados podem estar

desatualizados dos atuais, contudo, é a única fonte de verificação dessas áreas até a próxima

atualização do PDN, previsto para ser publicado em 2016.

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Mapa 2 - Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS) na Cidade do Natal com destaque para a

Comunidade do Maruim.

Fonte: Prefeitura Municipal do Natal (2007).

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4 PORTO DE NATAL X COMUNIDADE DO MARUIM

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4.1 PORTO DE NATAL: HISTÓRIA E CONTEXTO ATUAL

Se valendo do documento oficial do Porto de Natal, o PDZ, o contexto histórico do

mesmo se deu da seguinte maneira:

O Porto de Natal, primeira instalação portuária potiguar, teve o seu projeto inicial

aprovado em 14 de dezembro de 1922, através de Decreto Presidencial. No entanto,

só dez anos depois, em 1932, o decreto de número 21.995, assinado pelo presidente

Getúlio Vargas, à frente do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do

Brasil, cria o Porto de Natal. No dia 21 de outubro desse mesmo ano o decreto é

publicado no Diário Oficial da União. De imediato começou a construção do Porto

de Natal. A obra foi gerenciada pelo engenheiro Hildebrando de Góis, que na época chefiava a extinta Inspetoria Fiscal dos Portos, Rios e Canais com sede no Rio de

Janeiro. O engenheiro Décio Fonseca foi o primeiro administrador do Porto de

Natal. (COMPANHIA... 2010).

Fotografia 3 - (A) e (B) Porto de Natal no início de sua operação.

Fonte: Prefeitura Municipal do Natal e SEMURB (2006).

A Lei municipal n° 4.069, de 21 de maio de 1992, institui a Zona Especial Portuária

(ZEP), referindo-se também a alterações nas prescrições gerais previstas no Plano Diretor de

1984, especificamente na área destacada. A ZEP é subdividida em duas áreas: subzona de

atividades portuárias e subzona de atividades múltiplas. Observemos o mapa a seguir:

(A) (B)

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Mapa 3 - Zona Especial Portuária (ZEP) da Cidade do Natal.

Fonte: Instrumentos do Ordenamento Urbano de Natal (2009).

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No que tange a administração portuária temos a CODERN como responsável por toda

a gerência e organização do mesmo. Atualmente aquela Companhia é responsável pela

administração dos Portos de Maceió, Areia Branca e do já citado Porto natalense. Conforme o

PDZ, as áreas de influência do Porto de Natal são constituídas:

Pelas instalações portuárias terrestres existentes na margem direita do Rio

Potengi, desde a Base Naval de Natal até o molhe leste, na interseção com o

arrecife de Natal, junto ao Forte dos Reis Magos, abrangendo todos os cais,

docas, pontes e píeres de atracação e de acostagem, armazéns, edificações em geral e vias internas de circulação rodoviária e ferroviária e ainda os terrenos ao

longo dessa faixa marginal e em suas adjacências pertencentes à União,

incorporadas ou não ao patrimônio do Porto de Natal ou sob sua guarda e

responsabilidade.

Pelos Serviços e Facilidades de proteção e acesso aquaviário, tais como áreas de

fundeio, bacias de evolução, canal de acesso e áreas adjacentes a esse até as

margens das instalações terrestres do porto organizado, conforme definido no

item [...] acima, existentes ou que venham a ser construídas e mantidas pela

Administração do porto ou por outro órgão do poder público. (COMPANHIA...

2010, p. 12-13).

Atualmente o Porto de Natal ganha importância por causa de sua localização

privilegiada próximo ao Continente Africano e Europeu. Com isso o fluxo de cargas neste

Porto tende a aumentar ao longo dos anos. Vejamos abaixo uma tabela informando o histórico

de movimentações de cargas no Porto entre os anos de 2008 a 201414

.

Tabela 1 - Histórico da movimentação geral de cargas no Porto de Natal 2008-2014 (em ton.).

Fonte: CODERN (2014).

14 A tabela apresenta dados até novembro de 2014, quando foi criada, por isso o resultado final das

movimentações de carga em 2014 certamente foi maior do que o apresentado nela, em virtude de não ter sido

computado o mês de dezembro.

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De acordo com a tabela podemos verificar a importância do Porto para a economia da

Cidade do Natal, e mesmo apresentando variações entre suas movimentações é uma atividade

econômica fundamental em uma cidade litorânea.

No entanto, no meio dessa crescente produção e visões de crescimento econômico

através de suas atividades, o Porto de Natal esbarra em um Conflito Fundiário Urbano bem

complexo, pois, em virtude da comprovada necessidade em expandir sua área, para servir de

armazenagem para contêineres e outras atividades, a solução encontrada é a remoção da

Comunidade do Maruim que se localiza em área adjacente ao mesmo e consequentemente na

ZEP. Foi objetivando sua expansão que:

A CODERN solicitou em 1997 à Gerência Regional do Patrimônio da União

(GRPU/RN) a regularização das áreas que ocupava efetivamente e daquelas que

tinha interesse, inclusive a área correspondente à comunidade do Maruim [...]

Através do processo n. 04916.002804/2005 de 03 de outubro de 2005, a CODERN

solicita a regularização da área efetivamente ocupada, inclusive da antiga área da

Brasil Gás. Até a presente data não foi efetivada a cessão da área do Maruim pela

GRPU/RN a partir dessas solicitações. A complexidade da relocação da comunidade do Maruim, considerando-se os impactos sociais econômicos e culturais, constitui

uma das principais questões apontadas nos pareceres técnicos expedidos pelos

órgãos públicos nos processos de solicitação citados. (TINOCO; BENTES

SOBRINHA; TRIGUEIRO, 2008).

Os principais motivos que travam a desapropriação do Maruim foram muito bem

citados pelos autores, pois quando envolve o ser humano enquanto elemento do espaço,

aquelas razões devem ser ponderadas, pois os impactos decorrentes da quebra na Identidade

Territorial, por exemplo, podem ser muito prejudiciais.

4.2 COMUNIDADE DO MARUIM: HISTÓRIA E CONTEXTO ATUAL

Bibliograficamente, as informações da possível ocupação do que hoje seria a

Comunidade do Maruim datam do início da década de 1940, no entanto, em nossos estudos

mais aprofundados e em pesquisas feitas na própria Comunidade quando da visita in loco

podemos inferir novos dados.

A colônia de pesca José Bonifácio (fotografia 4), data em sua fachada o ano de 1922, o

qual pegamos como marco das primeiras ocupações do que posteriormente se tornaria a

Comunidade do Maruim. Naquele momento, os habitantes da localidade formaram uma vila

de pescadores e conforme o espaço foi se desenvolvendo e agregando novas famílias, aquela

passou a ser considerada como Favela, a qual, alguns estudiosos atribuem como sendo a

primeira existente na Cidade do Natal.

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Fotografia 4 - Fachada da Colônia de Pesca da Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Se valendo dos estudos de Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008) temos o início

da ocupação da Comunidade do Maruim narrado da seguinte forma:

As primeiras referências à comunidade do Maruim datam da década de 1940,

quando os principais bairros de Natal dividiam-se entre a Cidade Alta e a Ribeira. A

favela do Maruim formou-se à margem sul do Rio Potengi, tendo como um dos

marcos da sua ocupação a Colônia de Pescadores. O terreno, pertencente ao

Patrimônio da União foi sendo ocupado a princípio por casas de taipa e palha, em

precárias condições físico-ambientais, tendo sido ignorado seu risco de inundação

em função da proximidade com a área de mangue. Inicialmente os moradores eram

predominantemente pescadores humildes vindos em geral do interior do Estado, que

tinham o rio como fonte de sobrevivência a partir da pesca artesanal.

E complementamos com Moraes; Vivas; Bentes Sobrinha (2008) relatando que a

Comunidade do Maruim é:

Um assentamento formado predominantemente por pescadores com cerca de 100

famílias situadas em área contígua ao Porto de Natal. A Colônia de Pescadores tem

85 anos, estimando-se que a ocupação na área tenha ocorrido há mais de 100 anos.

Porém é a partir da década de 1940 que se identificam os primeiros registros sobre a comunidade do Maruim.

Em vista dessas considerações podemos observar algumas congruências entre elas,

sobretudo quando se referem ao início das primeiras referências sobre a existência efetiva da

Comunidade do Maruim, porém, o tempo estimado de existência da Comunidade em relação à

segunda citação está mais próximo do que mostramos no início dessa seção e, portanto, é por

ele que nos basearemos quando for necessário.

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A fotografia 5 mostra o início das ocupações próximas ao Rio Potengi na década de

1930, levando-nos a crer que se trata das casas de pescadores do Maruim. Mesmo nomeada de

Canto do Mangue essa área é muito próxima de onde se encontra a Comunidade do Maruim

atualmente.

Fotografia 5 - Canto do Mangue (Ribeira) na década de 1930.

Fonte: Emerenciano (2007).

A fotografia 6 ilustra a Comunidade do Maruim em 1982, que mesmo já bem

consolidada, ainda apresentava casas construídas com taipa e materiais reciclados.

Fotografia 6 - Comunidade do Maruim em 1982.

Fonte: Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008).

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Devido existir poucas fontes bibliográficas referentes ao desenvolvimento da

Comunidade do Maruim ao longo dos anos, precisaremos nos reportar já para a década de

1980 quando a Comunidade foi mapeada para entrar no PDN de 1984 como ocupação

irregular e passou a fazer parte da AERU. Na figura abaixo podemos verificar o crescimento

do tecido urbano da Comunidade do Maruim, tendo como base três recortes temporais.

Figura 1 - Crescimento do tecido urbano na Comunidade do Maruim.

Fonte: Prefeitura Municipal do Natal e SEHARPE [2013a].

Olhando a figura percebemos o processo de adensamento pelo qual a Comunidade do

Maruim passou ao longo dos anos, fazendo com que os espaços ora vazios fossem sendo

ocupados e devido à alteração na configuração morfológica promovida pela construção de

muros para píeres da empresa Petrobrás em áreas próximas ao Rio Potengi, os acessos à

Comunidade pelas margens do Rio foram se estreitando e posteriormente tornaram-se

totalmente fechados, fazendo com que os acessos ao interior da Comunidade ficassem mais

limitados. (TINOCO; BENTES SOBRINHA; TRIGUEIRO, 2008).

Demograficamente a população da Comunidade do Maruim é composta por cerca de

700 moradores divididos em 165 famílias, de acordo com os dados coletados na visita a

SEHARPE, secretaria responsável por serviços de habitações e regularizações fundiárias na

Cidade do Natal. Bibliograficamente, encontramos dados demográficos referentes à

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população da Comunidade do Maruim disponibilizados pela Secretaria Municipal de Trabalho

e Ação Social (SEMTAS) de 2002 e citados por Borges e Borges (2004), onde dizem que:

[...] o Maruim é apontado como uma favela ocupada por invasão de foreiros em área

de mangue, não sendo, porém, área de risco. De acordo com este relatório, possui

atualmente 140 habitações, onde moram 147 famílias que compreendem uma

população de 685 moradores. Trata-se de uma área sem saneamento, porém servida

de água e energia e com 95% de suas ruas pavimentadas.

Mesmo sendo datados de 2002, os dados divulgados pela SEMTAS é aproximado dos

repassados pela SEHARPE para nós em novembro de 2013, quando realizamos uma visita a

esta Secretaria a fim de colher dados para a presente pesquisa. Tais dados informam ainda que

das 165 unidades habitacionais (U.H.s) com famílias, 41 contam com algum tipo de comércio,

formalizando o uso misto da propriedade, e existem outros 16 espaços comerciais inseridos

fora das U.H.s.

A seguir apresentaremos dados referentes aos indicadores populacionais e sociais da

Comunidade do Maruim, extraídos do PRAC-Ribeira, o qual foi organizado por Tinoco;

Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008).

A população é extremamente jovem com índice de envelhecimento de 13,3%, ou

seja, são apenas 13,3 pessoas com 65 anos e mais para cada 100 jovens de menos

que 15 anos. Quando se coteja essa estrutura etária da população do Maruim com a

estrutura etária da Ribeira Alta, verifica-se uma diferença impressionante, pois nesta

encontram-se 144,7 idosos com 65 anos e mais para cada 100 jovens com menos do

que 15 anos. Quanto aos indicadores sociais identificou-se que estes são

extremamente precários. A taxa de analfabetismo da população acima de 7 anos de

idade do Maruim é de impressionantes 27,8%, contra 7,4% da Ribeira como um todo. Dentre as crianças menores que 7 anos, apenas 28,4% estão em escola ou

creche. Por outro lado, das crianças entre 7 e 14 anos, 33,8% estão com defasagem

escolar. Esse indicador é ainda mais grave quando o enfoque é dado aos

adolescentes entre 15 e 17 anos, onde mais da metade estão com defasagem escolar.

No Maruim, 31,6% da população acima de 15 anos tem no máximo três anos de

estudo. Na Ribeira Alta esse percentual é de 4,7%. No que se refere à renda,

enquanto na Ribeira Alta e Ribeira Baixa a renda média, em salários mínimos, é de

3,6 e 3,5 respectivamente, no Maruim essa renda não chega a 0,5 salário mínimo, o

que caracteriza a situação de extrema pobreza [...] Quanto aos aspectos

socioeconômicos definidos pelos indicadores de educação, renda e trabalho,

constatou-se que no Maruim 62,1% dos ocupados são do sexo feminino, 71,2% são

não brancos e 59,1% possuem menos de 8 anos de estudo.

Esse panorama de baixos índices de empregos, baixa taxa de escolaridade, rendas

irrisórias e a violência urbana, certamente geram influencia na estrutura etária da população,

atuando como caráter decisivo para desencadear altas taxas de mortalidade que são

provocadas por doenças infecciosas e parasitárias, por causa da pouca infraestrutura existente

como o escoamento sanitário, o abastecimento de água e uma coleta de lixo mais adequada,

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além do aumento da violência no interior da Comunidade advindo do pouco patrulhamento na

área. Essa questão da violência nos foi levantada na visita in loco, onde os moradores nos

informaram que pessoas de outras localidades chegam a Comunidade do Maruim para acertos

de contas com alguns moradores, uma vez que o tráfico de drogas se faz presente no ambiente

daquela, fazendo com que a violência seja inserida na Comunidade de forma quase que

irreparável e ceifando a vida de dezenas de moradores, sobretudo de jovens do sexo

masculino o que representa disparidades nos dados entre a quantidade de homens e mulheres

da Comunidade, conforme podemos verificar a seguir:

Quanto aos indicadores demográficos [...] existem 66,3 homens para cada 100

mulheres. Na terceira idade, a diferença entre homens e mulheres é bastante

significativa. No Maruim, existem 35,7 homens idosos para cada 100 mulheres

idosas. Esse fenômeno é conhecido como feminização do envelhecimento populacional, processo ocasionado pelos grandes diferenciais no volume de idosos

por sexo, ou seja, é muito maior o número de mulheres que sobrevivem até chegar

ao grupo etário idoso e uma vez fazendo parte dele, permanecem por muito mais

tempo do que os homens, pois possuem maior esperança de vida. Argumenta-se que

a principal causa para esse cenário é a sobre-mortalidade masculina, principalmente

nas idades adultas jovens devido a causas externas de morte, como acidentes de

trânsito e mortes violentas. (TINOCO; BENTES SOBRINHA; TRIGUEIRO, 2008).

De posse dessas informações podemos verificar que a Comunidade do Maruim, desde

seu surgimento até os dias atuais, se encontra inserida num ambiente rodeado de implicações

de ordens social, política e econômica. No entanto, acreditamos que o mais contundente de

todos os problemas está no fato daquela Comunidade se figurar num Conflito Fundiário

Urbano com o Porto de Natal, o qual detalharemos logo mais.

4.3 CONFLITO FUNDIÁRIO URBANO

O Ministério das Cidades (MC) por meio da Secretaria Nacional de Programas

Urbanos desenvolveu um material denominado “Prevenção e mediação de conflitos fundiários

urbanos”, disponível na internet, nesse material o termo Conflito Fundiário Urbano é definido

como a:

Disputa pela posse ou propriedade de imóvel urbano, bem como impacto de

empreendimentos públicos e privados, envolvendo famílias de baixa renda ou

grupos sociais vulneráveis que necessitem ou demandem a proteção do Estado na

garantia do direito humano à moradia e à cidade. (MINISTÉRIO... [2010]).

Para entendermos como se deu o Conflito Fundiário Urbano existente entre a

Comunidade do Maruim e o Porto de Natal, nos atentemos a figura abaixo representada por

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uma linha do tempo onde poderemos verificar desde o surgimento do Porto e da Comunidade

até as nuanças presentes nas últimas décadas, onde foram criadas legislações e portarias na

tentativa de resolver tal conflito.

Figura 2 – Linha do Tempo mostrando o Porto de Natal e a Comunidade do Maruim15

com seus direitos na legislação municipal e na portaria ministerial.

Fonte: Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008).

Conforme podemos visualizar acima, desde o início das obras do Porto natalense em

1922 até 2007, ano da criação do último Plano Diretor na Cidade do Natal, tanto a

Comunidade do Maruim quanto o Porto adquiriram direitos em comum com relação ao acesso

e ocupação do solo urbano16

. Com base nisso Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008)

descrevem que:

Tanto a comunidade do Maruim quanto o Porto de Natal que ocupam áreas da União

situadas às margens do Rio Potengi desempenham função social, ainda que em

condições precárias no caso da comunidade do Maruim [...] Conclui-se portanto, que

a partir do processo de ocupação e do marco regulatório, o Porto organizado de

Natal e a comunidade do Maruim possuem a mesma condição de direito à

regularização fundiária junto ao Patrimônio da União.

15 Esclarecemos que a data do efetivo início da ocupação da Comunidade do Maruim se deu anteriormente ao

citado na figura 2, no entanto, foi a partir daquela data que se têm os primeiros registros bibliográficos em

relação à Comunidade. 16 As leis, portarias e marcos históricos mostrados na figura 2 já foram comentados e descritos em seções

anteriores dessa pesquisa.

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Conforme citamos, em 1997 a CODERN solicitou a regularização da área que

ocupava e daquela a qual tinha interesse, que corresponde também ao espaço ocupado pela

Comunidade do Maruim, à Gerência Regional do Patrimônio da União (GRPU/RN), sem

lograr êxito, em dezembro de 2005, a Companhia solicita o mesmo pedido agora a

Superintendência do Patrimônio da União (SPU) de Brasília-DF, desta vez com novo texto,

no qual inferia que:

A ampliação das atividades do porto de Natal necessita da instalação de uma linha

da cabotagem e de linha(s) de longo curso de navios porta contêineres para a Europa

e para a costa leste os Estados Unidos. Para consolidar a linha de cabotagem é

necessária a construção de um armazém com área mínima de 5.000 m2, conforme

pleito de armadores, e para viabilizar linha(s) de longo curso precisa-se de uma área

mínima de 10.000 m2, para armazenagem e circulação de, no mínimo, 400

contêineres, requisitos que dão sustentação a este pleito. (TINOCO; BENTES

SOBRINHA; TRIGUEIRO, 2008).

Diante do exposto, cabe destacar o forte caráter econômico do pedido do Porto

natalense ao órgão federal responsável – dentre outras funções – pela regularização dos bens

da União, a SPU. A introdução da Europa e da costa leste dos Estados Unidos no pedido de

ampliação, aumenta a carga de importância do mesmo, pois mostra a versatilidade que o Porto

poderá vir a ter quando incrementar em sua pauta de exportações a inserção de outros países.

Do outro lado, temos a Comunidade do Maruim a qual possui tempo de ocupação da

área semelhante ao do Porto, cumpre função social de moradia, possui identidade territorial e

cultural com o Bairro da Ribeira, o Canto do Mangue, o Mercado do peixe, o Hospital dos

Pescadores, o Rio Potengi etc. e se insere na AEIS determinada pela lei 07/94 do PDN. Deste

modo, segundo Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008) qualquer que seja a decisão sobre

o futuro da Comunidade do Maruim, o poder público deve observar os princípios

fundamentais do Estado brasileiro quanto o direito a proteção jurídica da moradia, tais como:

(i) Cidadania e dignidade da pessoa humana – preceitos do Estado; (ii) Principio da

igualdade; (iii) Construção de uma sociedade livre, justa, solidária, de erradicar a

pobreza e a marginalização e de reduzir as desigualdades sociais; (iv) O principio do

devido processo legal: caso de conflitos coletivos do direito à moradia, como

despejos forçados, deslocamento e remoções de grande impacto, proteção jurídica –

direito de defesa, acesso a todas as informações dos procedimentos adotados; (v) O

principio da defesa da paz: a busca de solução pacifica. (SAULE JÚNIOR, 2004

apud TINOCO; BENTES SOBRINHA; TRIGUEIRO, 2008).

A figura 3 sintetiza através de um esquema toda situação fundiária existente entre o

Porto de Natal e a Comunidade do Maruim explanada nessa pesquisa.

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Figura 3 - Situação fundiária da Comunidade do Maruim e do Porto de Natal.

Fonte: Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008).

Conforme podemos perceber para resolução de um Conflito Fundiário o papel do

Estado é fundamental. Corroborando com isso, Dantas (2013) infere que a atenção à

regularização dos assentamentos informais deve ser tratada como prioridade pelo poder

público, uma vez que:

Em regra, apresentam uma infraestrutura extremamente precária, necessitando de

melhoria estrutural das casas, as vias públicas e implantação de saneamento básico e

rede elétrica, além da regularização jurídica da posse. A precariedade dos referidos

assentamentos, nos quais incluímos as favelas, atenta contra a dignidade da pessoa humana e, consequentemente, impossibilita a efetivação do direito à moradia

naquelas localidades.

Em vista desse fato, na próxima seção traremos uma discussão empírica com dados

estatísticos sobre a Comunidade do Maruim e seus moradores. Nela, serão mostradas as

opiniões e o grau de conhecimento dos habitantes daquela Comunidade com relação ao

projeto de desapropriação para a mesma, a qual, desde a década de 1980 através do PDN se

encontra inserida na AERU, fato que requer participação ativa do poder público para

resolução das problemáticas existentes.

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5 MARUIM: DO INÍCIO AO “FIM”

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5.1 DISCUSSÕES ACERCA DA DESAPROPRIAÇÃO

Compreendendo que todo estudo acadêmico requer o uso de métodos científicos para

sua construção, somos reafirmados por Marconi e Lakatos (2000) as quais explanam que “não

há ciência sem o emprego de métodos científicos”. A partir deste fato, verificamos a

importância daqueles no conceito de Trujillo (1974 apud MARCONI; LAKATOS, 2000,

p.44) onde diz que o:

Método é a forma de proceder ao longo do caminho. Na ciência os métodos

constituem os instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento em

sistemas, traçam de modo ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um

percurso para alcançar um objetivo.

Dessa maneira, entendemos que o método científico auxilia o pesquisador desde a

hora da escolha do tema a ser estudado até a tomada de decisões para executar a pesquisa em

todas as suas dimensões, tornando fundamental sua utilização para que o resultado da

investigação seja satisfatório.

Entre os métodos científicos existentes, esta pesquisa se configura enquanto método

dialético, o qual segundo Diehl e Tatim (2004, p. 50) se fundamenta “na dialética proposta

por Hegel, em que as contradições transcendem, dando origem a novas contradições, que

passam a requerer solução. [...] os fatos não podem ser tomados fora de um contexto social,

político e econômico”.

Para tecer as discussões após a visita in loco, elaboramos ilustrações com gráficos

para facilitar a compreensão do leitor acerca do assunto tratado nessa seção. Os dados

recolhidos foram tabulados para mostrar os resultados em porcentagens, cabendo salientar que

nas perguntas em que os entrevistados deveriam escolher três opções entre as demais, as

porcentagens totais a serem observadas são de 300% e não de 100%, uma vez que,

consideramos cada opção de resposta no universo geral dos entrevistados, ou seja,

multiplicamos o número dos entrevistados por três. Vejamos a seguir os resultados da

pesquisa.

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Gráfico 1 - Grau de instrução da Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Observando o gráfico, vemos que a grande maioria da população adulta pesquisada

(81%), encontra-se inserida no denominado ensino fundamental17

, contudo, muito dos

entrevistados não chegaram a concluir nem mesmo o ensino fundamental I, fazendo com que

o nível de escolaridade presente na comunidade, por parte dos adultos, seja pouco elevado. O

baixo índice no grau de instrução de uma população acarreta muitos problemas sociais como a

dificuldade em conseguir emprego (desemprego), o aumento do trabalho informal e pode

gerar segregação social, uma vez que, o indivíduo pode sentir-se desarticulado das imposições

que a atual sociedade capitalista e excludente possui em sua ideologia. Os moradores que se

enquadram no grau de escolaridade do ensino médio (11%) são em sua maioria jovens, que

mesmo fora da faixa de idade correta para aquele nível de ensino (normalmente dos 15 aos 18

anos) têm menos de 30 anos. Na pesquisa, foi encontrada apenas uma entrevistada que

possuía o nível técnico de ensino (antigo magistério integrado ao ensino médio) e nenhum

entrevistado tinha diploma de nível superior. No entanto, em conversas com os moradores,

tivemos informações que alguns jovens, que não participaram da pesquisa, conseguiram

ingressar no ensino superior nos últimos anos, algo relevante e comemorado pelos moradores

da comunidade.

Sabendo que a Comunidade do Maruim existe há pelo menos 90 anos no Bairro da

Ribeira, conforme já foi mostrado, buscamos saber a quantidade de anos que os atuais

moradores vivem ou convivem naquela, com isso encontramos os seguintes dados.

17

No Brasil, todo o ensino fundamental abarca as séries do 1º ao 9º ano, no entanto, o mesmo é subdividido em

outras duas categorias, o ensino fundamental I (1º ao 5º ano) e o ensino fundamental II (6º ao 9º ano).

5%

81%

11% 3% 0%

0

6

12

18

24

30

36

Não Estudou Ens.

Fundamental

Ensino Médio Ensino

Técnico

Ensino

Superior

mero

máxim

o d

e p

ess

oas

en

trev

ista

das

Grau de Instrução.

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Gráfico 2 - Quantidade de anos que os moradores vivem na Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Em observância ao gráfico, percebemos que grande parte dos moradores residem na

comunidade há mais de 30 anos (55%), fato que corrobora para se entender o porque da forte

identidade daqueles para com o local no qual vivem, uma vez que, é sabido que quanto mais

tempo se reside em um dado lugar, mais identificação se cria com o mesmo. É valido salientar

que a maioria das pessoas que existem na comunidade, moram no local desde que nasceram, o

que justifica ainda mais o forte sentimento de pertencer em relação à área estudada. Segundo

os dados coletados, as pessoas que chegaram à comunidade há pelo menos dez anos (3%)

vieram impulsionados pela proximidade do centro da cidade e em busca de melhores

condições de trabalho, pois viam na pesca um modo de sobrevivência a partir de poucos

recursos, como também incentivados pela falta de moradia em outras regiões da Cidade do

Natal, encontrando numa favela próxima a um rio o local mais apropriado para satisfazer as

necessidades básicas dos mesmos.

Dando continuidade a pesquisa, pedimos que os entrevistados escolhessem três

principais características – entre cinco existentes – que melhor definem a Comunidade o qual

vivem, no gráfico a seguir podemos ver os resultados:

3%

28%

14%

55%

Há quantos anos reside na Comunidade?

01 a 10 anos

11 a 20 anos

21 a 30 anos

Mais de 30 anos

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25%

88%

42%

66%

77%

0 6 12 18 24 30 36

Sua Relação com o ambiente

Obtenção da renda pela Natureza

Laços de amizade e convivência

A vida em família

Solidariedade entre os moradores

Número máximo de pessoas entrevistadas

Indique três características da Comunidade

do Maruim.

Gráfico 3 - Principais características, que segundo os moradores da Comunidade do Maruim,

melhor definem a localidade.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Conforme podemos observar, existe uma predominância da opção „obtenção da renda

pela natureza‟, com 88%, tal apontamento dado pelos entrevistados reforça, ainda mais, a

importância do Rio Potengi como fonte de renda para os moradores da comunidade, uma vez

que, é a partir do mesmo que a pesca é desenvolvida. Cabe destacar que no ramo da pesca

podem-se levar em conta outras atividades atreladas a ela e que são realizadas na comunidade,

quais sejam: descasca, limpeza, embalagem e armazenamento de frutos do mar, sobretudo

camarões e peixes. Essas atividades são feitas em sua maioria por mulheres em idades médias

e até mesmo por alguns jovens e adolescentes. A atividade é realizada de forma artesanal,

amadora e insalubre, pois os trabalhadores executam as funções de maneira inadequada e em

locais impróprios, conforme visualizamos na fotografia a seguir.

Page 74: O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO … · Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Geografia do ... A994s Lima, Haniel Carlos de

72

Fotografia 7 - Mulheres exercendo atividade pesqueira na Comunidade do Maruim.

Fonte: Patrícia Costa (2012).

Já a opção da „solidariedade entre os moradores‟ aparece como a segunda questão

mais lembrada pelos moradores com 77%, fato que vem confirmar a importância da

convivência entre as pessoas, sobretudo no local um tanto sitiado como a Comunidade do

Maruim.

Dessa forma, é valido destacar que pela maioria dos moradores residirem na

localidade há muitos anos, compartilhando das mesmas alegrias, frustações, promessas e

realizações, os laços de amizade e companheirismo são mais aguçados que em locais onde

mudanças ocorrem de forma mais corriqueira. Na entrevista da moradora identificada na

pesquisa como „entrevistada 26‟, percebemos no discurso da mesma a aproximação com seus

vizinhos, onde diz que: “morar aqui é bom porque quando a gente está precisando de alguma

coisa, vai lá na casa da „comadre‟ e pega um quilo de feijão, de açúcar [...] a maioria de nós

nos conhecemos há muito tempo e isso facilita nossa convivência”, finalizou.

Outra alternativa que merece destaque é a da „vida em família‟, sendo indicada por

66% dos entrevistados numa melhor de três escolhas, como já foi explicado, o que não a torna

menos importante, contudo, por se aproximar ideologicamente das demais opções colocadas

para os moradores na entrevista poderia ter sido deixada de lado, fato que não ocorreu e nos

ajuda a ratificar o sentimento da união e o espírito de solidariedade existente entre a maioria

dos moradores da comunidade, algo que culmina na hora das decisões acerca do futuro da

mesma. Os „laços de amizade e convivência‟ foi lembrado por 42% dos moradores e a

„relação com o ambiente‟ por 25% seguindo os critérios anteriormente definidos (melhor de

três escolhas).

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73

Entendendo o Rio Potengi e seu mangue como arrimo da comunidade em vários

aspectos, indagamos a importância do mesmo para a vida dos moradores. O gráfico abaixo

nos mostra as respostas de tal questionamento.

Gráfico 4 - A importância do Rio Potengi e seu mangue para a vida dos moradores da

Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Para a grande maioria, 72% dos entrevistados, a obtenção da „fonte de renda‟ pelo Rio

Potengi e seu mangue é a principal importância deste para a comunidade, uma vez que,

conforme os próprios moradores, só existe a Comunidade naquela localidade devido à

presença do Rio Potengi para realização da pesca, que se configura a principal fonte de renda

do lugar.

A porcentagem de 11% aparece em duas alternativas, „riqueza natural‟ e „identidade

com a natureza‟, são opções semelhantes, mas que se diferem pela questão da identidade, ou

seja, a forma como o indivíduo cria vínculo com o espaço que vive.

O Rio Potengi visto como fonte de „abastecimento de água e alimentos‟ ou

promovedor de „lazer‟ só foi lembrado por iguais 3% dos entrevistados, fato que não reduz a

alegria desses três por cento que amam se banhar nas águas do Potengi pela manhã ou andar

de canoa ao pôr do sol.

Um dos principais receios por parte dos moradores da Comunidade do Maruim na

proposta da realocação da mesma era o fato de se afastar da área a qual está situada e perder

os benefícios que a localidade proporciona, em vista disto, propomos uma questão que está

11%

72%

3% 11%

3%

Indique a importância do Rio Potengi e seu

mangue para a vida no Maruim.

Riqueza Natural

Fonte de Renda

Abastecimento de

água e alimentos

Identidade com sua

natureza

Fonte de Lazer

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baseada nessa preocupação, onde buscamos saber as razões pelas quais os moradores querem

a permanência da Comunidade no Bairro da Ribeira. Vejamos os resultados a seguir.

Gráfico 5 - Razões pelas quais, segundo os moradores da Comunidade do Maruim, a mesma

deve permanecer no Bairro da Ribeira18

.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Para 97% dos entrevistados, a „proximidade da Comunidade com o Rio Potengi‟ é o

principal fator para que a mesma permaneça no Bairro da Ribeira. Com isso, constatamos

novamente a identidade dos moradores com o Rio Potengi, desta vez, atrelada ao temor à

perda do acesso fácil ao maior provedor de renda da maioria das famílias daquela.

A opção do „transporte para as demais regiões da cidade‟ foi escolhida por 69% das

pessoas consultadas, fato facilmente compreendido se levarmos em consideração a

localização da Comunidade na Cidade do Natal, situada na região central da mesma, entre

importantes bairros históricos, Ribeira e Rocas, onde o acesso a linhas do transporte público

coletivo é mais fácil e conta com itinerários mais variados se comparados a outras regiões da

Cidade.

A localização da Comunidade do Maruim na Cidade do Natal pode ser vista como

estratégica, pois, tanto a oferta de transporte público como de outros serviços importantes

18 Voltamos a pedir a indicação de três opções entre cinco alternativas existentes. Portanto, a porcentagem total a

ser observada é de 300% e não de 100%.

97%

67%

42%

69%

25%

0

6

12

18

24

30

36

Sua

proximidade

com o Rio

(Fonte de

Renda)

Oferta de

serviços de

saúde e

educação

Importância

histórica e

cultural

Transporte

para as regiões

da cidade

As

organizações

dos moradores

situadas no

Bairro

mero m

áxim

o d

e p

ess

oas

en

trevis

tad

as

Indique três razões para a permanência da

Comunidade do Maruim no Bairro da Ribeira.

Page 77: O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO … · Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Geografia do ... A994s Lima, Haniel Carlos de

75

podem ser mais facilmente encontrados19

na região. De modo que, para 67% dos entrevistados

a „oferta de serviços de saúde e educação‟ nas proximidades da comunidade são importantes

razões para que a Comunidade não saia do bairro da Ribeira, corroborando com nossa

afirmação acima. Podemos verificar toda aquela importância na fala da „entrevistada 12‟,

onde explana que: “é muito bom morar aqui porque é perto de tudo, de hospital (dos

pescadores) e de escolas para os meninos pequenos e grandes (ensino fundamental I, II e

EJA), é só atravessar a rua e a gente está perto de tudo”, contou.

Para 42% dos entrevistados a „importância histórica e cultural‟ está entre as maiores

razões para que a Comunidade permaneça no bairro e outros 25% julgam que „as

organizações dos moradores situadas no bairro‟ é que fazem a diferença para que a

Comunidade permaneça inserida no mesmo local de origem.

Buscando analisar na pesquisa acerca do que sobrevivem as famílias residentes no

Maruim, a temática da fonte de renda familiar foi posta em questão. Desta vez, os

entrevistados deveriam escolher a resposta a partir de quatro alternativas pré-estabelecidas ou

uma quinta opção de livre escolha, desde que não convergisse com as demais já estabelecidas.

O gráfico seguinte nos mostrará os resultados obtidos:

Gráfico 6 - Fontes de renda ou ganhos das famílias da Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

19 Aqui estamos tratando a facilidade em encontrar o serviço em relação à distância percorrida pelo morador da

Comunidade do Maruim em direção ao acesso aos serviços, não levando em conta a efetivação da utilização

daqueles pelos moradores.

75%

11% 8%

3% 3%

0

6

12

18

24

30

36

Produção

pesqueira

Pensão ou

aposentadoria

Trabalho em

serviço ou

comércio

Artesanato OutrosNú

mero m

áxim

o d

e p

ess

oa

s en

trevis

tad

as Indique as fontes de renda ou ganhos da família.

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76

Grande maioria dos que se submeteram a pesquisa (75%) relataram que a renda das

suas famílias advém da „produção pesqueira‟, essa atividade está associada à existência do

Rio Potengi as margens de suas moradias, cabendo relembrar que esse fator foi o maior

influenciador para a existência da Comunidade no local em que a mesma situa-se hoje20

. A

produção pesqueira na Comunidade do Maruim não está atrelada apenas a captura e

comercialização do peixe, conforme já relatamos, existem outras atividades provenientes

daquele ramo onde homens e mulheres trabalham a fim de adquirir algum tipo de renda para

suas famílias.

Conforme os dados coletados, 11% dos entrevistados recebem „pensão ou

aposentadoria‟, com isso se sustentam, ajudam a sustentar ou muitas vezes são a única fonte

de renda de suas famílias. A maioria dos beneficiários são idosos ou pessoas aposentadas por

invalidez, onde, segundo relatos, foram adquiridos na atividade pesqueira.

O „trabalho em serviço ou comércio‟ foi apontado por 8% dos moradores que se

submeteram a entrevista. Essas pessoas têm pequenos comércios21

dentro da Comunidade ou

trabalham na circunvizinhança em locais como o Mercado do peixe e mercearias, quase

sempre como empregados.

Na amostra da nossa pesquisa foram escolhidas 36 pessoas, com isso, 3% -

porcentagem dos que escolheram as opções „artesanato‟ e „outros‟ como fonte de renda -

representam apenas um entrevistado.

A „entrevistada 22‟ nos relatou que a atividade do artesanato é pouco explorada pelos

moradores da Comunidade, uma vez que julgam pouco lucrativa, no entanto, a mesma

defende sua ocupação por ter sido deixada de herança pelos pais e por considerar que obtêm

boa renda a partir de suas produções.

O „entrevistado 36‟ escolheu a opção „outros‟ e foi taxativo a nos informar que exerce

atividades relacionadas com o tráfico de drogas. Cabe ressaltar que outros moradores também

denunciaram que aquela atividade movimenta bastante dinheiro dentro da Comunidade e

muitos moradores sobrevivem dela, no entanto, temem falar abertamente do assunto, por

motivos óbvios de segurança.

No que se refere às questões mais específicas do objeto de estudo para nossa pesquisa,

indagamos aos moradores entrevistados questões que relacionam a ação do poder público com

20

Analisamos a história da inserção da Comunidade do Maruim as margens do Rio Potengi nesta pesquisa a

partir da página 55. 21 Os pequenos comércios da Comunidade do Maruim são formados por lanchonetes, armarinhos, ateliê de

costura e mercearias.

Page 79: O PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO DA COMUNIDADE DO … · Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Geografia do ... A994s Lima, Haniel Carlos de

77

a vontade dos mesmos em serem ou não desapropriados da localidade os quais vivem

atualmente. Analisemos o gráfico que se segue:

Gráfico 7 - De que maneira a administração pública vem conduzindo a saída dos moradores

da Comunidade do Maruim da atual localidade.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Esse questionamento gerou inúmeras dúvidas, no entanto, auxiliamos22

alguns

entrevistados sobre o que seria uma habitação de interesse público, que alguns desconheciam,

e a partir disso as respostas fluíam mais rapidamente.

Afastando os entraves da pergunta, 53% dos entrevistados relataram que a

administração pública, representada pela Prefeitura do Natal, tenta „convencê-los que o

Maruim é de interesse público‟ e falam que parte da área servirá para o avanço do Porto de

Natal que há anos precisa ser ampliado para acompanhar o crescimento da economia.

39% das pessoas relataram que a prefeitura os propõe „trocar seus imóveis‟ por outros

em bairros mais distantes23

. Fato que não é visto com bons olhos pelos moradores

entrevistados, uma vez que, os tiram de próximo do local onde adquirem seus sustentos.

22 Cabe ressaltar que não influenciamos nas respostas dos entrevistados em nenhum momento, apenas

esclarecemos dúvidas pertinentes. 23 Vale lembrar que entre os anos de 2008 a 2010 a gestão anterior da prefeitura realocou, segundo dados da

mesma, 17 famílias para outros bairros da Cidade e isso pode ter sido um dado influenciador nas respostas dos

entrevistados. (TRIBUNA DO NORTE, 2012).

3%

53%

39%

5%

0

6

12

18

24

30

36

Através de

audiências

públicas

Convencem

que o Maruim

é de Interesse

Público

Troca de

imóveis

Indenização

em dinheiroNú

mero m

áxim

o d

e p

ess

oas

en

trevis

tad

as

De que maneira vem sendo conduzida pela

administração municipal a saída da população do

Maruim?

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78

Para 5% dos moradores entrevistados, oferecer „indenização em dinheiro‟ as famílias é

a proposta da administração municipal para efetivar a desapropriação da Comunidade, já para

outros 3% são „através das audiências públicas‟ feitas na colônia de pescadores da localidade,

onde estão presentes somente alguns moradores, que são debatidos e decididos os destinos de

todos.

Observamos aqui o desconhecimento e descontentamento dos moradores para com a

temática em questão. Sabemos que há um novo projeto feito pela atual gestão municipal onde

todas as famílias serão beneficiadas e realocadas para um local próximo ao que vivem

atualmente, mas devido ao descrédito adquirido por anos de promessas não cumpridas as

desconfianças vêm à tona.

Continuando a pesquisa pedimos que os entrevistados indicassem três razões24

apontadas pelo órgão gestor municipal, sobre quais seriam os motivos, em ordem de

importância, para que ocorra a realocação da Comunidade. De acordo com os dados

coletados, os resultados conseguidos foram:

Gráfico 8 - Razões que segundo os moradores da Comunidade do Maruim são apontadas pela

Prefeitura do Natal como principais motivos para a realocação.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

24 Pedimos novamente que os entrevistados escolhessem três alternativas entre seis existentes, desta vez,

acrescida da opção outros, onde aqueles puderam acrescentar outras respostas à pergunta, desde que fossem

pertinentes ao questionamento feito.

100% 97%

75%

19% 6% 3%

0

6

12

18

24

30

36

Melhoria da

moradia

Ocupação

da área pelo

porto

Melhoria das

condições de

saneamento

Preservação

do Rio

Potengi

Reforma da

área

ocupada pela

Comunidade

Outros

mero m

áxim

o d

e p

ess

oa

s en

trevis

tad

as

Indique três razões apontadas pela Prefeitura para

realocá-los do Maruim.

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79

Entre as opções apresentadas a „melhoria da moradia‟ foi apontada, independente da

ordem de preferência, por todas as pessoas entrevistadas. Com isso, aquela opção se

configurou como unânime, atingindo a porcentagem máxima de 100%. De acordo com os

moradores entrevistados a Prefeitura garantiu que suas casas serão trocadas por apartamentos

em condomínio e o ambiente será todo saneado e urbanizado, algo que na atual localidade

passa longe de ser. Sendo assim, a Comunidade estará ganhando melhores condições de

moradia e, consequentemente, de qualidade de vida.

Para 97% dos entrevistados, a „ocupação da área pelo porto‟ se constitui como o

principal motivo elencado pela Prefeitura do Natal para realocá-los do local os quais vivem

atualmente. Aquele órgão responsável vem conduzindo todo o processo para que parte da área

pertencente à Comunidade do Maruim seja repassada a CODERN ao fim de todo o trâmite da

realocação. No entanto, Durante a entrevista, alguns moradores apontaram possíveis

interferências por parte dos administradores do Porto de Natal em relação à Comunidade para

que o consentimento da desapropriação seja realizado mais rapidamente. A fala do

„entrevistado 21‟ resume essa situação:

Quase todos os dias sofremos pressões por parte da diretoria do Porto para que deixemos o Maruim, os minérios são amontoados próximos as nossas casas como

forma de nos expulsar, pois o peso das montanhas de materiais e a poeira provocam

rachaduras em nossas casas e problemas respiratórios em nós e em nossos filhos.

O problema externado pelo „entrevistado 21‟ não é um apontamento isolado, outros

moradores que foram entrevistados também relataram a mesma situação. Constatamos através

de fotografia o que foi falado pelo entrevistado.

Fotografia 8 - Minérios próximos às casas na Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

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80

A alternativa da “melhoria das condições de saneamento” foi escolhida por 75% das

pessoas entrevistadas como sendo um dos motivos mais importantes para que a Prefeitura do

Natal decidisse realocá-los. Garantir saúde e consequentemente saneamento básico é dever

do órgão público, cabendo ao município assegurar aos seus cidadãos, entre outras coisas,

conforme o artigo 2º, inciso III, da lei federal 11.445, “abastecimento de água, esgotamento

sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à

saúde pública e à proteção do meio ambiente”.

A Comunidade do Maruim sofre pela ausência quase que total de saneamento básico.

Em vista do que observamos na visita in loco, podemos defender que esse é um dos maiores,

se não o maior problema enfrentado pelos moradores daquela. De acordo com Tinoco; Bentes

Sobrinha; Trigueiro (2008, p. 176):

A infra-estrutura [do Maruim] é bastante precária. Apenas 67,4% dos domicílios deste setor dispõem de abastecimento de água através da rede geral e 29% não tem

água canalizada para pelo menos um cômodo. No que se refere ao escoamento

sanitário, em quase 34% dos domicílios da comunidade do Maruim não existe

banheiro e somente 27,1% das residências são servidas por escoamento sanitário

adequado. Com isso, 44,8% dos domicílios escoam seus dejetos para o Rio Potengi.

Podemos verificar águas límpidas e sujas escoando pela comunidade sem nenhum

tratamento (fotografia 9), crianças brincando em meio a esgotos a céu aberto e próximos a

lixos com restos de alimento.

Fotografia 9 - Esgotamento sanitário na Comunidade do Maruim.

Fonte: Canindé Soares (2011).

Em relação ao serviço de coleta de lixo urbano da Comunidade do Maruim (fotografia

6), Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro (2008, p.176) pontuam que:

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81

[...] apenas 3,1 dos imóveis residenciais do Maruim são atendidos pelo serviço de

coleta de lixo através do veículo coletor. Para 96,9% dos domicílios dessa região a

única alternativa é a caçamba coletora, o que além de não trazer comodidade, obriga

os moradores da região a conviver com o mau cheiro, sujeira, insetos e riscos à

saúde.

Fotografia 10 - Coleta de lixo na Comunidade do Maruim.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

As ilustrações acima mostram a precariedade no sistema de saneamento básico na

Comunidade do Maruim. Os esgotos e lixos expostos a céu aberto atraem animais e insetos

proliferadores de doenças, ocasionando problemas de saúde pública. Embora os dados

apresentados por Tinoco; Bentes Sobrinha; Trigueiro sejam de 2008, eles continuam atuais e

corriqueiros na vida dos moradores daquela Comunidade.

19% dos moradores entrevistados julgam que o cuidado com a „preservação do Rio

Potengi‟ é a maior razão apontada pelo órgão gestor da Cidade do Natal para conduzir a

desapropriação da Comunidade. O Rio Potengi é alvo diariamente de efluentes domésticos

oriundos de comunidades ribeirinhas presentes na Cidade, no Maruim a situação não é

diferente, por ser pouco saneada a maioria dos dejetos das residências dos moradores vão

parar no Rio Potengi. No estudo de Correa (2008, p.88) acerca dos impactos geoquímicos e

socioambientais no estuário do Rio Potengi é discorrido que:

A ocupação das margens do estuário [do Rio Potengi] tem ocasionado

transformações perceptíveis de serem analisadas, pois em locais onde antes estavam

presentes manguezais, hoje são ocupados por comunidades, empreendimentos de

carcinicultura, fábricas, etc. Estes fatores ocasionam o comprometimento das águas

do estuário por efluentes industriais e domésticos, bem como por outras fontes-

poluentes, provocando um maior incremento nos índices de coliformes fecais e

poluição por metais pesados, trazendo doenças e outros prejuízos para as

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populações. Todos esses problemas vêm a reforçar que a população sente e sofre as

reações do meio ambiente às ações antrópicas indiscriminadas [...].

Na fotografia 11 podemos visualizar a situação comentada e avaliar, mesmo em

pequena dimensão, o grau de poluição em que se encontra o Rio Potengi na área do estudo em

questão, cabendo destacar que a situação apresentada neste trabalho não representa um caso

isolado da Comunidade do Maruim, outros pesquisadores mostram situações semelhantes em

diferentes comunidades ribeirinhas da Cidade do Natal25

, fatos que não cabem neste estudo.

Fotografia 11 - (A) encanação despejando efluentes domésticos no Rio Potengi; (B)

lixos e esgotos lançados no Rio Potengi.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

As ilustrações acima revelam uma situação preocupante de degradação do Rio Potengi

a partir do depósito indiscriminado de lixo, esgoto sanitário com resíduos sólidos e líquidos

que há anos são despejados diretamente no rio, onde se acumulam e causam danos ao meio

ambiente.

Para apenas 6% dos entrevistados a „reforma da área ocupada pela comunidade‟ é o

principal motivo para que ocorra a realocação da comunidade, tal reforma está atrelada a

futura ampliação do Porto de Natal.

A opção „outros‟ aparece novamente na pesquisa e foi escolhida por 3% dos

entrevistados, que conforme explicado anteriormente, representa apenas uma pessoa. O

„entrevistado 27‟ argumentou que a Prefeitura quer realocá-los para “embelezar” e

25

Tatiana de Lima Correa em seu estudo sobre os impactos geoquímicos e socioambientais no estuário do Rio

Potengi na Região Metropolitana da Grande Natal mostra a relação de cinco comunidades ribeirinhas (incluindo

o Maruim) com o Rio Potengi, trazendo informações e dados relevantes da poluição causada por descargas de

efluentes domésticos daquelas diretamente no estuário do mais importante rio da Cidade do Natal.

(A) (B

)

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tranquilizar a área do Bairro da Ribeira que julgam feia e violenta por conta da presença da

Comunidade do Maruim no local.

Sabendo que a Prefeitura do Natal através da Secretaria Municipal de Habitação,

Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes (SEHARPE) realiza reuniões periódicas com

representantes dos moradores da Comunidade do Maruim para debater a realocação desta, no

questionamento a seguir avaliamos o grau de interação entre as pessoas entrevistadas26

e os

agentes daquela secretaria. Com isso, foi perguntado sobre o que os moradores propuseram a

Prefeitura do Natal desde o início dos debates acerca das desapropriações, a partir disso

chegamos aos seguintes dados:

Gráfico 9 - O que a Comunidade do Maruim propôs a Prefeitura do Natal como contrapartida

da desapropriação.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Para 53% das pessoas que foram entrevistadas „construir moradias nas proximidades

do Maruim‟ foi a proposta apontada pelos representantes dos moradores frente aos agentes da

Prefeitura responsáveis pelo processo da desapropriação da Comunidade. De acordo com os

moradores aquela opção seria a mais viável, pois ainda permaneceriam próximos ao Rio

Potengi, local de onde a maioria da população da Comunidade tira seus sustentos.

26

Vale lembrar que nem todos os moradores que foram entrevistados participaram de assembleias ou reuniões

com os agentes da SEHARPE, com disso, algumas respostas dadas ao questionamento exerceu caráter pessoal,

que pode ter acontecido por desconhecimento do assunto atrelado ao pouco diálogo entre os moradores para

disseminar a informação repassada pelo órgão responsável pela desapropriação.

22% 6%

53%

8% 11%

0

6

12

18

24

30

36

Permanência

da Comunidade

no local

Reformar e

Sanear o local

da Comunidade

Construir

Moradias nas

Proximidades

do Maruim

Construir um

conjunto

habitacional

para as famílias

Indenizar as

famílias do

Maruim

mero m

áxim

o d

e p

ess

oa

s en

trevis

tad

as

O que a Comunidade propôs a Prefeitura?

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A opção da „permanência da Comunidade no local‟ foi escolhida por 22% dos

moradores entrevistados como a melhor sugestão para a Prefeitura. A maioria dos que

optaram por essa alternativa são pessoas com idade mais elevada, entre 40 e 70 anos, que

nasceram e cresceram na Comunidade e não querem sair da mesma, ainda que seja para locais

próximos.

Conforme 11% dos moradores que se submeteram a pesquisa „indenizar as famílias do

Maruim‟ se constitui o melhor caminho a ser seguido pelo órgão gestor municipal, já para

outros 8% a melhor alternativa seria „construir um conjunto habitacional para as famílias‟ e

para os últimos 6%, „reformar e sanear o local da Comunidade‟ é a melhor saída para que a

Prefeitura do Natal possa solucionar de vez os problemas do Maruim.

No palco das incertezas que rondam a Comunidade do Maruim há anos em relação a

existência de um Conflito Fundiário Urbano e as tentativas do poder público em solucioná-lo,

questionamos aos moradores o que os mesmos consideram como inserto para a Comunidade

em relação a desapropriação. Segue os resultados:

Gráfico 10 - O que a Comunidade do Maruim considera como inserto em relação à

desapropriação.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

Observando os dados do gráfico, constatamos que 42% das pessoas que se

submeteram a pesquisa consideram incerto „acontecer a realocação‟ da Comunidade do

Maruim conforme prometido pela Prefeitura do Natal. De acordo com o „entrevistado 4‟:

42%

8%

19%

31%

0 6 12 18 24 30 36

Acontecer a realocação

Nem todos receberem moradias

O local para onde serão realocados

O poder Público cumpra o acordado

Número máximo de pessoas entrevistadas

O que considera como incerto para a Comunidade do

Maruim?

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Eles [a Prefeitura do Natal] prometem tirar a gente daqui faz muitos anos, há pelo

menos uns 30 anos, que eu me lembre. Era criança quando já falavam nesse tal

projeto. Se um dia a gente sair daqui será com nossos próprios esforços, porque se

depender de governo, nunca sairemos.

O discurso rodeado por descrédito do „entrevistado 4‟ não é um caso isolado, muitos

moradores os quais participaram da pesquisa compartilham de sentimento semelhante. Por

esperar tanto tempo um acontecimento que nunca, até então, se concretizou, a frustação

inevitavelmente vem à tona.

31% dos moradores entrevistados desacreditam que „o poder público cumpra o

acordado‟ em solucionar o processo de realocação dos mesmos, uma vez que, conforme já

relatado, a promessa se arrasta há muitos anos, gerando desconfiança nos moradores.

Para 19% dos entrevistados a maior incerteza é saber „o local para onde serão

realocados‟27

. Muitos acreditam que será para áreas distantes da Comunidade, onde em 2008

foram realocadas algumas famílias. Fato que desagradam aqueles, pois ficariam distantes do

Rio Potengi, local onde a maioria dos moradores adquirem seus sustentos, e os afastam da

área central da Cidade, onde existe melhor qualidade de vida. A „entrevistada 19‟ diz que:

Não aceito sair daqui da Ribeira ou das Rocas. Moramos aqui há muito tempo e

gostamos da localidade, é perto de tudo. Se for pra mandar a gente pra onde

mandaram umas famílias uns anos atrás, não vamos! É muito longe, meu marido trabalha no mar e aqui podemos ver a hora certa dele ir pescar, sem falar que sou

marisqueira e tenho de acordar cedo pra ajudar minhas companheiras com os

trabalhos. Se formos pra longe vai ficar ruim.

A fala da entrevistada corrobora com a de todos que escolheram a mesma opção que

ela, uma vez que, não ter certeza do local onde serão realocados os deixam temerosos quanto

ao futuro.

Outra dúvida que permeia os pensamentos dos moradores entrevistados é o fato de

„nem todos receberem moradias‟, desta feita, essa alternativa foi apontada por 8% daqueles.

Quanto a isso a „entrevistada 8‟ explana que:

O que garante que eles [a Prefeitura do Natal] nos darão as casas prometidas? Se

estamos esperando há anos e até agora nada? Acredito que só alguns moradores que

receberão as casas, pois deve ser igual da outra vez, começaram a tirar umas famílias

e depois pararam. Então como acreditar neles?

27 Cabe lembrar que mesmo ocorrendo reuniões entre os agentes da SEHARPE e os moradores, muitos destes

não sabem o local escolhido pela prefeitura para realizar a desapropriação, fato que influenciou nas respostas a

esse quesito.

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Novamente verificamos alto grau de desconfiança quanto à construção de moradias

prometidas pela Prefeitura do Natal aos moradores da Comunidade do Maruim, fato que nos

ajudar a entender a preocupação destes para com a incerteza do futuro, assunto que permeia as

rodas de conversas dos habitantes da Comunidade há anos, pois a cada gestão municipal que

passa são concedidas e retiradas as esperanças para que o Conflito Fundiário Urbano o qual

vive a Comunidade do Maruim seja resolvido de uma vez por todas.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS (PARA NÃO CONCLUIR)

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A Cidade, palco de lutas e conquistas diárias, tem atraído cada vez mais pessoas para

seu espaço. Essas pessoas vêm em busca de melhores condições de vida para suas famílias,

seja na expectativa de encontrar empregos, melhorar a renda ou também na tentativa de

adquirir uma moradia mais digna. No entanto, quando se deparam com a “cruel” realidade

que o núcleo citadino impõe, muitos projetos e sonhos, por vezes, são esquecidos ou

reformulados. Por outro lado, a Cidade também carrega em si a construção de espaços

amigáveis e relações solidárias, como falam Braga e Carvalho (2004), onde os indivíduos

buscam manter relações afetivas com o território a partir da identidade, que na Geografia

passa a ser vista como Identidade Territorial. Essa identidade específica busca através da

apropriação do território, um meio de exercer o poder, mas não o poder de cunho financeiro-

dominador, mas um poder através do “controle simbólico” do território onde vivem. Já o

outro Poder, o político-disciplinar, visa dominar os indivíduos e tomar posse do território para

exercer influência sobre o mesmo, e assim, modificá-lo como julgar necessário. A partir

desses fatos, aparecem as dinâmicas de Territorialização-Desterritorialização-

Reterritorialização (T.D.R) que perpassam o território a fim de transformá-lo e conceder

novos significados.

Diante do estudo das dinâmicas do território vemos que muitos núcleos urbanos

brasileiros têm passado por problemas causados pela inserção de Favelas em suas áreas

centrais e periféricas, em virtude da pouca oferta de habitações nessas localidades. Tal

problema não é novo, existe desde o início do século XX e teve seu apogeu no início da

década de 1940 quando o país passou por um grande crescimento demográfico. Aliado a isso,

o êxodo rural e o elevado preço da terra urbana, a população mais carente passou a ocupar

espaços vazios da Cidade e autoempreender suas próprias habitações. A partir disso, as

ocupações irregulares começaram a se alastrar de maneira mais intensa dentro das maiores

cidades brasileiras.

Nas Favelas, o índice de Habitabilidade normalmente é baixo e fora dos padrões

apontados pelos órgãos e/ou políticas nacionais e internacionais em defesa da Habitação de

qualidade como a Agenda Habitat, o Estatuto da Cidade28

, a Política Nacional de Habitação

etc. Para se obter a Habitabilidade desejada, o município que se propor a desenvolver projetos

que visem conceder o acesso à moradia a seus habitantes, faz-se necessário atender a critérios

que promovam além da construções de habitações, é imprescindível a interação de condições

28 O Estatuto da Cidade regulamenta o capítulo da política urbana da Constituição brasileira e seus princípios

básicos são o planejamento participativo e a função social da habitação.

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espaciais, sociais, ambientais e culturais, onde as pessoas possam ter qualidade de vida e os

sentimentos pessoais e coletivos de bem-estar e satisfação sejam atingidos.

O acesso à moradia nas cidades brasileiras se tornou de tal forma uma problemática

com difícil resolução, pois devido à segregação residencial que afasta a população com menor

poder aquisitivo de áreas centrais e mais importantes das cidades, as pessoas se instalam em

locais irregulares ou se apossam de outros sem a devida tutela judicial. Pensando nisso, a

partir da promulgação da Constituição de 1988 o termo “moradia” ganhou efetiva atenção e

passou a figurar como direito social fundamental. Tal efetivação significou um impulso

crucial para que novas iniciativas de gestão urbana com relação à promoção de moradias

sociais fossem implementadas e geridas pelo poder público das esferas federal, estadual e

municipal, cada uma com suas devidas atribuições.

A Cidade do Natal, por exemplo, já a partir do seu Plano Diretor de 1984, mesmo que

de forma tímida, passou a mapear Áreas Especiais de Recuperação Urbana (AERU), essas

áreas são compostas por ocupações irregulares no solo urbano e foram delimitadas com o

intuito de reconhecer problemas de ordem socioeconômica dos seus habitantes e verificar as

situações habitacionais e ambientais das localidades e com isso criar mecanismos em busca de

solucionar tais problemas. No PDN de 1994 as AERU receberam uma nova denominação e

passaram a ser definidas como Áreas Especiais de Interesse Social (AEIS), pois adquiriram

novas definições e regulamentos. Em 2007, quando o novo PDN ficou pronto, as AEIS

receberam novo acréscimo em sua regulamentação, passando a priorizar as dimensões social e

urbanística das populações e assentamentos, articulando-as em observância ao processo de

identificação das áreas de pobreza predominantes na Cidade.

Dentro da definição de AEIS temos a Comunidade do Maruim, assentamento que

ocupa área irregular pertencente à União e se encontra instalada as margens do Rio Potengi,

localizada entre os Bairros das Rocas e da Ribeira, Zona Leste da Cidade do Natal. Aquela

Comunidade enfrenta uma grande problemática, pois a área a qual faz parte além de pertencer

a União se encontra inserida na Zona Especial Portuária (ZEP) delimitada em 1992 pela Lei

municipal n° 4.069, que concede a autoridade portuária o direito sobre a mesma. A partir

desses fatos, ficamos diante do Conflito Fundiário Urbano, onde ambas as partes adquiriam

direitos pelo uso do solo urbano ao longo dos anos e desde a década de 1980, quando foi

criado a AERU no PDN que tais situações estão em jogo e até então não haviam sido

encontradas soluções eficientes.

No entanto, em busca de solucionar o citado Conflito Fundiário Urbano, a Prefeitura

do Natal através da secretaria responsável pela regularização fundiária na Cidade, a

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SEHARPE, em algumas ocasiões propôs resolver o problema. Entre 2008 e 2010, a gestão da

prefeita Micarla Araújo de Sousa Weber, conseguiu transferir 17 famílias para outros Bairros

da Cidade a partir da aquisição de imóveis, contudo, segundo relatos de alguns moradores em

nossa visita in loco, algumas dessas famílias retornaram a Comunidade do Maruim em virtude

de não conseguirem se adaptar a nova vida, sobretudo devido à distância de onde encontram

seus sustentos, a atividade pesqueira proporcionada pelo Rio Potengi. Até o final do mandato

de Micarla de Sousa, em dezembro de 2012, nenhuma outra família foi realocada em virtude

da ineficácia do planejamento, pois esbarravam em problemas na aquisição das unidades

habitacionais pela ausência de imóveis titulados. Em 2013, quando uma nova gestão tomou

posse do executivo municipal, representado por Carlos Eduardo Nunes Alves, a preocupação

com a questão habitacional foi notória. Pouco tempo após chegar ao poder, as primeiras

providências já foram tomadas. A SEHARPE, representada por Homero Grec Cruz Sá e

demais profissionais especializados, desenvolveu projetos que visavam tanto o

reassentamento da Comunidade do Maruim como também promoviam melhorias urbanísticas

em áreas adjacentes onde a mesma se localiza atualmente. De início, foram mostrados três

projetos para o reassentamento a partir de terrenos distintos, mas todos localizados no Bairro

da Ribeira. Após a escolha do espaço mais adequado o mesmo seria doado a União como

contrapartida da proposta.

O Projeto Maruim foi revisto, sendo sua solução alterada para a modalidade

construção. Nesta perspectiva, o Município destinou um terreno de sua propriedade

localizado na Ribeira para construção de Habitações de Interesse Social – HIS

destinadas ao reassentamento do Maruim. Tal modificação no contrato foi acordada

em reunião entre a Caixa Econômica Federal, o Ministério das Cidades e a

Prefeitura de Natal no dia 14 de agosto de 2012, quando o projeto de Realocação da

Comunidade do Maruim teve autorização para revisar seu Plano de Trabalho com

vistas a conjugação do programa Minha Casa, Minha Vida 2 – PMCMV com o

Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. (PREFEITURA... 2013a).

Na fotografia 12 podemos visualizar os três terrenos estudados como proposta inicial

para o reassentamento da Comunidade do Maruim.

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Fotografia 12 - Localização dos terrenos propostos para o reassentamento da Comunidade do

Maruim.

Fonte: Prefeitura do Natal e SEHARPE [2013a].

Conforme é perceptível, os espaços apontados como sugestões para o reassentamento

da Comunidade do Maruim são enumerados de 1 a 3. Todos se situam no Bairro da Ribeira,

próximos da atual localidade daquela Comunidade e também possuem pequenas distâncias

entre si.

O terreno 1 é de propriedade total da Prefeitura do Natal, tendo como responsável

direto pelo seu gerenciamento a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMSUR).

Segundo dados da Prefeitura do Natal (2013a) aquele terreno mede 8.741,86m2 e pelo seu

tamanho, seria possível construir todas as 165 Unidades Habitacionais (U.H.s) necessárias

para o total reassentamento da Comunidade do Maruim além de uma quadra poliesportiva, um

centro comunitário e áreas verdes. O terreno 2, possui 3.509,79m2

(Prefeitura do Natal e

SEHARPE, [2013a]), contudo, apresenta titularidade duvidosa, pois nominalmente pertence a

massa falida da empresa Engequip (engenharia de equipamentos), mas existem dúvidas

quanto a parcela que pertencente a mesma e qual é de propriedade da União (TRIBUNA DO

NORTE, 2012). Pelos cálculos dos técnicos da SEHARPE, a extensão do terreno 2 ficaria

responsável por atender a demanda de 64 U.H.s. sem acréscimos de aparelhos esportivos e

comunitários. O terreno 3, de titularidade pertencente a Prefeitura do Natal, é dirigido pela

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Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB) e tem como extensão

territorial 2.754,63m2 (Prefeitura do Natal e SEHARPE, [2013a]) e da mesma maneira que o

terreno 2, abrigaria 64 U.H.s sem demais instrumentos de esporte e integração comunitária.

Diante das propostas, viu-se que o terreno 1 se encontrava com maior potencial

construtivo e possuía o melhor custo benefício, pois daria para construir todas as U.H.s

necessárias para atender as 165 famílias existentes na Comunidade do Maruim. Vejamos

detalhadamente outras informações acerca do terreno escolhido.

Fotografia 13 - Distância entre o terreno escolhido para o reassentamento da Comunidade do

Maruim em relação a atual localidade da mesma.

Fonte: Prefeitura do Natal (2013a).

O terreno escolhido para o reassentamento da Comunidade do Maruim fica localizado

na Rua General Glicério, Bairro da Ribeira, e conforme vemos na fotografia 13 se distancia da

atual localidade onde a mesma se encontra, há aproximadamente 650 metros, o que satisfaz os

anseios da Prefeitura do Natal e de muitos moradores daquela Comunidade, uma vez que,

para a Prefeitura é sinal de dever cumprido e para muitos moradores de alívio, pois

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continuarão residindo próximos ao meio natural onde a maioria tiram seus sustentos através

da pesca, o Rio Potengi29

.

Inicialmente a ideia era que fossem edificadas 176 U.H.s em 22 blocos com 4 andares,

cada andar com 2 apartamentos, além da quadra poliesportiva, área de recreação, centro

comunitário e áreas verdes, contudo, através de novos cálculos verificou-se que era possível

construir 200 U.H.s e manter os aparelhos sociointerativos e ambientais, onde, além de

beneficiar as 165 famílias da Comunidade do Maruim, o excedente servirá de mitigação para

problemas habitacionais em outras Comunidades delimitadas na área de interesse social da

Cidade. O local que abrigará, pela última delimitação, 200 U.H.s subdivididos em 25 blocos,

cada um composto por 4 andares, cada andar com dois apartamentos, além dos complexos

esportivo-recreativo e comunitário, receberá o nome de “Residencial Maruim”, em

homenagem ao atual nome (PREFEITURA... 2013a). Dessa forma, o projeto para o terreno 1

fora arquitetado de acordo com o que mostra a figura abaixo.

Figura 4 - Maquetes em 3D do projeto inicial para o Residencial Maruim.

Fonte: Prefeitura do Natal e SEHARPE [2013a].

29 Mesmo satisfazendo boa parte dos moradores da Comunidade, o projeto de reassentamento não agrada a

todos. De acordo com os relatos que ouvimos na visita in loco, alguns moradores expuseram que a distância irá

atrapalhar em sua rotina, pois precisarão acordar ainda mais cedo para se preparar para a pesca e após a área da

Comunidade ser disponibilizada a autoridade portuária os acessos ao Rio Potengi diminuirão, pois a CODERN

cercará a área e os mesmos deverão se deslocar para ainda mais longe para ter contato com o Rio.

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Cada apartamento terá dois quartos, um banheiro, cozinha, área de serviço e sala, com

uma área útil de 43,20m2, uma média maior que a utilizada nacionalmente para esse tipo de

moradia (TRIBUNA DO NORTE, 2013). As famílias beneficiadas receberão o imóvel

gratuitamente, no entanto, de acordo com informações de funcionários da SEHARPE, com

quem tivemos a oportunidade de conversar, os moradores não poderão vender seus

apartamentos para outras pessoas.

Com base no memorial descritivo do projeto de reassentamento da

Comunidade do Maruim confeccionado pela Prefeitura do Natal (2013a):

Será adotado projeto único para todas as Unidades Habitacionais e a variação entre

as unidades adaptadas e unidades tipo passíveis de adaptação serão restritas a

solução de ambientação e kits de adaptação. Todas as unidades permitem adaptações

posteriores diferenciadas de acordo com as necessidades e deficiências dos beneficiários. Para tal dimensionamento foi adotado o Módulo de Referência (MR)

da NBR 9050:2004 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e

equipamentos urbanos.

Abaixo podemos ver a planta baixa de uma unidade habitacional comum (à esquerda)

e de uma unidade habitacional para pessoas com deficiência (à direita).

Figura 5 - Planta baixa de unidades habitacionais a serem construídas no Residencial Maruim.

Fonte: Prefeitura do Natal e SEHARPE [2013a].

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Apenas a obra de reassentamento tem um custo inicial avaliado em R$ 12,2 milhões.

No dia 4 de agosto de 2014, deu início aos trabalhos de instalação do canteiro de obras e

limpeza do local, ações tidas como o pontapé inicial das construções que tem previsão de

conclusão para janeiro de 2016. (TRIBUNA DO NORTE, 2015).

Recentemente, o Jornal natalense Tribuna do Norte, disponível de formas impressa e

online, publicou uma notícia acerca do andamento nas obras do Residencial Maruim, as quais

no dia da publicação da notícia se encontravam 36% concluídas, conforme podemos

visualizar na fotografia abaixo, a qual foi divulgada pelo mesmo jornal.

Fotografia 14 - Obras do Residencial Maruim 36% concluídas.

Fonte: Magnus Nascimento (2015).

As obras promovidas pelo poder público para a Comunidade do Maruim se completam

com a proposta de urbanização da área remanescente do assentamento. Esse projeto objetiva

dividir o terreno entre a autoridade portuária, CODERN, e os comerciantes da Comunidade do

Maruim, conforme é relatado pelo “memorial30

descritivo do conjunto arquitetônico e

urbanístico: urbanização Maruim” sobre coordenação da Prefeitura do Natal:

30

Esse memorial tem como finalidade apresentar o conjunto de informações mais relevantes pertinentes à

intervenção urbanística a ser empreendida para a Comunidade do Maruim.

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Na área remanescente do assentamento tem-se previsto a divisão do terreno, [...] em

6039,83m² para a Companhia Docas do Rio Grande do Norte a qual prevê a

ampliação da sua área de carga e descarga. E 5.820,74m² para a urbanização da área

lindeira do terreno conjugada à Praça Por do Sol. (PREFEITURA DO NATAL,

2013b).

Figura 6 - Planta de situação proposta para intervenção urbanística na área remanescente da

Comunidade do Maruim.

Fonte: Prefeitura do Natal (2013b).

Figura 7 - Maquete em 3D proposta para intervenção urbanística na área remanescente da

Comunidade do Maruim.

Fonte: Prefeitura do Natal e SEHARPE [2013b].

O memorial desenvolvido pela Prefeitura do Natal descreve que a proposta de

urbanização para a área remanescente da Comunidade do Maruim e adjacência fez-se

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necessária após atualização do diagnóstico urbanístico e social, o qual considerou a situação

socioeconômica, cultural e histórica daquela comunidade (PREFEITURA DO NATAL,

2013b), e de acordo com os estudos feitos pela SEHARPE foi apontado que:

Para a sustentabilidade do Projeto Habitacional de Reassentamento era preciso dar

solução para os demais usos encontrados como os comerciais e de serviços. Além disso, tal diagnóstico revelou a necessidade de manutenção da atividade comercial

de descasque de camarão e pesca, os quais são característicos da localidade e

reconhecidos pela cidade do Natal. Outro aspecto observado foi à necessidade de

integração da área de urbanização com o entorno, considerando a praça e a malha

viária. Neste sentido, a referida proposta habitacional será promovida pela ação de

reassentamento e urbanização, as quais são interdependentes e necessitam ocorrer

concomitantemente com vistas à sustentabilidade da proposta habitacional que se

pretende. (PREFEITURA DO NATAL, 2013b).

O projeto urbanístico já citado, compreende as construções de 24 boxes comerciais, 6

quiosques, um centro de descasque de camarão, banheiros, alargamento da avenida

Engenheiro Hidelbrando de Góis, recuperação de calçadas, além do projeto paisagístico e de

compensação ambiental a ser realizado na Praça do Pôr do Sol, que fica localizada ao lado da

Comunidade do Maruim e próxima ao Mercado do Peixe. A preocupação em manter os

empreendimentos comerciais existentes atualmente na Comunidade do Maruim tem suas

descrições feitas no memorial elaborado pela Prefeitura do Natal, onde é explanado que:

[...] Foram projetados boxes comerciais destinados aos moradores do Maruim que

detenham algum tipo de atividade comercial relacionada à pesca ou não. Estes boxes

são pensados para a manutenção da renda familiar com vistas à sustentabilidade

socioeconômica do processo de reassentamento. O Centro de Descasque de camarão

foi proposto pela atualização do diagnóstico da área, o qual identificou esta prática

como principal atividade geradora de renda, haja vista que é ou complementa a

renda familiar da maioria das famílias do Maruim. Quanto aos quiosques, estes se

fizeram necessários para complementação de unidades comerciais, mas para serviços menores como: bar e mercearias de pequeno porte. Além disso, considerou-

se a pré-existência de uma unidade deste equipamento na praça, sendo preciso a sua

continuidade [...] O acesso ao local será feito tanto pela Avenida Engenheiro

Hildebrando de Góes, quanto pela Rua São João de Deus, onde se localizam os

estacionamentos. Estes contarão com 22 vagas para estacionamento de carros de

passeio, sendo duas para pessoas com deficiência. (PREFEITURA DO NATAL,

2013b).

Na figura 8 poderemos visualizar, através de uma maquete em três dimensões, como

será a obra de urbanização idealizada pela Prefeitura de Natal e SEHARPE que visa

beneficiar não só os moradores da Comunidade do Maruim, como também turistas e visitantes

que passam pelo local diariamente.

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Figura 8 - Maquete em 3D proposta para intervenção urbanística na área remanescente da

Comunidade do Maruim e adjacência.

Fonte: Prefeitura do Natal e SEHARPE [2013b].

A obra custará cerca de R$ 3,9 milhões num levantamento inicial e também será paga

com recursos do Orçamento Geral da União (OGU) através do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), contudo, as obras não tem data determinada para serem iniciadas.

(TRIBUNA DO NORTE, 2014).

Quanto ao Porto de Natal, após a realocação da Comunidade do Maruim da área a qual

se encontra hoje, utilizará tal espaço para ampliação do que denominam “pátio norte”. Esta

área extra servirá para armazenamento e movimentação de contêineres e instalações de

equipamentos elétricos (COMPANHIA... 2010). A fotografia 15 exibe a configuração do

Porto natalense dividido em 21 setores e mostra também a área pertencente à Comunidade do

Maruim que futuramente será agregada a estrutura portuária.

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Fotografia 15 - Vista aérea dos setores do Porto de Natal.

Fonte: CODERN (2010).

A área tracejada de laranja representa a Comunidade do Maruim, já a área marcada na

cor rosa, ilustra o local que será destinado para construção de um cais com 220 metros na

direção Norte e para ampliação da retroárea do Porto, a qual medirá aproximadamente

8.000m2 (COMPANHIA... 2010). Após a efetivação da integração das áreas tracejadas ao

espaço do Porto, o mesmo ficará configurado da seguinte forma:

Figura 9 - Layout do Porto de Natal com as novas áreas já integradas.

Fonte: CODERN (2010).

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De acordo com o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento desenvolvido pela

CODERN, as nomenclaturas dos setores ficarão assim definidas:

a) Berços de atracação (01, 02 e 03);

b) Armazém frigorífico e armazém seco n° 03;

c) Pátio sul e sede administrativa da CODERN;

d) Pátio central, armazéns secos (01 e 02) e galpões (01 e 02);

e) Pátio norte;

f) Área arrendada ao grande moinho potiguar;

g) Centro de apoio operacional;

h) Expansão do pátio norte (sobre área ocupada pela comunidade do maruim);

i) Ampliação do berço 03;

j) Terminal múltiplo uso na margem esquerda do Rio Potengi; k) Terreno a ser integrado ao porto de natal. (CODERN, 2010)

Com a adição dos espaços da Comunidade do Maruim, o Porto de Natal espera

alavancar suas receitas financeiras e dessa forma consequentemente as receitas do Estado do

Rio Grande do Norte, conforme se confirma nas declarações abaixo.

O Porto de Natal vem ao longo desses últimos anos, elaborando projetos para

melhoria de sua infraestrutura e, a medida do possível, executando-os, para que

desta maneira, seja possível atrair novos clientes e aumentar sua receita. Dentre os

projetos podemos citar como exemplo o de ampliação do Pátio Norte através da

incorporação da área correspondente a Comunidade do Maruim, Dragagem e

Derrocagem do Rio Potengi [...] Calcula-se, em uma estimativa conservadora, que

este aumento venha a elevar o seu patamar de movimentação de cargas para aproximadamente 3 vezes o atual, superando 1.000.000 de toneladas anuais.

(COMPANHIA... 2010).

Na tabela a seguir poderemos vislumbrar as perspectivas de crescimento na

movimentação de cargas feitas pelos gestores do Porto, caso todos os projetos se concretizem.

Os dados compreendem os anos de 2010 a 2017.

Tabela 2 - Projeção de movimentação de cargas no Porto de Natal para os anos de 2010-2017.

Fonte: CODERN (2010).

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Visando toda essa alavancada na movimentação de cargas, maior objetivo de uma

entidade portuária, a CODERN, não ver a hora de pode se apropriar da área que a pertencerá

para poder pôr em prática todo planejamento idealizado.

Por outro lado, na Comunidade do Maruim, por estar se tratando de um grupo de

pessoas que viveram em um local por várias décadas e lá construíram famílias e criaram laços

afetivos com o território – a Identidade Territorial tão comentada nessa pesquisa – a satisfação

pela saída do local não é unânime. Quando visitamos a Comunidade e ouvimos os moradores

nos foram apontadas algumas razões de descontentamento pela desapropriação. Certas razões

mencionadas dão conta do convívio com os vizinhos. Em muitos comentários, principalmente

de mulheres, a questão do comportamento diferenciado entre as famílias será uma

problemática recorrente no Residencial Maruim, dado que, os espaços entre os apartamentos

serão menores e, conforme os relatos, nem todas as donas de casa são zelosas e cuidadosas

com a limpeza de suas residências, fato que contribuirá para gerar desavenças entre as

mesmas. As reclamações não param por aí, outro fator bastante significativo apontado por

muitos moradores entrevistados é o da forte presença do tráfico de drogas dentro da

Comunidade, o qual, conforme os moradores a mudança para o convívio em apartamentos só

vai aumentar a influência e sensação de temor por parte dos que não se enveredam por tal

caminho, visto que, os acessos das possíveis rondas policiais serão dificultados, devido os

espaços no interior dos blocos de apartamentos serem mais estreitos que os habituais na

localidade atual. Um fato muito curioso apontado por um morador de mais idade nos chamou

atenção, pois na sua fala em relação à obtenção da renda pela maioria dos moradores, o

mesmo relata que não se configura unicamente através da atividade pesqueira, como muitos

informaram, mas sim do tráfico de drogas. De acordo com o entrevistado, centenas de pessoas

distribuem drogas em diversos locais da Cidade do Natal e ainda têm suas casas como ponto

para venda daquelas, “Existem famílias inteiras que sobrevivem do tráfico de drogas aqui na

comunidade” finalizou.

Os moradores mais antigos da Comunidade do Maruim são os que mais desaprovam e

desacreditam no projeto de desapropriação, dado que ao longo de suas vidas já ouviram

diversas promessas de intervenção por parte do poder público e nunca presenciaram

mudanças. No entanto, diante da concretude dos acontecimentos atuais, aquelas velhas

promessas tem tudo para serem cumpridas, e mesmo diante das incertezas do futuro, algo é

certo, a vida desses moradores nunca mais serão as mesmas. Contudo, isso serão “cenas” das

próximas “seções”, pois conforme o subtítulo que utilizamos nesse intento final estamos aqui

“para não concluir”, ou seja, ainda teremos muito o que estudar para tentar responder sobre as

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novas problemáticas que certamente permearão a vida dos moradores da até então

Comunidade do Maruim, quando estiverem num novo “Território”.

Como autor dessa instigante e duradoura pesquisa, sinto-me honrado em está

contribuindo – creio eu que de forma significativa – para a Ciência Geográfica, Ciência essa

por quem sou declaradamente apaixonado.

O trabalho de campo foi fundamental para constatação dos estudos prévios e aquisição

de novos conhecimentos acerca do objeto de estudo central da pesquisa. Durante a visita, a

recepção dos moradores para comigo e com dois amigos que me auxiliaram na aplicação dos

formulários foi algo marcante. Sempre muito receptivos, sorridentes e felizes, nenhum

morador se recusou a responder as perguntas e mesmo os mais temerosos, aos poucos

conseguimos ganhar a confiança. São pessoas especiais!

Uma nota de pesar a qual não poderia deixar de externar, é que durante as pesquisas

para esse trabalho em sites e periódicos na internet, encontrei uma notícia acerca de uma

garota de 4 anos chamada Maria Eduarda, a qual foi morta por causa de um acerto de contas

entre um homem e sua mãe, que não era sua mãe biológica mas a criava como se fosse. Para

você entender melhor, a “mãe” da Maria Eduarda traficava drogas na Comunidade do Maruim

e devia dinheiro a um indivíduo, por não ter como pagar a dívida em dinheiro, pagaria com a

própria vida, contudo, não foi ela que pagou, mas sim uma criança linda e inocente. Se você

ficou curioso(a) em saber quem é a criança, é só olhar a epígrafe dessa pesquisa e certamente,

assim como eu, também se emocionará.

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APÊNDICE A – Formulário aplicado aos moradores da Comunidade do Maruim.

Há quanto tempo reside na Comunidade? 01 a 10 anos 11 a 20 anos 21 a 30 anos

Mais de 30 anos

Especificar Quantidade:________

QUESTÕES DE PESQUISA

1- Nas opções abaixo indique três características da Comunidade do Maruim

Sua relação com o ambiente Obtenção da renda pela Natureza Laços de amizade e convivência

A vida em família Solidariedade entre os moradores

2- Nas opções abaixo, indique a importância do Rio Potengi e seu mangue para a vida no Maruim.

Riqueza natural Fonte de renda

Abastecimento de água e alimentos Identidade com a sua natureza Fonte de lazer

3- Nas opções abaixo, indique três razões para a permanência da Comunidade do Maruim no bairro da Ribeira.

Sua proximidade do Rio (fonte de renda)

Oferta de serviços de saúde e educação

Importância histórica e cultural

Transportes para as regiões da cidade

As organizações dos moradores situadas no bairro

4- Indique as fontes de renda ou ganhos de dinheiro da família

Produção pesqueira Pensão e aposentadoria Trabalho em serviço ou comércio

Artesanato

Outros:______________________________

5- Desapropriar é um ato exercido pelo poder público. De que maneira vem sendo conduzida pela administração municipal a saída da população do Maruim?

Através de audiências públicas Procura convencer os moradores que o “Maruim” é de interesse público Troca de imóveis Indenização em dinheiro

6- Indique três razões apontadas pela Prefeitura para realocá-los do Maruim.

Melhoria da moradia Ocupação da área pelo porto Melhoria das condições de saneamento Preservação do Rio Potengi Reforma da área ocupada pela comunidade

Outros:______________________________ 7- O que a comunidade propôs a prefeitura?

Permanência da comunidade no local Reformar e sanear o local da comunidade Construir moradia nas proximidades do Maruim Construir um conjunto habitacional para as famílias Indenizar as famílias do Maruim

8- O que você considera como incerto para a população do Maruim?

Acontecer a realocação Nem todos receberem moradias O local para onde serão realocados O poder público cumpra o acordado

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RN

Av. Sen. Salgado Filho 1559 – Tirol – Natal/RN – Fones: (84) 4005-2668

CEP: 59.015-000 - CNPJ: 243703710001-23

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Este formulário é realizado no âmbito de uma pesquisa de conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia do

IFRN – Campus Natal Central e é dirigido aos moradores da Comunidade do Maruim. Os dados são confidenciais e

as respostas serão indicativos importantes para analisarmos a relação de identidade dos participantes, que serão

realocados para um novo espaço por motivo da ampliação do Porto de Natal.

CARACTERIZAÇÃO DO PARTICIPANTE

Idade:____________ Gênero: Masculino Feminino Grau de Instrução: Fundamental Médio Curso Técnico Superior O trabalho está ligado ao Rio Potengi? Sim Não

Qual? ________________________________________