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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE À FORMAÇÃO CONTINUADA COM VISTA A INCLUSÃO DE ALUNOS PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS. POR: CLAUDIA APARECIDA SANT`ANNA PEREIRA ORIENTADOR: PROF. DR. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE À FORMAÇÃO

CONTINUADA COM VISTA A INCLUSÃO DE ALUNOS PORTADORES DE

NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS.

POR: CLAUDIA APARECIDA SANT`ANNA PEREIRA

ORIENTADOR: PROF. DR.

VILSON SÉRGIO DE CARVALHO

RIO DE JANEIRO

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE À FORMAÇÃO

CONTINUADA COM VISTA A INCLUSÃO DE ALUNOS PORTADORES DE

NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS.

RIO DE JANEIRO

2010

MONOGRAFIA APRESENTADA POR

CLAUDIA APARECIDA SANT’ANNA

PEREIRA, COMO PRÉ-REQUISITO PARA

OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA

EM ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E

PEDAGÓGICA. NO CURSO DE PÓS-

GRADUAÇÃO LATO SENSU DA

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES,

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.

ORIENTADOR: PROF. DR. VILSON

SÉRGIO DE CARVALHO.

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AGRADECIMENTOS

Obrigada,

A Deus por me dar forças para esta caminhada.

Ao meu marido Pedro Paulo e aos meus filhos Pedro Henrique e João Pedro

por compreenderem a minha ausência aos sábados.

A minha irmã Rosani, por cuidar dos meus filhos nos momentos em que

precisei me ausentar.

A minha amiga Valéria por estar me dizendo a cada dia que sou capaz.

Aos professores que me ajudaram na construção de conhecimentos.

A todos os amigos que caminharam comigo, fazendo com que este trajeto,

apesar de longo se tornasse feliz.

Ao Professor Orientador Vilson Sérgio pelo acompanhamento ao meu trabalho,

dicas e principalmente os elogios, que fizeram com que me sentisse mais

tranqüila e confiante.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia ao meu marido Pedro Paulo de Oliveira Pereira, aos

meus filhos Pedro Henrique e João Pedro.

Ao meu pai Laudelino Sant’Anna (in memória).

A minha amiga Valéria, que tanto colaborou para a confecção e o

aperfeiçoamento dessa monografia.

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EPÍGRAFE

“A escola é o começo de tudo. Se ela não alterar seus

princípios, adeus sociedade inclusiva. Refiro-me aos

princípios da inclusão que nada mais são do que os

princípios da democracia. E não existe democracia sem

educação, nem educação sem democracia. Por isso é

correto afirmar que toda criança pode e deve ser

educada. E, ainda, que toda aprendizagem é legítima.”

Werneck

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RESUMO

A presente monografia trata sobre a inclusão de alunos portadores de

necessidades educativas especiais em turmas do Primeiro Segmento do

Ensino Fundamental, pois observamos que os professores que atuam em

escolas de ensino regular encontram dificuldades em atuarem com alunos

portadores de necessidades educativas especiais, necessitando então de

maior capacitação profissional para exercerem ações inclusivas que

contribuam para o alcance de objetivos satisfatórios do binômio ensino –

aprendizagem na escola inclusiva.

Objetivamos com esta pesquisa investigar o processo de inclusão de

alunos deficientes na escola pública do primeiro segmento do Ensino

Fundamental, observando alguns aspectos quanto ao físico, pedagógico e

administrativo desta escola e se os alunos ali inseridos estão sendo realmente

incluídos ou apenas integrados no contexto escolar.

Para a realização desta pesquisa buscamos respaldo em autores que

abordam o tema inclusão e que têm contribuído para este assunto com seus

estudos e pesquisas e na legislação e seu desenvolvimento deu-se através de

pesquisa bibliográfica e de campo.

Esta monografia, resultado final das pesquisas supracitadas visa

contribuir para a reflexão e sugestões de novos paradigmas em busca de

soluções para os problemas apresentados afim de que o aluno portador de

necessidades educativas especiais tenha o direito de ser diferente sem ser

segregado, mostrando suas habilidades como um cidadão que têm direitos e

deveres como qualquer outro no contexto escolar e na sociedade em que vive.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi à pesquisa

bibliográfica e documental com técnicas diretas de levantamentos e seleção de

bibliografia, leitura analítica, fichamentos e técnicas diretas de coletas de dados

quantitativos e qualitativos, observação, entrevistas e análise do conteúdo.

Realizamos uma entrevista com três profissionais da Educação de uma escola

Pública de Primeiro Segmento do Ensino Fundamental do Município de Belford

Roxo.

Identificamos que para que ocorra a Inclusão de Alunos Portadores de

Necessidades Educativas Especiais na Rede Regular de Ensino, precisa-se

levar em consideração que estes sujeitos têm vontades próprias, sentimentos e

interesses e que ainda há muito o que se modificar.

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SUMÁRIO

1. Introdução......................................................................................................09

2. CAPÍTULO I HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL E NO

OCIDENTE........................................................................................................11

1.1 –A História da Educação Especial no Ocidente ...............................11

1.2 -A História da Educação Especial no Brasil .....................................14

3. CAPÍTULO II – ASPECTOS LEGAIS SOB A ÓTICA DA EDUCAÇÃO

INCLUSIVA .......................................................................................................19

2.1 –Integração e Inclusão .....................................................................19

2.2 – Mas o que é Educação Inclusiva? .................................................21

2.3 – Aspectos Legais da Educação Inclusiva .......................................23

4. CAPÍTULO III – A ESCOLA INCLUSIVA ESTÁ ATENDENDO ÀS

NECESSIDADES DOS ALUNOS PORTADORES DE NECESSIDADES

EDUCATIVAS ESPECIAIS? .............................................................................25

5. CAPÍTULO IV – SUGESTÕES DE AÇÕES INCLUSIVAS NO ÂMBITO

ESCOLAR E NA SOCIEDADE.........................................................................30

4.1 – Barreiras Arquitetônicas ................................................................30

4.2 – Qualificação Profissional ...............................................................33

4.3 Adaptações Curriculares e Intervenções Psicopedagógicas.......... 34

4.4_A participação do Orientador Educacional junto aos professores que

atendem aos Alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais........36

4.5_ Paradigma de Suporte....................................................................38

6- Considerações Finais....................................................................................39

7-Referências Bibliográficas..............................................................................40

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INTRODUÇÃO

Atualmente, algumas das perspectivas dos Portadores de Necessidades

Educacionais Especiais vêm sendo finalmente alcançadas a partir de sérias

discussões em torno do processo educativo da Educação Especial; porém

ainda há muito que se analisar e agir para que a inclusão de alunos com

deficiências no âmbito escolar, seja favorável, criando-se condições

satisfatórias e competentes para esta inclusão não resulte em exclusão.

Estamos diante de um desafio moderno, onde incluir é algo mais do que

apenas “colocar dentro”, é também interagir, integrar-se com o meio. Garantir o

atendimento apenas não é o suficiente, pois isto na realidade é o que acontece

em nossas escolas. O aluno é matriculado e tem o seu direito de atendimento

garantido, mas não tem, de fato, o direito de igualdade de condições de

aprendizagem nas propostas e metodologias utilizadas pela escola.

Esta afirmação está baseada em práticas educativas por nós

observadas no local onde trabalhamos e em discussões travadas com

profissionais que também não constatam a garantia destes direitos.

Para que ocorra a inclusão em todos os sentidos teóricos discutidos

mundialmente, se faz necessário, muito mais que leis ou normatizações. Faz-

se necessário um comprometimento para que se parta da teoria para a prática

efetiva.

A partir dessas premissas iniciais, esta pesquisa teve como objetivos

investigar como a inclusão é realmente realizada no meio escolar, as

dificuldades encontradas pelos profissionais da educação – especialistas e

professores e evidenciar que muitas vezes ao tentarmos incluir este discente o

estamos o excluindo na realidade; buscando conhecer melhor as

características do aluno portador de necessidades especiais, para que este de

fato possa exercer plenamente sua cidadania, como cidadãos que têm direitos

e deveres, e buscar assim uma nova postura para a educação inclusiva.

Questões como: a abordagem da História da Educação Especial no

Brasil e no Ocidente e seus avanços, até os dias atuais; como vêm sendo

atendidos os nossos alunos portadores de necessidades educativas na

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perspectiva da inclusão, depoimentos de profissionais da educação sobre os

aspectos pedagógicos que permeiam o atendimento desses alunos e as idéias

principais abordadas neste estudo para a adoção de novos paradigmas à

inclusão educacional, foram tratadas nos capítulos desta pesquisa,

estruturados na seguinte seqüência:

No Capítulo I foi feita uma abordagem da História da Educação Especial

no Brasil e no Ocidente e seus avanços até os dias atuais.

No Capítulo II questionou-se sobre como vem sendo atendido os alunos

portadores de necessidades educativas especiais e ainda os aspectos legais

sobre a Educação Inclusiva.

No Capítulo III abordou-se os aspectos profissionais e pedagógicos que

permeiam o atendimento desses alunos.

E o capítulo IV resultou nas ideias principais abordadas em todo o

estudo a participação do Orientador Educacional junto aos Professores que

atendem a Alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais e ainda a

sugestão de adoção de novos paradigmas à educação inclusiva.

Os autores pesquisados para a elaboração desta monografia têm

contribuído com suas pesquisas na área educacional com temas voltados para

a Educação Inclusiva.

Esta monografia, resultado final da pesquisa, visa contribuir para a

reflexão e busca de soluções do problema em estudo, a fim de que a educação

oferecida para os alunos deficientes deva dispor de recursos que atendam as

individualidades de cada deficiente permitindo assim a participação de todos,

proporcionando uma igualdade de oportunidade sem discriminar aqueles que

apresentam dificuldades de aprendizagem.

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CAPÍTULO I

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL E NO

OCIDENTE.

1.1 –A História da Educação Especial no Ocidente.

Na contemporaneidade A Educação Especial apresenta um perfil legal com

bastante relevância sobre a questão de atendimento aos alunos deficientes.

Porém nem sempre foi assim.

No início dos tempos as pessoas deficientes eram naturalmente abolidas do

contexto social e do mundo, pois os deficientes eram executados em nome de

suas anomalias.

Na Era Antiga, a vida de um homem só tinha valor se tivesse um título de

nobreza, pois assim poderia realizar seus desejos e atender às suas

necessidades.

Neste contexto, a pessoa que era considerada “diferente”, isto é, possuía

alguma deficiência física, mental, visual, auditiva ou outras, ou ainda os menos

favorecidos como órfãos e idosos doentes eram exterminadas por meio do

abandono social. A Bíblia faz referência a cegos , mudos, coxos e leprosos,

que muitas vezes eram mendigos e viviam a margem da sociedade, pois estes

tipos de doenças eram consideradas como castigo divino. “a única ocupação

para os retardados mentais encontrada na literatura antiga é a de bobo ou

palhaço, para diversão dos senhores e de seus hóspedes.” ( Brasil,

MEC/EESP, 2000).

Com a Idade Média veio a Era Cristã onde a Igreja Católica era a detentora

do poder e não mais a Nobreza. A Igreja governava juntamente com o Estado e

devido a idéias cristãs, os “diferentes” já não eram mais sacrificados, pois eram

considerados pela Igreja como criaturas de Deus, vivendo à própria sorte ou

como fonte de diversão.

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A partir do século XII, com a Inquisição Católica houve uma grande

perseguição e extermínio de ex comungantes da religião e muitos deles eram

pessoas “diferentes” principalmente os deficientes mentais, que eram

consideradas pela Inquisição, como endemoniados.

Pessoti citado no Projeto Escola Viva Brasil, MEC/SEESP,2000 diz:

“Assim, constata-se que, conquanto na Antigüidade a

pessoa diferente não era considerada ser humano, no

período medieval, a concepção de deficiência passou a

ser metafísica, de natureza religiosa, sendo a pessoa com

deficiência considerada ora demoníaca, ora possuída pelo

demônio, ora ‘expiador de culpas alheias, ou um

aplacador da cólera divina a receber, em lugar da ladeia,

a vingança celeste, como um páraraios..."

( p. 11)

No século XVI, com a Revolução Burguesa, começaram a surgir novas

idéias, quanto aos deficientes, no que se refere a sua natureza orgânica,

produto de causas naturais. E assim passou a ser tratada pela alquimia, magia

e métodos iniciais da medicina.

Segundo Pessotti (op. cit.), o século XVII foi o palco de novos avanços na

área médica, com a tese da organicidade, que defendia as causas das

deficiências por fatores naturais e não transcendentais ou espirituais e a tese

do desenvolvimento por meio da estimulação partiu para as ações de ensino a

deficientes.

As atitudes de exclusão existentes desde o início dos tempos não eram

uma questão simplesmente familiar. Estes reflexos eram ainda mais

excludentes se compararmos a receptividade que os deficientes tinham na

sociedade, de forma geral.

Com o crescimento populacional mundial, houve uma maior incidência de

casos de pessoas deficientes, e como ser deficiente não é escolha de cada

indivíduo, estes casos começaram a existir também dentro das classes sociais

mais favorecidas.

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Como vivemos num país onde existem classes sociais distintas e valores e

direitos sociais privilegiados a determinadas camadas de nossa sociedade e

essas classes sociais também têm familiares portadores de deficiências,

começou-se então a pensar em como o deficiente poderia interagir com o

mundo, receber o respeito como um cidadão distinto, de uma classe distinta,

mesmo que este seja diferente da maioria das pessoas socialmente inferiores a

elas.

Com o passar dos séculos até a atualidade, podemos constatar que houve

uma evolução no que diz respeito ao tratamento de pessoas portadoras de

necessidades especiais, tanto na área médica como na área educacional.

“ A Medicina foi evoluindo, produzindo e sistematizando

novos conhecimentos; outras áreas de conhecimento

também foram delineando, acumulando informações

acerca da deficiência, de sua etimologia, seu

funcionamento e seu tratamento. Entretanto, esse

paradigma permaneceu único por mais de 500 anos,

sendo, ainda hoje, encontrado em diferentes países,

inclusive o nosso.

Caracterizou-se, desde o início, pela retirada das pessoas

com deficiência de suas comunidades de origem e pela

manutenção delas em instituições residenciais

segregadas ou escolas especiais, freqüentemente

situadas em localidades distantes de suas famílias.

Somente no século XX, por volta de 1960, é que o

paradigma de Institucionalização começou a ser

criticamente examinado.”

(Brasil, MEC, Secretaria da Educação Especial, 2000, p.13)

Conforme matéria veiculada na Revista Nova Escola Edição Especial

Grandes Pensadores a médica, Maria Montessori, conseguiu seguir as duas

áreas da evolução, acima citada.

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Interessou-se pelo tratamento de crianças com retardo mental, sua visão

pedagógica afirmava que o potencial de aprender está em cada um de nós.

Tornou-se Pedagoga e pôs suas idéias em prática na primeira Casa dei

Bambini (Casa das crianças), aberta numa região pobre no centro de Roma.

As décadas de 60 e 70 foram marcadas por um processo geral de reflexão

e crítica sobre os direitos humanos, em especial das minorias onde se inclui o

deficiente, na maioria dos países ocidentais.

As décadas de 80 e 90 foram marcadas por novas discussões que vêm

sendo trazidas até os dias atuais, propondo o paradigma da educação

inclusiva.

Portanto, iniciou-se a discussão sobre o fato de que a pessoa com

necessidades educacionais especiais deveria ser um cidadão com direitos e

deveres como qualquer um, usufruindo das mesmas oportunidades disponíveis

no meio social independente de sua deficiência.

1.2 –A História da Educação Especial no Brasil.

A inclusão da “educação de deficientes, excepcionais ou especiais” na

política educacional brasileira ocorre na final da década de cinqüenta e no

início de sessenta do século XX, depois de realizadas experiências bem

sucedidas na Europa e Estados Unidos.

Silva citado no Projeto Escola Viva Brasil, (MEC/SEESP, 2000):

“Também no Brasil, a pessoa deficiente foi considerada

por vários séculos dentro da categoria mais ampla dos

‘miseráveis’, talvez o mais pobre dos pobres... Os mais

afortunados que haviam nascido em ‘ berço de ouro’ ou

pelos menos remediado, certamente passaram o resto de

seus dias atrás dos portões e das cercas vivas das suas

grandes mansões, ou então, escondidos, voluntária ou

involuntariamente, nas casas de campo ou nas fazendas

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de suas famílias. Essas pessoas deficientes menos

pobres acabaram não significando nada em termos de

vida social ou política do Brasil, permanecendo como um

‘peso’ para suas respectivas famílias.”(p. 22)

Segundo Silva (op. cit.) Muitos africanos, que sofreram castigos físicos

durante a viagem ao Brasil eram vítimas de doenças e ainda havia as

amputações dos membros no caso de acidentes, gangrena e tumores.

Então no século XVII, durante o período imperial, com idéias oriundas da

Europa, passou-se a dar atenção às pessoas com deficiências através da

criação de internatos.

De acordo com os avanços sociais e históricos abordados por Mazzota

(2003), o atendimento escolar especial aos portadores de deficiência teve seu

início no Brasil em 12 de setembro de 1854. Nesta década a primeira

providência neste sentido foi concretizada por D. Pedro II com a fundação do

Imperial Instituto dos Meninos Cegos no Rio de Janeiro.

No ano de 1857, a Educação Especial no Brasil ganhou um novo espaço

com a criação do Imperial Instituto dos Surdos – Mudos; que cem anos após

sua fundação passou a chamar-se INES – Instituto Nacional de Educação de

Surdos.

De acordo com Mazzota também citado no Projeto em foco, (2003):

“A despeito de se constituir medida precária em termos

nacionais - em 1872, com população de 15848 cegos e

11595 surdos, atendiam 35 cegos e 17 surdos, a

instalação do IBC e do INES abriu possibilidades de

discussão da educação dos portadores de deficiência, no

1º Congresso de Instrução Pública, em 1883, convocado

pelo Imperador em dezembro de 1882. Entre os temas do

referido congresso figurava a sugestão de currículo e

formação de professores para cegos e surdos. O prestígio

desses Institutos, diretamente ligados ao governo central,

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pode ser evidenciado, por exemplo, pelos recursos

financeiros a eles destinados.”(p.29-30).

No segundo império, existem registros de ações voltadas para o

atendimento pedagógico ou médico – pedagógico aos deficientes e por volta de

1915 foram publicados três outros importantes trabalhos sobre a educação de

deficientes mentais: A Educação da Infância Anormal da Inteligência no Brasil,

do Professor Clementino Quaglio, Tratamento e Educação das Crianças

Anormais da Inteligência e A Educação da Infância Anormal e das Crianças

Mentalmente Atrasadas na América Latina por Basílio de Magalhães e na

década de vinte intitulado Infância Retardatária livro do professor Norberto

Pinto.

Até 1950 existiam quarenta estabelecimentos de ensino regular

mantidos pelo poder público, sendo um federal e os demais estaduais, que

prestavam algum tipo de atendimento escolar especial a deficientes mentais.

Conforme Mazotta ( 2003):

“Nesta breve revisão histórica, é oportuno citar os nomes

que recebeu ao longo de sua existência: I Núcleo

Educacional para Crianças Surdas (1952), Escola

Municipal de Crianças Surdas (1958), Instituto Municipal

de Educação de Surdos (1960), Instituto de Educação de

Crianças Excepcionais – IECE – (1967), Instituto de

Educação para Crianças Excepcionais Helen Keller –

IECE Helen Keller – (1969), Escola Municipal de

Educação de Deficientes Auditivos Helen Keller – EMEDA

Helen Keller (1976) e finalmente Escola Municipal de

Educação Infantil e de 1º Grau para Deficientes Auditivos

Helen Keller.”( p.36)

As atividades desenvolvidas por esta escola especial levaram à criação

em 1988 de mais quatro escolas municipais de educação infantil e de 1º grau

para deficientes auditivos na rede municipal de São Paulo.

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Segundo Mazotta (2003), Há destaque para as seguintes instituições

especializadas no Brasil: Colégio dos Santos Anjos (1909), em Santa Catarina

de ensino regular particular atendendo a deficientes mentais; Escola Rodrigues

Alves (1905), estadual regular para atender a deficientes físicos e visuais; a

Sociedade Pestalozzi (1948) no Rio de Janeiro, particular especializada, com

atendimento a deficientes mentais; Escola Estadual São Rafael (1925) em

Minas Gerais, especializada no ensino de cegos e a Escola Estadual Instituto

Pestalozzi (1935), especializada em deficientes auditivos e mentais, o Instituto

de Cegos, especializada particular em Pernambuco (1935) e na Bahia (1936); a

Escola Especial Ulisses Pernambucano (1941), estadual especializada em

deficientes mentais, a Instituição especializada particular Lar – Escola São

Francisco (1943) em São Paulo para atender a deficientes físicos; a fundação

para o Livro do Cego no Brasil (1946), especializada particular e as escolas

estaduais regulares Grupo Escolar Miss Browne e Grupo Escolar Visconde de

Itaúna, com atendimento a deficientes mentais criadas em 1950.

Encontramos ainda as associações como: Associação de assistência á

Criança Defeituosa – AACD (1950), Instituição particular especializada no

atendimento a deficientes físicos não – sensoriais, de modo especial

portadores de paralisia cerebral e pacientes com problemas ortopédicos; a

Associação de pais e Amigos dos Excepcionais – APAE (1954) que tem como

objetivo cuidar dos problemas relacionados com o excepcional deficiente

mental.

Baseado nessas premissas percebemos a necessidade de oferecer

atendimento aos alunos portadores de deficiências e ainda, simultaneamente

oferecer-lhes um ambiente que proporcionasse a estas pessoas uma condição

de inserção social.

Percebemos também que isto só será possível com profissionais

conscientes, qualificados e comprometidos com a inclusão destas pessoas no

contexto social.

De acordo com informação retirada do sítio, O MEC (Ministério da

Educação e Cultura), vem desenvolvendo ações que visam efetivar a inclusão

de alunos portadores de deficiências, e conseqüentemente a qualificação

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profissional dos que atendem a estes alunos, dentre elas estão o Programa

Educação Inclusiva: Direito a diversidade.

O Programa promove a formação continuada de gestores e educadores

das redes estaduais e municipais de ensino para que sejam capazes de

oferecer educação especial na perspectiva da educação inclusiva. O objetivo é

que as redes atendam com qualidade e incluam nas classes comuns do ensino

regular os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e

altas habilidades ou superdotação.

Atualmente, o programa está em funcionamento em 162 municípios -

polo. Em parceria com o Ministério da Educação, esses municípios oferecem

cursos, com duração de 40 horas, em que são formados os chamados

multiplicadores. Após a formação recebida, eles se tornam aptos a formar

outros gestores e educadores.

De 2003 a 2007, a formação atendeu 94.695 profissionais da educação

com a participação de 5.564 municípios.

No campo da Política Educacional, há interesse de se realizar a

construção de um sistema educacional inclusivo em que as pessoas com

necessidades educacionais especiais sejam possibilitadas a aprender a

administrar a convivência digna e respeitosa numa sociedade complexa e

diversificada.

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CAPÍTULO II

ASPECTOS LEGAIS SOB A ÓTICA DA EDUCAÇÃO

INCLUSIVA.

2.1 – Integração e Inclusão:

Integração e Inclusão possuem significados semelhantes. Mantoan (2003)

diz que esses vocábulos são empregados para expressar situações de

inserção diferentes e se fundamentam em posicionamentos teórico-

metodológicos divergentes. (p.21).

O primeiro refere-se à introdução de alunos com deficiência, que

anteriormente foram excluídos de alguma maneira, em um determinado grupo.

Seja na escola regular, nas classes especiais ou em escolas especialmente

preparadas para atender a sua necessidade. O segundo, além de questionar

as políticas e a organização da educação especial, questiona o próprio

conceito de integração, pois acredita que todos os alunos, sem exceção devem

freqüentar o ensino regular desde cedo.

Conforme MANTOAN (2003) a integração tem como objetivo:

(...) inserir um aluno, ou um grupo de alunos, que já foi

anteriormente excluído, e o mote da inclusão, ao

contrário , é o de não deixar ninguém no exterior do

ensino regular, desde o começo da vida escolar. As

escolas inclusivas propõem um modo de organização do

sistema educacional que considera as necessidades de

todos os alunos e que é estruturado em função destas

necessidades. (p.24).

Integração e Inclusão são sistemas de organização de ensino oriundos do

princípio da normalização, que significa dar a pessoa portadora de

necessidades educativas especiais o direito de ser diferente e suas

necessidades reconhecidas e atendidas, oferecendo ao aluno deficiente

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recursos profissionais e institucionais adequados para que este desenvolva seu

potencial interagindo como cidadão na sociedade. (Brasil, Secretaria Especial

de Educação 2000).

A integração objetiva proporcionar ao aluno um ambiente o menos restrito

possível, porque ninguém aprende quando não há liberdade e ainda, quando

não se vê valorizado globalmente.

Segundo Werneck (1997), este processo se dá pelo chamado sistema de

cascatas que apresenta onze níveis, que vai desde a inserção do aluno

deficiente na classe regular ao ensino a domicílio, nos casos extremos,

podendo o aluno subir ou descer na cascata em função de suas necessidades

específicas.

Já a inclusão, questiona o sistema de cascatas, pois este sistema tende a

segregar as pessoas com necessidades especiais. ...um sistema que admite

tamanha diversificação de oportunidades para os alunos que não conseguem

‘acompanhar a turma’ no ensino regular não força a escola a se reestruturar

para mantê-los. (p.52).

Mantoan citado por Werneck (1997) diz:

“Na inclusão o vocábulo integração é abandonado, uma

vez que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de

alunos que já foram anteriormente excluídos. A meta

primordial da inclusão é não deixar ninguém no exterior

do ensino regular, desde o começo”. (p.52)

Conforme Werneck (2007) a inclusão defende o sistema caleidoscópio

de inserção, isto é, não existe uma diversificação de atendimento.

“Caberá à escola encontrar respostas educativas para as

necessidades específicas de cada aluno, quaisquer que

sejam elas. A inclusão não admite diversificação pela

segregação. Busca soluções sem segregar os alunos em

atendimentos especializados do ensino para todos.”

(p. 53).

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De acordo com o MEC, na perspectiva da educação inclusiva, o foco

não é deficiência do aluno e sim os espaços, os ambientes, os recursos que

devem ser acessíveis e responder a especificidade de cada aluno. Portanto, a

acessibilidade dos materiais pedagógicos, arquitetônicos e nas comunicações,

bem como o investimento no desenvolvimento profissional, criam condições

que asseguram a participação aos alunos com deficiência, transtornos globais

do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Vivemos um tempo de

transformação de referências curriculares, que indicam que não cabe ao aluno

se adaptar à escola tal como foi construída; a escola é que deve se reconstruir

para atender a toda a sua comunidade, da qual fazem parte pessoas com e

sem deficiência. Portanto, são necessárias as adaptações nos espaços e nos

recursos e principalmente uma mudança de atitude, que já reflitam a

concepção de desenho universal, não só na estrutura física das escolas, como

também no desenvolvimento das práticas de ensino e aprendizagem e nas

relações humanas.

2.2 – Mas o que é Educação Inclusiva?

De acordo com o MEC esta concepção educacional se define pela

efetivação do direito de todos à educação, tendo como princípio o

reconhecimento e a valorização das diferenças humanas e a valorização da

diversidade. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva, de 2008, traduz em seus objetivos e diretrizes essa

orientação, ou seja, a garantia do acesso à escolarização na sala de aula

comum do ensino regular e a oferta do atendimento educacional especializado

complementar, aos alunos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

O atendimento educacional especializado deve ser organizado em salas

de recursos multifuncionais ou centros de atendimento educacional

especializado, no contra turno do ensino regular, disponibilizando recursos

pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a participação

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e aprendizagem, considerando as necessidades específicas dos alunos,

conforme Decreto n° 6.571, de 17 de setembro de 2008.

O Decreto n º 6571 de 17 de setembro de 2008, dispõe sobre o

atendimento educacional especializado:

“Art. 1o A União prestará apoio técnico e financeiro aos

sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a

finalidade de ampliar a oferta do atendimento

educacional especializado aos alunos com deficiência,

transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades ou superdotação, matriculados na rede

pública de ensino regular.

§ 1º Considera-se atendimento educacional

especializado o conjunto de atividades, recursos de

acessibilidade e pedagógicos organizados

institucionalmente, prestado de forma complementar ou

suplementar à formação dos alunos no ensino regular.

§ 2o O atendimento educacional especializado deve

integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a

participação da família e ser realizado em articulação

com as demais políticas públicas.

“Art. 9o-A. Admitir-se-á, a partir de 1o de janeiro de 2010,

para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o

cômputo das matriculas dos alunos da educação regular

da rede pública que recebem atendimento educacional

especializado, sem prejuízo do cômputo dessas

matrículas na educação básica regular.

Parágrafo único. O atendimento educacional

especializado poderá ser oferecido pelos sistemas

públicos de ensino ou pelas instituições mencionadas no

art. 14.” .

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O Brasil assinou no dia 30 de março de 2007 A convenção sobre os

Direitos das pessoas com deficiência e a promulgou através do Decreto

Legislativo 186/08 de 09 de julho de 2008 reconhecendo-lhe assim a eficácia

em âmbito nacional.

Toda a proposta de Educação Inclusiva, pode ser encarada, antes de mais

nada, como uma proposta transformadora e necessária a uma educação

voltada para todos, de forma que qualquer educando que dela faça parte,

independentemente deste ser ou não portador de necessidades especiais,

tenha condição de conhecer, aprender, viver e ser, num ambiente livre de

preconceitos que estimule suas potencialidades e a formação de uma

consciência crítica.

A Educação Inclusiva não é apenas criar condições para os deficientes

interagirem com o meio social e escolar, é bem mais que isso porque implica

mudanças no contexto escolar tanto no aspecto físico, como na postura da

escola diante destes alunos e também no projeto político pedagógico da

escola.

A Secretaria de Educação Especial do MEC explica: do ponto de vista

burocrático, cabe ao corpo diretivo buscar orientação e suporte das

associações de assistência e das autoridades médicas e educacionais sempre

que a matrícula de um deficiente é solicitada. (Nova Escola, 2003)

A inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais em

classes regulares constitui um grande avanço histórico.

2.3 – Aspectos Legais da Educação Inclusiva:

De acordo com a Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 205,

todos têm acesso à escola.

O artigo 208 inciso III diz: “atendimento educacional especializado aos

portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.”(Brasil,

1988).

O Brasil possui uma Política Nacional de Educação Especial cujo o

objetivo é garantir o atendimento educacional ao aluno com Necessidades

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Educativas Especiais garantidos ainda no ECA – Estatuto da Criança e do

Adolescente, na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação e ainda no

Plano Decenal de Educação para Todos. (Werneck, 1997).

A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9394/96 também

assegura os direitos ao aluno portador de necessidades educativas especiais

em seu capítulo V, específico da Educação Especial.

Em 1994 foi realizada a Declaração de Salamanca que dispõe sobre

princípios, política e prática em Educação Especial.

Esta Declaração diz que o “princípio fundamental da Escola Inclusiva é o

de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível,

independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam

ter”.

A terminologia “necessidades educacionais especiais” refere-se a todas

aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se

originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. (Brasil,

Ministério da Justiça, 1994).

Portanto, a Escola Inclusiva deve reconhecer e atender às necessidades

diferenciadas de seus alunos, acomodando toda a sua estrutura, assegurando

uma educação de qualidade a todos por meio de um currículo apropriado que

assegure alcançar os objetivos propostos no processo de ensino –

aprendizagem.

A legislação mais recente sobre a Educação Inclusiva é a Convenção de

Guatemala. Promulgado no Brasil por decreto de 2001, o documento reafirma

que as pessoas com deficiências têm os mesmos direitos e liberdades que as

demais ditas normais. (Nova Escola, 2003).

Para que ocorra a inclusão em todos os sentidos teóricos, se faz

necessário muito mais que leis regulamentos e declarações. É necessário

comprometimento com este tema, fazendo com que ele saia da instância da

teoria passando para a instância da prática. Werneck, (1997) reafirma. “...

firma-se a urgência de ações que transformem em realidade uma educação

capaz de reconhecer as diferenças, promover a aprendizagem e atender às

necessidades de cada criança individualmente.” (p.50).

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CAPÍTULO III

A ESCOLA INCLUSIVA ESTÁ ATENDENDO ÀS

NECESSIDADES DOS ALUNOS PORTADORES DE

NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS?

A fim de analisarmos e refletirmos sobre o tema desta pesquisa, foi

realizada uma entrevista com três profissionais da educação de uma escola da

rede pública de primeiro segmento do ensino fundamental do Município de

Belford Roxo com as seguintes perguntas:

1. Em sua escola existe algum Portador de Necessidades Educativas

Especiais? Quais?

2. A sua escola está preparada para receber esses Alunos Portadores de

Necessidades Educativas Especiais? Por quê?

3. Os educadores de sua escola recebem ou receberam algum tipo de

orientação em relação de como se deve tratar o Portador de Necessidades

Educativas Especiais, segundo um processo inclusivo? Quais?

4. Você acha que essa orientação é importante para o profissional? Por quê?

5. De acordo com a LDB, os Portadores de Necessidades Educativas

Especiais deverão ser inseridos no ensino regular. Como você vê essa

perspectiva de Educação?

Essas perguntas visavam investigar se as escolas regulares e seus

profissionais estão realmente qualificados para receberem os alunos inclusos.

A primeira pergunta teve a intenção de saber se na escola onde ocorreu a

entrevista há algum aluno incluso. As respostas seguem abaixo:

“Sim, em minha turma há um aluno com problema agudo de coordenação

física e memória curta.” (Professora D, 30 anos, 1° ano de escolaridade).

“Sim. Neurológicos e outro com dificuldade para andar”. (Professora C, 21

anos, 5º ano de escolaridade).

“Sim, problemas neurológicos e físicos”. (Professora M, 37 anos, 3º ano de

escolaridade).

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Pelas respostas acima esta Escola está inserida numa proposta inclusiva de

acordo com a LDB 9394/96 (Brasil,1996). “Art. 58 – Entende-se por educação

especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar,

oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos

portadores de necessidades especiais”. (p.29)

A Segunda pergunta procurou saber se o profissional entrevistado acha que

sua escola está preparada ou não para receber o aluno incluso.

“Não, porque é uma escola pequena, sem espaço para trabalhar com os

alunos, com muitas escadas e sem rampa. A Unidade também fica localizada

num morro, o que dificulta o acesso dos alunos deficientes. (Profª M, 37 anos,

3° ano de escolaridade).

“Quanto ao que tem deficiência de coordenação física a escola não possui

estrutura para recebê-lo porque possui muitos degraus”. (Profª D, 30 anos, 1°

ano de escolaridade).

“Quanto ao espaço físico, no momento, a escola não seria adequada para

receber um aluno com problemas físicos”. (Profª C, 21anos, 5º ano de

escolaridade).

Todas as respostas foram unânimes em responder que arquitetonicamente

a escola não está estruturada/adequada para receber o aluno com deficiências

físicas.

Carvalho (1999) enfatiza que:

“A prática da inclusão na realidade brasileira revela

algumas dificuldades: despreparo do sistema regular de

ensino para atuar no processo; resistência da comunidade

escolar na aceitação dos alunos (cf. Carvalho & Monte,

1994); e fatores diversos de natureza familiar, institucional

e sociocultural”.( p. 52)

A terceira pergunta enfoca a questão da orientação ao profissional da

educação para atuar em uma escola inclusiva. Vejamos as respostas:

“Já aconteceram cursos e seminários oferecidos pela prefeitura para os

interessados, pelo visto nada obrigatório”. (Profª C, 21anos, 5º ano de

escolaridade).

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“Não recebemos orientações que realmente atendam a nossa necessidade.

A orientação que o professor recebe é através de encontros que a prefeitura

oferece, mas somente para profissionais que têm alunos inclusos.” (Profª M, 37

anos, 2° ano de escolaridade).

“Às vezes o Município oferece palestras sobre inclusão”. (Profª D, 30 anos,

1° ano de escolaridade).

Podemos constatar que as respostas supracitadas apontam para uma

orientação superficial, oferecida pela Prefeitura, através de encontros

periódicos.

Segundo Claudia Werneck, (1997) jornalista e pesquisadora atuante no

processo de inclusão:

“O professor do ensino básico é a principal figura na

sociedade inclusiva. Isso é muito claro para mim. Não

adianta contemporizarmos: enquanto os cursos e as

universidades que formam professores não tiverem como

ponto de honra conscientizá-los de que alunos com

deficiência são responsabilidade de todos os educadores,

e não apenas do profissional que se interessa por

educação especial, caminharemos feito tartarugas”.(p.

61).

A Quarta pergunta relata a opinião do profissional de educação sobre a

importância de se receber orientações para desenvolver uma prática mais

adequada as necessidades dos alunos portadores de deficiências.

“Toda a orientação quando voltada para a realidade escolar é

importante.” (Profª D, 30 anos, 1º ano de escolaridade).

“É importante o professor saber como lidar com o aluno especial e

principalmente fazer com que os outros alunos interajam com esse, produzindo

o crescimento de ambos.” (Profª C, 21 anos, 5º ano de escolaridade).

“Acho muito importante porque é através dessas orientações que o

profissional vai aprender como trabalhar e conviver com esse novo desafio.”

(Profª M, 37 anos, 3º ano de escolaridade).

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Todas as respostas foram afirmativas ao declararem a importância de

orientação ao professor que atua com aluno portador de necessidades

educativas especiais.

De acordo com entrevista dada a (Revista Professor, 2003) Marlene

Gotti, assessora técnica da Secretaria de Educação Especial do Ministério da

Educação informava que:

“A instituição de Ensino Superior tem que construir seu

projeto pedagógico, Ter um corpo docente capaz de

formar adequadamente professores na perspectiva de

uma escola inclusiva na fase da formação inicial. Isso

ainda está iniciando. A legislação prevê que a prática de

ensino aconteça desde o começo do curso, para que não

ocorra como antigamente, quando era dada somente no

último semestre e o aluno saía sem saber nada sobre

necessidades educacionais especiais de alunos.” (p. 52).

A Quinta pergunta foi sobre a opinião do educador sobre a Educação

numa perspectiva inclusiva.

“A proposta se posta em prática à risca, parece ser de algum proveito

para o educando. Bom para que ele não se sinta inferior e bom para os ditos

normais não acharem que são melhores.” (Profª C, 21 anos, 5º ano de

escolaridade).

“Quanto à socialização é bom porque no mundo não há somente

pessoas especiais ou não especiais e o aluno precisa lidar com esses alunos

especiais. Em relação à aprendizagem os professores não estão preparados

para ensinar um aluno com deficiência avançada (surdo – mudo, cego, etc.).”

(Profª D, 30 anos, 1º ano de escolaridade).

“Vejo de forma positiva, pois os alunos portadores de deficiência devem

ser tratados como crianças normais mas que necessitam de um olhar

diferenciado e não serem discriminados nunca.” (Profª. M, 37 anos, 2º ano de

escolaridade).

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Constatamos que os professores vêem de forma positiva a proposta da

escola inclusiva, mas se sentem mal qualificados para aturarem nessa nova

proposta de escola.

Edler Carvalho, (2000):

“Aí, exatamente aí, reside mais um obstáculo, pois muitos

dos nossos professores do ensino fundamental alegam

que não se sentem “preparados” e motivados para a

docência de grupos tão diversificados. Consideram-na

difícil, pois ganham muito mal, não dispondo de recursos

pessoais para a compra de livros, ou para fazerem cursos

de atualização. Alegam que as condições em que

trabalham são muito adversas. Infelizmente não estão

exagerando!” (p. 113).

Refletindo sobre as entrevistas realizadas e leituras de diversos autores,

identificamos que, para que ocorra a inclusão das crianças com Necessidades

Educativas Especiais na rede regular de ensino, precisa-se levar em

consideração que estes sujeitos têm vontades próprias, sentimentos, e

interesses, e que ainda, há muito que se modificar.

Para nós, a principal mudança tem a ver com a visão dos profissionais de

educação sobre inclusão, além de adequações arquitetônicas e no currículo.

Enfim, incluir não é tão somente garantir o acesso, e sim garantir a

permanência, através de práticas educativas e políticas educacionais que

privilegiem a inclusão de fato.

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CAPÍTULO IV

SUGESTÕES DE AÇÕES INCLUSIVAS NO ÂMBITO

ESCOLAR E NA SOCIEDADE.

Incluir os Alunos Portadores de Necessidades Educativas Especiais na

rede de ensino, seja no sistema de ensino privado ou público é algo que exige

uma reestruturação em todos os seus aspectos: arquitetônico, isto é, o físico;

pedagógico, elaborando-se um currículo que contemple a aprendizagem dos

educandos deficientes e ainda investindo na qualificação do profissional de

educação para que este possa vir a atender às necessidades do aluno portador

de necessidades educativas especiais e até mesmo no aspecto administrativo.

Carvalho (1999) comenta que no Brasil a prática da inclusão apresenta

algumas dificuldades como: despreparo do sistema regular de ensino para

atuar no processo, comunidade escolar resistente em aceitar os alunos com

deficiências, e ainda diversos fatores de âmbito familiar, institucional e

sociocultural.

Muitas dificuldades podem ocorrer quando a escola de ensino regular

não prioriza o acesso do aluno deficiente às situações comuns que são

propostas aos demais alunos.

Veremos a seguir algumas barreiras que impedem que a Educação

Inclusiva se efetive de fato nas comunidades escolares brasileiras e ainda

sugestões de ações inclusivas que poderão beneficiar o aluno deficiente

permitindo o acesso deste na escola regular, alcançando este, os objetivos

propostos no processo ensino – aprendizagem como também na sociedade em

que vive.

4.1 – Barreiras Arquitetônicas

O Mec apresenta o Programa Escola Acessível, da Secretaria de

Educação Especial, que busca adequar o espaço físico das escolas estaduais

e municipais, a fim de promover acessibilidade nas redes públicas de ensino.

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As escolas interessadas em participar devem apresentar suas

demandas de acessibilidade no Plano de Desenvolvimento da Escola (P.D.E).

Em 2009, serão priorizadas 27 mil escolas. O programa visa possibilitar

as pessoas com deficiência viver de forma independente e participar

plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as

medidas apropriadas para assegurar as pessoas com deficiência o acesso, em

igualdade de oportunidade com as demais pessoas, ao meio físico, ao

transporte, a informação e comunicação, eliminando assim os obstáculos e

barreiras a acessibilidade.

Ao observarmos os espaços físicos de nossas escolas de ensino regular

constatamos que as construções destas, muitas vezes, não permitem a

acessibilidade do aluno portador de necessidades educativas especiais. Isto

também ocorre na sociedade de modo em geral.

Rosita Edler Carvalho (2000) relata diversas barreiras arquitetônicas

ambientais que dificultam o acesso à escola, tais como:

“(a) insuficiência ou inexistência de meios de transportes

adaptados;

(b) falta de esteiras rolantes, rampas ou elevadores que

facilitem a entrada na escola e, nela, o acesso aos

andares que possua;

(c) falta ou inadequação de sinalização informativa e

indicativa direcional;

(d) superfícies irregulares, instáveis, com desníveis e

derrapantes, nos pisos de circulação interna e externa, no

terreno da escola;

(e) rampas com inclinações inadequadas e sem

patamares nos segmentos das rampas;

(f) áreas de circulação livres de barreiras para a

movimentação das cadeiras de rodas (em linha reta ou

em rotação);

(g) portas com dimensões que dificultam ou impedem sua

abertura e a movimentação entre os cômodos que separa;

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(h) sanitários inadequados, sem barras de apoio ou

bacias sanitárias e lavatórios acessíveis;

(i) mobiliário escolar inadequado às necessidades dos

usuários;

(j) inadequação do mobiliário escolar, etc...”

(p. 59-60).

A Organização das Nações Unidas (ONU, 1996) em um recente

documento ponderou que:

“há urgente necessidade de [...] eliminação de barreiras

físicas e sociais, visando a criação de uma sociedade

acessível a todos, com ênfase particular de medidas para

corresponder a necessidades e interesses dos enfrentam

dificuldades em particular plenamente da sociedade:[...]”

( p.100).

Sassaki (1997) diz a respeito do desenho acessível que também é

conhecido como arquitetura sem barreiras e o desenho universal – arquitetura

para todos - como soluções para uma sociedade inclusiva.

“O desenho acessível é um projeto que leva em conta a

acessibilidade voltada especificamente para as pessoas

portadoras de deficiência física, mental, auditiva, visual ou

múltipla, de tal modo que elas possam utilizar, com

autonomia e independência, tanto os ambientes físicos

(espaços urbanos e edificações) e transportes construídos

com acessibilidade já em fase de sua concepção”.

(p. 139).

O desenho universal abrange não só construções como também

produtos acessíveis e utilizáveis para todos, com deficiências ou não. “A idéia

do desenho universal é evitar a necessidade de ambientes e produtos

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especiais para pessoas com deficiência, no sentido de assegurar que todos

possam utilizar todos os componentes do ambiente e todos os produtos.”

(idem, p. 140).

O desenho universal é mais vantajoso do que o desenho acessível

porque atende a várias necessidades de um maior número de pessoas.

4.2 – Qualificação Profissional

Muitos de nossos profissionais da Educação não se acham preparados

para atuar com o aluno portador de necessidades educativas especiais, o que

gera um obstáculo para a Educação Inclusiva acontecer de fato.

Segundo Edler (2000):

“No caso da formação sob o paradigma da educação

inclusiva, ainda convivemos com inúmeras dúvidas que,

ou bloqueiam o avanço das ações por falta de

esclarecimentos, ou geram ações isoladas, conforme o

entendimento das Secretarias de Educação.

Salários e condições de trabalho de nossos professores

representam fortes entraves pois, desmotivados, ou

abandonam o magistério, ou se nele permanecem é por

falta de melhores oportunidades de trabalho, cujo

mercado anda escasso, entre nós.” (p.113).

Há educadores que defendem a opinião de que os alunos portadores de

deficiências devam ser segregados em escolas ou classes especiais, pois são,

em maioria, despreparados para atuar com alunos inclusos. Não possuem

curso ou aperfeiçoamento algum e vêm o aluno portador de necessidades

educativas especiais como um problema, um aluno problema com dificuldades

no acompanhamento às aulas, com dificuldades na aprendizagem, não

apresentando nenhuma gratificação financeira com o “problema extra”.

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A ação docente com esses alunos exige indubitavelmente de

qualificação, através de realização de cursos, aperfeiçoamento em trabalho,

leitura bibliográfica sobre o tema e além de tudo dedicação e carinho por parte

dos educadores.

Edler Carvalho (2000) ressalta que:

“Para os professores que estão recebendo alunos com

necessidades educacionais especiais em suas turmas,

particularmente, faz-se necessária a formação em serviço.

E, preventivamente, cumpre examinar a formação inicial

de todos os professores, de modo a assumirem a

perspectiva da educação para todos ao longo de toda a

vida, conjugando-se qualidade com eqüidade.

A proposta inclusiva, sob a ótica de nossa LDB, não

excluiu o atendimento educacional escolar nas classes ou

escolas especiais e nas salas de recursos. Precisamos,

portanto, de professores que atuem nas classes comuns

(preferentemente) e nos serviços educativos de apoio ou

substituição aos existentes na via comum. Também

precisamos redefinir os estágios de formação de

formadores!” (p.171 – 172).

4.3 Adaptações Curriculares e Intervenções Psicopedagógicas.

Sabemos que incluir é muito mais do que garantir a matrícula de um

Aluno Portador de Necessidades Educativas Especiais. Incluir implica garantir

o atendimento de fato com planejamentos, estratégias de ensino, flexibilização

do tempo necessário para a realização das tarefas, avaliação utilização de

recursos didáticos necessários ao desenvolvimento de saberes que se

permitam incluir-se também na sociedade como cidadãos que possuem direitos

e deveres.

Carvalho (1999), aborda a questão pedagógica inclusiva que ao inserir o

aluno com necessidades especiais na rede de ensino regular deve haver

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medidas pedagógicas que garantam o acesso à aprendizagem e ao

conhecimento como propósito na vivência escolar e um dos meios para se

atingir aos objetivos propostos é adaptar o currículo de modo que este atenda

ás necessidades do aluno deficiente.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) fazem referências sobre a

educação dos alunos com necessidades especiais. Os pressupostos, objetivos,

e indicações consideram questões pedagógicas atuais, que admite a

pluralidade de concepções pedagógicas e do fazer educativo, de forma que

este atenda à diversidade dos alunos na escola e às particularidades de sua

cultura.

Segundo Carvalho (1999). As adaptações curriculares devem ser feitas

de acordo com a necessidade do aluno.

“No Brasil, os procedimentos de adaptações curriculares

estão respaldados pela Lei nº 9.394, de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional ( Cap. V, Art. 59). A

educação inclusiva, entretanto, não se esgota na

observância da lei, que a reconhece e garante, mas

requer mudança de postura, de percepção e de

concepção dos sistemas educacionais. As modificações

necessárias devem abranger atitudes, perspectivas,

organização e ações de operacionalização do trabalho

educacional.”(p.55).

Além das adaptações no currículo, há ainda a necessidade da

intervenção psicopedagógica que oferece ações de apoio específico aos

alunos individualmente e em pequenos grupos.

De acordo com Edler (2000):

“O trabalho psicopedagógico deve-se desenvolver em

torno dos aspectos cognitivos, motores, lingüísticos e

afetivos – emocionais, sempre objetivando o sucesso na

aprendizagem. Alerta-se para que não seja confundido

com pedagogia terapêutica ou treinamento de

habilidades.”

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36

(...)

A intervenção pode ser efetuada pelo professor do

grupo/classe ou por outro professor especialmente

dedicado ao apoio especializado. Quando se realizada

por outro educador ou por algum profissional da área

clínica – como psicólogo, fonodiólogo ou outro, é

desejável que todos os que intervêm com a criança se

articulem para um trabalho interdisciplinar..”(p.87-88)

4.4. A participação do Orientador Educacional junto aos

professores que atendem aos Alunos Portadores de

Necessidades Educativas Especiais.

Com base no tema abordado neste estudo entendemos que cabe

ao Orientador Educacional o papel de refletir sobre a formação,

informação e conscientização dos Profissionais de Educação. A inclusão

é, certamente, o caminho definitivo para que deixemos de ser um país

com grandes injustiças sociais. O Orientador Educacional é um dos

profissionais que se preocupa com a formação de cada estudante e,

dos profissionais que fazem parte do contexto educacional portanto, tem

uma participação de extrema importância e contínua diante do desafio

da inclusão: auxiliar a todos os protagonistas da escola a criar um

ambiente agradável para que os alunos PNEE sintam-se acolhidos e

incluídos.

A inclusão é um processo cheio de imprevistos, sem fórmulas

prontas e que exige aperfeiçoamento constante. É preciso identificar as

barreiras que estejam impedindo ou dificultando o processo educativo.

Na avaliação educacional, por exemplo, ao contrário do modelo

tradicional, que é classificatório, deverá enfatizar todo o processo de

desenvolvimento e aprendizagem do aluno.

Segundo LUCK (1981):

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37

“(...) Observa-se, por exemplo, que,

quando o professor percebe que algum aluno seu tem

dificuldades especiais, encaminha-o para o Orientador

Educacional a quem transfere a responsabilidade de

resolvê-las. Ora, o professor é figura central na formação

dos educandos. É ele quem forma no aluno o gosto ou

desgosto pela escola; a motivação ou não pelos estudos;

o entendimento da significância ou insignificância das

áreas e objetos de estudo; a percepção de sua

capacidade de aprender, de seu valor como pessoa, etc.

Da qualidade do relacionamento interpessoal professor-

aluno, de responsabilidade do primeiro, depende, entre

outras coisas, o ajustamento emocional do aluno na sala

de aula e na escola. Portanto, não se concebe a

eficiência de uma ação para sanar dificuldades dos

alunos em sala de aula sem a participação do

professor.”(p.27-28).

A inclusão escolar tem sido um dos grandes desafios para os

professores. O Orientador Educacional deve promover na escola um trabalho

de conscientização aos professores que trabalham com Alunos Portadores de

Necessidades Educativas Especiais. Os professores têm que ter bastante

clareza de que o processo de ensino e aprendizagem do Aluno Portador de

Necessidades Educativas Especiais apresenta avanços e tempo diferenciado

dos demais alunos, e sempre que possível, deve-se elevar a auto-estima deste

aluno, salientando todos os seus progressos, e valorizando seus desempenhos

como ímpar, apesar de estarmos em uma Escola pensada como plural, pois

“pensa” que todos os outros alunos são iguais, desconsiderando as

singularidades e potencialidades humanas.

Mantoan (2003) afirma que:

(...) ”Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino

for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em

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conta esses limites e explorará convenientemente as

possibilidades de cada um “. (p.67).

4.5 – Paradigma de Suporte

O paradigma de suporte se caracteriza pelo pressuposto de que a

pessoa com necessidades especiais tenha direito ao acesso imediato e

continuado aos recursos que dispõem todos os cidadãos na sociedade. (Brasil,

Secretaria Especial de Educação,2000).

Foi buscando garantir a igualdade de todos os cidadãos que se

desenvolveu o processo de suportes, isto e, instrumentos que garantam à

pessoa portadora de necessidades educativas especiais o acesso imediato a

todo e qualquer recurso da comunidade.

De acordo com o Projeto Escola Viva (Brasil, Secretaria Especial de

Educação, 2000), o paradigma de suportes, que contextualiza a idéia da

inclusão, prevê intervenções decisivas e afirmativas nos processos de

desenvolvimento do sujeito e reajuste da realidade social.

“Conquanto, então, preveja o trabalho direto com o

sujeito, adota como objetivo primordial e de curto prazo a

intervenção junto às diferentes instâncias que

contextualizam a vida desse sujeito na comunidade, no

sentido de nelas promover os ajustes (físicos, materiais,

humanos, sociais, legais, etc) que se mostrem

necessários para que a pessoa com necessidades

educacionais especiais possa imediatamente adquirir

condições de acesso ao espaço comum da vida na

sociedade. ”(p. 19-20).

Acreditamos que se as Escolas, Professores e Equipe técnico

Pedagógica, garantir a todos os alunos matriculados nas Escolas de todo o

país a perspectiva de inclusão aqui apresentada, com certeza poderemos dizer

que nas Escolas de nossa nação se efetiva a inclusão de fato.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluirmos esta pesquisa, comprovamos que as questões

investigadas evidenciam que ainda há muito a investir, na realidade brasileira,

em uma escola e sociedade inclusiva. Desde ao aspecto físico das escolas

quanto o pedagógico e ainda a falta de qualificação do profissional da

educação que não se sente preparado para atuar em uma escola inclusiva.

Esta também não se sente tão receptiva ao receber este aluno devido as

adequações que deverão ser realizadas para este aluno portador de

necessidades educativas especiais seja na realidade incluído e não apenas

integrado, como acontece na maioria das escolas de ensino regular,

acarretando na segregação desse aluno.

Atuar em uma escola inclusiva é mais um desafio proposto pela

educação especial que implica ao profissional da educação a adoção de uma

nova postura diante desse aluno incluso, respeitando-o como um ser que

possui limitações, mas que pode interagir dentro de suas limitações com o

meio em que está inserido.

A escola inclusiva oferece a esse aluno portador de necessidades

especiais igualdade de oportunidades aos que são rotulados “diferentes”, para

que possam exercer plenamente a sua cidadania.

Portanto, urge adotarmos novos paradigmas para a educação especial,

conforme afirma Sassaki (1997):

“A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade e o

portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente

tendo em vista a equiparação de oportunidades e,

conseqüentemente, uma sociedade para todos. A inclusão

(na escola, no trabalho, no lazer, nos serviços de saúde

etc.) significa que a sociedade deve adaptar-se às

necessidades da pessoa com deficiência para que esta

possa desenvolver-se em todos os aspectos de sua vida.”

(p. 167 – 168).

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