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O PAPEL DA DIDÁTICA NA PERSPECTIVA DA FORMAÇÃO SUPERIOR Rosangela Pereira de Sousa Silva * RESUMO Temos como objetivo mostrar a importância da didática na formação docente, dando suma importância ao que ela pode ser considerada como ciência aplicada no processo de ensino e aprendizagem. Buscamos mostrar aqui, a finalidade da educação, enfatizando os padrões didáticos e metodológicos de qualidade para assim atender as demandas da sociedade em geral, pois desta forma destacamos as mudanças que estão ocorrendo no meio universitário quanto à importância da didática, e deixará claro que a didática, ao cumprir o seu papel de “Arte de Ensinar” legitima a presença docente e da universidade no cenário amplamente educacional. Ainda, através deste trabalho procuramos apreciar a idéia de que a didática sendo conhecida, aprendida e aplicada, funcionará como elemento favorável para a construção qualitativa do docente, discente, no processo educacional e da sua própria vida acadêmica. Percebemos ainda, que a didática, quando conhecida e aplicada efetivamente, torna-se veículo de validação da necessidade do corpo docente como elemento facilitador do processo de ensino e aprendizagem, e da universidade como instituição norteadora, detentora e divulgadora de conhecimentos empíricos, técnicos e racionais. Dentro deste contexto almejamos concluir que a didática é instrumento facilitador, que ajuda no cumprimento da visão e também facilita a interação e o crescimento do polinômio educacional: universidade, aluno, docente, sociedade. Por isso, nossa consideração a favor da sua importância e necessidade na formação docente dentro do plano universitário. PALAVRAS CHAVES: Ensino-Aprendizagem, Formação, Arte de Ensinar e Plano Universitário. ABSTRACT Aims to show the importance of teaching in teacher training, giving paramount importance to what she can be regarded as applied science in teaching and learning process. We seek Show here, the purpose of education, emphasizing the educational and methodological quality standards so as to meet the demands of society in general, because this way we highlight the changes taking place in the university environment on the importance of teaching and make it clear that the didactics, to fulfill its role of "Art of Teaching" legitimizes the presence and teaching university in the widely educational setting. Yet, through this work we try to appreciate the idea that the teaching is known, learned and applied, will act as favorable element for the qualitative construction of teachers, students, the educational process and their own academic life. We realize also that the teaching when known and applied effectively, becomes validation vehicle need faculty as a facilitator of the process of teaching and learning, and the university as guiding institution, which owns and disclosing of empirical knowledge, technical and rational. Within this context we aim to conclude that the teaching is facilitator, helping to fulfill the vision, and also facilitates interaction and growth of educational polynomial: university, student, teacher, society. Therefore, our consideration in

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O PAPEL DA DIDÁTICA NA PERSPECTIVA DA FORMAÇÃO SUPERIOR

Rosangela Pereira de Sousa Silva*

RESUMOTemos como objetivo mostrar a importância da didática na formação docente, dando suma importância ao que ela pode ser considerada como ciência aplicada no processo de ensino e aprendizagem. Buscamos mostrar aqui, a finalidade da educação, enfatizando os padrões didáticos e metodológicos de qualidade para assim atender as demandas da sociedade em geral, pois desta forma destacamos as mudanças que estão ocorrendo no meio universitário quanto à importância da didática, e deixará claro que a didática, ao cumprir o seu papel de “Arte de Ensinar” legitima a presença docente e da universidade no cenário amplamente educacional. Ainda, através deste trabalho procuramos apreciar a idéia de que a didática sendo conhecida, aprendida e aplicada, funcionará como elemento favorável para a construção qualitativa do docente, discente, no processo educacional e da sua própria vida acadêmica. Percebemos ainda, que a didática, quando conhecida e aplicada efetivamente, torna-se veículo de validação da necessidade do corpo docente como elemento facilitador do processo de ensino e aprendizagem, e da universidade como instituição norteadora, detentora e divulgadora de conhecimentos empíricos, técnicos e racionais. Dentro deste contexto almejamos concluir que a didática é instrumento facilitador, que ajuda no cumprimento da visão e também facilita a interação e o crescimento do polinômio educacional: universidade, aluno, docente, sociedade. Por isso, nossa consideração a favor da sua importância e necessidade na formação docente dentro do plano universitário.PALAVRAS CHAVES: Ensino-Aprendizagem, Formação, Arte de Ensinar e Plano Universitário.

ABSTRACTAims to show the importance of teaching in teacher training, giving paramount importance to what she can be regarded as applied science in teaching and learning process. We seek Show here, the purpose of education, emphasizing the educational and methodological quality standards so as to meet the demands of society in general, because this way we highlight the changes taking place in the university environment on the importance of teaching and make it clear that the didactics, to fulfill its role of "Art of Teaching" legitimizes the presence and teaching university in the widely educational setting. Yet, through this work we try to appreciate the idea that the teaching is known, learned and applied, will act as favorable element for the qualitative construction of teachers, students, the educational process and their own academic life. We realize also that the teaching when known and applied effectively, becomes validation vehicle need faculty as a facilitator of the process of teaching and learning, and the university as guiding institution, which owns and disclosing of empirical knowledge, technical and rational. Within this context we aim to conclude that the teaching is facilitator, helping to fulfill the vision, and also facilitates interaction and growth of educational polynomial: university, student, teacher, society. Therefore, our consideration in favor of its importance and need in teacher education within the university plan.KEY WORDS: Teaching and Learning , Training , Art and University Teaching Plan

1 – INTRODUÇÃOOs educadores conscientes da ação que praticam e do papel que desempenham

não se contentam com a rotina pedagógica e os hábitos escolares estruturados. Querem saber

sempre mais, conhecer o que há de novo na sua área, para refletir sobre as novas práticas

educativas. Querem também verificar a validade dessas práticas para depois incorporá-las às

já adotadas e tidas como seguras. Em educação, como em todas as áreas, a reflexão e a ação

são companheiras inseparáveis.

Não há dicotomia entre reflexão e ação. A reflexão desvinculada da prática

conduz a uma teorização vazia. Por sua vez, a ação que não é guiada pela reflexão leva a uma

rotina desgastante e rígida. Por isso, o trabalho do professor, em especial daquele que

pretende ser um profissional consciente de sua tarefa, deve seguir o caminho da reflexão-

ação-reflexão. A unidade entre reflexão e ação permitirá que o verdadeiro educador não * Licenciatura Plena em Letras Português/Inglês – FTC, Bahia. Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia – UESPI, Especialista em Gestão e Supervisão Escolar - FAMEP, Professora da Rede Estadual de Ensino – Na CEEP Ferdinand Freitas em JF/PI.

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confunda os meios com os fins, nem se deixe escravizar pelas técnicas, que são meros

instrumentos.

A educação e o ensino fazem parte do contexto social e, como esse contexto é

dinâmico, a educação e o ensino também o são. Por isso, o professor precisa estar sempre se

atualizando. Mas mudar um comportamento não é fácil, principalmente quando a pessoa já

tem hábitos arraigados. Toda mudança de comportamento gera insegurança. Por isso, essas

"inovações" pedagógicas criam inquietações e até mesmo confusão na mente dos professores,

sobretudo daqueles que gostam de realizar seu trabalho com eficácia.

A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 no capítulo IV, art. 43 e parágrafos I a IV

registra o seguinte acerca da educação superior:Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação.

Na Declaração Mundial Sobre a Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação

(artigo 7º, UNESCO, 1998) colocam-se especial ênfase na formação profissional para a vida e

a sociedade em função dos interesses e necessidades da sociedade:Em economias caracterizadas por mudanças e pelo aparecimento de novos paradigmas de produção baseados no conhecimento e sua aplicação, assim como na manipulação de informação, devem ser reforçados e renovados os vínculos entre a educação superior, o mundo do trabalho e os outros setores da sociedade. Como uma fonte contínua de treinamento, atualização e reciclagem profissional, as instituições de educação superior devem levar em conta de modo sistemático as tendências no mundo do trabalho e nos setores científico, tecnológico e econômico (...). As instituições de educação superior devem assegurar a oportunidade para que estudantes desenvolvam suas próprias habilidades plenamente com um sentido de responsabilidade social, educando-os para tornarem-se participantes plenos na sociedade democrática e agentes de mudanças que programarão a igualdade e a justiça (...).

A didática pode ser vista como ciência aplicada no processo de ensino e

aprendizagem. A universidade que deseja corresponder ao seu motivo existencial precisa ter

em seus quadros docentes que evidenciem no seu perfil científico e metodológico certas

competências: capacidade de planejar, executar e avaliar didaticamente. Por isso, através

deste artigo, procuramos firmar um norte que possibilite, a partir da didática e do enfoque da

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formação docente, estabelecer vínculos teóricos e metodológicos que contribuam para o

desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem na educação superior; destacamos os

fundamentos teóricos da didática geral; e ainda colocamos em pauta a importância da

aplicação da didática e da metodologia no ensino superior; evidenciamos a importância da

aplicação da metodologia no ensino superior; apresentamos tendências atuais da didática e da

sua aplicação na formação docente.

Através deste desenvolvimento procuramos mostrar que se a didática for

conhecida, aprendida e aplicada construirá qualitativamente o docente e o processo

educacional no qual ele está inserido.

Definimos que para a didática qual a sua finalidade, e qual o seu papel,

evidenciaremos a importância da capacitação docente em didática. Mostraremos a presença da

didática no inter-relacionamento professor e aluno. Segundo Gil (2010, p.2), didática é a “arte

de ensinar.” Ele segue citando Comenius, que afirmava que didática é a “arte de ensinar tudo

a todos” e Masetto, que diz que didática “é o estudo do processo de ensino-aprendizagem em

sala de aula e de seus resultados”. Uma universidade moderna, adequada e que corresponda às

necessidades atuais deve possuir professores com perfil científico metodológico que atendam

as competências necessárias: capacidade de planejar, executar e avaliar didaticamente.

Falando acerca de didática Libâneo diz:A didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direção e orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança profissional. (LIBÂNEO, 2002, p.5).

O professor deve ser um conhecedor da disciplina que aplica; uma pessoa versátil

e abrangente no campo do saber, permanentemente aberto para a investigação e atualização de

conhecimento. Precisa enxergar o que acontece em sala de aula, como os alunos aprendem e

apreendem o que está sendo ensinado, como organizar espaço e tempo, que estratégias de

intervenção são mais oportunas no âmbito do ensino-aprendizagem.

Ao falar da capacitação docente Perrenoud diz:Por isso, é preciso limitar-se ao fato de que os professores saibam razoavelmente mais que seus alunos, que não descubram o saber a ser ensinado na véspera de sua aula e que o dominem suficientemente para não se sentirem em dificuldade ante o menor problema imprevisto (...). Quanto mais avançamos rumo a didáticas sofisticadas, pedagogias diferenciadas e construtivistas mais esperaram que o professor tivesse domínio dos conteúdos que lhe permita não só planejar e ministrar cursos, mas também partir das perguntas dos alunos, de seus projetos e intervir na regulação de situações de ensino aprendizagem que podem ser muito menos

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planejadas que uma sucessão de lições (...). Em suma, a aparente evidência de que “deve saber o que ensina” abrange uma grande diversidade de representações quanto à extensão dos saberes a dominar, à natureza desse domínio, com relação ao saber que ele envolve e aos seus vínculos com a transposição didática. (PERRENOUD, 2001, p.16,17).

Este campo apresentará a interdependência entre didática e metodologia.

Destacará o valor que a universidade e o professor devem conceder a metodologia. Mostrará o

papel da metodologia no processo de ensino e aprendizagem. Antes de apresentar alguns

aspectos efetivamente práticos da metodologia pretende-se destacar modelos inerentes a

historicidade da mesma que influenciaram, e porque não dizer, que ainda influenciam o nosso

processo de ensino universitário. O modelo jesuítico, segundo Castanho citando Ullmann e

Bohnen possui a seguinte característica:(...) Desenvolvia-se em dois momentos fundamentais: a lectio, significando leitura de um texto, com interpretação dada pelo professor, à análise de palavras, destaque e comparação de idéias com outros autores, e a quaestio, isto é, perguntas do didascalus aos alunos e destes ao mestre. (CASTANHO, 2009, p.58).

Este método está fundamentado na escolástica, que tem por objetivo a exatidão

analítica dos temas, a clareza dos conceitos e definições, a argumentação precisa, a expressão

rigorosa. Destacam-se a figura do professor, a aula expositiva, exercícios para ser resolvido,

controle docente dentro e fora da sala de aula, hierarquia e organização de estudos,

memorização (CASTANHO 2009).

O modelo francês apresenta as seguintes características: (...) O modelo francês-napoleônico, que se caracterizava por uma organização não universitária, mas profissionalizante, centrada nos cursos/faculdades (...). Do ponto de vista metodológico, entretanto, a maneira como se efetiva a relação professor/aluno/conhecimento para um ensino eminentemente profissionalizante, centrado no professor repassador e no estudo das obras clássicas de cada época – a aceitação passiva das atividades propostas, o papel da memorização do conteúdo (...), e a força da avaliação (...) – mantém e reforça elementos do ensino jesuítico (...). (CASTANHO, 2009, p.61,62,63).

Até o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em l961, o

ensino superior estava estruturado, em suas bases fundamentais, sendo os termos dos Decretos

nº. l9.851 (relativo à organização das universidades brasileiras), nº. l9.852 (relativo à

reorganização da Universidade do Rio de Janeiro e do ensino superior brasileiro), e o de nº.

l9.850 (que criava o conselho Nacional de Educação definindo suas funções), sendo todos eles

de abril de l931, decorrentes de Reforma Francisco Campos I. Das Diretrizes contidas nestes

documentos legais destacamos o duplo objetivo a ser alcançado pela Universidade:

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“(...) Equipar tecnicamente as elites profissionais do país e proporcionar ambiente propício às vocações especulativas e desinteressadas, cujo destino, imprescindíveis à formação da cultura nacional, é o da investigação e da ciência pura” (OLIVEIRA. 2003 p. 70).

Taís diretriz ressalta ainda que o papel da Universidade não pode ser restrito ao

aspecto didático, mas engloba também o social:“(...) transcendente ao exclusivo propósito do ensino (é uma unidade social ativa e militante), isto é, um centro de contato, de colaboração e de cooperação, de vontades e de aspirações, uma família intelectual e moral, que não exaure a sua atividade no círculo dos seus interesses próprios e inéditos, sendo que como unidade viva, tende a ampliar no meio social, em que se organiza e existe, o seu círculo de ressonância e de influencia exercendo nele uma larga, poderosa e autorizada função educativa.” (OLIVEIRA. 2003 p. 56).

Segundo observações de OLIVEIRA (2003) tais objetivos eram muito amplos e,

inclusive, demasiado otimistas para uma época em que havia poucas escolas, mesmo para

atender uma minoria privilegiada, de forma adequada. Ainda que ressaltasse a finalidade

social da Universidade, a autora nos adverte de que a escola de nível superior, nas suas

origens, se apresentava como altamente hierarquizada, “rígida e elitista”, que “pouco se

comunicava com a sociedade de que em parte”. Estes documentos já evidenciavam a idéia de

que o ensino superior deveria assumir, de preferências, a forma Universidade (prévia a

existência de pelo menos três estabelecimentos de ensino superior para a constituição de uma

Universidade), podendo ainda ser ministrado em estabelecimentos isolados.

Este tipo de orientação, seguido, posteriormente, da criação em l934, contudo, não

foram suficientes para organizar, os moldes universitários, o sistema de ensino superior

brasileiro.

As universidades foram criadas sem reais possibilidades de se desenvolverem a

partir dos modelos que orientavam estas instituições em nações mais desenvolvidas. Um

segundo momento, bastante significativo para o desenvolvimento do ensino superior, ocorreu

a partir da aprovação da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de l961 – Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional – LDB, que, através de seu artigo 67 dispõe: “O ensino superior será

ministrado em estabelecimentos agrupados ou não, em universidades, com a cooperação de

institutos de pesquisa e centros de treinamentos profissionais” A LDB, portanto, confirmou a

possibilidade do ensino superior efetivar-se em estabelecimentos isolados, o que, segundo

Fávero (l977) representou um retrocesso para o desenvolvimento do sistema universitário

brasileiro de forma integrada.

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1.1– A DIDÁTICA NO ENSINO SUPERIOR

Durante muito tempo prevaleceu no âmbito do Ensino Superior a crença de que,

para se tornar um bom professor neste nível, bastaria dispor de comunicação fluente e sólidos

conhecimentos relacionados à disciplina que pretendesse lecionar. A justificativa dessa

afirmação fundamentava-se no fato de o corpo discente do ensino básico, constituído por

crianças e adolescentes. Assim, esses alunos não necessitariam do auxilio de pedagogos.

Aliás, o próprio termo pedagogia tem sua origem relacionada à palavra criança

(grego: pai dos = criança; gogein = conduzir).

Os estudantes universitários, por já possuírem uma “personalidade formada” e por

saberem o que pretendem não exigiriam de seus professores mais do que competência para

transmitir os conhecimentos e para sanar suas dúvidas.

Por essa razão é que até recentemente ao se verificar a preocupação explicita das

autoridades educacionais com a preparação de professores para o Ensino Superior. Ou

melhor, preocupação existia, mas com a preparação de pesquisadores, ficando subentendido

que quanto melhor pesquisador fosse mais competente professor seria.

Hoje são poucas as pessoas envolvidas com as questões educacionais que aceitam

uma justificativa desse tipo. O professor universitário, como o de qualquer outro nível,

necessita não apenas de sólidos conhecimentos na área em que pretende lecionar, mas

também de habilidades pedagógicas suficientes para tornar o aprendizado mais eficaz.

Além disso, o professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser

humano, de ciência e de educação compatível com as características de sua função. As

deficiências na formação do professor universitário ficam claras nos levantamentos que são

realizados com estudantes ao longo dos cursos.

Nestes é comum verificar que a maioria das críticas em relação aos professores

refere-se à “falta de didática”. Por essa razão é que muitos professores e postulantes a

docência em cursos universitários vem realizando cursos de Didática do Ensino Superior, que

são oferecidos em nível de pós-graduação, com uma frequência cada vez maior, por

instituições de Ensino Superior.

O termo didática deriva do grego didaktiké, que tem o significado de arte do

ensinar. Seu uso difundiu-se com o aparecimento da obra de Jan Amos Comenius (l592 –

l670), Didática Agna, ou Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, publicada em

(l657). Nos dias atuais, deparamo-nos com muitas definições diferentes de didática, mas

quase todas se apresentam como ciência, técnica ou arte de ensinar.

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Uma definição obtida em dicionário a vê se como “parte da Pedagogia que trata

dos preceitos científicos que orientam a atividade educativa de modo a torná-la mais

eficiente” (HOUAISS, 2001. pg. 22).

Com efeito, a Pedagogia é reconhecida tradicionalmente como a arte e a ciência

de ensinar. Para Masetto (l977, p. 32), Didática é “o estudo do processo de ensino-

aprendizagem em sala de aula e de seus resultados” e surge, e para Libâneo (l994, p. 58),

“enquanto os adultos começam a intervir na atividade de aprendizagem das crianças e jovens

através da direção deliberada e planejada do ensino, ao contrário das formas de intervenção

mais ou menos espontâneas de antes”.

Até o final do século XIX, a Didática encontrou seus fundamentos quase que

exclusivamente na Filosofia. Isso pode ser constatado não apenas nos trabalhos de Comenius,

mas também nos de Jean Jacques Rousseau (l712-l778), Johann Heinrich Pestalozzi (l746-

l827), Johann Friedrich Herbart (l777-1841) e de outros pedagogos desse período.

As obras desses autores, no entanto, mostraram-se bastante adiantadas em relação

às concepções psicológicas dominantes em seu tempo. A partir do final do século XIX, a

Didática passou a buscar fundamentos também nas ciências, especialmente na Biologia e na

Psicologia, graças às pesquisas de cunho experimental.

No inicio do século XX, por sua vez, surgiram numerosos movimentos de reforma

escolar tanto na Europa quanto na América. Embora diversos entre si, esses movimentos

reconheciam a insuficiência da didática tradicional e aspiravam a uma educação que levasse

mais em conta os aspectos psicológicos envolvidos no processo de ensino.

Costuma-se reunir essas tendências pedagógicas sob o nome de Pedagogia da

“Escola Nova” ou da “Escola Ativa”.

A literatura referente a essas tendências é muito extensa e envolve obras de

autores como: Ovide Decroly (l871-l973), da França, Édouard Claparéde (l873-l940), da

Suíça, de John Dewey (l859-l953), dos Estados Unidos.

O movimento escola novista surgiu como uma nova forma de tratar os problemas

da educação, procurando fornecer um conjunto de princípios tendentes a rever as formas

tradicionais de ensino. A Escola Nova pretendia ser um movimento de renovação pedagógica

1.2 – O USO DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DOCENTE

A palavra Didática, que deriva do grego Didaktiké, que quer dizer a arte de ou do

ensinar. Seu uso espalhou-se com o surgimento da obra de Jan Amos Comenius (l592 – l670).

Até o final do século XIX a Didática encontrou seus fundamentos quase que somente na

Filosofia. Isso pode ser constatado não apenas nos trabalhos de Comenius, mas também nos

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de Jean Jacques Rousseau (l712-l778), Johann Heinrich Pestalozzi (l746-l827), Johann

Friedrich Herbart (l777-1841) e de outros pedagogos dessa época.

As obras desses autores, no entanto, mostraram-se bastante adiantadas em relação

às concepções psicológicas dominantes para aquela época.

A partir do final do século XIX, a Didática passou a buscar fundamentos também

nas ciências, especialmente na Biologia e Psicologia, graças às pesquisas de cunho

experimental. Já no inicio do século XX, por sua vez, surgiram numerosos movimentos de

reforma escolar na Europa e na América. Embora diversos entre si, esses movimentos

reconheciam a insuficiência da didática tradicional e moral, onde aspiravam a uma educação

que levasse mais em conta os aspectos psicológicos e sociais envolvidos no processo de

ensino e não na aprendizagem.

Para isso reuniu-se essas tendências pedagógicas sob o nome de Pedagogia da

“Escola Nova” ou ainda “Escola Ativa”. A literatura referente a essas tendências é muito

extensa e envolve obras de autores como: Ovide Decroly (l871-l973), da Suíça, de John

Dewey (l859-l953), dos Estados Unidos. Esses movimentos surgiram dentro de um contexto

histórico-social e até mesmo politico, que teve como foco principal o processo de

industrialização e educacional, com a burguesia industrial firmando-se como classe

hegemônica e interessada, consequentemente, na difusão de suas idéias liberais e autarquistas.

No início da década de l950 até o final da década de l970, o ensino da Didática

privilegiou métodos e técnicas de ensino com vistas a garantir a eficiência da aprendizagem

dos alunos e a defesa de sua neutralidade cientifica. O tecnicismo passou a assumir uma

posição fundamental no discurso educacional e consequentemente no ensino da didática

enquanto disciplina acadêmica, a didática passou a enfatizar a elaboração de planos de ensino,

a formulação de objetivos instrucionais, a seleção de conteúdos, as técnicas de exposição e de

condução de trabalhos em grupo e a utilização de tecnologias a serviço da eficiência das

atividades educativas.

A didática passou a ser vista principalmente como um conjunto de estratégias para

proporcionar o alcance dos produtos educacionais, confundindo-se com a Metodologia de

Ensino. Seus propósitos eram, pois, os de “fornecer subsídios metodológicos aos professores

para ensinar bem, sem se perguntar a serviço do que e de quem se ensina” (OLIVEIRA, 2003,

p. l3).

Essa tendência acentuou-se com a adoção das políticas de cunho

desenvolvimentista pelo governo militar que se instalou em l964, que tinha a formação de

mão-de-obra como a referencial central da educação.

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1.3 – ENSINO E A APRENDIZAGEM COM A DIDÁTICA

Uma das principais questões relacionadas à atuação do professor no ensino

superior refere-se à relação entre ensino e aprendizagem. Trata-se de um assunto bastante

polêmico, apesar de alguns autores considerarem uma falsa questão. Para Abreu e Masetto

(l986), uma das mais importantes opções feitas pelo professor dá-se entre o ensino que

ministra ao aluno e a aprendizagem que este adquire.

Muitos professores, ao se colocarem à frente de uma classe, tendem a se ver como

especialistas na disciplina que lecionam a um grupo de alunos interessados em assistir a sua as

aulas. Dessa forma, as ações que desenvolvem em sala de aula podem ser expressas pelo

verbo ensinar ou por correlatos, como: instruir, orientar, apontar, guiar, dirigir, treinar,

formar, amoldar, preparar, doutrinar e instrumentar. A atividade desses professores, que, na

maioria das vezes, reproduz os processos pelos quais passaram ao longo de sua formação,

centraliza-se em sua própria pessoa, em suas qualidades e habilidades. Assim, acabam por

demonstrar que fazem uma inequívoca opção pelo ensino.

Esses professores percebem-se como especialista em determinada área do

conhecimento e cuidam para que seu conteúdo seja conhecido pelos alunos. “A sua arte é a

arte da exposição” (LEGRAND, 1976, p.63). Seus alunos, por sua vez, recebem a informação,

que é transmitida coletivamente. Demonstram a receptividade e a assimilação correta por

meio de “deveres”, “tarefas” ou “provas individuais”. Para isso suas preocupações básicas

podem ser expressas por indagações “Qual critério deverá utilizar para aprovar ou reprovar os

alunos?”.

À medida que a ênfase é colocada na aprendizagem, o papel predominante do

professor deixa de ser o de ensinar, e passa a ser o de ajudar o aluno a aprender. Neste

contexto, educar deixa de ser a “arte de introduzir idéia na cabeça das pessoas, mas de fazer

brotar idéias” (WERNER, BOWER, 1984, p. 1-15).

As preocupações básicas desses professores por sua vez, são expressas em

indagações como; “Quais as expectativas dos alunos? “Em que medida determinado

aprendizado poderá ser significativa para eles”? “Quais as estratégias mais adequadas para

facilitar seu aprendizado”?” Consciente ou inconscientemente, os professores tendem a

enfatizar um ou outro pólo, o que faz com que sua atuação se diversifique significativamente.

Em apoio à postura que enfatiza o ensino, costuma-se lembrar de que o magistério

é uma vocação, que a missão do professor é a de ensinar, que para isso é que ele se preparou e

que, à medida que seja um especialista na matéria e que domine por meio da metodologia de

ensino, o que é repassado aos alunos.

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Muitas críticas, no entanto, têm sido feitas à postura dos professores que conferem

maior ênfase ao ensino. Segundo CANDAU (2009, p.36): “mas a ênfase na aprendizagem, a

despeito de seus inegáveis méritos humanistas e do embasamento nas modernas teorias e

pesquisas educacionais, também tem gerado equívocos”. Há professores que exageram o peso

a ser atribuído às qualidades pessoais de amizade, carinho, compreensão, amor, tolerância e

abnegação e simplesmente incluem a tarefa de ensinar de suas cogitações funcionais.

Alicerçados no principio de que “ninguém ensina ninguém”, atribuído a Rogers, muitos

professores simplesmente se eximem da obrigação de ensinar.

Na verdade, o que passam a fazer nada mais é que, mediante o argumento da

autoridade, dissimular sua competência técnica. Além disso, à medida que esses professores

desprezam a tarefa de ensinar, “entram no jogo das classes dominantes, pois a estas interessa

um professor bem comportado, um missionário de um apostolado, um abnegado; tudo, menos

um profissional que tem como função principal o ensino” (CASTRO, 1991. p. 15-25).

Para muitos professores universitários, essa polemica não existe. Boa parte desses

professores aprendeu seu oficio como os antigos aprendiam: fazendo. Os professores

universitários não recebem preparação pedagógica especifica e menos ao longo da sua vida

profissional raramente tem a oportunidade de participar em cursos, seminários ou reuniões

sobre os métodos de ensino e avaliação da aprendizagem. A pedagogia fica, portanto, ao sabor

dos dotes naturais de cada professor.

O que de fato ocorre é que a grande maioria dos professores universitários ainda

vê o ensino principalmente como transmissão de conhecimento através das aulas expositivas.

Muitos estão certamente atentos às inovações pedagógicas, sobretudo no referente

à tecnologia material de ensino, mas muitos outros mantêm uma atitude conservadora. Isto

não significa que a generalidade dos professores negligencie a qualidade do ensino a que são

devotados, mas que, de modo geral, não tem incentivos para desenvolver a sua capacidade

pedagógica e que, muitas vezes, nem dispõe de informação complementar necessária para a

solução de problemas concretos, estruturando racionalmente os conhecimentos que vai

adquirindo, entrelaçando o que lhe é transmitido com o que ele próprio procura.

Com isto, o ensino passa a ser mais do que a transmissão de conhecimento. Passa

a exigir o fornecimento de métodos e de ferramentas para o desempenho desse papel ativo.

Dessa forma, a atenção principal na ação educativa transfere-se, em grande parte, do ensino

para a aprendizagem. Assim, o professor, mais do que transmissor de conhecimento, é um

facilitador da aprendizagem. Embora a polêmica persista, não é difícil constatar que o ensino

torna-se muito mais eficaz quando os alunos de fato participam.

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As aulas tornam-se muito mais vivas e interessantes quando são entrecortadas

com perguntas feitas aos alunos. Elas conduzem a rumos diferentes, conforme as respostas

dos alunos. Uma resposta suscita uma informação adicional que suscita outra pergunta e,

consequentemente, outra resposta. Dessa forma, as aulas passam geralmente a requerer uma

breve revisão, que é feita coloquialmente com a participação dos alunos.

CONCLUSÃO

Quando nos referimos às necessidades dos estudos didáticos dirigidos ao ensino

de nível superior, a sua aplicação e investigação aos problemas pedagógicos deve levar cada

docente a fazer uma autocrítica e a tomar consciência de suas responsabilidades, e

principalmente buscar a melhor forma de desempenhar suas funções e por sua vez fazer

experiências pedagógicas que vise aperfeiçoar os diversos tipos de atividades que

caracterizam tais funções, em particular podemos citar as voltadas à sistematização e

transmissão do conhecimento, sem deixar em segundo plano ou de lado as responsabilidades

propriamente educativas.

O Ensino enquanto uma arte prática, que deve adquirir um caráter cada vez mais

científico está inserida neste processo o docente competente que por sua vez pode ser

comparado com um artista na medida em que, enquanto professor, também faz uso da

intuição, da sua capacidade de comunicação, fazendo-se entender na mensagem que pretende

repassar aos estudantes, a arte por sua vez envolve a escolha de um determinado padrão de

expressão e a seleção das técnicas de expressão que correspondem ao padrão escolhido, desta

forma podemos dizer que a arte de ensinar consiste em definir uma atitude educativa e

escolher “com acerto” as técnicas, ferramentas eficazes que correspondem aos objetivos que

nos propomos realizar quanto docente, transmissor do conhecimento.

Descobriu-se que a didática, vista como ciência e a arte de ensinar, aplicada com

padrões metodológicos contextualizados e eficientes, construirão por meio da difusão do

conhecimento existente, seres humanos realmente inteligentes, integralizados e socialmente

bem definidos. Logo, percebeu-se que a didática, quando conhecida e aplicada efetivamente,

torna-se veículo de validação da necessidade do corpo docente como elemento facilitador do

processo de ensino e aprendizagem, e da universidade como instituição detentora e

divulgadora de conhecimentos.

Sob uma perspectiva educacional moderna, consideramos uma visão docente e

universitária inovadora necessária aos novos tempos e apresentamos um tipo de mentalidade

que deve existir nas universidades e nos docentes.

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E é com esta visão que nos é transformadora, pois trabalha para criar uma mente

globalizada em um mundo globalizado; busca constantemente o desenvolvimento pessoal e

institucional; aguça a dúvida e combate a conformação com a mediocridade; planta a

cooperação e desestimula a concorrência egoísta; impulsiona e fortalece a educação; desperta

e alimenta uma mente que aprende e apreende criativamente. Neste contexto a didática é

instrumento facilitador, que ajuda no cumprimento da visão e também propicia a interação e o

crescimento das partes: universidade, aluno, docente, sociedade. Por isso, a sua importância e

necessidade na formação docente e no plano universitário.

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