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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013
Universidade do Estado da Bahia – Campus ISalvador - BA
O PROCESSO DE ADOÇÃO POR OPÇÃO DE CASAIS HOMOSSEXUAIS, NO BRASIL; UMA PERSPECTIVA DE ANÁLISE SOCIOLÓGICA E JURÍDICA NO INÍCIO DO SÉC.
XXI
Antônio Domingos Araújo Cunha1
RESUMO
Este trabalho, de caráter qualitativo, tem por proposta situar o processo de adoção por opção de casais homossexuais no Brasil, na perspectiva de análise sociológica e jurídica como problema central, apontando-se como objetivos específicos, ações ordenadas no sentido de realizar pesquisa em fontes formais e atuais de investigação, bem como eletrônicas, e geral, problematizar o tema numa perspectiva crítica de observação.
Palavras-chave: Abandono, adoção, preconceito, união homossexual
INTRODUÇÃO
Logo de início ao processo de investigação qualitativa de caráter explicativo, seguem as
especificações de Sampieri (2006), em que fica pré-estabelecido a escolha de um tópico original e
relevante de pesquisa, com determinação de objetivos gerais, assim colocados; a) identificar os
pólos de discussão do problema de pesquisa, quais sejam, crianças abandonadas e soluções
contemporâneas encontradas no meio social, como por exemplo, as relações homoafetivas; b)
categorizar subitens de pesquisa para desenvolvimento de trabalho escrito. Já os específicos,
incluem; a) Identificar nas relações afetivas, as formas de conceber a vida, e as consequências
jurídicas e sociais destas escolhas; b) Compreender a dinâmica do tema nas diversas articulações
discursivas c) explicar as correlações entre temas paralelos, quando constatados, tais como,
casamentos entre homoafetivos, menores abandonados, formas alternativas de concepção e adoções.
A metodologia2 foi de revisão bibliográfica, reflexão sobre estudos de caso, e análise
qualitativa (o autor interpreta da maneira como ele encara o objeto de estudo, em contexto próprio)
e quantitativa de informações obtidas na rede (Pesquisa do Ibope/2011), porém buscando
significado nas respostas eleitas e coletadas (logo, muito mais qualitativo), por análise de
posicionamentos individuais considerados relevantes e significativos, que expliquem o problema.
1 Trabalho apresentado pelo autor, aluno do Curso de Doutorado em Direito da Universidade de Buenos Aires, para o III Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades, promovido pela Universidade do Estado da Bahia-Campus I, de 15 a 17 de maio de 2013, em Salvador-BA. E-mail: [email protected]. 2 METODOLOGIA. Disponível <http://www.eps.ufsc.br/disserta98/marcia/cap3.htm> Acesso: 20.08.2012.
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A hipótese encontrada inicialmente, para a falta de aceitação do problema analisado, remete
para as múltiplas manifestações de preconceito (grifo nosso) na sociedade, por razões religiosas,
morais, éticas, e de gênero.
1. Um olhar para a concepção humana, em caráter panorâmico
A definição da palavra “amor” nos remete a uma união de intenções, de cumplicidade
infinita, de dedicação ao outro, mas que, se inicia entre o corpo físico e psíquico de um indivíduo. A
existência de dois mundos, o interior e o exterior, ou seja, seu psiquismo e sua constituição física
faz do ser humano, um sujeito afetivo, cognitivo e motor, que se relaciona com as energias que
orbitam ao seu redor, e que interferem na sua natureza íntima, de maneira à reconceber-se na
maturidade física, não necessariamente psíquica, pela união sexual, modernamente, já não mais
exclusivamente, num primeiro plano de análise.
Quando do segundo momento, digo, do nascimento, este afastamento é subitamente
interrompido, após a gestação, onde todos e quaisquer cuidados passam a ser responsabilidade de
vários atores. É o momento de ruptura entre os cuidados de uma mulher para com o (a) filho (a) –
ou mais indivíduos - por razões de sua vontade ou não. O terceiro momento é o de decidir quem
efetivamente fará parte da formação desta criança e em que condições. Este artigo articula estes
papeis, que conferem a um ou mais seres humanos oriundos da criação divina, ou seja, do milagre
da vida, o seu desenvolvimento por nenhum, um, dois ou mais indivíduos diretamente responsáveis
pela sua integridade física, moral e espiritual, ou indiretamente, nos processos de transferência de
tais responsabilidades aos parentes mais próximos, Estado e pais adotivos, ou estranhos a esta
relação (concubinas, madrastas e padrastos, modernamente chamado de pais e mães afins). Outra
possibilidade seria a criança abandonar sua família prematuramente, em razão de sua infelicidade
em aceitá-la e partir para um plano de buscas precoce e perigoso (as ruas por exemplo).3
A família de casais homossexuais pode contemplar a criação de filhos de um dos membros
da união conjugal, ou filhos de ambos usufruindo de ambiente familiar comum. A opção sexual
convencional dos pais pode mudar, de heterossexual para homossexual, na medida em que
3 CASO Suzane Louise von Richthofen (1983), que planejou a execução dos pais, com o apoio do namorado. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Richthofen. Acesso em: 21.08.2012.
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reconcebam suas convicções sobre a sua sexualidade. A criança se divide entre os ditos intrusos da
nova relação, ou seja, pais afins, ainda que não homossexuais.4
O fato é que o conceito de família vem se adaptando às condições novas. Porém, em 1949, o
antropólogo George Murdock arriscou uma definição assim universal (baseada em sua análise de
cerca de 500 sociedades) e afirmou que “a família” era um grupo social caracterizado pela
residência, a cooperação econômica e a reprodução (este último de mais difícil contextualização).
Ela inclui, adultos de ambos os sexos, pelo menos dois dos quais, mantém um relacionamento
sexual socialmente aprovado, e um ou mais filhos, próprios ou adotivos dos adultos que coabitam
sexualmente (BOTTOMORE, 1996, p.297).
A sociedade tem condenado a união homoafetiva, como se esta fosse causa da delinquência
e da dor, de uma sociedade que emerge no novo milênio, baseada em novas formas de pensar e agir
sobre as questões da sexualidade, incorrendo em conflito.
A falta de união social e a delinquência, são fatos a serem ponderados, devido às
transformações que ocorrem em nossas sociedades, que traduzem igualmente, a sua maneira, este
fenômeno de desunião social e fragilização que enfrentamos. Não são os atentados às máquinas,
senão as patologias do vínculo social (atos de incivilidade, violências sexuais, transtornos sociais e
familiares) as que constituem hoje a parte essencial da atividade dos tribunais (FITOUSSI;
ROSANVALLON, 2010, p. 52).
1.1 Múltiplos meios e possibilidades de conceber a vida, na condição homoparental
A vida fora do útero materno vem assumindo complexidade sociológica que demanda
amadurecimento jurídico, inclusive porque em seu interior uterino, já não segue os meios
tradicionais de fecundação, propiciando inclusive aos homossexuais, inúmeras formas de
conceberem seus filhos, por limitações patogênicas ou fisiológicas. Logo, um pai homossexual não
pode ter um filho resultante da combinação de dois seres do mesmo sexo, mas uma mãe
4
4
Lembre-se do caso Nardoni, com a morte da menina Isabella, de seis anos, lançada pela janela do 5º andar da casa do pai
e da madrasta, autores do crime (2008). CASO Isabella Nardoni (2008), Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/casoisabella/> Acesso em: 21.08.2012.
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homossexual sim, quando uma doa o óvulo fecundado e a outra concebe5. O poder judiciário acatou
o pedido de Registro de Nascimento dos gêmeos, com o nome das duas mães, a exemplo, de duas
mães.6
No caso masculino, o segundo pai é quase que um pai adotivo, sem participação nenhuma
no processo de fecundação, enquanto que na questão feminina, o envolvimento das duas partes, faz
com que biologicamente ambas sejam responsáveis pela gestação, envolvendo um terceiro, doador
do esperma. Logo, se estas possibilidades já existem, e são praticadas no meio médico, a questão
dos processos de adoção pelos casais homossexuais já tem caráter secundário.
Bottomore (1996) esclarece que o conceito de sociedade esbarra na bifurcação daquela que
representa a soberania do estado político e também comunidade (esta se divide, em comunidade
convencional, e gay). O tema encontra resistência nos três sentidos. O dever do Estado em legislar,
a sociedade convencional em aprovar ou não a família assim moldada, e há aqueles, que embora
sendo de um grupo social de referência homossexual, não aprovam as adoções, ou não as têm como
opção de vida. Isso se dá, como explica Gohn* (2001), pela ressignificação contemporânea do
termo comunidade no Brasil, operada por lideranças populares (ONGs), políticas públicas, toda vez
que falamos em inclusão social dos excluídos, através de diferentes formas de apoio aos
vulneráveis. Certo é que os problemas que o (a) adotado (a) enfrentará pelos preconceitos em torno
da situação sexual de seus pais assumem uma esfera oscilante entre a aceitação social e a
possibilidade de rejeição, quando não aparente, mascarada, de acordo com o envolvimento
institucional da criança e o relacionamento dos pais na gestão de seus interesses, dentro e fora da
própria família. Esta é matéria constitucional, antes, durante e depois do processo de adoção.7
Um aspecto bastante interessante, é que ainda se tem o adotante, na condição de sua
declarada homossexualidade, como parte interessada na adoção, e este, por sua vez, pode não ter
união com um segundo indivíduo, em iguais condições de forma reconhecida. Esta condição é dada
5 CASO real de recusa do processo de adoção e meios médicos para resolução de conflito conjugal. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=DDvUR_v0HcY&NR=1> Acesso em 18.08.2012. Obs. * (Gohn (2001) está inclusa em trabalho conjunto (Referência: SOUZA; COSTA).6 DECISÃO favorável no caso das gêmeas, descritas acima. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=DDvUR_v0HcY&NR=1> Acesso em: 18.08.2012. 7 Fazer tal valoração seria desrespeitar o preceito constitucional que proíbe preconceitos em razão de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação(artigo 3º, IV, parte final, CRFB). CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 21.08.2012
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pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente - que permite a adoção por maiores de 21 anos,
independente do estado civil, em seu artigo 42, mas com a entrada do novo Código Civil (2002), a
maioridade passou a ser concebida aos 18 anos. Logo, o ECA se adequou à Legislação
Complementar (Código Civil, art. 1618) referida.
Neste sentido advertem8 (CUNHA, PEREIRA, 2006) que em nome do melhor interesse à
criança, há de se reconhecer a existência de outras “famílias possíveis” como relações de
parentalidade e de convivência, aptas a produzir efeitos no mundo jurídico, como instrumentos de
proteção para aqueles que estão em plena fase de desenvolvimento (CORRÊA, 2007).
1.2 As mudanças estruturais na constituição da família, uma questão sociológica
Dizer que a família é a base da sociedade, apenas nos moldes convencionados, parece ser
uma ironia uma vez que a realidade das mães solteiras, de pais ou mães viúvos (as), daqueles cuja
sociedade conjugal se encontra comprometida pelas separações de casais, no momento em que as
relações afetivas se desnudam diante da realidade, apenas porque se tornaram mais comuns e menos
escandalosas ao longo dos séculos traz sim, implicações sociológicas e jurídicas da mais alta
relevância acadêmica.
Cabe a advertência de Kauchakje* (2005, p. 56), que numa sociedade em que há acentuada
desigualdade social, os direitos das pessoas que fazem parte das chamadas minorias – mulheres,
homossexuais, pessoas com necessidades específicas, negros, índios, idosos, crianças entre tantos
outros recortes e cruzamentos das categorias de gênero, etnia, geração, etc. – tendem a ser
reiteradamente desrespeitados.
Logo, a adoção entre casais homoparentais se consolida como objeto de investigação, uma
vez situado o problema a ser analisado e as conexões da realidade objetiva, ainda não contempladas
pela teoria, num mundo de representações sociais e construções simbólicas (representações), em
que todo sujeito apela para interpretar o mundo, para refletir sua própria situação e a dos demais.
Como nos ensina Bourdieu, estas impressões e representações do social tendem a simplificar o
sistema total de relações em que se insere singularmente cada sujeito (URCOLA, 2010, p.27). 8 MÁRCIO Eduardo Denck Corrêa, Apud. CUNHA, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (organizadores). Direito de Família e o Novo Código Civil. 4ªed. Belo Horizonte : Editora Del Rey, 2006. P. 146. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1923> Acesso em 17.08.2012. Obs. * KAUCHAKJE (2001) está inclusa em trabalho conjunto (Referência: SOUZA; COSTA, 2005).
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A população infantil, sob múltiplos aspectos, espelha a realidade da adulta, quer na
aceitação do modus vivendi que adotam seus responsáveis, quer na resistência que oferecem a eles,
afastando-se das referências com as quais contam, na procura de sua identidade. 9 Neste sentido,
Eligio Resta10 esclarece, que aquilo que nos sistemas sociais vem indicado como fenômeno da
identidade assim considerado, vem assumindo importância crescente em todos os âmbitos da vida, e
por fim, contingência, constituindo-se um verdadeiro enigma, que requer irrepetibilidade,
unicidade, e a identificação, que pressupõe uma perda da identidade a favor de uma auto ou hetero-
identificação em algo ou em algum outro. Na oscilação dos dois conceitos de identidade e
identificação se encontram todos os matizes e todas as possíveis variantes que a complexidade de
tais condições sugere (LORA, 2011, p.108-109).
A Lei 12.010/2009, em seu Art. 48, estabelece que o adotado tem direito de conhecer sua
origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e
seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. Neste tempo de sua criação, seus
valores essenciais já estarão sedimentados, e a aproximação aos pais biológicos, pouco afetará a
educação que recebeu.
A discussão maior recai no binômio hereditariedade versus ambiente, além do forte
argumento, que ainda que os menores não se incluam num contexto familiar convencional - antes
assim, do que o abandono pleno dos pais biológicos, os orfanatos, ou as ruas (inclusão urbana
vulnerável) – estariam sofrendo influências em seu comportamento e provável definição da
sexualidade.
Segundo Urcola (2010), o fato é que algumas práticas sociais se consolidaram para a
sobrevivência como um leque de possibilidades entre as quais se podem escolher para sobreviver na
cidade marginal ao mercado laboral e de consumo formal, e que as mesmas tendem a perpetuar
posições e relações sociais desfavoráveis de marginalidade e de exclusão social.
1.3 A união conjugal homoafetiva de acordo com os preceitos legais no Brasil
Segundo Ludwig11 (2012) recentemente, julgou-se no Supremo Tribunal Federal, digo, em
05/05/2011, com a sentença publicada em 14/10/2011, que considerou que devem ser aplicadas as 9Françoise Dolto (1908-1988) é um ícone na interpretação de problemas da infância dedicando-se à compreensão do mundo infantil, em estudos acompanhados com a presença dos pais, fundadora da “Casa Verde”, em 1979, na França. 10 Autor do trabalho “Identidad”, e professor ordinário de Filosofia do Direito, Faculdade de Jurisprudência da Universidade de Roma III, Itália, traduzido por Laura N. Lora, em colaboração com Gisela Maurs. 11 LUDWIG, Frederico Antônio Azevedo. In Reflexiones Sobre Derecho Latino Americano, vol.7 p. 179-189, Buenos Aires, Editorial Quorum, 2012.
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mesmas regras e consequências da união estável heteroafetiva na união homoafetiva, sem nenhum
prejuízo considerando a norma kelseniana de que aquilo que não está juridicamente proibido e não
seja obrigatório, está juridicamente permitido. Logo, os casais homossexuais têm direito de
constituir família, uma vez que a Constituição Federal não limita a sua formação aos casais
heterossexuais, logo a interpretação é extensiva.
A confrontação maior estava com o artigo 1723 do Código Civil Brasileiro, em que se
admitia unicamente a união entre um homem e uma mulher, uma vez configurada a convivência
pública contínua, duradoura e estabelecida no sentido de formar uma família. Explica ainda o autor,
que este preceito está em acordo com o art. 226, Parágrafo 3° da Constituição Federal Brasileira,
que igualmente reconhece a união estável entre um homem e uma mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar esta convenção em casamento.12 Afirma também que este assunto é
examinado há mais de 15 anos sem haver um consenso sobre o mesmo, admitindo a clandestinidade
destes fatos sociais no âmago da sociedade, em conflito direto com o que a lei efetivamente
considera como entidade familiar. O casamento homoafetivo, não deveria estar como condição para
a adoção, visto que o interesse da criança está acima disso.
Um exemplo disso é a criação do termo “união homoafetiva” 13 que foi criado pela
desembargadora Maria Berenice Dias14 para substituir o termo união homossexual. Esse termo foi
muito bem colocado e assimilado socialmente, vez que se voltou ao sentimento que permeia essas
relações, qual seja o afeto, que é diferente de amor.
2. Crianças abandonadas e novas formas de repensar a adoção
12 Dia 18.08.2012, ocorreu o primeiro casamento civil entre homens homossexuais, de São Paulo, em Itaquera. Os noivos, o professor, agora chamado Mário Perrone Grego, de 46 anos, e o técnico em enfermagem, Gledson Perrone Grego, de 32 anos, estão juntos desde 2002 e viviam em união estável. Com base em um acórdão publicado no Diário de Justiça de 6 de julho de 2012, que autoriza o casamento civil de pessoas do mesmo sexo na cidade de São Paulo, o casal decidiu oficializar a união. Disponível em <http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/primeiro-casamento-gay-de-sp-%C3%A9-realizado-em-itaquera> Acesso em: 18.8.2012. 13 DICIONÁRIO JURÍDICO. Disponível em< http://www.direitonet.com.br/resumos/busca?palavras=conceito+de+curatela> Acesso em: 21.08.2012.
14 A Autora conta com uma larga relação de artigos sobre homoafetividade e processos de adoção. Disponível em < http://www.mariaberenice.com.br/pt/homoafetividade.dept> Acesso em 21.08.2012.
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Há estudos que justificam o poder econômico de casais homossexuais. A especulação de
marketing gira em torno do poder de compra e da vaidade masculina e feminina.15 Em
consequência, tem havido uma redefinição da questão sustentável nos processos de adoção, quando
admitidas as uniões estáveis entre casais homoparentais, e inclusive, a adoção descolada da intenção
familiar.
Outra pertinente indagação é se o filho desejará conhecer a mãe ou o pai que foi destituído
do poder familiar em função da sua total falta de interesse em educar a criança, ou até mesmo de tê-
lo em seus braços, como o caso da menina encontrada em um saco plástico e jogada no rio Arrudas
em Contagem, Minas Gerais, felizmente, sobrevivente, presa a placenta, cujos pais estavam sendo
procurados não só pelo abandono, mas pelo crime cometido em 2007.16
Há relatos bem mais comoventes, como o do bebê encontrado debaixo de carro no Rio de
Janeiro (2007) 17, outra numa caixa de sapatos em Chapecó, Santa Catarina (2007) 18, fatos que nos
fazem pensar na razão de tanto preconceito com relação a quaisquer possibilidades de adoção, ou
formas melhores do que esta desgraçada atitude de pais totalmente desprovidos de humanidade para
que chegassem a tais extremos.
2.1. Análise do problema à luz da jurisprudência brasileira
Na cidade de Bagé, Rio Grande do Sul, um casal homoafetivo feminino, ganhou a causa
com o registro de adoção em 2006, contestada pelo Ministério Público Federal do mesmo estado,
pedindo a anulação do registro de duas crianças que já desde aquela data, moravam havia oito anos
com as senhoras, ou seja, desde 1998. O Ministro Luis Felipe Salomão, justificou sua decisão
dizendo que haveria cerceamento de outros direitos como plano de saúde, e herança em caso de
separação ou morte podendo as crianças ficarem desamparadas. Mas, ressaltou com sabedoria, João
Otavio Noronha, que não se tratava apenas disso, e que as crianças estariam em abrigos onde
sofrem maus tratos, (grifo nosso) – reconhecer isso publicamente é sim uma afronta social e jurídica
- e que não haveria violação de direito, visto que a lei vem sendo respeitada embora a união 15 Site mostrando matéria sobre o incrível poder de compra dos homossexuais no Brasil. Disponível em: <http://paroutudo.com/2011/02/03/pesquisa-mostra-que-homossexuais-no-brasil-tem-incrivel-poder-de-compra/> Acesso em: 21.08.2012. 16 BEBÊ jogado em rio, resgatado com vida. 30.09.2007. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u332691.shtml> Acesso em: 18.08.2012. 17 BEBÊ encontrado embaixo de carro no Rio de Janeiro. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u326974.shtml> Acesso em: 18.08.2012. 18 BEBÊ encontrado em caixa de sapato. Disponível em< http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u324372.shtml> Acesso em: 18.08.2012.
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homoparental não estivesse naquela época reconhecida - e a jurisprudência adequando-a a novos
contextos.19
Um caso ainda mais curioso é o de Fernanda Benvenutti, que é travesti, mãe de dois filhos,
que opina, que embora os questionamentos existam, o importante é o bem estar da criança. A
criança recolhida em abrigo, tem dois anos para ter sua situação decidida, ou entrará no cadastro
para adoção, devendo os casos serem analisados sem discriminação.20
Em 2008, outra decisão inédita do juiz da 2ª Vara da Infância e Adolescência do Recife, Élio
Braz, concedendo a adoção de duas meninas, irmãs, a um casal homossexual masculino em Natal,
Rio Grande do Norte, por meio de inscrição no cadastro de adoção. As meninas, que estavam em
abrigo, já ganharam nova certidão, em que aparecem como filhas de dois pais. O Ministério Público
(MP) concordou com a sentença judicial e não cabe mais recurso. Ao destacar a existência de novas
famílias e novas realidades que precisam ser levadas em conta, Braz disse que não estava "casando
nem reconhecendo a união civil dessas pessoas". "Estou dizendo que elas se constituem em uma
família afetiva capaz de exercer poder familiar, dar guarda, sustento e educação.21
Há também o caso de quatro irmãos, noticiado em 2009, abandonados pelos pais biológicos,
adotados por um casal homossexual (João Amâncio e Edson Torres), em Ribeirão Preto, São Paulo.
Observe-se que as crianças possuem o sobrenome Amâncio Torres, ou seja, de ambos os pais
adotivos. 22
2.2 Análise qualitativa mediante pesquisa do IBOPE/2011
Segundo Luana Lourenço, Repórter da Agência Brasil em Brasília,... ”a maioria dos
brasileiros é contra a união estável de casais homossexuais, autorizada desde maio pelo Supremo
Tribunal Federal (STF). De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência, divulgada em
28.07.2011, 55% da população não aprova a união entre pessoas do mesmo sexo. O percentual é o
mesmo quando o assunto é a adoção de crianças por opção de casais homossexuais: 55% dos
19 STJ mantém decisão por casal de lésbicas. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/04/stj-mantem-adocao-por-casal-de-lesbicas.html> Acesso em: 18.08.2012. 20 GAYS adotam crianças. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=MP5mxoKz8Xo> Acesso em: 18.08.2012
21 CASAL gay do RN adota crianças pelo cadastro de adoção. Disponível em<
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL792681-5598,00-CASAL+GAY+DO+RN+ADOTA+CRIANCAS+PELO+CADASTRO+DE+ADOCAO.html> Acesso em: 18.08.2012.
22 VIDEO depoimentos Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=BA0tcPF-UXg> Acesso em: 18.08.2012.
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brasileiros são contra e 45% a favor. O levantamento mostra que, nos dois casos, a resistência é
maior entre os homens, os evangélicos, os mais velhos, pessoas com menos escolaridade e de
classes mais baixas. Nessas categorias, os índices de rejeição às causas homossexuais são maiores.
Em relação à união estável, por exemplo, 63% dos homens são contra, enquanto entre as
mulheres o percentual é 48%. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 60% são a favor da decisão do STF,
ao mesmo tempo em que apenas 27% dos entrevistados com mais de 50 anos têm a mesma opinião.
Na população evangélica, o percentual de rejeição à união estável entre gays é de 77%. Entre as
mulheres, 51% são a favor da adoção de crianças por casais homossexuais, enquanto apenas 38%
dos homens se dizem favoráveis a essa possibilidade. Nesse tema, a maior resistência está entre as
pessoas com mais de 50 anos, categoria em que 70% são contrários à adoção por opção de casais
homoafetivos, e entre os evangélicos, na qual o percentual chegou a 72%.
Apesar de a maioria ser contrária ao casamento e à adoção de crianças por pessoas do
mesmo sexo, a pesquisa mostra que no dia a dia os brasileiros têm posturas mais tolerantes com os
homossexuais. O Ibope perguntou qual seria a reação dos entrevistados se o melhor amigo revelasse
ser homossexual. A grande maioria, 73%, respondeu que não se afastaria do amigo, 14% se
afastariam um pouco e 10% disseram que se afastariam muito. A resistência é maior entre os
homens: entre eles, o percentual dos que se afastariam em algum grau de um amigo que se
declarasse gay é de 35%, ante 20% das mulheres.
O instituto também questionou os entrevistados sobre a aceitação de homens e mulheres
homossexuais trabalhando como médicos no serviço público, policiais e professores de ensino
fundamental. De acordo com o Ibope, 14% dos brasileiros são, em algum grau, contrários à
presença de médicos homossexuais, 24% têm restrições ao trabalho de homossexuais como
policiais e 22% são contra homossexuais trabalhando como professores de ensino fundamental. ”23
2.3 Análise de opiniões coletadas na Internet, por eleição de sujeitos significativos
O assunto vem despertando largo interesse nos trabalhos acadêmicos de conclusão de curso,
como se observou, motivado é claro, pelas mudanças que a sociedade vem contemplando, com
relação ao comportamento das pessoas com relação às novas concepções e formatações de família e
23 PESQUISA IBOPE inteligência. Disponível em: < http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-07-28/maioria-dos-brasileiros-e-contra-uniao-estavel-e-adocao-por-casais-homossexuais>>. Acesso em: 18.08.2012.
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sociedade conjugal. Há depoimentos explosivos de revolta contra o preconceito, e outros
fundamentados no discurso religioso, de que esta prática é atentatória à concepção de família.
Outra questão é a precariedade das instituições que abrigam crianças, que vem algumas
vezes na frente, deste argumento. Ou seja, a criança merece qualquer coisa melhor que um abrigo
de menores, mesmo que adotado por pais homossexuais, e isso, não é qualquer coisa. A qualidade
dos abrigos deveria vir primeiro, mas se o fosse, talvez muitos pais irresponsáveis achariam que
abrigo é sinônimo de residência pública de menores, filhos de pais inconsequentes.
O interesse dos homossexuais em ter filhos, já pode ser resolvido de maneira biológica,
logo, a adoção fica em segundo plano. Foram analisadas algumas entrevistas e depoimentos
disponibilizados online, em sites de relacionamento, e por escolha do autor, alguns deles foram
trazidos para o bojo desta pesquisa. Dos discursos analisados, entre crianças adotadas e na
expectativa de serem adotadas, este parece ser revelador, onde se observa a grande ansiedade de
uma criança em ser adotada:
RICARDO, 14 ANOS - Nunca recebi visitas, mas tenho pai, mãe, irmãos, tias e avôs… Tenho quatorze anos e agora não sinto nada por meus pais, nada… Não sei se vou ser adotado… Tenho uma esperança… mas de quinze para cima não vai mais… "24
Já neste depoimento percebe-se a posição de um pai adotivo homossexual, com relação à
postura assumida, diante da questão da paternidade.
“A nova decisão do STF está sendo muito importante por que antes desta lei eu tive que lutar muito para adotar a minha filha... foi uma luta difícil, sou homossexual e eu e meu parceiro que estamos juntos há 22 anos estávamos querendo adotar uma criança e fui à luta.25 Marcelo*
Ao que tudo indica, o tema proposto adquiriu força, e as mudanças na estrutura jurídica
começam a ser observadas. Neste sentido, Lilian Azevedo, jornalista que escreve sobre feminismo e
relações do gênero, comenta matéria no dia em que o Supremo Tribunal Federal (5 de maio de
2011), reconheceu por unanimidade a relação estável de homossexuais, cuja medida facilita os
24 DEPOIMENTOS de crianças adotadas. Disponível em: <http://paisadotivossa.blogspot.com.br/2007/06/filhos-adotivos-falam-de-corao.html> Acesso em 21.08.2012.25*ADOÇÃO por homossexuais. Disponível em <http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-gerais/2006/dezembro-2006/a-nova-familia-adocao-por-homossexuais/> Acesso em 18.08.2012. Erros de português do entrevistado redigidos.
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processos de adoção e também direitos à pensão para os membros da relação, como explica Adriana
Galvão vice-presidente da comissão de diversidade sexual do Conselho Federal da OAB e
presidente da comissão no Estado de São Paulo.26
Mais do que ter uma família, a criança ou adolescente, quer ser parte dela, e isso é relevante.
Se o casamento homossexual é aceito, na concepção de família, causa estranheza a rejeição por
filhos por parte da sociedade.
CONCLUSÃO
As transformações sociais vêm sendo interpretadas de maneira sistemática, por muitos
cérebros brilhantes, a exemplo de Bauman (1970-1980), ensejando mudanças nas questões mais
gerais e teóricas focando principalmente o papel das ciências sociais na forma como auxiliam na
concepção de sociedade ainda que distópica.
Como podem os casais que criam menores, viverem as pressões diárias da criação e
acompanhamento de seus filhos? Como pode um orfanato, ser eleito o melhor lugar para um menor,
quando as próprias autoridades reconhecem que nele, se praticam maus tratos? Como é possível
conviver com a discriminação e o preconceito nas relações de uma família concebida nestes
moldes? O que é dar um filho para adoção? As questões não param, neste momento final.
Em sua obra, “O Poder da Identidade”, Manuel Castells (2000) tece considerações
extremamente relevantes sobre a estrutura básica da família patriarcal nas sociedades
contemporâneas, a autoridade imposta dos homens sobre as mulheres, admitindo que o
enraizamento da família sociobiologicamente concebida, vem sofrendo transformações impressas
pela cultura via feminismo e movimentos sociais.
As migrações, de enlaces heterossexuais, para homossexuais, pelo número expressivo de
divórcios em todo mundo, as formas de constituição familiar sem reconhecimento jurídico, a opção
tardia da maternidade, como consequência sócio-econômica entre as mulheres, nascimentos fora do
matrimônio, a maternidade individual, a aceitação definitiva da homossexualidade em uniões
estáveis, a recombinação das famílias, a não desvinculação do indivíduo reprodutivamente capaz da
família nuclear, com assumida vida sexual, adicionando-se o fato de que netos, podem se agregar a
26**DIREITOS. Disponível em: <http://lilianazevedo.webnode.com.br/news/por%20unanimidade,%20supremo%20reconhece%20uni%C3%A3o%20estavel%20de%20homossexuais/>>. Acesso em: 18.08.2012.
***http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/911819-decisao-do-stf-facilita-adocao-e-pensao-para-gays.shtml
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família original, são alguns dos indicadores das transformações que inspiram variações na
concepção da família, e porque não dizer nos processos de adoção.
Que as transformações sexuais e familiares ocorram, há de se entender, mas que a falta de
humanidade em abandonar uma criança a sua própria sorte, é cruel e desumana. From explica que o
verbo mais próximo para a questão da mãe que oferece seu filho para a adoção, é “abandonar,
privar-se de, sacrificar”. Quer nos parecer que, há ressalvas. Para quem não pensa em
consequências, nenhum desses verbos tem sentido aplicativo, senão o de recusar o destino que
traçou, em relação a sua vida e a do outro nascituro, que nada, absolutamente, tem em comum, com
a escolha de quem o concebe, negando a ele (a) o calor de seu corpo, seu alimento, sua morada
uterina e seu abraço.
REFERÊNCIAS
ADOÇÃO por homossexuais. Disponível em <http://www.inesc.org.br/noticias/noticias-gerais/2006/dezembro-2006/a-nova-familia-adocao-por-homossexuais/> Acesso em 18.08.2012.
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<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u332691.shtml> Acesso em: 18.08.2012.
BEBÊ encontrado embaixo de carro no Rio de Janeiro. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u326974.shtml> Acesso em: 18.08.2012.
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