o perfil da mÃo de obra da indÚstria da...
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O PERFIL DA MÃO DE OBRA DA
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL,
EM BOA VISTA/RORAIMA
Dirceu Medeiros de Morais (UFRR)
Otaniel Mendes de Souza Junior (UFRR)
Na era globalizada em que no mercado de trabalho discute-se
amplamente, não só no Brasil como no mundo, questões inerentes à
qualidade dos produtos e produtividade da mão de obra, em que se
criam novos meios de defesa do consumidor e as orgganizações são
cobradas quanto a demonstrar sua eficiência técnico-administrativa,
sócio-econômico e ambiental, torna-se mais importante, ainda,
conhecer o perfil da força de trabalho. A mão de obra é um dos fatores
decisivo no que se refere ao sucesso organizacional, especificamente
quanto ao gerenciamento do processamento industrial, devendo-se
vislumbrar as diversas condições contemporâneas e regionais, a saber:
disponibilidade, habilitação, salários, acordos sindicais e trabalhistas
entre outras. Estas condições determinam várias decisões a serem
tomadas na implantação de um empreendimento. Este trabalho
procurou analisar, sem esgotar o tema, uma série de atributos
associados à mão de obra da indústria da construção civil no
município de Boa Vista, Roraima, com o intuito de elucidar a situação
presente e buscar alternativas para contribuir com bom desempenho
do cenário atual. Como metodologia foram realizadas entrevistas com
trabalhadores das principais construtoras locais e com isso, pode-se
vislumbrar possíveis caminhos de atuação para otimização a mão de
obra da construção civil, tanto com relação à função social quanto aos
aspectos econômicos.
Palavras-chaves: Mão de obra, força de trabalho, construção civil
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
No mundo contemporâneo, globalizado e tecnológico, as organizações impetuosas buscam
estratégias que melhor as posicionem na corrida competitiva do mercado de trabalho. Neste
aspecto o investimento no capital humano tem sido uma das preocupações constantes.
Conforme SESI (2005), com o aumento da competitividade empresarial, aliado ao contínuo
avanço tecnológico, as companhias dos mais variados segmentos industriais, passaram a se
preocupar mais com o aperfeiçoamento de suas equipes de trabalho, visando maior
produtividade e qualidade dos serviços e produtos ofertados.
Para vários autores inclusive Silva (2008), a indústria da construção civil é vista como um
setor industrial caracterizado por apresentar indicadores desfavoráveis em termos de
produtividade e qualidade. Nos últimos anos, tem-se observado o engajamento de diversos
órgãos dedicados à construção civil, tal como, o Sindicato da Indústria da Construção Civil –
SINDUSCON, de diversos Estados brasileiros, no sentido de programar uma série de
iniciativas voltadas à melhoria da produtividade e da qualidade dos serviços e produtos
ofertados, buscando reverter tais circunstâncias.
Para muitos autores entre eles Santos; Oliveira (2006), a não valorização dos trabalhadores
contribui significativamente para a situação em que a indústria da construção civil se encontra
atualmente. Os referidos autores confirmam, ainda, que o baixo grau de instrução e questões
culturais são os principais desafios enfrentados pelas construtoras.
Outras preocupações, como exemplo: técnicas construtivas tradicionais repassadas de
operário para operário na maioria das vezes de forma errada; aspectos psicológicos dos
trabalhadores que precisam ser supervisionados e quando necessários corrigidos ou
valorizados; tanto quanto a distribuição dos elementos de vivencia do canteiro de obras são
aspectos que retrata o panorama atual da construção civil brasileira. Buscar soluções para
atenuar estes desafios demonstra a importância que as construtoras oferecem aos seus clientes
potenciais.
De acordo com BRASIL (2005), historicamente, o segmento da construção de edifícios
habitacionais brasileiro apresenta uma lenta evolução tecnológica, comparada a outros setores
industriais. As características da produção no canteiro de obras acarretam baixa produtividade
e elevados índices de desperdícios de material e mão de obra.
A partir da década de 1990, em função de vários fatores, tais como: fim das altas taxas de
inflação; efeitos da globalização da economia; retração do mercado consumidor e o aumento
da competitividade houve uma modificação deste cenário. As construtoras começaram a
viabilizar suas margens de lucro a partir da redução de custos, do aumento da produtividade e
da busca de soluções tecnológicas e de gerenciamento da produção, de forma a aumentar o
grau de industrialização do seu processo produtivo.
A indústria da construção civil é considerada por muitos autores inclusive BRASIL (2005),
como grande propulsor da economia de um país, devido ser um dos setores industriais mais
sensíveis às mudanças. Segundo Picchi (1993) apud Eliete (2011), sua participação decresce
nos períodos recessivos, enquanto que seu crescimento é maior que a média nacional, em
épocas de expansão.
Além da significativa importância econômica da indústria da construção civil brasileira, este
setor tem relevante papel social, particularmente em função de dois aspetos, a saber:
relacionado à sua grande capacidade de absorção de mão de obra e; devido o elevado déficit
habitacional.
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Várias outras características acentuam a importância da construção civil, entre elas a
capacidade de geração de impostos. Este setor é o que gera mais impostos indiretos líquidos e
tem um papel importante sobre os impostos pagos por outros ramos de atividade. Por outro
lado, Segundo BRASIL (2005) e SEBRAE/MG (2005), a indústria da construção apresenta
um dos mais reduzido coeficiente de importação.
Segundo SEBRAE/MG (2005), a construção civil brasileira está em pleno crescimento, sendo
também um dos principais responsáveis por boa parte dos investimentos na economia. Este
setor é inegavelmente importante no processo de crescimento e desenvolvimento econômico
nacional, favorecido por uma série de características, tais como: elevado efeito multiplicador;
reduzida relação capital/produto (quando as necessidades relativas de investimento são
menores); é intensivo em mão de obra, inclusive não qualificada; tem forte componente
social, além de responder por uma parcela significativa dos investimentos.
Para CBIC (2002), pode-se ressaltar o impacto positivo que a construção civil exerce através
da geração de empregos na economia do país, pois a cada milhão de reais investidos na
produção, vinte e nove empregos diretos são gerados e a cada cem empregos diretos criados,
surgem mais vinte e um novos empregos indiretos e quarenta e sete novos empregos
induzidos.
Para Rodrigues (2008), o setor industrial da construção, mesmo durante a crise mundial
iniciada em 2008, ficou em segundo lugar em contratações, atrás apenas do setor do comércio.
No Brasil, apesar da criação de empregos formais em toda a economia ter batido recordes,
vale destacar que o crescimento de novas vagas na indústria da construção vem ocorrendo em
todas as regiões brasileiras.
Segundo Barreto et al. (2003), do ponto de vista organizacional a construção civil possui
características diferenciadas dos demais setores industriais por possuir processos construtivos
complexos e isso provoca uma grande dificuldade de uma solução padrão dos procedimentos
de trabalho.
Conforme vários autores inclusive Morais (2007), o produto da construção civil se apresenta
como um bem de grande valor de aquisição e, freqüentemente, diferente em cada obra
executada. Quanto ao seu processo construtivo, apresenta local de trabalho variado e
temporário, os canteiros de obras possuem arranjos físicos distintos, peculiares a cada obra. E
se apóiam numa produção quase sempre artesanal, que tendem a ser divididos em função das
diferentes fases da obra.
Segundo CBIC (1994), é incontestável a relevância econômica e social da indústria da
construção na economia brasileira. A atividade construtora é constantemente mencionada
como base do sistema econômico nacional, constituindo-se no caminho natural para a
consolidação do novo ciclo de desenvolvimento que o país passa.
Apesar do expressivo crescimento deste setor brasileiro, ocorre escassez de mão de obra
principalmente ofícios com maior qualificação. Deste modo, as construtoras já encontram
grande dificuldade em preencher seus quadros de funcionários, sendo obrigadas a reduzir o
grau de exigências.
A indústria da construção civil brasileira se caracteriza pela produção manufatureira. Segundo
Vargas (1984) apud Eliete (2011), em função da dificuldade em imobilizar máquinas e
equipamentos, grande parte dos afazeres é feita pelos operários, com uso de pequenas
ferramentas e equipamentos, e dependem totalmente da sua habilidade, de seu conhecimento
técnico e dos hábitos de trabalho.
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Conforme Farah (1988) apud Eliete (2011), em virtude da complexidade e da diversidade dos
conhecimentos dos ofícios deste setor, o seu aprendizado e aperfeiçoamento é um processo
extensivo. Por toda vida profissional o trabalhador desenvolve a sua habilidade, sendo a sua
experiência proporcional ao tempo de serviço.
Na construção civil brasileira a contratação da mão de obra geralmente não é realizada por
meio de uma seleção e treinamento formal. Com isto, as empresas acabam submetendo seus
processos de produção e estrutura organizacional aos hábitos provenientes da cultura de seus
operários, cultura essa, ainda ligada à sua origem social, o campo.
Conforme a autora referida anteriormente, diferentemente das outras indústrias, na construção
civil a produtividade é muito mais sensível e dependente do operário. Em particular, as
comunicações no processo produtivo são, na maioria das vezes, do tipo homem-homem, onde
a gestão humana é mais determinante do que a gestão técnica. Isto quer dizer que o ritmo e a
qualidade do serviço dependem quase que exclusivamente da mão de obra. Como resultado da
gestão humana, a estrutura hierárquica do ofício tornou-se, assim, o instrumento mais
eficiente de controle da produção.
Para Grandi (1988) apud Melhado; Souza (1991), durante o processo de colonização brasileira
a força de trabalho da indústria da construção era constituída por trabalhadores assalariados,
auxiliados multas vezes por escravos. Com a vinda da Família Real e a Abertura dos Portos,
muitos arquitetos estrangeiros passaram a contribuir na construção civil nacional. Também
nesse período surgem as primeiras escolas de engenharia.
Segundo os referidos autores, os anos de 1850 a 1930, são considerados o período da efetiva
formação da construção civil nacional. A construção ferroviária surgiu com destaque, sendo
que a atuação das empresas estrangeiras foi de grande influência para o surgimento de uma
classe operária de prestígio e bem organizada politicamente. De 1930 a 1950, nota-se uma
progressiva interferência do Estado. As inovações tecnológicas introduzidas foram
acompanhadas de uma gradativa desqualificação do profissional deste setor. De 1955 a 1970,
o mercado da construção civil foi marcado por uma forte demanda. Acentuou-se seu papel
sócio-econômico como absorvedor de mão de obra. O operário perdeu a casta de elite do
início do século e passou à categoria de peão.
Segundo FIESP (2011), a crise financeira internacional, em 2009, teve reflexos expressivos
no desempenho da indústria da construção como um todo, mas não mudou a trajetória de
longo prazo. Mecanismos de incentivos fiscais do Governo Federal, tais com: oferta de
crédito com juros mais atrativos; programas federais como o Minha Casa Minha Vida;
aumento da renda real do trabalhador e a queda do desemprego foram os principais
responsáveis pela expansão industrial deste segmento em 2010.
Para o referido autor, os números de 2009 são resultados de um ciclo de crescimento iniciado
em 2005 e que alcançou seu auge em 2008. O crescimento expressivo da cadeia produtiva da
indústria da construção civil se traduziu em mais postos de trabalho. Entre 2005 e 2009, foi
gerado 1,46 milhão de novas ocupações. O setor da construção, por ser um dos mais
intensivos em mão de obra, respondeu por 73% deste total.
É importante observar que o crescimento da ocupação deu-se juntamente com um forte
movimento de formalização das atividades, o que se refletiu no aumento expressivo do
número de empregados com carteira de trabalho registrada. De dezembro de 2005 a dezembro
de 2009, o emprego com carteira na indústria da construção registrou crescimento de 45%, ou
10% ao ano.
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Segundo CBIC (2011), em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria da construção
atingiu crescimento recorde de 11%, em relação a 2009. O desempenho de 2010 foi o melhor
desde a década de 1970. O setor imobiliário respondeu por 60% do crescimento registrado
neste ano e o restante veio das obras de infraestrutura.
De acordo com o referido autor, em 2010, o emprego com carteira assinada na construção
civil cresceu mais que o dobro da média nacional nas seis maiores regiões metropolitanas do
país. Neste setor, entre janeiro e outubro de 2010 o número de empregados com carteira
assinada aumentou 15,1% comparado com igual período de 2009. Enquanto isso, a ocupação
na construção civil como um todo teve um acréscimo de 7%. O setor encerrou 2010 com um
estoque de 2,8 milhões de trabalhadores e a falta de mão de obra continuará sendo um
problema nos próximos anos.
A construção civil brasileira retomou a rota do crescimento iniciada em 2005, mas trata-se de
um percurso que está apenas iniciando. O Brasil atualmente passa por um momento único:
crescimento contínuo, com grandes perspectivas de novos investimentos decorrentes de vários
eventos de grande porte como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Na
trajetória rumo ao crescimento contínuo existem grandes desafios e vão exigir o envolvimento
de governantes, empresários e de toda a cadeia produtiva.
Segundo Eliete (2011), a dificuldade em se atingir a qualidade desejada do produto, aliada à
complexidade e diversidade das tarefas da indústria da construção civil, dificultam a sua
produção. Para solucionar desafios como estes as construtoras recorrem tanto à
subcontratação de serviços específicos como à subempreitada da mão de obra.
Atualmente na construção civil além das dificuldades de planejamento e controle da produção
existe outro fator agravante, a crise de mão de obra que aflige o setor, que conforme Leusin
(1993) apud Eliete (2011), um dos agentes provocadores deste colapso é o financiamento
farto.
Para enfrentar a atual crise de mão de obra, algumas estratégias podem ser formuladas, como
as indicadas por Vargas (1984) apud Eliete (2011), segundo a qual sem modificar sua base
tecnológica de produção e com intenção de racionalizar o trabalho, as construtoras buscam
reduzir custos e aumentar a produtividade, norteado pela busca de materiais, métodos e
gerenciamento da produção que favoreçam a racionalização do processo construtivo.
De acordo com Eliete (2011), o crescimento recente da construção civil carece modificações
no aspecto da sua industrialização e em adotar novas prática de racionalização, baseadas na
flexibilidade da produção e na participação da mão de obra nas deliberações na organização
do trabalho.
Segundo a referida autora, estes mecanismos não representam, no entanto, uma alteração
significativa. As construtoras continuam tendo dificuldades no planejamento e gerenciamento
das obras e dependendo da sua mão de obra, principalmente quanto à qualidade dos serviços e
produtos, da produtividade e da economia dos insumos.
1.1 A construção civil em Boa Vista/Roraima
Roraima situa-se na região norte do Brasil, sendo o Estado mais setentrional da federação.
Ocupa uma área de 224.298,980 km² e tem por limites: a República Bolivariana da Venezuela
ao norte e nordeste; a República Cooperativa da Guiana ao leste; o Estado do Pará ao sudeste
e o do Amazonas ao sul e oeste.
Não se pode definir o perfil da mão de obra de uma região sem antes fazer referência à
história local. A narrativa da ocupação do Estado de Roraima confunde-se com a história da
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indústria da construção civil local. Os primeiros colonizadores chegaram no início da década
de 1660, quando os portugueses adentraram na bacia hidrográfica do rio Branco em busca de
pedras preciosas e indígena para serviços escravos. Antes dos portugueses, os ingleses e
holandeses, com finalidade de explorar a bacia do rio Branco através das Guianas, já tinham
sidos atraídos para a região. A soberania de Portugal só foi estabelecida após os espanhóis
invadirem a parte norte do rio Branco. Os colonizadores portugueses em conjunto com os
nativos indígenas, após assumirem o controle total da referida área, criaram diversos
povoados.
A história de Roraima é muito recente, pois apesar da bacia do rio Branco ter sido conhecida
em 1639, foi somente em 1775, quase três séculos após a descoberta do Brasil, é que foi
construído o Forte São Joaquim, marco consolidador da presença portuguesa na região.
Avaliar como o trabalhador da construção civil é aproveitado, obtendo um conhecimento
parcial da sua satisfação e proporcionar sugestões de como aumentar o contentamento no
trabalho tornou-se oportuno nos dias presentes.
São raros os estudos sobre o tema desta pesquisa em Roraima. Uma das poucas publicações
existentes, FIER (2007), analisou o trabalhador da construção civil no Estado de Roraima,
onde entrevistou uma pequena amostra de trabalhadores. Também, autores que publicam
obras sobre a história local, entre eles FREITAS (2009); OLIVEIRA (2009) e MIRANDA
(2009) retratam aspectos da indústria da construção civil observando exclusivamente o que
este setor industrial representa para a economia local.
Este trabalho pretende definir o perfil da mão de obra da construção civil, nos dias atuais,
dando ênfase no que diz respeito ao nível de satisfação dos operários junto à empresa que ele
trabalha, onde os resultados das análises dos dados levarão à proposição de ações visando à
melhoria da competitividade e da qualidade dos produtos finais.
2. Metodologia
A Figura 1, a seguir, apresenta um fluxograma contendo resumidamente a metodologia
aplicada neste estudo.
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Figura 1 – Fluxograma da metodologia aplicada no estudo
O tema em estudo buscou caracterizar a mão de obra da indústria da construção civil de Boa
Vista/RR, dando ênfase no que diz respeito aos aspectos profissionais e sociais do universo
analisado.
As construtoras participantes foram selecionadas considerando-se o foco na produção de
construções em Boa Vista/RR. No entanto, pela complexidade da referida indústria foram
considerados dois aspectos de limitações, a saber: primeiro, as construtoras deveriam ter obras
em andamento em Boa Vista/RR; segundo, deviam ser registradas no CREA/RR e no
SINDUSCON/RR. Também, se procurou distinguir se as construtoras possuíam sua sede
principal em Boa Vista/RR ou em outros Estados da federação.
Foram solicitados ao CREA/RR e ao SINDUSCON/RR relação das construtoras cadastradas
em 2010. De posse desse registro foram escolhidas as principais empresas que operavam em
Boa Vista/RR, de forma a obter maior acessibilidade aos trabalhadores nos canteiros de obras
e da sua disponibilidade de participar da pesquisa.
Para este trabalho estabeleceu-se algumas variáveis essenciais no processo produtivo da
construção civil, relativa à mão de obra, a saber: sexo; idade; escolaridade; condições de
moradia, de alimentação e de transporte; renda; saúde; hábito de lazer entre outros. O
questionário continha questões fechadas e abertas.
Para distinguir a população o critério adotado foi analisar operários que exerciam,
exclusivamente, atividades no canteiro de obras e que eram registrados na empresa com
carteira de trabalho registrada.
A análise dos dados envolveu procedimentos, tais como, codificação das respostas e cálculos
estatísticos. Também foram realizadas comparações de dados deste trabalho com estudos
similares realizados em outros Estados brasileiros.
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3. Resultados
3.1 Características das construtoras
Neste estudo participaram quatro construtoras: três roraimenses e uma de outro Estado
brasileiro. Todas operavam na cidade de Boa Vista/RR e os principais ramos de atividades
eram obras de construção civil e de infraestrutura. Todas possuíam mais de dez anos de
atuação no mercado e no período da ocorrência desta pesquisa possuíam, em média, duas
obras em construção.
A Tabela 1, a seguir, apresenta algumas características das construtoras participantes deste
estudo. Para manter a privacidade das empresas, aqui foram identificadas por letras
maiúsculas.
ATRIBUTOS CONSTRUTORA
A B C D
Tempo de atuação no mercado 18 anos 23 anos 16 anos 15 anos
N° de funcionários operacionais 48 25 68 251
N° de obras em andamento 3 7 2
Regime de contratação de mão
de obra
Trabalha em
conjunto com
empreiteira de
mão de obra,
além de outros
subempreiteiros
especialistas
Trabalha em
conjunto com
empreiteira de
mão de obra,
além de outros
subempreiteiros
especialistas
Trabalha em
conjunto com
empreiteira de
mão de obra,
além de outros
subempreiteiros
especialistas
Trabalha em
conjunto com
empreiteira de
mão de obra,
além de outros
subempreiteiros
especialistas
Tem certificado de algum
sistema de gestão da qualidade
Não Não Em processo de
implantação do
certificado do
PBQP-H
Tem implantado
certificado da
ISO 9001
Tabela 1 – Principais características das construtoras analisadas
3.2 Características da mão de obra
A seguir, serão apresentados alguns atributos que caracterizam os trabalhadores da indústria
da construção civil de Boa Vista/RR.
A Figura 2 apresenta a porcentagem de trabalhadores por sexo.
Masc.99%
Fem.1%
Figura 2 – Porcentagem de trabalhadores por sexo
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Pela Figura 2, observou-se que os trabalhadores do sexo masculino predominam na
construção civil em Boa Vista/RR, também é comum em outras regiões brasileiras. Tal fato
deve-se as exigências de esforço físico intenso que o processo construtivo na sua maioria
exige. Portanto, a ausência de mão de obra feminina não apenas em Boa Vista/RR, deve-se a
pequena quantidade de cargos que exigem pouco esforço físico neste setor industrial. Isto se
justifica em parte ao Decreto-Lei n° 5.452, de 01/05/1943, que aprovou a Consolidação das
Leis do Trabalho - CLT, cujo Art. 390 veta a contratação de mulheres para serviços avaliados
pesados.
Apesar do número de mulheres que trabalham na construção civil roraimense ser
significativamente inferior ao de homens, no momento, alguns Estados da federação
apresentam aumento relevante da mão de obra feminina nos trabalhos antes executados
exclusivamente por homens. Isto se justifica pela carência de mão de obra masculina para
algumas funções no mercado de trabalho. Diante da carência da mão de obra masculina, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI de diversos Estados, inclusive de
Mato Grosso do Sul, organizou cursos de aperfeiçoamento para mulheres interessadas em
atender essa demanda.
A Figura 3, a seguir, apresenta dados da faixa etária dos trabalhadores da construção civil de
Boa Vista/RR.
21,65%
16,49%
15,46%
19,59%
20,62%
6,19%
0,00%14 - 18
19 - 20
21 - 25
26 - 30
31 - 35
36 - 40
> 40
Figura 3 – Ilustração da faixa etária dos trabalhadores da construção civil de Boa Vista/RR
Na Figura 3 observa-se que a maioria dos trabalhadores da construção civil tinha idade
superior a 40 anos. Estudo semelhante realizados em Goiânia/GO, FUNDACENTRO (1991),
revelou que a maioria dos trabalhadores tinha entre 21 e 35 anos. Comparando este dado com
o obtido em Boa Vista/RR, percebeu-se que a mão de obra de Boa Vista/RR é mais velha. No
entanto, considerando a faixa etária entre 21 e 35 anos, a mais apropriada para o trabalho
pesado que o setor da construção civil solicita, onde os dados de Goiânia/GO e Boa Vista/RR
apresentaram percentuais de 58,93% e 55,67%, respectivamente, observa-se que em ambas as
localidades a maioria é apropriada para trabalhar na construção civil.
A Figura 4, a seguir, ilustra uma representação gráfica da procedência dos trabalhadores
analisados, por região geográfica brasileira.
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Nordeste46,39%Norte
50,52%
Centro Oeste2,06%
Suldeste1,03%
Figura 4 – Representação da procedência dos trabalhadores, por região brasileira
Conforme a Figura 4, a região Norte foi a mais indicada quanto à origem dos trabalhadores,
com 50,52%. Em seguida, a região Nordeste, com 46,39%. Para explicar a expressiva
migração para Boa Vista/RR pode-se mencionar a busca por melhor qualidade de vida e o
crescimento econômico do Estado de Roraima nos últimos anos.
A Figura 5, a seguir, apresenta o nível de escolaridade dos trabalhadores em estudo.
4,12%
54,64%
7,22%
13,40%
8,25%
4,12%
8,25%SEM INFO.
SUP. INC.
MÉD. COMP.
MÉD. INC.
FUND. COMP.
FUND. INC.
ANALFABETO
Figura 5 – Representação do nível de escolaridade dos trabalhadores analisados
Segundo a Figura 5 observa-se que a maioria dos entrevistados possuía o ensino fundamental
incompleto, concretizando o paradigma que a construção civil absorve trabalhadores com
baixo grau de escolaridade. Os principais fatores que influenciam no baixo grau de
escolaridade destes trabalhadores são: falta de recursos para se manter na escola; entrada
precoce no mercado de trabalho e, sistema educacional ineficiente gerando pouco interesse
em conseguir um trabalho melhor.
A Figura 6, a seguir, apresenta dados da qualificação profissional dos trabalhadores em
estudo.
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Sim25,77%
Não65,98%
Sem Infor.8,25%
Figura 6 – Representação da qualificação profissional dos trabalhadores em estudo
Conforme a Figura 6, a maioria dos entrevistados revelou que não tinham curso de
capacitação. Quanto aos que já participaram de cursos de capacitação apenas 25,77%
informaram já ter participado e 8,25% não informaram.
A Figura 7, a seguir, apresenta os dados quanto à forma de aprendizagem da profissão atual
dos trabalhadores analisados.
7,22%
15,46%
36,08%
7,22%
28,87%
2,06%
3,09%SEM RESP.
OUTROS
EXPERIÊNCIA PRÓPRIA
CURSO PROFISSINALIZANTE
FOI AJUDANTE
AMIGOS
PAIS
Figura 7 - Forma de aprendizagem da profissão atual dos trabalhadores em estudo
Da Figura 7, observou-se que 36,08% dos entrevistados responderam que antes de exercer a
profissão atual foram ajudantes de oficial; 28,87% começaram a exercer a profissão por conta
própria; 15,46% aprenderam com amigos e 7,22% aprenderam com os pais. Estes dados
revelam que a maioria dos entrevistados não aprendeu a profissão em cursos
profissionalizantes, representando 87,63%.
A Figura 8, a seguir, apresenta o tempo de serviço dos trabalhadores analisados.
22,68%
15,46%
9,28%
4,12%
4,12%
17,53%
3,09%
3,09%
11,34%
9,28%SEM RESPOSTA
16 ou mais
13 a 15
11 a 12
9 a 10
7 a 8
5 a 6
3 a 4
1 a 2
Menos de 1
Figura 8 – Representação do tempo de serviço dos trabalhadores analisadas
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Segundo a Figura 8, a maioria dos trabalhadores, 22,68%, estava no atual emprego apenas a
um ano. Foi expressiva a porcentagem de entrevistados que possuía de nove a dez anos,
17,53%; bem como os que estavam há dezesseis ou mais anos, cerca de 11,34%.
A Figura 9, a seguir, apresenta dados da rotatividade da mão de obra em estudo.
28,87%
38,14%
5,15%
4,12%
8,25%
9,28%
6,19%SEM RESP
Sup. A 10
9 a 10
7 a 8
5 a 6
2 a 4
1
Figura 9 – Representação da rotatividade da mão de obra em estudo
De acordo com a Figura 9, a maioria dos trabalhadores já trabalhou em duas a quatro
empresas, representando 38,14%. A rotatividade da mão de obra nas empresas não é benéfica
nem para a empresa, nem para os trabalhadores, pois o curto período de permanência numa
construtora prejudica e dificulta o aperfeiçoamento e a ascensão profissional do trabalhador,
proporcionando baixa produtividade e não-conformidade nos serviços.
4. Conclusão
Determinadas aspectos referentes à mão de obra da construção civil foram destacados neste
estudo, tal como, que os trabalhadores da construção civil de Boa Vista/RR são
predominantemente do sexo masculino e que devido a sua escassez no mercado as
construtoras locais, num futuro próximo, poderão ter a mesma dificuldade de obter mão de
obra, o que já ocorre em outros Estados brasileiros. Para atenuar este enigma alguns órgãos
como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, o Instituto Federal de
Roraima - IERR e a UFRR poderiam ofertar cursos de capacitação para o publico feminino
atender esta demanda.
Também, foi retratado que a maioria dos trabalhadores aprendeu a atual profissão quando
trabalhavam como ajudante de oficial. Assim sendo, programas de incentivo para capacitação
de operários é uma necessidade urgente, pois a qualificação dos trabalhadores é fundamental
para o desenvolvimento industrial de uma região.
Esta pesquisa servirá de incentivo para a realização de novos estudos de forma a envolver
construtoras, trabalhadores e demais entidades interessadas na promoção de melhorias e na
qualidade de vida dos trabalhadores da construção civil, como um dos requisitos ao aumento
da produtividade e redução de custos para as empresas desta atividade econômica.
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