o pastor contemplativo intro

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Peterson, Eugene H., 1932

    O pastor contemplativo: descobrindo o significado em meio ao ativismo / Eugene H.Peterson; traduzido por Neyd Siqueira So Paulo: Mundo Cristo, 2008, 2 ed. revisada.

    Ttulo original: The Contemplative PastorISBN 978-85-7325-541-6

    1. Clero Ministrio 2. Direo espiritual 3. Teologia pastoral I. Ttulo.

    08-05209 CDD 253.53

    ndice para catlogo sistemtico:1. Direo espiritual: Cristianismo 253.53Categoria: Espiritualidade

    Publicado no Brasil com todos os direitos reservados pela:Editora Mundo Cristo

    Rua Antnio Carlos Tacconi, 79, So Paulo, SP, Brasil, CEP 04810-020Telefone: (11) 2127-4147Home page: www.mundocristao.com.br

    2 edio revisada: agosto de 2008

    Copyright 2008 por Eugene H. PetersonPublicado em acordo com a agncia literria Alive Communications, Inc.,Colorado Springs, EUA.

    Editora responsvel: Silvia JustinoEditora assistente: Tereza GouveiaSuperviso editorial: Ester Tarrone

    Assistente editorial: Miriam de AssisPreparao: Marcos GranconatoReviso: Joana FaroCoordenao de produo: Lilian MeloColaborao: Pmela MouraCapa: Douglas Lucas

    Os textos das referncias bblicas foram extrados da Nova Verso Internacional

    (Sociedade Bblica Internacional), salvo indicao especfica.

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998. expressamente proibida a reproduo total ou parcial deste livro, por quaisquermeios (eletrnicos, mecnicos, fotogrficos, gravao e outros), sem prvia auto-rizao, por escrito, da editora.

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    Prefcio 7

    REDEFINIES1. O substantivo indefeso 21

    2. O pastor ocioso 25

    3. O pastor subversivo 35

    4. O pastor apocalptico 47

    ENTRE OS DOMINGOS5. Ministrio em meio ao tumulto 61

    6. Cura de almas: a arte esquecida 65

    7. Orando de olhos abertos 75

    8. Primeira linguagem 95

    9. O crescimento uma deciso? 103

    10. O ministrio da conversa trivial 11711. Enfermo de uma nova maneira 123

    12. Preso ao mastro 135

    13. Deserto e colheita: uma histria sabtica 145

    A PALAVRA RENOVADA14. Poetas e pastores 157

    15. Poemas 161

    Sumrio

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    Para

    H. James Riddell

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    Prefcio

    Se Eugene H. Peterson no fosse presbiteriano, ele

    poderia ser um monge. Seus livros mais conhecidos, Uma

    longa obedincia na mesma direo: Discipulado numa so-

    ciedade instantnea1e Traveling Light to Earth and Altar

    [Viajando sem bagagem para a terra e o altar], republicado

    sob o ttulo Onde est seu tesouro,2tratam da prtica da es-

    piritualidade crist.

    Peterson tem um comportamento monstico. Ele ma-

    gro, usa barba e est ficando calvo. Possui uma voz baixa e

    rouca, de algum que enfrentou muitas vezes as noites som-

    brias da alma. Tem o ar firme e sereno, prprio dos que

    superam o medo inato do silncio e da solido. E mesmo

    quando tem algo duro a dizer, palavras bondosas parecem

    brotar de uma profundeza genuna.

    Deixando, porm, de lado o aspecto monstico, Peterson um verdadeiro protestante, pastor da Igreja Presbiteriana

    Cristo Nosso Rei, em Bel Air, Maryland. Ele decidiu desde

    o incio nunca pastorear uma igreja com mais membros do

    que pudesse chamar pelo nome. Eugene e sua esposa, Jan,

    fazem parte da igreja Cristo Nosso Rei, uma congregao

    de cerca de trezentos membros, h 26 anos.

    1 So Paulo: Cultura Crist, 2005.2 Rio de Janeiro: Textus, 2005.

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    8 O PASTOR CONTEMPLATIVO

    A partir da publicao da obra Uma longa obedincia na mesma dire-

    o, em 1980, Eugene ganhou uma reputao bastante difundida (embora

    apropriadamente discreta) como pastor zeloso e franco, que compreendeas disciplinas espirituais e sabe comunicar sua prtica.

    Seu ministrio pastoral e seus escritos so produto de um ambiente

    erudito. Eugene domina as lnguas bblicas e obteve seu doutorado com o

    magistral William F. Albright. Ele, contudo, evita exibir seus conhecimen-

    tos. Petersen fica, na verdade, constrangido com perguntas insistentes so-

    bre seus livros, afirmando que sua marca distintiva e objetivo na vida so

    apenas as coisas prprias de um pastor confivel. Num mundo de conver-sas vazias e exibicionismo cada vez maiores, Petersen se dedicou promo-

    o no apreciada da honestidade, da simplicidade e do contedo.

    Em setembro de 1987, passei trs dias com Eugene e Jan, mas no em

    Bel Air. Eu os visitei na casa de seus falecidos pais no noroeste de Montana,

    durante a licena sabtica de um ano de Eugene (as reflexes dele sobre

    esse perodo esto no Captulo 13). A casa fica situada em uma baa do

    lago Flatchead, um espelho azul do imenso cu que se estende por trs dapropriedade. As Montanhas Rochosas, com seus picos nevados, rodeiam o

    lago. A apreciao de Eugene evidente. Uma noite ele ficou na cozinha,

    com a luz tremulante do lago refletida no teto pelo sol no ocaso. Com as

    mos enfiadas nos bolsos dos jeans, ele olhou pela janela e murmurou so-

    zinho: Amo a sensualidade deste lugar.

    Os Peterson ficaram em Montana at outubro, passando horas em ora-

    o, caminhando nas montanhas prximas, lendo juntos em voz alta, es-quiando pela regio, Eugene escrevendo e Jan datilografando os rascunhos

    de dois livros. O tempo a ss do casal momentos preciosos para qual-

    quer dupla envolvida com o ministrio foi pontuado pelas visitas dos

    filhos Karen, Eric e Leif.

    Setembro era a poca ideal para uma entrevista. Eugene sentia-se revi-

    gorado pelo perodo sabtico, pronto para voltar a seu trabalho pastoral.

    Passamos horas junto a um gravador, mas passeamos tambm pelas mon-tanhas perto da casa, enquanto Eugene discutia as formaes geolgicas,

    contava lendas indgenas sobre os frutos das conferas e mostrava uma

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    PREFCIO 9

    sucesso infinita de vida selvagem. Quaisquer que fossem, no entanto, os

    assuntos da conversa, ela retornava sempre aos temas ligados espiritua-

    lidade: a importncia do lugar, o valor da criatividade, o papel central dacomunidade e a necessidade da insurreio crist. Quando perguntado sobre

    o que unia tudo, Eugene, observando uma guia-pescadora que voava so-

    bre a baa, citou a ltima linha doDiary of a Country Priest [Dirio de um

    sacerdote campons], de Bernanos: A graa est em toda parte.

    ESPIRITUALIDADE E LUGAR

    A pessoa [...] que busca resultados rpidos ao plantar as sementes das boas

    obras ficar decepcionada. Se eu quiser batatas para o jantar de amanh, de

    nada adiantar plantar sementes de batata nesta noite. H longos perodos de

    escurido, invisibilidade e silncio que separam a semeadura da colheita. Du-

    rante os perodos de espera esto o cuidado e o cultivo, assim como a forma-

    o e plantio de outras sementes.

    Traveling Light3

    Seus livros so terrenos no sentido literal da palavra. Incluem metforas

    agrcolas, ttulos como Terra e Altar. Embora vivamos numa sociedade emi-

    nentemente mvel, lendo-os experimentamos um forte sentimento de lugar,

    da importncia do local em que a pessoa se encontra.

    Eu gosto de ler o poeta-agricultor Wendell Berry. Ele se volta para um pe-

    queno pedao de terra em Kentucky, cuida dele, respeita-o, submete-se aele como um artista se submete a seus materiais. Leio Berry e cada vez que ele

    fala de fazenda e terra, substituo esses termos por congregao. En-

    quanto fala de sua fazenda, ele se refere ao que tento praticar em minha igreja,

    porque um dos principais aspectos da obra pastoral a localizao.

    A pergunta pastoral : Quem so essas pessoas e como estar no meio de-

    las de modo que venham a ser aquilo em que Deus as est transformando?.

    Meu trabalho simplesmente ficar ali, ensinando, pregando as Escrituras

    3Eugene H. PETERSON, Colorado Springs: Helmerrs & Howard Publising, 1988.

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    10 O PASTOR CONTEMPLATIVO

    da melhor forma possvel e sendo sincero, sem fazer nada para interferirno que o Esprito est esculpindo nas pessoas. Ser que Deus est fazendo

    algo que eu sequer poderia imaginar? Estou preparado para ficar em siln-cio por um dia, uma semana ou um ano? Como Wendell Berry, estou dis-posto a passar cinqenta anos recuperando essa terra? Com essas pessoas?

    Espiritualidade crist significa viver na inteireza madura do Evangelho.Significa tomar todos os elementos da vida filhos, cnjuge, trabalho, tem-po, bens, relacionamentos e experiment-los como um ato de f. Deusquer todo o material de nossa vida.

    O que significa experimentar todo o material de nossa vida

    como um ato de f?

    Significa que sou responsvel por dar ateno Palavra de Deus aqui nestelocal. O conceito de espiritualidade denota que Deus est sempre fazendoalgo antes que eu perceba. A tarefa ento no conseguir que Deus faaalgo que eu acho que deve ser feito, mas discernir o que ele est realizan-do, de modo a responder a sua atuao, participando e me alegrando nela.

    Quando me envolvo com minha congregao, chego s vezes admiradoem casa ao descobrir o que est ocorrendo na vida das pessoas. No por-que no sejam pecadoras. Elas vivem e pecam, se rebelam e fazem coisasinsensatas, mas a coragem e a graa se acham ali quase todos os dias. Quan-do estou trabalhando isto , quando no fico isolado, mas mergulho emmeu prprio ambiente percebo que meu sentimento caracterstico nofinal do dia uma sensao de reverncia diante da influncia de Deus sobre

    essas pessoas.

    Mencione alguns incidentes que o fizeram entender isso.

    Penso em Leigh e Joe Phipps. Leigh era a professora da primeira srie demeu filho caula e Jan era assistente dela. Em certa ocasio, Jan convidou-a para ir igreja. Leigh disse que talvez fosse, mas no gostava de vestir-seformalmente. Domingo era o dia do jeans, ento Jan disse a Leigh que, se

    quisesse, podia ir vestida assim.A partir desse momento, surgiu uma espcie de brincadeira entre elas.

    Sempre que encontrava Leigh na mercearia, Jan brincava: melhor lavar

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    seusjeans!. Mas Leigh nunca apareceu. Os anos se passaram. Nossa filha

    Karen foi ento fazer um curso de cermica, e Leigh era uma das alunas.

    Ela foi apresentada a Karen, mas nada aconteceu. Bem, ao menos faza-mos parte da mesma comunidade. Finalmente, h dois anos, ocorreu algo

    novo: depois de vinte anos de orao e espera, Leigh tornou-se crist!

    Esse no o fim da histria. Joe Phipps fora um colega de escola de Leigh

    de quem ela gostava muito. Eles namoraram e desmancharam algumas

    vezes, mas a vida dele tomou rumos errados. Ele se envolveu com drogas

    e acabou preso por contrabando. Ento, certo dia, ele clamou por ajuda e

    passou por uma espcie de converso. Em seguida, procurou Leigh e lhedisse: No sei o que isso significa. Ela respondeu que conhecia um pastor

    e o trouxe a mim.

    Leigh e Joe acabaram se casando. Eles me pediram para tocar banjo e

    cantarFarther Along[Bem mais adiante] com Jan no casamento. Leigh

    e Joe e o casamento deles ainda tm um longo caminho a percorrer. Ele

    est cumprindo pena na priso, mas passou a assinar seu nome desta ma-

    neira: Joe Bem Mais Adiante Phipps.

    Ento como pastor voc v graa em algumas situaes

    improvveis?

    Vejo sim, e meu trabalho no resolver os problemas das pessoas ou torn-

    las felizes, mas ajud-las a ver a graa operando em suas vidas. Isso difcil

    porque toda a nossa cultura segue em outra direo, dizendo que se voc

    for inteligente o bastante e obtiver a ajuda certa, poder resolver todos osseus problemas. A verdade, porm, esta: no encontramos muitas pes-

    soas felizes na Bblia. Contudo, h pessoas que experimentam alegria, paz,

    e o significado do sofrimento de Cristo em suas vidas.

    A obra da espiritualidade reconhecer onde nos encontramos as

    circunstncias particulares de nossa vida perceber a graa e indagar:

    Ser que Deus quer ficar a meu lado sem mudar meu cnjuge ou sem me

    afastar dele e de meus filhos? Ser que seu propsito mudar a mim mes-mo e fazer algo em minha vida que eu jamais poderia provar sem dor e

    sofrimento?.

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    12 O PASTOR CONTEMPLATIVO

    Algumas vezes, penso que tudo o que fao como pastor falar a palavraDeus em uma situao na qual ela nunca fora dita antes, onde as pessoas

    jamais reconheceram sua presena. Alegria a capacidade de ouvir essenome e reconhecer que Deus est aqui. H uma espcie de regozijo porqueDeus est agindo e, mesmo que faa algo pequeno, isso basta no momento.

    ESPIRITUALIDADE E CRIATIVIDADE

    Obras originais da graa so possveis na tarefa diria de perdoar o pecador,

    ajudar os que sofrem e aceitar responsabilidades pessoais [...] A criao conti-

    nua. As ruas e os campos, as casas e os mercados do mundo so uma galeria de

    arte que no exibe a cultura, mas novas criaes em Cristo.

    Traveling Light4

    Voc escreveu que todos nascem para viver criativamente, mas

    muitos de ns falhamos nisso. Qual a razo?

    Em grande parte porque somos preguiosos. A criatividade difcil.Quando voc criativo, vive pela f. No sabe o que vir em seguida por-que o que foi criado, por definio, nunca existiu antes. Ento voc se v

    vivendo dentro dos limites de algo em que no confia muito. Talvez vocfalhe; de fato, ir falhar quase sempre. Todas as pessoas criativas que co-nheo jogam fora a maior parte das coisas que fazem.

    Outra razo pela qual talvez no nos inclinemos a viver

    criativamente seja nossa noo limitada da criatividade. Tendemos a

    pensar que s os artistas e os escritores de fico so criativos.

    O fato que a maior parte da criatividade no visvel. Isto , quase nin-gum nasce com corpo de atleta ou com habilidade artstica para pintar.Todavia, acho que todos tm criatividade. Com materiais diferentes, ela a base de nossa vida.

    No existe vida que no tenha recebido graa. Acabei de ler uma carta

    enviada por um casal de amigos de Jan que moram em Seattle. Eles tm

    4Op. Cit.

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    PREFCIO 13

    uma filha de um ano. Duas ou trs semanas aps seu nascimento, desco-

    briram que a criana era quase cega.

    Conheo Ruthie desde que ela era adolescente e, portanto, participei desua dor. Sofri tambm com seu marido, Dave. Ele um sujeito vigoroso,que gosta da vida ao ar livre. J escalou montanhas em todos os continen-tes do mundo. Dave tem uma espiritualidade profunda e silenciosa. umcasal maravilhoso, mas a filhinha deles nasceu cega. Minha primeira rea-o foi acolher uma enorme sensao de tristeza e tragdia do tipo:Como isso foi acontecer com Dave e Ruthie?.

    Conversei, porm, com Ruthie ontem pelo telefone. Ela disse: Tivemuitas experincias em minha vida, mas nenhuma maior do que a de serme. Disse tambm que tnhamos que ver Dave com a filha. A pequenaCairn, de pouco mais de um ano, j esteve em picos de montanhas na Pe-nnsula Olmpica, nas Cascades, nas Rochosas e nas Smoky. Dave a levasempre em suas excurses.

    Essa criana est trazendo tona o que h de melhor neles. Cairn, qual-quer que seja a sua condio, um presente de Deus. Eis um casal que est

    vivendo criativamente: eles tomaram o que lhes foi dado e o inseriram navida de graa e redeno.

    ESPIRITUALIDADE E COMUNIDADE

    Nosso compromisso com a igreja um corolrio da nossa f em Cristo. No

    podemos ser cristos e no ter nada em comum com a igreja, assim como no

    podemos ser pessoas e no pertencer a uma famlia [...] Essa uma parte in-

    tegrante da redeno.

    Uma longa obedincia na mesma direo5

    Os cristos norte-americanos tendem a se concentrar na orao parti-

    cular em vez de dar importncia orao comunitria ou orao durante

    o culto. Em seus escritos voc d a entender que no se sente confortvel com

    essa tendncia.

    5Eugene H. PETERSON, So Paulo: Cultura Crist, 2005.

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    verdade. A orao-modelo no solitria, mas feita em comunidade.O contexto bblico bsico para ela a adorao. por isso que o culto meparece ser a melhor ocasio para pratic-la. o nico contexto no qual

    podemos recuperar a profundidade do Evangelho.

    Isso significa que aprendemos a orar na comunidade, que aquilo

    que fazemos a ss algo que extramos da adorao comunitria?

    Isso mesmo. Se algum me diz: Ensine-me a orar, respondo: Venha a

    esta igreja s nove horas da manh de domingo. Voc aprende a orar nos

    cultos. Evidentemente, a orao uma prtica contnua e assume formasalternativas quando se est sozinho. Porm, os crentes inverteram a ordem

    de importncia. Na longa histria da espiritualidade crist, a orao comu-

    nitria vem primeiro, depois a individual.

    O que aprendemos na orao em conjunto?

    Uma lio que aprendemos ser guiados em orao. Posso pensar na ora-

    o como uma iniciativa minha. Percebo que tenho uma necessidade ouque estou feliz e ento oro. A nfase est em mim e sinto quando oro que

    eu mesmo dei incio a alguma coisa.

    Mas o que acontece quando vou reunio da igreja? Fico ali sentado at

    que algum se levanta, pe-se frente e diz: Vamos orar. No fui eu que

    comecei; estou apenas respondendo. Isso significa que fui humilhado. Meu

    ego no ocupa mais o lugar de proeminncia. Essa mudana bsica na

    orao, porque orar um discurso pronunciado como resposta.A orao deve ser uma resposta ao que Deus disse. A congregao que

    adora ouvindo a Palavra lida e pregada, e celebrando-a nos sacramentos

    o lugar onde aprendo a orar e onde pratico a orao. Ela o centro no

    qual eu oro. Ao deix-la vou para meu quarto ou para as montanhas e con-

    tinuo orando.

    Uma segunda verdade sobre orar em comunidade que quando oro

    numa igreja meus sentimentos no so levados em conta. Quando entrona congregao ningum me pergunta: Como voc est se sentindo hoje?

    Sobre o que tem vontade de orar?.

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    PREFCIO 15

    A igreja , assim, um lugar onde aprendo gradualmente que a orao no

    condicionada ou autenticada por meus sentimentos. Nada mais devasta-

    dor para a orao do que quando comeo a avali-la de acordo com meussentimentos e penso que para orar seja necessrio provar alguma sensao

    especial, certa impresso espiritual ou paz; ou ainda, de outro lado, angstia.

    Isso praticamente impossvel aprender por si mesmo. Mas se eu esti-

    ver numa congregao, aprenderei sempre que a orao continuar quer

    eu queira ou no. Alis, ela continuar at mesmo se eu dormir o tempo

    todo.

    ESPIRITUALIDADE E SUBVERSO

    A orao uma atividade subversiva. Ela envolve um ato praticamente franco

    de desafio contra qualquer reivindicao do regime em vigor. [ medida que

    oramos,] lenta mas seguramente, nem cultura, nem famlia, governo, empre-

    go, ou mesmo o ego tirnico pode resistir ao poder silencioso e influncia

    criativa da soberania de Deus. Cada lao natural de famlia e raa, cada com-promisso deliberado com pessoas e com a nao finalmente sujeito ao gover-

    no de Deus.

    Onde seu tesouro est6

    Os cristos norte-americanos aceitam muito facilmente a idia

    de que a cultura que os cerca crist?

    Sim. proveitoso ouvir pessoas de outras culturas inseridas em nossa parasaber o que ouvem e o que vem. Pelo que tenho percebido, elas no vem

    aqui um pas cristo. Se voc ouvir Solzhenitsyn7 ou o Bispo Tutu, ou estu-

    dantes universitrios da frica ou da Amrica Latina, ver que eles no

    enxergam os Estados Unidos como um pas cristo. Na verdade, vem algo

    que quase o oposto disso.

    6Eugene H. PETERSON, So Paulo: Mundo Cristo, 2005.7Trata-se de Aleksandr Isayevich Solzhenitsyn, escritor russo, autor do best-sellerArquiplagoGulag. (N. do E.)

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    16 O PASTOR CONTEMPLATIVO

    Percebem muita cobia e arrogncia. Vislumbram uma comunidade

    crist despojada de quase todas as virtudes da comunidade crist bblica

    que ligada vida sacrificial e ao amor visvel. Vem muita indulgnciaem relao a sentimentos e emoes e uma busca vida de gratificao.

    Algo tambm importante: eles enxergam alm da fachada da nossa lin-

    guagem, do jargo cristo que colocamos diante de tudo. O que atrai os

    estrangeiros para a Amrica o materialismo e no a espiritualidade.

    interessante ouvir os refugiados que entram no pas: o que eles querem so

    carros e televiso. No esto procura do nosso evangelho, a no ser que

    interpretem o evangelho como promessa de riquezas e conforto.

    Voc prega sobre isso para a sua congregao?

    Sim.

    Como faz isso? Tenho certeza de que no fcil.

    Como sabe, sou um deles. Vivo no mesmo tipo de casa que eles. Dirijo o

    mesmo tipo de carro. Compro nas mesmas lojas. Sou, ento, como eles.Estamos todos no mesmo barco.

    possvel para alguns afastar-se da sociedade e formar uma espcie de

    colnia, a fim de desafiar a sociedade com um modelo novo de tropa de

    choque. Esse no , porm, meu chamado, e no acho recomendvel usar

    a linguagem do separatismo em uma congregao em que todos temos em-

    prego e estamos tentando encontrar espao como discpulos na sociedade,

    fazendo o que for possvel nela. Se agir assim, perderei credibilidade. Usa-rei um tipo de linguagem no domingo e outro na segunda-feira.

    O que tentei desenvolver ento, em primeiro lugar em mim mesmo, foi

    a mentalidade de um subversivo. O subversivo algum que toma a colo-

    rao da cultura, na medida que isso seja visvel para os outros. Se perder

    a colorao, perde a eficcia. O subversivo trabalha em silncio e s ocultas,

    pacientemente. Ele se dedica vitria de Cristo sobre a cultura e se dispe

    a fazer pequenas coisas. Alis, nenhum subversivo faz nada grande em tempoalgum. Ele est sempre levando mensagens secretas, semeando a suspeita

    de que h algo alm daquilo que a cultura diz ser definitivo.

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    PREFCIO 17

    Cite alguns atos especficos da subverso crist

    So atos cristos comuns. Atos de amor sacrificial, justia e esperan-

    a. No h qualquer novidade nisso. Nossa tarefa desenvolver uma auto-identidade como cristos e no fazer essas coisas de maneira incidental em

    nossa vida, mas sim coloc-las no centro de tudo. Ao nos encorajarmos

    mutuamente, orarmos juntos, estudarmos juntos as Escrituras, passamos

    a sentir que essas coisas so de fato o cerne da nossa vida. E tambm reco-

    nhecemos que de fato no so o centro da vida do mundo, por mais que

    culturalmente as conversas versem sobre aspectos do cristianismo.

    Se pudermos desenvolver a noo de que o amor sacrificial, a justia ea esperana so a essncia de nossa identidade nos acompanham no tra-

    balho todos os dias e voltam conosco para casa todas as noites seremos

    ento realmente subversivos. preciso compreender que a subverso cris-

    t no nada gloriosa. Os subversivos no ganham batalhas. Tudo o que

    fazem preparar o terreno e mudar um pouco o ambiente em direo f

    e esperana, para que quando Cristo vier haja indivduos a sua espera.

    Devemos levar a srio o prefixo na palavra subversivo, a idia de sair

    de baixo de algo?

    Acho que sim. Estamos trabalhando em profundidade, no mago das coi-

    sas. As imagens do evangelho so imagens de crescimento que comeam a

    partir de baixo. Uma semente, por exemplo, subterrnea e subversiva.

    Tenho um amigo com cerca de 33 anos que pastor. Ele alto, tem boa

    aparncia e uma forte personalidade o tipo de pessoa adequada para tra-balhar na televiso ou com uma igreja de renome. Mas ele fez questo de

    descer a escada e est estabelecido na pequena cidade de Victor, em Mon-

    tana. Talvez necessitemos de mais pastores como ele, homens que quei-

    ram ser locais, que levem a srio um lugar e se dediquem a uma igreja que

    almeje ser uma comunidade real, usando o material simples do povo da

    lugar.

    assim que entendo a vida pastoral. Tenho servido igreja Cristo Nos-so Rei h 26 anos. Tudo o que William Faulkner conhecia eram duzentos

    ou trezentos hectares do Mississipi, e penso que isso o que quero fazer.

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    18 O PASTOR CONTEMPLATIVO

    Minha vontade conhecer duzentos a trezentos hectares de Cristo, conhe-

    cer e continuar conhecendo.

    Rodney ClappEditor associado Christianity Today, 1989

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    Redefinies

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  • 8/8/2019 O Pastor Contemplativo INTRO

    21/23

    O substantivo indefeso

    1

    Se, mesmo por um s momento, eu aceitar a definio

    que minha cultura faz de mim, isso me tornar indefeso.

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    22/23

    22 O PASTOR CONTEMPLATIVO

    Um substantivo puro no precisa de adjetivos. Os adjetivos

    atravancam o bom substantivo. Se, porm, o substantivo tiver sido preju-

    dicado pela cultura, os adjetivos se tornam necessrios.

    Pastorera um desses substantivos puros cheio de energia e vigor.

    Sempre gostei do som dessa palavra. Desde criana, ela me fazia pensar

    em algum que amava a Deus e tinha compaixo das pessoas. Embora os

    pastores que conheci no tivessem essas caractersticas, a palavra ainda

    mantinha sua fora, apesar dos modelos ruins. Ainda hoje, quando me

    perguntam como quero ser chamado, respondo sempre:Pastor.

    Ao observar, entretanto, a maneira como a vocao pastoral vivida na

    Amrica e ouvindo o tom e o contexto em que o termopastor pronun-ciado, compreendo que minha percepo da palavra muito diferente

    da dos outros. No uso comum esse substantivo fraco, definido a partir de

    caricaturas e diminudo por noes de oportunismo. A necessidade de ad-

    jetivos que o fortaleam essencial.

    Percebo que constantemente tenho de fazer esses reparos usando adje-

    tivos ao recusar as definies depastorque a cultura me oferece, redefinindo

    e reformulando minha vida luz dos conceitos e imagens das Escrituras. Acultura me trata com tanta amabilidade! Ela me encoraja a manter o credo

    ortodoxo, elogia minha prtica evanglica e louva minha devoo singular.

    Tudo o que a cultura pede que eu aceite sua definio de meu trabalho,

    ou seja, que eu me veja como um encorajador da boa vontade, como o

    sacerdote que ir aspergir gua benta sobre todas as boas intenes. Mui-

    tas pessoas que pensam assim so minhas amigas. Nenhuma delas, ao que

    me parece, conscientemente maliciosa.Mas se eu, por um s momento, aceitar essa definio da cultura sobre

    mim, vou me tornar vulnervel. Posso denunciar o mal e a insensatez o

  • 8/8/2019 O Pastor Contemplativo INTRO

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    O SUBSTANTIVO INDEFESO 23

    quanto eu quiser e serei tolerado em minhas denncias como um bobo da

    corte tolerado. Posso administrar a boa vontade dos outros e permitiro

    que eu faa isso, desde que seja s nos fins de semana.Por tudo isso, a essncia do termopastorpede uma redefinio. Com

    essa finalidade, ofereo trs adjetivos para explicar o substantivo: ocioso,

    subversivo e apocalptico.