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número 11-12 NOVEMBRO-DEZEMBRO 2019 O Pai pronunciou uma Palavra: seu Filho. E no silêncio deve ser escutado pela alma. São João da Cruz

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    O Pai pronunciou uma Palavra: seu Filho.E no silêncio deve ser escutado pela alma.São João da Cruz

  • Publicação enviada gratuitamente aos associados

    união • Nº 11-12 • Novembro-dezembro 2019 • ano 99ºRegist. del Trib. di Roma n. 552/97 del 10.10.1997 - nuova serie - Iscriz. R.N.S. ID750

    Associato Unione Stampa Periodica Italiana

    Direção e Redação: Via Gregorio VII, 133/B int. 4 - 00165 Roma tel. 06.635692 - fax 06.39375131e-mail: [email protected]

    ccp. 64962004 intestato a: Confederazione Mondiale Exallieve/i delle FMAVia Gregorio VII, 133/B int. 4 - 00165 Romasito: www.exallievefma.org

    Editor:Confederação MundialEx-alunas/os das F.M.A.

    Redação:Director responsável

    Concetta Apolito ZecchinoVice-director

    Anna Maria Musso FreniGruppo redazionale

    A. M. Musso FreniCristiana Mariani CasiraghiGabriela PatiñoGianni RadaelliLaura Pollino RavarinoLorenzo Trapassi

    Colaboraram neste número:Antonio Martinelli SDBAnita ZolfiniRaffaela Messina

    Serviço gráficaCristiana Mariani Casiraghi

    Secretaria, administração e envio

    Marta Bovese FerrariGiuliana Ceccarelli MossiniElena Mattiacci Fioravanti

    Traduções:Ana Margarida Pires: português

    Tipolitografia:Istituto Salesiano Pio XI Via Umbertide, 11 - 00181 Romae-mail: [email protected] n o n°. 9-10 2019, foi entregue aos correios

    14 outubro 2019n Este número foi imprimido

    no mês de novembro de 2019

    Sum

    ário

    No princípio a Palavra Façam aquilo que vos diráTu também és luz de Natal quando iluminas... Papa Francisco 5Dom Bosco “Santo” de A. Martinelli 6

    A voz do PapaGreta e Francesco Salvamos a terra de A.M. Musso Freni 8

    Santos em caminhoOs santos e as visões de Natal da Redação 10

    Amor preferencial pelos jovens da G. Patiño 13“Ela fez tudo”

    Prascondù Santuário em val Soana de L. Pollino 15Conto de Natal 18

    Caminhamos juntos No Carisma dos Fundadores

    Um pensamento para viverO comentário do diretor

    FELIZ NATAL, a cada um o seu de C. Apolito 4

    As mãos no mundo Empenho sem fronteirasEles sabem de A. Ciquera 29De Giaveno a Bombay para reencontrar um milagre de A. Zolfini 30Ler é uma aventura

    Quis contra nos de L. Trapassi 32

    Família torna-te naquilo que és Explorar o mundo das relaçõesFamílias de acolhimento acolher e de R. Messina 33

    Terceiro Milénio O presente que já é futuroCréditos Finais

    As mulheres que mudaram a história de C. Mariani 34

    A prenda mais bonita é dar felicidade aos outros de M. Maghini 3

    Carta da Presidente

    Da Argentina Viajar ao fim do mundo as Ex-Alunas/os da Federação da Argentina 20De Giaveno (Turim, Itália) Nos passos da Auxiliadora há mais de oitenta anos de A. Zolfini 21De Jerago (Varese, Itália) Reencontrar-se entre Ex-Alunas faz bem ao coração! de G. Martinelli 23De Cesuna (Vicenza, Itália) Fios, fiados, tecidos e rendas de G. Gambarin 25De Novara (Itália) Ex-Alunas reunidas 26Da Fed. Piemontesa (Itália) Maria Auxiliadora Saudação à irmã Maddalena das/os Ex-Alunas/os 27De Cavagnolo (Turim, Itália) Jornada social com grande participação das Ex-Alunas 28

    A associação é Vida Testemunhas de uma identidade

  • “Jesus, eu também sou uma criança. Vejo que todos pensam noNatal como uma festa de prendas. As lojas estão cheias de pes-soas que compram árvores, decorações, presépios, doces e muitasoutras coisas.Sou uma criança pobre, sabes Jesus.Eu também posso pedir uma prenda de Natal?Sonho um mundo diferente onde todas as crianças tenham o di-reito de nascer, de viver. Há muitas pessoas que já não têm fa-mília. Vão para a estrada, abandonadas, indefesas, sem casa.Como podem viver assim? Penso, Jesus, que para mudar o mundoé preciso vencer o egoísmo e abrir o próprio coração aos outros.Porque é que os homens estão tão divididos e fechados em sipróprios que não se preocupam com os outros? Não é verdadeque Deus é o Pai de todos nós? Eu acredito, Jesus, que somosirmãos e irmãs. Mas vejo à minha volta muitos adultos quenão se preocupam com os outros, não sabem ver as lágrimas eos sofrimentos de nós crianças.Tu vieste a este mundo, Jesus, para ajudar-nos a ultrapassar oódio e a violência, para ensinar-nos a amar. Nós, crianças derua, se não encontramos amor na nossa vida, como seremos capazes de acreditar no amor?Jesus, neste Natal, ajuda-nos, numerosos rapazes e raparigas,a ter esperança. Precisamos de muitas coisas. Onde encontra-remos uma casa limpa para viver com a nossa família? Falta otrabalho para ter um ordenado. Somos obrigados a pedir es-mola para não ter fome, estamos sem saúde, sempre commedo de ser usados pelos outros. Seria tão bom poderestudar para aprender uma profissão! Mas ninguémnos ajuda.

    Jesus, como será este Natal? Faz com que todos sejam capazesde descobrir que em cada coração humano há uma grande ca-pacidade de amar. Tu fizeste o nosso coração à imagem do deDeus, para amar e ser amado.Jesus, ajuda as crianças de rua.

    Uma criança”

    E tu, Ex-Aluna/o, o que é que vais fazer pela vida destesmilhões de crianças? O que é que fará a nossa Associa-ção? A sua vida depende de ti, de todos nós. O seu sofri-mento é fruto da nossa injustiça, do nosso consumismo.Não somos capazes de partilhar. Temos de aprender aperceber o olhar, as lágrimas, o sorriso das crianças aban-donadas. As nossas nações, carregadas de armas e de vio-lência, precisam de aprender o caminho do diálogo pelapaz, o perdão, o respeito à liberdade e à dignidade decada pessoa.Que este Natal nos aproxime mais a Nossa Senhora e aoSenhor Jesus e nos empenhe à construção de uma socie-dade mais humana e fraternal. Todas as crianças de ruareencontrarão a esperança de viver consoante nós sere-mos capazes de vencer o egoísmo e de aprender a ver-dadeira solidariedade cristã. “Há mais alegria no dar doque no receber” (Atos 20, 35). Feliz é quem dá.FELIZ NATAL!

    Maria Maghini

    (extrato da NP 2007/10 Don Luciano Mendes)

    Carta da Presidente

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    A prenda mais bonita é dar felicidade aos outros

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    Um pensamento para viver

    FELIZ NATAL, a cada um o seu

    Roubo a ideia para as felicitações de natal deste ano doMons. Tonino Bello que numa carta à sua diocese escre-veu: “O erro está aqui: na pretensão de querer encontrarfórmulas base, boas para todos. Pelo contrário no Natalnão podemos desejar felicitações genéricas”.

    Claro é fácil usar os bilhetes pré-imprimidos com escritoem dourado FELIZ NATAL e PRÓSPERO ANO NOVO.É facílimo enviar e-mails a todos os amigos: cada siteoferece cartões de Natal e nem é preciso digitar a mora-da, basta um click e partem as mensagens para todos osamigos inseridos na rúbrica. Ao contrário, no Natal nãose deviam fazer felicitações genéricas.É diferente desejar um Feliz Natal para ti que te misturasna multidão do centro comercial, à pressa e irritado secalhar, porque tens de encontrar uma prenda para todose não sabes o que escolher, e há gente a mais, e as filaspara pagar parecem infinitas, e já nem te lembras porqueé que no Natal se oferecem prendas. Do que dizer FelizNatal para ti que vens da Ucrânia e és uma assistente do-miciliar para uma simpática idosa, mas deixaste o cora-ção lá, na tua terra, onde os teus filhos nem conseguemimaginar a imensidão de um supermercado ocidental.Dizer Feliz Natal para ti que ouves a Rádio Maria todosas noites, porque as dores da idade não te deixam empaz, e imaginas um Menino Jesus rechonchudo e cor-de-rosa como nas antigas imagens, porque não conse-gues mesmo imaginá-lo como os pequenos mendigosmarroquinos, e rezas-Lhe à sua Mãe com infinitos ter-ços, é muito diferente do que dizer Feliz Natal para tique és missionário e vês todos os dias crianças a morrerde fome como se fossem Jesus, e para ti Cristo é o anún-cio de uma justiça que os homens ainda não souberamrealizar.Feliz Natal para ti que chegas a trabalhar 20 horas pordia porque é o que te pede a carreira e para ti o Natal éum aborrecido almoço com os velhos da família, e estásjá a programar a diversão da Passagem de Ano com osamigos na montanha ou numa fria capital europeia quea agência de viagens ofereceu, e enches a vida de en-

    contros e de coisas para fazer para não teres de te ques-tionar sobre: “Que sentido é que tem?”. É diferente di-zer Feliz Natal para ti jovem voluntário nas ambulâncias,que roubas as horas ao descanso e ao divertimento por-que percebeste que a alegria está no tornar-se próximo.Ou a ti catequista dos jovens da iniciação a quem dedi-cas as tuas energias, amor, orações e todo o entusiasmoque consegues manter vivo para além das dificuldadesde serem muitas vezes ouvidas. Ou a ti reformado “ain-da capaz” que tomas conta da Igreja como se fosse a tuacasa e também te preocupas este ano que o presépiotraga maravilha e saudade.Dizer Feliz Natal para ti, doente sem esperança, queprocuras nos olhares de quem te está ao lado as respos-tas aos teus porquês e encontras a coragem de enfrentareste último ato da tua vida simplesmente pensando na-quele Homem que enfrentou outro Calvário, é diferentedo que dizer Feliz Natal para ti recém-nascido suave edoce, promessas do futuro para um mundo que achaque já não tem.No entanto, Feliz Natal a todos, porque aquele Meninoque nasceu numa gruta não está à espera de um nossoreconhecimento oficial: ama-nos e ponto final!

    Concetta Apolito

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    No princípio a PalavraFaçam aquilo que vos dirá

    Tu também és luz de Natal quando iluminascom a tua vida o caminho dos outroscom a bondade, a paciência, a alegria e a generosidade.O anjo de Natal és tuquando cantas ao mundo uma mensagemde paz, de justiça e de amor...

    Papa Francisco

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    DOM BOSCO “SANTO”Santo como educador, educador formador de santo

    de Antonio Martinelli *

    INTRODUÇÃODom Bosco é conhecido e reconhecido, na Igrejae na sociedade no mundo, como pai mestre eamigo dos jovens: o SANTO DOS JOVENS, preci-samente.É caraterística da sua experiência humana e cristã,a síntese pessoal e operativa, entre santidade e edu-cação, oferecendo à Igreja os primeiros santos jo-vens não mártires e não religiosos, Domingos Sávioe Laura Vicuña.

    Os Salesianos, celebrando os 100 anos da morte deDom Bosco em 1988, formularam e apresentaram,por iniciativa do Reitor Mor Dom Egídio Viganò,um pedido desejado pelo Papa da altura, São JoãoPaulo II: dar a Dom Bosco o título – seria conside-rado pela primeira vez e como novidade absoluta– de “doutor em educação”.A decisão pareceu fora do normal e da tradição, ea instância não se voltou a repetir. No entanto, sãoduas coisas diferentes: ter um título reconhecidooficialmente e possuir concretamente o conteúdodo título. Dom Bosco certamente tem a substânciado “doutor em educação”.

    Quis pesquisar na internet temáticas que são ofe-recidas pelo instrumento digital clicando nas duaspalavras juntas “educação e santidade”. Para minhasurpresa encontrei, e não só no campo salesiano,mas também para além dos nossos ambientes, re-ferências significativas e de interesse, para os quetêm vontade de continuar a pesquisa.Tentem vocês também seguir as muitas indicaçõese ficaram surpreendidos como eu fiquei.

    EDUCAÇÃO – EVANGELIZAÇÃOAs perguntas que nascem ao aproximar as duas pa-lavras são muitas.Primeiro vou exprimir algumas certezas que guiam

    a vida no mundo, debaixo de qualquer céu. Depoisvou refletir nas dúvidas que vamos enfrentar.Antes de mais nada as nossas convicções:Cada civilização encontra as suas raízes na culturaque se solidificou no tempo, recolhendo todas asexperiências e os estímulos que nasceram da expe-riência, concreta ou reflexiva, dos jovens e dosadultos.Por outras palavras cada civilização é filhada cultura.Não podemos esquecer ou ignorar o facto que acultura é nutrida, apoiada e reformulada por aquelefrágil instrumento (frágil mas indispensável instru-mento) à qual chamamos educação. Quando entraem crise a educação entram diretamente em criseos calores de uma cultura e de uma civilização.Tudo isto mostra, se for necessário evidenciá-lo, adeterminante importância, na vida da pessoa e dospovos, dos processos educativos. É mesmo aquique colocamos a figura de Dom Bosco que, por vo-cação superior, dedicou a sua vida aos jovens e aoseu crescimento humano profissional e cristão.

    Aqui surge o pedido de explicações na relaçãoentre EVANGELIZAÇÃO – EDUCAÇÃO, porque nagíria é fácil usar o lema: evangelizar educando eeducar evangelizando, encontrando depois maiordificuldade em mostrar a correlação das duas partes.Como deve ser utilizada esta expressão? O que éque quer comunicar? Qual é a relação a estabele-cer? Vem primeiro a evangelização e só depois aeducação? Ou é exatamente o contrário, primeiroa educação e depois a evangelização?Geralmente esta maneira de pensar considerada epreocupa-se pelos aspetos de valor apresentadospela Palavra de Deus que ultrapassam todas as pa-lavras dos homens até os mais sábios.Ou então toma em consideração os aspetos crono-lógicos no trabalho concreto e quotidiano: tratamos

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    Faça o que ele lhe disserda evangelização e também atingiremos o objetivode pôr em ordem a educação. Por outro lado, ou-tros defendem o contrário.Após todos os possíveis raciocínios, temos que che-gar à conclusão que as duas realidades (evangelizare educar) têm significados (a evangelização diz equer coisas que não estão na educação) e perspe-tivas (a evangelização é relativa à relação Deus –Homem, e a educação à relação Homem –Mundo) que nunca se poderão encontrar?

    Não há dúvidas que temos que rever significados eperspetivas das duas palavras em questão, não sóvista pelos olhos da tradição que durou até hoje,mas também confrontando-a com o caminho per-corrido pelas ciências do homem e da melhor in-teligência da Palavra de Deus através da reflexãodo Concílio Vaticano II.A verdadeira questão torna-se na seguinte: o que éque diz e traz o Evangelho do Senhor Jesus à edu-cação? E o que é que diz e traz a educação aoEvangelho de Jesus de Nazaré?

    UMA PISTA PARA MAIS UM CAMINHODesde sempre na reflexão humana (para indicar sóalguns nomes conhecidos por todos como Isócra-tes, Platão, Aristóteles), a educação foi consideradao “florescer do humano”.Recentes estudos, algo estimulante para todosaqueles que se referem a Dom Bosco como edu-cador, indicam a educação “como cura e comopleno florescer do ser humano”.

    Primeiro vem a evangelização e só depois a educação?Ou é exatamente o contrário?

    Continuando com este pensamento, o Papa Fran-cisco chega a concluir, com simplicidade e com de-cisão na exortação apostólica Gaudete et exsultate,que a santidade é florescer do ser humano, e quemora na porta ao lado da minha.A educação é indispensável para a plenitude devida, para a pesquisa e obtenção da felicidade, dabeatificação, da bela vida.Os itinerários percorridos pela evangelização e pelaeducação podem ser diferentes, mas a meta é amesma.

    Monsenhor Domenico Pompili, Bispo de Rieti, temuma passagem intermediária que explica mais ime-diatamente o objetivo partilhado pela evangeliza-ção e pela educação: o amor. Afirma e proclama:o florescer do ser humano é a caridade.Voltando a Dom Bosco temos de afirmar que o sis-tema preventivo com as suas exigências de Razão,Religião, Amabilidade, e as suas metodologias deacompanhamento no crescimento harmónico dohomem responde brilhantemente à exigência doencontro com a evangelização, para um diálogomútuo e profícuo, vendo a santidade. Um diálogoque saiba tomar em consideração a renovação, deconteúdo e de perspetiva, das “palavras-chave” tí-picas da educação salesiana, para que não sejammudas ou pior ainda contraproducentes hoje emdia.São testemunhas Domingos Sávio e Laura Vicuña emuitos outros jovens no mesmo caminho de edu-cação – santidade. * SDB

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    Greta e FraNCisCosalvamos a terra

    de Anna Maria Musso Freni *

    Conhecemo-la bem, a Greta Thunberg. Vimo-lasentada de peito inchado ao lado dos grandes daONU, ouvimo-la falar com tons duros, acusatórios,aos potentes que dominam a cena política mundial.Esta jovem, candidata ao prémio Nobel, levou con-sigo os jovens de meio mundo no protesto para obtersoluções políticas às catástrofes ecológicas que amea-çam a humanidade.E mesmo se há alguém que malignamente perguntaquais interesses económicos rodam à volta das grevesescolares da pequena sueca, e quem observa que,em vez de manifestar nas praças, os jovens deveriamempenhar-se mais seriamente no estudo e dedicar-se a atividades concretas, foi bonito ver os estudantesmobilizar-se por um problema que interessa o futurodo mundo. É importante lembrar que, para além demanifestar, nalgumas cidades os estudantes empe-nharam-se em limpar as ruas, as praças, os leitos dosrios.

    O tom do seu protesto é duro e polémico; escolheas suas ações baseando-se numa cultura pragmática,da necessidade de respostas rápidas e imediatas, daraiva absorvida através dos média. Diferente é a visãoque o Papa Francisco tem do problema, magistral-mente afrontado em “Laudato si” e relembrado nasrecentes viagens africanas, nas audiências semanais,nas orações dominicais. Os tons do Papa não sãoagressivos ou polémicos e a sua perspetiva ecológicatem uma inspiração bíblica que se aproxima à men-sagem da Géneses: “No princípio Deus criou o Céu ea Terra”. A terra, tão linda e luminosa, vista pelo es-paço, assim dizem os astronautas, tão suja, degradadae agonizante, vista ao nível da terra, assim dizem oscientistas.O cristão não pode deixar de ter uma visão éticada ecologia, baseada na relação com Deus, com opróximo e com a Terra. A rotura de uma destas rela-ções cria o pecado, um pecado social que não po-

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    a voz do Papademos ignorar. A Criação é dom deDeus, gerado pelo seu amor, e ohomem é chamado a cuidá-lo, não adominá-lo, submetendo-o e transfor-mando-o. Vítima de um imparável de-sejo de crescimento económico, comfome de poder, doente de individua-lismo, o homem esqueceu a relaçãofranciscana com o cosmo, que consi-dera irmão e irmã cada ser vivo.Atrás da lógica de destruição do pla-neta está um grave erro antropoló-gico, que não considera o bemcomum como um dever e a casacomum como um dom. É a implacá-vel lógica de quem não sabe dar umaresposta ao sentido da vida, ou quenem se questiona sobre ela. A lógica que ignora ovalor de cada ser vivo, que proclama a cultura dodescartável, eliminando indiscriminadamente tudoaquilo que não serve ou que não produz crescimentoeconómico.As políticas surdas relativamente à diferença, à po-breza, à fragilidade, produziram a mudança do clima,às custas dos mais pobres do planeta, a poluição daágua, dificultando o acesso à água potável nos paísesmais degradados, a poluição do ar, especialmente nasgrandes cidades, com a difusão dos fumos tóxicos.Tudo isto, unido às políticas de deflorestação dasgrandes áreas verdes, aos incêndios mais ou menosnaturais nas grandes florestas tropicais, provocou odesaparecimento das biodiversidades, com danos irreversíveis aos ecossistemas.Onde e como são destruídos os perigosos restos daprodução industrial, e, pior, os restos radioativos? Émelhor dize-lo baixinho, mas deveríamos gritá-lo: sãoenviados para as zonas mais deprimidas do globo,onde os pobres adoecem e morrem sem uma razãoaparente.A degradação da Terra, adverte Francisco, é a de-gradação do homem, que tem de redescobrir o sen-tido da própria identidade em Cristo. Nelereencontrar a correta relação com a natureza, Neleque admira os lírios dos campos e os passarinhos docéu, que sabem falar ao vento e acalmar as tempes-tades dos lagos. Que sabia carregar aos ombros a ove-lha rebelde evitando bater-lhe.Numa perspetiva de fé o cristão deve sentir na Cria-ção a linguagem de amor de Deus, encontrar na na-tureza o lugar geográfico do diálogo com Ele. No

    diálogo da oração, ultrapassar o individualismo, des-cobrindo novas formas de relação e participação, va-lorizando a riqueza cultural de todos os povos,modificando o próprio estilo de vida, substituindo acultura do descartável com a da reutilização e da re-ciclagem.Claro, é tarefa dos grandes da política e dos cien-tistas individuar soluções capazes de parar a catás-trofe ecológica, adotar formas de crescimentobaseadasna justiça, na balança da distribuição dosbens da Terra, no diálogo mais profundo entre reli-giões e a ciência.Confiante nas inatas capacidades do homem, o Papaestá convencido que encontrarão as soluções. No en-tanto, relembra que esta também é uma tarefa detodos nós: da escola, da família, da catequese, dasinstituições, que devem educar a um comporta-mento diferente, baseado no respeito da pessoa, natutela da vida em todas as suas formas, na atençãoaos pobres e aos últimos.O convite é endereçado também a nós, simples ci-dadãos, humildes pessoas únicas, para adquirir novoshábitos, aceitando algumas renúncias, deixando-nostransformar pelo encontro com Cristo, vivendo a re-lação com o ambiente, com a contemplação orantede São Francisco.Contemplação onde é possível amar também nador e na morte, na visão escatológica do fim dostempos, onde seremos transformados pela belezade Deus, princípio e fim, Alfa e Omega de todas ascoisas.

    * Ex-Aluna Fed. Piemontesa Maria Auxiliadora

  • da Redação

    SSantos em caminhoOS SANTOS E AS VISÕES DE NATAL

    Alguns Santos tiveram o privilégio que, segundo o Evangelista São Lucas, foi concebido a Simeão: aquele de pegar nos braços o menino Jesus. Descobrimos assim que Bernardo de Chiaravalle, Francisco deAssis e António de Lisboa tiveram a visão do nascimento de Jesus. Em êxtase, Brígida da Suécia viu o partosem dor da Virgem Maria. Entre a imensidão de místicas que viveram a mesma experiência de Edite Stein, convertida do judaísmo ao cristianismo e Maria Valtorta, que escreveu o Poema do homem-Deus.

    São Francisco deixou escrito no escritório da Paixão osmotivos da representação do Presépio: «Porque o san-tíssimo querido menino foi-nos dado, e nasceu paranós pelo caminho, e foi colocado numa manjedoura,porque ele não tinha espaço no hotel. Glória ao Se-nhor Deus no alto dos céus, e paz na terra aos homensde boa vontade».Seguindo o seu exemplo, a poesia franciscana domi-nou sobre este tenro, devoto tema e elevou-o com Ja-copone às sublimes alturas.Do Querido Menino também fala Santo Alfonso deLiguori. Sobre os montes por cima do golfo de Amalfiele viu a miséria dos pastores e dos agricultores a quemnão chegava a instrução religiosa. Então compôs Tuscendi dalle stelle, um canto de natal que rapidamen-te recebeu devoção popular.

    No final da sua jovem vida santa Teresa do MeninoJesus percebe que o cami-nho de Deus é o caminhode amor, o caminho que le-va Jesus a descer até aos ho-mens. Então Teresa escolhea infância espiritual para aqual quer ficar uma meninaentregando-se totalmenteao amor de Jesus. Escreve:«Sou uma menina incapaz,fraca, mas a minha própriafraqueza dá-me a audáciade oferecer-me como víti-ma ao teu amor, Jesus».

    10 união • n. 11-12 - 2019

    Alguns Santos tiveram o privilégio que, segundo o Evan-gelista São Lucas, foi concebido a Simeão: aquele depegar nos braços o menino Jesus. Descobrimos assimque Bernardo de Chiaravalle, Francisco de Assis e An-tónio de Lisboa tiveram a visão do nascimento de Jesus.Em êxtase, Brígida da Suécia viu o parto sem dor da Vir-gem Maria. Entre a imensidão de místicas que viverama mesma experiência de Edite Stein, convertida do ju-daísmo ao cristianismo e Maria Valtorta, que escreveuo Poema do homem-Deus.São Francisco foi um dos poucos que sentiu o fascínioda divina infância; e realizou, em Greccio, o Presépio.É conhecimento comum que, foi o santo ‘pobrezinho’que teve a intuição de recriar as condições que acom-panham o nascimento de Jesus. Tinha a profunda con-vicção da possibilidade de encontrar Deus na históriados homens. Daqui a origem do presépio, sinal de con-solação e de paz, de peregrinação até ao Menino Jesus.

    Lourenço Mónaco Natividade

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    santos em caminhoNão estava nada privada da instrução a irmã de Te-resa, santa Teresa a Abençoada da Cruz. Ela por suavez escrevia: «Pomos as nossas mãos nas mãos doMenino divino, pronunciando o nosso sim em res-posta ao seu “segue-me”, e então seremos uma suacoisa e a sua vida divina pode transbordar livrementeentre nós. Aqui está o início da vida eterna em nós».Os Santos olharam para o Menino Celeste com umespírito onde, à imensa ternura, unia-se um mais vi-vo sentimento de adoração, de gratidão e de indig-nidade. Muitas vezes os anjos estavam presentesnestas visões natalícias como músicos. A Terciáriafranciscana Prudenciana Zagnoni (1583-1608)mística e vidente bolonhesa, conheceu, nos últimosanos da sua breve existência, uma experiência mís-tica tão espetacular que impressionou a sua famíliae os seus confessores, mas também os doutores cha-mados para a curar. Estes últimos verificaram a rea-lidade dos seus estigmas e da coroa de espinhossangrentos que, durante o êxtase, apareceram logoà volta da sua cabeça. Nos meses anteriores à suamorte, as aparições angélicas tiveram numerosastestemunhas. No dia de Natal de 1607, a VirgemMaria apareceu a Prudenciana e depôs-lhe nos bra-ços o Menino Jesus, enquanto os anjos cantavammelodiosamente o Glória in Excelsis. Todos os fami-liares e vizinhos presentes na casa ouviram aquelecanto celeste e foram ao cabeçal da rapariga, ondeviram brilhar uma luz: “da sua pessoa exalava um per-fume dos mais suaves”.

    Na manhã de Natal de 1932, alguns meses antes dasua morte, a pequena Anfrosina Berardi (1920-1933) teve a visão de um coro de espíritos celestesque cantavam os louvores de Deus acompanhando-se com todos os tipos de instrumentos musicais: To-mada por um entusiasmo estático, ela virou-se paraa sua mãe e gritou: “Oh mãe, porque é que não medás uma tromba, um mandolim, um instrumentoqualquer, para que eu possa unir-me aos anjos paracelebrar o Senhor com eles!”. Lembrando-lhe suamãe que eles eram demasiados pobres para comprartais objetos, ela reflete um momento, olhando e ou-vindo sempre, depois, apesar da sua extrema fraque-za, cantou com uma voz de extraordinária pureza:“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terraaos homens por ele amados!”

    A beatificada Ana Catarina Emmerich (1774-1824)freira alemã, beatificada por São João Paulo II em2004, assim começa a descrição daquilo que viu rela-tivamente aos instantes que antecederam o nascimen-to de Jesus Cristo: “Vi a luz, que iluminava a Virgem,tornar-se cada vez mais radiosa, fazendo com que asluzes acendidas por José não se notassem”. Tambémpara Maria, a cheia de graça, o que estava a acontecerera algo impressionante, ao ponto que – continua Em-merich “à meia-noite Maria estava em êxtase, flutuavano ar a alguma distância do chão. Tinha as mãos cruza-das no peito. O esplendor, que A iluminava, tornava-secada vez mais brilhante. Toda a natureza parecia per-meada de júbilo, incluídas as coisas inanimadas. A cordaparecia animar-se ao toque da luz, que a invadia. Umraio de luz, que brilhava cada vez mais, irradiava da Vir-gem e subia até ao mais alto dos Céus. Lá em cima fer-via uma maravilhosa animação de glória paradisíaca,que se aproximava à terra”.

    Mais brevemente, Santa Faustina Kowalska no seu

    Natividade de Ghirlandaio

  • santos em caminhoDiário escreve sobre a “Cabana de Belém inundada detanta luz”.“Enquanto estava em oração, eu – é Santa Brígida daSuécia (séc. XIV) que escreve – vi o Menino mexer-seno seu ventre, e ao mesmo tempo, não, exatamente nomesmo instante, o seu Filho nasceu e dele provinha umindescritível clarão, que o sol não podia igualar. (...)Este nascimento foi de tal maneira rápido e instantâneoque eu não pude observar e identificar como e de qualparte do corpo da Virgem o Menino nasceu. No entantovi logo o Menino nu e resplendente, que descansavano chão. O seu corpo estava limpo e sem qualquer im-puridade”.Ao mesmo tempo a santa ouviu “um suave canto an-gélico muito bonito. Então o Menino começou a chorare tremer pelo frio e pelo desconforto do chão onde es-tava deitado, virou-se lentamente, esticou os braços eprocurou a proteção da Mãe...”.Que mais pode dizer para comunicar o insondávelmistério de amor que se manifesta na divindade e hu-manidade do pequeno Jesus diante da Mãe?Madre Zauli descreve assim as suas visões: “Vi uma

    triste, pobríssima casa, a cena do Natal. A Nossa Se-nhora, no seu aspeto jovial e amável, despunha as suaspequenas coisas com a habitual simplicidade. Depoisvi-a afastar-se e entrar num êxtase de amor, e assim,num esplendor de luz, apareceu no tempo o seu FilhoDivino.Percebi o primeiro instante do Verbo Incarnado, que foiuma palpitação de suavíssimo e inefável amor pelo Di-vino Pai, o qual nele, pequeno menino, depositou todaa sua complacência paterna.Nossa Senhora pegou Jesus ao colo e com profunda hu-mildade, com intensa caridade adorou-o e depois en-tregou-o a São José, e ele também, profundamentecompreendido, aniquilado diante de tanta gradeza,adorou-o; e juntos, a Nossa Senhora e São José, apre-sentaram-no ao Pai Divino.”(Retiro espiritual, 1946 pag. 7).

    Fontes: http://www.miliziadisanmichelearcangelo.org;Elio Guerriero sábado 23 de Dezembro de 2017 - www.avvenire.it;Roberto Lanzilli – Il Timone N. 28 – ANNO V –Novembro/Dezembro 2003 – pag. 42www.lamadredellachiesa.it

    união • n. 11-12 - 201912

    Georges de la Tour Adoração dos pastores

  • união • n. 11-12- 2019 13

    Caminhamos juntosNo Carisma dos Fundadores

    da Irmã Gabriela Patiño, FMA *

    A espiritualidade de que adere à Associação exprime-se no tomar conta dos jovense no amor preferencial a eles (Estatuto 4.3c).

    Amor preferencial pelos jovens

    Todos os jovens merecem confiança, diz Madre Yvon-ne, até aqueles que aos nossos olhos parecem distantes,indiferentes, relutantes a qualquer tipo de proposta.Dom Bosco lembra-nos que no coração de cada jovemhá sempre uma corda que o faz vibrar, um ponto aces-sível ao bem.Isto também é válido hoje. Papa Francisco sublinha quemuitos jovens, mesmo pertencendo à geração “selfie”,ou a uma cultura que mais do que fluida parece ser“com gás”, procuram o pleno sentido da sua vida, mes-mo quando não o procuram em sítios onde o podemencontrar.

    É, de facto, no meio dos jovens e das jovens que as Ex-Alunas e os Ex-Alunos FMA devem exprimir um com-portamento insubstituível: ficar acordadas para desper-tar os jovens. “A associação das Ex-Alunas e dos Ex-Alu-nos das Filhas de Maria Auxiliadora – afirma Dom Pas-cual Chávez – é uma parte vital do movimento para a

    salvação dos jovens, como parte de um maravilhosomosaico, sem a qual faltaria algo indispensável, segun-do o plano de Deus, que chamou cada grupo a fazerparte da Família Salesiana”.

    Portanto, as Ex-Alunas e os Ex-Alunos das FMA, comotodos os membros da Família Salesiana são chamadosa amar os jovens: a tomar conta deles e aproximar-sedeles para envolve-los e acompanha-los no seu cami-nho de maturação, no seu percurso vocacional. Até pa-ra aprender com eles, e com eles sonhar juntos ummundo mais humano.O acompanhamento, tão importante e necessário nocrescimento humano, é de facto finalizado a envolveros jovens da missão, não como “executores” do que jáfoi decidido e programado, mas como “protagonistas”ativos e insubstituíveis. Isto significa estar dispostos a ou-vir as suas ideias, confiar-lhes responsabilidades e com-promissos e, por fim, verificar com eles os resultados.

  • união • n. 11-12- 201914

    Caminhamos juntos

    Com o Papa Francisco pedimos à Virgem pelos nossos jovens:

    Ó Maria,Nossa Senhora do novo Advento,que guardaste todas estas coisas

    meditando-as no teu coração (cf. Lc 2, 19),ensina aos jovens

    a ser bons ouvintes do teu Filho,que é Palavra de Vida.

    Reza por eles,para que não se apresentem obstáculos

    no caminho da sua descobertadesta nova Vida

    que o teu Filho trouxe ao mundo.Virgem, Filha de Sião,

    guia cada passo do nosso caminhona estrada que leva à Vida!

    Ámem.

    O estatuto, na apresentação do objetivo da Associação,afirma que ela “empenha-se na promoção da educa-ção dos jovens... e favorece um protagonismo constru-tivo juvenil através da promoção de iniciativas e ativi-dades a favor dos jovens, em especial daqueles que vi-vem em situações difíceis”.

    O acima indicado significa que as jovens e os jovenssão um espaço indispensável na missão de cada Ex-Alu-na e Ex-Aluno FMA. Eles são um campo sagrado: Deusespera ser reconhecido em cada jovem cheio de espe-rança e de nobres intenções, na sua fragilidade e na suapobreza, na própria corda sensível ao bem.

    Os jovens precisam de ti, de nós, da nossa família.

    Qual é o teu comportamentoem relação aos jovens?

    Que espaço lhes dás nas mil atividades que fazes? O que pode fazer por eles e com eles, a tua União, a tua Federação?

    * Delegada Confederal

  • união • n. 11-12- 2019 15

    “Ela fez tudo”PRASCONDÙ SANTUÁRIO EM VAL SOANA

    de Laura Pollino *

    Grandes festejos e celebrações paraos 400 anos da aparição de NossaSenhora neste canto do mundoperdido entre as montanhas de ValSoana.

    O monumento mais significati-vo de Ribordone, ao qual pode-mos chegar através da sugestivaestrada que passa por Sparone, éo Santuário de Prascondù, edifi-cado em 1620, cujas origens es-tão ligada a um acontecimentomilagroso. A igreja guarda umaestátua de madeira feita no sé-culo XVII da Nossa Senhora deLoreto, protetora do Santuário de Prascondù.Situada a 1321 metros de altitude, na câmara muni-cipal de Ribordone, na província de Turim. É um doslugares de culto mais conhecido do Canavese e é ameta tradicional de devotos e visitantes, especialmen-te durante a festa que decorre todos os anos dia 27de Agosto.

    A igreja representa a mais importante expressãoda arquitetura religiosa, presente no território doParque Nacional do Grande Paraíso... Reza a lendaque a construção do santuário é devido ao facto quedia 27 de Agosto de 1619, Giovanino Berardi, umjovem de Ribordone, que no ano anterior tinha per-dido a fala, teve uma visão da Nossa Senhora. A prin-cipal celebração que se festeja no santuário é a dedi-cada a este facto miraculoso. A espiritualidade dequem adere à Associação não origina numa lenda,mas de uma realidade documentada e historicamen-te confirmada e certificada com atos do notário.Sem dúvida, tratou-se de um facto fora do comum,impossível de explicar totalmente com dados cientí-ficos, mas documentado pelas muitas testemunhasescritas acompanhadas por uma grande devoção po-pular a Maria Santíssima.

    Temos de colocar “O ACONTECIMENTO” numaépoca de grande dificuldade de sobrevivência paraas pessoas de Ribordone. Para os homens, uma longaemigração itinerante começava na época dos Santose acabava na Páscoa. Geralmente eram acompanha-dos por um filho adolescente e viajavam em grupopela Itália e pela Europa como “stagnin” isto é latoei-ros e caldeireiros.Andavam pelas estradas gritando o seu lema; quandoencontravam trabalho paravam à beira da estrada etrabalhavam. Dormiam nos celeiros, palheiros, está-bulos, onde quer que lhes dessem hospitalidade.

    Em Dezembro de 1618, cinco caldeireiros de Ri-bordone estavam em Pavese, entre eles GiovanniBerardi com o filho Giovanino de 16 anos. Antesde ir dormir o pai convidou o filho para recitar asorações da noite. Giovanino, se calhar cansado oudoente, respondeu-lhe mal, com uma das típicasfrases da adolescência. O pai tentou insistir, atéque, furioso, atira-se ao filho e enche-o de panca-da, insultos e com uma maldição: “que tu nuncamais possas falar”.

  • união • n. 11-12 - 2019

    “ “ela fez tudo”Durante muitas horas, Giovanino ficou inconscien-te, depois lentamente recuperou, mas sem ter o usoda palavra. O pai rezou muito e prometeu que as-sim que pudesse levaria o filho em peregrinação aoSantuário de Loreto, como penitência pelo ato vio-lento e pela pouca devoção do filho.Tristemente na viagem de volta a casa, o pai gastouo pouco dinheiro que tinha ganho em curas e con-sultas médicas sem obter os resultados desejados.De volta às montanhas de Ribordone, Giovaninotinha de tratar do rebanho enquanto a miséria ob-rigava a família a grandes sacrifícios porque tinhamum voto a manter: tinham de ir em peregrinaçãoaté Loreto!Quando voltou a bela estação o pai tratava doscampos e Giovanino do rebanho como sempre naspastagens do monte Colombo.

    Aqui, num prado muito íngreme, chamado pelosaldeões “Prascondù”, Giovanino viveu um diainesquecível. O rebanho estava tranquilo e enquan-to o Giovanino dormia, teve a sensação de umapresença por perto: diante de si viu uma mulhercom a cabeça tapada que lhe falou lembrando-ode manter a promessa que tinha feito e, antes de irembora, adicionou que naquele lugar onde ela ti-nha aparecido, desejava que erguessem uma cape-la dedicada a Ela e desapareceu.Giovanino, ultrapassado o espanto, percebeu queaquele não tinha sido um sonho e à pressa correuaté à mãe para lhe contar o que tinha acontecido.Curiosas, outras mulheres reuniram-se diante da ca-

    sa. O rapaz, a uma velocidade vertiginosa, contoue explicou tudo como se nunca tivesse sido mudo.Durante duas horas falou sem parar depois... de re-pente tornou-se novamente mudo e não falou maisapesar das solicitações do pai e do Reitor da paró-quia.

    O pai, diante desta nova situação, decidiu fazer aperegrinação o mais depressa possível.A eles uniu-se um conterrâneo levadopela fé, assim dia 26 de Dezembro che-gam a Loreto, assistem à missa, recebemos sacramentos e retomam caminho, secalhar um pouco desiludidos… Giova-nino ainda não falava. Mas no caminhopara casa encontraram uma grandecruz: Giovanino afastou-se, ajoelhou-se e rezou.Quando se levantou virou-se para opai falando normalmente. De volta acasa, Giovanino contou novamente to-dos os detalhes ao pároco, insistindosobre o pedido de Nossa Senhora, pa-

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  • união • n. 11-12- 2019 17

    “ela fez tudo”ra que em PRASCONDÙ erguessem uma capelaonde fosse venerada a Nossa Senhora de Loreto.

    Enquanto esperavam pelas autorizações das auto-ridades competentes, o povo tinha-se ativado e umaigreja pequenina já tinha sido construída no sítio on-de Givoanino tinha visto a aparição e a Nossa Senho-ra tinha falado. A Fé dos Ribordoneses, rapidamente,tinham movido uma grande quantidade de pedras emateriais para agradecer a Nossa Senhora.A capela foi depois ampliada para poder conter ogrande número de fiéis que chegavam de todos oscantos.O altar foi decorado com seiscandelabros em forma de cruzdourada e quatro anjos. O frescoda Virgem de Loreto está prote-gido por um vidro suportado poruma cruz dourada. Nos ladosdois altares dedicados a São Josée São Roque. Nas paredes nu-merosos quadros votivos.

    Este primeiro edifício de culto,foi depois, destruído por umaavalanche e reconstruído numaposição mais segura para lá dorio. Assim nasceu a nova igreja,a atual, que pela sua importân-

    cia e pelo evento milagroso que recorda, tornou-se“SANTUÁRIO”. No tempo, seguiram-se muitas am-plificações e restruturações que levaram ao atualcomplexo de edifícios.Na sua totalidade é uma construção muito simplesque valoriza o essencial e a comodidade dos pere-grinos, mas que garante a linha dos edifícios alpinos.

    Hoje o Santuário continua a ser o centro vital demuitas comunidades. Um momento de recolha ede oração que encontramos logo aqui a dois passosdo céu, onde o olhar se perde no verde das monta-nhas, entre os caminhos cheios de flores, num silên-

    cio interrompido pelo es-correr da água gelada dopequeno rio e pelo somlongínquo dos sinos dosrebanhos no pasto.Esta é a história dePRASCONDÙ (prado es-condido).

    Nota bastante hedonista:após ter reforçado o espí-rito, é possível reforçar ocorpo com produtos lo-cais, amavelmente prepa-rados no ponto de restau-ração “A locanda do sol”!

  • união • n. 11-12 - 201918

    Conto de NatalDe “O Evangelho dos pés de Antonio Mazzi"

    Se refletirmos bem o seu nascimentonão foi dos melhores.

    Tornou-se carne no seio da mais humilde jovem daPalestina. Nasceu como qualquer outro bebé de-samparado, para além disso numa gruta fria! Pri-meiro manifestou-se aos pastores da zona, aceitoudons de estrangeiros desconhecidos, ignorando ospalácios dos reis, as castas dos intelectuais, os cul-tores das leis sagradas.

    Ainda só tinha algumas horas de vida que já tinhaos seus inimigos. Obrigou os pais, com o coraçãonas mãos, a esconderem-se e a fugir. Se Herodes oGrande, o tivesse encontrado, a luta teria sidoímpar. Ímpar e absurda e esta história da redençãoteria acabado miseravelmente.

    Porquê um Deus menino? Porquê renunciar àsua omnipotência?Pouco sabemos dos seus anos de adolescência e dejuventude. No entanto, não fez nada de especial.Por outro lado, o que é que podia fazer? O seu painão era por acaso aquele José que todos conhe-ciam, aquele pobre homem que sabia trabalharcom as mãos, visitante frequentador do templo,mas a quem nenhum sacerdote imaginava dar paraas mãos o pergaminho da Lei? Mal sabia ler e es-crever!Contudo, para dizer a verdade, este Jesus seu filho,com menos de doze anos, entretinha-se muitasvezes com os doutores do templo. Algo muito in-sólito seja pela sua idade, seja pela sua simples ex-tração social.

    Parece-vos esta a família de um Messias? Espe-rámos mesmo durante séculos a vinda de umhomem assim tão simples? E o que dizer de Maria,sua mãe? Entre as jovens da sua idade haviamimensas raparigas das melhores famílias, lindas egraciosas, com roupas que perfumavam as ruas, e

    os seus olhos eram como os de uma corça indomá-vel, com um dote rico porque eram filhas dos maisnotáveis homens do país.Todas estariam honradas por dar vida e ser mães aopotente Messias que libertaria o povo do domínioestrangeiro e mudaria o mundo, obrigando-o assima reconhecer a supremacia de Israel, o Eleito!Porque é que Deus quis revolucionar as maneirasdos homens? Não eram maneiras corretas, manei-ras mais confortáveis e privilegiadas? (...)

    Este Jesus diminuiu as distâncias; seguindo os fac-tos que todas as bocas contam, bastava a fé paramover as montanhas; um dia deu de comer a umamultidão com poucos peixes e alguns pães; claroque se esta pessoa possuía assim tanto poder, eraum desperdício de milagres! Há coisas mais impor-tantes do que o estomago. Deus o que é que fizes-tes dos teus sábios e dos teus doutores? O que éque vamos fazer com estas torres de livros?

    Vamos considerar que este homem seja mesmoo Filho de Deus. Vamos considerar que o nosso co-ração, habituado às facilidades, às riquezas, às re-gras rigorosas, não tivesse reconhecido ‘Deus feitohomem’. Vamos considerar a louca hipótese que‘Deus feito homem’ se tivesse despido do seuimenso poder e tivesse vivido entre nós como umhomem qualquer.

    Se tudo isto fosse verdade não bastariam todasas cinzas do mundo para cobrir a nossa cabeça.Rasgar as roupas já não bastaria. Se este homemfosse mesmo Deus ... então a cruz ... seria o tronoque o homem teria preparado para acolher o seuDeus ...Se tudo isto fosse verdade, as vias que Tu escolhestenão foram as nossas.

    Senhor quando é que nos perdemos? O que éque não percebemos?

  • união • n. 11-12- 2019 19

    Vamos considerar a hipótese que o nosso coração,habituado aos bens, às riquezas,

    às regras rigorosas,não tivesse reconhecido este

    ‘Deus feito homem’.

  • união • n. 11-12 - 201920

    a associação é VidaTestemunhas de uma identidade

    Da ARGENTINA Viajar ao fim do mundoas Ex-Alunas/os da Federação da Argentina *

    No mês de janeiro recebemos uma agradável notí-cia: a Delegada Mundial das Ex-Alunas, irmã Ga-briela Patiño, vinha-nos visitar.Com grande alegria começámos os preparativos,comunicámos com as Uniões, falámos com osmembros dos Conselhos, elaborámos o itinerário,pedimos mais tempo...A data proposta pela irmã Gabriela é no mês demaio, fantástica! Mês em que honramos Maria Au-xiliadora: não faltaram afirmações como “É NossaSenhora que a manda”. Assim o tempo passou ra-pidamente e dia 10 de Maio, de noite, chegou ànossa terra.Foi uma estadia frenética: muito espaço para per-correr em pouco tempo, mas com aajuda de Deus conseguimos completartotalmente o itinerário.Enquanto estava na Argentina não po-dia deixar de visitar a União mais meri-dional do mundo, Rio Grande e, suces-sivamente, Río Gallegos. Pôde encon-trar Ex-Alunas/os de quase todas asUniões. Esperavam a irmã Gabrielacom uma bela MESA, à volta da qual

    ouviam a sua palavra para depois apresentar-lhe asObras em que colaboravam: bairros em risco, ora-tórios, casas de dia.A visita da Delegada motivou-nos muito, porquefalou-nos de Dom Bosco, de Madre Mazzarello, dapertença à Família Salesiana, da nossa missão nomundo.Nem todas as Uniões que o desejavam puderamser visitadas devido às grandes distâncias na Argen-tina, mas toda a Federação seguiu o itinerário atra-vés da internet e com a oração.Obrigada irmã Gabriela, gostaríamos que tu voltas-ses a visitar-nos em breve!

    * A Federação Argentina ABA – Buenos Aires

  • união • n. 11-12- 2019 21

    a associação é Vida

    De GIAVENO (Turim, Itália)Nos passos da Auxiliadora há mais de oitenta anos

    de Anita Zolfini *

    da Nossa Senhora com o Menino e São JoãoBosco ajoelhado, esculpido por Giuseppe Nar-dini de Milão, deixava temporaneamente o Ins-tituto Maria Auxiliadora da cidade e ia para aparóquia de São Lourenço Mártir onde ficou du-rante três dias para ser adorado pelos fiéis e de-pois voltou para sua “casa”.Foi levada nos ombros de jovens veteranos deguerra, respeitando a promessa feita no ano an-terior para que voltassem sãos e salvos da guerrana Etiópia. Assim foi.As histórias da época descrevem uma procissãode volta, da igreja ao Instituto, com uma multi-dão nunca antes vista na aldeia.

    Passados 82 anos daquele dia, na cidade ondeDom Bosco foi Reitor do Seminário Arcebispalde 1860 a 1862 e onde as Filhas de Maria Au-xiliadora trabalharam pelos jovens a partir de

    Em Giaveno, na província de Turim, existe umadevoção que passa de geração em geração. É adevoção a Maria Auxiliadora que, há mais de oi-tenta anos, reúne em procissão pelas ruas da ci-dade centenas de pessoas de todas as idades.

    Foi no dia 27 de Maio de 1937, festa do CorpusDomini, que pela primeira vez o bloco da estátua

    A procissão através da cidade

    O bloco da estátua

  • união • n. 11-12 - 201922

    a associação é Vida

    FAÇAMOS MEMÓRIADia 30 de Novembro e dia 31 de DezembroSanta Missa pelas Ex-Alunas,os Ex-Alunos, as FMAe os familiares falecidos nestes meses.

    1893, as duas procissões noturnas nãodeixaram de atrair centenas de fiéisem oração na ida e na volta.

    Hoje em dia, o bloco da estátua é le-vado pelos alpinos, os atiradores, ossalesianos cooperadores e muitos vo-luntários, antecedidos pelos Carabi-nieri (t.l.: GNR) reformados, pelabanda musical Leone XIII e pelas ma-joretes, pelos administradores da câ-mara com o presidente vestido a rigor,pelos padres e pela grande família sa-lesiana, formada pelas freiras, peloscooperadores, pelas Ex-Alunas e Ex-Alunos.No serão de domingo, após o blocoda estátua ter voltado para o InstitutoMaria Auxiliadora, o pároco saúda ospresentes com um breve sermão e abênção, enquanto a diretora do Insti-tuto anuncia os nomes dos novos pa-dres do ano a seguir.Assim foi também na última procis-são, domingo dia 19 de Maio de2019.

    “Dom Bosco estava convencido quenão podia chegar a Deus sem passarpor Maria – disseram, nesta ocasião,o pároco de Giaveno, Dom Gianni Mondino, ea diretora do Instituto, irmã Anna Maria Giordani– E é comovente pensar que a devoção a Mariaatrai todos os anos tantos devotos. ConfiamosNela, que é a Auxiliadora, nossa ajuda, que

    Hoje em dia, são os alpinos quelevam a estátua …

    acompanha todos os nossos passos no bem e nasdificuldades”.

    * Ex-Aluna de Giaveno

  • união • n. 11-12- 2019 23

    a associação é Vida

    De JERAGO (Varese, Itália)Reencontrar-se entre Ex-Alunas faz bem ao coração!

    de Giulia Martinelli *

    Foi no dia 27 de Agosto que Carla,a Presidente da União de Jerago,preparou o convite para o grupodas Ex-Alunas e para a comuni-dade. Era o dia em que se festejaSanta Mónica, padroeira das noi-vas e das mães, uma amena masdecidida figura feminina à qualnos podemos inspirar na vidaquotidiana, Gosto de Santa Mó-nica, um exemplo para todasnós, pela sabedoria que soubetransmitir ao coração dos filhos,pela capacidade de ler e medi-tar as Sagradas Escrituras, pelaoração constante e solitária,pela capacidade de transmitir a fé cristã.

    O convite era para encontrarmo-nos entre Ex-Alunas e o Conselho de Federação, um desejo decomunhão num dia muito especial para toda aparóquia de Jerago. De facto, todos os anos, noterceiro domingo do mês de Setembro, celebra-se a Festa do Doente. Assim, colhemos a ocasiãopara reencontrarmo-nos, saudarmo-nos, conhe-cermo-nos e fazer festa unidas, juntando-nos aalgumas Filhas de Maria Auxiliadora ligadas à Co-munidade de Jerago. Estiveram, especialmente,

    connosco a ir. Paola Rudello que este ano feste-jou o seu 50º aniversário de profissão religiosa, air. Petronilla Colombo, delegada da Federação deVarese, e a ir. Giusy Riotti.

    Às quatro horas da tarde, a Missa na paróquia deSão Jorge, foi intensa, cativante, participativa.“Abençoados os últimos, porque serão os primei-ros” começou Dom Remo, para acender em nósa esperança, para aliviar os sofrimentos de quemestá doente, para nos ajudar a saborear as ale-

    grias do Paraíso onde cada um será visto nasua completa e interior beleza.Depois, o sacramento da Unção dos Enfer-mos, a bênção com o Santíssimo Sacra-mento entre os bancos. A imensidão degentileza, a delicadeza dos gestos, os sorri-sos, o amoroso cuidado de quem acompa-nhava os idosos e os doentes, conseguia-sever tudo, conseguia-se sentir tudo no ar.

    Os alegres abraços com as irmãs, que lem-

    ir. Giusy Riotti com Giulia Martinelli

  • união • n. 11-12 - 2019

    a associação é Vidabram pedaços de caminho que viveramconnosco e ainda levam no coração, en-contros fecundos, generativos.Depois, o lanche aberto a todos, porque asEx-Alunas são assim: presentes no meio dacomunidade, com o espírito ao humildeserviço que as carateriza. Mais do que umlanche, um verdadeiro buffet, dos salgadosaos cafés, passando pelos doces. Aqueladiscreta abundância que representava aalegria de acolher e o desejo que cada umpudesse voltar a casa cheio, não só no es-pírito, mas também no corpo.Uma tarde juntos, de oração e de alegria,de trocas recíprocas e carinhosas, foi o mo-mento que aqueceu o coração e o abriu àsboas relações, sempre fonte de novidadena nossa vida. Não faltaram as confidências dequem já tem muitos anos às costas e algumasdores ainda a superar e transformar, mas quepode tornar-se mais leve porque partilhado comum aperto de mão, um sorriso, um abraço.

    Deixámo-nos com o desejo de nos voltarmos aver e encontrar para um almoço juntos, com maistempo à disposição para falar. Com a irmã Petro-nilla, Luigina e a irmã Giusy voltámos para a Casa

    de Maria Auxiliadora de Varese levando no co-ração o eco das vozes, dos olhares intensos e bri-lhantes e lembrámo-nos da verdade na frase deMaín “Só a caridade (o amor de Deus) é um laçotão forte que mantém unidos todos os corações”.

    * Presidente da Federação de Varese

    Momentos do dia com a delegada da Federação a irmã Petronilla Colomboe a Presidente da União de Jerago.

    Em baixo: a festejada pelo seu 50° aniversário de profissão, Irmã Paola Rudello

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  • união • n. 11-12- 2019 25

    a associação é Vida

    De CESUNA (Vicenza, Itália) Fios, fiados, tecidos e rendas

    de Gabriella Gambarin *

    Todas transformadas em hábeis, virtuais “tecelãs” asEx-Alunas (mas também se juntam alguns maridos!)que participam aos tradicionais “TRÊS DIAS NO PLA-NALTO DE ASIAGO” em finais de Junho! Este anoseguindo o lema “TECER RELAÇÕES COM DEUS ECOM OS IRMÃOS”, as duas federações Venetas (Pá-dua e Conegliano) organizaram, como fazem há dezanos, o tanto esperado fim-de-semana na VILA TA-BOR, em CESUNA, entre o verde e o fresco inebrian-te da montanha, com um tema de reflexão e de pes-quisa em específicos: “DO FIO AO TECIDO”. O ob-jetivo já tinha sido anunciado no último DIA DE FOR-MAÇÃO no final de Março:– EVIDENCIAR O BOM E O MAU QUE O SENHOR

    “TECEU” NA MINHA VIDA.– VALORIZAR E REFORÇAR AS AÇÕES E AS RELA-

    ÇÕES “ENTRELAÇADAS” ENTRE NÓS E COMDEUS

    A casa das nossas irmãs, Vila Tabor, é linda, acolhe-dora, luminosa, confortável, com lindos quartos e to-dos os ambientes virados para os verdes e vastos pa-noramas pintalgados pelas brancas aldeias no planal-to. O clima que nós – modéstia à parte – consegui-mos criar e sabemos que vamos encontrar é muitoalegre – para não dizer “rumoroso” - cheio de cor-dialidade e de sorrisos que vêm do coração e do nos-so ADN salesiano.Todos os anos os TRÊS DIAS EM CESUNA(Vicenza) fortalece-nos a alma e o corpotambém! Até a montanha faz a sua par-te oferecendo-nos um ar balsâmico,efervescente, fresquíssimo, depoisde tanto caldo e poluição da cida-de! O ano passado o tema era “oPerfume” que nos ajudou a per-ceber que somos “PERFUME DECRISTO”.Este ano, desde sexta-feira, come-çámos a perceber que “a nossa vi-da, a nossa formação, são frutosdo entrelaço dos vários fios, quederam forma ao “tecido que so-

    mos agora”. Quando entrámos na sala, encontrámosdiante de nós uma riquíssima exposição de tecidosde todo o tipo, de rendas, bordados, laços, cachecóis,fitas, naperons, véus. Cada uma foi convidada a es-colher “o que a representava melhor”. Houve quemescolhe-se um centro de mesa com um voo de anjos,quem um lenço com as iniciais bordadas, quem umlaço vermelho, quem uma bola de lã amarela, quema tesoura ou um dedal, quem um bordado, quemum macramé ou um pedaço de saco! Depois, pri-meiro, divididas em grupos, depois na assembleia,quem queria, eramos convidados a descrever a suaescolha e como se sentia representada, portanto a“personalizar” a própria pasta colando o tecido, a fitaou o bordado.

    No sábado concentramo-nos na Palavra de Deus, co-mentada com vivacidade e competência, como nosanos anteriores, por Dom Alberto Pregno, da Diocesede Pádua, que nos ajuda a repercorrer a importânciada roupa na Bíblia, onde está o símbolo da DIGNI-DADE, da IDENTIDADE, do PODER, desde Adão eEva, que dão conta que estão nus e experimentam amiséria provocada pelo pecado, à primeira e segundatúnica de José, uma o símbolo do amor paterno, aoutra que lhe dá autoridade, depois a da humilhação

  • união • n. 11-12 - 201926

    a associação é Vida

    De NOVARA(Itália)

    Ex-AlunasreunidasPara uma tarde juntas. A oraçãona igreja, depois conversa emuitas lindas recordações. Masnunca se deixa de ser Ex-Alunasapaixonadas de Dom Bosco eMadre Mazzarello!

    provocada pelos irmãos, passando por Eliaquim, aquem Deus diz: “Revesti-lo-ei com a túnica, envol-vê-lo-ei com o cachecol, colocarei o Poder nas suasmãos”, passando por Ester, onde a túnica que Mor-decai veste, testa a Bondade do rei e o reconheci-mento público de homem que agiu com Justiça, pas-sando por Ezequiel, onde a túnica é sinal da Fideli-dade de Deus e do Seu Amor por todos, até a quemse prostitui, até chegar ao Evangelho, a “veste maisbonita” usada pelo filho desastrado que voltou paraa casa do Pai Misericordioso, até chegar a São Paulo,que convida os batizados a “VESTIR CRISTO”, o quequer dizer que Jesus deve ser visto no cristão comose vê a sua roupa, portanto os sentimentos de Cristoque nós devemos mostrar: Ternura, Bondade, Hu-mildade, Mansidão, Magnanimidade, Misericórdia,Docilidade. Enfim Jesus, dizendo: “Atentos ao novo!Atentos ao velho! Atentos ao “novo” mas também ao“velho”.

    A seguir, com agulha e fio, remendam, cozem juntas,arranjam cada rasgo. O cristão é chamado a ser umcostureiro especialista de agulha e fio. A agulha é ador, o fio é o Amor. Para reparar um “rasgo”, é ne-cessário passar e repassar, com agulha e fio, com Pa-ciência, com Atenção.

    Portanto, o sábado à tarde é movimentado pela che-gada de Verona de um Grupo de voluntários da As-

    sociação “AD MAIORA – VERONA TESSILE”, funda-da em 1995. Têm no ativo 106 componentes, quese reúnem para coser roupa, criar cobertores, recu-perar vestuário para ajuda quem precisa de ajuda.Elas são tão boas que, doando-nos só alguns quadra-dos de tecido estufados no momento, ensinaram-nosa coser um lindo cobertor, que podemos estendercompleta (mesmo trabalhando com “pontos longos”em 6 ou 7) aos pés do altar durante a Missa do finaldo dia.

    Unidas na celebração da Missa e depois na manhãseguinte, primeiro na oração e por fim na explosãode alegria do almoço, tornámos nossas as palavras deP. Andrea Panont: “Tecido, agulha e fio nas mãos docostureiro, não sabem o que faz o artista. A sua sortee o seu valor está no estar na sua mão e no confiaremna sua perícia. Assim nós percebemos que se quere-mos ser instrumentos de UNIÃO, saber coser rasgos,é suficiente estar nas mãos do DIVINO COSTUREI-RO”, como tinha percebido Domingos Sávio, con-fiando em Dom Bosco, portanto em DEUS, dando oseu jovem tecido.

    Á tarde partimos recarregadas, enriquecidas, fortifi-cadas na alma e no corpo, agradecidas à Associação,que nos ofereceu estes belos dias e, em especial,agradecidas à Olivia, à Luciana, à Roberta e à Presi-dente que organizaram tudo.

    * Ex-Aluna da Federação

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    a associação é Vida

    Da FEDERAÇÃO PIEMONTESA (Itália)Maria Auxiliadora Saudação à irmã Maddalena

    das/os Ex-Alunas/os da Federação Itália *

    É nosso dever, querida irmã Maddale-na, rescrever-te o último adeus, dar-te todo o reconhecimento e amordas Ex-Alunas da Federação pie-montesa, Maria Auxiliadora. Mui-tas te antecederam na última, e mais importante viagem da vida,e de certeza já as encontraste naglória.Quando aceitaste a tarefa que te era pe-dida de desenvolver o papel de delegada daFederação das Ex-Alunas, se calhar não tinhas anoção de que irias revolucionar aquele papel parasempre. No dia de Setembro em que timidamenteentraste, com a humildade e descrição que te ca-raterizam, no nosso Conselho, confessaste que tesentias impreparada para aquela tarefa e pediste-nos que te ajudássemos. “Tratemo-nos todos portu”, disseste logo. Para as pessoas da minha ge-ração tratar por tu uma freira era absolutamenteimpensável, aliás era considerado um comporta-mento inaceitável. Mas acolhemos com alegria es-te pedido, que de repente nos fez sentir grandes,importantes, quase pondo ao mesmo nível laicose consagrados, com o espírito de colaboração que,no tempo, cresceria dentro da Família Salesiana eque na altura, (início dos anos 80) era a primeiratentativa de tradução prática da exortação doConcílio Vaticano II.

    Juntas percorremos um longo pedaço de cami-nho, do qual quero lembrar alguns momentos im-portantes. 1981: celebração do centenário da mor-te de Madre Mazzarello, com congresso das Fede-rações italianas em Turim. Para a circunstância im-provisámo-nos autores de teatro e atores, propon-do no palco a vida de Madre Mazzarello. 1988,Roma: participação no Congresso Mundial dos Ex-Alunos SDB, com grande emoção: era a primeiravez que as duas associações falavam! Depois

    aprenderiam a dialogar. E juntas, noutrasocasiões menos importantes, revolu-

    cionámos a vida da federação, sain-do mais no território, dando maisimportância às pequenas Uniõesde aldeia, organizando todos osanos dois dias de formação espiri-

    tual nos momentos importantes doano litúrgico: advento e quaresma.

    Também aprendemos a dedicar-nos à obrade mútua ajuda que era tão importante paraDom Rinaldi, no início do caminho associativo,ajudando economicamente Ex-Alunas em dificul-dade, visitando as irmãs doentes na Villa Salus.Como esquecer os bons momentos como as visi-tas anuais, a participação às procissões de MariaAuxiliadora que decorrem nas Uniões da provín-cia no último domingo de Maio? Partíamos daPraça Maria Auxiliadora com um autocarro cheiode freiras e Ex-Alunas, e era uma festa, como fo-ram os peregrinos em Savoia, seguindo as pega-das de São Francisco de Sales, à descoberta dasnossas raízes.Uma das maiores e mais envolventes iniciati-vas foi a geminação com a pequena União deCuba, para a apoiar foram doados 5 milhões deliras italianas, entregues à irmã Maria de Los An-geles que estava a partir para a ilha. Com aquelaquantia as Ex-Alunas criariam um laboratório decostura. Juntas participámos em congressos eu-ropeus, e assembleias mundiais, levando a Fede-ração para o seu glorioso centenário de vida, ce-lebrado em Turim em 2008. Naquela altura jánão eras a nossa delegada, mas estavas sempreatenta e fazias sempre parte da nossa vida asso-ciativa.Não te passava ao lado nenhuma iniciativa im-portante, nenhum momento de vida da Igreja,da Diocese, nenhuma ocasião de crescimento

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    a associação é Vidacultural. Solicitavas sempre a nossa participaçãocom muita descrição e delicadeza, de uma ma-neira à qual era impossível dizer que não.Após te teres reformado continuámos a sentir-tepróxima e atenta, presente nos momentos difíceisdas nossas vidas privadas, onde nos fizeste sentira tua presença na oração.Querida Irmã Maddalena, ajudaste-nos a per-ceber que uma vocação vivida com alegria e coe-rência incentiva as pessoas que estão à nossa vol-ta a viver a própria vocação, laica ou consagrada,com a mesma dedicação e coerência, porque es-ta é a felicidade.Foste uma grande delegada, uma grande FMA,uma grande mulher.Obrigada por tudo aquilo que fizeste por nós.Obrigada pelo quanto gostaste de nós. Nós tam-bém gostamos muito de ti.

    Excerto do discurso escrito para a irmã Maddalena Canale em ocasião das exéquias

    Irmã Maddalena Canale nasceu em Turim a 24 de Maiode 1924, mais velha de três irmãs, numa família de sãosvalores cristãos. Frequenta a escola das FMA em Valdoccoe sente a chamada à vida claustral, mas o seu diretor es-piritual convence-a a escolher o instituto das FMA. Em1943 começa o aspirantado. Após a profissão, em 1946,estuda letras em Castelnuovo Fogliani e, depois da licen-ciatura, começa a ensinar no Instituto Maria Auxiliadorade Turim. Em 1958 é enviada como diretora para Cone-gliano Veneto e em 1963 é nomeada vicária inspetorialda casa Imaculada. Seguiu-se uma transferência para Ca-sale, e depois voltou para Turim, Maria Auxiliadora, ondeficou como professora de 1970 a 1982, entretanto tor-nou-se delegada das Ex-Alunas, primeira da União MariaAuxiliadora, e mais tarde da federação piemontesa MariaAuxiliadora. A partir de 1982 continuou a sua missão noInstituto Virginia Agnelli.Desenvolve o papel de delegada da federação até 2000;desde 2006 estava hóspede no lar de idosos São José emTurim. Faleceu dia 14 de Agosto de 2019.

    De CAVAGNOLO (Turim, Itália)Jornada social com grande participação das Ex-Alunas

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    Jornada social com grande participação das Ex-Alunas

    as mãos no mundoEmpenho sem fronteiras

    Eles sabem de Alessandro Ciquera *

    Younes vem do interior de Hama, na Síria, é umacriança perspicaz com os olhos escuros, que vive coma mãe e o pai numa pequena aldeia entre as monta-nhas do Líbano central.Nos últimos anos diagnosticaram-lhe o fator 7, umadoença hemática que lhe causa frequentes hemor-ragias.Continua a fazer uma terapia plasmática, que, no en-tanto, em poucos anos torna-se insustentável para ocorpo: na verdade ele precisa de uma injeção muitocara para sobreviver, e ter a possibilidade de tornar-se adulto.Hoje em dia o preço da vida desta criança na Líbia éde $3.750 por semana, um custo insustentável paraum núcleo familiar vulnerável, até na Europa moderna.Oferecemos-lhe a possibilidade de viajar com o Cor-redores Humanitários para a Itália ou para a França,onde a injeção de que precisa seria dada pelo Sis-tema Nacional de Saúde.No entanto, logo nos primeiros encontros, o pai, comprovável herança de uma mentalidade patriarcal e

    dominadora, com nuances não bem escondidas deobsessão, mostrou-se contra a obtenção do visto paraa família, e contra a possibilidade que a mulher e osfilhos viagem para o nosso continente para receberassistência médica.Uma loucura nos olhos de quem tem um mínimo debom senso, mas não para quem tem a mentalidademais fechada do que uma mesinha de cabeceira.

    Neste momento estou na tenda, com a ventoinhaacesa porque falta o ar, repensando nos encontrosque tive com eles e à dor nos olhos desta mãe queestá a ver o próprio filho lentamente a ficar maisfraco, e pergunto-me quem é o responsável desta si-tuação. Penso que fazer as perguntas certas seja umamaneira para perceber que direção seguir.A culpa é do pai, que provavelmente cresceu num ambiente machista e opressivo para com asmulheres?

    A responsabilidade é do regime sírio e das várias mi-lícias rebeldes na Síria, que muitas vezes por oportu-

    nismo, outras por sede de poder,arrastaram o País num banho de san-gue do qual o Younes teve de fugir?Ou então a culpa cai nas Nações Uni-das e nas várias Agências Humanitáriasque não são capazes de dar por direitoum medicamento salva-vida a umacriança prófuga?São perguntas que ciclicamente rumi-nam na minha cabeça, porque poraquilo que vivi nestes anos em TelAbbas, é a indiferença que mata, lite-ralmente. Quando alguém acha queno fundo a sentença final cai noutrapessoa, ali é o início do fim, porque “ooutro” nunca é alguém digno de ser

  • união • n. 11-12 - 201930

    as mãos no mundoconsiderado humano, mas um número sacrifi-cável.Ontem Musaeb, hoje Younes.Qual é hoje o preço da vida de uma criança?Provavelmente é proporcional a quanta vidapomos naquilo que fazemos. Sendo o pratotão desequilibrado, só pondo uma vida, podespagar o preço de outra vida, não indo ao 50%ou a várias percentagens, mas pondo a tuaprópria existência em jogo, com um granderisco, o de ficar queimado e de ver as pessoasde quem gostas apagar-se sem piedade.

    Nour entra pela milésima vez enquanto estoua escrever e isso dá-me um pouco de dores decabeça... porque é que nunca ouve quandolhe pedimos para não ir para dentro da tendados voluntários?Olho à minha volta, a vida quotidiana conti-nua, uma galinha passa à frente da porta comar perdido, Younes está algures nas montanhas,a ver o dia a passar.Quanta vida e quanta dor juntas se pode sentircontemporaneamente, mesmo assim é esta aescolha feita, só um grande empurrão podeequilibrar uma tão grande destruição humana.

    Vem em minha ajuda a escritora Joanne Row-ling (autora do Harry Potter), com as suas pa-lavra ditas por Dumbledore: “Ter sido amadostão profundamente é algo que nos protegepara sempre, até quando a pessoa que nosamou já se foi embora, é algo que fica dentrode nós, na pele”.

    Volto a levantar a cabeça, Nour está a revistarnuma montanha de folhas e cadernos amon-toados, provavelmente ela também está cientedesta lei no seu coração, se não como pode-mos explicar o ser assim tão ativa todos os dias,ela que chegou exausta da Síria nos braços damãe, devido a uma doença apanhada durantea fuga.Nem se explicaria o tímido sorriso de Younes,ou os abraços de Rim.Eles sabem algo que nós corremos o risco deesquecer, sabem que vale a pena.

    * Ex-Aluno da União Madre Mazzarello Via Cuminana Turim

    De Giaveno a Bombay para reencontrar um milagre

    de Anita Zolfini *

    No coração da imensa Bombai (hoje Mumbai), nalongínqua e pobre Índia, existe um grande edifícioque os locais chamam o “milagre da irmã Eugenia”.É uma escola que hoje acolhe 2500 meninas e jovens,construída em apenas 5 anos, de 1946 a 1951. À en-trada, em cima, está a foto da benfeitora deste mila-gre: irmã Eugenia Luigina Versino, Filha de Maria Au-xiliadora, nascida a 1905 em Giaveno, na aldeia Buffa,lá onde hoje está uma rua com o seu nome.Durante o noviciado, de 1924-25, foi enviada paraOxford, na Inglaterra, e em 1926 faz os votos per-pétuos como Filha de Maria Auxiliadora. Mas é parao caminho das missões que ela é preparada e a Índiaé a sua meta, para onde vai em 1935.Há alguns meses, quatro sobrinhas desta corajosa eteimosa freira conseguiram realizar o sonho há tantodesejado: repercorrer os passos da própria tia naÍndia para ver com os próprios olhos o que tinhaconstruído e o que tinha ficado. Maria Ausilia, Olga,Valeria e Giuliana, filhas do irmão da freira Eugenia,Felice, nunca na vida se tinham afastado tanto decasa.O outro irmão era o Guido, pai de Piercesare e Elio,residentes na rua dedicada à tia.

    Chegaram a Mumbai dia 28 de Março e voltaramdia 9 de Abril: poucos dias, mas suficientes para to-car o que a tia construiu numa cidade onde a miséria

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    vive em cada canto. Mesmo ali, entre os últimos,no bairro de Wadala, a irmã Eugenia Versinoconstruiu o Auxilium Convent, uma grande es-trutura de três andares que não é só uma escolapara muitíssimas estudantes, a partir das mais po-bres, mas também espaço para acender nas jo-vens mulheres uma tomada de consciência res-ponsável da própria feminilidade. A Ir. Versinorealizou a estrutura em tempos quase de recorde,venceu as desconfianças, superou as dificuldadesgraças a uma forte fé, batendo com descontraçãoàs portas dos potentes e pedindo o contributodos habitantes, numa terra que nada sabia domodelo educativo de Dom Bosco, no qual a irmãEugenia se inspirava.«Tudo ficou como era – contam as quatro sobri-nhas – O edifício está exatamente como as fotosda altura, mas está cheia de vida».Maria Ausilia, Olga, Valeria e Giuliana partiramsem contactar as irmãs locais, só com a marca-ção no hotel. «Quando chegámos a Mumbai, te-lefonámos ao Auxilium e encontrámos a dispo-nibilidade da Irmã Aruna que foi a nossa guia,durante toda a nossa estadia. Visitámos a CasaAuxilium, que tem atualmente 11 freiras de Ma-ria Auxiliadora, todas indianas. Fomos à tombada nossa tia que, excecionalmente, para a nossavisita, foi recoberta de flores. Fomos muito bemacolhidas, até nos mostraram o guarda-sol delaque conservam como uma relíquia. Encontrá-mos um idoso salesiano que a conheceu e que

    nos contou que erauma autêntica forçada natureza».As quatro irmãsguardam viva a me-mória desta enormecidade indiana caó-tica e barulhenta,onde atravessar arua torna-se numaepopeia, onde cadaespaço livre no pas-seio é bom paraconstruir uma barracae, portanto, os pobres, os chamados ‘invisíveis’moram em todo o lado na indiferença dos pas-santes. «Uma miséria que dá maior valor ao quetemos e que explica o motivo pelo qual, nestaszonas, definem como milagrosa e obra da irmãEugenia Luigina».A missionária não teve tempo para ver os fru-tos da Casa Auxilium porque a 30 de Março de1951 foi empurrada fora de um comboio (assimescrevem nos jornais de então baseando-se nareconstrução de um irmã que estava com ela) emorreu no instante. Mas naqueles carris a irmãEugenia Versino não deixa de viver, aliás volta à‘vida verdadeira’, aquela pela qual não hesitougastar sem reservas, a sua existência pelos maispobres.

    * jornalista de La Valsusa

  • união • n. 11-12 - 201932

    de Lorenzo Trapassi *

    Ler é uma aventuraQuis contra nos de Federico Lorenzo Ramaioli

    É raro que um texto de história do direito seja li-do como um romance. Um empolgante roman-ce histórico que leva os leitores numa viagem notempo, há 100 anos atrás, quando um punhadode jovens que seguiam as ordens de um poeta-soldado se apoderaram de uma cidade e a torna-ram no Estado mais progressivo e multicultural domundo. Mas, repito, esta revisão não se refere aum romance, mas ao texto “Quis contra nos? Sto-ria della Reggenza del Carnaro da D’Annunzio al-la Costituzione di Fiume” (n.t.: Título traduzido:Quis contra nos? História da Regência do Carnaroda D’Annunzio à Constituição de Fiume), escritopor Federico Lorenzo Ramaioli e publicado em 2018,com o prefácio de Giordano Bruno Guerri.

    Sabemos todos como nasceu o movimento de Fiume:a Itália ganhou a Grande Guerra, pagando o preço de600.000 mortos, mas o ampliamento do território ita-liano em Trento, Trieste, parte da Ístria e da Dalmácia,deixava de fora a cidade de Fiume. A questão não en-controu solução nas mesas da diplomacia e permitiu aGabriele D’Annunzio, na altura o mais famoso intelec-tual italiano do mundo, bem como herói de guerra, deregistrar o termo “vitória mutilada”, acendendo a re-volta nos milhares de jovens que ocuparam Fiumecom a ideia de reuni-la à mãe pátria italiana.

    O que é menos conhecido é como o Estado Fiumanosoube criar, durante o seu breve tempo de existência,uma Constituição – a Carta do Carnaro – que não só

    se demonstrou a mais pro-gressista das Constituições naaltura, mas soube anteciparinstitutos jurídicos que só dé-cadas mais tarde entraram afazer parte da ordenação ita-liana. De facto, num estilo li-terário inconfundível que sóo Vate poderia usar numtexto constitucional, a Cartado Carnaro estabeleciaigualdade dos direitos entre

    os cidadãos, sem distinção desexo ou de religião, instituiu o sufrágio universal e fun-dou um tribunal constitucional que, em plena inde-pendência, garantisse o pleno respeito da Constituiçãopelos mais poderosos do Estado.

    Não só: a Carta do Carnaro consagrou a arte e a mul-ticulturalidade como valores fundamentais do Estado,tornando assim Fiume nada como uma cova de rea-cionários, mas uma experiência política sem prece-dentes, um acontecimento que foi seguido pela im-prensa de todo o mundo e atraiu alguns dos melhoresintelectuais da altura, para além de ex-combatentes,aventureiros e jovens que tinham fugido às mães ou àstutoras...Este lindo texto redime a atualidade da imprensa fiu-mana – engenhosamente negligenciada nos livros deHistória – e é finalmente explicada por um rigorosojurista.

    O AutorNasceu em Milão em 1989, Federico Lorenzo Ramaioli licenciou-se em Direito naUniversidade Católica do Sagrado Coração, tornou-se advogado e colaborou nascadeiras de Filosofia do direito e Metodologia jurídica na sua Universidade, publi-cou várias obras de tema histórico e jurídico. Diplomático desde 2016, atualmenteé Cônsul italiano em Freiburg, na Alemanha.

  • união • n. 11-12- 2019 33

    Família torna-te naquilo que ésExplorar o mundo das relações

    Paralelo ao instituto jurídico da adoção,da qual falámos anteriormente, existe ou-tro importante e profundamente diferen-te na tutela dos menores que são as fa-mílias de acolhimento. Nas famílias deacolhimento, ao contrário da adoção, éestabelecido um tempo, uma duração emantêm-se as relações entre o menor ea família de origem. A adoção requer ainterrupção de qualquer relação com ospais naturais.

    Nas Linhas de direção para as famílias deacolhimento lê-se: “a família de acolhi-mento é uma forma de intervenção am-pla e dúctil que consiste em ajudar uma família aatravessar um momento difícil tomando conta dosseus filhos através de um conjunto de acordos decolaboração entre a família de acolhimento e asvárias personagens que no território tratam doacolhimento e a proteção das crianças e do apoioàs famílias. A família de acolhimento tem de serprincipalmente vista como uma experiência deacompanhamento, de parentalidade partilhadae não como de substituição, de soma a mais emvez de subtração, de reconhecimento mútuo ecolaboração em vez de competição e de conflitode lealdade”.

    Ter uma criança, ou mais do que uma, em acolhi-mento quer dizer dar a própria disponibilidade pa-ra amá-lo como um filho sabendo que não o é;quer dizer empenhar-se e acompanhá-lo num mo-mento importante da sua vida e ter a força de sa-be-lo acolher e deixar ir quando chega o momen-

    to; quer dizer pôr em jogo a capacidade de acolheruma história pessoal muitas vezes dolorosa.

    Portanto, família de acolhimento é acolher, amar,cuidar, educar e ajudar a crescer um ser humanonão pela relação que nasce do sangue, mas pelarelação que nasce da solidariedade, do amor quesomos capazes de doar sem ter nada em troca anão ser a alegria de ter ajudado.

    Por isso, nas intenções do legislador são estes osvalores que guiam um acolhimento; depois na rea-lidade, às vezes, as coisas vão de maneira diferentee muitas vezes os acolhimentos revelam-se expe-riências negativas para o acolhido e para quemacolhe.São várias as formas de acolhimento, as leis que aregulam e as experiências “reais” de quem numacolhimento doou e doou-se.

    * psicóloga, Ex-Aluna salesiana

    FAMÍLIAS DE ACOLHIMENTO acolher e amarde Raffaela Messina *

  • união • n. 11-12 - 201934

    terceiro MilénioO presente que já é futuro

    AS MULHERES QUE MUDARAM A HISTÓRIAMulheres, do presente e do passado, de quem falamos, mas sabemos pouco

    de Cristiana Mariani

    MARIA DE NAZARÉ O sim que mudou a história da humanidade

    “Maria responde à proposta de Deus dizendo: «Aquiestá a serva do Senhor» (v. 38). Não diz: “Vá, destavez farei a vontade de Deus, torno-me disponível,depois veremos...”. Não. O seu é um sim cheio,total, para toda a vida, sem condições. E como onão das origens tinha fechado a passagem dohomem a Deus, assim o sim de Maria abriu a es-trada a Deus entre nós” (Papa Francisco Angelus 8de Dezembro de 2016)

    O Evangelho de Lucas conta: “Ao sexto mês, o anjoGabriel foi mandado por Deus a uma cidade da Ga-lileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometidacomo noiva a um homem da casa de David, denome José. A virgem chamava-se Maria...”“O Senhor está contigo”. Deus, o Presente, vai tercom Maria, saúda-a, desvenda-lhe a sua profundaidentidade: “Cheia de Deus – a Amada” e esperauma resposta, espera que Maria escolha virar o seucoração para as palavras de Deus. E Maria escolhe:“seja segundo a tua Palavra”! Escolhendo Deus,Maria adere à verdade mais profunda do seu ser:sente-se nada mais que “serva” e como tal apre-senta-se livre e sem exigências diante do Senhor.(irmã Monica Gianoli FMA, no site https://sanbia-gio.org)

    Uma jovem da sua época, no sítio onde ela nasceue cresceu era tudo menos livre. O teólogo AlbertoMaggi, frade da ordem dos Servos de Maria, no seu‘Nossa Senhora dos heréticos’, mostra-nos Mariacomo realmente teria sido considerada por um ha-bitante de Nazaré: ‘um enorme escândalo’.

    “Não podia ter nascido num lugar pior – escrevepadre Maggi – nunca nomeada nos textos da Bíbliae nas escrituras dos Rabis, Nazaré e os seus habi-tantes tinham uma péssima fama. A existência deMaria começou na província da Galileia, no Nortede uma das nações mais insignificantes daquela al-tura: o pequeno e submetido Israel. No país compior fama desta região e na mais baixa condiçãopara um ser humano na altura: o ser mulher”.Sem direitos civis, considerada mais coisa do quepessoa, sempre associada aos escravos e às criançascomo categoria ‘sub-humana’. As mulheres eramdispensadas da grande oração judaica do ‘ShemaIsrael’ (Ouve Israel), separada dos homens nas si-nagogas (ainda hoje o famoso ‘Muro das Lamenta-ções’ divide as mulheres dos homens com umacerca e não podem participar nas cerimónias doBar-Mitzvah, que traduzido à letra significa, filhodo comando, dos próprios filhos rapazes aos trezeanos).

    A tarefa da mulher era cuidar dos filhos, cuidar dacasa, cozinhar para os homens, que só podia servir,sem comer na mesma mesa.Vivendo nesta condição, Maria de Nazaré aproxi-mava-se à etapa obrigatória para uma rapariga ju-daica: o casamento. “Novo estado que não a libertada situação desumana na qual vive – continua a es-crever o padre Maggi – aliás, torna-a ainda maissubmetida, de serva do pai e dos irmãos para a serserva do marido e dos filhos”.

    O que acontece está descrito no Evangelho de

  • união • n. 11-12- 2019 35

    terceiro MilénioLucas: Maria não é apresentada como irrepreensí-vel observadora de todas as leis e regras do Senhor(LC 1, 6), contrariamente ao que é dito por Zaca-rias, sacerdote do templo, escrupuloso e leal paracom os mandamentos, mas também para todas asmínimas prescrições da Lei.O evangelista conta que o Arcanjo Gabriel se apre-senta a Zacarias no lugar mais santo de toda Jeru-salém, o Templo, na parte mais sagrada deste, o‘Santo dos Santos’, durante ‘a oferta do incenso’ omomento mais sagrado não só do dia de um sacer-dote, mas também da sua própria vida. (O númerodos sacerdotes era de tal maneira elevado que setornava impossível oficializar todos ao mesmotempo, portanto observava-se uma exata rotação eera raro que um deles entrasse no Santo dos Santosmais do que uma vez na vida. Consoante o Talmudos sacerdotes de serviço nos tempos de Zacariaseram 85.000).Mesmo assim o desafortunado Zacarias não acre-ditou na escolha de Deus, que o queria finalmentepai e torna-o mudo. Mas Maria sim.

    Deixemos espaço às páginas de Alberto Maggi que,com um entusiasmo digno de um diretor envolve-nos no momento da anunciação:“Maria é capaz de vibrar em sintonia com a Palavraque continuamente cria e renova o universo. Torna-se assim colaboradora de Deus para comunicarvida à humanidade (...) YHWH não pode ser visto,ninguém pode vê-lo e ficar vivo (Ex 33, 19-20).YHWH nem pode ser nomeado (Ex 20, 7). ONome nem pode ser escrito. É o Transcendente. OAltíssimo. O Inconhecível. Tudo isto Maria sabe-o.Ouviu-o repetir muitas vezes na sinagoga. E muitasoutras vezes ouviu definir crenças demoníacasàquelas religiões dos países de fronteira com Israelonde os deuses criam filhos e filhas com as mulhe-res e mesmo assim Maria aceita. Será a mãe doFilho de YHWH. A desconhecida rapariga nascidaem Nazaré que ‘ninguém, nem os vizi-nhos conheciam’, será proclamadaabençoada por todas as gerações (Lc1,48). A mulher que não pode ousar apro-ximar-se ao Santuário ‘conterá’ oDeus que aquele mesmo Santuá-

    rio pretendia guardar dentro das suas paredes. Amulher que nem podia ousar tocar a Bíblia, aco-lherá dentro de si a Palavra feita carne. A mulherque nem podia falar com o sacerdote ou tocá-lo,será mãe do Santo dos Santos. O Deus que nuncafalou a uma mulher, chamá-La-á immà (mãe).(...) A virgem de Nazaré, em profunda sintonia comDeus que ‘faz novas todas as coisas’ (Ap 21, 5) res-ponde à chamada da vida que quer florescer e que,para nascer, exige que ‘não paremos nas coisas pas-sadas, deixe-se de pensar às realidades antigas...’caso contrário não damos conta da ‘nova quemesmo agora quer brotar...’ (Is 43, 18-19).Maria abandona o velho, o cego, a tradição dospais, para abrir-se ao novo, ao desconhecido.Despe-se da camisa-de-forças ortodoxa, parapoder ser plenamente livre de acolher a propostado Arcanjo Gabriel.Portanto Maria é herética para a religião oficial. He-rético e blasfemo será considerado o seu filho e porisso condenado e morto (Mt 26, 65; Jo 8, 48; 10,33). Não terão melhor sorte os continuadores daobra de Jesus: ‘entregar-vos-ão ao Sinédrio, serãoperseguidos nas Sinagogas, serão odiados por todosdevido ao meu nome’ (Mc 13,9-13). ‘Senhora dosheréticos’ Maria tornar-se-á irmã dos que em qual-quer época sentirão a presença da história do únicoDeus gerado e o acolherão (Jo 1, 12-18).”

    * Ex-Aluna Fed. Lombarda Imaculada

  • DCOER1657

    Periódico da Confederação MundialEx-alunas/os das FMA

    Poste Italiane S.p.A. Spedizione in Abb. Postale D.L. 353/2003(conv. in L. 27/02/2004 nº 46) art. 1, comma 1, Aut. C/RM/48/2006

    periódicoomologato

    Espírito de Deus, Espírito de verdade e de luz,

    fica constantemente na minha alma

    com a tua graça divina.

    Que o teu sopro dissolva as trevas

    e que na tua luz as boas ações se multipliquem.

    Ó espírito de Deus, Espírito de amor e de misericórdia.

    que versas no meu coração o bálsamo da confiança,

    a tua graça confirme o bem na minha alma,

    dando-lhe uma força invencível: a constância!

    Ó Espírito de Deus, Espírito de paz e de alegria, que con-

    fortas o meu coração com sede,

    versa nele a nascente viva do amor divino.

    Ó Espírito de Deus, o hóspede mais amável da minha alma,

    desejo, por mim, ser-te fiel.Santa Faustina Kowalska