o plastico verde

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SEGUNDA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2010 ANO 1 Nº 30 O plástico O plástico A Braskem inaugura sexta-feira, em Triunfo (RS), sua planta de polietileno verde, a primeira do mundo a produzir em grande quantidade e a baixo custo o plástico de origem renovável. O Nosso Mundo mostra, nesta edição especial, a cadeia econômica e científica que a nova fábrica da empresa passa a movimentar a partir de agora JULIANA BUBLITZ A partir desta sex- ta-feira, dia 24, o Rio Grande do Sul dá um gran- de salto rumo à sustentabilidade. Depois de um ano e quatro meses em obras, começa a operar, no Po- lo Petroquímico de Triunfo, a cerca de cem quilômetros de Porto Alegre, a primeira fábrica do mundo capaz de produzir o polietileno verde – apelidado de plástico verde – em escala industrial. Amparada no que há de mais moderno no setor, a Braskem passa a transformar o etanol da cana-de-açúcar em resina para produtos plásticos. Como resultado, a empresa al- ça o Estado à categoria de pro- tagonista mundial na produção de polietileno com matéria- prima 100% renovável – uma tecnologia que desperta o inte- resse de empresários, gestores públicos e pesquisadores ao redor do planeta. Embora os passos para a produção do polie- tileno a partir do etanol fossem conhecidos há pelo menos quatro décadas, a Braskem des- cobriu a fórmula certa para dar ao produto um grau de pureza inigualável e a capa- cidade de originar qualquer tipo de material plástico. Isso faz com que a planta gaúcha seja não apenas pioneira, mas também sirva de modelo para as outras que, muito provavel- mente, começarão a ser cons- truídas no país e no Exterior. Explore, nesta edição do Nosso Mundo, os detalhes da unidade que será inaugurada em Triunfo, além de panora- ma do etanol no Brasil e as perspectivas do passo além que está sendo dado no setor plástico – o desenvolvi- mento do polie- tileno renovável, resina utilizada em produtos que exigem mais resistência, co- mo partes internas de veículos, geladeiras e mi- cro-ondas. Tudo isso para dar à novi- dade a solenidade que merece: nasce hoje, afinal, o plástico verde gaúcho. [email protected] Unidade gaúcha servirá de modelo para a construção de fábricas de eteno verde Edição: Anna Martha Silveira > Produção: Mariana Müller > (51) 3218-4793 > Reportagem: Juliana Bublitz > E-mail: [email protected] > Arte: Gonza Rodriguez > Diagramação: Norton Voloski ZERO HORA da cana da cana Especial

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Page 1: O plastico verde

SEGUNDA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2010 ANO 1 Nº 30

O plásticoO plásticoA Braskem inaugura sexta-feira, em Triunfo (RS), sua planta de polietileno verde, a primeira do mundo a produzir em grande quantidade e a baixo custo o plástico de origem renovável. O Nosso Mundo mostra, nesta edição especial, acadeia econômica e científica que a nova fábrica da empresa passa a movimentar a partir de agora

JULIANA BUBLITZ

Apartir desta sex-ta-feira, dia 24,o Rio Grande doSul dá um gran-de salto rumo

à sustentabilidade. Depois de um ano e quatro meses em obras, começa a operar, no Po-lo Petroquímico de Triunfo, acerca de cem quilômetros dePorto Alegre, a primeira fábrica do mundo capaz de produziro polietileno verde – apelidado de plástico verde – em escala industrial.

Amparada no que há de mais moderno no setor, aBraskem passa a transformar o etanol da cana-de-açúcar em resina para produtos plásticos. Como resultado, a empresa al-ça o Estado à categoria de pro-tagonista mundial na produção

de polietileno com matéria-prima 100% renovável – umatecnologia que desperta o inte-resse de empresários, gestores públicos e pesquisadores aoredor do planeta.

Embora os passos para aprodução do polie-tileno a partir do etanol fossemconhecidos háp e l o m e n o s quatro décadas,a Braskem des-cobriu a fórmulacerta para dar ao produto um grau de pureza inigualável e a capa-cidade de originar qualquer tipo de material plástico. Isso faz com que a planta gaúcha seja não apenas pioneira, mastambém sirva de modelo para as outras que, muito provavel-mente, começarão a ser cons-

truídas no país e no Exterior.Explore, nesta edição do

Nosso Mundo, os detalhes da unidade que será inauguradaem Triunfo, além de panora-ma do etanol no Brasil e as perspectivas do passo além

que está sendo dado no setor plástico

– o desenvolvi-mento do polie-tileno renovável, resina utilizadae m p r o d u t o s

que exigem mais re s i s t ê n c i a , co -

mo partes internasde veículos, geladeiras e mi-cro-ondas.

Tudo isso para dar à novi-dade a solenidade que merece: nasce hoje, afinal, o plásticoverde gaúcho.

[email protected]

Unidade gaúchaservirá de

modelo para a construção

de fábricas deeteno verde

Edição: Anna Martha Silveira > Produção: Mariana Müller > (51) 3218-4793 > Reportagem: Juliana Bublitz > E-mail: [email protected] > Arte: Gonza Rodriguez > Diagramação: Norton Voloski

ZERO HORA

da canada cana

Especial

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A MATÉRIA-PRIMA

Com cerca de 1% do território ocupadopor lavouras de cana-de-açúcar, o Brasil os-tenta o segundo lugar

no ranking dos maiores produto-res mundiais de etanol, que este ano deve somar aproximadamente 30 bilhões de litros no país.

Enquanto o Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimentoaposta na duplicação desse poten-cial em um prazo de 10 anos, cien-tistas já trabalham para desenvol-ver a segunda geração do produto– o etanol celulósico.

A ideia é produzir o cobiçado biocombustível, cuja demandacresce a cada dia no mercado glo-bal, a partir de restos da indústria madeireira, como galhos finos de eucalipto, e também de casca de arroz, de bagaço da cana e de ou-tros resíduos agrícolas. Materiais que muitas vezes não são aprovei-tados e acabam no lixo ou simples-mente são queimados.

– Temos muito a ganhar comessa evolução. Para se ter uma ideia, só com o uso do bagaço dacana, será possível elevar em 30% ou 40% a produção de etanol semter de aumentar as plantações– explica o chefe de Comunicação e Negócios da Embrapa Agroener-

gia, José Manuel Cabral.A alternativa vem sendo alvo de

estudos na entidade há cerca de três anos, inclusive com parcerias externas. No mesmo caminho,estão órgãos como o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologiado Bioetanol, do Ministério de Ci-ência e Tecnologia, e a Petrobras.

Disposta a manter o país à frente quando o assunto é etanol, a gigan-te brasileira de combustíveis acabade assinar um contrato com a KLEnergy Corporation (KLE) paraaperfeiçoar a tecnologia de obten-ção do produto – que já vem sendo estudada por técnicosda Petrobras desde 2004. Os testes na planta da KLE, emUpton (EUA), devemtranscorrer até o início de 2011.

– O que a gente quer é ter a vanguarda nessa área.Nossa meta é desenvolver, no Brasil, a primeira unidade indus-trial do mundo capaz de produziretanol celulósico – adianta o gaú-cho João Norberto Noschang Neto, gerente de Gestão Tecnológica daPetrobras Biocombustível.

Se tudo der certo e as metasforem atingidas, Noschang Neto acredita que o projeto poderá estar concretizado em 2013.

Especialistas investem na pesquisa parao desenvolvimento do etanol celulósico

Uma segundageração parao etanol

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OS NÚMEROSNO BRASIL

O Brasil é o

segundo maiorprodutor de etanol do mundo, atrás

somente dos Estados Unidos

A área plantada de cana-de-acúcar no Brasil, de acordo com dados da

Embrapa Agroenergia, é de

8 milhões de hectares, cerca de 1% do

território brasileiro

Neste ano, pelas estimativasdo Ministério da Agricultura, aprodução deve ficar perto dos

30 bilhõesde litros

Na cadeia produtiva da cana-de-açúcar, do açúcar e do etanol,

trabalham, diretamente, cerca de 1 milhão de pessoas. E, indiretamente, outras

2,5 milhõesPara 2020, as projeções são

mais do que otimistas: a produçãopode atingir

63 bilhõesde litros de etanol

O uso do bagaço da cana permitirá

elevar em cerca de 35% a produção de

etanol sem aumentaras plantações

OS GANHOS

Com o caldo de umatonelada de cana, épossível obter, em

média,

86 litros de etanol

Se esses 135 quilosforem processados para

a obtenção do etanol celulósico, pesquisadores

calculam um ganho de mais 36 litros do produto,

somando, ao final,

122 litros

Ao final daprodução,

costumam sobrar cerca de

135quilos

de bagaço seco

Isso significa que, ao utilizar o bagaço da cana, obtém-se

uma média de

41,8% a mais do produto sem ter de ampliar as plantações já

existentes

FOTOS NO DETALHE: CLAUDIO GOTTFRIED, ALMIR DUPONT, ROBERTO SCOLA E FERNANDO GOMES

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O vigor de umagigante verde

A PLANTA DE TRIUNFO

Quando a planta da Braskemfor oficialmente inauguradana sexta-feira, em Triunfo, milhares de litros de etanol já estarão percorrendo as

2,1 mil toneladas de tubulações que com-põem a gigante do plástico verde.

O vigor na produção tem motivo: antes mesmo do término das obras, nada me-nos do que 70% da produção anual – es-timada em 200 mil toneladas – já estavamcomercializados.

A tendência, segundo o diretor de Em-preendimentos da empresa, Guilherme Guaragna, é que a procura pela resina au-mente ainda mais daqui para frente. E aprincipal explicação para isso é de ordem

ambiental. Países da União Europeia jáassinaram um acordo para que, até 2030,pelo menos 30% da energia e das maté-rias-primas usadas no território tenham como base fontes renováveis.

Isso significa que, enquanto os deriva-dos do petróleo estão com os dias conta-dos, alternativas como o plástico verde daBraskem são cada vez mais valorizadas. O grande diferencial da resina feita em solo gaúcho é que ela tem como base acana-de-açúcar. Além de captar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, a plan-ta dá origem a um produto final 100% renovável – uma senha para negócios milionários.

– Temos recebido pelo menos uma con-

sulta por semana de empresas e paísesinteressados em conhecer a nossa fábrica e em receber uma das nossas unidades– diz Guaragna.

Por questões estratégicas, a Braskemmantém em sigilo os planos para o futu-ro. Ainda assim, o diretor não descarta apossibilidade de ampliação da planta de Triunfo, especialmente se o Rio Grande doSul apostar nas plantações de cana – que hoje ainda são insignificantes em compa-ração com as lavouras do Sudeste.

A demanda é tão grande que os467 milhões de litros de etanol que a em-presa pretende utilizar ao longo de um ano inteiro podem, muito em breve, se tornar insuficientes.

Envolveu uminvestimento total de

R$ 500milhões

Levou 16 meses para ficar pronta

Tem potencial para receber eprocessar

467 milhões

de litrosde etanol ao ano

A capacidade deprodução é de

200 mil toneladasanuais de eteno – que origina opolietileno verdepolietileno verde

Tem

3.650 toneladasde equipamentos mecânicos

É composta de

1.109 miltoneladas de estruturas metálicas, 454quilômetros de cabos, 16,6 mil metros cúbicos de concreto e 2,1 mil toneladas de tubulações

Durante as obras, gerou

2,2 mil empregos

Em operação,oferece

cem postosde trabalho

A FÁBRICA

A DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE ETANOL

São Paulo57%

Goiás10%

Minas Gerais 9%

Paraná6%

Demais Estados12%

MatoGrossodo Sul6%

A CANA-DE-AÇÚCAR A LOGÍSTICA NO TRANSPORTE

Para chegar ao TerminalSanta Clara, em Guaíba, as barcaças que vêm dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) percorrem um canal de

três quilômetros até Triunfo. No terminal, o etanol é descarregado para tanques, de onde é transportado por meio de uma tubulação de

4,5 quilômetros até afábrica, onde é armazenado.

50% será feitovia navios e

outros 50%por trens.Caminhões serão utilizados apenasesporadicamente.

Para transportar o etanol comprado das usinas, a Braskem investiu em um

sistema diferenciado, que inclui transporte férreo e naval.

> No Brasil, segundo dados da EmbrapaAgroenergia, a área plantada é próximados 8 milhões dehectares.

> A expectativa é deque a safra 2010/2011chegue a 651,5 milhões de toneladas– um aumento de 7,8% em relação aoperíodo anterior.

> Estima-se que osetor empregue500 mil pessoas na atividade, 140 milapenas no Estado de São Paulo.

> Depois de colhida, acana é vendida parausinas de etanolespalhadas pelo país.

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AÇÃO

OS NÚMEROS

> Para o transporte naval, um navio fará de duas a três viagens por mês.

> Para o férreo, 11 vagões farão otransporte por dia, ao longo de cerca de

1,1 mil quilômetros de trilhos.

De onde vem e para ondevaio plástico verde

A COLHEITA DA PLANTAÇÃODepois que a cana-de-açúcar tiver crescido e sugado bastante CO2, ela é colhida. Quanto maiscana, melhor.Sorte que o Brasil é um dos países que mais a cultivam: a área plantadaé 170 vezes o tamanho de Porto Alegre!

A PLANTAÇÃODA CANAO primeiro passo na pro-dução do plástico verdeé a plantação da cana.Enquanto cresce, a planta recebe energia do sol, su-ga do ar um gás chamado dióxido de carbono (CO2) e produz oxigênio – é a fotossíntese. Você deve ter visto na escola: o CO2, em excesso, faz mal para oambiente. É um dos responsáveis pelo efeito estufa.

O CAMINHO PARA A USINADepois de ser colhida, acana é levada para umausina para ser transfor-mada em etanol (álcool). É aí que começam as mudanças que darão ori-gem ao plástico verde.

A CANAVIRA ETANOLNa usina, a cana é moídaem uma máquina. O cal-do que sobra é separadoe passa por uma fermen-tação, que é um tipo de transformação química.O resultado dela é o eta-nol (ou álcool), a subs-tância usada para fazer oplástico verde e um mon-te de outras coisas – de cachaça a perfume.

O ETANOLVIRA ETENODepois, o etanol precisa passar por mais umatransformação para viraruma outra substância, chamada eteno. Para isso, é levado para o PoloPetroquímico, em Triunfo,num lugar chamado Uni-dade de Insumos Básicos,onde entra em um monte de tubos. Neles, o etanolé aquecido e se transfor-ma no eteno, usado para fazer o plástico.

O ETENO VIRAPOLIETILENOPara virar plástico verde,o eteno tem de passar por uma última reação química, chamada de polimerização. A partir dessa reação, acontecea transformação do ete-no em polietileno.

A RESINANo fim de tudo isso, opolietileno vira uma resi-na, que tem a forma deum monte de bolinhas deplástico transparentes, do tamanho das bolinhas de sagu.Essa resina é o que dá origem ao plástico verde.

A VENDA DO PRODUTONessa forma de bo-linhas, o plástico é vendido para outrasempresas. Entre elas, estão fabricantes de brinquedos e de em-balagens plásticas detodos os tipos.

A RESINA É TRANSFORMADAQuando a resina chegaà empresa que comprouo plástico verde, ela é mais uma vez trans-formada. Para isso, éaquecida e recebe ou-tras substâncias, comoa tinta. Depois que as bolinhas derretem, são colocadas em máquinas para ganhar o formatodesejado.

OS OBJETOS DE PLÁSTICOLogo, logo você vai verpor aí frascos de xampu,potes, carrinhos, bone-cas, pastas escolares e tubos de protetor solar, entre outros objetos, feitos a partir de plástico verde.

> Você sabia que o RioGrande do Sul é o únicolugar no mundo comuma fábrica que produzem grande quantidade o plástico verde?

> Essa fábrica é da Braskem, e ela fica em Triunfo, perto de Porto Alegre.

> Se você nunca ouviu falarem plástico verde, é bomficar ligado: esse é o nome que os cientistas deram para

um tipo de plástico diferente,feito de uma substância chamada etanol.

> O etanol vem da cana-de-açúcar. Ele também temo nome de álcool e estápresente na cachaça, no vinho e na cerveja.

> Pois os cientistas tiveram aideia de usar essa substância para inventar um jeito novo de fazer plástico, menos agressivo ao ambiente.

> A maior parte dos queexistem é feita de petróleo. Só que o petróleo, que fica embaixo da terra, um dia vaiacabar. Ele também é usadopara outras coisas – até parafazer gasolina.

> O uso do petróleo virou um problemão. Quandoas pessoas começaram a sedar conta de que o petróleo não é infinito, apareceram pesquisas para encontraralternativas.

> Foi assim que surgiu oplástico verde. Na verdade, ele não ganhou esse nome por ser verde, mas por ser maisecológico.

> Sabe por quê? Porque eleé feito da cana-de-açúcar, que, para crescer, suga doar um gás chamado dióxido de carbono, o mesmo que sai dos canos de descargados carros, das chaminésdas fábricas e até da nossa respiração.

> Esse gás é invisível, mas em excesso faz mal ao ambiente. Ele está deixandoo planeta mais quente.

> Os cientistas dizem queo plástico verde é 100% renovável, já que é feito de uma planta, que continuanascendo, e não de petróleo.

> Veja, abaixo, como o plásticoverde é feito. Recorte e levepara a aula de Ciências. Seus colegas vão gostar!

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Depois de desvendara fórmula exata para produzir em escalaindustrial o polietile-no 100% renovável, a

Braskem investe agora na versão verde de um outro polímero, comum nome semelhante e centenas de aplicações.

Trata-se do polipropileno verde – ou PP verde –, uma resina ainda mais resistente a impactos, ideal para revestir peças de veículos e ele-trodomésticos.

Disposta a tornar realidade a pro-dução em grandes proporções do PPverde e a ampliar ainda mais o leque de produtos sustentáveis, a Braskemfirmou convênio de R$ 9 milhões com a Unicamp e com a Fundaçãode Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) em 2008. Desde então, pes-

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AS APLICAÇÕES O polipropileno éuma resina cujascaracterísticassão o baixo custo, a alta resistência ao impacto e à fratura por flexão ou fadiga, e a facilidade de coloração emoldagem. É encontrada em produtos da linhabranca, em partes internas e externasde carros, materialde construção civil, brinquedos, copos descartáveis, canetasesferográficas,recipientes para alimentos e remédios, entre outros.

O POLIPROPILENO VERDE (PP VERDE)Embora seja possível obter polipropileno verdepor meio de processos químicos e bioquímicos, os custos ainda são considerados muito altos. Para descobrir uma forma de produzir a resina em escala industrial, a baixo custo e com alta eficiência, a Braskem fechou parcerias comuniversidades, empresas e laboratórios. O processo ainda está em desenvolvimento.

> O polietileno é formado por moléculas

de eteno, que temapenas dois carbonos.

> É muito usado em embalagens flexíveis

para alimentos.

> Em termos químicos, o polipropileno é composto por várias moléculas de propeno,

todas com três carbonos. > É mais resistente a impactos.

> É ele que está nos para-choques dos carros.

(C2H4)n(C3H6)nA DIFERENÇA ENTRE O POLIPROPILENO E O POLIETILENO

xA PRODUÇÃO DO PP VERDE

A melhor forma de produzir PP verde ainda está sendo pesquisada. De um modo geral, a produção segue a seguinte lógica:

No laboratório,cientistas isolamum determinado micro-organismo,que pode serlevedura, bactériaou fungo

Esse micro-organismo émodificado geneticamente para que fiqueapto a produzirpropeno

Depois de modificado, ele é colocado emcontato com umasolução que contenha glicose. Ela pode ser, entre outras opções, o caldo de cana

A partir do momento em que entra em contato com oaçúcar, do qual se alimenta,o micro-organismo passa a produzir o propeno, formado por três moléculasde carbono

Váriospropenos juntos formamo polipropileno,nesse caso, de origem 100%renovável

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quisadores trabalham para encontrar a maneira mais barata e eficaz de tornar o projeto realidade.

Para acelerar oprocesso, no iníciodeste mês, a Braskemanunciou uma novaparceria. Desde o dia 1°,estudiosos da empresa e da Unicamp contam com a es-trutura e o conhecimento dos cien-tistas do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (LNBio), em Campinas.

– Estamos buscando uma novatecnologia, que seguramente será uma ruptura de paradigmas – afir-ma o diretor de Competitividade e Inovação da Divisão Polímeros da Braskem, Antônio Queiroz.

O desafio imposto nada tem de

modesto. Há dois anos, se-gundo o professor Gon-

çalo Guimarães Perei-ra, chefe do Departa-mento de Genética da Unicamp, os cientistas isolam microorganis-

mos vivos e alteramseus genes para que pas-

sem a produzir propeno – cujas moléculas compõem o

polipropileno.– Com a ajuda da biotecnologia,

estamos criando novos organis-mos com a capacidade de fazer produtos renováveis que a nature-za, até então, não era capaz de fazer – explica Pereira.

A expectativa da Braskem é que,em até cinco anos, o processo esteja desvendado e possa ser, finalmente, aplicado em escala industrial.

Na comparaçãoentre polietileno e polipropileno,

ninguém saiganhando. Os dois são aplicados em

produtos diferentes

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Nossa espécie tem evoluídobuscando formas de oferecer uma qualidade de vida cada vez melhor para as pessoas. Mas a forma de evolução tecnológica esocial escolhida nos levou a ummodelo que ultrapassou os limi-tes da capacidade do planeta de prover recursos. Cálculos do Glo-bal Footprint Network indicam que isso aconteceu em meados da década de 80. Felizmente, cadavez mais pessoas e organizaçõestêm buscado contribuir para asolução desse problema tão com-plexo. Em 2002, 10 anos após aEco-92, Conferência Mundial do Meio Ambiente, um dos pontosdestacados pelas lideranças glo-bais foi a necessidade de novos padrões de produção e consumo.

A questão é que os países em desenvolvimento, como o Brasil,precisam ainda melhorar a con-dição de vida média de sua po-pulação. Portanto, a tendência do consumo aqui é aumentar. Man-tidos os mesmos paradigmas de desenvolvimento, o problema tende a se agravar. Precisamos de melhorias revolucionárias. Por outro lado, como estamos em plena fase de crescimento, temos uma chance de escolha: copiar ou criar. Copiar o que vínhamos fazendo ou o que os países de-senvolvidos fizeram. Ou criar as novas formas.

O polietileno (PE), um produtoquímico, é a resina termoplásticamais produzida no mundo, feitaa partir de frações de petróleo ou gás natural. É matéria-primapara produzir produtos plásticoscomo embalagens, utilidadesdomésticas, tubulações. Foi sin-tetizado na década de 30, mas acaba de ser recriado no Brasil, com o nome de PE Verde. Com tecnologia brasileira, aproveitan-do as potencialidades brasileiras,a Braskem acaba de partir sua primeira fábrica para produzir o PE Verde.

É verde porque é um biopo-límero produzido com matériaprima renovável: o mesmo etanol

que utilizamos nos nossos carrosestará se transformando em umsólido útil para a vida moderna.E é por isso que ele é verde, mais uma vez, pois o crescimento dacana-de-açúcar só é possível com a absorção de gás carbônico através da fotossíntese. E esse gás,que está provocando as mudan-ças climáticas do nosso planeta, acaba se transformando em ál-cool e agora em plástico. O que era gás virou sólido. Dessa for-ma a produção de uma tonelada de PE verde acaba contribuindopara o sequestro de até 2,5 tone-ladas de CO2. Como a produção anual desse produto na Braskem será de 200 mil toneladas, pode-se afirmar que a empresa estarácontribuindo para o sequestro de meio milhão de toneladas de gases efeito estufa ao ano. Isso equivale a plantar e manter cerca de 700 mil árvores por ano.

Mas esse produto é apenas o primeiro passo. No Brasil, utili-zamos apenas 19% da terra ará-vel disponível e apenas 1% paraa plantação de cana de açúcar, segundo a Companhia Nacio-nal de Abastecimento (Conab) e a União da Indústria da Canade Açúcar (Única). Antes dizí-amos que o Brasil poderia setornar o celeiro do mundo. Com a integração entre a química e abiotecnologia, podemos ir muitoalém. Com base na biomassa que produzimos em nossos campos, podemos construir uma novaera. A era dos bioprodutos que, se cuidarmos adequadamente dos nossos recursos naturais edo nosso clima, poderão repre-sentar nosso moto-perpétuo ma-terial. Aquele que nunca acaba.

A Braskem entende que ino-vações direcionadas para forta-lecer os diferenciais comparati-vos brasileiros poderão colocarnossa indústria em posição de destaque no mundo e, ao mes-mo tempo, contribuir para o de-senvolvimento sustentável. Umanova forma de ver o Brasil e o mundo.

A PALAVRA

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UM VERDEEMBLEMÁTICO

JORGE SOTO é diretor deDesenvolvimento Sustentável da Braskem

SAIBA MAIS

Ainda restam questões sobre o polietileno verde?Confira se a resposta está aí embaixo:

Tira dúvidas sobreo novo plástico

O que diferencia o plástico verde é amatéria-prima usada na sua produção.Ao contrário do plástico tradicional, feito de petróleo ou gás natural, o polietileno verde é feito principalmente de cana-de-açúcar. A grande vantagem

é que a cana retira gás carbônico – ou dióxido de carbono (CO2) – do ar para se desenvolver. E esse gás éum dos causadores do efeito estufa, responsável pela elevação datemperatura do planeta.

POR QUE UM PLÁSTICO É “VERDE” E O OUTRO NÃO?

Nada. Uma das vantagens do polietileno verde é ser usado da mesma forma que o tradicional. Não é necessáriaadaptação de máquinas ou de processos de produção.

Com o aumento das preocupações climáticas e dos investimentos em sustentabilidade, a empresa viu uma oportunidade. A liderança do Brasil na produção de etanol a custo relativamente baixo e experiências anteriores com a transformação de álcool em plástico ajudaram.

Não. Isso significa que o tempo de

decomposição do plástico verde é o mesmo

do comum, de algumascentenas de anos.

Retirar dióxido de carbono da atmosfera por meio da plantação de cana-de-açúcar. Cada tonelada de plástico verde produzido sequestra efixa até 2,5 toneladas de CO2.

O eteno verde foi desenvolvidono Centro de Tecnologia eInovação de Triunfo. Com a compra das unidades da Ipiranga, a Braskem ganhou espaço paracolocar em operação com rapidez a primeira produção de resina 100% renovável e certificada.

A Braskem é a maior produtora de resinas termoplásticas das Américas. Com 29 plantas industriais distribuídas pelo Brasil e pelosEstados Unidos, a empresa produz anualmente mais de 15 milhões de toneladas do produto e de outras variedades de petroquímicos.

POR QUE A BRASKEM INVESTIUNO PLÁSTICO VERDE?

A RESINA VERDE É BIODEGRADÁVEL?

ENTÃO, QUAL É A VANTAGEM?

POR QUE O ESTADO FOI ESCOLHIDO?

O QUE MUDA NA TRANSFORMAÇÃODA RESINA NO PRODUTO FINAL?

CO2

FOTOS NO DETALHE: GERALDO FALCÃO, PETROBRAS, DIVULGAÇÃO PAULO JARDIM, DIVULGAÇÃO

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