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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA O papel das crianças e do educador na gestão de conflitos interpessoais Relatório da Prática Profissional Supervisionada MESTRADO EM EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR ANA RAQUEL JACINTO SANTOS NOVEMBRO DE 2014

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA

O papel das crianças e do educador na gestão de conflitos

interpessoais

Relatório da Prática Profissional Supervisionada

MESTRADO EM EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

ANA RAQUEL JACINTO SANTOS

NOVEMBRO DE 2014

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA

O papel das crianças e do educador na gestão de conflitos

interpessoais

Relatório da Prática Profissional Supervisionada

MESTRADO EM EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

Sob a orientação da Professora Maria de Lurdes Costa

ANA RAQUEL JACINTO SANTOS

NOVEMBRO DE 2014

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i

Agradecimentos

A conclusão deste relatório não é o fim, mas sim o início da minha carreira

como educadora de infância. Ao mesmo tempo que deixo para trás as salas da ESE, dou

as boas vindas às salas de atividades que serão, de agora em diante a minha prioridade.

O caminho até aqui não foi fácil mas, mesmo com alguns contratempos e sacrifícios fui

capaz de chegar onde me encontro hoje. Para isso, é necessário agradecer a quem me

acompanhou durante estes quatro anos e que fez desta viagem um verdadeiro caminho

de aprendizagem relativamente a todos os aspetos da minha vida. Assim, agradeço:

À minha família, mãe, pai e irmã porque sem o seu apoio e motivação não teria

chegado onde cheguei. Obrigada por me terem ajudado a crescer enquanto pessoa e

terem-me mostrado que, por muito negro que o céu pareça estar, o sol sempre brilhará.

Avó e tio, obrigada por estarem sempre presentes e acreditarem em mim.

Às “migas”, Ana, Cheila, Daniela, Joana e Patrícia, cinco raparigas que para

sempre ficarão na memória, pelos momentos bons, menos bons, pelos ensaios

intermináveis, pelas ameaças de desistência de curso e por todos os momentos que

fizeram da nossa amizade o que é hoje. Um especial agradecimento à “miga Dani” pela

sua inesgotável paciência e compreensão e pela sua ajuda e incentivo durante a

realização deste relatório.

Ao Pedro, o amigo que, mesmo longe foi sempre fonte de inspiração e

encorajamento. Obrigada por me aturar e por estar sempre disponível, pelo

companheirismo e amizade.

Aos professores e a todos os colegas que se destacaram durante estes anos e que

revelaram ser fonte de tantas aprendizagens. Às professoras orientadoras, um especial

obrigado.

Às educadoras cooperantes e respetivas auxiliares de educação, obrigada pela

partilha e pelo espirito de entreajuda vivenciado durante os estágios pedagógicos.

Obrigada pelo reportório de canções e ideias que me transmitiram ao longo do tempo.

Às crianças com que tive o prazer de trabalhar e me proporcionaram momentos

inesquecíveis e cheios de preciosidades. Espero, um dia, voltar a encontrá-las e

agradecer-lhes pessoalmente por terem contribuído para a minha formação enquanto

pessoa e futura educadora de infância.

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ii

Resumo

Este relatório foi elaborado tendo em conta a Prática Profissional Supervisionada

(PPS) em contexto de creche e jardim-de-infância entre os meses de janeiro e maio. O

principal objetivo deste documento é o de apresentar e analisar reflexivamente a minha

prática, relacionando as minhas vivências em ambos os contextos com os

conhecimentos adquiridos ao longo do meu percurso académico e com um referencial

teórico que permite sustentar as diferentes ideias e questões abordadas.

A PPS decorreu em duas Instituições Particulares de Solidariedade Social

(IPSS), ambas localizadas na área metropolitana de Lisboa. Em creche, a PPS decorreu

durante o mês de janeiro com um grupo de catorze crianças, com idades compreendidas

entre os 12 e os 19 meses de idade. No JI, o período de tempo foi mais longo, ocorrendo

entre os meses de fevereiro e maio. O grupo era constituído por vinte e uma crianças,

com idades compreendidas entre os 36 meses e os cinco anos de idade.

Neste relatório, em primeiro lugar, é apresentada a caracterização de ambos os

contextos. Decorrente desta caracterização, são apresentadas as intenções definidas para

com os grupos de crianças, com as suas famílias e com as equipas educativas. É ainda

apresentada e aprofundada a problemática que revelou ser mais significativa durante a

PPS e que reporta ao papel das crianças e do educador na gestão de conflitos

interpessoais. Neste sentido, pretende-se analisar alguns comportamentos assumidos

pelas crianças durante situações de conflito, bem como motivações e estratégias de

resolução. Decorrente deste último aspeto, pretende-se apresentar também o papel que o

educador assume durante a gestão de conflito e a seu contributo para a resolução dos

mesmos.

Ainda neste documento é apresentada uma reflexão da minha prática e do

impacto da minha intervenção, bem como da construção da minha identidade

profissional.

Palavras-chave: relações entre pares; competências socias; conflito interpessoal; gestão

de conflitos.

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Abstract

The present report was developed taking into account the Supervised

Professional Practice (SPP) in the educational contexts of nursery and kindergarten

between the months of January and May. The main end of this document is to present

and reflexively analyze my practice, relating my experience at both contexts with the

knowledge gained throughout my academic route and also a theoretical reference which

was able to support different addressed ideas.

The SSP was developed at two Particular Social Security Institutions (PSSI)

located at Lisbon’s metropolitan area. The practice in nursery took place during the

month of January with a group of fourteen children, between twelve and nineteen

months old. The practice in kindergarten took place between the months of February

and May with a group of twenty one children, between 36 months old and five years of

age.

In this report, due to the characterization of both environments, were outlined

my pedagogical intentions in regard the groups of children, their families and the

educative teams. Then, is presented and supported the most significant problematic

during the SSP regarding children’s and kindergarten teacher’s role in interpersonal

conflicts management. It is intended to analyze children’s behavior during conflicts and

the motivations and resolution strategies. In regard of resolutions strategies the

kindergarten teacher’s role in conflict management is presented and analyzed.

The report also includes the reflection of my practice and my intervention, not

forgetting about the construction of my professional identity.

Key-words: peer’s relationships; social skills; interpersonal conflict; conflict

management.

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Léxico de Siglas

AAE – Auxiliar de Ação Educativa

IP – Intervenção Precoce

IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social

JI – Jardim-de-infância

MEM – Movimento da Escola Moderna

NEE - Necessidades Educativas Especiais

OCEPE – Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar

PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PCS – Projeto Curricular de Sala

PE – Projeto Educativo

PPS – Prática Profissional Supervisionada

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Índice Geral

Agradecimentos ............................................................................................................... i

Resumo ............................................................................................................................ ii

Abstract .......................................................................................................................... iii

Léxico de Siglas .............................................................................................................. iv

Introdução ....................................................................................................................... 3

Capítulo I: Caracterização reflexiva dos contextos socioeducativos ......................... 6

1.1. Meios onde estão inseridas as instituições ............................................................ 6

1.2. Contextos socioeducativos .................................................................................... 6

1.3. Equipa Educativa ................................................................................................... 7

1.4. Famílias das crianças ............................................................................................. 8

1.5. Grupo de crianças ................................................................................................ 10

Capítulo II: Intenções para a ação .............................................................................. 13

Capítulo III: Identificação e aprofundamento da problemática .............................. 19

3.1. Referencial metodológico e ético ........................................................................ 19

3.2. O papel das crianças e do educador na gestão dos conflitos interpessoais –

definição da problemática ........................................................................................... 23

3.2.1. Das relações entre pares aos conflitos interpessoais ................................... 24

3.2.2. O papel do educador na gestão de conflitos interpessoais .......................... 35

Capítulo IV: Considerações finais .............................................................................. 45

Referências bibliográficas ............................................................................................ 51

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Índice de Anexos

Anexo A – Portefólio da PPS em Creche (CD)

Anexo B – Portefólio da PPS em JI (CD)

Anexo C – Caracterização dos contextos socioeducativos

Anexo D - Ambiente físico da sala de creche

Anexo E – Ambiente físico da sala de JI

Anexo F – Horários e rotinas da sala de creche

Anexo G - Horários e rotinas da sala de JI

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Introdução

O presente relatório visa apresentar o meu percurso ao longo do estágio de

creche e de jardim-de-infância (JI) e a análise e reflexão da minha prática, articulando

as vivências adquiridas em ambos os contextos com os conhecimentos adquiridos ao

longo do meu percurso académico e com um referencial teórico relacionado com as

diferentes secções deste relatório.

A problemática que dá título a este relatório e que será aprofundada num dos

capítulos deste documento, foi a mais significativa durante a Prática Profissional

Supervisionada (PPS) e que corresponde, mais especificamente, ao papel que as

crianças e os adultos (educadores) desempenham durante a gestão de conflitos

interpessoais. A problemática foi definida ainda durante a PPS em creche, fazendo com

que, à partida, a minha observação em contexto de JI tenha sido um pouco influenciada

pela necessidade de focar alguns pontos em relação à problemática. A caracterização

dos contextos e a necessidade de refletir sobre o meu papel enquanto educadora numa

situação de conflito, levou-me a escolher esta problemática.

Segundo Bossa (1998) apud Queiroga (2008, p.72)

Desde qua a criança nasce, o ambiente precisa satisfazer suas

necessidades básicas de afeto, apego, dasapego, segurança, disciplina e

comunicação, pois é nele que se estrutura a mais importante forma de

aprendizagem: a de estabelecer vínculos, isto é, a capacidade de se

relacionar, tendo em conta que o ser humano é um ser social (citado em

Mosimann & Koerich, 2009, p. 53).

Semelhantemente ao referido pelos autores, considero que a necessidade de criar

laços e estabelecer relações com os pares e pessoas que a rodeiam, é essencial ao

desenvolvimento integral da criança, indo ao encontro da ideia de que, desde o

nascimento, a criança é um ser social. Relacionar-se com os outros é uma necessidade

do ser humano. A importância de estabelecer relações significativas durante a infância

mostra-se determinante no que diz respeito ao desenvolvimento da consciência social e,

posteriormente, à qualidade das relações estabelecidas no futuro. À partida,

independentemente do grupo de crianças com quem estagiei, a necessidade de

estabelecer relações com cada criança, de conhecê-las e percebê-las, foi sempre uma

intenção presente na minha prática.

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Enquanto estagiária tive oportunidade de trabalhar com dois grupos de crianças

que me ajudaram a crescer, tanto como pessoa, como futura educadora. Quer em

contexto de creche, quer em contexto de JI, procurei observar, analisar e integrar.

Observar ajudou-me a conhecer as crianças (e também as equipas), a descobrir

pormenores únicos e característicos de cada uma, comportamentos e reações essenciais

à minha ação para com elas. Analisar permitiu-me aprender que, nem tudo o que parece

é, por vezes é necessário pensar o porquê e o para quê, evitando conclusões precipitadas

que podem não ser as mais corretas. Integrar diz respeito à necessidade de tentar chegar

a todas as crianças e tentar dar-lhes um pouco de tudo, apresentando-lhes novos desafios

e acompanhando-as em novas aprendizagens.

A PPS em creche decorreu durante o mês de janeiro, com um grupo de catorze

crianças, com idades compreendidas entre os 12 e 19 meses. Em JI, a PPS teve início no

mês de fevereiro, terminando no mês de maio. O grupo era constituído por vinte e uma

crianças, entre os 36 meses e os cinco anos de idade. Ambas as instituições localizam-se

na área metropolitana de Lisboa, sendo a creche e o JI Instituições Particulares de

Solidariedade Social (IPSS).

Este relatório é constituído por quatro capítulos. No primeiro capítulo é

apresentada a caracterização reflexiva do contexto socioeducativo de creche e do

contexto socioeducativo de JI, que permitiram a realização deste relatório e o

desenvolvimento da problemática. Esta caracterização permitiu que, à partida, fosse

capaz de adaptar a minha prática aos diferentes grupos, indo ao encontro das

necessidades de cada criança e do grupo, permitindo-me “desenhar” a minha prática

através do “esboço” das caracterizações. Foi também a partir destas caracterizações que

fui capaz de definir as minha intenções para com as equipas e famílias das crianças.

Estas intenções encontram-se apresentadas no segundo capítulo deste relatório.

O terceiro capítulo pode ser dividido em duas grandes partes: a primeira parte

diz respeito ao referencial metodológico e ético inerente à construção deste relatório,

bem como à minha prática em ambos os contextos. Na segunda parte deste capítulo são

apresentados dois temas de trabalho. Em primeiro lugar é apresentada uma síntese

global sobre as relações interpessoais e a sua importância durante os primeiros anos e ao

longo do desenvolvimento da criança. Ao mesmo tempo são apresentados os conflitos

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interpessoais e como é que estes se encontram intrinsecamente ligados às relações

estabelecidas entre pares. Neste sentido, é feita uma reflexão sobre a importância não só

dos conflitos em si, mas da sua resolução e do papel que as crianças assumem durante e

após este tipo de situações. Em segundo lugar é apresentado a visão do educador sobre

o conflito interpessoal e o seu papel antes, durante e após o mesmo. É feita uma reflexão

sobre as situações vivenciadas durante a PPS, tendo por base um referencial teórico que

permite corroborar e justificar algumas ações e comportamentos. Este referencial

teórico é composto por livros, artigos e documentos relacionados com a caracterização

dos contextos, a definição das intenções para a prática e com a problemática em estudo.

O quarto capítulo apresenta as minhas considerações finais. Ou seja, é realizada

uma síntese reflexiva dos principais pontos ilustrados neste relatório, tendo em conta a

minha prática e, consequentemente, a construção da minha identidade profissional

enquanto futura educadora de infância.

À construção deste relatório esteve subjacente um roteiro ético que deve ser uma

das bases de trabalho de qualquer educador de infância. O mesmo norteou a minha

prática ao longo da PPS e a elaboração de qualquer documento. Assim, as identidades

de todos os intervenientes na minha prática, bem como das instituições não serão

mencionadas. O produto final (relatório) será devolvido às diferentes equipas educativas

e as instituições onde realizei a PPS.

Em relação aos anexos para os quais este relatório remete, incluindo os

portefólios de creche e JI, construídos ao longo dos diferentes períodos de estágio e que

se encontram anexados em CD a este documento é, mais uma vez, garantida a

confidencialidade das identidades das instituições, das crianças, das equipas educativas

e das famílias.

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Capítulo I: Caracterização reflexiva dos contextos socioeducativos

Neste capítulo é feita a caracterização dos contextos socioeducativos onde foi

realizada a PPS, tanto em creche como em JI, bem como a apresentação das rotinas e

dos espaços físicos, a caracterização dos grupos de crianças, das suas famílias e equipas

educativas. A caracterização presente neste capítulo permitiu adaptar a minha prática

aos contextos vivenciados, relacionando-a também com a problemática desenvolvida no

terceiro capítulo deste relatório.

1.1. Meios onde estão inseridas as instituições

Ambas as instituições em que desenvolvi a PPS localizam-se na área

metropolitana de Lisboa e em zonas de habitação providas com algum comércio local.

O JI procura funcionar como complemento à resposta social já existente na zona,

privilegiando a admissão de crianças com três e quatro anos uma vez que está localizado

“num meio geográfico onde a maior parte das escolas não atende todas as crianças da

educação pré-escolar” (PE, 2012, p. 12). Neste caso crianças com cinco anos são, à

partida, admitidas no ensino público.

1.2. Contextos socioeducativos

De acordo com a Tabela 1 (cf. Anexo C) referente aos contextos socioeducativos

de ambas as instituições, é apresentando um breve resumo sobre a história, dimensão

jurídica e organizacional bem como o espaço físico dos estabelecimentos e os modelos

curriculares adotados em ambas as instituições. Uma vez que “as crianças não estão

isoladas nem são impermeáveis aos contextos onde se move, nem os contextos são

imunes às crianças” levando consequentemente a uma “influência mútua entre contextos

e crianças” (Tomás, 2008, p. 391), procurei sempre ir ao encontro das especificidades

de cada uma das respostas socias, moldando a minha ação pedagógica às suas

características, permitindo a identificação e aprofundamento da problemática

desenvolvida neste relatório.

Tal como apresentado na Tabela 1 (cf. Anexo C), o modelo curricular instituído

em creche era o HighScope e eram seguidos os seus princípios. No centro da “Roda da

Aprendizagem” do modelo HighScope encontra-se a aprendizagem ativa, princípio

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transversal a todos os outros, potenciador de articulação entre a interação

adulto:crianças, a observação das crianças, o ambiente físico, os horários e as rotinas

(Post & Hohmann, 2011). Em anexo (cf. Anexo D), pode ser consultada a planta da sala

de creche, bem como a Tabela 2 com as diferentes áreas e intencionalidades de cada

uma delas.

Regendo-se pelos princípios do modelo pedagógico Movimento da Escola

Moderna (MEM), que podem ser consultados na Tabela 1 em anexo (cf. Anexo C),

tanto a organização do ambiente educativo como a rotina implementada seguiam os

pressupostos do modelo em contexto de JI. De acordo com Niza (2013, p. 150), “o

sistema desenvolve-se a partir de um conjunto de seis áreas básicas de atividades,

distribuídas à volta da sala, […] e de uma área central polivalente para trabalho

coletivo”, assim, a planta da sala apresenta as diferentes áreas e a Tabela 3 as

intencionalidades pedagógicas de cada uma delas. Esta informação pode ser consultada

em anexo (cf. Anexo E).

Implementando os princípios do modelo HighScope, a educadora de creche

planeou uma rotina que fosse ao encontro dos interesses das crianças, respondendo às

necessidades da faixa etária. Assim, de acordo com Evans e Ilfield (1982, citado em

Post & Hohmann, 2011, p. 193), “uma rotina é mais do que saber a hora a que o bebé

come, dorme, . . . as experiências do dia-a-dia das crianças são as matérias-primas do

seu crescimento”. A planificação da rotina em creche pode ser consultada na Tabela 4

em anexo (cf. Anexo F), bem como as suas intenções e o seu papel para cada momento .

Em JI, de acordo com o modelo referido, podem distinguir-se “duas etapas de

configuração distinta” (Niza, 2013, p. 153); a manhã destina-se essencialmente a

atividades desenvolvidas pelas crianças nas diferentes áreas de trabalho, enquanto a

parte da tarde “reveste a forma de sessões plenárias de informação e de atividade

cultural, dinamizadas por convidados, pelos alunos ou pelos educadores” (Niza, 2013,

p. 153). A rotina diária da sala pode ser consultada na Tabela 5 em anexo, bem como as

intenções de cada momento da mesma (cf. Anexo G).

1.3. Equipa Educativa

Tendo em conta que “o trabalho em equipa é um processo interactivo”

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(Hohmann & Weikart, 2003, p. 130), a comunicação e a partilha são fundamentais nas

relações estabelecidas entre os adultos da sala. O trabalho desenvolvido em equipa é

também “um processo de aprendizagem pela acção que implica um clima de apoio e

respeito mútuos” (Hohmann & Weikart, 2003, p. 130). Partilhar observações e opiniões,

bem como estratégias de intervenção num clima de apoio e entreajuda, com base no

respeito e na confiança, beneficia todos os membros da equipa, tendo esta sido uma das

intenções inerentes à minha prática.

A equipa educativa da sala de creche e da de JI são compostas por uma

educadora de infância e por uma auxiliar de ação educativa (AAE).

Em ambas as situações trata-se do primeiro ano em que se encontram a trabalhar

em equipa em contexto de sala, contudo, através de observações feitas ao longo da PPS

e mesmo em conversas informais com as profissionais de educação, o respeito, a

cooperação e partilha são os princípios que regem as suas relações. Todas as

profissionais tinham como principais preocupações o desenvolvimento e bem-estar das

crianças, assegurando que a sua prática proporcionava às mesmas verdadeiras situações

de desenvolvimento e aprendizagem. O trabalho em equipa permite que “os elementos

[da mesma debatam] o currículo e os assuntos [do seu trabalho, apreciando] o processo

permanente de gerar novas ideias e estratégias” (Hohmann & Weikart, 2003, p. 132).

Neste sentido, os elementos de cada equipa apresentavam estratégias semelhantes no

que diz respeito à sua relação com as crianças, sendo notória a preocupação em

transmitir ao grupo que a gestão do mesmo era partilhada e não hierarquizada.

Em contexto de JI fazem também parte da equipa duas educadoras de

intervenção precoce (IP) que podem optar por participar nas atividades em sala ou por

uma sessão mais individual com as crianças em questão de acordo com as suas

necessidades.

Tendo em conta as características acima apresentadas, a minha ação tentou ir

sempre ao encontro do trabalho que já era realizado, moldando a minha prática também

às especificidades das equipas e suas necessidades.

1.4. Famílias das crianças

Sendo as famílias o primeiro agente socializador com quem as crianças

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contactam, conhecê-las e contactar com elas é essencial quer em creche, quer em JI. De

acordo com Ferreira (2004, p. 65) “entender ambas as instituições, como dois espaços

sociais constitutivos da estruturação da sua vida quotidiana, mesmo que possam divergir

nos seus propósitos, estratégias e estilos educativos” é essencial uma vez que é

necessário ter em conta a experiência e conhecimentos que a criança tem antes de entrar

na sala de atividades, criando uma complementaridade entre família-instituição e não

uma dissonância e choque de contextos.

No que diz respeito às nacionalidades das famílias, em contexto de creche a

totalidade era de origem portuguesa. Em contexto de JI, metade das famílias tinha

origem em diferentes países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e

conviviam diariamente com diferentes dialetos africanos que, por vezes, dificultavam a

comunicação da equipa, quer com as famílias, quer com as crianças.

Os agregados familiares do grupo de creche eram 14 e as idades dos pais

encontravam-se entre os 25 e 50 anos e a grande maioria possuía habilitações

académicas ao nível do ensino superior. De acordo com o plano curricular da sala (PCS)

B1, a grande maioria dos pais encontrava-se empregada, até à data (janeiro de 2014)

No caso do grupo de famílias de JI, estas eram compostas por 21 agregados

familiares em que as idades dos pais se encontravam na faixa etária dos 20-40 anos. Ao

nível das habilitações académicas a maioria dos pais terminou o terceiro ciclo do ensino

básico e oito, o ensino secundário. De acordo com o plano pedagógico da sala, na sua

maioria eram famílias com muitas dificuldades económicas, encontrando-se um grande

número de progenitores desempregados.

A participação das famílias em ambos os contextos (creche e JI) é importante

“na medida em que favorece trocas de saber e que promove espaços de relação entre os

pais [que] pode contribuir para estimular entre eles o próprio desenvolvimento”

(Cascais, 1998, p. 68). Em contexto de creche, à porta da sala de atividades era colocado

um mapa de inscrições para os pais participarem/dinamizarem atividades. No caso do JI,

de acordo com o modelo curricular instituído, uma das tardes da semana (quarta-feira)

era dedicada às famílias. Deste modo, estas eram livres de se inscreverem para

dinamizar uma tarde com as crianças. Contudo, foi possível observar que a participação

das famílias era ainda muito reduzida. Este fator contribuiu para que a minha prática

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tenha sido pouco desenvolvida no que diz respeito à relação estabelecida com as

famílias.

1.5. Grupo de crianças

A presente caracterização dos grupos de crianças foi realizada de acordo com os

documentos estruturantes de ambas as instituições e através de conversas informais com

as equipas educativas de cada sala. Sendo que só é possível proporcionar atividades

interessantes, estimulantes e envolventes para as crianças através de “observações

cuidadosas, conhecimento e uso imaginativo de diferentes recursos” (Portugal, 2010, p.

50), a observação foi o método principal de recolha de informação, tendo sido as notas

de campo essenciais na caracterização das crianças com quem estagiei.

O grupo de creche era constituído por catorze crianças, seis meninas e oito

meninos com idades compreendidas entre os 12 e 19 meses, até à data (janeiro de 2014).

Dez destas crianças transitaram da sala do berçário para a sala de creche, sendo apenas

quatro as que ingressaram pela primeira vez na instituição.

Era um grupo bastante autónomo, quer em relação a brincadeiras quer em

relação às interações, com os pares e adultos ou com objetos.

De acordo com Feldman, Papalia, e Olds (2007, p. 228) “as primeiras frases

curtas, denominadas de discurso telegráfico […] surgem entre os 18 e os 24 meses”

logo, esta faixa etária requer uma estimulação ao nível da linguagem oral, indo ao

encontro dos interesses das crianças e ampliando-os.

“Aproximadamente ao ano de idade, quando as questões principais da sua

agenda desenvolvimental são aprender a andar e manipular objectos, os bebés prestam

mais atenção a brinquedos e menos a outras pessoas” (Feldman et al., 2007, p. 266)

verificando-se uma grande preferência pela brincadeira individual com recurso a

brinquedos. Neste sentido, a partilha de brinquedos era fonte de muitas discórdias e

conflitos1.

1“O V trás um livro para a sala e anda com ele, não o largando. Passado algum tempo, larga o

livro. A T vê o livro e folheia-o. O V repara e exclama que o livro é dele. A auxiliar diz-lhe que

a T está só a ver e que, se ele trouxe o livro para a sala, tinha que o emprestar aos colegas. O V

começa a chorar, protestando.” (Nota de campo, 07/01/2014)

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“O envolvimento numa experiência sensório-motora abrangente . . . permite que

a criança muito pequena experimente a representação de muitas formas – imitando as

acções dos outros . . . e começando a utilizar acções e materiais para mostrar ou

representar algo que sabe sobre o mundo” (Post & Hohmann, 2011, p. 42), neste

sentido, as crianças já eram capazes de iniciar o jogo simbólico autonomamente sendo a

ação mais recorrente o falar ao telefona na área da casa.

“Na casa está o E, sozinho. Quase escondido encontra-se a falar ao

telefone, verbalizando alguns sons.” (Nota de campo, 08/01/2014)

Tal como já foi referido, a “afirmação da autonomia . . . [estava] bastante

vincada e uma das suas manifestações é dizer “não” a quase tudo” (Brazelton &

Greenspan, 2000, p. 240) contribuindo este fator, mais uma vez, para acentuar a

dificuldade que as crianças apresentavam em brincar em grupo.

“O A parece estar zangado. Passa por mim e não me diz nada. Chego-

me junto dele, digo-lhe bom dia mas ele depressa recusa a minha

saudação verbalizando “Não” e dirige-se para outro canto da sala.”

(Nota de campo, 13/01/2014)

O grupo em contexto de JI era constituído por 21 crianças com idades

compreendidas entre os 36 meses e os cinco anos de idade, existindo 12 meninos e nove

meninas. Todas as crianças eram de naturalidade portuguesa. A língua materna das

crianças era o português, contudo, no seu seio familiar conviviam com alguns dialetos

africanos. Era um grupo que necessitava de ser estimulado ao nível da linguagem oral,

sendo que algumas crianças apresentavam grandes dificuldades de articulação.

Relativamente ao percurso institucional das crianças, nove delas já frequentavam

a sala com outra educadora da instituição, três frequentavam uma sala de creche, quatro

vieram da creche familiar e apenas três entraram pela primeira vez para a escola.

No grupo havia duas crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) e

que usufruíam do apoio de duas educadoras de IP. Uma das crianças apresentava uma

perturbação do espectro do autismo e a outra estava sinalizada como sendo uma criança

de risco biológico e ambiental que apresentava um atraso ao nível do desenvolvimento

da linguagem e perca de audição. Apesar das sessões individualizadas com as

educadoras de IP que, na sua maioria ocorriam na sala de atividades, estas crianças

acompanhavam a rotina da sala sem grandes dificuldades, sendo incluídas no grupo e

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beneficiando “das oportunidades educativas que são proporcionadas a todos” (ME,

1997, p. 19). O mesmo se observava nas suas relações, quer com os pares, quer com os

adultos.

Tratando-se de um grupo heterogéneo em termos de idades, uma das vantagens é

o facto de as crianças mais velhas ajudarem as mais novas, assegurando “a

heterogeneidade geracional . . . que melhor garanta o respeito pelas diferenças

individuais no exercício da interajuda e colaboração formativas” (Niza, 2013, p. 149)

estabelecendo uma relação de simbiose. Enquanto por vezes era com relutância que as

crianças mais velhas aceitavam as mais novas nas suas brincadeiras, outras vezes era

possível assistir a verdadeiros momentos de cooperação.

“A D3 (cinco anos) encontrava-se sentada entre os outros dois amigos

(três e quatro anos), tentando ajudar os dois, explicando-lhes e

mostrando-lhes o que era suposto fazer, quer fosse um puzzle, quer fosse

a coloração de um desenho.” (Excerto da reflexão diária, 21/02/2014).

Ainda no que diz respeito à relação entre pares, foi observado que, durante

conflitos interpessoais, as crianças, muitas das vezes, recorriam à agressão. Muitas

vezes, com o intuito de atingir um objetivo, relacionada com a posse de um objeto, uma

vez que “entre os 2 anos e meio e os 5 anos, as crianças lutam frequentemente por causa

dos brinquedos e do controlo do espaço” (Feldman et al., 2007, p. 376).

“O D1 e o T4 estão a brincar com um carrinho. Pouco tempo depois, o

T4 vem ter comigo a chorar. Pergunto-lhe o que aconteceu ao que me

responde: “O D1 bateu-me!”. Abordo o D1 e pergunto-lhe o que se

passou. Diz-me que queria brincar com o carrinho. Pergunto-lhe então

porque é que bateu ao T4, ao que o D1 responde: “Porque ela não me

deixava brincar com o carro!”” (Nota de campo, 18/03/2014).

Tal como acontecia com o grupo de creche, também o de JI era bastante

autónomo, não apresentando dificuldades em acompanhar a rotina diária.

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Capítulo II: Intenções para a ação

Neste segundo capítulo do relatório, é apresentada uma análise reflexiva da

intervenção em ambos os contextos (creche e JI) sendo, em primeiro lugar, apresentadas

e fundamentadas as intenções para a ação, decorrentes da caracterização presente no

capítulo I.

Decorrente dos dados recolhidos apresentados anteriormente na caracterização

dos contextos, foram definidas as intenções para a prática tendo por base não só um

referencial teórico, mas também a minha experiência em contextos educativos.

Independentemente dos contextos, dos grupos e equipas, acredito que qualquer

educador de infância deverá partir do princípio que “nas diversas dimensões

profissionais em que está implicado, são sempre a qualidade do atendimento e o bem da

criança que norteiam a sua conduta” (Rosa, 2011, p. 24), nunca esquecendo a

importância de um comportamento ético e centrado no bem-estar da criança e daqueles

que a rodeiam.

As intenções apresentadas decorrem também da minha visão sobre o que é a

“criança” e como ela aprende e se desenvolve, existindo algumas intenções globais que

regem a minha prática no geral e não só num determinado contexto. Contudo, cada

grupo de crianças tem as suas especificidades e necessidades individuais. Assim, para

além das intenções gerais apresentadas, as intenções específicas para cada grupo

decorrem diretamente da caracterização feita dos mesmo, bem como das informações

recolhidas quer durante as semanas de observação, quer ao longo da PPS. Isto porque,

ao longo dos estágios pedagógicos fui realizando algumas alterações à minha ação,

tentando reger-me pelas necessidades das crianças, indo ao encontro dos seus interesses.

Neste sentido, uma das grandes intenções da minha prática, em ambos os contextos, foi

conhecer não só os contextos mas, acima de tudo, as crianças. Ir ao encontro das

necessidades de cada criança e do grupo foi um dos princípios orientadores que regeu a

minha prática quer em creche, quer em JI.

Dando seguimento ao trabalho desenvolvido pelas equipas educativas, a

promoção de aprendizagens significativas e diversificadas esteve sempre na base do

planeamento das atividades desenvolvidas com as crianças. De acordo com Hohmann e

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Weikart (2003, p. 27), “os adultos são apoiantes do desenvolvimento e, como tal, o seu

objectivo principal é o de encorajar a aprendizagem activa por parte das crianças. Os

adultos . . . dão às crianças o poder de terem controlo sobre a sua própria

aprendizagem.” Assim, outra das minhas intenções foi a promoção de oportunidades de

verdadeira exploração e descoberta por parte das crianças. Porém, sei que, ao longo da

PPS, nem sempre as atividades propostas foram fonte de exploração e descoberta.

Contudo, denoto uma evolução na qualidade e diversidade das atividades

desenvolvidas. Por vezes, era possível ver o descontentamento das crianças para com a

tarefa, o que me fazia refletir sobre se o que eu estaria a fazer seria realmente

significativo para o grupo e para cada criança. Aquando da recolha de informação para

um projeto, ocorreu a seguinte situação, tema de reflexão do dia:

“Depois de alguns minutos a recolher informação dos livros, as crianças

começaram a dispersar, a focar a sua atenção num ambiente em redor

em vez de na reunião do projeto” (Excerto da reflexão diária,

12/03/2014).

Tal como é apresentado na caracterização dos grupos, ambos demostravam um

elevado grau de autonomia relativamente à rotina, pelo contrário, no que diz respeito ao

serem capazes de resolver problemas sozinhos, os grupos ainda apresentavam algumas

dificuldades a este nível. Recorrendo às palavras de Hohmann e Weikart, “oferecer

soluções eficientes vindas do adulto poderá poupar tempo, mas [privará] as crianças de

oportunidades de aprendizagem importantes” que contribuirão para a sua formação

pessoal e social, “bem como da satisfação que advém de desenvolverem e

concretizarem as suas próprias soluções” (2003, p. 583). Sendo assim, uma das minhas

intenções foi dar continuidade à promoção da autonomia, contribuindo para o

desenvolvimento pessoal e social das crianças.

Quer em creche, quer em JI, a construção de relações com base no afeto e no

carinho foi sempre uma preocupação. Em qualquer contexto, as crianças “para

aprenderem e crescerem . . . precisam de um ambiente emocionalmente rico” (Post &

Hohmann, 2011, p. 31), só assim é alcançada uma relação de confiança que permite que

as crianças não tenham medo de arriscar, explorar, conhecer, sabendo que, por perto,

estará sempre um adulto que apoia os seus passos.

Encontrando-me a trabalhar com grupos de crianças é essencial que uma das

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minhas intenções recaia sobre a promoção do respeito pelo outro, das suas

características e individualidades. É necessário transmitir a ideia de que todos somos

diferentes e que a diferença não é razão para a crítica e desrespeito. Decorrente desta

intenção apresenta-se uma outra, incentivar o diálogo entre as crianças contribuindo

para a resolução de conflitos. Esta intenção decorre das observações feitas em ambos os

contextos e do elevado número de conflitos despoletados entre crianças. A resolução de

conflitos é essencial para a formação da criança desde a 1ª infância uma vez que

“quando praticam a resolução dos conflitos desde idades precoces, pela altura em que

atingem a idade adulta têm muitas das competências interpessoais de que necessitam, o

hábito de as pôr em prática, e a necessária confiança em si para os resolver, confiança

essa ganha através de muitos anos de experiência e apoio” (Hohmann & Weikart, 2003,

p. 89).

Ainda referente aos conflitos e à sua resolução, e no âmbito da problemática

deste relatório, procurei observar os comportamentos das crianças durante e após

conflitos interpessoais, bem como as suas estratégias de resolução dos mesmos. No que

diz respeito ao meu papel durante a gestão de conflitos entre crianças, assumindo um

papel de mediador. Procurei promover o diálogo, apresentando-lhes possíveis

estratégias de resolução, incentivando a autonomia no que refere à decisão final sobre a

estratégia escolhida pelas crianças para resolverem o conflito.

Se por um lado existem intenções transversais, outras intenções encontram-se

especificamente definidas para os diferentes contextos e, consequentemente grupos e,

“configuram necessidades e prioridades diferentes na abordagem dos conteúdos, na

organização de experiências de aprendizagem e na gestão dos espaços e dos recursos”

(Leite, 2005, p. 12).

De acordo com Coelho (2009, p. 2) “um aspecto central do processo de

intencionalização educativa em creche refere-se ao modo como as educadoras

estabelecem a ligação entre cuidados e educação”, sendo que em creche, os cuidados

também podem ter um teor educacional se tiverem, por base, objetivos específicos.

Deste modo, as minhas intenções em contexto de creche centraram-se muito nos

momentos da rotina e no valor que estes podem ter quando vistos como fonte de

aprendizagens significativas. Ainda recorrendo às palavras de Coelho (2009, p. 3) “as

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educadoras assumem o cuidar da criança como uma tarefa que lhes diz respeito, como

profissionais, essencialmente para ser uma ocasião para estimular a criança”.

Tendo sido esta a minha primeira experiência em contexto de creche, a definição

das intenções para a ação foram surgindo à medida que ia aprendendo. Tendo em conta

a caracterização do grupo, optei por ter sempre uma história de forma a introduzir uma

atividade, fazendo sempre uma ponte entre o conteúdo da história e a atividade

realizada. Além disso, por ser um grupo tão interessado em história e em livros, uma

das minhas intenções foi a promoção do gosto, não só pela leitura, mas também dos

livros e do respeito pelos mesmos.

De acordo com as orientações curriculares para a educação pré-escolar (OCEPE)

“a educação pré-escolar deverá familiarizar a criança com um contexto culturalmente

rico e estimulante que desperte a curiosidade e o desejo de aprender” (ME, 1997, p. 93)

tornando a criança o verdadeiro ator da construção do seu conhecimento. Permitir que

as crianças se questionem e tenham vontade em procurar respostas e soluções para as

suas curiosidades decorre da minha visão sobre o que o JI deve proporcionar. O papel

do educador deve ser o de promotor de situações desencadeadoras que permitam às

crianças questionarem-se sobre o quê, o porquê e o como, não fornecendo respostas

diretas às crianças, mas ajudando-as na pesquisa e na construção das suas conclusões.

Ainda recorrendo às OCEPE, “é o conjunto das experiências com sentido e

ligação entre si que dá a coerência e consistência ao desenrolar do processo educativo.

A intencionalidade do educador é o suporte desse proceso” (ME, 1997, p. 93), a

necessidade de refletir sobre a ação contribui para que seja possível não só perceber as

conquistas mas, acima de tudo, as fragilidades da ação do educador. Assim, o

planeamento deve decorrer da reflexão da ação, das necessidades do grupo, existindo

uma adaptação da prática ao longo do precurso de aprendizagem das crianças.

Sendo a motivação um dos conceitos chave para o trabalho com crianças, tentei

sempre promover atividades que não só despertassem a atenção do grupo, mas também

os motivasse a saber e procurar mais. Para além de esta ter sido uma intenção inerente a

todas as atividades apresentadas, durante o trabalho de projeto desenvolvido com o

grupo de JI, a necessidade de planear atividades que fossem interessantes e

significativas ao mesmo tempo que fossem ao encontro dos interesses das crianças, foi

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recorrente. No que diz respeito ao trabalho de projeto, para além da intenção já

mencionada, procurei que a questão problema partisse das crianças, bem como o

desenrolar do projeto e as questões que as crianças queriam ver respondidas. Assim,

tentei assumir um papel de apoiante e medidador de decisões, acompanhando as

crianças ao longo do projeto, contruindo-o com elas. Ao longo do projeto, penso que

tenha sido possível assistir a uma crescente cooperação entre crianças, bem como a um

crescente interesse por parte daquelas que não integravam o grupo de trabalho inicial.

Ainda decorrente da caracterização do grupo, e referente à dificuldade em

relação à integração das crianças mais pequenas nas brincadeiras das crianças mais

velhas, bem como à dificuldade sentida por algumas crianças em trabalhar em grupo,

procurei fomentar a inserção da criança em grupos de trabalho, desenvolvendo a

comunicação e o espirito de partilha entre os elementos do grupo.

Em ambos os contextos, no que diz respeito às intenções para com as famílias o

grande objetivo foi dar continuidade ao que já era desenvolvido pelas educadoras

cooperantes, fomentando um ambiente propicio à sua participação e envolvimento, bem

como à troca de saberes, ideiais e informações. Contudo, o contacto com as familias

revelou-se uma das dificuldades sentidas ao longo da PPS, em ambos os contextos.

Reconhcendo que devria ter sido mais ativa em relação ao envolvimento das familias

nas salas das atividades, também senti que as próprias familias (maioria) não estava

disposta a contribuir para este objetivo.

Nos momentos em que foi possível uma relação mais direta com as familias, o

respeito esteve sempre na base das interações, trocando conhecimento e saberes,

aprendendo com as familias, permitindo a partilha de histórias, costumes e tradições.

Relativamente ao trabalho realizado com os grupos, os produtos finais eram

sempre expostos nos corredores e/ou salas de atividades, incentivando as familias a

pararem e olharem para os trabalhos da suas crianças. Destes momentos, por vezes

surgiam conversas informais que cotribuiam para fomentar as relações estabelecidas

com as diferentes familias.

No que concerne as equipas educativas, a principal intenção teve por base dar

continuidade ao trabalho já realizado, integrando-me nas equipas, conhecendo-as e

permitindo que me conhcessem a mim, com o objetivo de criar um ambiente de partilha

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e cooperação, de confiança e respeito mútuos. Por ser uma pessoa timida, considero

que, à partida, não fui capaz de estar à vontade para comunicar com as equipas,

deixando as dúvidas e inseguranças regerem o meu comportamento. À medida que fui

ganhando confiança, o diálogo entre as equipas tornou-se mais fácil e recorrente,

permitindo criar um ambiente de partilha e trabalho em equipa.

Intencionado ter a semana planeada à partida, discutindo e partilhando ideias

com as equipas, procurei conferenciar com as educadoras o plano geral da semana,

mesmo que algumas atividades sofresssem alterações de um dia para o outro. Desta

forma, nenhuma atividade foi realizada sem o conhecimento das educadoras.

Manter um esepirito de equipa e de constante aprendizagem é essencial, na

medida em que os conselhos, críticas construtivas e esclarecimentos de dúvidas, quer

por parte das educadoras, quer das AAE, foram fundamentais para a minha formação

como futura profissional, permtindo-me também adaptar a minha prática e fazer

altrações sempre que necessário.

De acordo com Rensis Likert (1967, p. 57 citado em Hohmann e Weikart 2003,

p. 132) “as competências importantes não estão contidas num indivíduo particular, mas

são facilmente partilhadas e melhoradas num contexto cooperante”, tronando o trabalho

em equipa fonte de significativas aprendizagens para os adultos. Assim, outra intenção

para com as equipas educativas prende-se com a necessidade de trocar informações e

ideias sobre os processos e resultados das crianças, quer em atividades propostas, quer

em momentos autónomos. As discussões resultantes destes momentos contribuem para

aprendizagens coletivas, fundamentais para a formação contínua de um educador. Mais

uma vez, apesar de apresentar esta intenção à partida, só com o tempo fui capaz de ir

tomando a iniciativa de conferenciar com as educadoras sobre as crianças, seus

comportamento e desenvolvimento.

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Capítulo III: Identificação e aprofundamento da problemática

De acordo com a caracterização dos contextos e com as intencionalidades

definidas para a prática, considerei significativo refletir melhor sobre como as crianças

entre os 12 meses e os cinco anos de idade se comportam perante situações de conflitos

interpessoais, bem como o papel do educador na gestão dos mesmos. Indo ao encontro

das características dos grupos e refletindo sobre a frequência da ocorrência de situações

de conflito bem como a relevância que apresentam tanto na caracterização como nas

intencionalidades para com os grupos, considerei fazer desta a minha problemática.

Neste sentido, procurei observar como é que as crianças se comportam durante e

após a ocorrência de conflitos, bem como as suas motivações e as estratégias de

resolução dos mesmos. Indo ao encontro das dificuldades sentidas no que diz respeito à

gestão de conflitos entre crianças, revelou ser significativo para o aprofundamento desta

problemática, o papel do educador durante e após a resolução de conflitos. A

dificuldade sentida em lidar com situações de conflito entre crianças foi recorrente ao

longo da PPS, tornando-se o estudo desta problemática significativo para a evolução da

minha ação perante a gestão de conflitos interpessoais.

Recorrendo ao modelo curricular instituído em contexto de JI, pensei que seria

importante relacionar os instrumentos de pilotagem, nomeadamente o diário da sala,

com o papel do educador na gestão de conflitos entre as crianças.

3.1. Referencial metodológico e ético

Para o possível aprofundamento da problemática, foi necessário recolher um

conjunto de informações e dados que permitissem dar corpo à mesma. Sendo “que a

metodologia ajuda a entender, não o produto da investigação . . . , mas o processo . . . e

é o caminho do pensamento e da prática exercida” (Rodrigues, 2003, p. 68), de seguida

são apresentados as técnicas utilizadas durante o desenvolvimento da problemática.

De acordo com Bogdan e Bilken (1994, p. 89) “o estudo de caso consiste na

observação detalhada de um contexto” em que o investigador percorre um caminho

desde a recolha de dados e aprofundamento de determinado tópico até ao tratamento e

análise dos mesmos. Após a definição da problemática, durante a PPS foram recolhidos

os dados necessários à análise das questões decorrentes da mesma.

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Tendo em conta as técnicas de recolha de informação e o seu caracter qualitativo,

a metodologia utilizada vai ao encontro da investigação qualitativa. Esta “é descritiva.

Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números. Os

resultados escritos da investigação contêm citações feitas com base nos dados para

ilustrar e substanciar a apresentação” (Bogdan & Bilken, 1994, p. 48). No que diz

respeito à investigação qualitativa, a estratégia de recolha de informação mais

representativa é a observação participante uma vez que “o investigador introduz-se no

mundo das pessoas que pretende estudar, tenta conhecê-las, dar-se a conhecer e ganhar

a sua confiança, elaborando um registo escrito e sistemático de tudo a quilo que ouve o

observa”, sendo que “os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que

significa ricos em pormenores descritivos” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 16).

Uma vez que este relatório e a problemática em si dizem respeito a ambos os

contextos (creche e JI) onde, diariamente, convivi e interagi com crianças e equipas

educativas, planeando, executando e avaliando atividades e comportamentos, quer em

grupo, quer em individual, a observação esteve sempre presente no meu dia-a-dia. De

acordo com Carmo e Ferreira (1998) esta técnica (observação) consiste em “selecionar

informação pertinente, através dos órgãos sensoriais e com recurso à teoria e

metodologia científica, a fim de poder descrever, interpretar e agir sobre a realidade em

questão” (p. 97).

Estar integrada nos contextos e poder retirar de situações informais (conversas e

brincadeiras) informações essenciais para este relatório. Através da observação

participante foi-me possível “recolher informações ricas e pormenorizadas, baseadas na

observação de contextos naturais”, observando não só as relações individuais, mas

também o “processo complexo que representa o contexto social em que vivem os

membros de uma sociedade” (Rodrigues, 2003, p. 74). Estas observações eram

compiladas e armazenadas nos portefólios, quer de creche, quer de JI, em formato de

reflexões diárias ou semanais ou ainda sob o formato de notas de campo. Para além da

informação recolhida e armazenada nos portfólios construídos em ambos os contextos,

foi também necessário recorrer a um referencial teórico com o intuito de corroborar a

informação recolhida ao longo do tempo através da observação.

A análise de artigos e livros permitiu-me “selecionar, tratar e interpretar

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informação bruta . . . com vista a dela extrair algum sentido” (Carmo e Ferreira, 1998, p.

59). Porém, antes de realizar esta análise, foi necessário selecionar os documentos de

acordo com, essencialmente, dois critérios: encontrarem-se diretamente relacionados

com a gestão de conflitos, quer em creche, quer em JI, focando as suas origens e

motivos, bem como qual o papel tanto das crianças como do educador durante a após

situações de conflito; e serem documentos relativamente recentes. O primeiro critério

mencionado relaciona-se diretamente com a problemática em estudo, tendo sido

selecionados livros e artigos que fossem ao encontro das informações recolhidas durante

os estágios profissionais, através da observação e de conversas informais com as

equipas educativas. Alguns artigos selecionados como referencial teórico são

específicos de uma das respostas sociais, quer de creche, quer de JI, enquanto outros

textos e livros compreendem uma faixa etária mais alargada, desde a primeira infância

até à adolescência. Porém, foram apenas selecionados os excertos que dizem respeito à

faixa etária compreendida entre a primeira infância e a idade pré-escolar. Relativamente

à data dos documentos, esta seleção prende-se com o facto de procurar informação atual

que vá ao encontro dos contextos vivenciados e com a realidade em que nos

encontramos.

No que diz respeito a técnicas mais específicas, relacionadas com a intervenção

nos contextos vivenciados, apesar de durante o estágio em creche ter decidido o tema da

problemática deste relatório, nada foi realizado no sentido da gestão de conflitos com o

grupo. Pelo menos, não diretamente. Contudo, ao mesmo tempo que fui observando e

aprendendo a lidar com certas situações, fui capaz de estar mais atenta aos

comportamentos das crianças e tentar geri-los da melhor forma possível. Em contexto

de JI foi feita uma tentativa à implementação da técnica da fotopalavra, que consiste em

dar voz às crianças acerca da sua opinião sobre uma dada imagem. Porém, depois de

realizar a atividade não senti que fosse determinante para a problemática em questão,

acabando por cair no esquecimento.

Após a recolha e tratamento dos dados recolhidos ao longo da PPS foi realizada

a sua análise que consiste no “processo de busca e organização de transcrições de . . .

notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objectivo de

aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhes permitir

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apresentar aos outros aquilo que encontrou.” (Bogdan & Bilken, 1994, p. 205).

Em suma, para o aprofundamento da minha problemática foi realizada uma

triangulação metodológica, recorrendo a diferentes métodos de recolha de informação

todos eles de caracter qualitativo. Grande parte da informação utilizada na próxima

secção deste relatório provém das reflexões e notas de campo presentes nos portefólios

de ambos os contextos. Através da observação direta e da reflexão sobre certos

momentos e situações, fui capaz de evoluir e de adaptar a minha prática a situações do

dia-a-dia que, naturalmente eram marcadas por uma certa quantidade de conflitos entre

pares. Assim, considero ambos os portefólios uma preciosa fonte de informação e

documentação, não só do percurso das crianças durante a minha presença, mas também

da minha evolução como futura educadora.

No que diz respeito ao roteiro ético que esteve na base de toda a minha prática e

à elaboração do presente relatório e, indo ao encontro das palavras de Vasconcelos

(2004 citado em Duarte 2008, p. 5) em que “a profissão de educador se desenvolver

num espaço privilegiado de relações humanas direccionada para um público-alvo

caracterizado por faixas etárias baixas, cuja vulnerabilidade exige dos profissionais,

maior grau de responsabilização e de respeito pela autonomia e individualidade [das

crianças] ”, é necessário ter presente algumas questões éticas.

De forma a salvaguardar e identidade e individualidade das crianças, todas elas são

identificadas pelas inicias do primeiro nome. No caso de creche encontram-se identificadas

pela inicial do primeiro nome e do apelido; no caso de JI pela inicial do primeiro nome e

por um algarismo quando acontece existir crianças com iniciais iguais. Relativamente às

fotografias tiradas durante o estágio, em contexto de creche não foram tiradas fotografias às

crianças, somente aos espaços, tiradas com autorização da educadora cooperante; em

contexto de JI foi elaborada uma autorização a que os pais tiveram acesso, tomando

conhecimento e dando permissão para fotografar os seus filhos. Em todas as fotografias

presentes nos portefólios ou em qualquer outro documento por mim realizado, as caras das

crianças encontram-se desfocadas com o intuito de manter o seu anonimato. Tantos os

nomes das equipas educativas e das instituições onde foi realizada a PPS, tanto em creche

como em JI também não são revelados, evitando, deste modo, possível identificação.

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3.2. O papel das crianças e do educador na gestão dos conflitos interpessoais –

definição da problemática

Evocando a Lei nº5/97, de 10 de fevereiro, “a educação pré-escolar é a primeira

etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida” e, como tal, tanto a

creche como o JI devem assegurar o completo desenvolvimento das crianças que

servem, funcionando como prolongamento dos contextos onde estão inseridas. Assim, a

“creche e a pré-escola têm como objeto as relações educativas travadas num espaço de

convívio coletivo que tem como sujeito a criança dos 0 a 6 anos de idade” (Rocha, 2001,

p. 31).

De acordo com Delors (1999) a educação deve ter em conta quatro pilares

essenciais na construção do conhecimento de cada individuo. Tal como enuncia o autor,

os quatro pilares merecem a mesma atenção “a fim de que a educação apareça como

uma experiência global a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo e

prático, para o individuo enquanto pessoa e membro da sociedade” (p. 78).

O primeiro pilar, que se intitula de aprender a conhecer, relaciona-se com a

necessidade do ser humano adquirir os “instrumentos de compreensão” que lhe

permitem conhecer o mundo à sua volta; aprender a fazer diz respeito à necessidade de

adquirir competências que permitam ao ser humano trabalhar em equipa, em diferentes

situações e contextos; o terceiro pilar diz respeito a aprender a viver com os outros uma

vez que o ser humano encontra-se integrado numa sociedade e, conviver com os outros

torna-se uma necessidade primordial; o último pilar, aprender a ser engloba os três

pilares precedentes na medida em que “a educação deve contribuir para o

desenvolvimento total da pessoa” (Delors, 1999, p. 85), construindo o sentido de

autonomia e reflexão sobre si, responsabilidade e iniciativa.

A necessidade de mencionar os quatro pilares da educação relaciona-se

especificamente com a natureza do terceiro pilar e da importância que este acarreta na

problemática desenvolvida neste relatório. Voltando a focar a atenção neste terceiro

pilar apresentado por Delors (1999), “desenvolver [uma] atitude de empatia, na escola, é

muito útil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida” (p. 84),

encontrando-se este atitude relacionada com a capacidade do ser humano em colocar-se

no lugar dos outros, compreendendo, deste modo, as suas reações.

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Desde o nascimento que as crianças são seres sociais e, como tal, as relações

estabelecidas entre os pares e os adultos que as rodeiam são considerados um

importante contexto de aprendizagem (Shin, 2012). Neste sentido, logo durante a PPS

em creche a vontade de explorar uma problemática relacionada com as relações entre

pares foi notória. A crescente necessidade de refletir sobre situações de conflitos

interpessoais, levou-me a escolher o tema que se encontra subjacente à problemática

que dá título a este relatório. Contudo, a relação entre pares, mais propriamente os

conflitos interpessoais, não são somente o que é apresentado neste capítulo. Ao longo

do tempo senti necessidade de alterar o meu comportamento perante situações de

conflito entre as crianças. Nesta secção serão apresentadas as dificuldades por mim

sentidas ao gerir algumas situações que tiveram lugar ao longo da PPS. Daí, que o título

da problemática final reporte não somente ao papel das crianças na gestão de conflitos

interpessoais, mas também ao papel do educador, neste caso, apresentado uma visão do

que foi a minha prática em ambos os contextos educativos.

Ao longo desta secção do relatório será apresentada uma visão teórico-prática da

problemática em questão. As situações por mim vivenciadas serão apresentadas tendo

por base um referencial teórico que permitiu o aprofundamento de algumas questões

relacionadas com o tema e que permitiram uma reflexão mais detalhada sobre a

problemática. Assim, a secção seguinte encontra-se organizada em duas partes:

3.2.1. Das relações entre pares aos conflitos interpessoais

3.2.2. O papel do educador na gestão de conflitos interpessoais

3.2.1. Das relações entre pares aos conflitos interpessoais

Hoje em dia, poucas são as situações, tarefas ou profissões que não envolvam

relações interpessoais. Diariamente, encontramo-nos em contacto com outros nas mais

variadas situações do quotidiano. Assim, as relações estabelecidas com os outros são

essenciais à nossa vida, enquanto seres humanos e como membros de uma sociedade.

É de referir que, desde que nasce, o bebé encontra-se em contacto com diferentes

sujeitos, estabelecendo relações essenciais à sua sobrevivência uma vez que “as relações

interpessoais [são] a mais importante fonte de gratificação, companheirismo e prazer

para a maioria das pessoas de todas as idades, [e] a incapacidade para iniciar e manter

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relações é a causa de angústia e solidão mesmo na infância” (Ladd, 1990, citado por

Katz & McClellan, 2003, p. 12). É através da experiência e do vivenciar situações

sociais que a criança vai adquirindo competências sociais, vendo, interagindo, imitando

e aprendendo, necessitando de um ambiente propício e desafiante, responsabilidade do

educador e da dinâmica instituída na sala de atividades.

“Tanto os jardins de infância como as creches . . . são centros de aprendizagem –

locais onde as crianças mais novas se juntam e aprendem” (Feldman et al, 2007, p. 339)

as bases da vida em sociedade. Ao entrarem na creche ou no JI, as crianças são

colocadas perante uma realidade diferente do que a que estão habituadas, sendo

confrontadas com um novo mundo cheio de desafios, onde têm que dividir o seu tempo

e espaço com um grupo. As crianças, à partida, quando ingressam na creche ou no JI

têm já um conjunto de experiências que devem ser tidas em conta e valorizadas pela

importância que acarretam no desenvolvimento da criança. Contudo, apesar de já se

encontrarem integradas num contexto, neste caso, o familiar, é na creche e no JI que as

crianças desenvolvem “a sua personalidade através da exploração de diferentes

domínios do saber, da familiarização com a cultura e da integração no mundo social”

(Bailote, 2011, p. 4).

Retomando o acima mencionado e considerando que as crianças são seres

sociais desde o nascimento, as relações entre pares apresentam um único e importante

papel no desenvolvimento social e emocional da criança, bem como para o seu

desenvolvimento cognitivo e da linguagem (Shin, 2010). Ao longo da PPS em creche

foi notória a importância da linguagem nas relações interpessoais. Independentemente

de ter sido uma experiência breve, foi possível observar diferenças em relação à forma

como as crianças interagiam entre si e à evolução do seu discurso e de como tal

contribuía para uma melhor compreensão entre pares. Recorrendo às palavras de

Hohmann e Weikart, “a capacidade crescente de falar e formar imagens mentais

[permite às crianças] desenvolver competências sociais adicionais: são capazes de

distinguir as suas necessidades e sentimentos dos dos outros (“eu” e “tu” )” (2003, p.

571).

Uma vez que este relatório é baseado em experiências vivenciadas em contextos

diferentes, é necessário ter em atenção as faixas etárias predominantes em cada contexto

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e procurar caracterizá-las da melhor forma, tendo em conta as suas especificidades e a

forma como as crianças de diferentes idades interagem umas com as outras.

De acordo com Feldman et al (2007, p. 383), “até ao período pré-escolar, as

crianças brincam lado a lado ou perto umas das outras, mas só por volta dos 3 anos é

que começam a ter amigos” o que pode ajudar a compreender certos comportamentos

observados em creche, não só relativamente às interações observadas, mas também à

origem de grande parte dos conflitos ocorridos.

Por outro lado, Shin (2010) afirma que as crianças podem estabelecer relações

de amizade a partir do final do primeiro ano de vida, sendo a amizade importante para

as crianças pequenas. Estas relações são caracterizadas por preferência, afeto ou por

jogos sociais. Durante a PPS em creche foi possível observar certas preferências no que

diz respeito ao jogo social2, afeto

3 ou mesmo à partilha de objetos

4. Tendo em conta as

palavras de ambos os autores, penso que o facto de se referir o termo “amigos” só a

partir do terceiro ano de vida encontra-se relacionado com o desenvolvimento da

“consciência do self” ou autoconsciência das crianças. Esta consciência diz respeito à

capacidade que as crianças têm de compreender que são entidades separadas das outras

pessoas e objetos (Feldman et al, 2007), sendo a “amizade” uma questão mais

relacionada com o desenvolvimento e não tanto com a idade da criança.

É através das relações que as crianças estabelecem desde a creche com os seus

pares, que vão aprendendo a colocar-se no lugar do “outro”, a observar diferentes tipos

de modelos e comportamentos e a resolver problemas que possam surgir dessas relações.

Assim, o desenvolvimento das crianças terá lugar nas relações estabelecidas entre os

pares e os adultos que a rodeiam, bem como na relação estabelecida entre todos na sala

de atividades.

2 “Quatro crianças estão na área da casa. Duas de um lado da janela, outras duas do outro

lado. A brincadeira delas resume-se a dizerem “olá” sempre que espreitam pela janela.” (Nota

de campo de creche, 07 /01/2014). 3 “A atividade consiste em pintar o pé das crianças de branco e carimbá-lo numa cartolina. A T

parece não gostar muito da sensação do pincel no seu pé e começa a chorar. O V chega-se ao

pé dela e começa a fazer-lhe festinhas no braço e na cabeça. A T continua a chorar e o V acaba

por lhe dar um beijinho na cabeça.” (Nota de campo, 08/01/2014). 4 “Um novo brinquedo parece despertar a curiosidade das crianças: uma máquina fotográfica

do Mickey. Enquanto um anda com a máquina junto aos olhos, os outros sorriem para a

fotografia.” (Nota de campo, 07/01/2014).

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Independentemente da idade e do nível de desenvolvimento, a partir do

momento em que as crianças fazem parte de contextos sociais, torna-se inevitável a

ocorrência de conflitos interpessoais. Estes conflitos e as suas posteriores resoluções são

o aspeto central da competência social durante a infância, sendo também fundamental

para o estabelecimento e manutenção das relações de amizade (Ashby & Neilsen-

Hewett, 2012). Ainda de acordo com as mesmas autoras, os conflitos e a sua resolução

diferem de acordo com diferentes aspetos, entre eles, a idade, o género e mesmo o status

da relação.

Importa, primeiramente, retomar o conceito de conflito interpessoal.

Resumidamente, o conflito reporta à oposição entre dois indivíduos, sendo

caracterizados por eventos em que uma pessoa resiste, retalia ou protesta as ações de

outros (Ashby & Neilsen-Hewett, 2012). Durante a infância, os conflitos são gerados

através de desentendimentos, que podem ser manifestados de diferentes formas,

encontrando-se dependentes das condições em que ocorrem, das idades e nível de

desenvolvimento das crianças envolvidas. Apesar de muitas vezes relacionado, o

conceito de agressão implica atos deliberados de violência verbal ou física com intenção

de magoar o outro.

Ao contrário do que se possa pensar, o conflito não têm necessariamente, como

consequência, a agressão, nem é, de alguma forma seu sinónimo. De acordo com

Galvão (2004, p. 17 citado em Corsi, 2011, p. 209), o conflito e a violência, quer seja

ela física ou verbal, “baseiam-se em lógicas contrárias”, enquanto nos conflitos “as

pessoas ou grupos que se opõem buscam reforçar [as] suas posições relativas na

relação”, a violência implica uma rutura da ligação, com o intuito da destruição do outro.

Em consequência, e ainda de acordo com o autor, “a violência floresce, quando o

conflito falha”. Porém, a agressão física é, muitas vezes a forma que as crianças

encontram para libertar as suas frustrações. Situações desta natureza foram várias vezes

observadas e registadas em ambos os contextos vivenciados5 6

. De acordo com as

5 “Estão quatro crianças junto à janela. A T, sendo uma delas, não parece gostar da atenção

dada às outras crianças que também lá se encontram. Em consequência começa a empurrar as

outras crianças, tentando retirá-las do local onde se encontram. Quando vê que não consegue,

amua, começa a chorar e vai sentar-se encostada à parede na área da garagem.” (Excerto da

reflexão diária, 14/01/2014).

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situações observadas, segundo a minha análise da situação, as crianças recorriam à

violência física como forma de fazer valer a sua opinião. Contudo, a agressão não é uma

forma de conflito. Na sua essência, conflitos são trocas emocionais aquando um

individuo se opõe a uma ocorrência envolvendo outro indivíduo (Ashby & Neilsen-

Hewett, 2012). Ao longo da PPS a minha visão sobre o conceito de conflito foi sofrendo

algumas alterações, nomeadamente à sua essência e às ideias equivocadas do seu

significado e potencial.

Em contexto de creche, ainda que tenha observado algumas situações em que a

agressão era a forma escolhida para lidar com os conflitos, a maior parte das vezes, as

crianças pequenas recorriam ao choro como forma de protesto e de exteriorizar a sua

insatisfação para com a situação7. De acordo com Licht, Simoni e Perrig-Chiello (2008),

os conflitos ocorridos entre crianças pequenas não são necessariamente agressivos,

sendo que o objetivo da criança não é magoar o outro, mas sim tentar defender os seus

objetivos, interesses e vontades, ultrapassando a resistência da outra criança em questão.

As seguintes duas situações apresentam o comportamento de duas crianças quando

contrariadas durante a ocorrência de um conflito interpessoal, neste caso, relacionado

com a posse de um objeto8 e com a necessidade de ter a atenção total do adulto,

rejeitando a presença e a participação de outras crianças, acabando mesmo por empurrar

os amigos, quando estes demonstram vontade em participar.

“Sento-me no tapete com as crianças. A C vem a correr para mim com o

6 “Durante o preenchimento do diário, foram várias as “queixas” sobre conflitos entre as

crianças. Os incidentes de hoje iam desde beliscões a pontapés na cara. Normalmente, quando

questionados sobre as suas ações, as crianças tendem a recorrer ao silêncio ou então alegar

que não o fizeram de propósito. Contudo, hoje, algumas crianças afirmaram ter recorrido à

violência uma vez que tinham sido elas primeiro as “vítimas”, retribuindo o que o outro lhe

tinha feito. No caso das crianças mais novas, a razão do pontapé decorreu da primeira criança

não deixar a segunda subir para o escorrega, recorrendo assim à violência.” (Excerto da

reflexão diária, 29/04/2014). 7 “O S parece estar chateado. Anda atrás do A a ver se consegue tirar-lhe o carro, porém este

não abre mão do brinquedo. O S começa a chorar e o A procura outro carro no cesto para lhe

dar, tal como a T. Contudo, o S rejeita os brinquedos que lhe são oferecidos querendo apenas

aquele que se encontra na posse do A.” (Nota de campo, 17/01/2014). 8 “O V trás um livro para a sala. Por momentos anda com ele, não o largando. Passado algum

tempo, larga o livro e vai brincar com outro material. A T vê o livro e folheia-o. O V repara e

exclama que o livro é dele. A auxiliar diz-lhe que a T está só a ver e que, se ele trouxe o livro

para a sala, tinha que o emprestar aos colegas. O V começa a chorar e uma birra inicia-se.”

(Nota de campo de creche, 07/01/2014).

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livro do “Noddy”. Exploro o livro com ela e rapidamente se juntam

outras crianças. A C não fica contente e tenta empurrar os colegas,

afastando-os de mim e do livro. Digo-lhe que todos podem ver o livro. A

C olha para mim com sobrancelhas franzidas e continua a não aceitar a

presença dos colegas.” (Nota de campo, 07/01/2014).

A primeira situação é recorrente no dia-a-dia e é uma das causas mais frequentes de

conflito entre crianças pequenas, tendo em conta a quantidade de registos recolhidos,

em ambos os contextos, que reportam a conflitos gerados a partir da posse de um objeto.

Tal como afirma Hawley (1999, citado em Carreiras, 2007)

No contexto de organização social das crianças em idade pré-escolar, as

interações entre pares são, entre outros aspectos, caracterizados por uma

competição para o alcance de recursos limitados no meio, estando desde

muito cedo, frequentemente, associados a situações de disputa por um

objecto (p. 7).

Para além do desejo de posse de determinado objeto, os conflitos entre duas ou

mais crianças podem ter outros objetivos, podemos assim considerar não só a

necessidade de possuir um objeto (brinquedo, nos casos mais frequentes, de acordo com

o observado durante a PPS), mas também relacionados com a possessão territorial ou

objetos socias (por exemplo, os ciúmes) (Licht et al., 2008). De acordo com a

informação recolhida ao longo da PPS em ambos os contextos, o último tipo de

“possessão” revelou ser o segundo mais frequente em caso de conflitos entre crianças.

Muitas das vezes, a necessidade de atenção individualizada durante um certo período de

tempo, levava as crianças a ressentirem-se contra outras que se “intrometessem” no seu

espaço. Em creche, estes comportamentos eram bastante evidenciados em duas crianças,

em que a necessidade de terem a atenção individualizada do adulto era frequente.

Em contexto de JI apesar de, na sua maioria, as crianças apresentarem grande

necessidade de atenção por parte do adulto, de acordo com as observações realizadas, a

fonte de discórdia encontrava-se mais vezes relacionada com a possessão territorial ou

de objetos, nomeadamente brinquedos, jogos, livros e outros materiais da sala de

atividades e do recreio.

Durante a PPS em JI foi possível observar a crescente cumplicidade entre duas

crianças chegando ao ponto em que, o simples facto de outras crianças quererem

participar nas brincadeiras deste par, era motivo de conflito entre umas das crianças do

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par em questão e as outras do grupo9.

Em JI, surgiam alguns conflitos durante a escolha das áreas de trabalho. Contudo,

na maioria das vezes, estes pequenos desentendimentos eram resolvidos no momento e

ambas as partes conseguiam chegar a acordo facilmente. Noutros casos, e com alguma

teimosia à mistura, a resolução destes desentendimentos careciam de uma atenção mais

individualizada do adulto, com o intuito de ajudar as crianças a chegarem a um

consenso. As áreas que revelavam mais discórdia entre as crianças eram a área dos

jogos de chão e a área dos computadores.

“O D5 e o S escolhem a mesma área (jogos de chão). Contudo, só há

espaço para mais um. Mesmo assim, ambos dirigem-se para a área.

Junto-me a eles e informo-os que só um pode permanecer na área. Como

o S escolheu primeiro pergunto ao D5 se pode escolher outra área.

Rapidamente me diz que não. Faço a mesma pergunta ao S e obtenho a

mesma resposta. Tento que ambas as crianças cheguem a acordo mas a

vontade em é pouca. No final, peço ao D5 para escolher outra área.

Zangado e a chorar senta-se numa cadeira e recusa trabalhar em outra

área.” (Nota de campo, 28/04/2014).

Apesar de as outras áreas, por vezes serem bastante cobiçadas, os desentendimentos

mais frequentes recaíam nestes dois locais. Porém, uma vez realizada a escolha das

áreas, as crianças tinham que perceber a distribuição e aguardar pela sua vez. Durante

esse tempo trabalhavam noutra área, estando atentas ao seu interesse inicial.

Outra área que merece menção e que teve o seu lugar nos meus registos diários,

foi a área da pintura. Esta área por se encontrar relativamente aberta, encerra em si uma

fonte de desentendimentos. Neste caso10

, o conflito teve origem na possessão do espaço.

9 “Perguntando o que se tinha passado às crianças queixosas e observando as interações da G1

e do D2, percebi que é com muita dificuldade que incluem outras crianças nas suas

brincadeiras, isolando-se nas suas interações e reagindo negativamente para com quem tenta

algum tipo de aproximação. Este tipo de situação foi mais observável na G1 em que as suas

reações para com os colegas que, de alguma forma, tentavam brincar com o D2 resumiam-se,

neste caso, à violência. Inclusive, quando outras crianças tentam brincar com o D2, a G1

assume uma postura de “indignação”, isolando-se e recusando brincar com o grupo.” (Excerto

da reflexão diária, 07/05/2014). 10

“A T3 e a L1 encontram-se numa disputa pelo cavalete. Apesar de este ter espaço para duas

crianças, a insatisfação em ambas é visível. Após conseguirem, cada uma, colocar a sua

respetiva folha no cavalete e de começaram a pintar, a L1 decide pintar a folha de T3. Pouco

tempo depois, a T3 pinta a folha da L1. A L1 vem contar-me o que se passou. A T3 depressa

afirma que a L1 o tinha feito primeiro. Pergunto à L1 se é verdade e porque o fez. Não me

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Apesar de as crianças terem conhecimento de que naquela área podem trabalhar duas

pessoas ao mesmo tempo, a L1 mostrou vontade em ter o espaço só para si, acabando

por prejudicar o trabalho da colega.

Evidentemente, a forma como é resolvido o conflito difere com as idades e nível

de desenvolvimento das crianças. Com crianças mais pequenas, a intervenção do

educador acaba, na maior parte das vezes, por ser necessária.

“Chegamos ao recreio e os triciclos já se encontram ocupados. Algumas

crianças percebem que têm que esperar, outras não e começam a chorar,

insistindo que querem andar de triciclo. Uma das crianças acaba mesmo

por tentar empurrar outra que está a andar de triciclo. Tive que intervir

e garantir que nenhuma das crianças se magoava.” (Nota de campo,

28/02/2014). A situação descrita teve lugar no JI com duas das crianças mais novas do grupo. Estas

crianças encontram-se ainda no início do seu percurso como seres sociais, daí que a sua

experiência no que diz respeito à resolução de conflitos, seja mínima. Ao lidarem com

situações deste tipo, as crianças vão adquirindo competências e ganhando a confiança

necessária para resolver conflitos de forma autónoma sem a intervenção do educador.

Para que o crescimento social seja bem-sucedido, as crianças precisam de

desenvolver capacidades para gerir conflitos (Verbeek et al. 2000 citado por Carreiras,

2007). A ocorrência de conflitos num contexto social promove oportunidades para o

desenvolvimento de habilidades de resolução dos mesmos que permitem à criança

visualizar a perspetiva do outro. Estas situações podem oferecer a oportunidade de obter

uma crescente compreensão dos outros, bem como dos seus comportamentos,

contribuindo para exercitar as suas capacidades de compromisso e participação em

jogos sociais. A resolução de conflitos reflete processos sociais e de relações. As

crianças que são capazes de resolver desentendimentos de forma amigável têm maiores

possibilidades em estabelecer amizades e ganhar a aceitação dos pares (Ashby &

Neilsen-Hewett, 2012).

Ao longo da PPS, foram vários os momentos de reflexão acerca de situações de

conflito entre duas ou mais crianças. No início da prática, a minha noção acerca do

responde e fica zangada. Tento falar com ambas, mas a minha tentativa falha. Acabo por lhes

pedir para se sentarem e pensarem um bocadinho sobre o que fizeram uma à outra. Não gostam

da minha decisão, mas permanecem no lugar.” (Nota de campo, 24/03/2014).

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papel dos conflitos no desenvolvimento da criança ainda não era claro, o que me

deixava ansiosa relativamente à gestão destes desentendimentos Por ainda não possuir

nem metade da informação suficiente acerca da problemática, penso que posso ter

desprezado situações que poderiam ser fonte de diversas aprendizagens, quer para as

crianças, quer para mim enquanto futura educadora. Refletindo sobre a minha ação ao

longo dos meses em que realizei a PPS, considero que um dos grandes obstáculos à

interiorização da importância dos conflitos em si e da sua resolução deveu-se

essencialmente, à forma negativa e equivocada que eu detinha do termo conflito.

A pesquisa acerca da importância dos conflitos interpessoais levou-me a

reconstruir o significado do termo, e a ver

o conflito como uma variável relacional, inerente à interacção humana,

que, embora, no imediato possa ter um efeito disruptivo a nível das

relações interpessoais e possa até afectar negativamente o clima sócio-

afectivo da turma ou da escola se reveste de funcionalidade psicológica.

Significa isso, que o conflito é uma condição importante do

desenvolvimento social dos indivíduos” (Nascimento, 2003:197 citado

em Fernandes, 2009, p. 28).

Assim, situações de conflito devem ser encaradas como momentos de

aprendizagem, em que são colocadas em prática as capacidades socias das crianças,

contribuindo para a sua formação como seres socias. Se anteriormente foi mencionada a

importância das relações estabelecidas durante a infância, a importância de conflitos

interpessoais é similarmente importante. Renegando o significado inicial atribuído ao

conceito de conflito, o valor que estas situações acarretam para a formação da criança

enquanto ser humano e ser social é de extrema importância. Ao longo do tempo, as

crianças deverão ser capazes de lidar com situações de conflitos interpessoais e sua

respetiva resolução cada vez mais autonomamente, sendo que, depreende-se que, quer

em creche, quer em JI, são transmitidas as bases e ferramentas para agir durante e após

desentendimentos com outras crianças. Para além disso, os conflitos interpessoais

ajudam as crianças a desenvolver a capacidade de cooperação, trabalho de grupo e uso

comum de recursos11

. Na situação descrita, apesar da existência de um pequeno

11

“Sendo que se trata de uma área bastante cobiçada por algumas crianças (computadores),

reparei que a D3 aproveitava a sua posição para, também ela, jogar os jogos de ambos os

colegas. Eles não pareciam importar-se e ela aproveitava a oportunidade de estar também na

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conflito, as crianças, por si, conseguiram resolvê-lo. Porém, só com a ajuda da criança

que, supostamente estaria a mais naquela área, é que as outras que já lá se encontravam,

conseguiram responder aos desafios do jogo. Recorrendo às palavras de Shantz e Hartup

(1992 citados em Carreiras, 2007), “as situações de conflito são momentos privilegiados

de aprendizagem, na medida em que colocam em prática as regras sociais,

possibilitando a articulação e desenvolvimento de capacidades socio-cognitivas

necessárias para alcançar os seus objectivos” (p. 7). É também importante a aquisição

de competências de gestão de conflitos no processo de socialização “visto que estas

podem deixar as fundações para o desenvolvimento de todas as relações futuras” (Green

& Rechis, 2006 citados em Fragoso de Sousa, 2007, p. 15).

Após um conflito interpessoal existe um espaço e tempo que deverá ser tido em

consideração. Focando a atenção ao que acontece após um conflito, torna-se útil evocar

e analisar alguns comportamentos assumidos pelas crianças durante estes momentos.

Ao longo da PPS em ambos os contextos educativos foram observados e

registados os momentos que sucedem um conflito entre duas ou mais crianças, tendo

sido tal tópico tema de reflexão quer em creche, quer em JI. Ao longo do tempo foi

possível observar que, após um conflito, era frequente as crianças adotarem

comportamentos de reconciliação em que o afeto assumia papel de relevo. Quer o

conflito tenha sido resolvido entre as crianças, sem a ajuda do educador, quer tenha sido

o adulto a gerir o conflito ocorrido, em diferentes situações e com crianças de diferentes

idades e nível de desenvolvimento, foi possível observar que, após um conflito, a

interação do grupo de crianças implicadas recorria a comportamentos e interações

físicas de caracter afiliativos. Foram diferentes as situações em que foi possível

observar comportamentos de reconciliação após conflitos considerados mais agressivos.

“O S e o D4 encontram-se a brincar tal como é habitual. Apesar de

entrarem frequentemente em conflito, escolhem-se mutuamente como

parceiros de brincadeira. Reparo que se encontram um em frente ao

área dos computadores. Porém, durante uns momentos, um pequeno conflito pareceu surgir,

contudo, rapidamente foi resolvido. Depois de exemplificar ao colega o que era para fazer, a

D3 parecia não querer deixar o T4 completar o puzzle. Depois de lhe pedir que deixasse este

último acabar o seu jogo, a D3 rapidamente deu lugar ao T4, voltando a sua atenção para o P

e para a coloração de um desenho de duas crianças que, até ao momento, tinham a cara preta,

cor de carvão, e o cabelo cor-de-rosa choque.” (Excerto da reflexão diária, 21/02/2014).

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outro e, por sua vez, o S encontra-se a chorar. Chego-me junto d s dois e

pergunto-lhes o que se passou. O S depressa me informa de que o D4 lhe

bateu. O D4 depressa nega ter batido ao S, envolvendo-o num abraço.

Volto a perguntar o que realmente se passou mas ambos aprecem já ter

esquecido o sucedido. Abraçam-se e retomam a brincadeira.” (Nota de

campo, 14/05/2014).

Em diferentes ocasiões foi também possível observar que, quando confrontados com

questões por parte dos adultos, grande parte das crianças (recorrendo aos registos

recolhidos durante a PPS em creche e JI), tende a negar o seu comportamento para com

a outra criança, tentando, por vezes, forçadamente, transmitir um clima de amizade e

entendimento.

“Vejo uma criança a empurrar outra. A que se encontra caída no chão

começa a chorar. Chego-me junto dela e pergunto-lhe o que se passou.

Antes que possa sequer dizer-me alguma palavra, a criança que a

empurrou junta-se a nós e começa a abraçar a criança caída. Pergunto a

esta última o porquê de ter empurrado o amigo ao qual me responde que

não o fez. Confronto-o e digo-lhe que vi a sua ação ao qual depressa me

responde que não volta a fazer, abraçando o colega, ajudando-o a

levantar-se e retomando a brincadeira.” (Nota de campo, 29/04/2014).

Comportamentos de reconciliação, tais como dar a mão, um abraço ou um beijo

na face, foram recorrentemente observados, em JI12

. Para além destas interações

afiliativas de contacto físico, as crianças tendem a recorrer a “iterações verbais como

preposições de cooperação (e.g. “Podes ajudar-me a construir esta casa”) e partilha de

objectos” (Fujisawa et al. 2005; 2006; Lijungberg et al., 1999; 2005; Verbeek de Waal,

2001, citados em Carreiras, 2007, p. 7).

Após a análise dos registos recolhidos ao longo da PPS em creche e JI, foi

possível concluir que as relações entre pares e os conflitos interpessoais assumiram um

papel de relevo tanto na minha ação enquanto estagiária, como na necessidade de

reflexão sobre a temática. Contudo, não é só o papel das crianças que importa

12

“Uma criança vem ter comigo a chorar, dizendo que outra lhe tinha tirado o carrinho.

Perguntei-lhe de quem era o carrinho ao que o menino me respondeu que era seu. Dei-lhe a

mão e fomos à procura da outra criança. Esta encontrava-se a brincar com o carrinho.

Perguntei-lhe de quem era o carrinho e depressa o entregou à criança que ainda estava de mão

dada comigo. Disse-lhe que não se deve tirar os brinquedos aos amigos, ao que ele (o menino

que tinha tirado o carro) respondeu dando um abraço e um beijinho à outra criança, limpando-

lhe as lágrimas.” (Nota de campo, 25/02/2014).

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35

mencionar, quer nas relações estabelecidas entre pares, quer na gestão de conflitos

interpessoais, mas também o papel do educador. Cabe ao educador criar um ambiente

estimulante e desafiador quer permita às crianças a aquisição das tão importantes

competências sociais. Partindo do princípio que o papel do educador é essencial na

oferta de oportunidades e ferramentas, o próximo ponto deste relatório é referente à

importância do educador no percurso de desenvolvimento das crianças, como fonte

promotora de aprendizagens variadas e significativas, focando o seu papel durante a

gestão de conflitos e após a ocorrência dos mesmos.

3.2.2. O papel do educador na gestão de conflitos interpessoais

Iniciando este tópico com uma visão sobre o papel do educador no

desenvolvimento e formação de cada criança do seu grupo, é relevante referir que “os

educadores de infância integram na sua ação os conceitos indissociáveis de educação e

cuidado” tendo em conta a faixa etária que assistem, constituindo-se “como parceiros

das famílias e comunidade na promoção do desenvolvimento global e inclusão social da

criança, que se espera evoluir continuamente como cidadã autónoma, crítica e

participativa” (Alberto, 2012, p. 6).

Se as relações estabelecidas entre pares são fundamentais para o

desenvolvimento da criança, as relações estabelecidas com os adultos que a rodeiam são

igualmente importantes. Neste caso, referimo-nos especificamente ao educador e ao seu

papel no desenvolvimento das crianças e suas competências. Evocando o perfil

específico do educador de infância, é possível constatar que, qualquer educador deve ter

como como base da sua prática intenções para com o grupo e para com cada criança

individualmente.

De acordo com o Decreto-Lei nº241/2001 de 30 de Agosto, o educador deverá

ser capaz de relacionar-se “com as crianças por forma a favorecer a necessária

segurança afectiva e a promover a sua autonomia”. Ao longo da minha prática, em

ambos os contextos educativos, no que toca às relações estabelecidas com as crianças,

tentei sempre que estas fossem baseadas no afeto e na partilha. Daí a que uma das

intenções inerentes à minha prática tenha sido a construção de relações com base no

afeto e no carinho. A criação de laços fortes e securizantes garantem à criança a

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confiança suficiente para experimentar situações novas, vendo no adulto não só um

modelo mas também alguém que a apoia e acompanha durante o seu percurso de

desenvolvimento e aprendizagem. Neste sentido e de acordo com Hohmann e Weikart

(1995 citados em Dias, 2005, p. 23) “a aprendizagem e o desenvolvimento são

facilitados pela participação da criança que se desenvolve em padrões progressivamente

mais complexos de atividade recíproca com alguém com quem estabeleceu um vinculo

emocional forte e prolongado”. Na mesma linha de pensamento, o educador deverá

promover a “autonomização e a responsabilização de cada educando no grupo de

educação cooperada” (Niza, 2013, p. 158), um objetivo que será mais facilmente

alcançado através da criação de laços e de relações securizantes entre crianças e o

educador.

Ainda recorrendo ao perfil específico do educador de infância, é possível

constatar que este deverá encontrar-se apto para fomentar “a cooperação entre as

crianças, garantindo que todas se sintam valorizadas e integradas no grupo” (Decreto-

Lei nº241/2001, 30 de Agosto), na medida em que é capaz de reconhecer a necessidade

de estabelecer relações de cooperação, servindo a sua ação e comportamentos de

modelo às crianças e à forma como esta lidam com os outros. O educador deverá

transmitir às crianças a necessidade de valorizar os outros e a suas individualidades,

assumindo comportamentos de integração e inclusão de todos os indivíduos do grupo,

sejam eles crianças ou adultos. Neste sentido, e devido à importância da existência de

comportamentos de tolerância, uma das intenções na base da minha ação foi a promoção

do respeito pelo outro, das suas características e individualidades.

Similarmente ao seu papel enquanto promotor de oportunidades de

aprendizagem, o educador assume, também, um papel de mediador, neste caso

específico, relativamente à gestão de conflitos interpessoais, problemática em análise.

De acordo com Hohmann e Weikart (2003, p. 615), situações de conflitos

interpessoais criam sentimentos de frustração, confusão e insucesso, tanto nas crianças,

como nos adultos. Ainda assim, o educador deverá ser capaz de reconhecer que

momentos destes são ocasiões importantes de aprendizagem ativa.

Concomitantemente, o educador não deverá encarar o conflito como uma

situação a evitar, uma vez que, de acordo com Waller (1932, citado em Silva, 2003, p.

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80), “o conflito unifica tanto como divide; ele é um dos principais factores de coesão de

grupo” sendo “uma parte essencial da dialética do desenvolvimento pessoal”. Neste

sentido, o educador deverá encarar o conflito interpessoal como fonte de aprendizagens

e não como uma situação disfuncional.

Neste sentido, importa referir que a eliminação dos conflitos interpessoais,

apesar de revelar ser uma tarefa bastante desafiadora, não encerra em si tantos

benefícios como possa aparentar à partida. O conflito “é um processo natural, necessário

e potencialmente positivo para as pessoas e grupos sociais” (Jares, 2002, p.34), sendo

essencial para o desenvolvimento, não só das competências socias das crianças, mas

também da “formação moral da criança e o sentido da responsabilidade, associado ao da

liberdade” (Lei nº 46/1986, de 14 de outubro, p. 4).

No seguimento dos conflitos interpessoais, a regulação e resolução justa dos

mesmos apresenta resultados positivos, verificando-se a sua necessidade, uma vez mais,

essencial no dia-a-dia. Assim, com o objetivo de alcançar estes mesmos resultados

positivos, é preciso “utilizar os meios adequados e enfatizar as estratégias de resolução

pacífica e criativa do mesmo” (Jares, 2002, p. 34).

É importante referir que, durante a resolução de conflitos, a negociação assume

um papel relevante no que toca às estratégias utilizadas, quer pelas crianças, quer pelo

educador. De acordo com Vasconcelos (1997), “a negociação faz parte da arte de viver,

e aprender a negociar pode tronar-se numa importante experiência de aprendizagem

para as crianças” (p. 176). Neste sentido, e indo ao encontro das necessidades das

crianças, a negociação é importante durante a resolução de conflitos porque “as crianças

têm desde muito cedo «um forte sentido de justiça» que precisa de ser respeitado”

(Vasconcelos, 1997, p. 181).

No que toca ao acompanhamento e regulação da resolução de conflitos entre

crianças, o educador deverá ter em conta características da faixa etária com que se

encontra a trabalhar, lembrando-se que “as crianças de idade pré-escolar ainda estão

muito centradas em si mesmas, lutam por independência e controlo, e pensam de formas

muito concretas” (Hohmann & Weikart, 2003, p. 615). Uma das estratégias que o

educador poderá utilizar é promover o diálogo entre crianças, encorajando-as a falar

umas com as outras falando dos seus sentimentos. Deverá assumir um papel de

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mediador, acompanhando as crianças neste processo de aprendizagem ativa. Neste caso,

em que o educador pretende que as crianças sejam capazes de resolver os seus conflitos

autonomamente, deverá guiar um das crianças à outra parte envolvida, incentivando-as

a falar sobre o que se passou e a ouvirem-se mutuamente. Posteriormente, o educador

poderá apresentar algumas ideias de como resolver o conflito em questão, cabendo a

decisão final às crianças (Hohmann & Weikart, 2003). Falando umas com as outras, as

crianças serão capazes de “ver” as motivações e interesses das outras, havendo uma

tentativa, por parte do educador, de que a criança se coloque no lugar da outra, e vice-

versa, contribuindo, deste modo, para a resolução do conflito, quer a curto ou a longo

prazo.

No seguimento da necessidade de colocar as crianças a falar sobre conflitos e as

suas motivações e consequências, foi planeada uma tentativa de “grupo de discussão”.

Ao longo da PPS em JI foi com grande dificuldade que passei da reflexão à ação.

Enquanto grande parte dos momentos de reflexão, quer diária, quer semanal, se

encontravam relacionados com os conflitos interpessoais e o meu papel (enquanto

futura educadora) na gestão dos mesmos, revelou-se desafiante encontrar uma forma de

transportar para a prática a necessidade de trabalhar a resolução de conflitos com o

grupo.

Em conversa com a educadora cooperante foi exposta esta a dificuldade. Indo ao

encontro do que foi anteriormente mencionado relativamente à necessidade de colocar

as crianças a falar sobre o assunto, expressando os seus sentimentos, motivações e

interesses, a educadora aconselhou-me a tal, dando às crianças a oportunidade de serem

elas a explicitar o porquê da ocorrência de conflitos entre elas e as consequências dos

mesmos. Neste sentido, foi planeada uma atividade com o objetivo de criar pequenos

grupos de discussão em que fosse possível as crianças apresentarem as suas ideias e

conceções acerca dos conflitos.

Recorrendo a cartões com imagens que retratavam diferentes situações de

conflitos, o grande grupo foi dividido em três mais pequenos. A cada criança foi

entregue um cartão. Após observarem a imagem e mostrarem os cartões umas às outras,

foi pedido a cada criança que descrevesse a situação representada. Neste sentido, era

pretendido que as crianças revelassem um pouco a sua visão acerca de situações de

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conflitos, as suas causas e consequências. Apesar de todas as crianças terem sido

capazes de descrever a situação ou uma situação (aconteceu em alguns casos as crianças

inventarem uma história com as personagens da imagem, ignorando, por completo, a

situação), penso que o objetivo da atividade não foi, de todo, alcançado. Se por um lado

algumas das crianças falaram acerca das causas e consequências de alguns conflitos,

tendo a imagem em questão servido como ponte para situações do dia-a-dia, a

abordagem da atividade, da minha parte, não foi a mais correta. Da forma que

apresentei e desenvolvi a atividade, não tendo havido uma posterior discussão de

resultados, não creio que a mesma tenha sido significativa para o grupo, nem

contribuído para a problemática em análise.

A atividade acabou por cair no esquecimento, bem como o seu objetivo. As

respostas das crianças poderiam ter sido exploradas em pequeno e grande grupo,

servindo como ponto de partida para um trabalho mais específico no que toca à gestão

de conflitos interpessoais. Contudo, e por minha culpa e inexperiência, a temática ficou

por ali em termos de contexto prático.

Uma vez que não fui capaz de dar continuidade a esta oportunidade para

trabalhar os conflitos interpessoais com o grupo, tentei dedicar-me à observação das

crianças e dos papéis por elas assumidos durante e após conflitos interpessoais, bem

como ao papel do educador na gestão dos mesmos. Importa também referir que, para

além de ter reformulado o conceito e valor do termo “conflito”, a minha postura perante

tais situações também foi sendo alterada ao longo do tempo. Indo ao encontro das

pesquisas realizadas no que diz respeito ao papel do educador no que toca à gestão de

conflitos, é observável uma evolução relativamente à forma de atuar em situações de

conflito entre duas ou mais crianças. As duas notas de campo seguintes referem-se a

dois momentos distintos ocorridos em JI, ambos durante o recreio, onde o “conflito

interpessoal encontra terreno fértil, nas suas formas menos reguladas e construtivas”

(Coimbra, 2003, p. 30) se não existir a preocupação em fazer deste espaço um local de

aprendizagens significativas.

A primeira nota de campo foi recolhida no primeiro dia de estágio e apresenta a

minha posição perante um conflito entre um grupo de crianças e a dificuldade sentida

em atuar.

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“Uma criança tenta empurrar uma das crianças que estava a andar de

baloiço. As crianças entram em conflito, cada uma a tentar puxar por um

lado do baloiço. Peço-lhes que se acalmem, uma vez que ambas já se

encontravam a chorar e peço à que estava a andar de baloiço que dê

lugar à outra. Tal estratégia não resolve o problema. As crianças

continuam a empurrar-se mutuamente, lutando pelo baloiço. Sem saber

como resolver a situação, peço a uma das crianças para vir comigo,

tentando distrai-la do seu objetivo inicial.” (Nota de campo,

17/02/2014).

Relembrando e reanalisando este momento, é possível afirmar que, apesar da

minha intervenção, esta não foi ao encontro do que é esperado de um educador. Nesta

situação não foi tida em conta a voz das crianças nem foi realizado esforço algum para

promover o diálogo entre ambas de forma a contribuir para a resolução do conflito. O

facto de ainda não conhecer o grupo nem as crianças individualmente contribuiu para a

minha falta de gestão da situação.

A segunda nota de campo apresenta também uma situação de conflito entre duas

crianças, durante o recreio e a minha ação durante e após o ocorrido.

“A T3 e o S estão a brincar no escorrega. Vejo, o S a dar um pontapé na

cabeça da T3 que, muito aflita, começa a chorar. Tento aclamar a T3.

Depois de verificar se estava tudo bem pedindo ajuda a uma das AEE,

pedi a atenção de ambas as crianças e perguntei-lhes o que se tinha

passado. Com alguma dificuldade, e depois da T3 ter contado a sua

versão, o S acabou por dizer que a T3 não saía da frente (razão para o

pontapé). Perguntei-lhes o que achavam da situação e sobre se se devia

ou não bater aos amigos. O S disse que não. Perguntei-lhes o que

deveriam fazer. A T3 disse “Pedir desculpa.” O S pediu desculpa e deu

um abraço à amiga. Perguntei ao S se não o voltava a fazer, ao que me

respondeu que não.” (Nota de campo, 29/04/2014).

Relativamente ao papel por mim assumido, é possível destacar algumas

diferenças no que diz respeito à gestão do conflito. Apesar de ainda apresentar algumas

dúvidas e hesitação acerca de como lidar com a situação, fui capaz de dar espaço às

crianças para falarem e exporem as suas versões do acontecimento. Neste caso em

específico, esta situação foi exposta durante a reunião de grupo, tendo sido registada no

diário da sala. Devido à gravidade da situação, uma vez que nos encontramos a falar de

agressão física, teria sido benéfico, quer para as crianças envolvidas quer para o restante

grupo, um aprofundamento da questão, tornando este momento, um de exploração e

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aprendizagem, neste caso, relativamente aos conflitos interpessoais. Neste sentido,

penso que pode ter sido desperdiçada uma oportunidade de, mais uma vez, trabalhar a

temática com o grupo. Porém, só agora repensando estas situações é que me apercebo

que, oportunidades não faltaram, o que faltou foi a capacidade de partir de um

acontecimento do quotidiano em JI e transformá-lo num tópico de trabalho.

Tendo em conta o contexto no qual decorreu a prática em JI, é importante

mencionar a influência do modelo curricular MEM e de alguns dos seus instrumentos de

regulação no que diz respeito à gestão de conflitos interpessoais. Para os educadores que

adotam o modelo MEM, a escola define-se “como um espaço de iniciação às práticas de

cooperação e solidariedade de uma vida democrática”, e é em conjunto com as crianças

que se criam “as condições materiais, afetivas e sociais para que, em comum, possam

organizar um ambiente institucional capaz de ajudar cada um a apropriar-se dos

conhecimentos, dos processos e dos valores morais e estéticos” (Niza, 2013, p. 144).

Durante a PPS em JI, um dos instrumentos de regulação que contribuiu para

trabalhar a resolução de conflitos foi o Diário da Sala. Este é um instrumento de

regulação formativa (Niza, 2013) onde são registados os acontecimentos mais

significativos de cada dia. Este instrumento trata-se de uma folha dividia em quatro

partes. As duas primeiras colunas

recolhem os juízos negativos e positivos, da educadora e dos alunos . . .

sob os títulos “não gostei” e “gostei”. A terceira coluna . . . é encabeçada

pela palavra “fizemos”. A quarta coluna, destinada ao registo de

sugestões, aspirações e projetos a realizar, é iniciada por “queremos” ou

“desejamos”. (Niza, 2013, p. 153).

A utilização deste instrumento apresenta-se essencial neste contexto uma vez

que permite “dar espaço à voz da criança [promovendo] a participação ativa . . . nos

processos de tomada de decisão” (Garcia, 2010, p. 7). Neste sentido, todos os dias,

durante a reunião da tarde, as crianças refletem sobre o seu dia e apresentam, perante o

grupo, os momentos, para si, mais significativos. Assim, o diário integra “uma vertente

de “catalisador emocional””, que permite às crianças “racionalizar as suas emoções”

(Garcia, 2010, p. 8) ao falarem, discutirem e registarem os problemas, preocupações e

conflitos que as inquietam.

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Às sextas-feiras é realizada a reunião de conselho em que o educador lê o diário

e onde se discutem “com solenidade, os juízos negativos (dando a palavra a cada um

dos implicados): clarificam-se as posições, mas evita-se a violência de um julgamento”

(Niza, 2013, p. 156). Este momento contribui não só para a promoção da reflexão, mas

também da autoavaliação de comportamentos por parte das crianças. No seguimento da

leitura do diário e da “reflexão sobre os juízos negativos” é que é possível construir

“regras de convivência” (Niza, 2013, p. 156), essenciais à regulação dos conflitos

interpessoais. Ao mesmo tempo, estas regras assumem “maior força e sentido se todo o

grupo participar na sua elaboração” (ME, 1997, p. 36).

Ao mesmo tempo que é importante a resolução do conflito no momento em que

este ocorre, é igualmente compensatório a resolução dos mesmos durante a reunião de

conselho. Isto porque “o conselho, com o apoio cooperante do educador, é a instituição

formal de regulação social da vida escolar. Pelo conselho passa o balanço intelectual e o

progresso moral da classe” (Niza, 2013, p. 146), permitindo observar uma evolução das

competências sociais do grupo e da forma como encaram e resolvem diferentes conflitos

interpessoais a que são expostos.

A PPS em JI proporcionou-me a primeira experiência direta com o modelo

MEM, as suas metodologias e pressupostos, bem como os instrumentos de pilotagem e

sua função. Neste sentido, a apropriação e utilização de alguns instrumentos careceu de

um período de adaptação. Apesar de, ao longo do tempo, ter indo utilizando a maioria

dos instrumentos de pilotagem presentes na sala de atividades, a sua funcionalidade não

foi suficientemente explorada. Neste caso, focaremos a atenção no diário e nas reuniões

de conselho e ao seu papel na gestão e resolução de conflitos interpessoais.

Se por um lado alguns conflitos eram resolvidos aquando da sua ocorrência,

outros eram registados no diário e levados a reunião de conselho com o objetivo de

alcançar a resolução. Ao longo da PPS foi possível verificar que o grupo recorria muito

ao diário no que diz respeito ao registo de situações de conflito, mais frequentemente a

situações que envolviam violência física. O episódio de seguida apresentado relata o

momento da escrita do diário.

“Durante a reunião da tarde, aquando do preenchimento do diário,

foram várias as “queixas” sobre conflitos entre as crianças. Os

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incidentes de hoje iam desde beliscões a pontapés na cara.

Normalmente, quando questionados sobre as suas ações, as crianças

tendem a recorrer ao silêncio ou então alegar que não o fizeram de

propósito. Contudo, hoje, várias crianças afirmaram ter recorrido à

violência uma vez que tinham sido elas primeiro as “vítimas”,

retribuindo o que o outro lhes tinha feito.” (Excerto da reflexão diária,

29/04/2014).

Analisando este excerto é possível referir dois aspetos relacionados com a gestão

de conflitos. Em primeiro lugar, as crianças tendem a registar situações que ocorrem

durante o período do recreio em que o educador, por vezes, não tem oportunidade de

participar na regulação e resolução do conflito. Em segundo lugar é possível observar

que a violência ocorre como forma de retaliação, ficando a ideia de que, se o outro fez,

eu também posso fazer. No seguimento dos registos acerca dos conflitos, é esperado que

seja realizada uma reflexão cooperada dos comportamentos das crianças implicadas

sendo, posteriormente, decidido em conjunto, a forma mais justa de resolução do

conflito. Contudo, apesar de se tratar de uma reflexão cooperante, é necessário que o

educador não desperdice estas oportunidades de aprendizagem, fazendo questão em as

abordar, dedicando-lhes o devido tempo e importância.

Ao contrário do mencionado anteriormente, sinto que, durante as reuniões de

conselho a que tive oportunidade de assistir e participar, não atribui o devido valor à

resolução dos conflitos registados no diário. Apesar de ler o diário com as crianças,

relembrando e refletindo sobre os acontecimentos da semana, o meu papel enquanto

reguladora de conflitos e promotora de estratégias dinâmicas e criativas de resolução

dos mesmos não foi significativo para as crianças. Hoje, relendo reflexões e notas de

campo, apercebo-me que poderia ter explorado os conflitos interpessoais das mais

variadas formas, sendo o diário uma fonte de oportunidades. Neste sentido, foi

importante assistir a uma reunião de conselho em que, a partir dos registos realizados ao

longo da semana, a educadora cooperante e as crianças, encontraram estratégias para

resolver uma das situações em análise.

“Atenta, observo a ação da educadora ao mesmo tempo que observo os

comportamentos das crianças. Depois de lido o diário, a educadora

expõe o caso da T3, um dos nomes que era frequentemente mencionado

na coluna “Não gostámos” naquela semana. Pedindo a colaboração do

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grupo, a educadora solicitou que as crianças, incluindo a T3,

encontrassem uma solução. Depois de ouvidas algumas opiniões,

incluindo a da T3, registou-se a decisão tomada.” (Nota de campo,

20/03/2014).

Na situação descrita é possível perceber que, a partir dos registos recolhidos ao

longo da semana, a educadora sentiu necessidade de encontrar alguma estratégia de

forma a regular o comportamento da criança em questão. Recorrendo a uma reflexão e,

posterior, tomada de decisão cooperada, foi possível chegar a um consenso

relativamente aos comportamentos recorrentes da criança. A partir do diálogo e da

discussão de sugestões, o grupo foi capaz de chegar a uma conclusão que, a longo prazo,

revelou resultados positivos, na medida em foi possível assistir a uma mudança

percetível em alguns comportamentos da criança, nomeadamente em relação aos

conflitos e às relações, quer com os pares, quer com os adultos.

Neste capítulo foi apresentado não só um referencial teórico relativo à

problemática em estudo, mas também uma reflexão da prática, recorrendo a episódios

reais recolhidos durante os meses de estágio, essenciais à ilustração de diferentes ideias.

Finda a análise do papel das crianças e do educador no que toca à gestão de

conflitos, é importante referir que, a escolha desta problemática reporta não só às

dificuldades sentidas ao longo da PPS no que toca à gestão de conflitos, mas também

por acreditar que, a ocorrência e resolução de mesmos são verdadeiras oportunidades de

aprendizagem na medida em que

sendo-lhes dada a oportunidade de praticar a resolução de conflitos

interpessoais num clima e contexto de apoio, as crianças aprendem mais

facilmente a acreditar nelas próprias enquanto resolutoras de problemas,

a confiar nos adultos para as apoiar quando necessitam, a serem

empáticas e altruístas, e a ter fé nas suas capacidades individuais e

colectivas para fazerem com que as relações resultem (Hohmann &

Weikart, 2003, p. 92).

Neste sentido, os conflitos e sua resolução são fonte de aprendizagens fulcrais ao

desenvolvimento da criança, em que o educador assume um papel de mediador e

promotor do diálogo e da descoberta cooperada de estratégias, promovendo a crescente

autonomia do que diz respeito à resolução de conflitos interpessoais e à manutenção das

relações entre pares.

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Capítulo IV: Considerações finais

O último capítulo deste relatório é respeitante à análise reflexiva da PPS

realizada em contexto de creche e de JI. Esta análise pretende apresentar o impacto da

minha intervenção, quer em geral, quer em particular, bem como uma reflexão sobre a

construção da minha identidade profissional, enquanto futura educadora de infância.

“[O] estágio pedagógico – constitui um momento particular da socialização na

profissão por todas as ansiedades, angustias, constrangimentos, e expectativas que o

educador-estagiário vivência” (Mesquita-Pires, 2007, p. 20) daí o primeiro momento da

prática, quer em creche, quer em JI ser marcado por um misto de nervosismo e

inúmeros receios. Era evidente o receio em relação ao trabalho com as equipas

educativas e a devida integração nos contextos. Para além deste, o receio de não ser

capaz de fazer uma articulação significativa entre a teoria e a prática contribuíram para

diferentes momentos de impasse no que concerne as planificações de atividades e da

minha ação no geral para com os grupos. Uma vez que “a apreensão holística da

complexa realidade educativa exige uma articulação coerente entre a teoria e a prática”

(Mesquita-Pires, 2007, p. 95), a importância da coerência de propostas apresentadas às

educadoras cooperantes, revelou ser um dos receios recorrentes ao longo da prática.

Contrariando todos os receios relativos à aceitação por parte dos grupos de

crianças, esta não poderia ser mais positiva do que a realidade. Em creche, a aceitação

de uma pessoa estranha foi bastante rápida e sem episódios significativos no que toca à

rejeição por parte de alguma criança. Penso que o facto de ter assumido um papel ativo,

colocando-me à disposição das crianças, participando nas suas brincadeiras, permitiu

esta integração tão positiva. Assumindo a mesma postura em JI, apesar de mais

progressiva, a minha integração no grupo ocorreu sem alguma dificuldade. Porém, todas

as crianças são diferentes e, como tal, foi necessário recorrer a diferentes abordagens no

que diz respeito à interação com cada uma, bem como às relações estabelecidas que, em

alguns casos, careceram de mais persistência e paciência.

Se, no seguimento da análise dos registos recolhidos durante a observação e da

reflexão sobre os documentos regulamentadores das instituições foram definidas

intenções para com os diferentes grupos inerentes à minha prática, também é verdade

que, ao longo dos estágios em ambos os contextos existiu a necessidade de adaptar as

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mesmas intenções às necessidades dos grupos, indo ao encontro dos seus interesses.

Estas adaptações decorreram tanto do crescente conhecimento dos grupos como do meu

crescimento enquanto futura educadora de infância. Concomitantemente, foram

realizadas várias alterações a planificações decorrentes da minha visão enquanto

educadora-estagiária. Não obstante, nem sempre a adaptação da minha ação foi ao

encontro das necessidade e interesses dos grupos, sendo as minhas intencionalidades

iniciais ofuscadas pelo meu receio em arriscar e pela dificuldade em passar da reflexão à

ação. Porém, penso que é possível observar, ao longo da prática, uma evolução em

termos de flexibilidade entre o planeado e os interesses e necessidades das crianças.

No seguimento da necessidade de adaptar a minha ação às necessidades das

crianças, indo ao encontro dos seus interesses, a execução do trabalho de projeto “Do

que é feita a Lua e onde é que ela mora?” realizado em JI foi concebido e planeado

tendo em conta o interesse demonstrado pelo tópico após a leitura da história “A que

sabe a Lua?”. Seguindo as diretrizes da metodologia do trabalho de projeto,

incorporando as ideias das crianças acerca do tópico, estruturei uma sequência de

atividades que fossem significativas para as crianças e fossem ao encontro dos seus

interesses relativos ao trabalho de projeto. Refletindo agora sobre a oferta de

oportunidades de exploração e descoberta através de atividades dinâmicas e criativas,

admito que esta ficou um pouco aquém do que era esperado. Apesar de considerar que o

projeto foi bem-sucedido e significativo para as crianças, penso que poderia ter gerido

melhor as atividades, dinamizando-as diferentemente, contribuindo para aprendizagens

mais diversificadas.

Independentemente dos aspetos menos positivos que possam estar relacionados

com as atividades desenvolvidas com os grupos e seu valor educativo, os erros

cometidos contribuíram para a minha aprendizagem, tendo sido essenciais ao nível do

meu crescimento enquanto futura educadora de infância.

No que toca às intenções relacionadas com a necessidade de estabelecer relações

de confiança e securizantes para as crianças, penso que fui capaz de ser para as crianças

alguém em que elas confiassem e com quem se sentissem suficientemente seguras para

arriscar e embarcar em novas descobertas. Ao mesmo tempo, a preocupação de

promover a autonomia foi sempre constante no dia-a-dia, quer da creche, quer do JI.

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Neste caso específico penso ter alcançado o objetivo inicialmente definido, assumindo

uma postura de apoiante do desenvolvimento e companheira de aprendizagens.

No âmbito da problemática desenvolvida, as intenções definidas encontravam-se

diretamente relacionadas com o desenvolvimento pessoal e social das crianças. Neste

sentido, penso que a minha prática foi ao encontro do inicialmente estabelecido, no que

diz respeito à minha ação num plano geral. A preocupação em promover o respeito pelo

outro, das suas características e individualidades foi recorrente ao longo da prática. Quer

em momentos livres de brincadeira, quer em momentos e atividades dirigidas, o respeito

pelas ideias e opiniões dos outros foi sempre tido em conta. Sendo que as crianças vêm

o educador como modelo (neste caso educadora-estagiária), tentei sempre dar

oportunidade às crianças de exporem as suas ideias e opiniões, tentando transmitir uma

postura de aceitação e tolerância. Relativamente à intenção de incentivar o diálogo entre

as crianças contribuindo para a resolução de problemas, penso que existiu uma evolução

no que toca à minha postura assumida perante tais situações. Se fui capaz de incentivar

o diálogo como estratégia promotora da resolução de conflitos, tal só foi possível

durante o último período da PPS. Isto porque, ao longo da prática fui aprendendo a

adaptar a minha ação a diferentes situações, tendo em conta o contexto, as crianças e

relações entre elas, as motivações dos conflitos e o meu papel enquanto mediadora e

promotora de estratégias de resolução dos mesmos.

Neste sentido e, partindo da necessidade sentida no que toca à autorreflexão e

adaptação da minha ação perante os grupos, sinto que, ao contrário do que era esperado,

o desenvolvimento da problemática em estudo apresentou um maior enfoque nas

dificuldades por mim sentidas no que toca à gestão de conflitos interpessoais, bem

como no que diz respeito à visão acerca da importância das situações de conflito no

desenvolvimento da criança. Por este motivo, o trabalho desenvolvido com as crianças

ao nível da gestão de conflitos e sua posterior resolução não apresentou um impacto

significativo comparativamente à minha visão e postura perante situações de conflito.

Ou seja, a problemática em questão contribuiu muito mais para a minha formação

enquanto futura educadora do que para os grupos e sua sensibilização no que diz

respeito à gestão de conflitos e estratégias de resolução.

A reflexão da prática assumiu um papel muito importante durante os meses de

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PPS. Contudo, tal como já foi mencionado, apesar de identificar as minhas fragilidades

e de assumir a necessidade de adaptar a minha prática aos desafios apresentados

diariamente, passar da teoria para a prática nem sempre se revelou fácil. Por este mesmo

motivo, penso que a incapacidade de percorrer o caminho da reflexão à ação contribuiu

para que a problemática deste relatório não fosse tão significativa para as crianças como

foi para mim. De acordo com Marques da Silva (2011, p. 28)

na concepção de Schön (2000), a prática reflexiva constitui-se como um

momento de reflexão crítica problematizando a realidade pedagógica, bem

como analisando, reflectindo e reelaborando a sua acção de modo a resolver

os problemas construindo e reconstruindo o seu papel no exercício

profissional.

Neste sentido, apesar de ter sido capaz de analisar e refletir sobre a minha prática, a

“reelaboração” da mesma nem sempre foi significativa no que se refere à reconstrução

do meu papel durante a PPS.

Se por um lado o impacto da minha problemática foi escasso para com os grupos

de crianças, o impacto para com as famílias revelou ser nulo. Contudo, é de referir que,

à partida, não foram estabelecidas intenções específicas para com a família no que toca

ao desenvolvimento da problemática. Mesmo assim, sendo as famílias o primeiro

contexto de socialização das crianças, teria sido enriquecedor para o estudo da

problemática apurar a origem de certos comportamentos e valores transmitidos pelos

familiares no que toca às diferentes posturas assumidas pelas crianças quando

confrontadas com situações de conflitos. Recorrer a pequenas “entrevistas” (conversas

informais) com o intuito de perceber como as crianças resolvem os conflitos

interpessoais fora da escola, poderia ter sido outra estratégia para incluir as famílias no

desenvolvimento da problemática em estudo. Consequentemente, iria ser possível

perceber qual o papel assumido pelos pais (ou prestadores de cuidados) perante

situações de conflito que envolvessem os seus filhos, relacionando-as com a postura

assumida pelas crianças dentro da escola e em que medida estas são influenciadas pelos

comportamentos dos próprios familiares.

Em geral, a participação das famílias ao longo da minha prática foi também uma

das lacunas da minha ação enquanto futura educadora. Se por um lado as famílias não

eram muito participativas, o esforço da minha parte para mudar esta característica não

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foi tão notório quanto o esperado. Porém, existiram momentos em que foi possível

contar com a participação das famílias, nomeadamente durante o trabalho de projeto,

durante a fase de pesquisa, uma vez que “os pais devem ser cada vez mais parceiros nos

jardins-de-infância e, mais concretamente ainda, parceiros nos projectos que estão a ser

desenvolvidos nos jardins-de-infância” (Vasconcelos, 2009, p. 65). Ao mesmo tempo,

todos os trabalhos realizados pelas crianças eram expostos nos corredores de acesso à

sala de atividades e, sempre que havia oportunidade tentava estabelecer conversas

informais com os pais, trocando informações sobre o dia-a-dia das crianças, com o

intuito de estabelecer uma relação de confiança mútua crescente, dando-lhes a devida

atenção, tendo sempre o respeito como base das interações.

Reportando, agora, às intenções definidas para com as equipas educativas penso

que, no seu geral, consegui incorporá-las na minha prática. Objetivei dar continuidade

ao trabalho já realizado em sala, partilhando ideias e opiniões com as cooperantes, quer

em relação aos grupos, quer à minha prática. Apesar de a integração ter sido bem-

sucedida e relativamente rápida, é com alguma dificuldade que interajo com pessoas

que conheço há pouco tempo. Este facto poderá ter sido um dos que contribuiu para

alguma falta de comunicação durante as primeiras semanas da PPS. Porém, ao longo do

tempo ganhei confiança em mim e no meu trabalho, sentindo-me mais à vontade para

partilhar e trabalhar em equipa. A relação estabelecida com as equipas educativas foi,

sem dúvida, um dos pontos essenciais durante a prática. Aprendi muito com as equipas.

As suas críticas construtivas foram muito importantes para o meu crescimento enquanto

futura educadora de infância, considerando-as verdadeiras parceiras no que toca ao

trabalho em equipa. Contudo, e mais uma vez devido à exagerada falta de confiança por

vezes sentida, a partilha de resultados e opiniões poderia ter sido mais significativa do

que foi na realidade.

Receios e erros à parte, a PPS foi uma experiência muito positiva e que mudou a

minha visão sobre o que é ser educadora de infância. Experimentei, errei, acertei e

mudei, cresci, aprendi e ensinei. Tendo as notas de campo e as reflexões diárias tão

grande impacto na elaboração deste relatório, termino-o com o excerto de uma das

últimas reflexões diárias de JI.

“Sem dúvida alguma que todos os dias me proporcionaram novas

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aprendizagens e sinto que cresci bastante desde o primeiro dia de

estágio. Sei que ainda tenho um caminho a percorrer até poder

considerar-me, na verdadeira aceção da palavra, educadora de infância,

porém, muitas das dúvidas e receios foram atenuados durante estes três

meses de cooperação, partilha e aprendizagem. Dei por mim a repensar

a minha prática no seu geral e, neste momento, é que me encontrava

pronta para começar. Foi com alguma insatisfação que percebi que

deixei passar muita coisa em branco. A minha evolução pode ser

observada neste contexto, na medida em que sinto que houve um

melhoramento, não só das minhas intenções para com o trabalho

desenvolvido com o grupo, mas também com a integração das

aprendizagens em geral, tendo em conta que algumas fragilidades

apresentadas no início encontram-se atenuadas neste momento.”

(Excerto da reflexão diária, 15/05/2014).

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Projeto Educativo do JI

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Anexos

Anexo A – Portefólio da PPS em Creche (CD)

Anexo B – Portefólio da PPS em JI (CD)

Anexo C – Caracterização dos contextos socioeducativos

Tabela 1:

Contextos socioeducativos – história, dimensão organizacional e jurídica e espaços

físicos

Creche JI

História

Inaugurada a 1897;

Localiza-se num antigo palacete

construído no século XIX que

tem sofrido algumas alterações

ao nível de instalações

Inaugurado a 1980;

O edifício pertence à Câmara

Municipal do município onde se

encontra localizado.

Dimensão

jurídica

Instituição Particular de

Solidariedade Social (IPPS)

Resposta social de creche é

tutelada pelo Ministério da

Solidariedade Social (MSS) e a

de jardim-de-infância pelo

Ministério da Educação e da

Ciência

Estabelecimento da rede

pública, cedido à Santa Casa da

Misericórdia de Lisboa (SCML)

por um período de três anos (a

partir de 2011);

Ambas as respostas sociais,

creche e JI, são tuteladas pela

SCML

Dimensão

organizacional

Respostas sociais: berçário,

creche e jardim-de-infância;

Corpo docente: seis educadoras

de infância;

Corpo não-docente: uma

diretora, uma técnica de serviço

social, uma técnica de tempos

livres, oito auxiliares de ação

educativa, uma cozinheira e três

trabalhadoras auxiliares

Respostas sociais: creche

familiar, creche institucional,

jardim-de-infância e intervenção

precoce;

Corpo docente: uma

coordenadora pedagógica e doze

educadoras de infância;

Corpo não docente: uma

diretora, uma psicóloga, uma

terapeuta da fala, 13 auxiliares

de ação educativa, 23 amas e

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seis ajudantes familiares para

intervenção precoce.

Espaços físicos

Dois edifícios: principal e um

adjacente com três salas de JI

localizado no piso 1 do edifício

principal.

Edifício principal: dois pisos.

Piso 0: hall de entrada, duas salas de JI,

de refeitório de JI, duas casas-de-banho,

sala de descanso e refeitório dos

colaboradores.

Piso 1: uma sala de berçário, duas salas

de creche, refeitório de creche, cozinha,

sala de reuniões, gabinete da diretora,

dois recreios e três casas de banho (duas

para crianças e uma para adultos).

Edifício constituído por dois

pisos:

Piso 0: quatro salas e refeitório de JI,

cozinha, casa-de-banho para adultos,

quatro casa-de-banho para crianças,

despensa, recreio, lavandaria

comunitária, arrecadação e salão

polivalente/dormitório.

Piso 1: duas salas e recreio de creche,

duas salas de JI, duas casas-de-banho

para crianças e duas para adultos,

refeitório de creche, sala de reuniões,

gabinete da diretora, sala para pessoal,

sala de apoio à creche familiar, duas

despensas e uma sala de recurso ao

programa de Intervenção Precoce.

Modelos

Curriculares

Modelo HighScope

Segundo Oliveira-Formosinho, Lino e

Niza (2013), o modelo High Scope:

tem na sua base a teoria de Piaget acerca

do paradigma desenvolvimentista,

segundo a qual o desenvolvimento é

visto como um processo sequencial,

organizado segundo diferentes fases,

distintas entre si e transversais a todas as

crianças.

Movimento da Escola Moderna (MEM)

Segundo Folque (2009), “propõe e realça

o papel do grupo como um agente

provocador do desenvolvimento

intelectual, moral e cívico com uma forte

ligação ao quotidiano. […] A vida do

grupo organiza-se numa experiência de

democracia direta […], onde se privilegia

a comunicação, a negociação e a

cooperação.” (citado em Projeto

Pedagógico da Sala, 2013, p. 6).

Nota: Elaboração própria tendo por base os dados recolhidos dos documentos estruturantes da instituição

e da observação direta realizada durante a PPS.

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Anexo D - Ambiente físico da sala de creche

Figura 1. Planta da sala de creche. Dados recolhidos através da observação realizada ao

longo da PPS.

Legenda:

1. Área do tapete

2. Área da casa

3. Área da higiene

4. Garagem

5. Biblioteca

6. Porta

7. Armários de arrumação e muda de fraldas

8. Armários de arrumação de materiais e brinquedos/área polivalente (atividades em

grupo ou individuais; exploração de materiais/brinquedos)

9. Janelas

10. Espelho

11. Estante de livros

8 8

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Tabela 2:

Áreas da sala de creche, materiais e intenções educativas de cada espaço

Áreas da sala Materiais Intenções educativas

1 - Tapete

Principal espaço onde ocorre a

reunião do grupo

Tapete;

Almofadas;

Fotografias das

famílias.

Potencia a comunicação e

partilha de experiências;

Promove um ambiente acolhedor

e confortável para a realização

de diferentes atividades,

nomeadamente a audição de

histórias e sua dinamização.

2 – Área de casa Mesa e cadeiras;

Fogão e forno;

Telefone.

Potencia “actividades de encher

esvaziar” (Post & Hohmann,

2011, p. 158)

Promove a imaginação,

criatividade e imitação de

situações do quotidiano – e.g.

falar ao telefone.

3 – Área da higiene Dois muda-fraldas;

Produtos de higiene e

cuidados (fraldas,

toalhitas, soro

fisiológico, compressas,

toalhas, termómetros)

Promove as relações

adulto:criança devido ao aspeto

individual do ato de mudança de

fralda.

Promove a exploração do corpo

da criança, bem como a

linguagem.

4 - Garagem Balancés;

Triciclos.

Promove a motricidade global da

criança – e.g. equilíbrio.

5 - Biblioteca Estante;

Cadeirões;

Livros (principalmente

de pano e com

diferentes texturas).

Promove “experiências no

domínio da literacia” (Post &

Hohmann, 2011, p. 140).

Incentiva o gosto pelos livros e

pela exploração dos mesmos.

8 – Área polivalente/atividades

em grupo/individuais

Mesas e cadeiras;

Brinquedos;

Materiais para explorar

(instrumentos musicais,

diferentes tipos de

Promove a exploração de

diferentes materiais, quer em

atividade de grupo (pequeno)

quer individuais.

Incentiva a exploração dos

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papel, texturas, tintas) materiais da sala, incutindo

noções como o esperar pela sua

vez (te ter o brinquedo/material),

explorar as diferentes funções de

dado brinquedo/material.

“as expressões, as tintas e os

pincéis são indispensáveis […].

Ajudam-nas a ver, representar,

criar, narrar” (Oliveira-

Formosinho, Formosinho e

Andrade, 2011, p.18).

10 - Espelho Espelho Promove a verbalização e

exploração de diferentes

constituintes da fisionomia

humana.

Nota. Elaboração própria tendo por base os dados recolhidos dos documentos estruturantes da instituição

e da observação direta realizada durante a PPS.

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Anexo E – Ambiente físico da sala de JI

Figura 2. Planta da sala de JI. Dados recolhidos através da observação realizada ao

longo da PPS.

Legenda:

1. Área dos jogos de chão/garagem

2. Área da casa

3. Área polivalente – reuniões de grupo, área do desenho, da modelagem, recorte e

colagem

4. Biblioteca

5. Área da Matemática e das Ciência experimentais

6. Jogos de mesa

7. Área da escrita

8. Área do tapete

9. Área da pintura

10. Computadores

11. Porta

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Tabela 3:

Áreas da sala de JI, materiais e intenções educativas de cada espaço

Áreas da sala Materiais Intenções educativas

1 – Jogos de chão/Garagem Legos;

Materiais de contrução

(madeira);

Carros (de diferentes

tamanhos);

Bonecos (de diferentes

tamanhos e feitios)

Fomenta o espirito e o trabalho

em equipa e iniciativa;

Promove noções de espaço,

tempo e velocidade;

Promove o aperfeiçoamento de

destrezas e coordenações

motoras finas.

2 – Área da Casa Alimentos de plástico;

Mobiliário de cozinha

(fogão, frigorifico,

tábua de passar a ferro,

mesa, bancos);

Bonecos e acessórios

(roupas, cama);

Outros materiais

(telemóveis, pratos,

talheres).

Potencia a imaginação e a

criatividade e a representação de

papéis sociais;

Promove o trabalho em grupo e

sentido de organização.

3 – Área polivalente Mesas e cadeiras;

Folhas de papel,

materiais de escrita

(marcadores, lápis de

cor e de cera), tesouras,

colas, revistas e

desperdícios de papel.

Incentiva o trabalho individual e

promove a poder de decisão

perante diferentes ofertas;

Promove o aperfeiçoamento de

destrezas e coordenações

motoras finas.

4 – Biblioteca Sofá;

Livros;

Álbuns de projetos

realizados pela sala.

Promove o gosto pelos livros e

pela leitura;

Potencia a pesquisa de

informação nos livros

5 – Matemática e Ciência

experimentais

Material didático;

Puzzles.

Promove o desenvolvimento do

raciocínio; noções de tempo e de

espaço; sentido de número e

outras competências

matemáticas.

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6 – Jogos de mesa Puzzles;

Jogos de encaixe;

Materiais de

construção.

Promove o desenvolvimento do

raciocínio lógico, a memória

visual, a destreza manual e a

linguagem.

7 - Escrita Cartões com nomes;

Folhas;

Stencils;

Arquivo de

palavras/imagens.

Promove o desenvolvimento da

linguagem, a capacidade de

compreensão e atenção.

Incentiva o contacto com as

letras e a compreensão da

ligação entre a linguagem e a

escrita,

8 – Tapete Tapete;

Almofadas.

Potencia a comunicação e

partilha de experiências;

Promove um ambiente acolhedor

e confortável para a realização

de diferentes atividades,

nomeadamente a audição de

histórias e sua dinamização.

9 - Pintura Cavalete;

Pinceis;

Tintas;

Aventais/batas;

Esponjas;

Plasticina (local de

arrumação).

Promove a destra motora, aliada

ao desenvolvimento da

criatividade e do sentido

estético.

10 – Computadores Dois computadores;

Software didático;

Jogos de PC.

Promove a exploração dos

diferentes componentes de um

computador, bem como de

algum material software simples

e didático.

Nota. Elaboração própria tendo por base os dados recolhidos dos documentos estruturantes da instituição

e da observação direta realizada durante a PPS.

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Anexo F – Horários e rotinas da sala de creche

Tabela 4:

Horário e rotinas da sala de creche

Momento do dia Descrição Intenções Objetivos Papel do educador

Acolhimento (8h às 9h) As crianças que chegam a esta

hora ficam ao encargo da

auxiliar de ação educativa que

estiver presente até à chegada da

ajudante de sala ou da

educadora.

Promover a socialização com as

crianças de outras salas

(nomeadamente berçário e B2)

Melhorar a relação

entre pares;

Partilha de

experiências,

incentivando a

verbalização e

comunicação.

Participar juntamente com as

crianças, servindo de modelo,

permitindo à criança imitar e

interiorizar comportamentos de

socialização

Acolhimento (9h às

9h30)

Este acolhimento é realizado na

sala de atividades já com a

educadora ou com a ajudante de

sala. As crianças brincam

livremente na sala ou no tapete.

Promover a socialização entre as

crianças do grupo, bem como os

adultos da sala

Atividades

estruturas/momentos

em grande grupo (9h30

às 10h45)

Este espaço é dedicado a

atividades estruturadas pela

educadora, bem como a

momentos de grande grupo, nas

mesas ou no tapete. Às

segundas-feiras, neste horário, é

realizada a aula de movimento

Proporcionar às crianças situações

de exploração e descoberta,

promovendo aprendizagens

significativas.

Promover a socialização e o

respeito pelo outro.

Planificar atividades que

desenvolvam a criança a três

níveis essenciais:

desenvolvimento motor,

cognitivo e formação social e

pessoal.

Respeitar os diferentes ritmos

das crianças, apoiá-las e

incentivá-las quer durante

momentos de grande e pequeno

grupo, quer durante atividades

estruturadas.

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com uma professora.

Higiene (10h45 às 11h) Mudanças de fralda Promover a comunicação e a

relação afetiva entre

adulto:criança, bem como a

exploração de partes do corpo.

Explorar, conhecer e

nomear diferentes

partes do corpo;

Reconhecer-se a si

próprio e ao outro.

Privilegiar o momento de

interação de um pra um e

proporcionar à criança um

momento agradável e afetuoso,

aproveitando as potencialidades

desta atenção individualizada.

Almoço – refeitório da

creche (11h às 11h45)

As crianças almoçam no

refeitório. É encorajado que

comam sozinhas e algumas já o

fazem, porém algumas crianças

ainda necessitam de ajuda.

Promoção da contrução das

interações sociais e autonomia da

criança.

Desenvolver a

autonomia;

Melhorar as relações

entre pares e

criança:adulto;

Melhorar a

linguagem e a

comunicação.

Permitir que a criança

desenvolva a sua autonomia,

comendo sozinha e aprendendo

com os seus erros à medida que

os vai fazendo. Incentivar a

iniciativa das crianças.

Descanso – dormitório

(sala b2) (11h45 às

15h)

As crianças dormem no

dormitório em conjunto com as

crianças da sala b2

Tendo em conta a idade das

crianças e as suas necessidades,

criar um espaço e tempo de

descanso propicío ao bem-estar da

criança.

Descansar o mínimo

de horas necessárias

para o bom

funcionamento do

organismo;

Desenvolver a

autonomia

Respeitar os ritmo de cada

criança e apoiá-la sempre que

necessário, deixando-a, à partida,

espaço para que a criança seja

capaz de ultrapassar alguns

obstáculos com os quais se

depara.

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relacionada com a

rotina de guardar a

chucha, calçar os

sapatos e sentar ao

fundo da cama.

Lanche – refeitório da

creche (15h15 às 16h)

Tal como durante a hora de

almoço, as crianças são

encorajadas a comer sozinhas,

porém algumas ainda necessitam

e ajuda, sendo esta dada pela

educadora e a ajudante de sala.

Promoção da contrução das

interações sociais e autonomia da

criança.

Desenvolver a

autonomia;

Melhorar as relações

entre pares e

criança:adulto;

Melhorar a

linguagem e a

comunicação.

Permitir que a criança

desenvolva a sua autonomia,

comendo sozinha e aprendendo

com os seus erros à medida que

os vai fazendo. Incentivar a

iniciativa das crianças.

Higiene (16h às 16h15) Mudança de fraldas Promover a comunicação e a

relação afetiva entre

adulto:criança, bem como a

exploração de partes do corpo.

Explorar, conhecer e

nomear diferentes

partes do corpo;

Reconhecer-se a si

próprio e ao outro.

Privilegiar o momento de

interação de um para um e,

proporcionar à criança, um

momento agradável e afetuoso,

aproveitando as potencialidades

desta atenção individualizada.

Tempo livre (16h15 às

17h)

As crianças podem brincar

livremente nas áreas da sala e

com os brinquedos que lá se

Dar a oportunidade às crianças

para explorarem a sala de

atividades e os materiais que se

Brincar com os

pares, sendo capaz de

manter um certo grau

Encontrar-se à disposição da

criança, apoiando-a e

respondendo às suas

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encontram. Podem também ser

realizados momentos de grande

grupo no tapete ou nas mesas

com o objetivo de contar

histórias ou cantar canções.

encontram ao seu alcance.

Promover a brincadeira livre bem

como algum faz-de-conta

estruturado.

de envolvimento,

evitando conflitos;

Participar em

momentos de jogo

simbólico,

individualmente ou

em grupo.

necessidades sempre que

possível.

Respeitar as ideias e e ritmos das

crianças, participando também

ele no momento de

brincadeira/exploração/interação.

Partida (17h às 18h30) Enquanto os pais ou avós ou

outros familiares vêm buscar as

crianças, estas encontram-se na

sala de atividades com a

ajudante de ação educativa, a

brincar livremente ou nas mesas

a fazer jogos ou a ver livros.

Promover a interação e

comunicação entre pares.

Proporcionar momentos de partilha

em grande grupo, desenvolvendo a

linguagem e a comunicação.

Participar em

atividade em grande

grupo, quer seja a ver

livros, a ouvir uma

história ou a cantar

uma canção.

O educador deve ter o papel de

modelo, ou seja, dar à criança

ferramentas para que esta seja

capaz de realizar o solicitado por

ela mesma. Contudo, deve

encontrar-se sempre disponível

para auxiliar a criança sempre

que esta o necessite.

A higiene deve ser realizada, para além dos momentos presentes na rotina, sempre que a criança tenha necessidade de tal.

Nota. Elaboração própria tendo por base os dados recolhidos dos documentos estruturantes da instituição e da observação direta realizada durante a PPS.

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Anexo G - Horários e rotinas da sala de JI

Tabela 5:

Horário e rotinas da sala de JI

Momento do dia Descrição Intenções

Acolhimento (8h às 9h) As crianças permanecem no salão polivalente até

à chegada das educadoras. Durante este tempo,

estão acompanhadas pelas auxiliares de ação

educativa.

Promover a socialização com as crianças de outras salas e com

os adultos responsáveis;

Garantir uma “passagem” família-escola confortável e segura.

Acolhimento (9h às 9h30) Durante este tempo, se as condições climatéricas

o permitirem, as crianças brincam no recreio

livremente.

Reunião da manhã (9h30 às 10h) Depois de todos chegarem à sala, sentam-se e dá-

se início à reunião. Canta-se a canção dos bons-

dias, contam-se novidades e planeia-se o dia.

Promover o respeito pelos outros;

Fomentar a capacidade de reflexão e comunicação;

Promover a socialização e valores de cidadania.

Exploração livre das áreas/Atividade

dirigida (10h às 11h)

Consoante a planificação realizada no momento

anterior, as crianças são livres de escolher uma

área da sala para explorarem, ou então é solicitada

a sua participação em alguma atividade que

careça de direção por parte da educadora.

Promover a autonomia e a exploração livre das diferentes

áreas de trabalho da sala;

Incentivar a criatividade e imaginação;

Incentivar a autonomia e a opção de escolha

Reforço da manhã (11h às 11h30) De acordo com o mapa das tarefas, duas crianças

ajudam a distribuir a fruta ou bolacha, preparada

pela educadora ou auxiliar de ação educativa.

Promover hábitos de alimentação saudável e de higiene;

Fomentar a cooperação e o trabalho em equipa (crianças que

distribuem a fruta).

Recreio/Hora do Conto (11h30 às 12h) Se as condições climatéricas o permitirem, este Fomentar o gosto pela leitura e escrita;

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tempo é dedicado ao recreio. Caso contrário, e o

mesmo se verifica se houver uma história para

contar (plano diário), este tempo é dedicado à

hora do conto.

Promover a autonomia e a resolução de conflitos;

Promover a socialização e o respeito pelo outro.

Almoço (12h às 12h45) As crianças reúnem-se no refeitório para o

almoço. Este é distribuído pela educadora e pela

auxiliar. A autonomia é incentivada daí a que a

ajuda para comer por parte da equipa educativa

seja a mínima possível.

Promover a socialização;

Fomentar hábitos de uma alimentação saudável;

Incentivar o cumprimento de regras de a respeitar no

refeitório/horário de refeições.

Recreio/Descanso (12h45 às 14h) As crianças de quatro e cinco anos dispõem deste

tempo para realizar atividades livres, quer no

recreio, quer nas salas acompanhadas pelas

auxiliares. As crianças de três anos permanecem

no dormitório durante este tempo de descanso.

Promover a autonomia e a resolução de conflitos;

Promover a socialização e o respeito pelo outro;

Proporcionar um tempo de descanso cómodo e confortável,

essencial par ao desenvolvimento das crianças.

Atividade dirigida/Atividade com as

famílias (14h às 15h30)

Da parte da tarde, as crianças de quatro e cinco

anos encontram-se em atividades dirigidas até às

15h. A partir desse momento, as crianças de três

anos regressam à sala e o restante tempo é

ocupado com a exploração livre das áreas. Um dia

por semana é dedicado a atividade com as

famílias. Este tempo, era também, por vezes,

dedicado à contrução do portefólio da criança.

Promover o trabalho individualizado com a criança,

acompanhando-a no processo de avaliação do seu trabalho;

Promover a socialização e cooperação em atividades em

grande e/ou pequenos grupos;

Promover a comunicação e a discussão de ideias;

Incentivar o pensamento e a reflexão sobre si e suas ações.

Reunião da tarde (15h30 às 16h) As crianças e a equipa educativa reúnem-se e é

feito o balanço do dia. É preenchido o Diário da

Promover o respeito pelos outros;

Fomentar a capacidade de reflexão e comunicação;

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sala é feita a partilha de acontecimentos do dia. Promover a socialização e valores de cidadania.

Lanche (16h às 16h30) As crianças reúnem-se no refeitório para o lanche.

Este é distribuído pela educadora e pela auxiliar.

A autonomia é incentivada daí a que a ajuda para

comer por parte da equipa educativa seja a

mínima possível.

Promover a socialização;

Fomentar hábitos de uma alimentação saudável;

Incentivar o cumprimento de regras de a respeitar no

refeitório/horário de refeições.

Recreio (16h30) Após o lanche, as crianças vão para o exterior ou

permanecem no interior até a chegada das

famílias.

Promover a autonomia e a resolução de conflitos;

Promover a socialização e o respeito pelo outro.

Nota. Elaboração própria tendo por base os dados recolhidos dos documentos estruturantes da instituição e da observação direta realizada durante a PPS.