o povoado perdido - zane grey

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Romance leve, para divertir

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O POVOADO PERDIDOZANE GREYColeco Zane Grey - 9Agncia Portuguesa de RevistasDigitalizao e ArranjoJlia VieiraAgostinho CostaEste livro foi digitalizado paraser lido por Deficientes VisuaisJaney sacudiu a cabea. Que lhe importava? Qualquer coisa quente, que supunha ser dio, queimava-a. Uma vez rodeado o vasto contraforte de rocha, fora da vista de Randolph, esqueceu-o. Ali, encontrava-se um anfiteatro, vista do qual era pequeno o Coliseu de Roma, situado contra um fundo de magnificentes rochas intransponveis. Que silncio! Janey sentiu-se como que num sepulcro, completamente s. Os seus passos levaram-na alto, to alto que se maravilhava e estremecia, receosa, por vezes, com as gigantescas fendas e rochas soltas.De sbito, notou o que parecia serem pequenos degraus talhados na rocha. Atnita, no podia acreditar no que viam os seus olhos. Mas ali estavam eles, um aps outro, gastos, apenas distinguveis na rocha macia. Tinham sido talhados mo.Intensamente absorvida, Janey subiu-os, esquecendo o medo das alturas e das rochas fragmentadas.Agora perdera os pequenos degraus. Parou, sem flego e ruborizada. Evidentemente que tinha subido muito. Na sua frente, estendia-se uma plataforma mais maravilhosa ainda pela localizao e isolamento. Olhar para trs e para baixo f-la ficar sem respirao. Como iria descer?ZANE GREYO POVOADO PERDIDOTraduo do ingls de Maria AntonietaTtulo original: LOST PUEBLOAgncia Portuguesa de Revistas de LisboaReservados os direitos pela legislao em vigorCOLECO ZANE GREY - 9Edio de Aguiar & Dias, Lda.Todos os direitos reservados para Portugal em conformidadecom a Lei, na apresentao, distribuio e conjunto da obra.Distribuidores e depositrios:Agncia Portuguesa de RevistasPaginao - Rodap I.Janey Endicott no tinha visto nada do Arizona at quela manh. O comboio atravessara a fronteira daquele Estado j de noite. O Novo Mxico, com as suas plancies ermas e abruptas, as suas pastagens negras e rudes e as suas solitrias extenses de terreno, despertara nela sensaes completamente novas. Seu pai acabara de lhe bater porta, acordando-a hora a que no estava habituada. Aceitara, sem interesse, o seu convite para dar com ele um pequeno passeio pelo Oeste, mas aquilo comeava a ter uma maior importncia para ela. E Janey j no estava to segura de que no lhe aconteceria algo de novo.Tinham chegado a Flagerstown de noite, j tarde e Janey, cansada, tinha ido logo para a cama. Ao despertar nessa manh, ficara surpreendida com a vitalidade que sentia. Acordara num momento. O sol entrava a jorros pela janela do quarto, muito brilhante e dourado e o ar que o acompanhava era seco e frio.- Oh! Pensava que algum me tinha dito que estvamos na Primavera - disse Janey enquanto calava rapidamente as chinelas e vestia o roupo. Depois foi janela e olhou em volta. 5O pequeno hotel estava, evidentemente, situado nas imediaes da cidade. Viu algumas casas dispersas entre os pinheiros, de um lado e outro. Havia rochas cinzentas e abruptas, cobertas de vinha e mato. Os pinheiros cresciam altos e delgados e desapareciam numa mancha verde escura. distncia viam-se cumes brancos contra o azul profundo do cu. Janey teve o pressentimento de que iria gostar daquela aventura.Embora no o quisesse admitir e apesar de ter s vinte anos, encontrara bastantes aborrecimentos na sua casa do Leste. Pensamento srio este que j lhe tinha surgido muitas vezes e que geralmente evitava, mas que voltava involuntariamente a atorment-la.Enquanto se vestia, ponderava a situao. Nunca estivera no Oeste. Depois do colgio, tinha feito uma viagem pela Europa, e nos anos seguintes ocupara o seu tempo com as habituais partidas de golfe, passeios de automvel e idas a bailes e dancings com todos aqueles que faziam parte do seu grupo. Sabia bem quanto seu pai discordava das ideias da sua gerao. Contudo raramente interferia na sua vida. Este passeio tinha uma inteno, que s agora descortinava completamente. Iam encontrar um jovem arquelogo, ali em Flagerstown, e, provavelmente, conseguir que ele os acompanhasse para lhes mostrar a regio dos canyons (1) e outros lugares pitorescos. Janey tinha-o conhecido em Nova Iorque(1) Espcie de garganta ou desfiladeiro muito apertado onde corre um rio.6onde ele estivera a fazer conferncias sobre as minas pr-histricas do Southwest. Philip Randolph tinha surpreendido Janey porque era diferente dos jovens com quem ela convivia mas no que dizia respeito sua atitude perante os encantos dela fora to susceptvel como os outros. Randolph nunca trara os seus sentimentos por palavras ou aces. Parecia ser um indivduo calmo e varonil, bem educado, mas um pouco antiquado nas suas maneiras e demasiado absorvido pelo seu trabalho de investigao. Janey simpatizou bastante com ele e conviveram um pouco. Ainda ela e o pai no tinham chegado ao Oeste quando este mencionou que esperava encontrar Randolph. Lembrou-se ento de que seu pai tinha gostado muito do jovem arquelogo. O que divertiu Janey.- Deve ter alguma coisa em mente - monologou ela - e eu s o consegui perceber muito tarde.Janey encontrou o pai na confortvel sala de estar do hotel, lendo o jornal, em frente do fogo. Era um homem de 60 anos, bem conservado, elegante e de cara bem barbeada, um noviorquino tpico, perspicaz, vivo e mundano, ainda de aspecto atraente.- Bom dia Janey - disse ele dobrando o jornal e sorrindo-lhe. - Vejo que dispensaste, quase por completo, a tua maquilhagem. Ests com um belo aspecto.- Confesso que me sinto esplndida - respondeu Janey francamente. - Deve ser do ar do Arizona. Apetecia-me comer umas costoletas de carneiro, pap.Ao pequeno almoo Janey descortinou uma cintilao diferente7nos vivos olhos de seu pai. Estava contente por ela parecer esfomeada e no estar inclinada a descobrir defeitos nas comidas e bebidas que lhe serviam. Janey sentiu que ele tinha mais alguma coisa em mente do que proporcionar-lhe apenas um belo passeio. Podia muito bem ser at que estivesse querendo provar a sua prpria teoria acerca das reaces de uma jovem bastante sofisticada perante o ainda to primitivo Oeste.- Randolph mandou-me dizer que no pde encontrar-se connosco aqui - disse o pai. - Ns iremos de automvel at um lugar chamado Mrmon Canyon. um posto comercial, penso. Randolp estar l.- Iremos pelo deserto? - perguntou Janey entusiasmada. Cerca de 100 milhas. Atrevo-me a dizer que vai ser um passeio que tu nunca esquecers. Janey, vais com esse vestido to leve?- Claro. Tenho o meu casaco para o caso de estar frio.- Muito bem. melhor ires busc-lo imediatamente. J pedi um carro.- H lojas nesta terra? Queria comprar umas coisas.- Sim e bem bonitas Mas depressa, minha querida. Estou ansioso por partir.Quando Janey saiu a fazer as suas compras, lamentou no ter levado o casaco. O ar estava cortante e o vento atirava-lhe p para a cara. Flagerstown parecia uma pequena cidade morta. Estremeceu ideia de ter de viver ali. Limitou-se apenas a ir a uma loja, pois comeou a ter pressa de voltar para o hotel.8Encontrou ndios que, apesar dos seus trajos de brancos, lhe pareceram pitorescos e excitantes. Notou que a olhavam com interesse. Depois viu um rapaz mexicano que conduzia alguns belos e fogosos cavalos. E no houve mais nada que chamasse a sua ateno durante o seu curto passeio.Rapidamente fez as malas e j estava pronta quando o pai veio ter com ela ao quarto. Janey reparou que ele estava a proceder mais como um rapazito do que como o seu antigo pai, grave e calmo. O carro estava espera l fora.- Vamos embora - disse ele com um ar peremptrio. E Janey teve de morder a lngua para no retorquir que ele devia falar por ele apenas.Depressa deixaram para trs a cidade e entraram numa floresta de pinheiros altos e majestosos, crescendo distanciados uns dos outros, num solo atapetado de castanho e levemente inclinado. A fragncia era parecida com a das florestas do Leste, diferente talvez por ser mais seca, o que era uma qualidade doce e nova para Janey. Aqui e acol a estrada atravessava ranchos dos quais apenas eram visveis os picos vestidos de branco. Janey ps-se a pensar por que razo as pessoas do Leste deliravam com os Alpes quando o Oeste possua tantas montanhas como aquelas. Ficou com pena quando deixou de ver a montanha. Seu pai falou um bom pedao acerca daquela parte do Arizona da qual parecia estar muito bem informado.- Ouve pap, j aqui tinhas estado alguma vez? - perguntou-lhe.9- No. Randolph falou-me acerca desta regio. Ele adora isto. No admira!Janey no respondeu, contrariamente ao seu costume. A estrada subia, mas nem a aspereza nem a rudeza da subida causaram nos passageiros grande interesse. Breve o carro entrava na parte mais densa da floresta, escura e fria, alcanando o cume de uma colina. Depois entrou numa descida gradual, onde as rvores comeavam a rarear e, percorrido um bom par de milhas, encontraram-se no limiar do deserto.Foi a primeira vez que Janey viu qualquer deserto de perto. Sentiu-se fortemente emocionada; no saberia dizer se por temor, maravilha, respeito ou medo, se por um pouco de cada um destes sentimentos combinados. Todas as extenses de terreno que tinha visto em toda a sua vida, somadas, no se podiam comparar com o tremendo espao que se abria sua frente. Primeiro era prata e cinzento, semeado de pequenas rvores verdes, depois transformava-se em amarelo e vermelho e acabava numa mistura de muitas cores, donde sobressaam formas cor de prpura.- Este deve ser o Deserto Pintado, se me lembro correctamente do que me disse Randolph - disse o pai. - magnfico. No h nada na Europa como isto. E Randolph disse-me que no nada, comparado com o Utah, a 200 milhas para o Norte.- Vamos pap - replicou Janey, sonhadora.Dali em diante, a viagem cresceu em interesse absorvente para Janey, a tal ponto que ela j nem podia reflectir10e tomar conscincia das suas prprias impresses. O Little Colorado River, o vasto promontrio do Kishlipi, as gigantescas estepes para os Badlands, as encantadoras e sinistras formaes rochosas estendendo-se por um tremendo e azul golfo, que era o Grand Canyon; os assombrosos planaltos, chamados mesas, pelo motorista, a descida para as deslumbrantes e arenosas Moencopi Wash e ainda, e outra vez, e sempre, sempre, mais lguas de deserto, com extenses negras sobressaindo - estes sucessivos aspectos da viagem prendiam a ateno de Janey, como at ali nenhuma outra paisagem ou cenrio a haviam prendido na sua vida.Ficou surpreendida ao ver o posto comercial. Alcanaram-no mais cedo do que desejava. Assemelhava-se a um dos blocos de rochas vermelhas por que tinham passado frequentemente. Mas mais perto, comeou, de facto, a parecer-se com uma habitao. Tudo volta era areia amarela, vermelha e cinzenta e na crista das serranias, afiadas como gume de punhal, espalhava-se um fumo prateado. Havia pedaos de verde atrs do posto e, abaixo, uma larga cova onde colunas de p ou areia redemoinhavam por entre estreis runas. Para alm, rochas rosadas e salpicadas de branco, maravilhosas vista, e acima delas, longe, o topo negro e franjado de uma mesa sem fim.- O que pensas disto, Janey? - perguntou Endicott, com curiosidade.- Agora compreendo porque Randolph parecia inadaptado11ao lugar que desempenhava, como diziam os meus amigos - replicou Janey, enigmaticamente.-Hum! Eles no o conheciam muito bem - declarou o pai.Eram esperados porta do ponto pelo negociante, John Bennet. Este trazia umas mantas Navajo. O seu chapu estava inclinado sobre a orelha. Tinha uma cara curtida pelo tempo e era um homem de meia idade, de estatura mediana, grisalho e gasto pelo deserto, com uns olhos que revelavam bondade e bom humor.-Ora aqui esto - saudou-os, deixando cair as mantas. - Creiam que no os espervamos to cedo. Desam e entrem.Janey transps a porta e entrou numa colorida e espaosa sala de estar. A encontrou uma mulher gorda, de mangas arregaadas, mostrando os braos robustos e morenos, que veio para Janey e lhe pediu que se considerasse em sua casa. Depois foi ter com os outros l fora, deixando Janey sozinha.Esta olhou sua volta com interesse. As janelas largas, abrindo para o deserto, chamavam fortemente a ateno de Janey. Tirando o casaco e o chapu sentou-se a descansar e a inventariar o que a rodeava.O compartimento, que era comprido, tinha muitas mantas ndias, algumas das quais adornavam as paredes. Numa mesa estavam espalhados cintos ornamentados a prata, fitas de chapus, freios e arreios de cavalos. Sobre o amplo rebordo da lareira estavam penduradas placas ndias,12e no topo da estante encontravam-se objectos de desenho ndio, adornados com contas, e alguns vasos primitivos. Um bom fogo ardia na lareira.Nesta altura mrs. Bennet entrou acompanhada pelo comerciante, por mr. Endicott e por um homem alto e jovem vestido de caqui. Janey j o tinha visto em qualquer parte. Na verdade era Philip Randolph. A cara queimada, rudemente vestido, ajustava-se decididamente ao ambiente do deserto, para o gosto de Janey.- Miss Endicott creio que no precisa de ser apresentada ao Phil - anunciou mrs. Bennet, lanando um olhar agudo e penetrante, que percorreu o lindo e curto vestido francs de Janey, as finas meias e os sapatos de salto alto.- Phil?... Oh, a senhora quer dizer mr. Randolph.O jovem inclinou-se rigidamente e dirigiu-se-lhe.- Espero que ainda se lembre de mim, miss Endicott - disse.- Claro que me lembro mr. Randolph - respondeu Janey, graciosamente, estendendo-lhe a mo.- bom v-la aqui, no meu Oeste. Nunca cheguei a acreditar que viesse, embora seu pai prometesse traz-la.- Bem, o pap conseguiu-o, e no posso compreender como - retorquiu Janey, rindo.- Mr. Endicott o passeio foi bom para todos? - perguntou mrs. Bennet.- Para mim foi. A minha filha que est ainda um pouco desconfiada, receio.13Ora, isto no assim to mau, miss Endicott - disse, com simpatia, a enorme mulher. - Vejo perfeitamente como est plida. Vo todos ver como a sade lhe vai voltar neste deserto.- A minha sade! - exclamou Janey quase indignada. - Mas se eu sou absurdamente saudvel. Eu at podia ser escolhida para um cartaz de propaganda sade! meu pai quem anda indisposto.- Desculpe-me, miss - disse mrs. Bennet, embaraada. - Mas veja, o seu pai parece to forte...- No o corpo dele que est fraco, mrs. Bennet - interrompeu Janey. - o seu crebro.Nesta altura Philip veio libert-la, como Janey se lembrava que ele sempre fizera em Nova Iorque.- Mrs. Bennet, no uma questo de sade ou doena para algum - explicou ele. - Mr. Endicott era um velho amigo de meu pai. Encontrei-o em Nova Iorque. Ele quis visitar o Oeste e trazer miss Janey para to longe da civilizao quanto possvel, para...-Eu lhe direi se ele fez isso - interrompeu Janey. -Deve ser uma verdadeira tragdia viver aqui, rodeados de milhas de areia, rochas e cu. Ou vocs esto doidos, ou devem ter cometido algum crime ou coisa semelhante, e querem esconder-se.Mrs. Bennet tentava conter o seu espanto.- Mr. Endicott, os vossos quartos ainda no esto prontos. Por favor esperem aqui um pouco... Bennet v se aqueles rapazes preguiosos trazem as malas.14- Phil, mas onde que esto os rapazes? - perguntou Bennet, ao ver a mulher to azafamada.- Estavam a mandriar, sombra, quando o carro chegou. Depois desapareceram como lebres no mato. Certamente esto a divertir-se. Vou ajud-lo a encontr-los.- Estejam vontade - convidou Bennet e deixou a sala com o arquelogo.Mr. Endicott andou volta de Janey olhando-a com ares reprovadores.- Janey, no me importo que me chames doido ou troces de mim. Mas, por favor, no faas isso ao meu jovem amigo Randolph. Seu pai era o homem mais educado que conheci, e Philip muito parecido com ele... Janey faz a diligncia por te portares bem com Philip Randolph. No provvel ver um tipo sofisticado por aqui. Em Nova Iorque ele tinha-te deixado perplexa. No consegues gostar dele porque no o compreendes.- Querido pai - respondeu Janey, rindo tentadoramente para ele. - O teu nome devia ser Elijah, mas tu no s profeta. Gostava o bastante do teu jovem amigo para o deixar em paz. Mas isso era em Nova Iorque onde h milhes de homens. Por aqui nada conheo. Provavelmente ele vai aborrecer-me ao mximo. No vs que seco como o p deste deserto? Ele anda a viver h dois milanos atrs. Imagino-o a cavar na terra, para encontrar restos do passado. Bem, ele deve ter desenterrado um cachimbo em forma de maaroca cheio de jias e descoberto que havia raparigas engraadas nos velhos tempos dos Aztecas.15-Janey tu s uma pessoa incorrigvel - retorquiu mr. Endicott, desesperado.- Pap, sou tua filha. No sei se foste tu que me educaste mal ou se fui eu que no fiz caso dos teus ensinamentos. Mas o facto que todos os educadores e cientistas gritam que os pais da gerao presente so os verdadeiros responsveis pelos nossos defeitos.-Janey, eu sou o responsvel pela tua conduta aqui, em todas as circunstncias - declarou mr. Endicott, com firmeza.- Ah, s! Bem, meu pap muito querido. Estou aqui, no h dvida... ou ento estive a beber.- Janey, no haver mais histrias de bebidas.- Pap, tens uma ideia muito errada a meu respeito. Admito que as minhas companhias bebiam bastante. Mas eu nunca bebia. Palavra, pap.- Nunca sei quando te hei-de acreditar ou no, Janey. Mas j te tenho visto a fumar.- Oh, bem, isso diferente. Fumar no pode ser muito higinico, mas um vcio elegante e, pelo menos, repousante.- E que me dizes de todas as tuas conquistas? - inquiriu Endicott, evidentemente cheio de coragem nesse momento. - Senhor! Quando penso nos homens que tu tens transformado em idiotas! Olha para o ltimo - o jovem Valentino que se vangloriava de ser teu noivo!Janey riu alegremente.16- Pap, achas isso bonito? Bert Durland to meigo; e tambm dana divinamente.- Durland um pequeno artigo de luxo. Tal como a sua me, to social e esgalgada. Mas eu providenciarei para que ele no dance ou trepe pela tua herana.- Pensar que tu nos separaste! - gritou Janey, aparentando estar possuda dos sentimentos mais trgicos.Uma ndia jovem e delgada entrou no compartimento. Era morena e linda.- Senhor, o seu quarto est pronto.- Obrigado - disse Endicott, pegando no casaco e no chapu. - Janey, tens razo. Separei-te de Durland e tambm de uma poro de outros caadores de dotes. Essa a razo por que tu ests aqui neste deserto para descansar. Alm de Bennet e de Randolph, com quem tu no podes flirtar, no h homens por aqui em cem milhas em redor.Janey olhou para o pai e respondeu modestamente:- Sim, meu querido, meigo, amvel e previdente pai.Endicott saiu com a criada ndia, no mesmo instante em que entrava pela outra porta um jovem, trazendo uma mala em cada mo. Tinha a cara rosada e estava negligentemente vestido com uma camisa de l s riscas, calas de ganga e botas de montar. Usava tambm um grande chapu cheio de p. Quando notou Janey os seus olhos esbugalharam-se, e deixou cair uma mala, depois a outra.- Estava a falar para mim, miss? - perguntou espantado.17- Ainda no. Estava a falar com meu pai. Acaba de sair daqui... Voc apanhou-me de surpresa.- Claro, e a senhora a mim deixou-me sem flego.- Vive aqui? - perguntou Janey, com interesse. Aquele posto comercial, talvez, apesar de tudo, no fosse to mau.- Claro - respondeu o rapaz, arreganhando os dentes.- filho de mrs. Bennet?- No. Apenas um simples e mau cow-boy.O meu primeiro verdadeiro cow-boy! - murmurou com um sorriso.- Oh, miss! Sinto-me muito honrado. Queria ser o seu... o seu primeiro qualquer coisa. No a senhora a rapariga Endicott de quem ns estvamos espera?- Sim, sou Janey Endicott.- E eu Mohave. Os rapazes chamam-me assim por causa do Deserto Mohave, que no tem princpio nem fim.Enquanto Janey comeava a rir, entrou tambm um outro rapaz, carregando, em cada mo, vrias coisas. Este estava vestido com apuro, como um cow-boy de cinema e tinha a face muito morena e tisnada. Dirigiu a Janey um quente sorriso.- Cow-boy, creio que podes pr as malas aqui e voltar a buscar mais - disse, suavemente, Mohave.-Buenos dias, senorita - cumprimentou o outro, pondo as malas no cho e varrendo-o com o seu chapu.Janey reparou que, ao ver aquilo e lembrando-se subitamente, Mohave tirou tambm o seu enorme chapu.18- O mesmo para si - respondeu Janey, sorrindo, to travessa quanto possvel.- Miss Endicott, este o Diego - disse Mohave, enfaticamente. - um mexicano. Uma vez viu uma fita do Oeste e nunca mais ficou o mesmo. Tem estado assim vestido todo o dia sua espera.- Estou tremendamente lisonjeada - replicou Janey.- Miss, eu trouxe estas bagagens que so as suas. Peguei s naquelas que tinham o seu nome.- Agora, Bfalo Bill, no deve adular-me mais - replicou Janey, com coquetismo.- Oh, miss! Chamou-me Bfalo Bill! Eu tenho-o visto nas fitas.E dizendo isto empunhou duas pistolas com um exagerado estilo cinematogrfico.- Ah! Vilo! Ests em meu poder finalmente! Ah! Os teus dias esto contados. Vou matar-te!Brandia as duas pistolas perto da cara de Janey. Alarmada, esta deslizou do lugar onde estava perto da janela, esgueirando-se para trs de uma mesa.- Diego, enlouqueceste, vaqueiro, continua a trabalhar - ordenou Mohave, violentamente. - Ray vem a.Era evidente que Diego tinha respeito a Mohave. Precipitadamente guardou as pistolas e, pegando no chapu tornou a agarrar nas duas malas. Entretanto Janey emergiu de trs da mesa.- Miss, Diego representar outra vez para si - anunciou grandiosamente.19-Si...im. Obrigada. Mas, por favor, trate de representar em algum stio onde eu me possa esconder - respondeu Janey.Diego deixou a sala, e Mohave, pegando na sua carga,virou-se para Janey.-Miss Endicott, no confie em Diego, ou em qualquer dos outros homens. E especialmente, no monte os cavalos deles. Certamente cairia e talvez morresse. Mas o meu cavalo seguramente gentil. Eu trazer-lho-ei amanh.- Adorarei ir consigo - retorquiu Janey. Ento Mohave apressou-se a seguir as passadas de Diego, juntamente a tempo de no ser visto por um terceiro cow-boy que vinha tambm l de fora, carregando uma grande mala como se fosse uma pena. Pousou-a no cho. Tinha a cabea descoberta, e era um jovem louro, nada antiptico, de um tamanho que infundia um certo respeito. E a maneira de vestir era o meio termo entre a de Diego e a de Mohave.Janey olhou fixamente para ele e exclamou:-Belo! Tarzan com botas de cow-boy, nem mais nem menos.Ray encarou-a, depois olhou em volta para ver a quem ela se referia. Mas como no havia nenhum outro homem presente pareceu adivinhar a verdade, e aproximou-se rapidamente.- Bem! Por amor de Deus! - disse em tom lento e sepulcral, quebrando assim o silncio.-Oh, sim, na verdade, era a si que eu me referia, 20- volveu janey, toda sorrisos. - Aposto que se o seu cavalo est cansado, voc pega nele e leva-o ao colo at casa.- Bem, por amor de Deus! - exclamou Ray, exactamente no mesmo tom.- Tem mais alguns versos essa cano?- Bem, - por amor de Deus!- Terceiro e ltimo - espero.- a primeira vez que vejo ou ouo um anjo a falar - declarou o rapaz.- Por favor no me chame anjo. Os anjos so bons. E eu no o sou. Sou rebelde. Essa a razo por que me arrastaram at ao Oeste. Pergunte ao pap, ele sabe. Espera, agora me lembro, estou a morrer por um cigarro. O pap muito antiquado e nunca trago cigarros quando ele vem comigo. Podia dar-me um?Ray ficou simplesmente pasmado.- S tenho cigarros por fazer - conseguiu, finalmente, articular.- Obrigado. Isso chega - respondeu Janey pegando na pequena bolsa de tabaco que ele lhe estendia.O ver Janey fazer o cigarro fascinou Ray. Estava to absorvido que no notou a entrada de um quarto cow-boy, que vinha carregado com caixas de chapus e mais malas. Era o mais simptico dos quatro. Com os seus olhos, belos e penetrantes, olhando em frente, sem dar pela presena de Janey, atravessou a sala e foi a caminho do vestbulo. Janey viu-o passar, com surpresa que se transformou em m vontade.21Nem sequer tinha olhado uma vez para ela. Iria pagar aquela indiferena.-Bem! Seguramente a menina uma pequena e atrevida dogie - notou Ray, acendendo-lhe o cigarro.- Dogie!... Diga senhor cow-boy, explique-me o que quer dizer essa palavra!- Uma dogie uma vitelinha ou um potro que no tem me.- Onde que voc aprendeu tanto a meu respeito? - perguntou Janey, bastante agressiva.- Certamente que nenhuma garota que tivesse me enrolaria um cigarro, e o fumaria como a menina.- Deveras? Ray, ser voc um pregador do deserto? - inquiriu Janey, distante.- Perdo, miss. Eu no queria ferir os seus sentimentos. Mas a sua maneira de me pedir - o v-la fumar assim: to condenvel - desculpe-me, quero dizer que a acho to bonita que contra a minha ndole o v-la ter esses maus hbitos.- Voc no gosta de ver as mulheres fumarem? - indagou Janey, com curiosidade.- Particularizando, eu no gosto de a ver fumar.- Ento no fumo - decidiu Janey, e indo at ao fogo atirou para l o cigarro.- S, s por causa de eu no gostar de a ver fumar? - exclamou Ray, extasiado.- S por causa de voc no gostar.22- E perdoa-me tudo o que eu disse, h bocado?- Claro.- Peo-lhe para mo provar.- Como?- Indo passear a cavalo amanh comigo - sugeriu Ray quase sem flego. - Pode montar o meu cavalo favorito. muito manso. No queira montar nenhum cavalo desses hombres que andam por a. Pode cair e magoar-se. Eles so to vis e desprezveis.- Adorarei ir consigo - respondeu Janey, sonhadora.Nesse momento o belo cow-boy voltou a atravessar a sala, apressado, de olhar em frente, enquanto Ray lhe gritava.- Agora depressa, cow-boy. Vai buscar as malas para dentro.Janey tinha dado alguns passos em frente. O cow-boy rodeou a mesa para evitar encar-la e depois saiu da sala.- Bem, eu nunca! - exclamou Janey. - Voc pensa que eu sou a Medusa. Ele no me viu... Ele simplesmente no me viu!... Quem ele?- Aquele Zoroaster. Um cow-boy da tribo dos Mormons. Belo companheiro, mas tmido para com as mulheres. Ele nunca viu seno raparigas Mormon. Nunca olhar para si!- Ah, no! - respondeu Janey, com uma ameaa na voz.- Certamente que no. E nunca lhe fale. Ele morreria positivamente. O ano passado uma rapariga do Leste pediu-lhe para danar e ele fugiu pela porta fora. E ningum mais o viu durante uma semana.23- um terrvel risco a correr, mas esse rapaz precisa de ser modificado - declarou Janey.Ray encarou-a, por momentos, antes de dizer:- Bem, por amor de Deus!Mohave entrou, com um sorriso manhoso, na cara rosada.- Ray, mr. Bennet anda tua procura - disse.- Onde? - perguntou Ray, meio duvidoso, meio desgostoso.- Foi l para fora e precisa j de ti.Ray saiu resmungando e Mohave aproximou-se de Janey, com profunda e evidente satisfao.- Parece-me que a menina vai ser to popular aqui como o papel mata-moscas - disse ele, significativamente.- Mohave, depois das moscas se colarem ao papel esforam-se por fugir. No foi um cumprimento bonito.- Olha! Sabia que me chamam Mohave? - perguntou, estupefacto.Janey fingiu surpresa.-Sabia?Ento ficou espantada com a entrada de mais outro cow-boy.- D-d-d-esculpem-me a-a-migos, o-o-onde est Ray?Saiu do posto, Tay-Tay e eu gostava que tu no...- Foi para o i-i-inferno, que ele foi - interrompeu Tay-Tay.24- Bennet andava procura dele.- A --ltima vez que vi Bennet estava ele a pr o carro debaixo do alpendre.- Bom. Ento ele no deve ter voltado ainda e Ray teve de o procurar.Janey estava fascinada com o esforo que Tay-Tay fazia ao falar.-B-b-b-olas, diria eu! Para ti e para Ray! As vacas so o vosso trabalho e vocs esto ambos, para aqui feitos doidos c-c-c-om esta s-s-s-enhora. V-v-v-ai chover a potes!Janey virou-se para Mohave.- Talvez seja m-m-elhor ir... Bem, macacos me mordam, se no estou tambm a gaguejar!Neste momento apareceu porta Diego, que, assumindo uma dramtica pose e fixando uns olhos sentimentais em Janey, disse eloquentemente:- Por ltimo! Senorita mia!- Falam-se aqui lnguas demais para mim - replicou Janey.- Ora a vem Diego para nos ajudar. Estava justamente a dizer a miss Endicott como tu sabes montar. E ela est cheia de curiosidade para te ver recolher as vacas.O olhar de Diego, ardente de orgulho, transformou-se, vagarosamente em olhar de desconfiana; e Tay-Tay olhava fixamente ora para ele, ora para Mohave. O que aconteceu em seguida foi Ray empurrar Diego para dentro da sala e vir atrs dele com passos largos, para trespassar Mohave com olhares ameaadores.25- Bem, por amor de Deus! Tu estavas mesmo a afastar-me do caminho. A dizeres que Bennet andava minha procura. Bem, cow-boy, ele no andava.- No me acuses de baixos estratagemas - respondeu Mohave, colrico.- Bennet andava tua procura. Naturalmente esqueceu-se. muito distrado, tu bem sabes. Pergunta a Tay-Tay se Bennet no o mandou procurar-te para levares as vacas.- O o o qu-q-ue d-d-d-d-izes, Mohave - retorquiu Tay-Tay. - B-B-Bennet no me mandou a lado nenhum. Eu v-v-v-im por mim.- No tens s a tua lngua mais presa desde que viste miss Endicott, Tay-Tay, o teu crebro tambm est pior - lamentou Mohave.Ento seguiu-se um silncio que divertiu enormemente Janey. Que belo tempo ela iria passar! No iria trocar as voltas ao seu manhoso pai? Mohave virou as costas ao ameaador Ray. Os outros rapazes avanaram para mais perto de Janey, que pensou ser aconselhvel retirar-se mais para o p da janela. A expectativa do momento foi quebrada pela entrada de Zoroaster, que baloiava nas mos dois pares de luvas de box. Atrs dele entrou a criada ndia.- Miss, o seu quarto est pronto - anunciou ela e retirou-se.Mas Janey no tinha pressa de a seguir.26Devia ir acontecer ali qualquer coisa, demasiado boa para que ela a no visse.- Ora l ests tu! - gritou Zoroaster, indicando Tay-Tay. Podia ser um Mrmon, mas era certamente agradvel olhar para ele, reflectiu Janey.- O q-q-que q-q-q-ue q-q-q-queres de mim? - gaguejou Tay-Tay, com rebeldia.- Chegou a tua hora. Tenho estado tua espera. E agora podemos decidir - voltou a dizer o carrancudo Mrmon.- P-p-orqu agora mesmo e no em outra ocasio? - perguntou Tay-Tay.- Bem - falou Ray. - Creio que um cego podia ver isso. Salta l para fora, Tay, e apanha as luvas.Diego mostrou a branca dentadura num sorriso fulgurante.- D antes as luvas a Ray e a Mohave. Eles andam procura de sarilhos.- Sou eu que estou procura de sarilhos e depois de ter ajustado contas com Tay-Tay, desafiarei qualquer de vocs. Compreendem?- M-m-m-as se eu q-q-q-uiser d-d-d-esistir no m-m-eeio de um round eu no sou capaz de dizer para p-p-p-arares - replicou Tay-Tay.- Ah, tu ests a planear desistir antes que esta senhora... Bem, qual de vocs quer lutar comigo?Zoroaster olhava de uns para os outros. Todos eles aparentavam estar distrados. Janey teve uma inspirao,27e ergueu-se radiante do seu lugar ao p da janela, dizendo:- Eu, mr. Zoroaster. A face do cow-boy Mrmon tornou-se mais vermelha do que o seu cabelo. Ficou confundido e lutou claramente para no fugir. Mas o sorriso de Janey prendeu-o. Se ela viu no combate de boxe uma oportunidade para se familiarizar com Zoroaster, ele viu, evidentemente, uma oportunidade para exceder os outros zelosos pretendentes ateno dela. Desastradamente atirou-lhe um par de luvas.-Est bem, miss. Vai dar certamente uma lio a estes hombres. Mas eu vou ter cuidado para no a magoar.Janey era forte e, por acaso, era a melhor pugilista do seu clube. Fingindo no estar familiarizada com luvas de boxe, pediu que a ajudassem a cal-las. Todos, excepto Ray, se precipitaram para a ajudar.Este olhava, de boca aberta e, finalmente, exclamou:- Bem, por amor de Deus!- Pronto! Agora, mr. Zoroaster, d-me algumas indicaes, por favor - sugeriu Janey, com um jeito encantador.- fcil, miss - disse ele, estendendo as suas mos enluvadas. - Conserve um p para diante e abra com a mo esquerda. Conserve os olhos nas minhas luvas e baixe a cabea.Janey fingiu praticar, enquanto Zoroaster a vigiava. Ele no era, claramente, um pugilista cientfico; e Janey que tinha praticado muito com o instrutor do clube,28viu uma boa oportunidade para brincar. Subitamente deixou de representar e atirou-se a Zoroaster, rpida e leve como um gato, vendo imediatamente que podia bater-lhe quando e onde lhe agradasse.- Bravo, cow-girl. Formidvel! - gritou Mohave.- Isto que p-lo no seu lugar, miss - bradou Ray, com grande alegria.- B-b-b-ata-lhe por mim - gaguejou Tay-Tay, deliciado.- Senorita, tu s uma grande pugilista - declarou Diego, dramaticamente.A estupefaco e o receio de Zoroaster ajudaram a p-lo mais merc de Janey. Esta danava volta do paralizado Mormon esmurrando-lhe o belo nariz. Finalmente bateu-lhe elegantemente com a mo esquerda e seguiu com uma direita, to dura quanto podia. Acertou em cheio no nariz de Zoroaster e quase o derrubou.Os cow-boys ,em lugar de gritarem de entusiasmo pareceram ficar, de repente, paralisados. Janey, afogueada e arquejante, virou-se para ver o que se passava. Seu pai estava porta, horrorizado, completamente mudo. Zoroaster fugiu pela porta da frente, seguido pelos seus camaradas, O contentamento de Janey no foi em nada diminudo ao ver a cara de seu pai. Gaiatamente correu para ele, estendendo-lhe as luvas para serem descaladas.- Eles no so mesmo uns amores? Adoro-os a todos e principalmente quele belo diabo ruivo. Oh! Bendito sejas, pap. Vou ficar aqui para sempre!29II.Daquele momento em diante, os acontecimentos multiplicaram-se. Janey quase no podia dar conta deles. Estava a passar os dias mais divertidos da sua vida. E, de vez em quando, verificava como eram inocentes estes divertimentos, comparados com os que ela costumava ter no Leste.Tinha quebrado o curso normal da vida no posto. Bennet afirmava que a esse respeito se tinha de fazer alguma coisa. Os seus cow-boys andavam malucos. Se se lembravam do trabalho era para faltarem a ele ou para o fazerem mal feito. Quando acontecia que Janey andava a passear a cavalo, arranjavam as desculpas mais ridculas para sarem do rancho. Quando ela estava em casa, todos caam vtimas das mais variadas indisposies.Janey viu muito pouco Randolph durante os primeiros dias que passou no posto. De manh, ele saa sempre antes de ela estar levantada e voltava muito tarde do seu trabalho nas escavaes. Encontrava-o, claro, ao jantar, quando todos se sentavam longa mesa; e depois na sala de estar, mas nunca a ss. Janey estava completamente segura do modo como ele encarava o seu flirtar com os cow-boys.31No gostava nada da atitude dele e de vez em quando punha-se a pensar na maneira de o castigar.No final, contudo, ela sentia-se demasiado feliz at para se lembrar das razes do pai ao traz-la para o deserto. Porm, ainda no tinha analisado as verdadeiras razes da sua felicidade.Era tudo to novo. Cavalgava todos os dias, durante horas algumas vezes s, o que era difcil de conseguir - e muitas vezes com seu pai, e com os cow-boys. O tempo estava magnfico; o deserto estranhamente excitante; o cu azul e as nuvens brancas, as cores vivas e as magnificentes formaes de parede de rocha, tudo isso tinha algum efeito que lhe custava a compreender.Quando que ela tinha estado to esfomeada e to cansada ao anoitecer? Ia para a cama muito cedo, porque toda a gente ali fazia o mesmo. E dormia como nunca dormira antes. A sua pele comeara a adquirir um lindo tom castanho dourado e estava a engordar. Ambos os actos lhe agradavam secretamente. A vida em sua casa, no Leste, deixara-a plida e magra. Janey contemplava, com verdadeiro espanto e delcia, a sua prpria face sorrindo-lhe no espelho. Uma vez, ps-se a cismar: Digo-te que este tal Deserto Pintado podia fazer com que todos os Institutos de Beleza abrissem falncia.O pai dissera-lhe, muitas vezes, para irem a cavalo at Sagi Canyon, onde Randolph andava a fazer escavaes. Mas Janey aparentava sempre indiferena pelo que ele dizia. De facto sentia uma certa curiosidade em ver que32espcie de trabalho era o dele - o que que no mundo poderia fazer um jovem preferir companhia dela, cavar e andar ao p? Havia, porm, outra razo para ela no querer ir: era porque quanto mais via Philip Randolph e ouvia contar coisas a seu respeito aos cow-boys e a Bennet - que lhe estava sempre a tecer elogios - mais simpatizava com ele e mais ressentida ficava.Por agora, contudo, os cow-boys eram mais que suficientes para distrair Janey, pois eram uma inesgotvel fonte de interesse, divertimento e salutar admirao.Em dez dias, nem um s dentre eles tinha tentado segurar-lhe na mo ou beij-la. Janey quase que teria gostado que todos lhe tivessem pegado na mo; e no teria fugido para muito longe, para que a no beijassem. Mas acontecia que, apesar de cada cow-boy estar completamente rendido e prostrado a seus ps, nunca houvera uma aluso a familiaridades, como era natural haver com os rapazes do seu grupo.Primeiro isto surpreendeu Janey e divertiu-a. Depois procurou modificar esta atitude. Mas ainda no estava ali h duas semanas quando comeou a pensar seriamente que se passava qualquer coisa que no tinha suposto possvel acontecer com o gnero Homo, novos ou velhos, do Leste ou do Oeste.Janey no se importava de ser forada a penetrar na introspeco, para se confundir com o problema da juventude moderna. Tinha lido bastante sobre este assunto no Leste. Jornais, revistas, peas, sermes e conferncias, filmes,33tinham feito um ataque cerrado nova gerao. Tinham mesmo chegado a enjoar Janey. Como era agradvel ter sado daquela atmosfera, por algum tempo! Talvez estivesse nisso a razo por que gostava do Oeste. Mas parecia haver qualquer coisa mais, a qual cedo ou tarde teria que encarar.Uma tarde, Janey voltou do seu passeio a cavalo, mais cedo do que habitualmente, e, portanto, no teve muita pressa para se ir vestir para o jantar. Estava deitada, numa rede, a descansar, quando seu pai e Randolph chegaram a cavalo vindos da direco oposta. A rede estava oculta debaixo de umas videiras, do lado de fora da janela da sala de estar. Eles no viram Janey e ela estava muito preguiosa e enlanguescida para os chamar.Um pouco mais tarde ouviu-os entrar na sala. A janela estava aberta.- Janey deve estar a vestir-se - disse Endicott. - J voltou. Vi l fora o cavalo dela. Temos tempo para conversar um pouco. Tenho andado com vontade de ter uma conversa consigo.- Comece. Sinto-me satisfeito por ver que o nosso passeio a cavalo no o fatigou. A propsito, o que pensa do meu Sagi?- Belo, mas mudo, como diria Janey. O lugar mais calmo que vi at hoje. Porque , na realidade, to silencioso como um tmulo.- Sim. um tmulo. essa a razo por que escavo tanto por ali - respondeu Randolph, com uma gargalhada.34Janey lembrava aquela gargalhada porque muito raramente a ouvia. Era uma gargalhada s e agradvel, e dificilmente se ajustava ao carcter que ele lhe tinha atribudo. Nesse momento teve dois sbitos impulsos, um para os fazer sabedores da sua presena ali, o outro para no fazer nada que os fizesse dar por ela. O segundo impulso foi o maisforte.- Randolph, sinto uma certa curiosidade a seu respeito. O que que h de interessante para voc nesse trabalho de escavar um tmulo, pergunto eu? Oh, de certo modo uma caa ao tesouro. Suponho que tambm se nasce arquelogo. Raramente penso na recompensa. Mas, realmente, se eu descobrisse as runas pr-histricas, que sei estarem sepultadas por aqui, em qualquer stio, seria uma grande coisa para mim.- Est l dinheiro? - inquiriu o homem de negcios novaiorquino. L directamente, no. Pelo menos no teria dinheiro j. Mas suponho que os artigos e as conferncias que fizesse sobre isso poderiam ser convertidas em dinheiro. E depois dar-me-iam prestgio.- Hum. Bem, o prestgio tem valor para um jovem que est no princpio da sua vida, mas no d muito po e manteiga. Voc ter um ordenado para juntar remunerao que vai ter por escrever os artigos e as conferncias?- Pode chamar-lhe assim, se quiser. Mas alm do po e manteiga na sua maneira mais simples, ele no comprar meias para uma senhora,35eu sei - volveu Randolph, e riu outra vez, com a mesma bonita gargalhada.Assim que falar - respondeu Endicott, animadamente. - A senhora, est claro, sendo Janey... Randolph, vamos ser bons amigos. Confidencialmente, voc j pediu minha filha que casasse consigo?- Por Deus, no! - exclamou Randolph.- Bem, isso deixa-me satisfeito. bom para um jovem manter certa individualidade. Agrada-me que voc seja diferente dos outros... Posso perguntar-lhe, desculpe a minha insistncia. A terrvel responsabilidade de ser o pai desta rapariga, voc sabe; voc no est apaixonado por ela?Houve um longo silncio durante o qual o corao de Janey bateu mais apressadamente e os seus ouvidos zumbiram. Nunca tinha realmente estado segura de Randolph. Talvez esse fosse o seu maior encanto.-Sim, Mr. Endicott - replicou o arquelogo, com constrangimento. - Estive apaixonado por Janey. No, contudo, como esses jovens do Leste o esto. Mas terrvel e profundamente apaixonado.- ptimo!... Oh, desculpe, Phil - replicou Endicott. - Quero dizer que era isso o que eu pensava. Essa a razo por que eu gostei de si. Esses jovens vadios andam a brincar ao amor. Eles enojam-me. Entre ns, tenho uma oculta suspeita de que eles tambm enojam Janey... Agora, Phil, aqui est a questo vital. Isso foi tudo no passado?Janey descobriu, de repente, que estava a tremer e pensou que era pela vergonha de a poderem descobrir ali,36a escutar. Mas agora era impossvel chamar! E todavia ela podia ainda ter-se escapado. Mas no o fez.- No. Nunca me libertei disso. E agora ainda pior - disse Randolph, no sem uma trgica nota na voz.- Phil! Pelos cus, voc um camarada leal. Surpreendeu-o que eu me sinta satisfeito? Obrigado, Mr. Endicott. Mas receio estar mais do que surpreendido. Olhe l, Phil, voc deve estar preparado para choques, no s da parte de Janey, mas tambm de mim. Sou pai dela, voc sabe... Escute, trouxe Janey para o seu deserto com um intento deliberadamente descarado. Cas-la consigo e livr-la da matilha de lobos que anda atrs dela... E ao mesmo tempo, est claro, faz-los felizes aos dois!Meu Deus! - exclamou Randolph. Ele no foi o nico a ficar espantado. Janey na sua excitao quase caiu da rede. uma ideia honesta e no estou envergonhado de a ter tido - continuou Endicott, tornando-se grave.- Mas, Mr. Endicott, honra-me. O senhor extremamente amvel, mas perdeu completamente a cabea.- Talvez. No me importo. esta a minha inteno. Amo Janey e irei at qualquer extremo para a salvar. Alm disso, gosto bastante de si. O seu pai foi o meu mais querido amigo na escola e depois at que morreu. Ficaria muito feliz se ajudasse a sua roda da fortuna.- Salve-a! - exclamou Randolph.37- Por amor de Deus, Randolph, no me diga que voc pensa que tarde demais - exclamou Endicott, subitamente aflito.Enquanto a resposta no veio, o corao de Janey manteve-se como se s esperasse pela resposta de Randolph. O que que aquele doido pensaria? Estava quase doente de clera e medo, quando Randolph explodiu:- Endicott, voc est maluco. Eu... eu queria dizer... o que que voc quer significar com esse salv-la? Quero significar muita coisa, meu rapaz e no passe isto por alto... Diga-me com franqueza, Randolph. E um assunto muito srio para todos ns. Voc pensa que Janey ainda uma boa rapariga? No penso. Tenho a certeza - respondeu Randolph rigidamente. - A sua pergunta um insulto para ela, Mr. Endicott. Julgo que qualquer pergunta em relao a raparigas desta idade o seja - continuou Endicott, seriamente. - Dei-lhe crdito por voc ser um rapaz esperto e reflectido, com todas as suas propenses para escavar tmulos. Eu vi quanto voc desaprovava a conduta de Janey; os seus amigos e hbitos.- Sim, isso - deploravelmente verdade. Mas, contudo ...- O amor cego, meu filho - interrompeu Endicott. - Voc pensa melhor de Janey do que ela digna. Mesmo assim estou satisfeito. Isso ajudar-nos-. Olho-o como uma tbua de salvao. 38- Mr. Endicott, eu... eu no sei o que dizer. Estou embaraado. Bem, atrevo-me a dizer que tem razo para o estar. Mas de qualquer maneira oia-me pacientemente. Quer?- Concerteza.- Voc tem razo para ter ficado chocado com a minha pergunta a respeito de Janey. Mas no culpo ningum por ter m opinio acerca das raparigas modernas. Eu tambm a tenho... Para ser breve, estas opinies surgem-nos constantemente, no sei se me compreende. A gerao de Janey est para alm do meu entendimento. Criaram qualquer coisa de novo. Eliminaram o certo e o errado. No tm respeito pelos pais, e, tanto quanto eu posso observar, muito pouca afeio. Tm um rancor positivo a todas as restries. No esto para ser reprimidos ou controlados. No tm f nos nossos velhos padres. Em regra, no tm religio. Usam vestidos indecentes, ou antes muito pouca roupa. Danam toda a noite, afogam-se em lcool e carcias, indiscriminadamente, e a maior parte deles ultrapassam os limites.- Mr. Endicott! - queixou-se Randolph, sentindo qualquer coisa ruir com o desabafo do outro.- Phil, estou a falar-lhe com sinceridade. Esta no a minha teoria. Eu sei. Descrevi esta multido de jovens, com as mais negras tintas. No tenho de todo pacincia para as mes e pais inconscientes, que dizem que os jovens tm razo. Porque eles no tm razo. So uma multido dissoluta e a Nao, que depende deles, e que os no pode modificar,39est perdida. Esses espertalhes, que dizem que no h uma imoralidade flagrante, esto longe da verdade. Aqueles que dizem que as raparigas de hoje no diferem das de ontem, esto simplesmente cegos. Elas so diferentes e no pretendo acusar a emancipao da mulher, desde a guerra. Fui sempre pelo sufrgio feminino... Bem, no me importo com as causas, embora, ns os pais, tenhamos culpas. Tenho feito o que posso por Janey e di-me pensar que talvez tenha falhado. Sou honesto ao acreditar que no tenho sido um mau exemplo para a minha filha. Mas s vezes, Janey arrasta-me para um beco sem sada... Refiro-me aos factos de que tenho estado a falar-lhe. Queria ver Janey casada com um bom rapaz, srio e trabalhador. Janey diz que isso j no existe... A me dela era como Janey, apenas no to bonita. Era voluntariosa, inteligente, desnorteante. Mas no tinha vcios... Compreendo que Janey seja to fascinante quanto o pode ser uma rapariga. Talvez o seja mais at, por causa de toda esta complexidade dos tempos modernos. Ela sabe-o. No lhe posso chamar vaidosa. E no verdadeiramente frvola. mais uma rapariga moderna, alegre e sem piedade, que tem prazer em conviver com homens. Se ouve as amigas falarem de um homem que no est a cair por ela, como elas dizem, Janey grita: Levem-me at ele!. A despeito de tudo isto eu sinto e espero que Janey ainda possa ser salva. Senhor, imagina ela a ouvir-me dizer isto! Quanto a mim, se ela continuar com a sua multido de admiradores, nunca far coisa nenhuma. Provavelmente divorciar-se- de um marido aps outro.40A ideia no me agrada. A me de Janey deixou-lhe qualquer coisa que ela ter de dirigir dentro de um ano. E, depois, est claro, ficar com tudo o que eu possuo, o que ainda considervel. Estas perspectivas e a sua beleza fazem-na um alvo para os homens com quem est em contacto, e o seu nome uma atraco. Tenho tentado conserv-la afastada dos piores. Mas impossvel.- Impossvel, porqu? - interrompeu, tenso, Philip.- Porque quando digo a Janey que certo rapaz no de confiana, s consigo estimular-lhe o interesse. Diz-me: pap, tu pensas que sabes muito, mas eu tenho que ver por mim, e pode estar certo que ela vai verificar.- Ento Janey no lhe obedece? - perguntou Randolph.- Obedecer! - inquiriu Endicott, surpreso. - Mas claro que no.- Ento, realmente, tem que se culpar pelo que ela .- Ah! Gostava de o ver a si ou a qualquer outro fazer Janey obedecer.- Eu podia e faria - declarou Randolph.- Meu querido arquelogo do Arizona! Posso perguntar-lhe como? - tornou Endicott, no sem uma pontinha de ironia e divertimento.- Deitaria essa senhora nos meus joelhos e dar-lhe-ia um bom par de aoites.- Bom Deus! Voc no sabe o que est a dizer... Porque se eu infligisse a Janey essa vergonha, ela... ela... bem o que que ela faria? Deitar abaixo o stio onde isso acontecesse seria o menos...41E no entanto, oh, como eu gostaria de poder fazer essa coisa to simples! Mr. Endicott, a sua filha uma criana estragada com mimos - disse Randolph, num tom que quase fez gritar Janey. Estragada com mimos, sim, e mais alguma coisa - concordou, desanimado, Endicott. - Mas mesmo assim ela adorvel. J deu por isso, Phil? Sim, creio que sim - respondeu ele, secamente.- Bem, de qualquer maneira estamos de acordo em muitos pontos. Podemos destronar os seus defeitos conhecendo-os assim como a sua inteligncia, sinceridade e outras virtudes que tem em comum com os jovens de hoje. Pode ser que eles tenham avanado demasiado para que ns, os da outra gerao, os compreendamos. Pode ser que alguma coisa de maravilhoso venha de tal paradoxo. Mas eu no vejo e o meu problema deter a doida carreira de Janey... Ah! Ah! Se me permite aconselh-lo, Mr. Endicott, o senhor est a querer realizar uma tarefa perfeitamente impossvel - disse Randolph. No! Porque, algumas vezes sou bastante louco para acreditar que Janey far tudo o que eu lhe pedir, porque me ama. Eu sei que ela gosta de mim. Mas ponho-lhe sempre as coisas de uma maneira que a faz ficar furiosa. Portanto tenho de disfarar... Esta a minha ltima cartada, o meu trunfo.- Esta? - perguntou Randolph, com curiosidade.42- Este passeio e o plano que decidi pr em prtica. Aqui est ele! Vou casar Janey consigo.Houve um silncio absoluto. Janey calculou o choque que isto deveria ter sido para Randolph. Para ela no tinha sido menor.- Agora, agora sei do que se trata - disse, finalmente, Randolph, com voz estranha.- O que ?- O senhor est realmente fora de si!- Bem, talvez - volveu Endicott, de bom humor. - Mas continuo na minha. Tenho o bom senso suficiente para compreender que voc, primeiramente indignado, recusar tal proposta. No verdade?- Certamente - replicou, estupefacto, Randolph.- Randolph, nenhum rapaz que conhea Janey e a ame poderia recusar, se no fosse por achar a proposta absurda... ou que ela no se importasse nada com ele?- Exactamente, o meu caso.- O nico ponto fraco da minha proposta a esperana, o sonho de que Janey o possa amar um dia. Voc deve lembrar-se de que eu a conheo como conhecia a me dela. Janey tambm capaz das coisas mais extraordinrias.- Seria na verdade extraordinrio da parte dela querer. Oh, Endicott, a ideia ridcula - tornou Randolph, comeando a falar com amargura e acabando colrico.- Oia-me. Se voc no me ouvir acabarei por pensar que exactamente como todos os da sua gerao, tambm... Baseio as minhas esperanas nisto.43Janey gosta de si, respeita-o. Aproveita todas as oportunidades para troar de si, mas para l disso h qualquer coisa de mais profundo. pelo menos profundo bastante para a impedir de juntar mais o seu trofu coleco dela... Desculpe-me, Phil, por lhe dizer que mesmo qualquer rapariga livre do poder do amor aprenderia a importar-se consigo - debaixo de circunstncias favorveis.- Quais so elas? - interrogou o arquelogo.- No importa detalhes. Mas quero dizer as coisas que fazem um homem. Juro-lhe que no acredito que Janey tenha j encontrado um verdadeiro homem... Bem, continuemos. Eu salvo a minha conscincia neste caso, porque acredito que ela se pode interessar por voc. E o meu plano simplesmente provocar em Janey um choque terrvel e ento a natureza, com um to favorvel comeo, far o resto.- Acredite-me, ter que ser um choque terrvel, com certeza - disse Randolph, com outra das suas estrepitosas gargalhadas.- Creia que . E simplesmente este. Seja to simptico quanto dcil. Ento, justamente no momento oportuno, atire-a para cima de um cavalo e leve-a para uma das suas runas no deserto. Rapte-a! Conserve-a fora daqui por um tempo, assuste-a at ela ficar meio-morta, deixe-a saber o que sentir-se desconfortvel, esfomeada, sem auxlio. Ento traga-a de volta. Ela ter que casar consigo. Insistirei nisso... Ento seremos todos felizes.- Mr. Endicott, a nica coisa ajuizada que o senhor disse44foi o epteto que aplicou a si prprio h alguns momentos. uma oportunidade maravilhosa. Voc ambicioso. Vai fazer isto.- No. Dar-lhe-ei um dote substancial. Ficar independente para o resto da sua vida. Poder continuar com os seus trabalhos de arqueologia, apenas por amor a ela. Voc...- No!- Agora, Phil, posso aplicar-lhe o mesmo epteto a si. Posso perguntar-lhe porque que recusa?- O senhor... Eu... Oh, que Inferno! porque, Endicott, eu amo Janey realmente. No posso pensar em mim, num tal caso. Se pensasse seria... seria um fraco... Porque Janey detestar-me-ia.- No esteja to convencido disso - replicou, prudentemente, Endicott. - Nunca se deve afirmar nada a respeito de uma mulher. um jogo, est claro. Mas voc tem a superioridade. Seja um bom desportista, Phil. Mesmo que perca, ter ganho uma experincia que lembrar toda a vida.- Mr. Endicott, o senhor est a querer tirar vantagens da natureza humana - replicou Randolph, com agitao.Janey podia ouvi-lo passear pelo aposento e sentiu pena dele. Agradava-lhe que ele tivesse recusado. Mas conhecia o pai e os seus implacveis meios, e sustinha a respirao.45- Certamente que estou - concordou Endicott, ganhando calor. - Phil, encare o assunto deste modo. Consinta por amor de Janey.- Mas, homem, no posso acreditar que essa maravilhosa rapariga esteja a caminhar para o inferno. No posso.- Naturalmente. Voc est apaixonado. Para si ela um anjo. Est certo. Pense assim, se quiser, admita que ela adorvel. Acaba de dizer que ela maravilhosa. Sabe como ela bela. Ora bem, aqui est a oportunidade de ela ser sua. Talvez seja uma oportunidade entre mil. Lembre-se de que lhe far bem em qualquer dos casos. E ter essa oportunidade em um milho. A me dela era a mulher mais encantadora que eu conheci. Porque, Phil, se Janey o amasse... voc entraria no reino dos cus. E ela tambm.- Meu Deus! - exclamou o rapaz.- Eu sou o pai dela. Adoro-a. E estou a mendigar-lhe o voc fazer isto.- Est bem. Eu... farei isso - retorquiu Randolph com uma voz estranha e sufocada. - Ser a minha runa. Mas no posso resistir... Apenas, compreenda, no posso aceitar dinheiro.- O facto que no pensei que voc aceitasse - respondeu Endicott, rapidamente. - E a sua recusa mais me convence de que o homem de que eu preciso. V, aperte-me a mo, Phil. Ficar-lhe-ei grato para sempre, quer voc ganhe ou perca.Janey ouviu-o levantar-se e atravessar a sala. Tirando vantagem disto deslizou da rede e correu para as traseiras da casa,46e entrando pelo longo corredor chegou ao quarto num estado de excitao tal que mal podia respirar. Nunca tinha estado assim em toda a sua vida. Fechando a porta chave, encostou-se a ela, com a mo sobre o peito, arquejante,- Se isto no demais! - exclamou e sucumbiu a uma srie de emoes contraditrias, entre as quais uma raiva como nunca tinha sentido, assumiu grandes propores.No muito tempo depois, o pai bateu-lhe porta. Janey no respondeu. Ele bateu outra vez e chamou ansioso.- Janey?- Sim.- O jantar est pronto. Estamos tua espera.- No quero jantar - respondeu ela.- Porqu, que se passa?- Estou com dores -de cabea.- Dores de cabea!... Tu? Nunca me lembro de as teres tido. Talvez seja dor de dentes.- Oh! - volveu ele e retirou-se discretamente.quando a sua clera finalmente acalmou, de modo a poder pensar, Janey encontrou-se profundamente ofendida. As coisas tinham-se passado de maneira bem triste, na verdade, para seu pai ir a tais extremos. Mas seriam assim to ms? Que perfeito absurdo! Ela nunca tinha feito nada mal. Ainda que a conscincia desperta se recusasse a aceitar a sua indignada certeza. Sabia que era o orgulho e a alegria da vida de seu pai. Era um pai duro na verdade;47contudo no podia dizer seriamente que ele a tivesse abandonado ou lhe tivesse dado um mau exemplo sequer. Ele era simplesmente obstinado e demasiado ocupado com os negcios. Janey, contudo, esquivava-se por agora a alguns pensamentos srios, relacionados com os seus amigos e com as suas relaes no Leste. Eram to boas como quaisquer outras.Randolph! Podia vencer a sua vergonha e ressentimento o bastante para ter pena dele. Que probabilidade tinha ele perante seu pai, especialmente se estava genuinamente atrado por ela! Janey ruborizou-se na solido do seu quarto. Randolph tinha salvo o seu carcter, na sua considerao, por ter desprezado as opinies de seu pai, por ter resistido aos ataques subtis dele, por ter recusado qualquer considerao sobre lucros materiais nas suas ultrajantes propostas.Ento Janey lembrou-se do que Randolph tinha dito acerca de lhe bater. Numa fria sbita levantou-se e comeou a passear pelo pequeno quarto. O desgosto, o desprezo, a estupefaco, o orgulho e a ira, tudo isso passou pela sua cabea. Que insulto atroz! Ele tinha estado a falar a srio. Falara como se ela fosse uma criana de nove anos. As suas faces queimavam. Recusou, na veemncia do momento, responder s dvidas que lhe martelavam os ouvidos.- Oh, no quero fazer nada a Philip Randolph! - disse ela, sem flego. E ao dizer isto, olhou para a sua cara no espelho. Quando que tinha estado como agora? Ainda outro dia havia imaginado que tinha um olhar cansado e aborrecido.48Pelo menos ficou reconhecida a Randolph pelo brilho que agora havia nele.Centenas de pensamentos giravam, e turbilhonavam na sua cabea. Um deles era fugir de seu pai e castig-lo desse modo. Um outro era passar a ser na verdade aquilo que ele receava que ela fosse, ou pudesse vir a ser. O primeiro parecia-lhe demasiado fcil e o segundo indigno dela. Aguilhoava-a agudamente o ser compelida a provar-lhe como realmente era diferente. Mas, primeiro, a vingana! Queria mostrar-lhes. Representaria na infame conspirao que eles tinham tramado. Caminharia direita pequena armadilha deles. Ento - assustaria o seu inteligente pai at o pr fora da razo. Quanto a Randolph! Reduzi-lo-ia a um estado to deplorvel de paixo que ele quereria morrer. Seria dez mil vezes ela prpria e todas as coisas mais que pudesse dar a si mesma. Ajud-lo-ia no pequeno plano fazendo-o casar-se com ela; e ento, quando ele e seu pai estivessem bem no topo, determinada e ridiculamente seguros dela e da sua chamada salvao, anunciar-lhes-ia calmamente que conhecia todo o plano desde h muito. Desmascar-los-ia, iria para casa e divorciar-se-ia de Randolph.Na manh seguinte Janey viu Randolph e seu pai sarem a cavalo, evidentemente satisfeitos. Ento tarde foi tomar o pequeno almoo, achando necessrio comear j a representar para a solcita mrs. Bennet. A ajuizar pelo seu belo comeo, de qualquer modo teria de ser uma actriz brilhante. Devia ter desenvolvido as suas qualidades histrinicas e teria feito carreira no palco.49Nessa manh no foi andar a cavalo. Parte do tempo passou-o no seu quarto e outra parte passeando sombra dos algodoeiros.Depois do almoo tentou ler. Mas todos os livros e revistas que tinha, pareciam cheios do humor ou da tragdia da gerao mais moderna. Um aps outro foi-os atirando violentamente para o cho.- Este assunto est-se a tornar demasiadamente srio - exclamou.Todos os pregadores, editores, mdicos, filsofos explicavam como os jovens eram horrveis ou ainda mal compreendidos ou abandonados ao seu triste destino por pais que s se importavam com o dinheiro. Mesmo os rapazes e raparigas das escolas, escreviam acerca disso. Alguma coisa estava errada em qualquer parte; e enquanto este pensamento lhe matraqueava o crebro, Janey achou-se a procurar um cigarro. Com sbito mau gnio atirou a pequena caixa de cigarros contra a parede. Teria de deixar de fumar - o que no significava nada para ela. Podia deixar tudo. Lembrou-se, contudo, que de acordo com o seu plano de vingana, para com seu pai e Randolph, devia fumar como uma chamin. Teve, portanto, a maada de apanhar os cigarros, ainda que acabasse por no fumar nenhum, naquela ocasio.A tarde declinou lentamente. Tinha sido um dia transtornado para Janey. Tinha mudado de opinio uma centena de vezes, como se fosse um catavento. Mas a impresso mais predominante era a injria que tinha sido feita ao seu orgulho.50Nunca to depressa ela esqueceria essa ofensa. Ainda no compreendia justamente o porqu e como ela tinha sido to mortalmente ofendida, mas adivinhava que eventualmente o compreenderia.Pela primeira vez, desde h muitos anos, Janey sentiu a falta da me. Era ainda to auto-suficiente quanto supusera? Certamente que no porque lutara durante uma hora contra estranhos sintomas e acabara por sucumbir a um bom e antiquado ataque de choro.51III.Naquela tarde, um pouco antes da hora da ceia, quando Randolph passeava na sala de estar, Janey decidiu ir para l. Vestiu um vestido que, calculou, iria deslumbr-lo. Percebeu que ele tinha dificuldade em ocultar o seu desnimo. O dia de concentrao mental, sem os exerccios habituais e o contacto com o ar livre, deixara-a plida e com olheiras. Janey pensou que poderia encarregar-se do resto.- Lamento que tenha estado indisposta - disse Randolph, com solicitude. - Vejo que no saiu em todo o dia. Foi pena.- Foi um dia muito solitrio, terrvel - respondeu Janey, pateticamente. Espero que no tenha estado muito doente. Voc estava to... to maravilhosa ontem. Mas agora est plida. No h dvida que tem exagerado os seus passeios a cavalo, com os cow-boys. Receio no ser to forte quanto o pap pensa. Mas no estou realmente cansada, isto , fisicamente. No? Ento o que tem?53Janey fitou Randolph, com uns olhos muito grandes e melanclicos. - Estou a morrer com saudades de casa. Este stio um autntico cemitrio. uma runa. Se voc cavasse por aqui encontrava milhes de ossos.- Morto!... Oh, sim, na verdade bastante calmo para uma rapariga habituada a Nova Iorque - volveu ele, completamente desapontado. - Quase tinha esperado que voc gostasse disto por uns tempos, e, realmente, parecia estar a divertir-se. Sei que o seu pai pensa que voc est a passar os melhores dias da sua vida. E estava. Mas no durou muito. No acontece nada. Imaginava que houvesse qualquer coisa de excitante. Nem sequer apanhei o coice de um cavalo - lamentou Janey. Tome cuidado com isso - disse Randolph muito srio. - Bennet tem providenciado para que voc s monte cavalos dceis. Ouvi-o prevenir os cow-boys a esse respeito. Nada de lhe pregarem as habituais partidas! Mr. Randolph - explicou docemente Janey. - No quero dizer nenhum desses coices. Gostaria que um cavalo me levasse daqui, j que no h um homem que o faa.Janey ficou suavemente inocente e aparentemente inconsciente do pequeno sobressalto e rpido olhar de Randolph. Iria divertir-se mais do que pensava.- Eu... Eu suponho que os cow-boys e todos os do Oeste, no a podem perceber, Miss Janey - volveu Randolph.54- Eles esforam-se por a divertir, por tomar conta em si. Mas nunca sonharam... de... como...- Que uma rapariga de Nova Iorque precise de algum estmulo - interrompeu Janey. - Oh, estou a ver. Esses simpticos e silenciosos cow-boys! E eu a pensar que eles iam ser uns companheiros normais. Mas, sabe, Mr. Randolph, nem um s deles tentou beijar-me!- Na verdade! Por aquilo que conheo deles, penso que seria a ltima coisa que eles tentariam. So cavalheiros, Miss Endicott - disse Randolph, ligeiramente indignado.- O que que isso tem a ver com o beijar uma rapariga? - retorquiu Janey, contendo, dificilmente, o riso.- Tinha graa ver a maneira como eles o fariam. E no caso desse belo Zoroaster, bem, eu no diria que no.Randolph fitava-a, com incredulidade, e com um ar de infinita reprovao.- Alm de si, Mr. Zoroaster o nico homem simptico destes stios. E como voc tambm no parece dar pela minha presena, eu quase teria acolhido bem uma pequena ateno da parte dele.- Miss Endicott! - exclamou Randolph. - Est a falar gratuitamente. Tem sido a senhora que no tem dado pela minha presena.- O que que voc esperava? - perguntou, com desnorteada confuso, Janey. - Posso namoriscar com um cow-boy. Mas no podia... bem... atravessar-me no caminho de um homem da sua inteligncia e cultura.55Tenho estado sempre espera que voc me levasse a passear. Que me mostrasse as suas runas e alguns lugares interessantes. Ou talvez que me distrasse noite, ou pelo menos que fizesse qualquer coisa para matar esta terrvel monotonia. Voc, em Nova Iorque, parecia gostar de mim. Provavelmente o pap disse-lhe qualquer coisa, fez intrigas.Randolph estava quase reduzido a um estado de no poder falar. Tinha corado, e brilhava nos seus olhos uma luz que os fazia mais ardentes e sedutores. Nesta altura entrou Mr. Endicott. Parecia mais brilhante e animado do que de costume, mas perante o olhar de Janey, o seu sorriso desapareceu. Janey, minha querida, tu ainda no ests bem - lamentou ele, beijando-a. - Esqueci-me de que tinhas tido uma dor de cabea ou coisa parecida. Pap, tenho estado justamente a lamentar-me a Phil. Mas ele no se importa muito com o eu estar doente ou saudosa de casa, ou qualquer outra coisa. Phil! Saudosa de casa? Mas, porqu, Janey? - exclamou Mr. Endicott completamente surpreendido. Pap, queres levar-me para casa? - perguntou tristemente.- Janey! No me olhes assim. O que que pensas? Trouxeste-me para aqui, para este buraco morto. Nada acontece. Tinhas dito que o Phil iria mostrar-me o que nos rodeia. No disse nada disso - respondeu o pai, corando ligeiramente.56- Oh, se no foi isso; disseste uma coisa muito parecida - replicou Janey aereamente. - Mas como tens visto, ele tem-me evitado estudadamente, como se eu fosse peste. Tem-me deixado merc destes cow-boys. Estou certo de que h a um mal entendido - volveu Mr. Endicott, entre entusiasmado e duvidoso. Certamente que h - acrescentou, enfaticamente, Randolph. - E espero que no seja tarde demais para que eu o desfaa. Receio que sim - disse Janey, com os olhos pregados nele - De outra maneira para que vos estaria eu a falar nisto? Disparate - gritou-lhe o pai. - Janey, tu deves estar fora de ti, fraca ou qualquer coisa. Pap, tens de te convencer que eu no sou um cavalo ou uma vaca e tenho uma vontade doida de comer uma salada de frutas ou uma lagosta. - De sbito bateu as palmas. - Tive uma ideia. Perfeitamente deliciosa. Deixas-me mandar vir Bert?- O qu? Esse ltimo suspiro da famlia Durland? Pap, passaria um tempo esplndido percorrendo com ele os arredores a cavalo! Hum! No acredito. Tu no sabes o que queres. Por favor, pap. Bert pelo menos divertir-me-ia imenso.- Ele divertia-te. E ns tambm. Mas no, Janey. No posso consentir isso - declarou Endicott.- Muito bem, pai - concordou Janey. Ela nunca lhe chamava pai57excepto em ocasies como aquela. - Fiz o possvel para lhe agradar. As consequncias cairo sobre a sua cabea.Endicott gemeu, lanou a Janey um olhar desconcertado e caminhou at porta aberta para ver o resplendor do crepsculo. Randolph estava perturbado. Janey tinha a certeza de que a sua nova conduta tinha produzido efeitos. Nenhum homem podia resistir a to subtil lisonja.- Miss Janey se voc... se eu... se h um malentendido... deixe-me corrigi-lo - comeou Randolph com uma sinceridade que fez Janey sentir-se infame. - Francamente, eu... eu no pensava que voc se pudesse importar alguma coisa com o meu trabalho, ou com as runas... ou mesmo comigo. Portanto nunca a convidei. Lembre-se que tentei interess-la pelo deserto. Na verdade h imensa coisa aqui para a interessar... se voc as vir. E se ns fssemos amanh passear a cavalo?Janey pousou uns tristes olhos na face fervorosa dele.- No, Phil. J lhe disse, demasiado tarde. Voc nunca teria pensado nisso se eu no me quisesse ir embora. Lamento mas no posso aceitar atenes instigadas por mim.- Est a ser pelo menos grosseira - acrescentou Randolph, vexado e magoado. - Quase no tem olhado para mim desde que chegou. E agora lamenta-se da minha... da minha negligncia. Digo-lhe que acusar-me de indiferena absolutamente ridculo.Nesse momento a criadita ndia chamou-os para cearem.58Quando Endicott os seguiu e viu a expresso de Randolph, levantou as mos e riu gostosamente. Janey percebeu-o. Era a volta do seu bom humor e o desespero de nada conseguir fazer dela. A sua alegria, contudo, no contagiou Randolph, que apenas disse uma ou outra palavra, quase no comeu e depressa se despediu, desculpando-se.- Dize, querida, que fizeste a Phil? - inquiriu Endicott, naturalmente. - Nada.- O que quer dizer muita coisa. Bem, conta l.- Fiz-lhe saber que gostava muito dele, que a sua indiferena me tem ferido profundamente e que agora...- Ah! Estou a ver. Agora, na linguagem da tua encantadora multido, no h nada a fazer - interrompeu o pai. - Janey, minha querida, se eu fosse o Phil tinha ficado encorajado. Lembras-me a tua me. Quando eu estava mais desesperado que as minhas probabilidades eram mais brilhantes. O pior que eu o no sabia.- Pap, eu gostava do Phil - murmurou Janey, sonhadora. muito mau que j no gostes... O que vais fazer amanh? Talvez me sinta suficientemente bem disposta para andar um pouco a cavalo.- ptimo. Eu vou de carro a Flagerstown. Deverei estar de volta antes do anoitecer, segundo penso. Tenho de enviar umas cartas e telegramas bastante importantes.59No me deixas telegrafar a Bert Durland? - perguntou Janey. Janey, no me ponhas sempre em desvantagem - volveu Endicott, com impacincia. - Tu sabes que te deixo fazer tudo - se me convences que te necessrio. Mas, querida, tu sabes que Durland viria incomodar-te mortalmente. S honesta. Suspeito que ele na verdade podia maar-me depois de c estar - reconheceu Janey francamente. - Mas pap, pensa precisamente no divertimento que os cow-boys iriam ter com ele. E Phil ficaria completamente furioso! Ah! Tu o disseste, minha filha - declarou Endicott, batendo as mos. - Eu bem o desconfiava... Bem, Janey, tens que desculpar-me. Tenho de passar o resto do sero a escrever. Tu podes ir passar uma hora tranquila e encantadora a ler. Uma hora! No posso ir para a cama to cedo. Janey, ests perfeitamente encantadora, arrebatadora -... bem, indecente com esse finssimo vestido branco. Ele faria um leno de primeira ordem para um desses homens tpicos do Oeste. Mas acho que desperdiado aqui neste deserto. Sim, tenho receio que o meu desejo de agradar a Phil se tenha desperdiado - volveu Janey. - Os homens no prestam. No se lhes consegue agradar. Talvez a emancipao das mulheres os tenha aborrecido - notou, maliciosamente, Endicott.Janey estava com curiosidade de ver se Randolph voltaria para a sala.60Esperava que no voltasse, porque lhe parecia que ele lhe estava a revelar algo de diferente, do que estava habituada a ver, em reaces masculinas. Conversou com os Bennets a respeito dos cow-boys e de Randolph, aprendendo cada vez mais para seu divertimento e interesse. Eles viam no arquelogo uma pessoa de famlia e estavam imensamente orgulhosos do seu trabalho. Pelo entusiasmo com que falavam dele parecia ser uma autntica caa ao ouro. Janey comeou a colher algumas indicaes da importncia da descoberta de Randolph, do pueblo que os cientistas pretendiam ter existido ali havia sculos. E comeou a desejar que ele obtivesse sucesso.Randolph no voltou a aparecer e os Bennets retiraram-se cedo. Janey ficou s com os seus pensamentos, o que ela achou agradvel. Depressa foi para o quarto e deitou-se. Embora no tivesse admitido isso perante o pai, a calma da noite, o sentir-se to confortvel debaixo dos cobertores de l e a escurido, agradaram-lhe fortemente.Que poucas palavras e olhares tinham sido necessrios para aniquilar Philip Randolph! Se Janey no estivesse to ofendida, a conscincia devia acus-la. Bem fundo no seu ser existia um grande respeito pela honestidade e pela simplicidade. A ideia que tinha dado a Randolph - de que ela tinha esperado e desejado algumas pequenas atenes da parte dele - tinha-o deitado por terra completamente. Apesar de tudo no fora uma mistificao. Ela tinha esperado mais do que isso. Havia qualquer coisa de quente e doce no pensamento de ele se interessar por si,61daquela maneira. Janey acreditava que qualquer mulher verdadeiramente mulher, do presente ou do futuro, se sentiria lisonjeada ao atrair o amor honesto de um homem. Isso era prprio da raa. O progresso da raa para um nvel mais elevado dependia disso. Jany fez a observao mental de que o mundo no tinha progredido muito ultimamente.Na manh seguinte tornou a atrasar-se para o pequeno almoo propositadamente para no encontrar nem Randolph nem o pai. Janey envergou o seu trajo de montar, levando horas a vestir-se.Depois do pequeno almoo o nico cow-boy que andava pelos currais era Ray.- Bom dia - cumprimentou ele. - Quando volta a viver? Ns, os rapazes, j pensvamos que tinha morrido. Eu? Nunca deixo ningum cansar-se de mim - respondeu. - Pode-me selar o Patter? Creio que sim, mas no vejo para qu. Esse cavalo no bom. Tem mau olhar quando rola os olhos. Agora o meu pequeno russo... Ray, vocs rapazes no me enganam a respeito dos cavalos. So todos bons. Por favor sele-me o Patter.Enquanto Ray foi buscar o cavalo, Janey passeou de um lado para o outro, no Posto, que era sempre e cada vez mais interessante para ela. Bennet estava a vender provises aos ndios. Janey gostava de ouvir as vozes deles, baixas e estranhas. Um dos ndios estava francamente admirado com ela. Era um indivduo alto, esguio, desconjuntado, que vestia um fato de bombasina e botas de pele de gamo,62tinha um cinto ornamentado a prata, com uma enorme fivela, uma camisa aveludada, cor de granada, e um sombrero preto com uma fita brilhante e entranada. Tinha uma cara magra como um falco, morena e limpa, e olhos negros muito penetrantes. Janey tinha sido aconselhada para no aparentar interessar-se pelos homens ndios -porque eles interpretavam mal esse interesse e eram conhecidos por j terem pregado grandes sustos s mulheres do Leste. Como habitualmente, Janey no ligou ao conselho.Reparou que ao deixar o Posto, o ndio saiu de l para a ver. Janey pensou que se Phil Randolph procedesse assim, ela ficaria altamente lisonjeada. Patter estava j selado espera dela. Era um pequeno e fino baio.- Porque que Smoky a segue? - perguntou Ray, com ar sombrio.- Smoky, quem ?- Aquele estafermo do ndio. Ah, sim. No sei Ray. No lho pedi certamente. bastante lisonjeiro, contudo. Mas no agradvel para vocs, rapazes. Bem, Miss, se me d licena dir-lhe-ei que no tem graa nenhuma e que no pode sair a cavalo sozinha - disse Ray.- Na verdade. Voc consegue ser muito desagradvel s vezes, Ray. Isso contraria o homem perfeitamente maravilhoso que . Vou sair a cavalo sozinha.- No. Se no me quer ouvir, vou dizer a Bennet.63- No estar a inventar um pretexto para sair comigo? Creia que no. No tenho particular interesse em sair a cavalo consigo, depois daquilo que me fez a ltima vez. O que foi Ray? No me lembro. Bem, no importa... Mas esse ndio Smoky um hombre mau e realmente porque ele no certo que eu quero ir consigo. No de confiana. Deve estar a segui-la porque curioso, mas se ele a acha muito bonita, vrias coisas podem acontecer. Se o maldito pele-vermelha a incomodar no ter muito tempo de vida. Obrigada, Ray, isso que falar - respondeu Janey. - Mas diga-me, o que fazem aqui aos homens brancos, quando eles insultam as raparigas do Leste? Bem, Miss, os homens brancos... isto , os do Oeste no insultam raparigas de parte nenhuma - volveu Ray, impetuosamente.Mas fazem-no. Tenho lido e ouvido imenso. - Suponha que justamente agora, por exemplo, voc me raptava e levava para o deserto. O que lhe aconteceria a si? Se no fosse pendurado numa rvore de algodo, certamente seria aoitado at cair morto... Mas, Miss Janey, no precisa de se atormentar a meu respeito. Aprendi a lutar e a refrear os meus naturais instintos.Janey riu alegremente. Alguns destes cow-boys tinham imensa graa e bastante esprito.- Ray, comprometo-me a dar este passeio consigo - disse Janey. - Quero surpreender Mr. Randolph no seu trabalho. Portanto voc vai levar-me e mostrar-me onde ele est.64Mas deve ficar a alguma distncia dali minha espera, - mas no estarei a desvi-lo do seu trabalho?- As ordens do patro so para que tome conta de si, Miss Janey - disse Ray com grande nfase nos pronomes pessoais. - Vou buscar uma sela e estarei pronto dentro de instantes.Cavalgaram ao longo da cerca, onde Bennet conservava o gado, por vezes, e passaram por Tay-Tay, Diego e Zoroaster que cavavam buracos para postes. Se havia alguma coisa que um cow-boy detestasse mais fazer do que aquilo, declarou Ray, ele no sabia o que era. O trio tirou os seus sombreros a Janey e sorriram-lhe, porque no podiam deixar de o fazer. Mas via-se bem que eles estavam irritados com a situao.- Como trabalho medocre no est mal - gritou Ray olhando para os buracos dos postes. - Mas vocs ainda os no cavaram bastante profundos.Zoroaster olhou, com ferocidade, para Ray e atirou ao cho a p de cabo alto. Diego limpou o suor que lhe escorria pela cara. Olha l, tu s o capataz deste rancho? - perguntou, desdenhosamente. S-s-s-egue o teu caminho ou s-s-s-ais-te mal - gaguejou Tay-Tay. Bem, como eu no quero que Miss Endicott os veja pior do que esto, vou seguir o meu caminho - disse, com lentido, Ray.65Janey endereou a cada um deles um encantador sorriso, tentando dar-lhes a impresso que os preferia, para escolta, a Ray. Depois fez trotar Patter atrs de Ray, para o deserto.Treparam gradualmente at ao nvel do vasto vale e encontraram-se em face da grande parede de rocha vermelha que avultava a algumas milhas a Oeste. Ela cavalgou, ombro a ombro com Ray, por um bom par de milhas, conversando ao mesmo tempo. Ento, alcanando um terreno muito acidentado, teve de descer atrs dele a pista escabrosa. Ray parou perante uma massa informe de cedros.- Creio que isto to longe quanto a menina quer que eu v - anunciou ele. - Seguindo o trilho a direito at onde ele entra no Canyon, a ver um grande subterrneo na muralha. essa a velha habitao onde o senhor Randolph est a fazer escavaes.- Obrigada, Ray. Quer esperar por mim?- Bem, se voltar com ele, no - respondeu Ray, relutante. - Mas quero ter a certeza disso.-Penso que melhor esperar. No me demorarei.Ainda Janey no tinha percorrido uma centena de passos e j de todo se esquecera de Ray. O trilho descia para um charco murado e avermelhado, onde corria gua lamacenta sobre areias movedias, que ela teve de atravessar. J tinha atravessado esta ribeira num ponto diferente, mas no sozinha. Aqui tinha de usar os seus recursos prprios. Fez Patter trotar ao atravess-la; mas mesmo assim ele debateu-se nas areias movedias e salpicou Janey de gua lamacenta. Uma vez o cavalo foi de joelhos gua66e o corao de Janey saltou-lhe at garganta. Mas conseguiu passar a salvo. Eram coisas deste gnero que excitavam e agradavam a Janey. Tudo to novo! E estar sozinha fazia tudo dez vezes mais emocionante. O caminho poeirento, a subida aos ziguezagues, os sinuosos trilhos por entre as rochas e atravs dos cedros, com a grande parede de rocha vermelha a destacar-se ao longe, cada vez maior e mais perto, a fragrncia seca do deserto e da selva, a solido e a selvajaria, significavam muito mais para Janey, nesse dia, do que nunca at ento. Nem por nada ela deixaria Phil Randolph e o pai penetrarem no segredo de que ela estava, na verdade, aprendendo a amar o Arizona. A beleza, a cor e a solido, a vastido dele, tinham acordado qualquer coisa de muito profundo no seu ser. Primeiro lamentara-se do p, do vento, do vazio, da falta de pessoas. Mas j tinha esquecido tudo isso. No estava agora to certa de que no podia gostar do rigor e do primitivismo do deserto.Presentemente cavalgava j fora dos dispersos cedros de modo que podia ver completamente a grande parede de rocha. Janey deitou para trs a cabea para poder contemplar mais alto.- Oh... maravilhoso! - exclamou. - Pensava que os edifcios de Nova Iorque eram altos. Mas isto!Era uma autntica parede de rocha vermelha, erguendo-se com fendas e salincias para um baluarte franjado de cedros altos contra o cu azul. A base era uma rampa de taludes, onde rochas de todos os tamanhos pareciam estar prestes a cair e rolar sobre ela. Ento Janey descobriu o subterrneo.67Era o maior buraco que jamais vira e calculou que a Igreja da Trindade se perderia dentro dele. A parte superior desaparecia na sombra. A parte de baixo mostrava paredes de rocha ngremes, inclinadas e arruinadas, que Janey conjecturou fossem os restos das casas dos habitantes daquelas rochas. Estava a ser impressionada pela magia do cenrio, quando ouviu um grito e ento descobriu um homem em p, junto do subterrneo. Era Randolph. Ele acenou-lhe e comeou a descer o declive de rochas resistentes. medida que ele avanava para mais perto do seu nvel, Janey viu que, na verdade, ele tinha estado a trabalhar. Como ele parecia viril! Quase esqueceu completamente o objectivo da sua visita: e quase se persuadiu de que se ele estivesse particularmente simptico, ela poderia trepar l acima para v-lo trabalhar. Ol, Phil - chamou ela, imitando, tanto quanto possvel, o negociante. Janey ficou impressionada pelo facto de Phil no parecer muito contente por a ver. O seu pai est consigo? - perguntou. No. Foi cidade. Espero que voc no tenha vindo at aqui sozinha - disse.- Mas claro que vim. E foi um passeio delicioso.- Janey - gritou ele.- Sim Janey! - volveu ela.Ele no percebeu o que havia de petulante da parte dela.- Porque que fez isso? - perguntou, quase zangado.68- Bem, pense que eu gostava, que eu queria: v-lo e ao seu trabalho - tornou ela, inocentemente.- Mas disseram-lhe para no andar a cavalo sozinha longe do Posto.- Eu sei, e isso pe-me doente. Porque no? Eu no sou nenhuma criana, sabe. Alm de que no h raptores por aqui, ou h?- Sim. Raptores e muito pior... Francamente, Miss Endicott, penso que deve ouvir um bom e valente sermo. Estou muito bem disposta. Portanto comece. Voc uma rapariga teimosa e obstinadadeclarou. Philip, voc no est a ser muito gentil, pensando assim, bem... eu comovi-me um pouco, e vim c para o ver - replicou ela, censurando-o. Estou a pensar em si, no seu bem. Algum tem de impedir que voc corra estes riscos. Os cow-boys deixam-na fazer tudo, apesar de terem ordem para a vigiarem, para tomarem conta de si. Se o seu pai no pode fazer com que voc se porte bem, algum tem de o fazer.E voc est convencido que pode ser esse algum? - inquiriu Janey, laconicamente.Pareo presunoso, absurdo - respondeu, inflexvel. - Mas realmente receio que sim.- Vamos ambos passar um tempo maravilhoso - disse Janey, com uma alegre gargalhada. - Mas antes que voc perca esta tarefa de me regenerar deixe-me confessar-lhe que no vim sozinha. Deixei Ray l em baixo, no caminho, naquele barranco.69- Deixou!... Mas voc disse-me... mentiu...- Queria ver o que que voc fazia - disse ela, como o visse hesitar.Randolph sentou-se num pedao de rocha e olhou-a, desconcertado. Isso o pior em si - assegurou ele. - Um homem no pode ceder completamente ao desespero, ou ao desgosto. Porque parece haver sempre alguma coisa de puro debaixo dessa sua maldita frivolidade. Estou contente por o ver to optimista - retorquiu Janey. No preciso de lhe perguntar como est - observou Randolph. - Ontem voc estava plida... prostrada. O seu pai estava realmente preocupado. E eu... Mas hoje voc parece um lrio do Sago.- Sago? o nome do seu canyon, no ? E que espcie de flor ? bonita?- Penso que a flor mais estranha do mundo. Rara, rica, ardente. Cresce nos profundos vales, no Vero. Estou persuadido que voc no estar aqui bastante tempo para ver uma.- Phil, nunca imaginei que voc pudesse ser to eloquente, ou to bom adulador - disse, estudando-o gravemente. - Comeo a acreditar que h em si possibilidades desconhecidas para o bem... e talvez, tambm, para o mal. Claro. Voc nunca pode afirmar o que um homem pode ser capaz de fazer... ou de ser levado a fazer.70- No me vai convidar a descer e a entrar? - perguntou, maliciosa.-Tem de perdoar as minhas maneiras - disse ele, erguendo-se.Janey resvalou da sela, sem aceitar a mo que ele lhe oferecia, e guiando Patter para um cedro prximo amarrou-lhe as rdeas a um ramo.- Quero ver o seu subterrneo.- uma grande subida.- Suponho que ontem o desconcertei um bocado - respondeu ela. - No posso ter um dia de cansao, uma vez, sem que seja considerada uma enfezada? Ora vamos l.Janey depressa concordou que aquilo era na verdade, uma grande subida. As distncias iludiam-na estranhamente aqui no Arizona. Havia um caminho at ao subterrneo, mas estafante, escarpado e desigual, com muitos e altos degraus de rocha para rocha. Ficou contente ao aceitar a mo de Randolph; e quando ultrapassaram a rampa estava sem flego e a suar. Randolph segurou-lhe a mo mais tempo do que o necessrio.-Oh!... Apre! - arquejou Janey, deixando-se cair numa rocha sombra. - Que subida!- Voc f-la sem descansar - volveu Randolph, com admirao. - O seu corao e os seus pulmes so ptimos, seguramente... mesmo que voc no tenha crebro.- Mr. Randolph!- Esta a opinio de seu pai - disse ele, secamente. - Eu no a partilho exactamente.71- Pode ser que eu seja uma estpida, saudvel - riu Janey, tirando o sombrero. - No seria formidvel - se o deserto e voc - me transformassem numa verdadeira mulher?- As estpidas no se transformam - respondeu, ignorando a insinuao dela.Agora Janey fazia o inventrio do subterrneo do arquelogo. Era uma caverna espantosa. Sentou-se na parte mais baixa do declive e mesmo assim o tecto abobadado, longe por cima das cabeas deles, alargava-se at ao canyon. Um cheiro seco, poeirento, bolorento, mas no desagradvel penetrava no lugar. Os destroos das paredes e dos declives restos de parede. Na seco mais larga, uma pequena janela preta, como um olho vazio, fixava-a. Deu-lhe uma sensao estranha e extravagante. Olhos humanos tinham olhado atravs daquela janela h muitas eras atrs. Viu um fosso perto dela, com a picareta e a p a descansar onde Randolph as tinha deixado. Esteve na guerra, Mr. Randolph? - perguntou Janey, de repente. Sim, algum tempo. O bastante para aprender a cavar. E foi essa a nica coisa boa que l aprendi - respondeu, um tanto amargamente. Devia dar graas a Deus. Os meus amigos que foram para Frana no voltaram muito bem. Pelo menos voc parece no ter ficado com qualquer ferida, ou aleijado. Sim, penso que fiquei bem, excepo de ter adquirido ideias estranhas.72S dei por elas recentemente - o inverno passado, para ser sincero. Deveras? E em que que isso o afecta? - perguntou Janey, pouco convencida. Penso que desenvolveu em mim uma fraqueza latente pela beleza. Da Natureza? Oh, no. Sempre senti essa. Deve ser - pela beleza da mulher. De qualquer mulher. Bem, isso no uma fraqueza. uma coisa muito louvvel e d-lhe um certo parentesco com a maior parte dos homens. Miss Endicott, eu no disse de qualquer mulher - replicou, vivamente, Randolph. No disse? Muito bem, no importa... Agora mostre-me todo este local e fale-me do seu trabalho.Randolph tinha qualquer coisa em mente. No parecia muito natural. Era como se tivesse sido impelido a ser algum muito diferente do que ele habitualmente era. Janey lamentou no o ter encorajado a dizer mais acerca da mulher por quem ele sentia a tal fraqueza. A esse respeito ela estava interiormente toda orgulhosa com o sucesso das suas maquinaes.- Voc no fazia fortuna como guia de senhoras turistas - notou Janey, depois de Randolph lhe ter mostrado os vrios fossos que tinha cavado, alguns pedaos de cermica seca como p, e as paredes arruinadas.73- Pelo contrrio, fui um sucesso declarado na reunio dos professores que me visitou aqui no vero passado - declarou. Oh. Ento sou eu que tenho um efeito inibidor em si. Provavelmente. No pareo importar-me nada - ou - coisa nenhuma com a arqueologia, geologia, teologia, ou qualquer outra forma de ologia - replicou Randolph, tristemente. Lamento. No devo criticar as suas faculdades mentais to severamente - disse Janey.- Voc pensa que est a ser sarcstica. Mas o que um facto que voc censurou todas as minhas faculdades, at ao limite. Faculdades de pacincia, resistncia f - e no sei que mais.- Que horrvel criatura eu sou! - interrompeu Janey, verdadeiramente sria. - Por favor, se no pode esquecer isso, pelo menos no precisa estar sempre a insistir... Onde espera descobrir esse pueblo sepultado? O pap disse que voc tinha posto todo o seu corao nessa tarefa. Voc no se importa mesmo nada com runas - a menos que seja com a runa de um homem. Talvez no me importasse ao princpio. Mas importo-me agora. No pode admitir que eu me tenha modificado, ou crescido, ou que tenha acontecido outra qualquer coisa, entretanto? No sei o que pensar a seu respeito - tornou ele, consternado.74Seguramente que no. Bem, eu sou perfeitamente capaz de sair daqui e ir procurar essas runas para si. Por favor, no o faa. Sinto-me completamente miservel - retorquiu, com crueldade. Mas havia uma luz no olhar dele que desmentia as suas palavras. Janey sabia que ele estava a dizer para consigo que no devia acreditar em sonhos.- Significaria muito para si - encontrar esse pueblo?- Sim. S h no mundo uma coisa que pode significar mais para mim.- No creio que fique muito bem cavando por aqui em volta, no meio de toda esta porcaria - meditou Janey. - Mas como voc no tem o mais pequeno interesse por mim, com vestidos de noite modernssimos, talvez voc goste de me ver toda poeirenta, vermelha e suada. Portanto, vamos a isto.Janey comeou a descer para o fosso mais profundo e quando ficou s com a cabea de fora, apoderou-se da picareta.- Miss Endicott, no pode deixar-se de brincadeiras? - explodiu Randolph. - No consegue ter graa nenhuma. E essa conversa a meu respeito...- No estou a brincar quanto ao facto de querer que voc me admire, pelo menos - riu Janey, brandindo a picareta.- Por favor, saia da. Est a sujar as suas roupas.75- No. Vou cavar - replicou Janey, despreocupadamente. - Quien sabe? Pode ser que ainda tenha de casar com um arquelogo, um dia.- Saia da - disse Randolph, peremptoriamente.Janey comeou a cavar a terra vermelha. Descobriu muitas pedras e at o que se parecia muito com um osso humano. Oh! Veja. O que esta coisa? - gritou. um osso da perna, claro. Voc est a cavar numa sepultura. J lhe tinha dito.- Voc no tinha dito nada.- Isso no importa. Saia da.-Mr. Randolph, voc pode mandar-me para a minha prpria sepultura, mas no consegue fazer-me sair desta.Como ela brandisse outra vez a picareta, ele baixou-se para a alcanar. Janey insistiu. Randolph esticou o brao at encontrar as mos dela enluvadas. E f-la largar a picareta e arrastou-a, no muito gentilmente, para fora do fosso.Depois deixou-a quase abruptamente, provavelmente por causa do olhar que ela lhe dirigiu; o seu impulso, sendo considervel, f-la tropear. Daquele lado era um pouco a descer. Ela caiu a direito sobre Randolph que a apanhou nos braos. O embarao daquela situao irritou Janey mais que nunca. O sombrero caiu-lhe e o cabelo cobriu-lhe os olhos. Ergueu a cara do ombro dele e procurou retomar o equilbrio. Subit