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Primeiro Caderno Didática Geral III Profª Me. Ana Felicia Guedes Trindade E.E.E.M.Engº Ildo Meneghetti Curso Normal Aproveitamento de Estudos (Sebastião Salgado) PARA VER OUTROS MUNDOS

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Page 1: O primeiro caderno 3 ae

Primeiro CadernoDidática Geral III

Profª Me. Ana Felicia Guedes TrindadeE.E.E.M.Engº Ildo Meneghetti

Curso Normal Aproveitamento de Estudos

(Sebastião Salgado)

PARA VER OUTROS MUNDOS

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"Fotografia é minha forma de vida, o que eu penso, meu aparato de

ideias, minha ideologia inclusa. Não faço para convencer ninguém, faço pelo

que tenho prazer, pelo que me revolta, pelo desejo de ir a algum lugar, pela

grande curiosidade".

Sebastião Salgado

E a Educação? O que ela significa para cada um e para cada uma de nós?

Sebastião Salgado, o maior fotógrafo social filho do Brasil, reconhecido pelo

mundo inteiro, com fotografias expostas em pelo menos 30 países, denuncia o

momento do mundo em que vivemos – o mundo do capital, dos valores materiais,

do “ter” que soterra o mundo natural, as culturas, o “ser”. Mas mostra-nos

também todas as relíquias do planeta que ainda estão preservadas e o quanto

nossas militâncias em movimentos ecológicos podem contribuir na manutenção

do que ainda possuímos de riquezas. Para um homem que plantou 2 milhões de

mudas, capturando 97 mil toneladas de carbono, junto com sua companheira e

amigos do instituto Terra, temos nos tornado estranhos, “estrangeiros no

planeta” quando não percebemos seu pedido de socorro. Coloca ele:

“Erguemos barreiras entre a natureza e nós. Com isso, nos tornamos incapazes de vere de sentir. De ver um pássaro pelo vidro da janela e imaginar que esse pássaro é oamor do outro, com o qual fez amor, que ela ama seus filhotes, que constrói seu ninhonaquela árvore, que depende do vento”(...)Não enxergamos mais, dasaprendemos tudoisso..(...)Mas não se trata de um problema insolúvel.. A solução passa pelainformação. Pelo conhecimento. Pela Educação.”(2014, p.144)

A Educação atravessa todos os campos da Vida. E, neste caso, não temos

como deixarmos de fazer relação entre a fotografia de Sebastião Salgado e a

Educação. Entre as imagens e movimentos, formas e luzes que Sebastião captura

com sua lente nos mais distantes lugares, quase inacessíveis para nós e a Educação

que pensamos fazer, dizemos fazer e fazemos, de fato, com suas luzes e formas,

imagens e movimentos nos pomos a pensar. Porque ao educar, fotografamos e somos

fotografados. Ao ensinar, imagens em movimentos - vidas - se entrelaçam com

desejos e vontades, sonhos e quereres, e as formas - vivas - se nutrem ou se

desnutrem, se fortalecem ou se enfraquecem, se emancipam ou se submetem. Assim

é a fotografia. Assim é a Educação. Assim é a Didática.

Falar de uma Didática Sistêmica implica falar para além da arte de ensinar.

Implica conceber um novo jeito de pensar Didática.. Implica pensar e compreender,

racionalizar e refletir uma Didática que pense a vida como um todo. Uma

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Didática Sistêmica é uma Didática que existe na Teia da Vida, que se encontra com

todas as ciências e com o que não é considerado ciência, com os fenômenos e os

simples fatos, com as falas, com as maneiras de ver o mundo, com as maneiras de

pensar o mundo, a vida, os seres da vida. Não posso reduzir um elemento

substancioso como a Didática para "a arte de ensinar". Pensada sistemicamente,

ela é uma ponte para ensinagens, sim. Mas para aprendências, também. Mas para

conhecer o que não se conhece e conhecer melhor o que se conhece, também. Para

ver outros mundos, pois. A Didática Sistêmica está em todo lugar em que nos

fazemos existir. Desde a maneira como abordamos um assunto com alguém à

maneira como nos relacionamos com as pessoas, com os conflitos, com os

fenômenos, com os mitos, com os pensamentos humanos, com as múltiplas maneiras

de ver e de viver que habitam o mundo.

E é dessa Didática que estaremos tratando nesse semestre. Nada de uma

Didática do "como fazer" tão somente. Mas do por que fazer, para que fazer, do

com quem fazer, do o que fazer, do como fazer e do para quem fazer. E tudo isso

situado no mundo concreto da vida e do viver, no tempo presente, dos seres

presentes do tempo presente, deste mundo de agora. Tudo isso, calcado nos desafios

do hoje, com referências de vida e de ética para este tempo, e não um outro, de vinte

anos atrás. É de uma Didática assim que estamos falando: que trabalhe com a

concretude do tempo, do espaço e do ser que existe, presentemente.

Nesse caderno 1, "Para ver outros mundos", estará organizado aquilo que

chamamos de textualidades escritas, as quais serão lidas e refletidas neste

semestre. Obviamente, essas narrativas escritas não nos bastam, e sozinhas não

constituem a inteireza de nossa proposta - viveremos as narrativas oralizadas -

nossos encontros - que se entrelaçarão com essas, assim como com as outras

experiências culturais educativas, saídas de campo, sessões de filmes, práticas de

ensino, observações sistêmicas, monitorias, pesquisas, escritas em Diário de

Campo, Seminários. Todos são indissociáveis e interdependentes. Todos tecerão,

juntos, o tecido de nossa Didática Sistêmica.

Belo e produtivo semestre para todos e todas nós, nessa grande Teia, que é o

produzir Educação!

Profª M ª . Ana Felicia Guedes Trindade

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PROJETO DE TRABALHO

1.TEMA: Para ver outros mundos!

2.TÍTULO: Nós e as nossas concepções de Educação, de Didática, de Aulas e deProfessoralidades: Constructos imprescindíveis.

3.PERÍODO: agosto

4.JUSTIFICATIVA

Considerando que:• construir e habitar o campo da Didática Geral implica organizar um conjunto desuportes, combinações, materiais, redes, referências, agendas, cronogramas;• a História da Educação articula-se com a História Geral, e ambas mostram suasinterfaces, em suas várias idades, como produção dos viveres humanos;• há que se refletir sempre as várias concepções de Educação concebidas nas idadeshistóricas que já vivemos ou estamos a viver;• há a necessidade da Educação ser pensada articuladamente com a Didática, pois umaé contínua produção da outra;• é imprescindível situar-se como trabalhador(a)em Educação, em relação àsconcepções de Educação, para que se tenha clareza política de que Didáticas, de queAulas e de que Professoralidades deseja-se ter como referências, Justifica-se esse Projeto.5. OBJETIVO GERAL:Refletir sobre as Concepções Teóricas de Educação historicamente constituídas,buscando referências que possam situar os(as) estudantes e permitir-lhes escolhaspolíticas acerca da concepção que desejam fomentar em suas práticas educativas,organizando o constructo imprescindível para seus manejos didáticossistêmicos.

6. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

• Construir agenda cultural produtiva;• Organizar-se em redes sociais;• Ler textos críticos, produzidos por autores reconhecidamente qualificados;• Assistir filmes fundamentais sobre o tema do Projeto;• Escrever no Diário de Campo, narrando e produzindo esforço intelectualsignificativo;• Refletir as várias Concepções de Educação concebidas nas idades históricas que jávivemos ou estamos a viver;• Articular Educação e Didática, como contínua produção uma da outra;• Constituir clareza política de que Didáticas, de que Aulas e de que Professoralidadesdeseja-se ter como referências, nas práticas educativas;• Fazer uso consciente e contínuo de referências teóricas que constituam bons suportespedagógicos;

7. CONHECIMENTOS CONCEITUAIS:

• Elementos Pedagógicos: O Ninho

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• Nós, em Redes, a agenda cultural e a cidade educativa• Nossas referências bibliográficas;• Nossa Cinemateca;• Diário de Campo;• Concepções de Educação e Concepções de Didática: conversações entrelaçadas;• O que é uma Aula?• Professoralidades em permanente formação• A Revisão bibliográfica constante.

8. CONHECIMENTOS PROCEDIMENTAIS:• Leitura e conversações sobre “O Ninho”

• Inteiração da Agenda Cultural Produtiva da Cidade Educativa aconselhada;• Visitações on line às páginas da Didática Geral;• Leitura das referências bibliográficas indicadas;• Construção da Cinemateca - Acerto sobre a coleção de filmes indicados;• Estudo sobre Diários de Campo e devidas organizações;• Estudo reflexivo sobre as Concepções de Educação e Concepções de Didática;• Leituras de artigos sobre Aulas e Professoralidades;• Rodada oral de considerações finais.

9.CONHECIMENTOS ATITUDINAIS:• Tomada de conhecimento e de consciência;• Ampliação das informações;• Reflexão e posicionamento crítico;• Organização;• Produção escrita normativa e intuitiva;• Capacidade de decisão política;• Atenção, estudo e aprendizagem;• Escutas sensíveis e falas democratizadas;• Curiosidade epistemológica.

10. SENSIBILIZAÇÃO:Será realizada a partir da própria postura entusiasmada da professora nos encontros,utilizando como referências para tal, bons textos e autores, bons filmes, redes sociaisdo campo de conhecimento tratado, processos circulares, explicações claras eorganização sistêmica.

11. OPERACIONALIAÇÃO/ ÍNDICE DE ATIVIDADES/ROTEIROS:

• Construção e retomada da agenda cultural produtiva aconselhada por leitura oral, emesboço de papel pardo;• Curtição, reconhecimento e confirmação das páginas on line e entrada nas RedesSociais em que a disciplina encontra-se;• Leitura explicativa detalhada das referências bibliográficas no caderno 1;• Mostra das principais obras a serem lidas;• Organização da coleção de filmes do semestre, com combinação das sessões;• Escritas/narrativas contínuas, com uso de gramática normativa e intuitiva, no Diário

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de Campo;• Leituras, conversações e reflexões de artigos sobre as temáticas;• Explicações orais e expositivas sobre temáticas, utilizando quadro branco, datashow, som e cds, livros e imagens.

12. CULMINÂNCIA:O grupos de estudantes assistirá o filme “Quando penso que já sei”, com a finalidadede concluir estes primeiros estudos básicos.

13. AVALIAÇÃO:• Os Conhecimentos Procedimentais desse Projeto serão utilizados como critériosavaliativos permanentes durante todo o semestre;• Cada estudante terá sua planilha de construções a observar, entregue de dois em doismeses, pela professora.• Todas as maneiras de avaliar serão combinadas entre a professora e estudantes,previamente.

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:Documentos:Referencial curricular nacional para a educação infantil /Ministério da Educação e doDesporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.

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AULÃO: O NINHODIAS: _____________

TEXTO DE ESTUDOS 1:

O NINHO Ana Felicia Guedes Trindade

Existe uma artista plástica brasileira chamada Inha Bastos que pinta imagensde calor, aconchego e ternura. É claro que esta é a minha leitura, uma leitura que vemmuito mais do lugar da emoção do que do lugar racionalista que procura enquadrar aarte sempre num estilo. Quando deparei-me, pela primeira vez com a produção deInha Bastos, identifiquei um jeito de pintar a singeleza e a ternura, o que consideromuito complexo. Entre as obras, há esta, acima, que fascina-me. Chama-se “ONinho”. Naquele lugar do aconchego, uma figura feminina acolhe uma criança,pequena, acompanhada por dois gatos sonolentos e pacíficos. Em meio aos tons-terracombinados com o morno da ternura, Inha fala de um ninho. Esta imagem sempreatravessa o melhor de mim: a emoção de estar no mundo acolhida.

É claro que meu estar crítico no Mundo, o qual preservo como um patrimônioíntimo de imensurável valor, recorda-me as dores de todos os humanos que vivem emestado de desacolhimento, exclusão, apartados do sentimento de ser e de estarincluídos no mundo. E dolorosamente, este atravessamento, dos sem-ninhos, toca-me,emociona-me, o que, por inúmeras vezes, encontro-me reflexionando, sobre essadimensão, com certa melancolia. Mas hoje, é dos ninhos possíveis de construir quedesejo mais falar, independente dos contextos econômicos ou sociais que as pessoasse encontram.

O que é um ninho? Doce abrigo, lugar que aquece o coração, que dásegurança, que aninha, que protege do nascimento ao crescimento. Lugar de habitar avida. Casa, toca, seja qual lugar, mas lugar de “Cuidado”.

Ao iniciar as aulas, retornando a trabalhar com os pequenos do 1º ano,recupero, com olhos marejados, o meu lugar de educadora plena. Observo a turma de26 pequenas crianças, filhotes da curiosidade de mundo, necessitando de acolhimento,segurança e cuidado. Observo suas fragilidades e seus olhos famintos por algo que nãotem, nem eles, definições do que seja. Mas que, presentes ali, em suas pupilasinquietas e pulsões dos seus múltiplos corpos, arremessam-me para construir o tãonecessário Ninho. Na volúpia do meu ser educador e aprendiz, surpreendo-me, feliz,felicíssima, felizarda, por compreender que, no círculo artesanal do ninho que meproponho a fabricar, com o material mais nobre buscado no âmago das florestasencantadas, quero tramar os cipós dos elementos vitais para o cuidado da vida:perceber mais, ler mais as realidades, compreendê-las, problematizá-las, abraçá-las,respeitá-las, aprender a conviver com elas e propor-lhes aberturas e metamorfoses,quem sabe, produzindo o Bem-viver. Recebo o 1º ano, inaugurando-me. Batizo-meem nome da alegria, do conhecimento e da fartura de Bem-querer. Em nome de sereducadora desejante, batizo-me, mais uma vez, como Aprendiz. E ponho-me aconstruir o primeiro ninho, metáfora delicada, que ramifica-se e extende-se: o ninhodo meu olhar sobre o 1º ano. O ninho dos meus pensamentos em relação ao 1º ano. Oninho da minha emoção com o 1º ano. O ninho das minhas primeiras palavras com o1º ano. O ninho da ternura, da delicadeza dos meus gestos, da firmeza amorosa notrato. O ninho da intenção política do que ensinar que tenha sentido, do que aprender

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que tenha essência, importância e impacto na vida deles e na minha. O ninho daalegria de partilhar e de cuidar do desenvolvimento e crescimento do meu 1º ano.

Construir um olhar manso e compreensivo sobre múltiplas realidades,abdicando do desejo perverso de formar, reproduzir e enquadrar essas realidades emalgum lugar que acredito como Educadora, é extremamente desafiador. Aprendemos aser educadores escolares com uma marca absoluta: a de imprimir nos educandos asnossas formas de pensar, de sentir e de viver ou as que nos ensinaram. Libertar-nosdisso poderá levar uma vida. Não aprendemos a ser educadores sociais.Nempopulares. A vida foi ensinando a quem esteve muito aberto a ela como aprendiz. Nemtodos conseguimos. Nem todos aceitamos. Nem todos quisemos. Então, fazer umesforço imensurável para olhar o outro na sua realidade e compreendê-lo é umexercício político cultural. De nova cultura. De uma cultura respeitosa com o outro.Não é fácil, mas é possível e é tremendamente transformador. É um jeito de fazer umNinho: receber o outro sem crises de julgamento. Olhar o outro fraternalmente. Porqueo olhar acolhe ou expulsa. Pelo olhar, criamos mundos ou destruimos mundos.

Construir um pensamento aberto e democrático sobre uma turma de criançasdemanda enorme noção de realidade. Demanda, também, compromisso com arealidade. Pensar e reflexionar sobre uma turma todos os dias demanda pensarativamente sobre ela, planejar com ela, sonhar possibilidades para ela, constituirefetivamente um trabalho com intencionalidade política que dê conta de vincularVida/Escola, Vida/Conhecimentos, Vida/Aula. Pensar para o outro, com o outro, pelooutro requer saber o que se está fazendo, em primeiríssimo lugar. Saber o que se fazdemanda maturidade e responsabilidade. Demanda ter clareza política do que sepretende e aonde se pretende chegar. Os pensamentos sobre os outros também sãodefinidores de mundos: acolhemos ou expulsamos. Nossos preconceitos sefundamentaram tanto que pensar sobre o outro é pensar sempre sobre uma base dejuízos e julgamentos. Mas existe o pensar sobre o outro que rompe com esta maneiralimitada e curta de pensar sobre o outro: pensar que somos tão humanos quanto ooutro. Falíveis, atravessados por histórias de vida, por contextos sociais, culturais,políticos e econômicos, biologicamente dependentes, todos da mesma espécie, comnecessidades iguais ou muito próximas.

Construir as primeiras palavras com o outro é uma responsabilidade. Abrir ascomportas de uma linguagem falada com o outro , nos expõe frente ao outro, ao olhardo outro, ao pensar do outro, mas é essencial. A relação vai depender de uma troca delinguagem, de uma compreensão da linguagem do outro, de uma aceitação do outro,de uma interação com o outro através das palavras. As primeiras palavras com o outrofundarão o mundo dessa relação.Também pelas palavras acolhemos ou excluímos. Aspalavras são poderosas naquilo que elas carregam de valor simbólico. As primeiraspalavras com crianças e jovens definem a relação que desejo construir com eles.

Emocionar-se é fundante. Sem a Emoção não abrimos espaços para aslatências, para as pulsões, para os desejos, para os sonhos. As latências e pulsõesemergirão pela emoção.Os desejos nascem pela emoção.Os sonhos engravidam deprojetos que nascem da emoção. A emoção é uma categoria existencial. É umacategoria dos humanos. Pela emoção, universos se extendem. Quem está com suaemoção muito controlada, deve pensar sobre os anestésicos e sobre os gessos queaceitamos vida afora. Emocionar-se com o outro está na superfície da vida da vida.Não tem que escavar para encontrar emoção.Se tivermos que escavar muitoprecisaremos nos perguntar se ainda estamos vivos.Emocionar-se é uma condiçãohumana. É uma condição da nossa humanidade. Também fazer da Escola um lugar de

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existir que seja significativo não pode ser apenas discurso teórico. A Escola precisaser significativa também para o Educador. Ao entrar nela, precisamos estar com aemoção ainda à flor da pele. Um rosto novo, um projeto novo, um livro novo, umnovo saber, um velho saber dos bons, um velho saber ressignificado, um compromissocom o outro, uma aprendizagem de repente, um inusitado gesto de delicadeza ereconhecimento, uma irreverência da turma, uma contestação na reunião pedagógica,uma alegria inesperada, um protesto sindical, um desejo de dignidade são sinais vitaisde que ali existe vida. Para o Educador a Escola também precisa ter sentido. O dia quea Escola não tiver mais o sentido de produção de sentido, o sentido de produção devida para o Educador, a Escola não é mais o seu lugar. Deixou de ser. Já foi.Ressignificar a Escola lembra um reapaixonamento e uma consciência de que ali, porter pessoas, é um dos lugares mais bonitos e políticos da vida. Não se faz política sembeleza. Política que não tem beleza não é política. Escola que não discute mais suaspolíticas de vida com beleza deixou de ser Escola. É um prédio. Que forma. Então,significar a aprendizagem passa por muitos atravessamentos. Aprendizagem é umprocesso complexo porque passa por desejos, vontades, sentidos, pulsões, emoções.Se não passar por aí, não há aprendizagem. Aprender, ensinar e entrelaçar saberescientíficos com a vida são as razões que justificam a existência da Escola, colocando aela, suas claras funções sociais de ampliar a visão de mundo e afirmar cidadaniascoletivas.

Aprender e ensinar são verbos que se conjugam para educandos e educadorestambém. Para todas as gentes. Para todos e todas. Desejo, com enorme respeito,convidar todos os professores e todas as professoras para buscarmos, novamente, asrazões pelas quais desejamos, um dia, esta profissão. Também buscarmos os sentidosque nela ainda existem, para cada um e cada uma de nós.Também buscarmos quais asnecessidades que a permeiam. Também buscarmos as estruturas nas quais estaprofissão se funda, e sem as quais não se consolida, nem acontece. Buscarmos nossosdireitos, esses que, sem eles, não existiremos como educadores dignos. E, ao estarmospresentes e vivos, latentes e desejantes disso tudo, que possamos recuperar o desejo defazer ninhos nos espaços que nos compete estarmos e sermos educadores eeducadoras. Que ao recuperarmos nosso senso crítico, nossa posição, postura políticae o nosso espírito de luta pela superação cotidiana da desigualdade social, cultural eeconômica, incluindo as nossas como professores, que é o que nos dá noção darealidade e sentimento de responsabilidade e compromisso, possamos suprir, comternura, as muitas fomes que vivem em nossos estudantes. Por Amor Político. Porfraterna convivência. Pelo direito de aprender. Pela alegria de ensinar. Por Amor aomundo. Por Amor às pessoas.

Como disseram as crianças do 1º ano: A Escola é um Ninho de Gente.Como disse Diego, lá na EJA da Restinga: Ninho é o lugar onde tem Paz.E na minha conversação com meia dúzia de botões, digo que pode-se desejar

fazer Ninhos.Podemos aprender a construir Ninhos. Podemos desejar habitar Ninhos. Em

nome de um Novo Habitar Humano, como lembra-nos, tão suavemente HumbertoMaturana em suas pesquisas e tão ludicamente Inha Bastos em suas imagensinesquecíveis, dá para inventarmos novos jeitos de habitar o Mundo.

(Diário de Aula-Estudos de Campo- Produção Escrita em 1º de março/2011) “É indo e vindo que um pássaro tece seu ninho” (Provérbio Africano)

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AULÃO:______________________________________________

ELEMENTOS PEDAGÓGICOS VIVOS DO TEXTO “O NINHO” PARA ASCONVERSAÇÕES EM DIDÁTICA:

• o estar crítico no mundo• o acolhimento• a observação• as percepções• a leitura da realidade• a compreensão da realidade• o respeito à realidade• a problematização da realidade• a aprendizagem de conviver com a realidade• a proposição de aberturas culturais e epistêmicas• o meu olhar de professora sobre a criança• os meus pensamentos de professora sobre a criança• as palavras ditas e não-ditas• a minha intenção política • os gestos docentes• os sentidos do universo educativo• o acolhimento sem julgamentos• a emoção docente• os desejos da professora e do estudante• os sonhos da professora e do estudante• o compromisso docente• a responsabilidade• o amor político

Escolha três elementos pedagógicos do texto para dissertar. Depois, compartilhe em sala de aula, com seu grupo de conversações.

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TEXTO DE ESTUDOS 2:

DIÁRIO DE CAMPO: aprendendo outros jeitos de registrar Ana Felicia Guedes Trindade

“É chamado de Diário de Campo o instrumento mais básico de registro de dados dopesquisador. Inspirado nos trabalhos dos primeiros antropólogos que, ao estudarsociedades longíquas, carregavam consigo um caderno no qual eles escreviam todas asobservações, experiências, sentimentos, etc, [...]é um instrumento essencial dopesquisador”. (Víctora, 2000)

Escrever sobre Diário de Campo é escrever sobre a minha professoralidade natrajetória escrita como educadora. Desde há muito, comprendi que escrever sobre asreflexões das práticas educativas que se produz faz parte da construção da minhaprofessoralidade, da minha formação como professora mais consciente e com maiorclareza política.

Comecei a escrever sem saber que estava fazendo um Diário de Campo.Pensava-o como um Diário de Aula. Quando iniciei a ler Carlos Rodrigues Brandão,toda a sua marca antropológica carregada para os textos me impressionavam. E foicom ele que entendi que o que eu escrevia extrapolava o Diário de Aula - era umDiário de Campo o que eu fazia, escritas de uma professora que vivia múltiplasexperiências com seus estudantes, muito dentro mas também muito fora da Escola, eque refletia sobre a cultura das suas crianças, das famílias, do que a própria escolaproduzia como cultura, e da sua mesmo, de professora que se constituía.

Nunca tive nenhum problema de entender que o Diário de Campo foiconcebido como material dos antropólogos, mas que esta compreensão de registro doque se passa, de maneira ampliada, entre grupos escolares, pode também serimportado para a Pedagogia. Porque o campo pedagógico é um campo de pesquisa, deinvestigação, de reflexão. O Diário de Campo consiste num instrumento de anotações,um caderno com espaço suficiente para anotações, comentários e reflexão, para usoindividual do investigador no seu dia a dia. Nele se anotam todas as observações defatos concretos, fenômenos sociais, acontecimentos, relações verificadas, experiênciaspessoais do investigador, suas reflexões e comentários. Ele facilita criar o hábito deescrever e observar com atenção, descrever com precisão e refletir sobre osacontecimentos. Nele, podem ser registrados retratos escritos dos sujeitos (aparência,maneira de vestir, modo de falar e agir, particularidades dos indivíduos - traçosculturais), as visões de mundo do observado (grau de religiosidade, valores, elementosculturais ligados ao processo de trabalho, de saúde...), reconstrução do diálogo(palavras, gestos, expressões faciais, pronúncias), descrição do espaço físico (desenhoespaço, mobília);comportamento do observador (aspectos que possam interferir nacoleta de dados), descrição de atividades (detalhamento), relatos de acontecimentos(forma como aconteceram e natureza das ações).

Segundo Falkembach (1987), não há necessidade de serem registradas apenasas observações, interpretações e conclusões individuais, mas convém relatarindividualmente também os resultados das discussões que venham ocorrendo [...]” .

Um Diário de Campo acaba se constituindo por muitas dimensões. Uma delas

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é a sua potência para a reflexão. Como Diário de Campo Reflexivo, ele apreende oponto de vista do observador e suas percepções. As notas analíticas são reflexões:idéias, percepções e sentimentos surgidos durante a ação, nos contatos formais einformais, registrados – ao vivo ou mais imediatamente possível, em forma de breveslembretes e posteriormente através de anotações mais elaboradas.

Outra dimensão é a potência como espaço de pesquisa e investigação. ComoDiário de Pesquisa, questionamentos são levantados a partir da observação e odesenvolvimento de análises que servirão para orientar a observação (decidir quem ouo que será observado posteriormente) e, sobretudo dar início ao plano de redação dorelatório da pesquisa. Também nele, os fazeres podem se fazer presentes. ComoDiário dos Fazeres, ali posso escrever meu plano de trabalho concreto refletido sobreo Diário de Observação e de Pesquisa (fruto de reflexão-ação-reflexão), incluir oobjetivo geral claro e definido, a intencionalidade do que pretendo, os objetivosespecíficos como desdobramentos do geral (se necessário): a intencionalidadeesmiuçada , as atividades voltadas para atingir os objetivos: mediadores pedagógicospara o “saber pensar” e o “saber aprender”, as estratégias metodológicas (de acordocom as atividades e objetivo(s): os meios, os jeitos, as maneiras, a avaliaçãoemancipatória: no dia, nos momentos de trabalho, sobre a aula em si, dos saberespresentes, nos desenvolvimentos localizados, sobre atitudes pedagógicas mediadoras eobservadas.

O Diário de Campo é, sobretudo, um Diário da Experiência de Saber Feito,para lembrar seu cunho freireano: abraça a escrita livre sobre o vivido, oexperimentado, o sentido, em forma de texto descritivo, narrativo, dissertativo, prosapoética ou como sua autoria permitir e desejar, desde que seja registrado o processo nasua inteireza. Suas reflexões são profundas e essenciais, atreladas às reflexões teórico-práticas sistematizadas, estudadas e pesquisadas. Quanto maior a sustentação teóricareflexiva, melhor a interpretação do observado e o desvelamento de marcação ereconhecimento dos próximos desafios.

Para Bogdan e Biklen (1994), algumas dicas para o professor pesquisador sãoimportantes: não adiar a tarefa, registrar antes de falar para não confundir, escrever asanotação e em lugar sossegado e tranqüilo, dar-se tempo para escrever as notas,esboçar frases-chaves e tópicos antes de começar a escrever, escrever de formacronológica; deixar as conversas e acontecimentos fluírem no papel, acrescentar o quefoi esquecido na primeira escrita, compreender que esse método é trabalhoso edemanda tempo, mas traz uma riqueza ímpar para o processo educativo. ParaFalkembach (1987), os fatos devem ser registrados no Diário de Campo o quantoantes, se possível Imediatamente depois de observados, Caso contrário, a memória vaiintroduzir elementos que se deram; e a interpretação reflexiva, não se separa de fatoconcreto, virá freqüentemente a deturpá-lo”.

Segundo Telma de Lima, Regina Mioto e Keli Prá, (2007)"o diário é umdocumento que apresenta tanto um “caráter descritivo analítico”, como também umcaráter “investigativo e de sínteses cada vez mais provisórias e reflexivas”, ou seja,consiste em “uma fonte inesgotável de construção, desconstrução e reconstrução doconhecimento profissional e do agir através de registros quantitativos e qualitativos".

Sobretudo, o Diário de Campo deve ser o grande companheiro do professorpesquisador: como um espaço que, sendo físico, acolhe a memória do seuinvestigador, para retê-la, enquanto o que viu, o que sentiu, o que percebeu, o queconstatou, para poder, também a partir dele, interferir, transformar, colaborar nasrealidades que presencia, observa e faz parte. Ali, as palavras estão vivas. E o

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pesquisador, ávido dessas vidas, dialoga com seu Diário, ao lê-lo, ao relê-lo, ao avivaros seus próprios sentidos que, ali, encontram-se, por escritos.

BIBLIOGRAFIA:

BOGDAN, R.C.; BIKLEN, S.K. Notas de campo. In BOGDAN, R.C.; BIKLEN, S.K.Investigação qualitativa em educação -uma introdução à teorias e aos métodos. Porto:Porto Editora, 1994. P.150-175.

FALKEMBACH, Elza Maria F. Diário de campo : um instrumento de reflexão. In:Contexto e educação. Ijuí, RS Vol. 2, n. 7 (jul./set. 1987), p. 19-24

GERHARDT,T.E.; LOPES, M.J.M.; ROESE, A.; SOUZA, A. A construção e autilização do diário de campo em pesquisas científicas. International Journal ofQualitative Methods. 2005.

GUEDES TRINDADE, Ana Felicia. Das Pontes Mediadoras de Aprendizagens aosDiários de Aulas. SIPASE PUC/RS.2011.

LIMA, Telma Cristiane Sasso de, et al. A documentação no cotidiano da intervençãodos assistentes sociais: algumas considerações acerca do diário de campo. RevistaTexto & Contextos. Porto Alegre v. 6 n. 1 p. 93-104. jan./jun.2007.

VÍCTORA, C,G. et al. Pesquisa Qualitativa em Saúde: introdução ao tema. PortoAlegre: Tomo Editora, 2000.Seminário sobre Documentação e Diário de Campo,Documentação e Diário de Campo,2010,UFRJ.

Aula dedicada à Anne Frank, menina judia que escreveu um "Diário"verdadeiramente "de Campo". Morreu em campo de concentração nazista(Vide: O Diário de Anne Frank).

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AULA____ SEMANA________DATA: _____________NOME DA AULA: Tantos outros pensamentos! Qual é o meu?

AS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS E AS CONCEPÇÕES DE DIDÁTICA

1º MOMENTO:• Memorial, em roda, sobre a Escola em que estudamos: relações professor-aluno,conteúdos, metodologias, disciplina, avaliações, de maneira oralizada. • Contação da Escola que cada estudante imagina, seguindo esses elementos acimacolocados, com a solicitação de uma gravação, para ouvirmos, mais tarde, as falas.

2º MOMENTO:• Apresentação da Árvore dos Pensadores: Na exposição oral das duas concepçõesfilosóficas, articularei a conversação entre as diferentes concepções de Educação e,posteriormente, de Didática.

3º MOMENTO: Por meio dessa conversação desafiadora, desestabilizar algumascertezas e/ou ideias mais fixadas acerca das Escolas Pedagógicas, dependendo dascolocações que forem colocadas.

4º MOMENTO: Combinações das leituras e pequenas pesquisas sobre alguns autores.Avaliação da aula: No que, em mim, essa aula tocou? Em uma frase escrita em umatira de papel.

CONTE! EM QUE GALHO DE ÁRVORE VOCÊ SE ENCONTRA?

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AULÃO: ______________________________________

NOME DA AULA: O QUE É UMA AULA?PROFESSORALIDADES PERMANENTEMENTE EM FORMAÇÃO

1º MOMENTO: Leitura na aula com estudo do texto 3- "Didaticário de Criação - Aulacheia, antes da aula", de Sandra Corazza (UFRGS). Conversações.

2º MOMENTO – LEITURA EM CASA do texto 4- "Como dar uma Aula? Que pergunta é essa?", da mesma autora.

3º MOMENTO: Construção de Mapa Conceitual das relações entre os dois textos, apontadas pelos(as) estudantes.

4º MOMENTO: Rodada de falas

TEXTO 3:

DIDATICÁRIO DE CRIAÇÃO: AULA CHEIA, ANTES DA AULA Sandra Mara Corazza UFRGS

É uma ingenuidade o professor pensar que, ao dar uma aula, está diante de um quadrovazio, de uma página em branco, de uma tela virgem (Deleuze, 2007). É um equívocoo professor acreditar que, para fazer uma aula, basta ele entrar na sala, fechar a porta,e dar a aula que quiser. É um erro o professor achar que a sua aula é inexistente; e que,ao fazê-la, poderia reproduzir uma aula que já funcionara como modelo exemplar. Overdadeiro problema do professor não é entrar na aula, mas sair da aula. Isso porque,antes mesmo de começar, a aula já está cheia, e tudo está nela, até o próprio professor.O professor carrega, encontra-se carregado, há cargas: ao seu redor, nos alunos, noplano de ensino, nos livros, na escola. Antes que o professor comece a dar a sua aula,dela pode ser dito tudo, menos que se trata de “a sua aula”; pois a aula está cheia, atualou virtualmente, de dados; os quais levam o professor a dar uma aula que já está dada,antes que ele a dê.

DadosAssim como o currículo (Tadeu, 2003), a aula possui “dados”, que estão

prontos, são anteriores a ela, e a ocupam: a) em primeiro lugar, dados de“conhecimento e verdade”, que determinam aquilo que é ensinado (o conteúdo) e amaneira como é ensinado (a didática); b) em seguida, dados sobre “sujeito esubjetividade”, que indicam o modo de subjetivação que a aula pratica e a identidadedo Eu que ela requer; c) após, dados correspondentes à definição de “valores ecritérios”, que são exigidos, postos, impostos, instituídos pela aula; d) e, finalmente,dados sobre a “vontade de poder”, que indicam a favor de quem e do quê é realizadoo confronto de forças na aula. Esses dados, que preenchem a aula, constituemclichês. Logo, são dados-clichês, que não funcionam apenas em uma ordemintelectual ou cognitiva, mas também psíquica, física, perceptiva, amorosa, etc. Osclichês não representam, passiva e inocentemente, alguma coisa; mas produzem,

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ativamente, o conhecimento, o sujeito, o valor e o poder das coisas vistas, sentidas,pensadas, faladas, olhadas, escritas, lidas, desejadas, numa aula. É que os dados sãomodos de ver e de falar; posições de sujeitos; regimes de signos; palavras de ordem;imagens de pensamento; códigos estriados; funções rígidas; sensações traduzidas emsistemas retilíneos; narrativas explicativas e tranqüilizadoras; e assim por diante.

TrabalhoVisto que uma aula é, desde sempre, feita de clichês-dados, se o professor

quiser que a sua aula seja instigante, interessante e, mesmo, sua – em outras palavras,se desejar realizar uma aula singular –, não vai planejar, preparar e desenvolver aaula, como se ela estivesse vazia; tampouco vai se restringir à tarefa de, tão-somente,prever objetivos, conteúdos, atividades, recursos, avaliação. O professor necessitafazer um trabalho de maior relevância, que pertence à aula, mas precede o ato de dara aula: trabalho preparatório, “invisível e silencioso, e entretanto muito intenso”, peloqual o ato da aula é um a posteriori em relação a esse mesmo trabalho.

PreparatórioTrabalho preparatório que implica, antes de tudo, esvaziar,

desobstruir,desentulhar, faxinar, limpar a aula. Assim, o professor vai varrer,esfregar, escovar a aula, para produzir a sua aula, cujo funcionamento subverta asrelações dos modelos (os dados, os clichês) com as cópias (Deleuze, 1998). Paratanto, ele precisa identificar os dados (formações discursivas e não-discursivas), queocupam a aula-dada; e, dentre esses dados, designar aqueles que constituem “umobstáculo, quais são uma ajuda ou mesmo os efeitos de um trabalho preparatório”(Deleuze, 2007, p. 102; p.91).

Aquele professor que se restringir a maltratar, ou mesmo triturar os clichês,pode estar agindo em prol de uma transformação por demais abstrata; e, assim, correro risco de permitir que os clichês retornem, espalhem-se e voltem a agir. Dessemodo, o professor pode até dar uma “boa aula”, segundo as normas tradicionais de“Como dar uma aula” (Corazza, 1996); porém, a sua aula irá consistir, apenas, emuma aula-clichê.

LutaDesde a perspectiva de uma didática da criação, a boa aula (no sentido

tradicional) pode ser uma aula extremamente ruim; isto é, improdutiva,conservadora, obstaculizadora ou impeditiva da criação, da invenção, da fabricaçãodo novo. Por isso, mesmo que “a luta contra os clichês” seja “algo terrível”, comopode um professor evitar que a sua aula seja uma aula-clichê? Como pode umprofessor dar uma aula que não seja uma aula-dada? Não há regras nem soluçõesuniversais. Cada professor sabe como proceder e tem uma idéia mais ou menosprecisa do que quer fazer. O que o salva é que ele “não sabe como conseguir, nãosabe como fazer o que quer” (Deleuze, 2007, p.94; p.100). A única certeza que oacompanha é que se, anteriormente (trabalho pré-aula), ele entrou na aula, com suacarga de dados-clichês e de probabilidades; agora, ele precisa sair daí (trabalho daaula), extirpando tanto suas formas de conteúdo quanto as de expressão (Deleuze2004; Deleuze e Guattari, 1996), e experimentando.

ProcedimentosNessa luta contra a aula-clichê, o professor sabe que não basta mutilá-la para

obter a sua deformação. Afim de não agir como os professores-copistas, que fazemrenascer os clichês onde eles teriam desaparecido – já que as “reações contra os

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clichês engendram clichês” –, o professor leva em conta que “muitas pessoas tomamuma foto por uma obra de arte, um plágio por uma audácia, uma paródia por um riso,ou, pior ainda, um mísero achado por uma criação” (Deleuze, 2007, p.93; p.94).Querendo criar, por si mesmo, uma diferente e inédita aula, que dê oportunidades aoimprovável, o professor ora insiste, até o ponto de saturação, nos saberestradicionais; ora acumula, até o esgotamento, as relações existentes de poder;ora fazparódias e transforma subjetividades conhecidas em personagens decomédia;enquanto, às vezes, deixa de lado os valores intelectuais em prol dosintuitivos; etc.

Dentre esses procedimentos pré-racionais, involuntários, acidentais, oprofessor vai traçando, no interior da própria aula-clichê: linhas descontínuas,estilhaços flutuantes, resíduos irregulares, rupturas de sentidos, sinais fragmentários,espaços vazios, pequenas cenas, pormenores insignificantes, punctuns, incidentes,“coisas que caem, sem choque, e no entanto com um movimento que não é infinito”(Barthes, 1984; 2004, p.284).

AtoA didática da criação considera que a potência artística de uma aula, exercida

por meio de um processo criador de verdades (imanentes), valores(nãorepresentativos),sujeitos (pré-individuados) e poderes (provisórios), não seequaliza com uma adesão sem resistência ou com uma simples rejeição das normas.Havendo, astuciosamente, criado regras próprias de ação, para desorganizar edeformar os dados de aplicação das forças, valoração dos valores, jogos de verdade,vontade de ser, saber e poder; tendo entrado de cabeça e saído voando da aula-clichê;o professor tem – agora sim – a sua aula.

Como um “acaso manipulado” ou um “acidente manipulado” (Deleuze, 2007,p.99), a aula do professor pode, então, ser dada. Depois de começada, só nos restaperguntar se essa aula – conjunto informe e indiferenciado de multiplicidades livres –funciona.

Referências Bibliográficas

BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1984. (Trad. Júlio Castañon Guimarães.)

___. O neutro: anotações de aulas e seminários ministrados no Collège de France,1977- 1978. São Paulo: Martins Fontes, 2003c. (Trad. Ivone Castilho Benedetti.)

CORAZZA, Sandra Mara. “Como dar uma aula?” Que pergunta é esta? In: MORAES,Vera Regina Pires de. (Org.). Melhoria do ensino e capacitação docente: programa de aperfeiçoamento pedagógico. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1996, p.57-63

DELEUZE, Gilles. Foucault. Paris: Minuit, 1994.

___. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1998. (Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes.)

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___. Francis Bacon: lógica da sensação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. (Coord.Trad. Roberto Machado.)

___. GUATTARI, Félix. Kafka: pour une littérature mineure. Paris: Minuit, 1996.

TADEU, Tomaz. “Dr. Nietzsche curriculista – com uma pequena ajuda do ProfessorDeleuze”. In: CORAZZA, S.M; TADEU, T. Composições. Belo Horizonte: Autêntica,2003, p.35-57.

Apêndice:

10 PASSOS PARA “DAR” UMA AULA SEM “MANCAR”

1º. Não pergunte a ninguém como “dar uma Aula”. Se, no entanto, em algumdia precedente: a) você estudou formas de “dar uma Aula”, registradas na História daEducação e da Pedagogia, tome essas formas como meras histórias, ou seja:produzidas em tempos-espaços específicos, em meio a relações de saber-poder, queproduzem determinados modos de subjetivação – e esqueça a História;

b) se alguém supôs ter lhe “ensinado” algo sobre como “dar uma Aula” –esqueça-o, também, totalmente.

2º. Então, faça o que precisa ser feito: da melhor maneira ética, e com omelhor material que você conseguir, prepare uma Aula.

3º. Como uma Aula não é uma coisa que você agarre, acumule, distribua ou“dê” a alguém,

fabrique, confeccione, produza, invente, ficcionalize uma Aula. Em síntese:puxe-se!

4º. Viva a Aula em intensidade, como uma Aventura humana,demasiadamente humana. Para tanto, largue a Moralina na porta de entrada; pois, sóassim, você terá condições de criar uma nova sensibilidade para sentir, desejar,trabalhar, fazer uma Aula.

5º. Pense...6º. Veja se, por meio da Aula, você próprio, como “Auleiro” consegue: a)

pensar a Diferença Pura que ilimita toda ação humana; b) esgarçar as Identidades, aRacionalidade Moral, a Experiência Utilitária; c) pôr em jogo saberes plurais para lersignos heterogêneos: Mundanos, Amorosos, Sensíveis, Artísticos; d) praticar aFantasia de Aula, para que esta não integre o domínio do Estereótipo, do Já-Dito, doEspontaneísmo Vazio, da Mesmidade Estéril.

7º. Verifique se a Aula: a) não opera com pretensões à Verdade; b) nãosuspende a vontade de criticar; c) não aborrece, entedia, nem transmite a sensação dedéjà vu; d) mas aligeira e adianta as potências do Futuro; e) funciona como umAtrator Caótico; f) produz efeitos de Inspiração e de Criação.

8º. Avalie se você, enquanto “Auleiro”, está transitando do Prazer deAprender ao Desejo de Educar e vice-versa, por realizar a Aula como um territóriosingular, instigante, novo, que desloca os valores estabelecidos e descodifica asformas de conteúdo e de expressão correntes.

9º. Faça a Aula combater todas as maneiras medíocres de “dar Aula”, quediminuem, reduzem e aviltam a Vida; portanto, faça-a funcionar como Máquina deGuerra contra as burocracias intelectuais, o pesadume da vida, as forças secundárias

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de adaptação e de regulação: Memória, Lucro, Honras, Poder, Vaidade.10º. Se, ao dar algum ou todos os 09 Passos anteriores, você “mancou”,

mesmo sem querer, faça como naquela música: levante, sacuda a poeira, e dê a voltapor cima, isto é: prepare, com toda dedicação e amor, a sua próxima Aula. Merdepara você!

À la?(1) Os professores e os tratados que dão receitas sobre “Como dar uma aula” (ou

“Como fazer um currículo”, ou “Como desenvolver um conteúdo X”) são tãoimbecis como o seria um livro que fornecesse medidas ou combinações de corespara produzir uma obra de arte ou uma obra-prima à la Van Gogh.

(2) Aprende-se a pintar pelo olho, não por álgebra; aprende-se a fazer uma aulafazendo-a, pelo coração, pelo desejo, pela vontade de educar.

(3) Assim como em música, a prosódia e a melodia são aprendidas pelo ouvido atento,e não por um índex de nomenclaturas ou pelas informações de que tal ou qual notase denomina lá ou sol; assim também uma aula é aprendida pelo próprio processode ser feita.

(4) Se você der a um desenhista 64 moldes das curvas mais comuns de Botticelli ou seder a ele os 18 tons de amarelos mais usados por Van Gogh, ele será capaz defazer uma obra de arte?

(5) Você esperaria criar uma melodia, tal como Mozart ou Bach, simplesmentegolpeando notas alternadas ou alternando mínimas e colcheias?

(6) Podemos fazer listas e mais listas puramente empíricas de técnicas bem sucedidas(sabe-se lá o que é isto!); podemos, até mesmo, fazer um catálogo de nossas aulasou currículos prediletos; mas o que não podemos fazer é fornecer uma fórmulapara compor uma aula, currículo, melodia mozartiana, livro beckettiano, etc.

(7) Adianta alguém pedir a um professor de artes uma receita para fazer um desenhocomo Leonardo da Vinci?

(8) Adianta alguém pedir a um professor da Faculdade de Educação uma “receita”para fazer uma aula bela, produtiva, criadora?

(9) Se ninguém pedir e ninguém oferecer essas receitas, teremos, talvez, afastado oextremo tédio que cansa a professoralidade e as besteiras disseminadas sobremetodologia, didática, currículo.

(10)Virem-se!

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PARA LER EM CASA, PENSÁ-LO. PENSÁ-LO APENAS.

TEXTO 4:

“Como dar uma aula?” Que pergunta é esta? Sandra Mara Corazza UFRGS Lacan já disse que toda pergunta não se funda jamais a não ser sobre uma

resposta.Caso aceitemos esta idéia como eu aceito, poderíamos dizer que, no momento

em que alguém pergunta algo, este alguém já tem ao menos indícios para responderaquilo que justamente está perguntando. Por que será então que a pergunta que dátítulo a este trabalho, qual seja, “Como dar uma aula?” vem sendo recorrentementefeita em toda história da pedagogia moderna?

Para descrever algo das condições e possibilidades que tornam enunciávelesta pergunta, cabe trabalhar (embora de forma breve) quatro perguntas-guias: a) deque lugar (es) fala aquele que formula essa pergunta -”Como dar uma aula?”), ou emoutras palavras, o quê/quem o autoriza/legitima a perguntar tal coisa; b) a quem/aoque ele formula tal indagação;

c) quem responde, ou a partir de que lugar(es) é produzida uma e qualquer resposta;e,

d) qual é/ quais são as respostas a essa pergunta.

Buscarei indicar alguns argumentos que nos permitam dizer alguma coisamais acerca dessa questão e que nos “dê o que pensar” no espaço deste Programa.Como estratégia analítica, responderei às quatro perguntas-guias que fiz incidir sobrea pergunta-chave deste trabalho, a fim de ver se, com tal argumentação, poderemoscaracterizar a segunda questão do título, que interroga sobre a pergunta-chave: “Quepergunta é esta?”. (Uma coisa ao menos já sabemos até aqui: a de que são muitas asperguntas!) Quanto à primeira perguntaguia, isto é, de que lugar fala aquele quepergunta “Como dar uma aula?”, pode parecer que à primeira vista este seria umlugar de ignorância. Pergunta-se algo por ignorar as respostas àquilo que constitui apergunta àquilo que se quer, deseja, ou precisa saber. Este é o sentido comum,corriqueiro atribuído ao “perguntador”, ou seja, de que aquele que pergunta o fazporque ignora, porque desconhece algo que quer, que precisa ou que deve conhecer.Tal significado já foi inclinado por aquela formulação de Lacan com a qual inicieiesta fala, e que me fornece algumas configurações para problematizar para buscardesnaturalizar este sentido comumente atribuído ao lugar do qual fala aquele quepergunta. Uma destas configurações possibilita-me afirmar que este lugar deignorância é precisamente o lugar de uma presumida ignorância e de uma ignorânciaatribuída, sendo ambas a suposição e a atribuição, colocadas por uma estruturadisciplinar específica.

Vejamos um argumento que dá sustentação a esta posição, retirado da práticade formação das professoras/ professores desenvolvida aqui, na Faculdade deEducação: nesta prática, constatamos que aqueles (as) alunos(as) tanto dos cursos daslicenciaturas quanto do próprio curso de Pedagogia. Que já exercem uma prática-docente, que já são professores(as), mesmo esses(as) alunos{as) insistem em

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perguntar desse jeito, especialmente nas aulas de Didática ou nas disciplinasmetodológicas; assim como perguntam numa variação valorativa: “Como dar umaboa aula?”

Também é interessante verificar que professores (as) universitários (as)devidamente e, em geral, rigidamente concursados (as), muitas vezes docentes háalgum tempo, fazem esta mesma pergunta. O lugar de onde perguntam, serárealmente um lugar de ignorância acerca de como dar uma aula, se suas própriaspráticas docentes não indicariam a.mínima necessidade de fazer esta pergunta?Então, por que a fazem? O que os autoriza a desta maneira perguntar?

Afirmo que não é sua ignorância, e sim sua presumida ignorância que os fazperguntar desta maneira. Mas por que fica colocada uma autopresumida ignorânciasobre um ato que, muitas vezes, é o ato por excelência de sua profissão e ao qual sededicam há muito ou há algum tempo? Neste ponto rumamos para a segundapergunta-guia estreitamente vinculada à primeira, qual seja, ao quê, a quem éformulada tal questão, a partir de um lugar de suposta ignorância?

Pode ser que por existir um grupo, uma comunidade, um campo disciplinar, aquem atribuir este saber. Evidentemente, que estou a falar de nós, ou seja, detodos(as) aqueles{as) que trabalham na formação de professores{as) e que, de umaou de outra maneira, estão implicados(as) na e pela Educação; ou daqueles(as} queefetivamente assumem esta sua implicação, pois escutei um professor universitárioda UFRGS,que dá aulas de História há quase vinte anos afirmar enfaticamente queele nunca foi, não é, nem nunca será “um educador”.

Deixando este tipo de negação de lado, por mais instigante que me pareçaanalisá-la, volto ao ponto central desta argumentação, qual seja, o de que existe um“nicho” de prática discursiva ao qual alguém se autoriza a formular' tal pergunta,mesmo que seja uma pergunta apenas retórica, o que não importa para esta análise,porque de toda maneira a pergunta é formulada; um domínio habitado por um tipo dediscurso ao qual aquele que pergunta atribui um saber sobre a resposta ou asrespostas possíveis; um nicho que, historicamente, também fez de tudo para que talsaber/poder lhe fosse atribuído. De forma breve, por ser evidente, afirmo que é aocampo da Pedagogia e, nele, ao campo da Didática e da Metodologia que talpergunta vem sendo feita. E que justamente são estes campos aqueles que, por meiodos regimes de verdade produzidos por suas práticas discursivas e não-discursivas,potencializaram e continuam a potencializar a enunciação dessa pergunta. Em assimsendo, vige aí nesta operação a atribuição de um suposto saber. Um saber/poder deresponder à pergunta sobre como dar uma aula, “fabricado” por aqueles queproduzem a discursividade destes campos e pelas relações interdiscursivas formadaspor diversos campos de conhecimento.

Até aqui, argumentei que o lugar daquele que pergunta sobre como dar umaaula não é um lugar de ignorância, mas de uma autopresumida ignorância, e tambémde uma ignorância atribuída por campos conceituais e por práticas disciplinaresparticulares. Assim, aquele que pergunta é colocado e se coloca numa condição deatribuir a outros (didatas, metodólogos, pedagogos, “legítimos” educadores, etc.) umsuposto saber sobre a resposta correta a esta questão. Por isto, é a estes que dirige talpergunta, presumindo-se ignorante por não deter a resposta àquela pergunta, mesmoque sempre tenha dado muitas e muitas aulas'.

Por esta razão é que aqueles – os outros-educadores, os outros pedagogos, osoutros-didatas, os outros-metodólogos, - costumam prosseguir acolhendo esta

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indagação e fazendo questão de continuar a respondê-Ia.Agora, chegamos a uma tentativa de responder à terceira pergunta- guia:

quem responde, ou a partir de que lugares é produzida uma resposta? Depois dela,nos remetemos à quarta pergunta, isto é, quais são/ quais têm sido as respostasenunciadas? Na história institucional da educação de massas, onde foi constituída aPedagogia, muitas respostas foram produzidas a esta pergunta e ela – a pergunta de“Como dar uma aula?”- foi intensamente demandada.

As primeiras respostas específicas produzidas a esta questão estavam(continuarão?) conformadas pelo tríptico religião-ciência lei. Dentre as fundadorasdeste tipo de discursividade ficaram registradas na Ratio Studiorum da Companhiade Jesus e também a obra que escolhi para retirar alguns excertos: a didática magna,ou tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, do pastor protestante tchecoCornênio, escrita entre 1627 e 1657.

Em sua “Saudação aos Leitores”, Comênio escreve: Didática significa arte deensinar. Acerca desta arte, desde há pouco tempo, alguns homens eminentes, tocadosde piedade, pelos alunos condenados a rebolar o rochedo de Sísifo, puseram-se afazer investigações, com resultados diferentes. [...] Nós ousamos prometer umaDidática Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinarcom tal certeza, que seja impossível não conseguir bons resultados. E de ensinarrapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para osalunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros. E deensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, masencaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes epara a piedade sincera. Enfim, demonstraremos todas estas coisas a priori, isto é,derivando-as da própria natureza imutável das coisas, como de uma fonte viva queproduz eternos arroios que vão, de novo, reunir-se num único rio; assimestabelecemos um método universal de fundar escolas universais.

O próprio Comênio escreve que a promessa que faz “é enorme e correspondea um desejo muito vivo”, mas pede que o leitor suspenda seu juízo, até que tenha“conhecido a substância mesma das coisas” que ele tem a mostrar. Para dar umexemplo do conteúdo e da forma destes escritos, selecionei as nove regras paraensinar as ciências, em geral, apresentadas pelo autor:

1ª Regra – Ensine-se tudo o que se deve saber.2ª Regra – Tudo o que se ensina, ensine-se como coisa do mundo de hoje, e

de utilidadecerta.3ª Regra – Tudo o que se ensina, ensine-se de uma maneira direta, e não com

rodeios.4ª Regra – Tudo o que se ensina, ensine-se tal qual é e acontece, isto é, pelas

suas causas.5ª Regra – Tudo o que se oferece ao conhecimento, ofereça-se primeiro de

modo geral, e depois por partes.6ª Regra – Conheçam-se todas as partes da coisa, mesmo as mais pequeninas,

sem omitir nenhuma, respeitando a ordem, a posição e as relações que umas têm comas outras.

7ª Regra – Ensinem-se todas as coisas sucessivamente, e, durante o mesmotempo, não se ensine senão uma coisa só.

8ª Regra – Insista-se sobre cada matéria, até que ela seja perfeitamente

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compreendida.9ª Regra – Ensinem-se bem as diferenças das coisas, para que o

conhecimento de todas as coisas seja distinto.

Três séculos depois da Didática Magna, considerado um dos livrosfundadores da discursividade pedagógica moderna, seleciono dentre tantospublicados, o livro Introdução à Didática Geral de Imídeo Nérici, que em 1985estava então em sua 15 ª. Edição, e onde podemos encontrar algumas “sugestõespráticas de ação didática”, tais como: [...] o professor deve ser pontual em suasobrigações didáticas, como: ser entusiasmado (sem exagero), humano (sempieguices), sincero e otimista; apresentar-se discretamente vestido, sem exageros oumodismos. O ideal é que se apresente, para os trabalhos de classe, envergandoguarda-pó. Esta é a vestimenta mais adequada para o exercício do magistério e paraambos os sexos.Quanto ao planejamento, é sugerido que “o professor planeje comcuidado todos os trabalhos escolares, para evitar imprevistos em classe que possamprejudicar o ensino”. Além disso, o professor não deve iniciar a aula “a frio”, masdeve primeiramente, predispor a classe para os trabalhos previstos, relacionando oconteúdo das aulas com fatos hodiernos, pensando em formas de motivação decontinuidade para ser posta em prática durante uma aula, quando esta comece aperder o interesse dos educandos. Caso realize exposição oral da matéria, “esta nãodeve ultrapassar 1 a 2 minutos sem uma interrupção para uma atividade qualquer,como escrever no quadro-negro, interrogar, mostrar algo, fazer um exercício,promover uma pequena discussão, lançar mão de algum recurso audiovisual, etc.”Ao iniciar sua aula, o professor “deve apagar bem o quadro-negro, para não ficaremrestos de palavras, gráficos ou números”. O quadro-negro deve ser divididomentalmente ou de fato em duas partes, na proporção de 2/3 e 1/3. Deve serconsignada, na parte maior, a esquematização dos trabalhos escolares, em ordemlógica e que não devem ser apagada; devem ser consignados, na parte menor, osdados auxiliares da aula, que podem ser apagados, quando necessários. A letra, noquadro..negro, deve ser bem legível. Não bonita, mas legível. Evitar falar, quando seestiver escrevendo nele.

Tratando-se do material didático, o professor (sempre no masculino) “deveesforçarse por desenhar, pois em casos de emergência poderá lançar mão dedesenhos e tornar mais claras as idéias e os conceitos”. Deve o professor inspecionaro material didático antes da aula para “evitar os enguiços de última hora que tantoprejudicam a aula” E assim por diante, até a exaustão de detalhes quanto às açõesdidáticas, tais como, o “interrogatório”, ao qual deve ser dado um “aspecto deconversa, sem aquele sentido de inquisição policial” – estou citando a “discussão”,onde é recomendado que o professor evite “que, sem motivo justificado o assunto sedesvirtue”; bem como, “exercícios e tarefas”, “demonstração”, “trabalhos delaboratório”, “experiências”, “relacionamento do professor com a classe”,“avaliação”, etc.

Com esses dois exemplos, espero ter conseguido transmitir as espécies derespostas que vêm sendo produzidas caracterizadas:

a) por sua universalidade, numa repetição associal e a-histórica, sem que aíhaja lugar para qualquer contingenciamento, que é próprio do ato educativo; b) porsua busca de certezas, como escreveu Comênio, “inabaláveis” quanto aos resultadosd,este ato;

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c) por sua narrativa-mestra, ao formular explicações totalizadoras e causas finais,válidas para todos os tempos e para todos os grupos humanos.

Para concluir, pergunto Para concluir, pergunto: o que fariam os indagadores(as) desta pergunta “Como dar uma aula?” se, contemporaneamente, lhesrespondêssemos que nós não sabemos como dar uma aula, muito menos como daruma boa aula? Que não existe uma resposta absoluta, possível de ser universalizadapara esta pergunta? Que não há nenhuma ciência objetiva, nenhuma práticadiscursiva, nenhum campo conceitual que possibilite essencializar o que seja ou oquê/como deve ser uma aula, quanto mais uma boa aula.

Além disso, que nós não aceitamos mais, primeiramente, falar da questãonesta generalidade que a impregna; e, em segundo lugar, que não aceitamosresponder a ela afirmativamente, pelo simples fato de que nós não sabemos eeticamente não devemos mais continuar a repetir o círculo perfeito daquelasrespostas que circunscrevem uma transcendentalidade à Verdade (com V maiúsculo)da prática educacional.

Na tentativa de disrupção deste círculo perfeito de quase três séculos devigência, para dele buscar fazer ao menos uma elipse, em que estamosimplicados(as) em nossas pequenas “revoltas diárias”, afirmamos que as aulas – máse boas, regulares e medíocres, ou nada disso – são constituídas na confluência demúltiplos fatores, histórico, cultural, subjetiva e politicamente produzidos; que omáximo que podemos descrever, para construí-los, são os modelos, os padrões deaulas, os significados transcendentais de aula, tal como se constituíram emtempos/espaços histórico-culturais, bem como seus efeitos sociais, políticos e deformas de subjetivação, indicando algumas daquelas condições de possibilidades queos produziram, não diretamente, mas contribuindo para suas descontinuidades.

E esta é minha/ nossa resposta, por enquanto. A partir dela, pode ser que osperguntadores obriguem-se a mudar também sua pergunta. E aí, possamos juntosrealizar um trabalho bem mais criticamente produtivo.

ATIVIDADES:

• Leitura e análise de texto discutindo questões apresentadas pela educadora eoutras propostas pelo grupo.

1. O que podemos definir como uma boa aula?

3. Que critérios utilizamos para definir uma aula como boa ou não?

4. Que novas questões remete o texto?

5. Sistematização das conclusões do grupo com apresentação aos demais acerca dosentendimentos produzidos coletivamente.

• Escrevas, agora, depois deste trabalho coletivo, em teu Diário de Campo:1. O que é uma boa aula, pra ti?

2. Que critérios utilizas para definires uma boa aula?

3. O que imaginas ter que fazer para dares uma boa aula?

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Texto 5: Tua Aula , um Mundo!

“Tua Aula, um Mundo”! Original de: Ana Felícia Guedes Trindade

Tua Aula não é para ser uma aula comum, daquelas que na infância teenfastiavam, te cansavam e te faziam bocejar e desejar sair dalicorrendo.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tua Aula pode ser uma janela, ou melhor, muitas janelas, daquelasbem enormes, abertas com o vento a alvoroçar as cortinas.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tua Aula pode ser o próprio vento, ou melhor, uma ventania,daquelas que não sabes se seguras a saia ou os cabelos, tipo turbilhão deideias ou confusão de pensamentos arrumadinhos que se desorientaram.Ou algo parecido com um torvelinho.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Não penso que eu esteja sendo inconveniente em te convidar parapensares a tua aula como uma “outra aula possível”. Penso que estoudesejando que sejas mais feliz. Porque deve ser muito enfadonho, muitotriste, muito cansativo produzr aulas sempre do mesmo jeito, com a mesma

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metodologia, com a mesma caricatura, tipo aquela que nada mais inventa,nem provoca, nem estimula, nem des-constrói, nem propõe, nem re-inventa,nem re-cria. Toda nova invenção produz alegria. Felicidade de criar e,depois, deleitar-se com a criação.______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________'

Tua aula, para além da janela, e do vento que descortina ou tedescabela, pode ser as nuvens, que saem dos lugares, ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________que negam os lugares certos, _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________que desconfiam das certezas do tempo, que correm rápido, que dormem etiram uma sesta, que pairam e despairam, que se escorrem, que seliquidificam, que se chovem, que saem dos céus pra terra e da terra proscéus, experimentando os ares e provam dos gases e são eles e nem sãomais._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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E viram fofuras, alvas de contemplar, algodões suspensos, estranhosbichos parecidos, formas pra além da imaginação. Tua Aula pode ser algoassim: nômade, desapegada de certezas, de absolutas verdades, de rotinasexauridas, de clichês moralistas. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Tua Aula pode ser nômade vivencial, nômade cultural, nômade filosófica,nômade estética, nômade literária, tudo bem nômade, em movimento paranão calcificar, nada de lugar posto, nada de lugar cativo – tudo de nuvempassageira, possível de bela e contemplativa._______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tua Aula pode ser mais pra lá das nuvens. Também. Pode ser umhorizonte. Daqueles cuja visão marejam os olhos, tocam as almas, nosdeixam tontos de beleza e de curiosidade pelo porvir. Tua Aula pode seraquele horizonte galeano, que ao nos aproximarmos, ele se afasta,fazendo-nos caminhar mais e mais. Tua Aula pode ser não um, mas muitoshorizontes, muitos de olhar e pasmar, de desejar tocar, de desejarconhecer, de viajar até eles, de querer viver, de estar querendo._______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Tua Aula pode ser um Mundo! Onde se deseje pensar, __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________onde se permita contemplar,___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________onde se perceba, como imprescindível, conjecturar, questionar,_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________secolocar,_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________conversar,_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________trocar uma ideia,_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________poetar,_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________intelectualizar,____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________saborear, tomar chá,______________________________________________________________________________________________________________dançar,

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_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________escrever,______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ler,____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________passear,______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ir onde moram as artes,____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________visitar livros, dialogar com pensadores, discordar, conviver com asdiferenças, expandir os olhares sobre o mundo.

Tua Aula, um Mundo! Onde as pessoas sejam reconhecidas pelassuaspotências,__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________pelas muitas das suas possibilidades, __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________pelas suas histórias______________________________________________________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________e pelas ânsias de viver, como um direito, as suas dignidades!__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tua Aula, um Mundo! Nada de personagens, nada de discursos sempráticas, nada de burocracias sem vida, nada de conhecimentos esvaziadosde sentidos!____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Tua Aula, um mundo de humanos, de carne e osso, de sangue ecoração;_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________tudo de palavras, vez e voz,______________________________________________________________________________________________________________

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__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________de leituras e escritas que expandem, ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________de conhecimentos significativos_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________e capazes de ressignificar as leituras de vida. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Tua Aula, teu mundo com outros mundos.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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_______________________________________________________Grávidos de alegria, ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________de respeito, _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________de ética e de amorosidade! ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Tua Aula, para ser dignamente lembrada,___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________para morar dentro das memórias de cada criança,____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________como uma referência de existência._______________________________________________________

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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Como um ponto luminoso. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Autorias: Ana Felicia e ________________________ Exercício autoral a quatro mãos. Agosto/2014