o plano cruzado visto através das charges - gestão escolar · com travestis, o que foi...

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O Plano Cruzado visto através das charges Professora Lúcia Maria Siqueira de Oliveira 1 RESUMO O presente trabalho é o resultado de pesquisa realizada durante o projeto PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, desenvolvido pela SEED-PR em parceria com a UEL – Universidade Estadual de Londrina. Objetiva subsidiar os professores na utilização de recursos imagéticos no ensino de História, através da leitura e interpretação de charges, um instrumento que utiliza o verbal e o não-verbal na aquisição de sentidos e significados, analisando-a como pertencente a categoria texto, evidenciando a viabilidade de seu uso no processo de leitura, interpretação e produção de texto em sala de aula, visando resultados mais significativos no processo de aquisição de conhecimentos por parte dos alunos. A charge, pela sua característica humorística, atrai a atenção dos alunos que, ao estudá-la, desenvolverão uma visão crítica a respeito do assunto que a charge aborda e, ao mesmo tempo, trabalhará a linguagem de uma forma geral. Utilizar a charge em sala de aula, é um convite ao maior interesse por parte dos alunos e, portanto, sucesso tanto em aprendizagem quanto em socialização de conhecimentos. Palavras-Chave: História. Plano Cruzado. Charge. Leitura. Texto. 1 Professora da rede pública do Estado do Paraná na disciplina de História e Pedagogia. Pós- graduada em História pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho – Paraná e Especialização em Educação Patrimonial pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Selecionada para participar da 1ª turma do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

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O Plano Cruzado visto através das charges

Professora Lúc ia Mar ia S iquei ra de Ol ive ira 1

RESUMO

O presente t rabalho é o resul tado de pesquisa rea l izada durante o projeto PDE – Programa de Desenvolv imento Educacional , desenvolv ido pela SEED-PR em parcer ia com a UEL – Univers idade Estadual de Londr ina. Objet iva subs id iar os professores na ut i l ização de recursos imagét icos no ens ino de Histór ia , através da le i tura e interpretação de charges, um instrumento que ut i l iza o verba l e o não-verba l na aquis ição de sent idos e s igni f icados, ana l isando-a como pertencente a categor ia texto , ev idenciando a v iabi l idade de seu uso no processo de le i tura , interpretação e produção de texto em sa la de aula , v isando resul tados mais s igni f icat ivos no processo de aquis ição de conhecimentos por parte dos a lunos. A charge, pe la sua caracter ís t ica humor ís t ica , atra i a atenção dos a lunos que, ao estudá- la , desenvolverão uma v isão cr í t ica a respeito do assunto que a charge aborda e, ao mesmo tempo, t rabalhará a l inguagem de uma forma gera l . Ut i l izar a charge em sa la de aula , é um convite ao maior interesse por parte dos a lunos e , portanto, sucesso tanto em aprendizagem quanto em soc ia l ização de conhecimentos .

Pa lavras-Chave: His tór ia . P lano Cruzado. Charge. Le i tura . Texto.

1 Professora da rede pública do Estado do Paraná na disciplina de História e Pedagogia. Pós-graduada em História pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho – Paraná e Especialização em Educação Patrimonial pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Selecionada para participar da 1ª turma do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

Abstract

This work is the resul t of the research conducted dur ing the project EDP - Educat iona l Development Program, developed by SEED-PR in partnership wi th UEL - State Univers i ty of Londr ina. Ob ject ive to subs id ize teachers in the use of the imaging resources in the teaching of His tory, through reading and interpretat ion of cartoons, an instrument that uses verba l and non-verba l in the acquis i t ion senses and of meanings Cons ider ing i t as be long ing to category text , demonstrat ing the feas ib i l i ty of i ts use in the process of reading, interpretat ion and text product ion in the c lassroom, po int ing the most s igni f icant resul ts in the process of acquir ing knowledge f rom the students . The cartoons, by i ts character is t ic humor, att ract the attent ion of the students that , studying i t , wi l l develop a cr i t ica l v iew about the subject that the cartoon shows and at the same t ime, i t wi l l work the language in a genera l way. Us ing the charge in the c lassroom, is an inv i tat ion to greater interest among students and therefore successfu l both in learn ing and in soc ia l izat ion of knowledge.

Keywords: h is tory. Crossed P lan. Cartoon. Reading. Text

INTRODUÇÃO

Este estudo parte de um trabalho que cons is t iu na

apl icação de le i tura e interpretação de charges nas aulas de

Histór ia , entre os a lunos do terce i ro ano do Ens ino Médio, do

Colég io Estadual Jú l ia Wander ley – EFM, Jabot i - PR.

Cons iderando a grande atração que a charge susc i ta nos

jovens e também a d ivers idade de le i turas que envolve seu

universo, entendemos que a charge é um instrumento que

ut i l iza a imagem para chamar a atenção do le i tor e também não

deixa de ut i l izar a l inguagem com propós i tos especí f icos e

intenc ionais , de ixando de ser neutra .

Este t rabalho fo i rea l izado no per íodo re ferente a um

tr imestre. No in íc io pretendeu-se fazer uma sondagem sobre o

que os a lunos entendiam sobre charge. Ut i l ize i em sa la de aula

duas charges d is t intas . Uma sobre um assunto recente muito

fa lado na míd ia . O envolv imento do jogador Ronaldo Fenômeno

com travest is , o que fo i imediatamente ident i f icado e

fac i lmente interpretado pelos a lunos. Para le lamente fo i

co locada uma charge do pres idente Lula puxando uma

tartaruga, como se e la fosse um cachorro – Os a lunos

ident i f icaram os personagens mas, não conseguiram assoc iar a

imagem aos fatos . Colet ivamente fomos revendo os fatos o que

levou a uma interpretação correta da imagem. A part i r da í ,

f icou c laro que a charge trás uma s igni f icação impl íc i ta em sua

i lustração e que é prec iso estar por dentro do contexto em que

e la está inser ida para que se possa fazer uma le i tura adequada.

É importante ressa l tar que o processo de le i tura envolve

t rês momentos: decod i f icação, compreensão e interpretação. A

decodi f icação pressupõe aprender as correspondências que

exis tem entre os sons da l inguagem e os s ignos que os

representam ou os s ina is não l ingü íst icos como, por exemplo, as

i lustrações que as charges t razem, e respect ivas referências

que a e las devem ser incorporadas a part i r do contexto, da

s i tuação d iscurs iva. Portanto , para ler necess i tamos, a lém de

manejar com agi l idade as habi l idades de decodi f icação, levar

ao texto nossos conhecimentos . Já a compreensão envolve a

construção de s igni f icado para o texto. Quanto mais

informações possuir o a luno sobre o texto que va i ler , mais

fac i l idade terá em constru i r as interpretações poss íve is para a

le i tura do texto. Quanto a interpretação, é necessár io formular

a lgumas questões e respondê- las .

Este t rabalho busca, através desse t ipo de le i tura

desenvolver o le i tor cr í t ico capaz de ler não apenas o que está

expl íc i to , mas também aqui lo que não se expl íc i ta nas

entre l inhas do texto.

Após esse contato com a charge e sua s igni f icação ,

in ic iou-se a explanação do assunto em questão, ut i l izando-se de

charges.

Em pr imei ro de março de 1986, o Min is tro da Fazenda

Dí lson Funaro lançou o P lano Cruzado.

O P lano Cruzado teve efe i to imediato de conter a Inf lação

e aumentar o poder aquis i t ivo da população. O pa ís fo i tomado

por um c l ima de eufor ia . Mi lhares de pessoas passaram a v ig iar

os preços no comérc io e a denunciar as remarcações fe i tas . São

os f isca is do Sarney.

Diante das cons iderações ac ima e ref let indo sobre o P lano

Cruzado, faremos um estudo sobre as seguintes questões: Por

que fo i lançado o P lano Cruzado? O P lano Cruzado deu certo?

Os estudos que compõem este t rabalho para uma nova

re f lexão dos efe i tos (pos i t ivos e negat ivos) de ta l P lano sobre

todos os c idadãos bras i le i ros tentam responder a essas

questões .

Podemos encontrar , na l i teratura pert inente aos métodos

a l ternat ivos do ens ino de Histór ia , sugestões propondo o tema

Charge como documento h is tór ico ut i l izável na prát ica

pedagógica no ens ino fundamenta l e médio.

Entender o P lano Cruzado e os aspectos que o mot ivaram,

através das charges é o ob jet ivo deste t rabalho. As charges

aqui ana l isadas são as que compõem os l ivros : P lano Cruzado

Tem Que Dar Certo – vár ios autores .

Focaremos nosso t rabalho nas charges pub l icadas nos

anos 1985 e 1986, no per íodo em que José Sarney assume a

pres idênc ia até o f im do P lano Cruzado I .

Os per íodos enfocados t ratam de momentos de grandes

mudanças na h is tór ia do poder pol í t ico e econômico do pa ís ,

po is o v ice-pres idente assume a pres idênc ia da Repúbl ica

mesmo sem o candidato e le i to pe lo voto indi reto tomar posse

pelo fato de ter fa lec ido antes da mesma e pelo lançamento do

P lano Cruzado que pretendia l iqu idar com a inf lação do pa ís .

Pres idente José Sarney (1985 – 1989) pr imeiro governante

c iv i l depois do Regime Mi l i tar de 1964. José Sarney é e le i to

v ice-pres idente pelo Colég io E le i tora l da Chapa encabeçada por

Tancredo Neves que morre sem ter s ido empossado.

Sarney assume a Pres idência em 15 de março de 1985 e

f ica até 15 de março de 1990.

Ao in íc io de 1986, vár ios fatores contr ibuíram para a

conf iguração de um ambiente nac ional tenso, entre os quais

destacam-se os seguintes : a) a part i r de novembro de 1985, a

inf lação a lcançou índices a larmantes at ingindo 17,8% em

janei ro e 22,4% em fevere i ro ; b) o governo não indicava possuir

resposta ao recrudesc imento in f lac ionár io; c) sucess ivas greves

v inham eclodindo, em uma freqüência à qual a população não

estava mais acostumada. Por outro lado, a expansão econômica

não v inha d iss ipando o sent imento desfavorável em re lação ao

futuro imediato, pa irando o temor de o cresc imento v i r a ser

abat ido pela inf lação.

Sob esse complexo cenár io, fo i anunciado, em 28 de

fevere iro de 1986, o conjunto de medidas conhecido como Plano

Cruzado. Inf lação zero passa a ser a meta. O p lano baseava-se

na neutra l ização do fator inerc ia l de inf lação (desequi l íbr io

monetár io que leva a a l ta gera l de preços e a redução do poder

aquis i t ivo do d inhei ro) , assoc iada ao congelamento de preços e

sa lár ios .

Nova moeda fo i inst i tu ída, o cruzado, cu ja d i ferença em

re lação à ant iga não ser ia apenas o fato de equiva ler a 1000

cruzei ros , mas também o de personi f icar uma economia estável

onde a moeda não se deter iorar ia .

O USO DA CHARGE COMO DOCUMENTO

HISTÓRICO

Atualmente, a preocupação com a importância do

conhec imento h is tór ico na formação inte lectua l do a luno faz

com que um dos objet ivos fundamenta is do ens ino se ja

desenvolver a compreensão h is tór ica da rea l idade soc ia l . Ass im,

compreender a h is tór ia com base nos procedimentos h is tór icos

tornou-se um dos pr inc ipa is desaf ios enfrentados pelo professor

no cot id iano de sa la de aula . Esse desaf io é um passo

interessante na construção de uma prát ica de ens ino ref lex iva e

d inâmica, podendo -se af i rmar que ens inar His tór ia é fazer o

a luno compreender e expl icar , h is tor icamente, a rea l idade em

que v ive. A charge revela-se como um traço da h is tór ia , na

medida em que capta o ocorrer do processo no seu acontecer.

S intet iza o fato regis trando de forma astuc iosa e sagaz a

imagem do seu tempo, legando às futuras gerações o modo de

ver-sent i r-pensar-agir de uma época que o tempo modi f ica .

Registra-se como num instantâneo a v isão popular perante um

fato, um dado aspecto do contexto soc iopol í t ico : reg is tra a

conf luência de ideologias v igentes indic iando uma soc iedade

que se vê, que re f lete e indaga sobre s i própr ia . Traz à luz

aspectos re levantes do cot id iano condensando-os numa única

conf iguração – imagem de impacto – captando o rea l na sua

d inamic idade

Esse ens ino da h is tór ia pressupõe, fundamenta lmente,

que se tome a exper iênc ia do a luno como ponto de part ida para

o trabalho com os conteúdos, pois é importante que também o

a luno se ident i f ique como suje i to da Histór ia e da produção do

conhec imento h is tór ico. (Schimidt & Cainel l i , 2005, p. 49-50) .

Com o desenvolv imento e a expansão de novas l inguagens

cul tura is , como a fotograf ia , o c inema, a te lev isão e a

informát ica os professores t iveram que se adequar as novas

l inguagens e incorporá- las em seu d ia-a-d ia em sa la de aula . É

prec iso cons iderar que, mesmo em países com regimes

democrát icos , em que a educação é um dire i to e a imprensa é

l iv re , a inda estamos suje i to às manipulações po l í t icas e

ideológ icas e , como a mídia ocupa um papel importante na

formação da opin ião públ ica , cabe "também" a esco la o papel

de promover a consc iênc ia cr í t ica dos a lunos d iante dos

acontec imentos pol í t icos e soc ia is not ic iados na mídia . No

ens ino de Histór ia o uso de imagens, tornou-se parte do

cot id iano escolar.

Os textos dos l iv ros , muitas vezes cons iderados pouco

mot ivadores para os a lunos que cada vez mais se informam por

imagens da mídia , podem referenciar uma outra re lação entre

texto e imagem. A imagem não pode ser ut i l izada como uma

s imples i lustração do conteúdo ou re forçar um texto escr i to ou

a fa la do professor. É necessár io também, levar em

cons ideração que a natureza do documento imagét ico é

d i ferente da do documento escr i to. São informações de

natureza d i ferente, ass im como são d i ferentes os processos

cogn it ivos co locados em jogo nos dois casos . O que o a luno

aprende e como e le aprende através do documento audiov isua l

impl ica levar em cons ideração t rês dados: aqui lo que trata o

documento; o que o a luno domina e o que e le representa no

contexto d idát ico. ( Jacquinot , 1992, p. 72) . Fazer os a lunos

re f let i rem sobre as imagens que lhes são postas d iante dos

o lhos é uma das tarefas da escola e cabe ao professor cr iar

essas oportunidades. A mult ip l icação das tecnologias de

produção e d is tr ibu ição de imagens fez com que as

representações v isua is adquir issem enorme v is ib i l idade e

importância na soc iedade contemporânea. O avanço da

tecnologia permit iu o surgimento de novos gêneros textua is , a

adaptação de a lguns e a evolução de muitos outros . A charge,

que se faz presente desde o in íc io do século XIX, é um gênero

textua l fért i l em intertextua l idade, po is permite ao le i tor fazer

inferências entre o d i to e o não-di to no texto.

As imagens são usadas como processos de representação

e mediação entre o homem e o mundo, sendo ut i l izadas para a

formação de opin ião púb l ica , como comprovação de fatos e para

d i fusão ideológica.

O uso da imagem como documento h is tór ico com os

a lunos da Educação Bás ica é um importante recurso para a

organização dos conceitos h is tór icos .

A s impat ia dos a lunos para com os textos v isua is é

inevi tável , e a charge faz parte desse universo v isua l que os

rodeia . O t rabalho com charge em sala de aula poss ib i l i ta o

desenvolv imento da ora l idade, dá oportunidade para o a luno

expressar o seu pensamento, inst iga a cur ios idade e

co let ivamente produz a interpretação ora l do texto. O gênero

charge art icu la harmoniosamente as duas l inguagens – a verba l

e a não-verba l . E la demonstra que o sent ido dele é constru ído

na osc i lação entre o já -d i to e o não-di to. Propõe-se usar esse

sent ido na sa la de aula , como opção v iável para o ens ino da

le i tura e da interpretação de texto no ens ino de Histór ia .

A charge é um est i lo de i lustração que tem por f ina l idade

sat i r izar , por meio de uma car icatura , a lgum acontec imento

atua l com uma ou mais personagens envolv idas . A pa lavra é de

or igem francesa e s igni f ica carga, ou se ja , exagera t raços do

caráter de a lguém ou de a lgo para torná- lo bur lesco. A charge é

um gênero que l ida com o repertór io d isponíve l nas prát icas

sóc io -cul tura is e imediatas l igando-se sempre ao modo como

um determinado grupo vê o outro. Na sua forma atua l , a charge

mantém viva as t radições express ivas que a compuseram

histor icamente, def in indo-se pela apropr iação e reatua l ização

de d i ferentes l inguagens: a p ictór ica e a teatra l . O humor

gráf ico presente na charge se dá pela rapidez, pe lo exagero dos

t raços e pela s íntese dos fatos , mostrando além da imagem, do

a lvo que pretende at ingi r , uma cr í t ica à rea l idade pol í t ica .

Apresenta ju lgamentos e compreensões que inf luenc iam na

op in ião do le i tor , estabelecendo uma cumpl ic idade cot id iana

entre autor e le i tor num mesmo contexto soc ia l . A compreensão

constru ída a part i r desse p lano inter indiv idual passa para o

p lano intra ind iv idual , fornecendo as bases para a compreensão.

Car icatura é o desenho que exagera propos i tadamente as

caracter ís t icas marcantes de um indiv íduo.

O texto h is tór ico prec isa ser um recurso que desperte a

cur ios idade no a luno. A lgo em que e le encontre sent idos , que

chame a sua atenção. A charge, pode cumprir essa função.

Po is , mais do que um s imples desenho, a charge é uma cr í t ica

po l í t ico -soc ia l onde o art is ta expressa graf icamente sua v isão

sobre determinadas s i tuações cot id ianas através do humor e da

sát i ra . Humor do lat im humore é uma forma de entretenimento

e de comunicação humana, para fazer com que as pessoas r iam

e se s intam fe l izes . As or igens da pa lavra humor assentam-se

na medic ina humora l dos ant igos gregos, que é uma mistura de

f lu ídos , ou humores, contro lados pela saúde e emoção humanos.

O s igni f icado vem do termo grego eut imia , que s igni f ica

equi l íbr io do humor (eu = normal e t imo = humor) .

Sát i ra é uma técnica l i terár ia ou art ís t ica que r id icu lar iza

um determinado tema ( indiv íduos, organizações, estados) ,

gera lmente como forma de intervenção po l í t ica ou outra , com o

ob jet ivo de provocar ou ev i tar mudança.

Uma das caracter ís t icas da sát i ra é a i rreverência . O que

caracter iza a i rreverência sat í r ica é o seu caráter denunciador e

mora l izador. De fato, o objet ivo da sát i ra é atacar os males da

soc iedade, o que deu or igem à expressão lat ina “cast igar os

costumes pelo r iso”. A sát i ra r i de assuntos e pessoas sér ias ,

para denunc iar o que há de podre por t rás da fachada nobre

impingida à soc iedade. O r iso provém do humor e , por isso

mesmo, será a legr ia e ref lexão. Será , pois , como instrumento

“sér io” , já que revelador , que o r iso e o humor pers is t i rão nas

charges, numa forma de defesa, sendo uma af i rmação que nega

e uma negação que af i rma. O r iso, a f i rma Bergson (1938, p.

123) , “é antes de mais nada uma correção”, mas é também uma

“anestes ia no coração: produz a d iversão, produz a re f lexão”.

R iso que nasce a part i r da constatação das contradições

arra igadas no contexto soc iopol í t ico e , portanto, c i f rado nos

seus interst íc ios como poss ib i l idade de v i r à tona. Enquanto

poss ib i l idade, está embut ido nas malhas do interpretante

imediato à espre i ta do resgate pelo interpretante d inâmico que

efet ivamente se t raduz numa ação concreta em resposta ao

s igno.

Sendo o r iso sat í r ico em gera l extremamente sarcást ico, o

grotesco é um dos procedimentos favor i tos do sat i r is ta , que

costuma mostrar a deformação grotesca do corpo do

personagem sat i r izado como uma a legor ia dos seus defe i tos

mora is .

Para entender uma charge não prec isa ser

necessar iamente uma pessoa cul ta , basta estar por dentro do

que acontece ao seu redor. As imagens, em especia l a charge,

devem ser anal isadas como documentos h is tór icos portadores

de s igni f icados soc ia is . A le i tura adequada da imagem por

professores e a lunos, permite conhecer e lementos impl íc i tos e

expl íc i tos re lac ionando -os ao conteúdo estudado.

A l inguagem verbal é um cód igo que ut i l iza pa lavras

fa ladas ou escr i tas . O t ipo de l inguagem, cujo código não é a

pa lavra , denomina-se l inguagem não -verba l , is to é , usam-se

outros cód igos (o desenho, a dança, os sons, os gestos , a

expressão f is ionômica, as cores) . O não-verba l , cada vez mais ,

compart i lha o espaço do verba l não só na míd ia , como em todos

os setores da comunicação, fe i ta para grandes públ icos e dessa

forma, c resce a fami l iar idade desse art i f íc io nas escolas , já que

at inge um grande número de pessoas. A mídia moderna

descobr iu que o que se pode d izer por meio de imagens não

deve ser d i to por meio de pa lavras . A l iás , as pa lavras que

tentam descrever uma imagem, jamais conseguem esgotá- la por

completo. Sendo ass im o t rabalho com a charge não é só um

meio pedagógico para o ens ino da Histór ia , mas também é um

meio de integração com diversas fontes de cul tura e fatores

atua is .Quando se fa la em texto ou l inguagem, normalmente se

pensa em texto e l inguagens verba is , ou se ja , naquela

capacidade humana l igada ao pensamento que se concret iza

numa determinada l íngua e se mani festa por pa lavras . A l íngua

é um código. O código é um conjunto de s ina is ut i l izados para a

t ransmissão de mensagens. O código pode ser verba l quando

ut i l izamos a pa lavra escr i ta ou fa lada e não-verba l quando não

usamos a pa lavra , mas gestos , imagens,etc . Tanto a l inguagem

verbal quanto as l inguagens não-verba is expressam sent idos e ,

para isso, ut i l izam-se de s ignos, com a d i ferença de que, na

pr imeira , os s ignos são const i tu ídos dos sons da l íngua

(desenho, homem, ba lão) , ao passo que nas outras exploram-se

outros s ignos,como as formas, gestos , sons,etc . O texto não-

verba l não é uma cópia f ie l da rea l idade, o produtor do texto

não-verba l , recr ia e t ransforma a rea l idade segundo sua própr ia

concepção. Cons iderando que os s ignos este jam presentes em

textos verba is e não verba is , o processo de anál ise semiót ica é

igua l para as charges e os textos verba is . Prec isamos ver e ler

muito a lém do que sal ta aos nossos o lhos . O t rabalho com o não

verba l que se propõe neste estudo, tem a preocupação de

auxi l iar na prát ica docente e d iscente de produção e incent ivo a

formação de le i tores cr í t icos . Sabemos que a le i tura da charge

em sa la de aula , t rará benef íc ios e incent ivará no a luno o

hábito de ler /escrever, a lém de desenvolver o senso cr í t ico em

re lação ao mundo que o cerca.

A EXPERIÊNCIA COM CHARGE EM SALA

DE AULA

Após vár ios meses de estudos proporc ionados pelo PDE

sobre a le i tura de imagens, no caso especí f ico deste t rabalho –

Charge, ref let i o quanto de mater ia l chárgico fo i produzido ao

longo da h is tor ia até os d ias atua is e como isso poder ia

benef ic iar professores e a lunos na prát ica de uma Histór ia

interat iva , contextua l izada e interdisc ip l inar.

Descrevere i os proced imentos que foram ut i l izados em

sa la de aula para anál ise das charges.

Após fe i ta uma sondagem com os a lunos sobre o que

entendiam sobre charge, como fo i descr i to na introdução desse

t rabalho, passamos para outra etapa.

So l ic i tado previamente para que os a lunos t rouxessem

uma charge para a sa la de aula , que poder ia ser de jorna l ,

rev is tas , internet , entre outros , passamos a fazer à anál ise .

Não poder íamos deixar de c i tar os r isos e os comentár ios que

as charges despertaram nos a lunos pois havia uma completa

interação entre os mesmo. Os a lunos anal isaram seguindo as

seguintes questões:

1) Quem é o autor?

2) É um assunto ou fato recente?

3) Quem são os personagens caracter izados?

4) Qual o lugar representado na charge?

5) O que o chargis ta quer ia i ron izar?

6) O que vocês entenderam?

Todos os a lunos acertaram a questão 1. A questão 2 não

fo i bem interpretada por 6 a lunos que não sabiam o fato que

estava acontecendo. Na questão 3, 6 a lunos não sabiam quem

eram os personagens. Na questão 4, 10 a lunos não sabiam

responder o loca l representado na charge. Na questão 5, todos

os a lunos responderam mas apenas 9 acertaram. Na questão 6,

4 a lunos escreveram não se i , 10 a lunos escreveram o que

entenderam colocando muito da sua exper iênc ia no d ia a d ia , 6

a lunos escreveram adequadamente.

A part i r dessa ver i f icação fo i proposto at iv idades que

poss ib i l i taram aos a lunos a ref lexão cr í t ica dos fatos da

atua l idade pol í t ico – soc ia l – bras i le i ro.

Após rea l izado esse contato dos a lunos com a charge,

in ic iou-se o conteúdo P lano Cruzado seguindo as anál ises das

charges a seguir.

O l ivro PLANO CRUZADO TEM QUE DAR CERTO retrata

através de charges o in íc io do P lano e toda movimentação

po l í t ico, soc ia l e econômica em re lação ao mesmo. O que vemos

é uma proposta d ivert ida que torce para que o P lano Econômico

dê certo. R i -se do e com o P lano cruzado; não contra .

Figura 1.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.6.

Esta charge é de 1985 e mostra a s i tuação de misér ia em

que se encontra o c idadão que esta magro, abat ido,

desanimado, com a barba e o cabelo por fazer , roupa

esfarrapada. A casa está ve lha e em c ima da mesa vemos um

garfo e faca mas não vemos comida.

O recenseador que está bem vest ido e com boa aparência

chega em sua casa e fa la que é uma pesquisa: O sr. pre fere

debate na TV ou show na TV? O c idadão d iz : Eu pref i ro comida

na geladei ra . O que deixa c laro a s i tuação de misér ia em que

se encontrava grande parte da população bras i le i ra .

Figura 2.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.7.

A charge propõe uma metáfora entre o caminhão grande

que representa a inf lação e um carro pequeno que representa o

sa lár io mín imo. Para que o le i tor entenda o sent ido do texto fo i

co locado as legendas in f lação e salár io mínimo. São e las que

nos levam à interpretação do texto. A expressão no rosto do

motor is ta demonstra a i rr i tação do t rabalhador assa lar iado e a

sua fa la : passa por c ima! É a expressão cot id iana do povo

bras i le i ro que tenta sobreviver com o sa lár io mínimo.

As charges do l ivro BRASILEIRAS & BRASILEIROS -

foram todas cr iadas por IQUE. O autor faz uma retrospect iva de

quatro anos de h is tór ia do pa ís : 1985/1986. Neste t rabalho

anal isaremos as charges compreendidas entre os anos 1985 e

1986. A e le ição de Tancredo que nos deixou de herança o

Sarney. E ass im surgiram o b igode, o P lano Cruzado. . .

Figura 3.

IQUE. Bras i le i ras & Bras i le i ros . R io de Janeiro: Lumiar ,1990.

p.11.

Nesta charge aparece Tancredo Neves dominando o

mundo. Está com a fa ixa pres idenc ia l po is derrotou o candidato

Paulo Maluf nas e le ições pres idencia is de 1985. Foi o pr imeiro

pres idente e le i to indi retamente após a queda da d i tadura

mi l i tar. Tra jando roupa de jogador de futebol , o mundo é uma

bo la que ca irá a seus pés . A expressão em seus o lhos e sua

boca é a de uma pessoa que conseguiu o que pretendia . Está

f lu tuando. . . os pés vest idos com chute i ras tem os ca lcanhares

levantados e o corpo está tombado para f rente, o rosto está

v i rado para o lado porque o mundo está f lutuando na a l tura

de seus ombros.

Figura 4.

IQUE. Bras i le i ras & Bras i le i ros . R io de Janeiro: Lumiar ,1990. p.

12.

Na charge publ icada em 19 de março, Sarney está

apoiando em suas costas o enfermo Tancredo que segura o

papel do d iscurso pres idencia l , está vest ido de branco, com

touca com uma cruz o que evidencia que está em um hospita l a

expressão é melancó l ica , já Sarney está usando terno e

gravata, sorr indo e com os óculos lê o d iscurso de posse.

Figura 5.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.23.

Nesta charge a inf lação é metafor icamente apresentada

como um dragão. O P lano Cruzado passa a ser apresentado

como um "cruzado"o cavale i ro andante que, durante a Idade

Média , lutava em defesa das terras santas . O minis tro da

fazenda Di lson Funaro é representado como o própr io cavale i ro

andante que lutava para combater os inf ié is .

Uma outra interpretação também pode ser fe i ta e que

está mais próxima do senso comum. Funaro ser ia São Jorge,

verdadei ro guerre i ro da fé . São Jorge venceu contra satanás

terr íve is bata lhas , por isso sua imagem mais conhecida é dele

montado em um cavalo branco, vencendo um grande dragão.

Figura 6.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.62.

O P lano Cruzado congela preços e sa lár ios é o que mostra

esta charge em que o pres idente Sarney está fazendo muito

esforço para t rancar o mapa do Bras i l dentro da geladeira . Is to

f ica v is íve l na expressão de seu rosto, na pos ição do seu corpo

e pelas gotas de suor que caem do seu rosto. Está é uma

maneira de congelar os preços e sa lár ios em todo o Bras i l . O

p ingüim em c ima da geladeira fac i l i ta a interpretação.

Figura 7.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.38.

As donas-de-casa t iveram part ic ipação at iva no in íc io do

P lano cruzado. Passaram a f isca l izar os preços e a cobrar dos

estabelec imentos comerc ia is o cumprimento da tabela de

preços . Quando encontravam a lguma i rregu lar idade

denunciavam os inf ratores . É o que mostra esta charge em que

fo i usada uma foto do pres idente que está vest ido t ip icamente

como uma dona de casa: lenço na cabeça e uma caneta atrás

da ore lha para anotar os preços , carrega uma sacola no braço

onde tem uma tabela dentro, vest ido de f lorz inhas com botões

e chinelos . O b igode do pres idente leva-nos a uma ident i f icação

rápida do personagem.

Figura 8.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.74.

O Oscar é o mais famoso e cobiçado tro féu do mundo do

c inema que é entregue aos que mais se destacaram durante o

ano. Esse é o tema dessa charge em que aparecem os 3

pr inc ipa is idea l izadores do P lano Cruzado. O minis tro do

p lanejamento João Saad ganha na categor ia de melhor rote i ro -

fo i um dos idea l izadores do P lano. Na categor ia de melhor ator

o min is tro da fazenda Di lson Funaro ganha o t roféu - coube a

e le representar , interpretar o P lano. O pres idente Sarney

ganha na categor ia de melhor d i retor – pois fo i e le quem dir ig iu

o P lano.

Figura 9.

VENTURA, pre fác io de: Zuenir ; et a l . [ . . . ] . P lano Cruzado: Tem que dar certo. R io de Janeiro: José Olympio , 1986. p.11.

Esta charge representa as v i tór ias bras i le i ras nos

pr imeiros meses de 1986:- O Pacote econômico que estava

dando certo tendo nele o c i f rão do cruzado. - A estatueta do

Oscar representando a v i tór ia dos pr inc ipa is idea l izadores do

P lano. - A taça do GP do Bras i l , rea l izada em Jacarepaguá onde o

p i loto bras i le i ro Nelson Piquet da Wi l l ians-Honda fo i o vencedor.

O pres idente Sarney com punho cerrado e expressão

incent ivadora ao te lefone d iz : - Vamos lá , Te lê . Só fa l ta você!

Está legenda é necessár ia para que o le i tor compreenda o

texto. Estava fa l tando a v i tór ia da se leção bras i le i ra no México

para completar as v i tór ias bras i le i ras e a taça da copa do

mundo i r ia somar-se aos demais t roféus . A se leção bras i le i ra

vo l tou mais cedo para casa, e l iminada , nos pênalt is , pe la

França, nas quarta-de f ina l .

Figura 10 .

IQUE. Bras i le i ras & Bras i le i ros . R io de Janeiro: Lumiar ,1990. p.

33.

Um pres idente bo iadeiro é o que vemos nesta charge de

19 de setembro. O pro longado sumiço da carne dos pratos

bras i le i ros , acentua a inda mais a cr ise de abastec imento

enfrentado pelo P lano Cruzado. Montado em um cavalo preto,

va i aos pastos pegar a laço os bois que estão conf inados nas

fazendas.

Em outro momento, fo i rea l izado com os a lunos uma

of ic ina de confecção de charge.

Pr imei ramente os a lunos manusearam vár ios l iv ros de

charges de autores como: Ique, Paulo Caruso, Chico Caruso,

Aroeira , Reina ldo, NANI . E jorna is com charges de Sassá e

Pa ixão.

Para a confecção de charge fo i ut i l izado o texto – Dicas

para se confecc ionar uma charge, publ icado no jorna l A Tr ibuna

de Santos , em 18 de agosto de 2003.

Com o auxi l io de um monitor pedagógico ( TV Pen Dr ive)

foram anal isadas charges produz idas a part i r de temas de

f i lmes, fábulas , contos de fadas, cu jo o conteúdo era a

somatór ia de humor, i ronia , e cr í t ica .

Após isso , confecc ionaram charges.

Para i lustrar o assunto aqui t ratado postaremos, a lgumas

charges confecc ionadas pelos a lunos.

Figura 1 . In f lação comendo o sa lár io.

Figura 2 . Poupança.

Figura 3 . Pinóqu io.

Figura 4 . Congelamento de preços .

Figura 5 . Sarney.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A le i tura é um processo complexo que envolve não apenas

a pa lavra , mas a imagem e os aspectos mais d iversos do

mundo. Apesar de fazer parte do cot id iano e merecer menção

em documentos inst i tuc ionais sobre educação.

Isso s igni f ica que, para desenvolver o potencia l le i tor dos

a lunos, o professor necess i ta invest i r numa ref lexão e

aperfe içoamento de seu própr io processo de le i tura . A lém da

demanda de invest imento nos estudos colet ivos nas escolas ,

também é desejável , pois , o t rabalho num níve l de formação

cont inuada que favoreça o contato com teor ia , metodolog ia e

prát icas le i toras por parte dos professores .

Sabemos que o desenvolv imento da capacidade le i tora de

imagens é processo árduo, que exige prát ica e sól idas bases

teór icas .

A int imidade com a informação imagét ica depende de

at i tude cur iosa, cr í t ica e perseverante. Para isso, ao uso da

imagem em aula , deve anteceder uma deta lhada pesquisa sobre

a sua autor ia , in formações técnicas de produção, para que

públ ico e uso se dest inam e em qual contexto fo i cr iada, a lém

da le i tura dos e lementos formais e s imból icos que a const i tuem.

De qualquer maneira , é impresc ind íve l que o professor

formule c laramente os ob jet ivos pedagógicos que pretende

a lcançar com a le i tura de forma gera l e com o uso de imagens.

Que tenha em mente os inúmeros enfoques que as imagens

podem prop ic iar e os caminhos interpretat ivos que podem ser

percorr idos durante qualquer le i tura .

Um últ imo aspecto que merece destaque, observado

através da anál ise dos t rabalhos que não a lcançaram

plenamente os ob jet ivos durante a apl icação junto aos a lunos

do Ens ino Médio, é o fato de que imagem e texto verba l não

devem ser d issoc iados. A ret i rada das imagens de seu contexto

e sua le i tura iso lada gera uma l imitação no processo le i tor , que

passa a ser f ragmentado e desconecta e lementos que, juntos ,

compunham a mensagem or ig ina l e contr ibuem para a

construção de sent idos .

Os resul tados do estudo rea l izado apontam que

gera lmente as charges são textos cr í t icos de fatos atua is de

cunho soc ia l em que há a interação entre a l inguagem verbal e

a não verba l para abordar acontec imentos recentes sobre

Histór ia , nesse caso, His tór ia do Bras i l . Desta forma,

conc lu ímos que para haver uma boa interpretação desse gênero

de texto é prec iso conhecer o fato a e le re lac ionado, fazer uma

le i tura das l inguagens e re lac iona- las entre s i , e com o contexto

soc ia l , pois as charges gera lmente são textos tempora is que

nos t ransmitem informações através de uma l inguagem

humorís t ica que poss ib i l i ta uma le i tura breve e d inâmica. Um

outro aspecto importante na ut i l ização de ta is recursos é a sua

prox imidade com o cot id iano, pois estes são gera lmente

encontrados em jorna is e rev is tas , t ratando temas atua is ,

atempora is , d ivert indo e marcando épocas. A lém disso, permite

que o a luno passe a entender a imagem como discurso,

atr ibu indo - lhe sent idos soc ia is e ideológicos .

Constatamos que grande quant idade dos a lunos não

aprendem porque tem di f icu ldade de aprendizagem, mas s im,

porque estão desmot ivados e dessa forma menosprezam o

processo ens ino -aprendizagem trabalhado na esco la ,

percebendo que este não está dentro da sua rea l idade e dos

seus interesses . Cabe a nós professores desmist i f icarmos essa

idé ia , mostrando para o a luno que conhecemos e va lor izamos a

bagagem de conhecimento adqui r ida no seu d ia-a-d ia , no

t rabalho, com os amigos e pr inc ipa lmente na INTERNET.

Constatamos também que se o a luno for seduzido a part ic ipar

do processo de interpretação e anál ise das imagens, no nosso

caso especí f ico a charge, obteremos sucesso. O sucesso vem

quando professor e a luno se envolvem nesse universo dos

d iversos t ipos de conhec imento: o do a luno (ass is temát ico) e o

do professor (s is temát ico) . A d i f icu ldade que o a luno demonstra

ter em re lação a interpretação, aglut inação das l inguagens

verba l e não verba l e da retomada h is tór ica dos fatos e /ou

idé ias subtendidas na charge serão sanadas quando o mesmo

perceber-se como suje i to at ivo e integrante desse processo.

Por isso, t rabalhar com o texto chárgico é , no mínimo,

um desaf io , pois se o a luno pensa e quer nos passar a

impressão de que não é capaz de rea l izar uma le i tura

d i ferenciada, poderá ser est imulado pelo professor , que

certamente, através do d iá logo, da d iscussão co let iva , o levará

a um resultado sat is fatór io. Este poderá ser est imulado também

a buscar informações necessár ias em outros textos que

mantenham re lações com os temas explorados pela charge. Is to

co locado em prát ica poderá ser o in íc io de um processo que o

levará a tornar-se um le i tor cur ioso, pesquisador de outros

textos e , em conseqüência , capaz de rea l izar uma le i tura

cr í t ica , tornando-se um suje i to at ivo, part ic ipante, apto a

exercer sua c idadania .

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