o outro lado da montanha - livros evangélicos: mais de 2500 … · 2016-07-20 · temos muito...

41

Upload: trinhthuy

Post on 01-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hendricks, Howard G.

O outro lado da montanha / Howard G. Hendricks; traduzido por Carlos Osvaldo Pinto.

– São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

Título original: The other side of the mountain.

Bibliografia.

ISBN 85-7325-393-2

1. Envelhecimento 2. Idosos – Vida religiosa 3. Velhice – Aspectos religiosos 4. Velhice

– Ensino bíblico I. Título.

05-3782 CDD–261.83426

Índices para catálogo sistemático:

1. Velhice: Atitudes da Igreja: Cristianismo 261.83426

2. Terceira idade: Atitudes da Igreja: Cristianismo 261.83426

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela:Associação Religiosa Editora Mundo CristãoRua Antônio Carlos Tacconi, 79 — CEP 04810-020 — São Paulo — SP — BrasilTelefone: (11) 5668-1700 — Home page: www.mundocristao.com.br

Editora associada a:• Associação Brasileira de Editores Cristãos• Câmara Brasileira do Livro

• Evangelical Christian Publishers Association

A 1ª edição foi publicada em julho de 2005, com uma tiragem de 4.000 exemplares.

Impresso no Brasil

O OUTRO LADO DA MONTANHA

CATEGORIA: ESPIRITUALIDADE / INSPIRAÇÃO

Copyright © 2000 por Howard G. HendricksEste material foi reproduzido com a permissão da Bibliotheca Sacra do Seminário Bíblico de Dallas (EUA)rvestHouse Publishers, Oregon, EUA

Título original: The other side of the mountainCoordenação editorial: Silvia JustinoColaboração: Rodolfo OrtizPreparação de texto: Renato PotenzaRevisão: Rodolfo OrtizCapa: Cláudio SoutoSupervisão de produção: Lilian Melo

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da Nova Versão Internacional (Sociedade Bíblica Internacional),salvo indicação específica.

10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 05 06 07 08 09 10 11 12

s u m á r i o

Apresentação 7

Capítulo 1

O outro lado da montanha 11

Capítulo 2

Repensando a aposentadoria 43

Capítulo 3

Eu mesmo e meus amanhãs 71

Capítulo 4

As recompensas do ministériona terceira idade 105

Notas 135

a p r e s e n t a ç ã o

OFICIALMENTE DEVEREI me aposentar daqui a dezanos, mais ou menos. Dadas as condições devida da maioria dos aposentados em nossopaís, o pensamento deveria me assustar. Al-guns meses atrás, no entanto, li O outro ladoda montanha, e a aposentadoria perdeu sua faceassustadora. Na verdade, todo o meu concei-to de aposentadoria mudou.

Este livro reúne uma série de palestras pro-feridas por Howard Hendricks nas Conferên-cias Griffith Thomas do Seminário Teológicode Dallas, nos Estados Unidos (também apre-sentadas no Seminário Palavra da Vida, emAtibaia). O tratamento do tema estimulou-mea considerar o futuro com mais otimismo eobjetividade: posso exercitar os dons e asoportunidades que Deus me concedeu de ma-neira diferente.

8 O OUTRO LADO DA MONTANHA

Ainda que as dificuldades inerentes ao pe-ríodo não tenham desapareceram o com a lei-tura, o otimismo de Hendricks, baseado nopróprio exemplo, não só me contagiou comodesafiou a ver a fase madura da vida como aépoca de colher os frutos e saboreá-los, nacomunhão, com a geração seguinte.

O Brasil está se tornando rapidamente umpaís de idosos. Algumas projeções são som-brias, e as mais desoladoras referem-se aocusto tremendo que a nação terá de pagar paraatender ao grande número de aposentadosdaqui a apenas quinze anos. É admirável queos evangélicos tenham muito que contribuirno que é mais fundamental — a perspectivacorreta sobre essa fase única da vida. Entre-tanto, é triste pensar em quão pouco está sen-do feito.

Minha oração é que, ao ler este livro, vocêaproveite a oportunidade para colorir seufuturo com uma mensagem de realismo oti-mista do grande comunicador HowardHendricks.

APRESENTAÇÃO 9

A vocês, leitores mais jovens, fica o desafiode encarar a terceira idade não como uma ter-ra de ninguém, mas como o território em quemuita gente pode ser alcançada para Cristo epara uma vida de produtividade e significado.

Se nós, Igreja de Jesus Cristo, nos resig-narmos a apenas reclamar da situação, osbingos tomarão conta. De fato, já o fizeramem outros lugares, e começam a fazer aqui.

Temos muito território que reconquistar.

CARLOS OSVALDO CARDOSO PINTO, Ph.D.

Reitor do Seminário Bíblico Palavra da Vida

O outro lado da montanha

1capí tu lo

QUAL SERIA SUA IDADE se você não soubessequantos anos tem? Essa pergunta feita porSatchel Paige atinge o âmago do processo quechamamos de amadurecimento ou envelheci-mento, o programa de reciclagem feito porDeus.

Uma árvore brota com folhas, flores e fru-tos; finalmente os frutos amadurecem e caem;as folhas secam e caem pelo chão — tudo paranutrir a árvore em sua vida futura. Essa é umailustração simplificada das palavras de Davino Salmo 103:15,16:

Quanto ao homem, os seus dias são como arelva; como a flor do campo, assim ele floresce;

12 O OUTRO LADO DA MONTANHA

pois, soprando nela o vento, desaparece; e nãoconhecerá, daí em diante, o seu lugar”.

Feitos à imagem e semelhança do Criador, oshumanos possuem uma habilidade incrível deafetar esse declínio. Nossa capacidade men-tal atua como um software engenhosamentedesenhado para ditar os rumos e organizar ascircunstâncias da nossa vida. O envelhecimen-to é principalmente uma questão mental; ésua atitude, não a sua idade. A pessoa tem aidade da sua postura mental, e não das suasartérias. A atitude é o volante da vida; umapequena curva a leva a um destino radical-mente diferente.

A sra. Simpson, uma amiga que mora emHouston, costumava visitar sua filha em Dallas;minha esposa se lembra dela por ter sido aprimeira preletora em seu estudo bíblico desenhoras a mencionar o assunto das mudançasprovocadas pela idade, a partir de Mateus 5:13:“Vós sois o sal da terra”. Lembro-me delanuma festinha de Natal, anos atrás. Ao ver-me, perguntou com vivacidade:

O OUTRO LADO DA MONTANHA 13

— E aí, Howie, quais os últimos cinco me-lhores livros que você leu recentemente?

Enquanto pensava no assunto, ela olhou àsua volta e disse:

— Bom, não vamos ficar aqui nos enfadan-do com nossas mazelas, vamos discutir al-gum assunto. Se não acharmos nada paradiscutir, podemos partir para um bate-boca!Ágil como uma cabra montesa, ela visitava aTerra Santa regularmente. Certa ocasião eu a vi,aos 83 anos, em cima de uma torre gritandopara um grupo de atletas profissionais: “Va-mos gente, mexam-se!”.

Em Dallas, enquanto dormia, o Senhor alevou. Sua filha ligou e quando eu cheguei,ela me mostrou um bloco de papel em que asra. Simpson havia escrito, antes de ir paraa cama, seus objetivos para os próximos dezanos. Determinada, vibrante, perspicaz e cheiade vida, a sra. Simpson personificou e me en-sinou o que a velhice pode ser.

A velhice deve ser tempo de expectativa, enão de escape; de senescência, e não de seni-

14 O OUTRO LADO DA MONTANHA

lidade. A senescência (um sinônimo para en-velhecimento) é uma fase natural; acontececom todos nós. Senilidade, pelo contrário, éuma perda antinatural de nossas faculdadesdurante essa fase, e atualmente a senilidadeatinge menos que vinte por cento dos ameri-canos.

A velhice também deveria ser um momen-to na vida de desenvolvimento interior clara-mente visível, e não de mera deterioração ex-terna; momento de crescer em maturidade, enão apenas em flacidez, barriga e calvície.

Há três maneiras facilmente diferenciáveisde classificar o idoso, apesar de individual-mente elas poderem ser largamente variadas:a idade cronológica — a medida da idade pelopadrão do tempo decorrido; a idade fisioló-gica — refletida nas funções corporais da pes-soa e sua condição física; e a idade psicológica— baseada no modo como a pessoa se senteou reage às pessoas e circunstâncias.

A mesma pessoa, portanto, pode ter três ida-des diferentes. A velhice não começa em certo

O OUTRO LADO DA MONTANHA 15

ponto do tempo; nós envelhecemos a cadaminuto, não a cada ano. Uma mulher de cemanos foi abordada com a pergunta sobre o queela fizera de sua vida. Ela então respondeu:

— Ainda não posso lhe dizer. Ainda estouviva e continuo a fazer minha vida.

RAZÕES PARA O ESTUDO

Por que esse assunto merece nosso tempo eatenção? O assunto da velhice constitui umingrediente vital durante toda a nossa vida?Cinco razões persuasivas tornam esse estudoválido e essencial.

Em primeiro lugar, cristãos precisam deuma interpretação cristã do processo do enve-lhecimento. Pesquisas muito úteis desse pro-cesso foram feitas, mas os estudos carecemem geral de conceitos bíblicos. Há uma ca-rência impressionante de material nessa área,de uma perspectiva eterna, especialmente comrelação ao ministério para idosos na igreja.

A riqueza do nosso progresso tecnológicoé prejudicada pela pobreza da nossa lógica

16 O OUTRO LADO DA MONTANHA

pessoal, sempre pronta a presumir que ve-lhos não prestam para nada. Esse preconcei-to se percebe na aceitação geral da desonra aosidosos, e as caricaturas de adultos enrugados,encurvados, amputados e combalidos. Comoresultado, duvidamos do seu valor. Quão im-portante para uma pessoa é ser valorizada,bem-vinda e levada a sério? Tomás de Aquinoresponde: “A graça não suprime a natureza”.

Em segundo lugar, pessoas com mais desessenta anos fazem parte do segmento quemais cresce entre a população de vários paí-ses. A Associação Americana de Aposenta-dos observa que no ano de 2030 haverá 70milhões de pessoas acima dessa idade nosEstados Unidos,* mais que o dobro do seunúmero em 1996. Enquanto hoje as pessoascom mais de 65 anos representam treze por

* As projeções IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística) mostram que, em 2005, a população com 60anos ou mais corresponde a 8,9% do total. Em 2020,corresponderá a 12,9% e a 17,1% em 2030. (N. do E.)

O OUTRO LADO DA MONTANHA 17

cento da população, essa porcentagem subirápara vinte por cento em 2030.1

Em 1996, pessoas que alcançavam a idadede 65 anos tinham uma expectativa de vidaadicional de 17,7 anos (19,2 para mulheres e15,5 para homens).2

Somos cidadãos de uma nação de idosos.Não podemos nos dar ao luxo de nos alienarda sociedade à qual Deus nos chamou a mi-nistrar.

O problema da velhice, assim denomina-do, não diz respeito apenas ao idoso. Ele re-presenta um descaso, um menosprezo emnosso mundo para com qualquer pessoa queseja fraca. Pode-se sempre predizer a quedade uma cultura pelo modo como trata suascrianças e seus idosos, e nós estamos maltra-tando a ambos. Atualmente os Institutos Na-cionais de Saúde gastam menos que umdécimo de um por cento do seu orçamentoem pesquisa geriátrica.3

Nossa reação nacional ao mandamento bí-blico de ajudar os fracos e prover os carentes

18 O OUTRO LADO DA MONTANHA

é vergonhosa, imoral e desumana, levando-seem conta os recursos de que dispomos. Con-forme a Sociedade Americana do Idoso, dasnossas 126 faculdades de medicina, apenasuma, Mount Sinai Medical School, da cidadede Nova York, tem uma escola de geriatria.Outra deverá ser inaugurada no estado deArkansas. Apenas treze faculdades de medi-cina oferecem aos alunos um curso sobre en-velhecimento. Menos que a metade de todosos médicos tem algum treinamento em trataras doenças dos idosos. Apesar da nação gas-tar duas vezes mais que qualquer outra nocuidado com o idoso, ela ainda alcança ape-nas o 24 lugar em longevidade no mundo.4

Terceiro, pessoas mais velhas representamo maior recurso em potencial e a maior mão-de-obra disponível para nossas igrejas, maselas são consistentemente ignoradas. Devidoà melhor saúde, aperfeiçoamento tecnológicoe a conseqüente maior longevidade, temos aonosso alcance uma velhice significativa. Osúltimos anos da vida de um cristão podem

O OUTRO LADO DA MONTANHA 19

alcançar a máxima produtividade quando di-namizados por oração, ofertas financeiras eministério pessoal.

Quarto, pastores são chamados por Deus apastorear a igreja toda — do recém-nascidoao inválido preso a uma cama. Pastores nãodevem focalizar qualquer segmento da comu-nidade de forma discriminatória. Deus nãoclassifica pessoas pela idade, nem os que orepresentam devem fazê-lo. Infelizmente, po-rém, a igreja tem seguido a delinqüência danossa sociedade. Como resultado, buscamosignorar as inquietações da idade avançada,inundados pela cultura do novo e do belo, ce-lebrada por toda a parte.

Henri Nouwen fez alguns comentários pers-picazes com relação a isso:

Muitos estudantes passam a maior parte doquarto ano da faculdade quase que exclusiva-mente com seus colegas, incapazes de brincarcom uma criança, trabalhar com um adolescen-te, conversar com um adulto, ou ter qualquercontato com o idoso. Aqueles que se separam

20 O OUTRO LADO DA MONTANHA

para obter educação colocam-se numa situaçãoem que o contexto educacional da vida lhes étirado. É extremamente valioso ter esse conta-to com os colegas nos anos de formação, masquando não existe mundo à sua volta paralembrá-lo de onde veio e para onde vai, esseaconchego pode se tornar paralisante em vezde propulsor. E isso é uma tragédia.5

A velhice é uma parte tão importante e signi-ficativa da vontade perfeita de Deus para nósquanto a juventude. Ele está interessado tan-to no florescer quanto no fenecer da vida.Assim como o potencial está contido na ju-ventude, e muitas vezes nunca desenvolvido,também as plenas possibilidades da idadeavançada muitas vezes permanecem adorme-cidas e morrem com a pessoa. Nunca é tardedemais para se começar a viver. O trabalhode Deus será grandemente enriquecido quan-do mais atenção for dada à liberação e ao usodesse recurso escondido.

Quinto, um grave abismo de gerações se de-senvolveu com a mobilidade e a modernização

O OUTRO LADO DA MONTANHA 21

da nossa sociedade, um vazio estranho aospadrões das Escrituras. Devemos entenderque não podemos expulsar os jovens da igre-ja a toque de caixa; o jovem, por outro lado,também não deve se recusar a abraçar o idosona igreja. Precisamos desesperadamente umdo outro, como aconselha Tournier: “Todos osdiferentes grupos precisam um do outro. O de-senvolvimento de cada um é prejudicado se ocontato com todos não for mantido. Idososprecisam de adolescentes assim como de crian-ças; eles precisam do amor de ambos”.6

A Bíblia é um documento realista; ela dizas coisas como realmente são. Os fracassossão tão fielmente relatados quanto os suces-sos. Deus nunca pintou o caminho para o céucomo um mar de rosas. Especialmente quan-do se refere à velhice, o Espírito Santo retratacom consistência um vasto contraste entreaqueles que viveram com Deus e os que vive-ram sem ele. A chave bíblica é ser realista eotimista. Há mudanças progressivas na men-te e no corpo, fisiológica e psicologicamente;

22 O OUTRO LADO DA MONTANHA

e devemos aceitá-las sem exagerar. Devemosdominar o processo do envelhecimento, alémde não deixar ele nos dominar. Não temos es-colha quanto a envelhecer, mas temos um votodecisivo em como vamos passar esses anos.

Com respeito à cultura atual, o falecido maes-tro Leonard Bernstein observou: “Metade daspessoas está se afogando... e a outra metadeestá nadando na direção oposta”.

Se então as nossas atitudes determinam oprocesso do envelhecimento, podemos servelhos aos cinqüenta anos ou bem jovens aosnoventa. A conquista do verdadeiro envelhe-cer se reflete numa serenidade de espírito, emum crescimento contínuo. Como Pedro escre-veu: “Por isso mesmo, empenhem-se paraacrescentar à sua fé a virtude; à virtude o co-nhecimento; ao conhecimento o domínio pró-prio; ao domínio próprio a perseverança; àperseverança a piedade; à piedade a fraterni-dade; e à fraternidade o amor” (2Pe 1:5-7; NVI).

Vivemos numa sociedade e nos envolvemoscom uma igreja; ambos receberam uma lavagem

O OUTRO LADO DA MONTANHA 23

cerebral com o pensamento esponjoso a res-peito do processo do envelhecimento. Preci-samos questionar: O que a Bíblia diz sobre oenvelhecimento? Podemos acabar descobrin-do que estamos a anos-luz de distância doque Deus diz sobre o assunto.

UMA PERSPECTIVA BÍBLICA

As Escrituras nos mostram claramente que avelhice é uma dádiva divina, uma bênção a servalorizada por toda a comunidade. Os cincotrechos bíblicos que se seguem, tratam dessefato.

“Assim, abençoou o SENHOR o último estadode Jó mais do que o primeiro... Então, mor-reu Jó, velho e farto de dias” (Jó 42:12,17).Poucos homens sofreram como Jó, mas atra-vés do sofrimento seu olhar continuou firmeno seu Criador, sem saber por que, mas con-fiante em quem planejava sua vida.

Deus preservou 42 capítulos da história deJó para nos ensinar não apenas sobre sofrimen-to, mas também sobre sua graça consoladora.

24 O OUTRO LADO DA MONTANHA

“Porque por mim se multiplicam os teusdias, e os anos de vida se te acrescentarão”(Pv 9:11). Essas promessas se seguem ao mui-to mencionado verso: “O temor do SENHOR é oprincípio da sabedoria, e o conhecimento doSanto é prudência” (v. 10). Essa é a fórmuladivina para um movimento final deliberado econstante em direção a uma realização quedura a vida inteira.

“Até à vossa velhice, eu serei o mesmo e,ainda até às cãs, eu vos carregarei; já o tenhofeito; levar-vos-ei, pois, carregar-vos-ei e vossalvarei” (Is 46:4). Da eloqüência de Isaíasvem essa cláusula de garantia, as mais docespalavras que um idoso poderia ouvir. Apesardas duras calamidades presentes, há luz nofinal do túnel para a humanidade. O resgatedivino aguarda o cristão.

“Por isso, não desanimamos, pelo contrá-rio, mesmo que o nosso homem exterior secorrompa, contudo, o nosso homem interiorse renova a cada dia. Porque a nossa leve emomentânea tribulação produz para nós eterno

O OUTRO LADO DA MONTANHA 25

peso de glória, acima de toda comparação, nãoatentando nós nas coisas que se vêem, masnas que se não vêem; porque as que se vêemsão temporais, e as que se não vêem são eter-nas” (2Co 4:16-18).

Os anos podem enrugar a pele, mas a perdadas esperanças e da admiração pela vida trazrugas à alma. A confiança de Paulo, mesmo sobas piores circunstâncias nos diz, a despeitode boletins médicos, que temos um acessoprivilegiado, invisível e imperdível à renova-ção interior. Os anos podem desgastar o cor-po, mas a alma confiante não se deixa abater.

“Sabemos que, se a nossa casa terrestredeste tabernáculo se desfizer, temos da partede Deus um edifício, casa não feita por mãos,eterna, nos céus” (2Cor 5:1). Essa verdade é acartada vencedora no sombrio jogo da vida eda morte. Doença? Desapontamento? Tragédia?Deus nos assegura que sua graça nos basta(2Cor 12:9) durante o processo da morte física esua provisão é uma vida incorruptível. Os auto-res das Escrituras demonstram ter sentido a

26 O OUTRO LADO DA MONTANHA

aragem fria da morte se aproximando e bus-caram preencher o desconhecido que nos ater-roriza.

Os salmos 71,78,92, cada um carregado designificância, sussurram maravilhas consola-doras para os idosos.

Uma oração para a velhice: salmo 71

O suplicante do salmo 71 aparentemente eraum idoso muito atribulado — porém sem si-nal de abatimento (v. 20). Mas ele não oraquerendo escapar das dificuldades; ele nãopede eterna juventude. Pelo contrário, o sal-mista busca a presença salvadora do Senhorpara enfrentar a tribulação.

Obviamente ele estava no fim de suas for-ças físicas. Ele ora: “Não me rejeites na mi-nha velhice; quando me faltarem as forças nãome desampares” (v. 9). Deus lhe relembra queele é fiel e nunca muda. Outro salmo pareceresponder sua oração, com a garantia do cui-dado de Deus conquistado por décadas de ex-periência: “Fui moço e já, agora, sou velho,

O OUTRO LADO DA MONTANHA 27

porém jamais vi o justo desamparado, nem asua descendência a mendigar o pão” (37:25).

O escritor do salmo 71 vislumbrou o pro-pósito de Deus para sua vida: “Não me de-sampares, pois, ó Deus, até à minha velhicee às cãs; até que eu tenha declarado à pre-sente geração a tua força e às vindouras o teupoder” (71:18). Deus sempre foi e sempreserá fiel; portanto podemos servi-lo com con-fiança e gratidão, apesar da nossa fragilidadehumana.

Essa verdade revolucionária é boa demaispara se manter guardada. Por essa razão, osalmista pediu a Deus permissão para divulgá-la antes de partir desta terra. Ele queria queseu legado fosse proclamado enfaticamente,para anunciar que, qualquer que seja a condi-ção humana, Deus é o Renovador, Restaura-dor, e a Fonte da força interior para seu povo.

Mesmo que a força do salmista falhasse,ele sabia que Deus não falharia com ele (v. 9).Por isso ele ansiava por contar sua história(v. 18). A vida deve ser vivida em direção ao

28 O OUTRO LADO DA MONTANHA

futuro, mas pode ser entendida apenas quan-do refletimos sobre o passado.

Um sermão da história: salmo 78

Nossa geração míope sofre de uma distorçãocausada por uma negligência estratégica. So-mos assolados por uma amnésia histórica.Uma das coisas que aprendemos com a histó-ria é justamente que nós não aprendemos comela. Carecemos de uma postura que abranjatrês gerações. Talvez nada seja mais necessá-rio que isso em nossa sociedade existencial; amaioria não consegue sequer entender o queisso significa, mas é atingida por esse mal.As pessoas vivem saturadas de um epicuris-mo* promovido ao século XXI.

Um antigo escritor clamou: “Nada há me-lhor para o homem do que comer, beber e fa-zer que a sua alma goze o bem do seu trabalho.No entanto, vi também que isto vem da mão

* Sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos, filó-sofo ateniense do século IV a.C. Epicuro propunha uma vidade contínuo prazer como chave para a felicidade. (N.do E.)

O OUTRO LADO DA MONTANHA 29

de Deus” (Ec 2:24). Nossa sofisticação mo-derna declara: “O passado é um túmulo; ig-nore-o. O futuro é holocausto; evite-o. Nãohá lucro no discipulado; não há destino naperegrinação. Adquira um Deus instantâneo;compre carisma enlatado”.7

Asafe, o homem sábio do salmo 78, anun-ciava: “Não o encobriremos a seus filhos; con-taremos à vindoura geração os louvores doSENHOR, e o seu poder, e as maravilhas quefez” (78:4). Por quê? “... a fim de que a novageração os conhecesse, filhos que ainda hãode nascer se levantassem e por sua vez os re-ferissem aos seus descendentes” (v. 6). O cris-tianismo pode morrer, e geralmente morre,no espaço de uma geração se os cristãos igno-ram esse conselho. Não há espaço para paisou avós serem neutros nesse assunto.

O salmo 78 descobre um cordão de trêsdobras de fé envolvendo confiança pessoal,pensamento informado e vontade obediente.

Os versos 7 e 8 oferecem uma expressão aomesmo tempo positiva e negativa: “... para que

30 O OUTRO LADO DA MONTANHA

pusessem em Deus a sua confiança e não seesquecessem dos feitos de Deus, mas lhe ob-servassem os mandamentos e que não fossem,como seus pais, geração obstinada e rebelde,geração de coração inconstante, e cujo espíri-to não foi fiel a Deus”. Westermann denomi-na essa expressão de “re[a]presentação” dahistória. Ele afirma que a essência do queserá transmitido está nas palavras do verso 4:“... contaremos à vindoura geração os louvo-res do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhasque fez”.8

“No relato dos gloriosos feitos de Deus”, dizWestermann, “abre-se o futuro”.9 Ao olharmospara trás, preparamo-nos para olhar adiante.Essa repetição dos grandiosos feitos divinosrequer a presença de cristãos proativos na vidade todo jovem, pessoas que indiscutivelmen-te confiam em Deus em termos pessoais, ca-pazes de tomar uma decisão inteligente sobreo que é mais importante na vida. Esse tipo decompromisso corajoso de obedecer a Deus,custe o que custar, instrui uma sociedade

O OUTRO LADO DA MONTANHA 31

pervertida mais eficazmente que qualquer pro-nunciamento, e neutraliza o medo do que vempela frente. A confiança é colocada na pessoade Deus; a história dos seus feitos comprovasua capacidade de cumprir suas promessas.

Essa premissa pressupõe que nós apren-demos a contar histórias que exaltam a Deus,não a nós. Ray Stedman costumava contar ahistória de um menino que voltou para casada Escola Dominical dizendo que a avó de Je-sus tinha dado a aula daquele dia.

— Por que você acha que ela era a avó deJesus?

— Bom, ela ficou mostrando fotos de Jesuse contando o que ele fez.

O salmo 78 ordena que enfrentemos osproblemas com conselhos que se apóiem noDeus cuja presença provamos pessoalmente;que aprendamos a deixar o Espírito Santobrilhar através de nós com sua paciência, ale-gria e paz enquanto nossa família nos observaatravessando o pantanal da doença e do sofri-mento.

32 O OUTRO LADO DA MONTANHA

Uma canção para o dia de sábado: salmo 92

O salmo 92 se adapta bem à leitura congrega-cional e ao estudo individual. Ele retoma otema de louvor ao Senhor apesar dos ímpiosque sempre parecem estar levando vantagem.

Planejado por Deus para ser um dia dedescanso e adoração, o Sábado foi dado aIsrael para recuperação física, emocional eespiritual. Em suas ternas misericórdias, Deusseparou um dia a cada sete dias, não comoobrigação, mas bênção; algo para ser saborea-do em vez de suportado; um prazer, não umapunição!

Note o contraste: o povo do mundo é pere-cível; o povo de Deus é permanente.

O inepto não compreende, e o estulto não per-cebe isto: ainda que os ímpios brotam como aerva, e florescem todos os que praticam a ini-qüidade, nada obstante, serão destruídos parasempre [...] O justo florescerá como a palmei-ra, crescerá como o cedro no Líbano. Plantadosna Casa do SENHOR, florescerão nos átrios donosso Deus. Na velhice darão ainda frutos,

O OUTRO LADO DA MONTANHA 33

serão cheios de seiva e de verdor, para anunciarque o SENHOR é reto. Ele é a minha rocha, enele não há injustiça

SALMOS 92: 6,7,12-15

Os piedosos são caracterizados por terem vigorsem fim. Essa passagem mostra que a sabedo-ria, a habilidade de viver bem, é o que deter-mina o viço da perpétua juventude e o frescorde amadurecer com propósito. Pode-se dete-riorar fisicamente, isso é inevitável; mas espi-ritualmente nossa maturidade experimentadadeveria estar sempre em desenvolvimento.

O salmo 92 começa: “Bom é render graçasao SENHOR e cantar louvores ao teu nome, óAltíssimo” (v. 1). Lutero traduziu a palavra“bom” por “precioso”. O pensamento é queum aperfeiçoamento ou restauração interiorocorre por meio do louvor em adoração. Vocêjá se encontrou deprimido ou desencorajado,e decidiu louvar a Deus assim mesmo? Umatransformação maravilhosa acontece. O lou-vor com nossas palavras leva ao louvor comnossa vida. Aqui está o verdadeiro rejuvenes-

34 O OUTRO LADO DA MONTANHA

cimento para o virtuoso veterano, cansado deguerra.

Não precisamos ser galhos secos na videi-ra. “Na velhice darão ainda frutos, serão cheiosde seiva e de verdor” (v. 14). Em Deuteronô-mio 34:7 essa promessa se enfatiza: “TinhaMoisés a idade de cento e vinte anos quandomorreu; não se lhe escureceram os olhos, nemse lhe abateu o vigor”. Em Isaías 40:31 essaverdade é reiterada: “... mas os que esperamno SENHOR renovam as suas forças, sobemcom asas como águias, correm e não se can-sam, caminham e não se fatigam”.

Os três salmos nos ensinam que Deus é fiel(Sl 71), que somos responsáveis (Sl 78), e quea vida pode ser inteiramente frutífera (Sl 92).

EXEMPLOS BÍBLICOS

Mas qual é a cara da velhice? Pequenas por-ções das biografias bíblicas ilustram um en-velhecer positivo e saudável. Afinal, o maisforte incentivo para se viver uma vida piedosaé observar um exemplo dela.

O OUTRO LADO DA MONTANHA 35

Focalize suas lentes em Simeão. Em Lucas2:25-35 encontram-se três características dele:Simeão era justo diante de Deus, reconhecidopor sua devoção, e controlado pelo EspíritoSanto. Note a relação de causa e efeito entreessas três características.

Aqui está o retrato de um homem piedo-so, avançado em anos, de quem o Senhor selembra. Ele sai da sua peregrinação terrenabanhado de glória. Sem pesar, sem desapon-tamentos, sem “Ah-se-eu-pudesse-começar-de-novo! ...” Ele era um senhor satisfeito,alerta, cheio de vida, e disponível para Deusapesar da sua idade avançada. Que haja mui-tos mais como ele!

Ana aparece nos versos 36-38. “Ela era umaviúva com 84 anos de idade ou viúva por 84anos”, comenta Bock.

O grego ‘até 84 anos’ deixa dúvidas. Se a ex-pressão significa que sua viuvez durara 84 anos,sua idade talvez fosse 105 anos [...] É difícildecidir [...] Não seria a primeira pessoa a vi-ver mais de um século. Independentemente

36 O OUTRO LADO DA MONTANHA

da interpretação, Ana foi uma mulher que es-colheu servir ao Senhor em vez de procurar novocasamento, ação muito bem conceituada para acomunidade religiosa do primeiro século.10

Seu cálice transbordou cedo de dor e sofrimen-to, mas em vez de fracassar, ela se fortaleceu.Ela não desistiu de viver; ela se envolveu como trabalho do Senhor. Aprendeu que o Pai nun-ca provoca lágrimas inúteis em seus filhos.

Ana nos ensina que a idade adulta avança-da, mesmo a viuvez, pode ser vivida de ma-neira frutífera, graciosa e vigorosa. Ela nuncase aposentou; ela orava, jejuava e permaneciano templo. O clímax da sua vida (v. 38) seconcentra no louvor a Deus e na proclamaçãodas notícias a respeito de Jesus. Que padrãoperfeito a ser seguido. Como um sargento,ela nos treina a concentrar em Cristo, inde-pendentemente da nossa idade, e nos preo-cuparmos mais em realizar seus propósitos eplanos em vez de nos compararmos com gen-te mais jovem. Sua vida responde claramentea pergunta: “Senhor, o que queres que eu faça

O OUTRO LADO DA MONTANHA 37

com o que me deste, apesar de todas as mi-nhas limitações?”.

Tanto Simeão como Ana, idosos tementesa Deus, eram extraordinariamente encharcadoscom a Escritura profética. Eles haviam focali-zado seus olhos espirituais na promessa deum Redentor. Consideravam as promessas li-teralmente e, creio eu, isso transformou suasvidas corriqueiras. Eles estavam certos de queDeus comandava firmemente a história. Paraele não existem acidentes, seja a perda de umente querido, da saúde ou de uma posição.Corações partidos são a base para constru-ções permanentes. Pessoas que nunca sofre-ram dor, desapontamento ou perda, tendema exibir um tipo superficial de cristianismo.A dor forja uma estrutura para nos propor-cionar perspectiva.

No entanto, nem todos os servos de Deustêm sido desprendidos e produtivos. Noé seembebedou e aparentemente não fez maisnada significativo pelo resto dos seus 350 anosde vida. Eli fracassou tanto como pai quanto

38 O OUTRO LADO DA MONTANHA

como profeta, vindo a morrer gordo, acabado,inativo. Salomão deixou para trás mil viúvas,um reino dividido, e uma nação aliviada emvê-lo partir.

Waltke escreve que Isaque “despencou denobre a nada”. Ele foi “um homem piedosoaté chegar à velhice. [Então sua] indulgentesensualidade amadureceu, secou e apodre-ceu”.11 Três aspectos desse quadro sombriode Isaque merecem atenção: a rebeldia, a su-tileza e a tolerância consigo mesmo.12 Waltkerelembra a seus leitores o trecho de Provérbios19:27: “Filho meu, se deixas de ouvir a ins-trução, desviar-te-ás das palavras do conheci-mento”. O fracasso está sempre latente nacarne.

Até mesmo Asa, um bom rei por quase todaa vida, regrediu nos seus últimos anos. Emvez de Deus, procurou o conselho de outrosreis e dos chamados sábios da corte em vezde Deus. De aproximadamente cem indiví-duos sobre os quais temos informação bíblicasuficiente, apenas um terço terminou bem.

O OUTRO LADO DA MONTANHA 39

Para cada Eli e Salomão que falharam, exis-te um Simeão e uma Ana que foram bem su-cedidos como santos significantes. Pessoas quecorrem bem toda a prova sem desistirem nofinal são como aquele coelhinho da propagan-da das pilhas Duracell, que nunca deixa decaminhar na direção certa. Simeão e Ana de-safiam todos os estereótipos de idosos. Elesviveram a todo o vapor, criativos, úteis, entu-siasmados e fiéis.

A visão bíblica do envelhecimento colocasobre a família a responsabilidade principalde fornecer cuidado aos idosos. Para todos, ohomem exterior envelhece, mas o homem in-terior não conhece limitações, desde que re-ceba cuidado apropriado. Deus diz que oancião deveria ser como o ouro — bem refina-do e valioso.

C. S. Lewis escreveu estas linhas: “Por todaa sua vida um êxtase inatingível pairou alémdo alcance de sua consciência. Vem aí um diaem que você acordará e descobrirá, contra todaa esperança, que o alcançou, ou que ele se acha-va ao seu alcance, mas o perdeu para sempre”.13

40 O OUTRO LADO DA MONTANHA

Alguns de nós deveríamos refletir na cartaestimulante de um frade anônimo de Ne-braska, ao fim de sua vida.

Se eu tivesse minha vida para ser novamentevivida, cometeria mais gafes da próxima vez.

Eu ficaria mais à vontade, seria mais flexível,seria mais bobo do que fui desta vez.

Sei de poucas coisas que levaria muito a sério.

Viajaria mais, faria algumas loucuras a mais.

Escalaria mais montanhas, nadaria outros rios,contemplaria mais o entardecer.

Caminharia mais observando a natureza.Comeria mais sorvete e menos grãos.

Teria mais problemas reais e menos problemasimaginários.

Sabe, sou um daqueles que vivem a vida comprofilaxia e prudência hora a hora, dia a dia.

Oh, eu tive meus momentos, e se eu tivesse deviver de novo, eu os cometeria mais vezes.

Na verdade, tentaria viver nada mais a não sermomentos, um após o outro, em vez de vivertantos anos adiante a cada dia.

O OUTRO LADO DA MONTANHA 41

Tenho sido uma dessas pessoas que nunca saisem levar um termômetro, uma bolsa de águaquente, pastilhas para a garganta, uma capa eguarda-chuva, aspirina e pára-quedas.

Se eu tivesse de viver novamente, passearia, terialazer, carregaria menos coisas na mala.

Se eu tivesse outra chance de viver, caminhariadescalço desde mais cedo na primavera até maistarde no outono.

Mataria mais aulas. Não tiraria notas tão boas,exceto por acidente.

Brincaria nos carrosséis; colheria maismargaridas.14

Aqui está um homem que compreendeu o de-licado equilíbrio de não se levar muito a sérioporque aprendeu ao longo dos anos a levarDeus mais a sério. A eternidade mantém avida, mesmo no seu final, na perspectiva certa.