o poeta setubalense gravatinha

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Page 1: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
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SETÚBAL em SETÚBAL em

19301930

Page 5: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

ANTÓNIO AUGUSTO GRAVATINHA foi barbeiro em Setúbal, ANTÓNIO AUGUSTO GRAVATINHA foi barbeiro em Setúbal, durante as primeiras décadas do séc. XX. Com a profissão durante as primeiras décadas do séc. XX. Com a profissão acumulava as artes de poeta, cantor e manipulador de acumulava as artes de poeta, cantor e manipulador de marionetes de cartão, por ele próprio confeccionadas. marionetes de cartão, por ele próprio confeccionadas. Apresentava-se na rua ou em casas aonde fosse chamado a Apresentava-se na rua ou em casas aonde fosse chamado a mostrar as suas habilidades.mostrar as suas habilidades.

Conta meu Pai, à altura com 16 anos, que meu Avô paterno um Conta meu Pai, à altura com 16 anos, que meu Avô paterno um dia chamou o Gravatinha para abrilhantar uma celebração dia chamou o Gravatinha para abrilhantar uma celebração caseira, altura em que o popular poeta terá oferecido este caseira, altura em que o popular poeta terá oferecido este folheto aos donos da casa.folheto aos donos da casa.

No vetusto folheto, podem ler-se sete das suas “Canções ao No vetusto folheto, podem ler-se sete das suas “Canções ao Fado” (destino), “em diversos sentidos”, como as designava.Fado” (destino), “em diversos sentidos”, como as designava.

Este personagem Setubalense, segundo meu Pai, costumava Este personagem Setubalense, segundo meu Pai, costumava dar início às suas actuações com a seguinte frase:dar início às suas actuações com a seguinte frase:

– – Vai cantarr o Grravatinha, com a “grraganta” afinadinha!Vai cantarr o Grravatinha, com a “grraganta” afinadinha! - - carregando nos “RR” como é vulgar na região Sadina.carregando nos “RR” como é vulgar na região Sadina.

Leonor NascimentoLeonor NascimentoSetembro 2008Setembro 2008

Page 6: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
Page 7: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

A LUZ ELECTRICAA LUZ ELECTRICA

QUADRAQUADRA

Em Setúbal a luz electricaEm Setúbal a luz electricaFoi um mar de desventuras,Foi um mar de desventuras,

Após a inauguração,Após a inauguração,Ficou a cidade às escuras.Ficou a cidade às escuras.

DÉCIMASDÉCIMAS

Foi vexame primitivo,Foi vexame primitivo,P´ra Setúbal uma vergonha,P´ra Setúbal uma vergonha,Toda a gente fez carantonha,Toda a gente fez carantonha,

Sem saber qual o motivo.Sem saber qual o motivo.Fica escrita então no livro,Fica escrita então no livro,

Esta data geométrica,Esta data geométrica,Foi porque a fita métrica,Foi porque a fita métrica,Não mediu bem o terreno.Não mediu bem o terreno.

Foi desastre e não pequeno,Foi desastre e não pequeno,Em Setúbal a luz electrica.Em Setúbal a luz electrica.

Foi grande infelicidade,Foi grande infelicidade,Que se proporcionou,Que se proporcionou,E que logo motivouE que logo motivouA rebaixar a cidade.A rebaixar a cidade.

O povo cheio de vaidade,O povo cheio de vaidade,Com falinhas obscuras,Com falinhas obscuras,

Deitou logo mil aventuras,Deitou logo mil aventuras,Contra o mau funcionamento.Contra o mau funcionamento.Porque a luz neste momento,Porque a luz neste momento,Foi um mar de desventuras.Foi um mar de desventuras.

Foi porque a energia,Foi porque a energia,Não estava bem montada,Não estava bem montada,

E nem aperfeiçoada,E nem aperfeiçoada,Já se sabe como devia.Já se sabe como devia.

Quasi mesmo no próprio diaQuasi mesmo no próprio diaDa sua apresentação,Da sua apresentação,Fizeram observação,Fizeram observação,

P´ra verem qual o efeito.P´ra verem qual o efeito.Por isso se notou defeito,Por isso se notou defeito,

Após a inauguração.Após a inauguração.

Os planos foram falhos,Os planos foram falhos,E o povo então murmura,E o povo então murmura,

Setúbal fez má figura,Setúbal fez má figura,Por atrazarem os trabalhos.Por atrazarem os trabalhos.Setubalenses penduricalhos,Setubalenses penduricalhos,Põem-se em grandes alturas,Põem-se em grandes alturas,

Pois só têm imposturas,Pois só têm imposturas,Diziam os forasteiros.Diziam os forasteiros.

Só c´o a luz dos candeeiros,Só c´o a luz dos candeeiros,Ficou a cidade às escuras.Ficou a cidade às escuras.

Page 8: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
Page 9: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

M Ã E !M Ã E !

QUADRAQUADRA

O lindo nome de mãe,O lindo nome de mãe,Revela a luz da bondade,Revela a luz da bondade,

Mãe é deusa dos carinhos,Mãe é deusa dos carinhos,Símbolo de felicidade.Símbolo de felicidade.

DÉCIMASDÉCIMAS É muito triste viver,É muito triste viver,Sem uma mãe adorada,Sem uma mãe adorada,

Quem não tem mãe não tem nada Quem não tem mãe não tem nada Tenho ouvido dizer.Tenho ouvido dizer.

Nesta frase eu quero crer,Nesta frase eu quero crer,É doce anelo de bem,É doce anelo de bem,

Nome que doçura tem,Nome que doçura tem,E é tão mal estimado.E é tão mal estimado.

Deve ser sempre lembrado,Deve ser sempre lembrado,O lindo nome de mãe.O lindo nome de mãe.

É mui feliz quem possui,É mui feliz quem possui,Esse belo talismã,Esse belo talismã,

Que com carinho e afã,Que com carinho e afã,As suas dores atenue.As suas dores atenue.Santo nome que influe,Santo nome que influe,O bem da Humanidade,O bem da Humanidade,É o braço da caridade,É o braço da caridade,Esse ente inegualável.Esse ente inegualável.

Que por ser mui adorável,Que por ser mui adorável,Revela a luz da bondade.Revela a luz da bondade.

Por muito má que ela seja,Por muito má que ela seja,Deve-se sempre respeitar,Deve-se sempre respeitar,

E com atenção olhar,E com atenção olhar,Pelo ser que nos bafeja.Pelo ser que nos bafeja.

Por muito longe que esteja,Por muito longe que esteja,A vida são pergaminhos,A vida são pergaminhos,Por espinhosos caminhosPor espinhosos caminhos

Julga o filho sempre andar.Julga o filho sempre andar.Nele está sempre a pensar,Nele está sempre a pensar, Mãe é deusa de carinhos. Mãe é deusa de carinhos.

Ela é que nos deu o ser,Ela é que nos deu o ser,Dedicando amor profundo,Dedicando amor profundo,Se somos gente no mundo,Se somos gente no mundo,A ela se deve agradecer.A ela se deve agradecer.

Portanto é fácil de prever,Portanto é fácil de prever,Não há igual amizade,Não há igual amizade,Seio da generosidade,Seio da generosidade,

Bandeira da misericórdia.Bandeira da misericórdia.É estampa da concórdia,É estampa da concórdia,Símbolo de felicidade.Símbolo de felicidade.

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Page 11: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

A CÂMARA VELHA PARA O BOMFIMA CÂMARA VELHA PARA O BOMFIM

FADO CANÇÃOFADO CANÇÃO

MOTEMOTE

Pobre campo do Bomfim,Pobre campo do Bomfim,Deitaram-te ao abandono,Deitaram-te ao abandono,De ti não querem saber.De ti não querem saber.Deixaram-te ficar assim,Deixaram-te ficar assim,Pareces um pobre mono,Pareces um pobre mono,e ninguém te quer valer.e ninguém te quer valer.

GLOSASGLOSAS

Já findou tua alegriaJá findou tua alegriaQue outrora gozavas,Que outrora gozavas,Quando eras visitado,Quando eras visitado,

Hoje choras noite e dia,Hoje choras noite e dia,Pois que nunca esperavas,Pois que nunca esperavas,

De seres assim despresado,De seres assim despresado,Com certeza não contavasCom certeza não contavas

De hoje estares neste estadoDe hoje estares neste estadoAo ver-te desperta o sono,Ao ver-te desperta o sono,Fizeram-te mil diabruras,Fizeram-te mil diabruras,Tiraram-te até o trono,Tiraram-te até o trono,

O teu pezar não tem fim,O teu pezar não tem fim,Desapareceram as aventuras,Desapareceram as aventuras,

Pobre campo do Bomfim,Pobre campo do Bomfim,Deitaram-te ao abandono.Deitaram-te ao abandono.

És um deserto perfeito,És um deserto perfeito,Todos de ti escarnecem,Todos de ti escarnecem,

Ninguém te liga nem meia,Ninguém te liga nem meia,Outras obras teem feito,Outras obras teem feito,

Obras que menos merecem,Obras que menos merecem,Que Setúbal não anceia,Que Setúbal não anceia,

São coisas que não exercem,São coisas que não exercem,Que a cidade te afogueia,Que a cidade te afogueia,

Não dão gosto nem prazer,Não dão gosto nem prazer,Tu é que devias de ser,Tu é que devias de ser,O primeiro cá a meu verO primeiro cá a meu ver

A ser reconstruído.A ser reconstruído.Tiraram de ti o sentido,Tiraram de ti o sentido,

Estás de todo esquecido,Estás de todo esquecido,De ti não querem saber.De ti não querem saber.

Page 12: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

GLOSASGLOSAS

(continuação)(continuação)

Amigo, tem paciênciaAmigo, tem paciênciaSei que é custoso bocado,Sei que é custoso bocado,Ir tudo por água abaixo,Ir tudo por água abaixo,

Tens que pedir clemência,Tens que pedir clemência,Fazeres abaixo assignado,Fazeres abaixo assignado,Para teres parte no tacho.Para teres parte no tacho.Tenho pena de ti, coitado,Tenho pena de ti, coitado,

Eras o deus do riacho,Eras o deus do riacho,Todos te davam abono,Todos te davam abono,

Com merendas e jantares,Com merendas e jantares,Musicatas de outono,Musicatas de outono,

Tinhas amigos sem fim.Tinhas amigos sem fim.Eu creio nos teus pezares,Eu creio nos teus pezares,Deixaram-te ficar assim,Deixaram-te ficar assim,Pareces um pobre mono.Pareces um pobre mono.

Põe bem os olhos em mim,Põe bem os olhos em mim,Que no mesmo estado estou,Que no mesmo estado estou,

Implorando protecção,Implorando protecção,A infelicidade enfim,A infelicidade enfim,

Em meu peito penetrou,Em meu peito penetrou,Já ninguém me dá a mão.Já ninguém me dá a mão.

De mim se apoderou,De mim se apoderou,A má orientação,A má orientação,

O desleixo e mau parecer,O desleixo e mau parecer,P´ra qui estou a sofrer,P´ra qui estou a sofrer,

Deixam-me assim morrer,Deixam-me assim morrer,Dou o suspiro derradeiro.Dou o suspiro derradeiro.E tu és meu companheiro,E tu és meu companheiro,

Estás nesse cativeiro,Estás nesse cativeiro,E ninguém te quer valer.E ninguém te quer valer.

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Page 14: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

O BOMFIM PARA A CÂMARA VELHAO BOMFIM PARA A CÂMARA VELHA

FADO CANÇÃO (RESPOSTA)FADO CANÇÃO (RESPOSTA)

MOTEMOTE

Podes juntar-te comigo,Podes juntar-te comigo,estamos ambos no rol,estamos ambos no rol,No rol da pouca sorteNo rol da pouca sorte

Estamos livres de perigo,Estamos livres de perigo,A enxugar-mos ao sol,A enxugar-mos ao sol,

Esperando o vento norte.Esperando o vento norte.

GLOSASGLOSAS

Tu contenta-te como eu,Tu contenta-te como eu,P´ráqui estou ao Deus dará,P´ráqui estou ao Deus dará,Quási um campo solitário,Quási um campo solitário,A sorte de mim descreu,A sorte de mim descreu,

Já tarde se lembrará,Já tarde se lembrará,Pôr termo ao meu fadário.Pôr termo ao meu fadário.Nem nas Caldas tenho já,Nem nas Caldas tenho já,

O remédio necessário,O remédio necessário,Para eu me pôr em pról,Para eu me pôr em pról,

Minha beleza voouMinha beleza voouSou um porto sem abrigo,Sou um porto sem abrigo,

Posso ir fazer cerol.Posso ir fazer cerol.Tu bem vês como eu estouTu bem vês como eu estou

Podes juntar-te comigo,Podes juntar-te comigo,Estamos ambos no rol.Estamos ambos no rol.

Por minha infelicidade,Por minha infelicidade,Até p´ra maior desgraça,Até p´ra maior desgraça,

O meu jardim deu-lhe um ar,O meu jardim deu-lhe um ar,Era o melhor da cidade,Era o melhor da cidade,Para onde a populaça,Para onde a populaça,

Satisfeita ia gozar.Satisfeita ia gozar.Mas pegou em mim a traça,Mas pegou em mim a traça,

Traça para começar,Traça para começar,Minha dôr ligeira e forte,Minha dôr ligeira e forte,

Nunca pensei que o meu porte,Nunca pensei que o meu porte,Tivesse sofrer este corte,Tivesse sofrer este corte,Que foi bastante custoso,Que foi bastante custoso,

Foi-se o meu tempo de gozo,Foi-se o meu tempo de gozo,Estamos ambos no repouso,Estamos ambos no repouso,

Estamos ambos no rol.Estamos ambos no rol.

Page 15: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

GLOSASGLOSAS

(continuação)(continuação)

Com falsos prometimentos,Com falsos prometimentos,Andaram-me a iludir,Andaram-me a iludir,E deixaram-me ficar,E deixaram-me ficar,

Para dar ais e lamentos,Para dar ais e lamentos,E o povo então se rir,E o povo então se rir,E de mim escarnear.E de mim escarnear.

Não me deviam mentir,Não me deviam mentir,nem tão pouco me enganar,nem tão pouco me enganar,

Apagaram meu farol,Apagaram meu farol,Eu espero a última moda,Eu espero a última moda,Por ser assim tão antigo,Por ser assim tão antigo,Já nem mereço cremol.Já nem mereço cremol.

Estamos ambos na roda,Estamos ambos na roda,Estamos livres de perigo,Estamos livres de perigo,

a enxugar-mos ao sol.a enxugar-mos ao sol.

Somos emfim dois queixosos,Somos emfim dois queixosos,Desta mimosa cidade,Desta mimosa cidade,

Que é a Rainha do Sado,Que é a Rainha do Sado,Tristonhos e desditosos,Tristonhos e desditosos,de nós não há piedade,de nós não há piedade,Estamos postos de lado.Estamos postos de lado.Só se pensa na vaidade,Só se pensa na vaidade,Neste paiz desgraçado,Neste paiz desgraçado,Nada se me dá importe,Nada se me dá importe,

Fomos condenados à morte,Fomos condenados à morte,Que fatal e duro golpeQue fatal e duro golpe

Nós haviamos de sofrer.Nós haviamos de sofrer.Não temos jamais que vêr,Não temos jamais que vêr,

Ficaremos, é de prever,Ficaremos, é de prever,Esperando o vento norte.Esperando o vento norte.

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Page 17: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

V A I D A D E !!!V A I D A D E !!!

QUADRAQUADRA

Está tudo desgraçadoEstá tudo desgraçadoCá no nosso Portugal,Cá no nosso Portugal,

As mulheres quasi nuas,As mulheres quasi nuas,É uma vaidade geral.É uma vaidade geral.

DÉCIMASDÉCIMAS

Nunca vi uma coisa assim,Nunca vi uma coisa assim,É mesmo um louvar a Deus,É mesmo um louvar a Deus,Fazerem os pobres plebeus,Fazerem os pobres plebeus,

Fazerem cruzes sem fim.Fazerem cruzes sem fim.As damas com seu quindin.As damas com seu quindin.

Inebriam o Zé pasmadoInebriam o Zé pasmadoPor elas ilucidadoPor elas ilucidado

Vai no bote, cae na rede.Vai no bote, cae na rede.Do amôr fazem parede,Do amôr fazem parede,Está tudo desgraçado.Está tudo desgraçado.

Deusas da provocação,Deusas da provocação,Cumulos da falsidade,Cumulos da falsidade,

Com a tolice e a vaidade,Com a tolice e a vaidade,Nem sabem andar pelo chão.Nem sabem andar pelo chão.

Empoadas até mais não,Empoadas até mais não,Até às vezes cheiram mal,Até às vezes cheiram mal,Querem tanto que afinal,Querem tanto que afinal,

Arruinam a saúde,Arruinam a saúde,É esta a bôa atitude,É esta a bôa atitude,Cá no nosso Portugal.Cá no nosso Portugal.

Elas andam mesmo em braza,Elas andam mesmo em braza,A verdade é nua e crua,A verdade é nua e crua,Quem as vê ahi p´la rua,Quem as vê ahi p´la rua,

Não diz o que são em casa.Não diz o que são em casa.Levam sempre grão na aza,Levam sempre grão na aza,Enchem-se de falcatruas,Enchem-se de falcatruas,E então fazem das suas,E então fazem das suas,

Tratam pois de se pintarem,Tratam pois de se pintarem,Para os homens enganarem,Para os homens enganarem,

As mulheres quasi nuas.As mulheres quasi nuas.

Dizem que é p´ra economia,Dizem que é p´ra economia,E p´ra andarem mais E p´ra andarem mais

fresquinhasfresquinhasE se mostram as perninhas,E se mostram as perninhas,

É p´ra terem simpatia.É p´ra terem simpatia.Quer de noite quer de dia,Quer de noite quer de dia,

É poema triunfal,É poema triunfal,É costume habitual,É costume habitual,

Assim é que manda a moda.Assim é que manda a moda.Na baixa e na alta roda,Na baixa e na alta roda,É uma vaidade geral. É uma vaidade geral.

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FRASES SETUBALENSESFRASES SETUBALENSES

QUADRAQUADRA

Setúbal tem bôas frases,Setúbal tem bôas frases,Algumas eu vou citar,Algumas eu vou citar,

P´ró costume não perder,P´ró costume não perder,Não deixo de criticar.Não deixo de criticar.

DÉCIMASDÉCIMAS

Continuando a lenga-lenga,Continuando a lenga-lenga,““Comigo ninguém se mete”,Comigo ninguém se mete”,Dizem ainda, grande frete,Dizem ainda, grande frete,

Nesta língua flamenga.Nesta língua flamenga.Sem um dito nem arenga,Sem um dito nem arenga,Assim se fazem as pazes,Assim se fazem as pazes,

““Cuidado rapaz não cases”,Cuidado rapaz não cases”,Também se costuma dizer,Também se costuma dizer,

Para ouvir e aprender,Para ouvir e aprender,Setúbal tem bôas frases.Setúbal tem bôas frases.

Frazes de prima o cartel,Frazes de prima o cartel,Que às vezes trazem azares,Que às vezes trazem azares,Eis uma das mais vulgares:Eis uma das mais vulgares:

““Ti Maria e Ti Manel”.Ti Maria e Ti Manel”.Palavriado a granel,Palavriado a granel,E linguado a fartar,E linguado a fartar,

E uma coisa de pasmar,E uma coisa de pasmar,Palavrinhas com richaço.Palavrinhas com richaço.

Aqui em curto espaço,Aqui em curto espaço,Algumas eu vou citar.Algumas eu vou citar.

Propondo a lei do SeloPropondo a lei do SeloA todos os fideltras pêcos,A todos os fideltras pêcos,É frase dos papos-sêcos:É frase dos papos-sêcos:““Joãosinho vai ao gelo”.Joãosinho vai ao gelo”.Decerto não tem apêlo,Decerto não tem apêlo,Frazes, modas a valer,Frazes, modas a valer,Já não se ouve dizer:Já não se ouve dizer:

““O qué couve; antão que há”.O qué couve; antão que há”.““Diz-se às vezes, ahi pá!...”Diz-se às vezes, ahi pá!...”P´ró costume não perder.P´ró costume não perder.

E para que tudo acabe,E para que tudo acabe,Nesta lida tão perversa,Nesta lida tão perversa,

Para pôr termo à conversa,Para pôr termo à conversa,““Diz-se então: já se sabe”.Diz-se então: já se sabe”.Para que ninguém se gabe,Para que ninguém se gabe,

““Diz-se logo: põe-te a cavar”,Diz-se logo: põe-te a cavar”,““Ou ver se tem água o mar”,Ou ver se tem água o mar”,““Ou então vae ver se chove”.Ou então vae ver se chove”.

Não havendo quem me estorve,Não havendo quem me estorve,Não deixo de criticar.Não deixo de criticar.

Page 20: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
Page 21: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

O ARROBAS E A MARRECAO ARROBAS E A MARRECA

QUADRAQUADRA

O Arrobas e a Marréca,O Arrobas e a Marréca,É um par mui interessante,É um par mui interessante,

De Setúbal as mascotes,De Setúbal as mascotes,Fazem um conjunto brilhante.Fazem um conjunto brilhante.

DÉCIMASDÉCIMAS

Ele está sempre zangado,Ele está sempre zangado,

Parece que a faz em postas,Parece que a faz em postas,

E ela com a roupa às costas,E ela com a roupa às costas,

Cumpre assim o triste fado.Cumpre assim o triste fado.

Ele é muito bem creado,Ele é muito bem creado,

Já se sabe, é bôa teca,Já se sabe, é bôa teca,

Para afinar a rabéca,Para afinar a rabéca,

Ela bebe à valentona,Ela bebe à valentona,

Querem óleo de mamôna,Querem óleo de mamôna,

O Arrobas e a Marréca.O Arrobas e a Marréca.

É bonito vê-los juntinhos,É bonito vê-los juntinhos,

Quando estão satisfeitos,Quando estão satisfeitos,

Parecem amôres perfeitos,Parecem amôres perfeitos,

São tal qual dois pombinhos.São tal qual dois pombinhos.

Dois pingentes, coitadinhos,Dois pingentes, coitadinhos,

De interesse palpitante,De interesse palpitante,

É um quadro mirabolante,É um quadro mirabolante,

Visto pelo telescópio,Visto pelo telescópio,

Puro tabaco sem ópio,Puro tabaco sem ópio,

É um par mui interessante.É um par mui interessante.

Page 22: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

Uma bomba de metralha,Uma bomba de metralha,

É que eles estão a pedir,É que eles estão a pedir,

Faz-me lembrar a sorrir,Faz-me lembrar a sorrir,

O Caldinho e a Esgalha.O Caldinho e a Esgalha.

Quando ele com ela ralha,Quando ele com ela ralha,

Um p´ró outro dizem motes,Um p´ró outro dizem motes,

Até às vezes dão pinotes,Até às vezes dão pinotes,

Fazendo grande arraial,Fazendo grande arraial,

É este lindo casal,É este lindo casal,

De Setúbal as mascotes.De Setúbal as mascotes.

Talvez na Exposição,Talvez na Exposição,

Eles ganhassem o prémio,Eles ganhassem o prémio,

Se fossem ao baile ao Grémio,Se fossem ao baile ao Grémio,

Faziam grande vistão.Faziam grande vistão.

Anda sempre no balão,Anda sempre no balão,

Este par assim galante,Este par assim galante,

Dá um gesto cativante,Dá um gesto cativante,

A esta nobre cidade,A esta nobre cidade,

Porque eles na verdade,Porque eles na verdade,

Fazem um conjunto brilhante.Fazem um conjunto brilhante.

Quem quizer felicidade,Quem quizer felicidade,

P´ra viver sem se ralar,P´ra viver sem se ralar,

Um conselho lhes vou dar,Um conselho lhes vou dar,

De mui grande utilidade.De mui grande utilidade.

Será feliz, na verdade,Será feliz, na verdade,

De afiançar me gabo,De afiançar me gabo,

E por vos dizer acabo,E por vos dizer acabo,

O meu pensar não é falho.O meu pensar não é falho.

Habilitae-vos no Carvalho (*)Habilitae-vos no Carvalho (*)

Mais conhecido p’lo Diabo.Mais conhecido p’lo Diabo.

(*) - (*) - António Augusto de Carvalho, de alcunha “O Diabo”, meu Tio-Avô António Augusto de Carvalho, de alcunha “O Diabo”, meu Tio-Avô paterno,paterno,

que era dono de uma casa de lotarias, em Setúbal.que era dono de uma casa de lotarias, em Setúbal.

Page 23: O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA

(Música de Fado de Autor (Música de Fado de Autor desconhecido)desconhecido)

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