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O PAPEL DO PEDAGOGO COMO MEDIADOR DE CONFLITOS NO ENSINO

MÉDIO

Sueli Delorenci ALVES1

Se a pedagogia estuda as práticas educativas tendo em vista explicitar as finalidades, objetivos sociopolíticos e formas de intervenção pedagógica para a educação, o pedagógico se expressa, justamente, na intencionalidade e no direcionamento dessa ação. Esse posicionamento é necessário, porque as práticas educativas não se dão de forma isolada das relações sociais, políticas, culturais e econômicas da sociedade. Libâneo, 2004

RESUMO: Percebendo a necessidade de destacar o papel do pedagogo

como mediador de conflitos, este trabalho pretende oferecer subsídios aos

pedagogos para que estes superem possíveis limitações acerca do assunto,

através do conhecimento de bibliografias pertinentes a mediação, entender os

sentimentos que surgem, a partir desta demanda, para melhor compreender

seu cotidiano e suas práticas escolares transformando a cultura do conflito em

cultura do diálogo uma vez que é um dos profissionais responsáveis pela

garantia da qualidade educacional, acessos e permanência do aluno na escola,

por trabalhar com os mais diversos perfis de profissionais da educação e

alunos de diferentes realidades.

Palavras- chave: Pedagogo. Conflito. Mediação.

1 Graduação:Pedagogia pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá

Especialização: Deficiência Auditiva Pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de

Paranaguá ePedagogia Terapêutica pela Universidade Tuiuti;Professora PDE 2010

Experiência Profissional: Pedagoga desde 1988 em escolas públicas paranaenses.

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Apresentação

Pesquisas e reportagens mostram que vivemos em um mundo onde a

corrida pelo TER sobrepõe o SER resultam em uma modificação social onde os

valores foram modificados e o relacionamento humano ficou para segundo

plano ocasionando diversas formas de conflitos e sentimos esta consequência

fortemente nos colégios onde sabemos ser lugar de reprodução social.

A educação para a resolução de conflitos ensina de maneiras

significativas, diversos processos, práticas e procedimentos que ajudam a

administrar de forma construtiva e a resolver o conflito individual, interpessoal e

institucional. Sabemos de nem sempre os conflitos são semelhantes, mas que

se utiliza modelos de intervenção idênticos.. O conflito é tomado como uma

dimensão natural e inevitável da existência humana que, se for mediado

eficazmente, pode constituir uma importante experiência para o

desenvolvimento das pessoas. A aprendizagem da mediação de resolução de

problemas deve, assim, constituir uma oportunidade para os pedagogos

construírem soluções mais positivas e mais pacíficas para os conflitos. Os

programas de mediação de conflitos tiveram origem fora do contexto escolar

mas rapidamente o modelo foi adaptado às instituições educativas.

A mediação escolar abrange a resolução dos conflitos entre os

envolvidos na educação, entre estudantes, entre estudantes e corpo docente e

entre os docentes.

A mediação é um processo flexível, de caráter voluntário e confidencial,

conduzido por um terceiro imparcial – o mediador – que promove a negociação

entre as partes em litígio e que as apóia na tentativa de encontrar um acordo

que permita solucionar o conflito.

Ao abordar as partes em conflito o pedagogo enquanto mediador deve

identificar a situação como oportunidade de estímulo da prática de valores

como: solidariedade, tolerância e igualdade.

Nos dias atuais, nos colégios nos deparamos diariamente com conflitos

de todas as espécies e graus, o pedagogo tem na mediação de conflito uma

alternativa altamente promissora de propor um meio de convivência mais

harmonioso, que busca criar novas formas ao mediar integrando as diferenças.

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O papel do pedagogo é de grande importância ao oportunizar o

aprendizado das partes em litígio em resguardar para si a autoria da

construção das soluções dos conflitos, não a delegando a um terceiro. Além do

que, deve propiciar maior rapidez e efetividade da execução das decisões

tomadas; redução de desgaste emocional e financeiro; privacidade e sigilo;

redução da duração e reincidência de litígios; facilitação da comunicação entre

as pessoas e promoção de ambientes cooperativos tendo como

desdobramento a melhoria geral das relações.

Ao estudarmos as antigas instituições educacionais percebemos que

eram elitistas excludentes com um pensamento pedagógico autoritário onde

poucos defendiam a ampliação de vagas e democratização de ensino,

enquanto muitos contrapunham afirmando que comprometeria a qualidade do

ensino ao aumentar o número vagas ofertando acesso à escola democrática

para “todos” independente de classe social.

Aquino (1996 p.44) afirma que o caráter elitista e conservador das

escolas antigas que se destinavam somente às classes sociais privilegiadas

onde o acesso das camadas sociais populares era obstruído pela própria

estruturação escolar da época ainda em muitos casos se confirmam nas

escolas atuais, pois, as estratégias de exclusão além de continuarem existindo,

sofisticaram-se. “Se antes a dificuldade residia no acesso propriamente, hoje o

fracasso contínuo carrega-se de expurgar aqueles que se aventuram neste

trajeto, de certa forma, ainda elitizado e militarizado’”.

Portanto, verificamos que os conflitos no âmbito educacional não se

referem somente aos alunos, mas na perpetuação da elitização, na rejeição

imposta pela instituição incapaz de gerenciar a atual sociedade com uma nova

existência concreta dentro da realidade em que está inserido saindo da

abstração social para se personificar nas transformações do perfil do alunado,

sua personalidade é espelhada na sociedade.

A instituição que restringe acesso deixa de cumprir com sua função

social, pois esta se efetiva quando todos os envolvidos do ambiente

educacional têm consciência do seu objetivo e se estabelece uma cumplicidade

intencional sem sair do seu foco principal que é a educação. Cada um dentro

de seus caminhos a serem seguidos para que se institucionalize realmente

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uma escola que hoje em dia nos é proposta como igualitária, libertadora e

cidadã.

Mas, sabemos que há divergências entre os objetivos dos profissionais

da educação e do aluno. O professor quer que o aluno aprenda, mas percebe

grande desinteresse. O aluno por sua vez a que veio à escola? Será que o

objetivo do professor não está paralelo ao do aluno? Aí surgem os conflitos em

que a atuação do pedagogo como mediador é imprescindível.

(...) o pedagogo responde pela mediação, organização, integração e

articulação do trabalho pedagógico. Portanto, sugere a própria

compreensão de que ser pedagogo significa ter o domínio sistemático

e intencional das formas (métodos) através dos quais se deve realizar

o processo de formação cultural. (Saviani, 1985).

Cabe ao pedagogo como um dos elementos da equipe gestora e

integrante da comunidade educacional buscar nos envolvidos a real intenção

do conflito e como solucioná-lo de maneira prática, democrática, respeitando os

objetivos e sentimentos de ambas as partes. Heloísa Lück (2011) defende o

estímulo à gestão compartilhada em diferentes âmbitos da organização

escolar. Onde isso ocorre, diz ela, nasce um ambiente favorável ao trabalho

educacional, que valoriza os diferentes talentos e faz com que todos

compreendam seu papel na organização e assumam novas responsabilidades.

O que pode acontecer através de cruzamento de informações teóricas, práticas

e sociais apontando caminhos para a busca do convívio menos conflituoso no

ambiente escolar.

Segundo nos apresenta a atual literatura, a tolerância não é nata nas

pessoas, assim como a solidariedade e respeito, necessitamos ser educados

para agirmos desta forma. A mediação, por sua característica da cultura do

diálogo pacífico, escuta ativa, respeito ao próximo e solidariedade, propõe às

partes envolvidas no conflito, em especial as crianças e adolescentes que

ainda estão em fase de formação, sejam educadas nesses valores e cresçam

praticando-os. Freire (1987 p. 45) afirma que é no contato com o outro que nos

educamos. É através da interação com o outro que vamos aprendendo e

construindo nosso conceito de valores, os quais nos serão padrão para avaliar

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e julgar. Ao entramos em contato com outras pessoas, que fazem parte do

nosso meio social, aprendemos a identificar sinais, atitudes e códigos

reconhecidos como dentro ou fora da norma, de aceitação. Nossos

julgamentos são feitos baseados em um modelo socialmente construído.

Desviar-se dele é ser objeto de críticas.

Segundo Libâneo (1990), a pedagogia liberal sustenta a idéia de que a

escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papeis

sociais, de acordo com as aptidões individuais. Para isso, os indivíduos

precisam aprender a adaptar-se aos valores e às normas vigentes na

sociedade de classes, através do desenvolvimento da cultura individual. A

ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois,

embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a

desigualdade de condições.

O papel do pedagogo é diagnosticar as reais causas dos conflitos,

buscar soluções, avaliar ações e o melhor procedimento para solucionar os

conflitos, nunca desistir diante de conflitos e fracassos e buscar sempre

alternativas por meio da troca de experiências e da busca de informações.

Assim essencialmente a escolarização não deve apenas atender a

dimensão imediatamente epistêmica do ensino, isto é, a escola estaria a

serviço da apropriação, por parte dos alunos, dos conhecimentos acumulados

pela humanidade uma vez que sofre influência social, devendo assim, preparar

o aluno através de uma visão holística.

Sob o mesmo enfoque, Vianna (1986 p.23) afirma que:

“A partir da convivência com pessoas que discutem, decidem, executam e controlam atividades propostas comunitariamente, a educação poderá efetivar, da melhor forma possível, seu objetivo de desenvolver integralmente a personalidade humana e sua participação na obra do bem comum, pois, enquanto refletem, conscientizam-se, posicionam-se e decidem a respeito dos problemas de sua comunidade, os indivíduos se sentem integrados, agentes e responsáveis por esse mesmo bem comum que ajudam a construir”.

O conflito, então, está na base de toda a pedagogia. Percebe-se aqui o

pedagogo como articulador do trabalho coletivo da escola, articula a concepção

de educação da escola às relações e determinações políticas, sociais, culturais

e históricas.

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Para Gadotti (2004 p.32) “fazer pedagogia é fazer prática teórica por

excelência”. É descobrir e elaborar instrumentos de ação social. Nela se realiza

de forma essencial, a práxis pedagógica. (...) o pedagogo é aquele que procura

meios de transformação da realidade atual para melhor. Utiliza a realidade em

processo para aprender e melhorar seus procedimentos.

Portanto, é função do pedagogo, mediar conflitos através do seu fazer

pedagógico, atuando nos mais diversos espaços de contradição para a

transformação da prática escolar. Pautado nesta concepção, sua atuação se

faz para a garantia da qualidade da educação pública vislumbrando a

emancipação de todos.

Marques (1994, p.66) afirma: "Num ambiente sadio e participativo, as

ações e as tarefas são orientadas para o autodesenvolvimento. Aí se valorizam

a independência, a responsabilidade e o equilíbrio do trabalho com as outras

esferas do mundo, da vida”.

Ao estudar o artigo de LOPES (2003 p.6) que tem por título “Violência e

Conflitos na Escola: desafios à prática docente” verificamos que a mediação

propõe uma educação de negociação de situações – problema no espaço

escolar sendo então um processo pedagógico. Entendida como Processo

Pedagógico, a Mediação aplicada às escolas e pedagogos pode oferecer

grande contribuição para promover momentos reflexivos sobre os valores

sociais dos indivíduos, possibilitando a inclusão de recursos harmonizadores

de negociação de diferenças e de sustentabilidade dos diálogos na construção

da competência social dos sujeitos em formação promovendo a prática do

respeito mútuo e da responsabilidade pelos próprios atos.

Através da mediação pode-se resgatar o direito à palavra, pela

oportunidade de expressar as necessidades e reivindicações dos sujeitos,

enfim, pela mudança das relações educacionais, ainda pautadas na ordem e

obediência, para uma forma mais democrática e dialógica, sensibilizar para a

importância de elevar o nível de informação dos que trabalham com mediação

de conflitos educacionais preparando este professor e equipe pedagógica para

lidar com a diversidade de seus alunos, através de diferentes processos e

tentar sensibilizar a comunidade escolar para a importância da negociação das

partes, como meio de melhoria da qualidade de ensino.

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Ao aplicar o projeto de intervenção no colégio verificamos através de

questionário que os alunos têm perfeita clareza do que é a indisciplina e de

suas implicações ao citarem em maioria que indisciplina tem haver com falta de

educação.

O objetivo deste estudo foi apoiar os pedagogos num dos maiores

entraves educacionais que é o conflito, a superarem suas limitações, através

do conhecimento de bibliografias pertinentes ao assunto e da prática da

mediação, entender os sentimentos que surgem, a partir desta demanda, para

melhor compreender seu cotidiano e suas práticas escolares transformando a

cultura do conflito em cultura do diálogo.

Chrispino e Chrispino (2002), em “Políticas Educacionais de Redução

da Violência: Mediação do Conflito Escolar” acusam a massificação da

educação como um grande fator de mudança no quadro educacional. Para

estes autores, tal fato vem causando grandes mudanças educacionais e uma

delas é a diversidade cultural dos alunos e o convívio com diferentes padrões,

apontando para esta massificação do ensino como um dos principais geradores

de conflito no ambiente escolar. Os autores propõem a mediação de conflitos

como uma das formas de prevenção à violência.

Foi proposto ao professor pedagogo e aos envolvidos com a educação e

mediação fazer uma análise, dentro de uma perspectiva histórica, como foi a

sua caminhada, se houve interesse em mediar os conflitos deste individuo

social se foi resolvido realmente ou se devido a inúmeras atribuições não ficou

inacabado ou ignorado, daí gerando uma falta de sensibilidade diante de sua

situação e de seus problemas, principalmente na sua capacidade de se

desenvolver cognitivamente. Situar dentro do contexto histórico da mediação,

como se processaram todas as tentativas de solucionar o conflito escolar,

contextualizando e analisando as diferentes situações problema quebrando

paradigmas que foram historicamente construídos.

Ao apresentar um questionário para professores e alunos pudemos

perceber que todos têm noção do conceito de indisciplina de sua posição no

contexto escolar, em contrapartida percebemos a dificuldade de se colocar no

lugar do outro com seus sentimentos e aspirações.

Todos os professores que participaram no nosso estudo, respondendo o

questionário, apresentam estar qualificados na área de atuação, sendo todos

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graduados, e alguns com cursos em nível de lato sensu e stricto sensu, e

demonstrando grande conhecimento na área educacional.

A maioria dos professores está atuando no magistério há mais de dez

anos, e no ensino fundamental e médio. No colégio do estudo há

aproximadamente 2.389 alunos.

Houve unanimidade dos entrevistados quando perguntados sobre a

opinião deles o maior problema que enfrentavam na escola, responderam que

era a indisciplina dos alunos, muito embora a grande maioria afirme que nesta

escola em que trabalham, o problema não é tão expressivo no ensino médio

devido ao tamanho do colégio, mas acontece, e se preocupam com a situação

uma vez que reflete diretamente no desempenho dos alunos, pois a maioria é

regular e minoria de bom rendimento.

É pelo diálogo que os homens, nas condições de indivíduos cidadãos, constroem a inteligibilidade das relações sociais. Trata-se, pois, de eliminar tudo aquilo que possa prejudicar a comunicação entre as pessoas, pois só através dela se pode chegar a um mínimo de consenso. “A cidadania aparece como objetiva, através da qual indivíduos livrem concordam em construir e viver numa sociedade melhor”. (GRINSPUN, 2002, p.13).

Os professores afirmaram que se utilizam de muita paciência e diálogo

para buscar soluções viáveis através de uma medição tranqüila que os levem

para soluções viáveis.

Na questão de relação professor-aluno, a maioria afirmou que já teve

problemas de relacionamento com seus alunos, e geralmente uma indisciplina

ligada ao desinteresse e pouca responsabilidade, inversão de valores em maior

ou menor proporção, mas acham isso natural e acreditam que faz parte da

dinâmica educacional. Mas, uma minoria de professores, geralmente os que

atuam há mais tempo no magistério afirmam que a mediação de nada adianta

porque os alunos não obedecem.

Quanto mais a escola resistir em aceitar a heterogeneidade do seu campo e reforçar apenas o processo de uniformização, maiores e mais violentos serão os sobressaltos. Então, se a escola reflete todo o conflito que existe no campo social, deve ser, também, palco de negociações entre as pessoas que fazem parte dela. (Guimarães 1996).

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Outra unanimidade entre os professores entrevistados, é que para eles,

existe uma ligação direta entre a dificuldade de aprendizagem por parte dos

alunos da sala de aula, com a interferência de um aluno com problemas

disciplinares dentro da turma. Todos foram categóricos em afirmar que o aluno

indisciplinado em sala de aula atrapalha em muito a aprendizagem dos demais

alunos da sala, principalmente daqueles que já encontram alguma dificuldade.

Sabendo-se do problema, questionamos os professores para saber

deles qual a melhor maneira para se acabar com este problema. Todos os

entrevistados são unânimes em afirmar que alguma coisa tem que ser feita,

pois como esta não pode ficar. Várias sugestões são colocadas, a principal

delas é o acompanhamento da família deste aluno indisciplinado. Mas existe

também uma reclamação de que a escola enquanto entidade deveria tomar

providência mais séria e não toma, que os alunos problemas deveriam ser

colocados em salas separadas, que o Estado deveria possibilitar um

acompanhamento psicológico a estes alunos, na verdade, a única

concordância entre eles é que algo tem que ser feito, mais não se apresenta

uma solução baseada em um estudo mais aprofundado ou algo parecido.

(GRINSPUN 2002) afirma que o pedagogo deve explicar as contradições

a partir de uma realidade concreta, promovendo as articulações necessárias,

as mediações possíveis, para que possamos ter uma educação mais justa,

mais solidária e democrática.

Perguntamos ainda ao professor, o que a escola, em sua opinião,

deveria fazer após esgotar todas as suas possibilidades pedagógicas e não

obter êxito na recuperação deste aluno indisciplinado. Todos os professores

entrevistados acreditam que a escola deve procurar ajuda para resolver o

problema, sendo que a maioria acredita que, a escola falhando, o Estado

através do Núcleo Regional de Educação deve intervir para solucionar o

problema.

Ao fazer o levantamento de dados e análise à partir da aplicação de

resultados dos questionários também percebemos a necessidade de viabilizar

momentos de reflexões após apresentações de filmes e textos que tratam da

temática, promovendo além da reflexão e sensibilização, um debate na

tentativa de descobrirem diversos e diferenciados caminhos para a solução de

conflitos apresentados nos filmes e textos.

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Numa perspectiva científico filosófica a mediação nada mais é que a

procura constante da individualização, uma escolha consciente e responsável

do ser que pensa, age e que passa a administrar as suas próprias relações

individuais e com o outro. As estratégias de intervenção, interação e

comunicação, mais adequadas deve partir do acolhimento, recepção, e

identificação de si e do outro em ações e sentimentos. Que perceba os pontos

de vista um do outro e encontre no diálogo, a forma a mais eficiente de superar

o conflito. Um dos objetivos desta prática é promover no ambiente escolar um

espaço de diálogo, pois muitas vezes o educando vive em um ambiente em

que os familiares e a própria sociedade não tem espaço e tempo para dialogar

em família. Logo, a escola como espaço de socialização do saber deve

promover esta prática da mediação dos conflitos mediante o diálogo pensando

que o conflito faz parte do processo de transformação, mas deve ser

fundamentado, sem agredir o direito de expressão das partes envolvidas.

A pedagoga Eliane Aparecida Gonçalves, comentou: “No cotidiano da

escola que atuo, a mediação de conflitos acontece através de reuniões, sempre

procurando ouvir as partes envolvidas, seja aluno-aluno, professor-aluno,

professor-professor, comunidade-escola, ou outra. Neste processo de diálogo a

expectativa é alcançar a troca de idéias e consequentemente interagir para que

o grupo”.

A pedagoga Neide A.S. contribuiu com o seguinte comentário: “Sempre

trabalhei com o Ensino Médio e com o fundamental, e com os dois grupos

sempre foi importante aqueles feitos no início do ano letivo e a seriedade do

compromisso com o diálogo sempre, pois quando percebem que o clima de

trabalho é de partilha, entendimento e de co-participação do que pode ser

negociado e do que é regra geral, o trabalho fica mais claro e mais tranquilo”.

A pedagoga Suelena Cristina Benati relatou: Trabalho no Ensino Médio

noturno, então os conflitos são constantes, principalmente entre os jovens em

relação às regras estabelecidas pelo regimento interno da escola, um dos

motivos que causa muitos conflitos, é sobre o uso do uniforme, horário de

entradas e saídas mais cedo. Sei que todas as regras tem que ser cumpridas,

pois são necessárias ao bom andamento da escola, então, eu e outra

pedagoga da escola, passamos o primeiro bimestre apresentando o regimento

escolar, dizendo como ele é feito, e para que serve, e então apresentamos as

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regras a serem cumpridas por eles, pelos professores e demais funcionários da

escola. O que percebemos é que os conflitos diminuíram e quando um aluno

infringia uma regra, não era necessário perder um tempão conversando sobre

as regras, bastava lembrar-se da nossa conversa no início do ano que o aluno

se conscientizava, do que tinha feito, e até mesmo quanto às anotações que

devem ser realizadas em ata diminuíram. Acho que não perdemos tempo,

como muitos disseram no início do nosso trabalho com os alunos ganhamos

muito.

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CONCLUSÃO

A mediação além de ser uma eficiente ferramenta ao pedagogo é uma

proposta para substituir a cultura de adversidade relacionada com a

moralização do indivíduo por uma cultura de diálogo. Realmente, não é fácil

renunciar aos pequenos poderes sobre o outro para iniciar um processo de

acompanhamento em que a mediação pode constituir uma disciplina que

restitui à pessoa, a cada pessoa, o poder decisório concedido antes a um juiz,

a um árbitro, ao pedagogo. A mediação aqui nos remete a liberdade mas

também à responsabilidade individual que só se pode propiciar através de um

saber específico que se distancia das diferenças das interpretações do

comportamento humano e se aproxima à humanização na administração dos

conflitos. Para tal, se faz necessário a quebra de paradigmas. A mediação de

conflitos deve ser efetivada não somente com uma fundamentação

bibliográfica. Além de uma prática profissional que não se improvisa, requer a

muito estudo contínuo e constante aprimoramento do pedagogo. A mediação

implica numa mudança de comportamento. Necessita de uma formação

específica com algo relacionado com a construção do pensamento humano, a

construção de um raciocínio, para além dos sentimentos, que sustente a

tomada de decisão na prática do pedagogo como mediador de conflitos.

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