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    O planejamento governamental nos estados do Paran e Santa Catarina: um estudo comparativo (1955-2002)

    Profa. Dra Rosalina Lima Izepo Universidade Estadual de Maring [email protected] Laurisberto Tartaglia Filho Bacharel em Cincias Econmicas pela UEM

    RESUMO

    Este artigo analisa a evoluo do planejamento governamental nos estados do Paran e Santa Catarina, no perodo de 1955 a 2002, visando estabelecer uma comparao entre as duas realidades, a partir do destaque de seus pontos convergentes e divergentes. Dividido em trs sees, alm da Introduo e da Concluso, o artigo mostra, na primeira seo, a origem do planejamento governamental nos pases capitalistas, at sua propagao no Brasil e nos estados da federao. Esta interrelao necessria porque embora tenha grande parte de suas polticas governamentais emanadas do Governo Federal, os estados possuem determinada autonomia para decidirem sobre polticas inerentes a seu processo de desenvolvimento. Na segunda e terceira seo analisa-se a evoluo do planejamento governamental no Paran e Santa Catarina e compara as suas realidades destacando-se as principais caractersticas convergentes e divergentes, respectivamente.

    Palavras-chave: Planejamento Governamental, Desenvolvimento, Santa Catarina, Paran.

    INTRODUO

    Quando as economias se deparam com momentos de crise, em geral, voltam as expectativas para as suas conseqncias e possveis solues. O posicionamento

    dos governos e suas aes para a superao ou, pelo menos, reduo dos custos econmicos e sociais aparece com fequencia nas discusses de tcnicos e especialistas, principalmente daqueles que defendem a necessidade do retorno de um Estado menos neoliberal.

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    No caso brasileiro, tamanha preocupao tem de fato razo, pois o seu

    conturbado histrico de inflao e desemprego ainda ronda a memria de muitos cidados, em especial, das pessoas com idade acima dos 40 anos. Nestes momentos a ao do Estado, por meio de polticas econmicas planejadas so cobradas pela sociedade e discusses sobre a necessidade do planejamento governamental, comum no Brasil desde o Programa de Metas da gesto Juscelino Kubitschek (1956-1960), ganham novos espaos, visando pensar o desenvolvimento brasileiro no longo prazo.

    Neste aspecto, os estados e municpios brasileiros tambm tm avanado suas discusses no s em funo da necessidade de pensar o seu desenvolvimento no longo prazo, mas, tambm porque sabem que nos novos padres de acumulao capitalista, estabelecidos a partir de final dos anos 80, do sculo passado, as regies e

    os poderes locais foram chamados a assumir novos papis e funes em todo o processo se quiserem se manter ou ampliar suas posies no cenrio econmico nacional e mundial. Com tais mudanas, o planejamento seja ele nacional, regional, estadual ou municipal vem ganhando espao.

    Em se tratando de planejamento governamental, alguns estados brasileiros j tm longa experincia no assunto. Entre estes podemos citar como exemplos os casos de So Paulo, da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Santa Catarina e do Paran. Os dois ltimos so objetos deste estudo, cujo objetivo foi analisar a evoluo do planejamento governamental, visando estabelecer comparao entre as suas realidades, isto , a catarinense e a paranaense, destacando-se, sobretudo, os pontos convergentes e divergentes entre ambos os casos.

    O interesse pelo tema deveu-se a trs fatores. So eles: a proximidade geogrfica entre os estados, objetos do estudo, a semelhana de suas realidades socio-econmicas e a disponibilidade de fontes. O artigo, alm da introduo e da concluso, encontra-se dividido em trs sees. A primeira que trata do surgimento do planejamento governamental nas economias capitalistas encontra-se dividida em trs subsees: na primeira apresenta-se o surgimento deste instrumento de ao dos governos nos pases capitalistas e nas sees subseqentes a sua propagao no Brasil e seus estados, respectivamente.

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    1 O SURGIMENTO DO PLANEJAMENTO1 GOVERNAMENTAL 1.1 NOS PASES CAPITALISTAS

    A prtica de elaborao e execuo do planejamento governamental surgiu no final da dcada de 20, do sculo passado, na Unio Sovitica, atualmente Rssia, como um modo sistemtico de orientao de uma economia em escala nacional. Por

    isto a ligao do conceito com as prticas dos pases socialistas passou a ser to forte neste perodo, que muitos o rotularam de modalidade de ao governamental socialista e, portanto, incompatvel com o sistema capitalista.

    No entanto, nos anos 1930, em funo do quadro turbulento de transformaes econmicas, sociais e polticas desencadeadas pela crise de 1929, a idia de se planejar a economia passou a ganhar fora nos pases capitalistas. O principal argumento dos economistas clssicos que residia na idia de que o pleno emprego seria o nvel normal de funcionamento da economia, e, caso houvesse quaisquer distores, os mecanismos de mercado seriam responsveis por sua correo automtica, foi suplantado pela idia de que os governos deveriam adotar modelos ditos racionais de poltica econmica. Economistas e formuladores de poltica econmica passam a defender a interferncia do governo no mercado, com vistas a corrigir-lhe as distores oriundas da prpria dinmica do sistema capitalista. (PINHO, 1992; LAFER apud IZEPO, 1998).

    Foi nesta poca, tambm, que a teoria de Keynes ganhou notoriedade porque

    evidenciava a possibilidade de haver equilbrio da renda a um nvel inferior ao de pleno emprego e mostrava que o governo deveria desempenhar uma maior interveno visando eliminao do desemprego, para isso teria que incluir em seus programas, obras que possibilitassem a promoo do pleno emprego. Tudo isto

    intensificou ainda mais o apelo ao planejamento, que se firma, nos pases capitalistas como instrumento de interveno na economia. (MIGLIOLI, 1982)

    1 O planejamento entendido neste estudo como um conjunto de aes que contm diagnstico, prognstico,

    execuo e avaliao em economias de mercado, diferente, portanto, de planificao, conforme IZEPO (2008).

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    Ressalta-se, entretanto, que mesmo com todas as condies criadas pelo ps-

    guerra, que favoreciam a adoo do planejamento como modalidade de poltica governamental, somente alguns pases o adotaram de imediato. Mesmo com a simpatia criada pelas idias planejadoras, grande parte dos pases s foi seguir este rumo, depois dos bons resultados obtidos por pases como a Frana e o Japo. Isto

    em meados da dcada de 1960, que representou um momento de crescimento da economia mundial, e, a partir da, em meio a um grande otimismo, o planejamento passou a ser visto como instrumento mais adequado para obteno do desenvolvimento.

    1.2 NO BRASIL

    No Brasil j eram adotadas medidas de carter intervencionista muito antes da dcada de 1930 como, por exemplo, em 1906, o Convnio de Taubat. 2 No entanto, a participao mais intensa do governo se dava apenas no mbito econmico, resumindo-se, basicamente, ao setor financeiro com medidas como cobrana de impostos de importao para fins de receita pblica, medidas protecionistas voltadas s indstrias nascentes, concesso de emprstimos e, tambm, atravs da atrao de companhias estrangeiras que pudessem investir no Pas, em projetos de infra-estrutura.

    Porm, no final da dcada de 1930, em meio a um quadro de grandes transformaes polticas, econmicas e sociais que a idia de planejamento difunde-se mais intensamente na Amrica Latina, com forte influncia das experincias dos pases desenvolvidos, tal como a do New Deal3. No Brasil, o principal impacto da grande depresso econmica mundial ocorreu sobre a cafeicultura, o que ocasionou no Pas uma significativa mudana no mbito poltico com a passagem de um Estado

    oligrquico, para outro em que o setor industrial passou a ter maior relevncia poltica e econmica, sobretudo a partir de 1937. Neste perodo tem-se uma reestruturao da

    2 Embora se saiba que a prtica no Brasil na Primeira Repblica tenha sido a do livre mercado, como nas demais

    economias capitalistas. Ver IZEPO (2008). 3 Serie de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do presidente Roosevelt, com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-americana, e assistir os prejudicados pela Grande Depresso.

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    mquina administrativa do Estado, que passou a desempenhar de fato, papel relevante

    na economia nacional. (IANNI apud IZEPO, 2008)

    Na dcada de 1950, por influncia da CEPAL e do Banco Mundial, a idia de planejamento e de industrializao por substituio de importaes se popularizou nos pases em desenvolvimento. No Brasil, o problema que no existiam estudos prvios e sistmicos da conjuntura brasileira vigente, 4 por isto, at 1950, o planejamento no exerceu nenhum grande impacto no desenvolvimento brasileiro, mas forneceu a base para os planos posteriores.

    Ressalta-se, entretanto, que, nesta poca, o trabalho de maior significao para a evoluo do planejamento no Brasil foi o da Comisso Mista Brasil Estados Unidos (1951 -1953), que resultou na criao do BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento, em 1952, atualmente BNDES, criado com a funo de levantar fundos para alavancar investimentos no setor industrial. (SIMONSEN; CAMPOS, 1974). Em 1956, j na gesto Juscelino Kubitschek foi formado o primeiro rgo central de planejamento econmico no Brasil, o Conselho de Desenvolvimento. Este conselho visava a elaborao de um plano de desenvolvimento econmico para o Brasil e para isto utilizou os estudos prvios da Comisso Mista Brasil E.U.A. e do Grupo Misto BNDE CEPAL. Estes esforos combinados deram origem ao Programa de Metas, que consistia em um conjunto de investimentos governamentais em setores estratgicos como: energia, transportes, alimentao, indstrias de base e

    educao, alm de incentivos implantao e expanso de empresas privadas. (IZEPO, 2008)

    4 Os planos setoriais at aquele momento, tinham um carter bastante especfico, e, em alguns casos sofriam com

    interrupes ou at mesmo eram abandonados antes do seu trmino. A DASP - Departamento Administrativo do Servio Pblico, criado em 1938, na primeira gesto administrativa de Getlio Vargas, era o rgo responsvel pelo controle tanto na esfera do governo federal como dos governos estaduais. Ainda no Estado Novo, Vargas criou o Plano Especial de Obras Pblicas, o Plano de Reaparelhamento da Defesa Nacional, em 1939 e o Plano de Obras e Equipamentos, em 1942, no entanto, nada que pudesse ser enquadrado como um Sistema Nacional de Planejamento. (BALESTRIERO, 1996)

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    A partir de 1964 outros planos nacionais foram criados, dessa vez com

    esforos mais amplos visando racionalizar e coordenar a poltica econmica governamental. J na dcada de 1970, com a prtica de planejamento j consolidada tanto no Brasil quanto em toda Amrica Latina, a discusso passou a se focar na sua eficincia ou no, enquanto instrumento de poltica econmica. Mesmo envolto em

    controvrsias, observamos um crescimento significativo a partir da dcada de 1960, da utilizao do planejamento econmico enquanto modalidade de ao estatal. No regime militar (1964 - 1985), por exemplo, foram elaborados os planos: PAEG; I PND; II PND; III PND. (LIMA, 1998)

    O PAEG Plano de Ao Econmica do Governo elaborado na gesto Castelo Branco apresentava duas linhas gerais de atuao: polticas conjunturais de combate inflao, associadas reformas estruturais que permitiram o equacionamento dos problemas inflacionrios e das dificuldades que se colocavam ao crescimento econmico. Em 1972 foi institudo o I PND I Plano Nacional de Desenvolvimento, o primeiro a ser fundamentado nos Atos Complementares n.43 e n.76, de 1969, que estabeleciam que cada novo governo deveria propor, no seu primeiro ano de gesto, um plano de desenvolvimento vlido para os anos subseqentes do seu governo e para o primeiro ano de seu sucessor. (KON, 1999)

    Com o I PND, que o esforo brasileiro de planejamento atingiu razovel grau de maturidade e institucionalizao, o que s iria se intensificar a partir do II

    PND, de 1974, na gesto Geisel. (MIGLIOLI, 1982). Fechando a chamada era dos PNDs, na gesto Figueiredo, institudo o III PND, em uma conjuntura em que os desajustes da economia eram salientados. Com a grave crise econmica mundial, reflexo do segundo choque do petrleo, do aumento das taxas de juros norte-americanas, da recesso nos E.U.A. e da queda abrupta nos termos de troca, observava-se um reflexo interno principalmente no que diz respeito dvida externa, inflao e desemprego, desta forma, as metas do plano foram abandonadas como resultado do insucesso dos seus objetivos.

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    Em 1985, num contexto de democratizao, mas, de enormes presses polticas e sociais, o Brasil que se encontrava praticamente excludo do fluxo de capitais internacionais, precisou seguir com planos de estabilizao de curto prazo, cuja meta principal era o combate inflacionrio. Entre tais planos se destacam: o Cruzado (1986), o Vero (1989), o Collor I (1990) e o Collor II (1991). 5

    Este quadro vigorou at 1993, quando na gesto Itamar Franco, comeou a ser implementado no Brasil aquele que seria o plano considerado mais engenhoso de combate inflao j utilizado no Pas, o Plano Real. O Plano passou por trs fases at sua implantao: a primeira foi a implantao do Programa de Ao Imediata (1993), a segunda foi a criao da URV (Unidade Real de Valor), e por fim, em 30 de novembro de 1994, foi editada a medida provisria que implementava a nova moeda, o Real. As crises internacionais e problemas de infra-estrutura ainda trazem tona a fragilidade da economia brasileira, no entanto, com a interveno governamental, a estabilidade da moeda permanece at a atualidade. (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JNIOR, 2007).

    1.3 NOS ESTADOS BRASILEIROS

    Tal como o planejamento nacional, o surgimento do estadual tambm esteve envolto em uma srie de obstculos no que diz respeito a sua implantao, sendo os principais: carncia de tcnicos e dados estatsticos; falta de coeso poltica; de autonomia dos estados; centralizao de recursos em poder do governo federal; entre

    outros. Ainda assim, a idia de planejar as atividades governamentais foi ganhando fora em vrios estados do Brasil a partir de meados da dcada de 1950. (LIMA, 1998).

    5 Sobre tais planos ver KON (1999) e IZEPO (2008). importante ressaltar que em 1988, foi promulgada a

    Constituio Federal que em seu inciso 9 previa a elaborao de uma Lei Complementar visando a responsabilizao dos administradores pblicos, em trs esferas de governo, em relao aos seus atos administrativos. Contudo, esta lei, a LCN. 101, tambm conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal s foi homologada em maio de 2000. Por esta razo no ser discutida neste estudo. Para maiores informaes ver: Presidncia da Repblica. Lei Complementar n. 101, de 04 de maio de 2000. Disponvel em: http://www.amperj.org.br/store/legislacao/leis/lc101_rfiscal.pdf.

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    A nfase do planejamento estadual nesta poca baseava-se na necessidade de se desenvolver medidas para a reduo das desigualdades, para isso havia a busca de uma melhor alocao da taxa de crescimento econmico em espaos de reduzida integrao e recursos (como os centros urbanos de grande concentrao de atividades econmicas e populao), reas onde a modernizao agrcola resultou no desemprego rural ou em regies dotadas de recursos naturais pouco explorados. (HILHORST, 1981).

    A prpria Constituio brasileira de 1946 j preconizava o planejamento regional, estadual e criava condies para o empreendimento desses planos at ento no existentes. Prescrevia, o planejamento como uma soluo para a fixao do homem no campo (art 156), defesa contra os efeitos da seca no nordeste (art. 189), valorizao econmica da Amaznia (art. 199), entre outros artigos. (FRIEDMANN, 1959)

    Na dcada de 1960, do mesmo modo que ocorreu a assimilao do planejamento governamental nos pases capitalistas, alguns estados brasileiros adotaram a idia do planejamento como instrumento de possvel manuteno ou acelerao do desenvolvimento econmico e social em determinadas reas. Entre estes estados estavam Santa Catarina e o Paran.

    2 O PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL NOS ESTADOS DO PARAN E SANTA CATARINA

    2.1 O PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL NO PARAN.6 A idia de planejar as aes do governo comeou a se difundir no Estado do

    Paran em meados da dcada de 1950, por influncia do Governo Federal, quando o estado despontava no cenrio nacional como maior exportador de caf do Pas. O Paran vinha apresentando um crescimento populacional significativo, resultado do

    6 Seo baseada em IZEPO (2008) e LIMA (1998).

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    acentuado processo de colonizao, gerando uma presso interna no aumento da

    demanda por bens e servios.

    Em setembro de 1955, quando Adolpho Oliveira Franco assumiu o Governo do Estado, foi dado o primeiro passo de grande significncia na busca da criao de

    um Sistema Estadual de Planejamento, com a criao da Comisso de Coordenao do Plano de Desenvolvimento Econmico do Paran PLADEP. Este rgo tinha como objetivos: fixar tecnicamente os empreendimentos pblicos de maior interesse para a economia estadual, de acordo com a disponibilidade de recursos, alm de

    orientar a aplicao dos recursos pblicos e privados, subsidiados pelo estado. Mesmo no conseguindo se firmar como rgo de planejamento, a PLADEP teve grande importncia ao promover um estudo detalhado sobre a realidade paranaense, apontando os setores mais problemticos e propondo solues para os mesmos. (IZEPO, 2008)

    Contudo, foi o governador Ney Braga, eleito para o mandato de 1961-1965, o grande precursor do planejamento governamental no Paran ao definir como pilares de sua poltica econmica, a industrializao e o planejamento. Para este governador, que era preciso uma forte ao estatal no sentido de se criar infra-estrutura, sobretudo, de estradas e o fornecimento de energia eltrica, alm do financiamento s indstrias de capital local, visando substituir importaes. Entre as principais obras de sua administrao podemos citar: a criao da TELEPAR Companhia de

    Telecomunicaes do Paran, CAF DO PARAN Companhia Agropecuria de Fomento Econmico, COHAPAR Companhia da Habitao do Paran, da SANEPAR Companhia de Saneamento do Paran, da FUNDEPAR Fundao Educacional do Paran, do Conselho Estadual de Educao, construo da rodovia do

    Caf, ligando o Norte ao Sul, expanso das atividades da COPEL, construo de hidreltricas Chopin I e Figueira II, CODEPAR, entre outras.

    A CODEPAR foi criada em 1962, para ser um rgo de planejamento. No entanto, no conseguiu assumir a funo para a qual foi criada, pois se firmou como

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    uma agncia para viabilizar financiamentos indstria local, por meio de capitais

    oriundos do FDE - Fundo de Desenvolvimento Econmico, cuja origem era o IVC Imposto sobre Vendas e Consignao e, em 1968 foi transformada em BADEP Banco de Desenvolvimento do Paran.

    No ano de 1963, a PLADEP e uma empresa particular chamada SAGMACS Sociedade de Anlises Grficas e Mecanogrficas Aplicadas aos Complexos Sociais, contratada pela CODEPAR elaborou o I Plano de Desenvolvimento do Paran (1964-1970), cujos objetivos principais eram: assistncia mdico-hospitalar; educao; associativismo; diversificao agrcola; criao de indstrias e de distritos industriais de transformao agrcola; metalurgia; mecnica; material e farmacutico nas regies de Londrina; Maring; Ponta Grossa e Curitiba; produo de energia eltrica; proteo ao caf; aos recursos florestais e reformulao funcional e estrutural dos quadros governamentais. O Plano de Desenvolvimento acabou no sendo implementado porque, em 1964, foi implantado o regime militar e as propostas, sobretudo, as direcionadas s questes sociais previstas neste plano no eram bem vistas pelos novos governantes ligados ao Governo Federal.

    O ano de 1973, a gesto Emlio Gomes, foi um marco importante na histria do planejamento governamental no Paran. Neste ano foi implantado o plano Diretrizes de Ao (1973-1975), foi criado o Sistema Estadual de Planejamento e o IPARDES Fundao Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social,

    cujo objetivo era apoiar o governo atravs de pesquisas. O sucessor de Gomes, em 1975, foi Jaime Canet Jnior, cuja gesto administrativa ficou conhecida por demonstrar grande racionalidade e por dar aparncia mais empresarial s aes do poder pblico. No incio de seu governo instituiu o plano Objetivos e Metas de Desenvolvimento OMD, cujos objetivos principais faziam aluso a um maior desenvolvimento da agroindstria paranaense, considerada vital para o desenvolvimento do estado.

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    Em 1979, Ney Braga voltou a ser governador do Paran, porm, sua

    administrao manteve-se voltada apenas manuteno de programas sociais j utilizados por governos anteriores. Os planos de governo no estado, a partir de ento, em razo da abertura poltica no mbito nacional e da ampliao crescente da participao popular nas discusses e decises polticas do pas, direcionam-se a

    programas de apelo social. Esta seria a marca da gesto Richa, eleito pelo PMDB, em 1982 e o seu Plano de Ao.

    O sucessor de Richa ao governo do Estado foi lvaro Dias, tambm, do PMDB. Eleito pelo povo, para o perodo de 1987 a 1991, no incio de sua gesto, promoveu a reestruturao da Secretaria de Estado do Planejamento e lanou o seu Plano de Governo, no qual estabelecia, entre outros objetivos: a expanso industrial, o desenvolvimento regional e urbano, a diversificao do sistema produtivo e a modernizao administrativa do Estado. Foi no seu mandato que o BADEP - Banco de Desenvolvimento do Paran foi fechado, milhares de servidores pblicos foram demitidos, os salrios achatados, entre outras polticas que lhe renderam o ttulo de precursor do neoliberalismo no Paran.

    Em 1990, num perodo marcado pelo insucesso do plano Collor I, eleito no Paran o candidato tambm do PMDB, Roberto Requio. Em sua gesto foi lanada a Proposta do Plano Plurianual elaborada para o perodo de 1992 a 1995. O documento, da primeira gesto Roberto Requio, era composto de propostas e

    programas voltados ao governamental, ao campo social, base produtiva e ao meio ambiente. Tinha como objetivos prioritrios o desenvolvimento econmico e social, a melhoria da educao, sade pblica, segurana e a agricultura. Avesso ao neoliberalismo, Requio teve sua gesto administrativa marcada pelos programas

    direcionados ao pequeno e mdio industrial e produtor rural e aos programas sociais.

    Jaime Lerner, do PDT, venceu as eleies de 1994 e assumiu o governo do estado num momento em que estabilidade econmica promovida progressivamente pelo Plano Real criou condies para a retomada do planejamento governamental no

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    Brasil, e, influenciado por esta conjuntura que, em 1995, a Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenao Geral elabora o Plano de Governo, da gesto Lerner.

    Seus objetivos encontravam-se estruturados em quatro linhas de ao: infra-estrutura, desenvolvimento sustentado, desenvolvimento humano e gesto pblica,

    sendo que as trs ltimas deveriam ser consolidadas a partir da primeira. Isto , da infra-estrutura cuja principal ao prevista era o Anel de Integrao. Jaime Lerner, em 1998, em razo da popularidade da sua gesto anterior, se reelegeu governador ainda no primeiro turno das eleies, desta vez pelo PFL, assumindo o compromisso

    junto populao paranaense de que na sua segunda gesto daria continuidade s aes que j vinham sendo executadas durante seu primeiro mandato. Lerner pretendia consolidar os projetos dos Anis de Integrao e da industrializao, completando os vazios nas diversas cadeias produtivas, das quais quatro reas eram priorizadas: processamento de ctricos; embutidos de aves e sunos; couro; e o fechamento do ciclo metal-mecnico, este prioritrio devido ambio da gesto Lerner de tornar o Paran o 2 maior plo automobilstico do pas.

    Neste perodo tambm comeam a ser tratadas as questes referentes s privatizaes. Grandes estatais, como a COPEL Companhia Paranaense de Energia, j haviam sido envolvidas em negociaes e outras como a SANEPAR Companhia de Saneamento do Paran e o Banestado j tinham planos de venda. A estratgia do Governo Estadual era captar recursos para programas sociais e reduzir o

    comprometimento de aproximadamente 73% das receitas lquidas com o pagamento de pessoal.

    No que diz respeito ao seu PPA, o governo Lerner manteve boa parte das propostas do seu Plano de Governo anterior, algumas foram ampliadas, outras redefinidas. Na Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenao, o CCPG Centro de Coordenao de Programas do Governo, criado pelo prprio Lerner em 1995, que foi o eixo do rgo j que o governador tinha como preferncia trabalhar modificando sempre que necessrio e possvel as polticas previstas no Oramento

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    Anual e o CCPG facilitava isto, substituindo ou anulando algumas despesas do oramento.

    2.3 O PLANEJAMENTO EM SANTA CATARINA7

    A primeira experincia de planejamento em Santa Catarina foi na gesto de Irineu Bornhausen (1951-1955), quando em maro de 1955, o Governador enviou Assemblia, o POE. O plano constitua-se mais num oramento para investimentos do que propriamente em um plano global. Representava a primeira tentativa do estado de vincular recursos a um programa plurianual de investimentos em obras pr-definidas. A sustentao financeira seria dada por um aumento de 20% no Imposto Sobre Vendas e Consignao (IVC), com os recursos destinados a estradas e rodagem, energia eltrica, agricultura e sade e educao. Ainda no final deste Governo foi constituda a Celesc, como resposta ao problema energtico envolvendo

    empresas privadas de gerao de energia que eram fragmentadas e no conseguiam suprir a demanda criada com o aumento do parque industrial.

    O sucessor de Bornhausen foi Jorge Lacerda que se limitou a cumprir algumas metas previstas no POE como, por exemplo, a constituio da Solteca Sociedade Termoeltrica de Capivari que ficaria responsvel pelo controle da Usina Termoeltrica Jorge Lacerda. Houve avanos importantes na economia catarinense nesta poca, mas, questes de infraestrutura em termos de energia, portos, telefonia ainda emperravam o seu desenvolvimento qualitativo.

    No incio da dcada de 1970, exigncias de novos padres de acumulao e de crescimento fizeram o governo catarinense mudar os rumos de sua poltica econmica. Em 1961, na gesto de Celso Ramos (1961-1965) foi elaborado o PLAMEG Plano de Metas do Governo. O documento, embasado em estudos setoriais, apontava a deficincia na infra-estrutura e fazia propostas para revert-la. Entre os seus objetivos se destacam a execuo, aperfeioamento e autorizao de obras e servios pblicos, com investimentos divididos entre os seguintes setores:

    7 Esta seo baseada em Goularti Filho (2005)

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    rodovias, energia, educao, sade, participao em empreendimentos pioneiros,

    agropecurios e de crdito do Banco do Estado. A grande marca da economia catarinense neste perodo foi a presena de grandes industriais na esfera poltica do estado, impulsionando o seu processo de industrializao.

    Esta poltica teve continuidade na gesto de Ivo Silveira (1966-1970), com a elaborao do PLAMEG II. O plano tinha como enfoque principal a expanso econmica, com a continuidade dos investimentos em energia, transporte e na

    indstria, mas tambm estipulava investimentos para a melhoria das condies sociais, priorizando sade, educao e cultura. Outros pontos levantados pelo plano faziam meno valorizao dos recursos humanos e da melhoria dos meios administrativos.

    O sucessor de Silveira, para o perodo de 1971-1974 foi Colombo Machado

    Salles. Este governador, a exemplo do que ocorrera no Paran, deu ao governo de Santa Catarina um carter mais tecnocrtico, exigncia do prprio Governo Federal, pois, este representava o auge do Regime Militar no Brasil. Neste perodo foi elaborado o PCD Projeto Catarinense de Desenvolvimento que tinha como sntese a integrao regional. Totalmente integrado ao modelo de desenvolvimento proposto pelo governo Mdici, o PCD previa grande parte do montante de recursos para agricultura, indstria, transportes e saneamento e um oramento mais modesto para energia, telecomunicaes e modernizao administrativa. Objetivando um desenvolvimento mais harmnico entre as regies, o PCD previa a subdiviso do estado em treze microrregies, com o intuito de descentralizar a poltica econmica catarinense.

    Em 1975 assumiu o governo do estado Antonio Carlos Konder, que tinha como vice o empresrio Atlio Fontana, proprietrio da Sadia. No seu governo foi elaborado o Plano de Governo PG, cujos objetivos iam ao encontro daqueles traados pelo II PND. Previa medidas econmicas importantes para os setores de transportes, educao, cultura, administrao e planejamento, que receberiam maiores recursos e, para a sade, indstria e agricultura uma representatividade menor.

  • 15

    O plano, diferentemente de seus antecessores, no apresentava programas e

    recursos pr-definidos, apenas um oramento plurianual para o perodo de 1976 a 1978. Suas prioridades estavam pautadas em duas reas bsicas: econmica, com esforos em telecomunicaes, transportes, poltica de estoques reguladores, extenso e assistncia tcnica rural, polticas regionais e distribuio de energia eltrica, e,

    tambm, na social, com a ampliao da eletrificao rural, criao de conselhos comunitrios, na medicina preventiva, entre outros.

    Num contexto poltico bastante turbulento na economia nacional, em 1979 Jorge Konder Bornhausen assumiu o governo de Santa catarina. Este governador tinha propsitos polticos e econmicos diferentes dos seus antecessores, defendendo menor participao do Estado nas atividades econmicas. Em seu governo, foi

    elaborado o PA Plano de Ao, que estava divido em trs programas nas reas: social, econmica, organizao Administrativa e planejamento. O PA tambm no apresentava programas especficos com previso de gastos. Dentre as principais realizaes setoriais do plano, o destaque so os setores: financeiro, cujo Procape e o Bradesc foram os principais canais usados para financiar projetos s indstrias catarinenses, alm da abertura de 101 agncias do BESC, que atingiu a totalidade dos municpios; o de energia, com a expanso da eletrificao rural e, tambm, o de transportes, onde os projetos de pavimentao, expanso e terraplanagem complementar atingiram resultados muito positivos.

    Em 1982 foi eleito governador, Esperidio Amin, do PDS, cujo plano de governo baseava-se na Carta dos Catarinenses, que pretendia dar prioridade aos pequenos, participao comunitria, integrao estadual e qualidade de vida (GOULARTI FILHO, 2005:641) A carta, que tambm no possua um programa prvio de gastos, tinha uma clara tendncia neoliberal e estava dividida em trs setores: administrativo, social e econmico e de infra-estrutura. As principais medidas adotadas durante o perodo foram: nos transportes, o fechamento das grandes linhas da malha viria do estado; no setor energtico, a construo e ampliao de

    subestaes, intensificando a eletrificao rural e no setor financeiro, em funo das denncias de fraude do Procape-Santivest, que provocaram o encerramento do

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    Procape, que deixava a cargo da Badesc o financiamento do setor privado, alm disso o BESC passou a sofrer uma interveno governamental.

    Em 1986, embalado pelo sucesso do Plano Cruzado, o PMDB sagrou-se vitorioso em Santa Catarina ao eleger para o cargo de governador Pedro Ivo Campos. O prprio partido quem elaborou o Plano Rumo Nova Sociedade Catarinense, construdo a partir de 17 seminrios, que contaram com grande participao popular.

    O plano, que defendia o papel do estado como agente indutor do desenvolvimento, dividia-se em quatro principais reas: poltico-institucional, social,

    econmico e infra-estrutura e ambiental. Visando moralizar o estado, Pedro Ivo advogava a favor da austeridade fiscal e saneamento do Estado. Para tanto, o mesmo reduziu significativamente os cargos comissionados na rea da educao, desativou frotas de veculos e contratou 50% menos de funcionrios que os trs governos anteriores.

    O governador do estado, eleito em 1991, foi Vilson Kleinubing, que tinha como plataforma de governo o Plano SIM Sade, Instruo e Moradia, que marcou a volta de um plano com previso de gastos e metas definidas para os quatro anos de mandato. Essas metas s quais os recursos seriam destinados eram: construo de

    moradias populares, desenvolvimento agrcola, modernizao da sade, modernizao da instruo, desenvolvimento industrial, recuperao de rodovias, obras e saneamento, melhoria da segurana pblica, desenvolvimento do turismo e da cultura. As principais metas atingidas pelo plano do governo foram nas reas de: transportes, pavimentao de rodovias, ampliao da rede de telefonia e a criao do Parque Tecnolgico Alfa, em Florianpolis, em pareceria com instituies pblicas e privadas, para abrigar a indstria de alta tecnologia.

    Em 1995, o PMDB novamente elegeu seu candidato a governador do estado, Paulo Afonso que defendia uma gesto democrtica e descentralizada, estabelecendo o desenvolvimento sustentvel como base do seu plano. Para isto o governo deveria

    estabelecer acordo com ONGs, prefeituras e empresas privadas que possibilitariam uma gesto mais eficiente e eficaz. O plano de governo preconizava que o Estado no

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    deveria ser o responsvel exclusivo pela execuo de todos os servios demandados

    pela sociedade, no entanto, consegue equilibrar isso de forma objetiva, por exemplo, no sucumbindo s presses pelas privatizaes da Celesc e do BESC.

    Em 1999 tem-se a volta de Esperidio Amin ao governo do estado, desta vez com o Plano de Governo Santa Catarina: Estado Vencedor. reas como as da educao e da sade foram as que mais receberam ateno. Dois acontecimentos que comprovam a mudana no padro de crescimento da econmica catarinense no anos 1990, ocorridos nesta gesto foram a federalizao do BESC e a partilha da Celesc.

    3 AS EXPERINCIAS DE PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL NO PARAN E SANTA CATARINA: UMA ANLISE COMPARATIVA.

    3.1 OS PONTOS CONVERGENTES

    As semelhanas entre as experincias de planejamento governamental entre Paran e Santa Catarina so claramente observadas em cada perodo de governo. Entre elas se destacam:

    1956-1960: o incio de implantao do planejamento governamental se deu na mesma poca, em ambos os estados e com dificuldades muito semelhantes. Por outro lado, os problemas econmicos, sobretudo, os relacionados infra-estrutura estadual eram igualmente to parecidos que as polticas econmicas adotadas pelos

    dois governos eram praticamente as mesmas, ressaltadas as pequenas particularidades.

    1961-1965: neste perodo, medidas visando o incremento da infra-estrutura e as iniciativas de planejamento continuaram sendo a tnica da ao governamental nos dois estados. A partir da dcada de 1960, cresceram as preocupaes dos governantes, de ambos os estados, em realizar estudos setoriais que trouxessem tona no somente os problemas, mas, tambm, possveis solues.

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    1966-1970: a forte influncia do Governo Federal na poltica governamental dos

    dois estados claramente observada. Tanto que os recm-empossados Paulo Pimentel, no Paran, e Ivo Silveira, em Santa Catarina, ingressaram no partido poltico dos militares, a ARENA e no no MDB. A forte centralizao no poder que marcava o perodo, deu aos governos estaduais uma posio mais comedida em relao mudanas nas polticas governamentais. Entendiam os governadores que o momento era de manter as estruturas produtivas e afinar-se aos propsitos do governo federal.

    1971-1974: seguindo a tendncia j mencionada, os planos governamentais da dcada de 1970, nos dois estados, mostravam-se centrados nos objetivos estabelecidos pelo I PND, tais como: investimentos em agricultura, indstria, transporte, energia e saneamento. Outra caracterstica importante que norteava as polticas governamentais do perodo era a busca pela integrao regional.

    1975-1978: a mesma tendncia observada no perodo anterior pode se aplicar a este momento histrico. Desta vez os planos governamentais paranaenses e catarinenses mostravam-se alinhados aos objetivos do II PND.

    1979-1982: nesta fase de transio, as polticas governamentais, de ambos os

    estados, passaram a focar com mais vigor as questes sociais. A busca pelo bem estar da populao aparece com maior freqncia nos planos de governo, resultando na adoo de investimentos ligados a educao, sade, cultura, entre outros, mas sem

    reduo drstica no mpeto dos investimentos em infra-estrutura e no fomento produo.

    1983-1986: o ano de 1982 havia marcado a importante vitria da sociedade

    brasileira frente ao regime militar no que diz respeito ao retorno das eleies diretas para governadores. A influncia deste acontecimento nos planos dos governos seguintes ficou evidenciada no forte carter social pregado pelos planos. A defesa de melhores condies de vida para a populao virou bandeira eleitoreira tanto no Paran, quanto em Santa Catarina. Alm disso, as administraes do perodo tambm mostraram-se mais abertas participao popular.

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    1987-1990: num perodo marcado pela onda do neoliberalismo, com movimentos de

    privatizao e desregulamentao de mercado e de esgotamento do padro de financiamento utilizado at ento pelos governos baseado em recursos externos, tem-se um quadro bastante turbulento, tambm, em relao ao ambiente poltico. Neste novo contexto, os governantes que assumiram os dois estados, adotaram planos cujos objetivos tinham um forte apelo social e que preconizavam o fomento a infra-estrutura econmica, mas, desta vez, com a diferena de estarem mais independentes dos planos elaborados pelo Governo Federal.

    1991-1994: perodo de transio marcado por grande conturbao poltica face aos problemas da gesto Fernando Collor e que, ao mesmo tempo, comeava a se

    observar os efeitos da nova fase do planejamento governamental no Brasil, em funo da elaborao da Constituio Federal de 1988. Os efeitos destes acontecimentos provocaram uma mudana de postura na elaborao e execuo dos planos de governo, nas trs esferas administrativas. De modo que tanto o governo paranaense,

    quanto o catarinense tiveram que adaptar-se s premissas da Constituio Federal, utilizando-se, entre outras coisas, de previso de gastos e metas pr-definidas. Foram adotadas medidas que visavam maior racionalizao administrativa, o que deixava clara maior preocupao com os recursos do governo. Os governantes mantiveram

    metas de cunho social priorizando sade, educao, gerao de empregos e preocuparam-se em promover investimentos na base produtiva, com incentivos para a agricultura e indstria.

    1995-1998: com a consolidao do Plano Real e o controle do processo inflacionrio que assolava a economia brasileira h anos, comea a despontar no Brasil uma preocupao como desenvolvimento sustentvel, preocupao esta, que se fez presente nos planos governamentais dos dois estados. As medidas que comprovam este tipo de comprometimento dos novos governantes iam desde uma modernizao da gesto pblica, passando por metas de desenvolvimento regional, e melhoria nas condies de vida da sociedade at a preocupao com o meio ambiente.

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    1999-2002: o perodo se inicia com um fato novo em termos polticos no Pas, isto

    , a reeleio do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o respaldo da popularidade do Plano Real. Com a continuidade do estilo de planejamento sustentvel no Paran e em Santa Catarina, mantiveram-se os investimentos no

    campo social. A ateno neste perodo para os dois governos foi a presso gerada para a privatizao de grandes empresas pblicas, no caso paranaense da COPEL que no chegou a ser privatizada por fora da presso popular, e da SANEPAR e no caso catarinense, da Celesc.

    3.2 OS PONTOS DIVERGENTES.

    Como observado na seo anterior, as experincias paranaense e catarinense

    de planejamento mostraram uma srie de pontos convergentes observados desde o momento da adoo desta modalidade de ao governamental at os ltimos momentos do perodo analisado. Quanto aos pontos divergentes entre os dois casos verificam-se:

    1956-1960: neste primeiro momento, onde a industrializao e o desenvolvimento econmico representavam a principal bandeira do planejamento governamental, interessante notar a tendncia paranaense de estabelecer no estado uma industrializao baseada na substituio de importados, cujo objetivo estava voltado a tornar o estado mais independente da economia paulista, alm de possibilitar-lhe maior projeo no mbito da economia nacional. Estas propostas relacionavam-se aos estudos da PLADEP. J no caso do processo catarinense, no existia este tipo de

    preocupao, as aes no sentido de ampliar e diversificar a industrializao ocorreram acompanhando o processo que se desenvolvia na economia nacional.

    1961-1965: neste perodo interessante notar uma maior preocupao do governo paranaense em adotar medidas no sentido de aprimorar a utilizao de tcnicas administrativas. Um exemplo disto foi a criao da CODEPAR, em 1962, e do FDE que viriam se tornar responsveis pela viabilizao de financiamentos para a pequena e mdia indstria paranaense. A peculiaridade do estado de Santa Catarina, em

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    relao ao Paran, neste perodo, residia na maior participao de grandes industriais

    na esfera poltica do estado, com o objetivo de exercer um papel mais decisivo no governo, no que diz respeito aos incentivos ao processo de industrializao.

    1966-1970: neste perodo, o inverso ocorria. Era o estado de Santa Catarina que

    passou a salientar uma preocupao com a melhoria dos meios administrativos e com a valorizao dos recursos humanos. Com os dois governos mantendo o foco em aes de expanso econmica e criao de infra-estrutura, a gesto catarinense se destacava por direcionar parte dos seus recursos para programas de cunho social, priorizando sade, educao e cultura.

    1971-1974: o alinhamento dos planos governamentais com o I PND do governo

    federal tornou muito prximas as medidas adotadas no Paran e em Santa Catarina, o

    que faz com que no sejam encontradas divergncias significativas entre as polticas governamentais nos dois estados, neste perodo. O foco paranaense se estabelece na transformao do estado em plo-agroindustrial, tendncia parecida que se observa tambm no estado vizinho, haja vista a proposta do governo federal de criao de plos agroindustriais no sul do pas.

    1975-1978: neste perodo, assim como no anterior, os governos estaduais ainda sofriam forte influncia poltica do governo federal. Os planos governamentais dos dois estados mostram-se sincronizados agora com os objetivos do II PND.

    1979-1982: a partir deste perodo, observa-se uma maior independncia em relao aos governos estaduais e o governo federal, como resultado do processo de abertura poltica que comeava a ser proposta. Outro fator de grande influncia era a negociao em torno das eleies diretas que exigiam dos governos uma postura mais firme no sentido de promover polticas sociais. Neste contexto, muitas das medidas adotadas tanto por Paran, quanto por Santa Catarina foram bastante prximas, no entanto, o Paran, por ter chegado ao limite da sua fronteira agrcola, passou a promover maiores investimentos na modernizao de suas culturas com o objetivo de aumentar a produo e fomentar a indstria. Para isto realizou investimentos, sobretudo, em energia e na criao de infra-estrutura.

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    1983-1986: o estilo de planejamento voltado para o socioeconmico se firmava entre os estados depois da confirmao das eleies diretas a partir de 1982, a participao comunitria tambm passa a ser mais efetiva e defendida pelos governadores. A principal diferena existente entre as duas gestes neste momento reside na opo catarinense por uma gesto mais neoliberal, defendendo uma menor interveno estatal nas atividades econmicas, enquanto no Paran, a idia do governo era de recuperar a autonomia do estado.

    1987-1990: o perodo que marcado por fortes tenses sociais exige dos governos estaduais medidas no sentido de melhorar as condies de vida da populao e amenizar os problemas resultantes da recesso econmica. A principal diferena nas administraes dos dois estados residia nas mudanas promovidas pelos governadores na prpria administrao pblica: o governador paranaense, por exemplo, promove a reestruturao da Secretaria de Estado do Planejamento e da Coordenao Geral. J o catarinense promove mudanas no sentido de moralizar o estado, pregando a austeridade fiscal e o saneamento do estado, adotou medidas de reduo dos cargos comissionados na rea da educao, desativou frotas de veculos e contratou 50% menos de funcionrios que os trs governos anteriores.

    1991-1994: este perodo compreende um momento conturbado politicamente e economicamente no Brasil. Novamente tem-se nos dois estados uma diferena no

    estilo de governabilidade, enquanto em Santa Catarina, o governador defendia uma menor interveno estatal na economia, no Paran, a concepo adotada buscava recuperar a atuao do estado nos seus aspectos tradicionais.

    1995-1998: o perodo em questo marca o incio de uma nova fase de planejamento no Brasil, com uma preocupao tambm com a sustentabilidade. Alm disso, a

    estabilidade do Plano Real dava condies para a retomada do planejamento, enquanto modalidade de ao governamental. As principais divergncias encontradas entre os governos paranaense e catarinense, neste perodo, ficam por conta das prioridades adotadas por cada estado: no caso paranaense, houve um enfoque na

    criao de infra-estrutura, com a criao do Anel de integrao, e mudanas na gesto

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    pblica, que visavam profissionaliz-la, enquanto em Santa Catarina, ganhava fora a

    concepo de que o governo deveria ser o responsvel pela oferta de todos os servios demandados pela sociedade, alm de buscar parcerias com ONGs, prefeituras e empresas privadas no sentido de facilitar sua gesto.

    1999-2002: este perodo traz divergncias no estilo de governana adotado em cada estado. marcado por um continusmo no governo paranaense, em funo da reeleio de Jaime Lerner, que priorizava a industrializao, com o objetivo de tornar o Paran o segundo plo automobilstico do pas, e, no caso catarinense, da volta ao governo de Espiridio Amin, cujas medidas, assim como no seu mandato anterior, tinham um forte cunho social e eram dotadas de um carter subjetivo, com medidas que dificilmente mudariam a realidade.

    Como se pode observar, os dois estados analisados embora com processos de desenvolvimento e realidades histricas diferentes, apresentam mais semelhanas, do

    que diferenas em termos de polticas governamentais propostas e desenvolvidas pelos seus governantes, durante o perodo analisado, neste estudo. Isto se deve, em parte, aos rumos traados pelas polticas do Governo Federal, ora democrtica, ora centralizadora, e, tambm, pelas prprias concepes dos governantes no mbito

    destes estados. Contudo, o fato importante a ressaltar que em ambos os casos o planejamento governamental foi realizado de forma sistemtica e contnua exercendo importante papel enquanto instrumento de poltica econmica.

    CONCLUSO

    Este estudo possibilitou acompanhar a evoluo do planejamento, enquanto modalidade de ao governamental, nos estados do Paran e de Santa Catarina. interessante observar que a proximidade geogrfica dos dois estados, nem sempre foi garantia de semelhanas nas polticas adotadas por seus governantes. Prova disto so os pontos divergentes destacados pelo estudo que foram encontrados ao longo do processo histrico da experincia de planejamento dos dois estados.

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    No que diz respeito s caractersticas distintas entre estes casos, vale ressaltar

    que ocorreram com maior freqncia em situaes e, em algumas modalidades onde a interveno do Governo Federal no se fez to presente, dando margem a aes especficas de cada governo, que levavam em considerao a interpretao de seus governantes e nuances especficos de cada regio.

    As diferenas nos modelos de industrializao adotados nos dois estados ilustram bem esta situao: inicialmente enquanto no Paran defendia-se a

    substituio de importaes, em Santa Catarina, j objetivava-se a diversificao e a ampliao do seu parque industrial, acompanhando o desenvolvimento da industria nacional. Outro exemplo fica por conta da criao no Paran de rgos que ficavam responsveis pelo fomento ao desenvolvimento, enquanto em Santa Catarina, no

    mesmo perodo, aumentava a participao de grandes industriais na esfera poltica do estado, com o intuito de aumentar os incentivos s indstrias.

    Em relao importncia do planejamento, a prpria crise internacional que assustou o mundo nos ltimos anos vem confirmar a significancia do planejamento, enquanto modalidade de ao governamental. Mais uma vez os caminhos do mercado mostraram-se traioeiros aos preceitos neoliberais, provocando nos defensores deste tipo de concepo as mais diferentes reaes.

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