o oprimido libertador

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Nome: Gabrielle Rodrigues Monteiro (Mat. 201501329) O OPRIMIDO LIBERTADOR A educação é um ato político. Com essa declaração, Paulo Freire nos coloca reflexivos a cerca da profundidade dos elementos dessa sentença, educação e política, e seu vínculo. Coerente com sua pedagogia, que procura trazer à consciência a situação social que ainda não está consciente no indivíduo, é natural que o processo de reflexão inicie- se a partir de um questionamento. Como que a educação é um ato político? Primeiro deve-se considerar que, para Freire, existem dois grandes grupos na sociedade: o grupo dos opressores e o grupo dos oprimidos, no qual os opressores lutam para perpetuar a opressão e os oprimidos para desvencilhar-se dela. Dessa forma, a educação é um ato político quando o aluno é ensinado a ler o mundo para que assim possa transformá-lo. Ao ensinar a ler o mundo Paulo Freire ultrapassou o cerco tradicionalista, aquela linha imaginária que cercava o ensino tradicional e limitava o aluno a simples leitura de palavras. Para as classes consideradas economicamente inferiores, já era o suficiente. Ensinar a pensar atrapalha

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Texto para a matéria de Fundamentos Filosóficos e sócio-historicos da Educação.Escrito por Gabrielle Rodrigues

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Page 1: O Oprimido Libertador

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO

Nome: Gabrielle Rodrigues Monteiro (Mat. 201501329)

O OPRIMIDO LIBERTADOR

A educação é um ato político. Com essa declaração, Paulo Freire nos

coloca reflexivos a cerca da profundidade dos elementos dessa sentença,

educação e política, e seu vínculo. Coerente com sua pedagogia, que procura

trazer à consciência a situação social que ainda não está consciente no

indivíduo, é natural que o processo de reflexão inicie-se a partir de um

questionamento. Como que a educação é um ato político?

Primeiro deve-se considerar que, para Freire, existem dois grandes

grupos na sociedade: o grupo dos opressores e o grupo dos oprimidos, no qual

os opressores lutam para perpetuar a opressão e os oprimidos para

desvencilhar-se dela. Dessa forma, a educação é um ato político quando o

aluno é ensinado a ler o mundo para que assim possa transformá-lo.

Ao ensinar a ler o mundo Paulo Freire ultrapassou o cerco

tradicionalista, aquela linha imaginária que cercava o ensino tradicional e

limitava o aluno a simples leitura de palavras. Para as classes consideradas

economicamente inferiores, já era o suficiente. Ensinar a pensar atrapalha a

conservação de uma sociedade que está muito bem, obrigado.

Por isso, manter-se neutro é estar a favor dos opressores, pois conserva

uma situação social, não há transformação. Ou você é opressor ou você é

oprimido, não há lugar para o neutro nesse combate, pois a neutralidade é um

instrumento da opressão. Por isso, se você é neutro você está imperiosamente

do lado do opressor. A educação é um ato político quando permite o aluno

reconhecer sua condição de oprimido e que a partir desse reconhecimento

possa atuar a favor da própria libertação.

Page 2: O Oprimido Libertador

Porém ao ensinar seus alunos a como pensar criticamente, Paulo Freire

foi convidado a se retirar do país durante o período da ditadura. Ao sugerir um

ensino que possibilitasse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire também

estava desaprovando o ensino disponibilizado pelo sistema capitalista que é

alicerçado em princípios de dominação, domesticação e alienação, em que o

professor é a autoridade detentora de todo conhecimento e que o aluno é o

passivo, o ouvinte, que armazena o conhecimento transmitido em um arquivo

imaginário em algum lugar do cérebro.

A tal ato Freire o denominou como extensão, cuja prática ele considera

como invasão cultural, visto que cada indivíduo carrega consigo uma bagagem

cultural nem melhor nem pior que a do próximo, o ato de extensão torna-se

uma invasão cultural ao impor o conhecimento de um ser sobre o de outro, sem

troca de saberes, sem a comunicação. Segundo ele, a função do professor é

oferecer ambientes e situações propícias para a produção e criação de

conhecimento ao invés de simplesmente ser transferida adiante aquela carga

que o professor carrega como verdade incontestável.

Assim, para que o conhecimento seja construído, é preciso diálogo.

Pois o conhecimento é produzido no momento que há comunicação a respeito

de um objeto, quando ocorre o processo dialógico entre dois sujeitos

comunicantes a respeito da significação do objeto em questão. Para o

pedagogo "os homens se educam entre si mediados pelo mundo", e ao

construir significados, o sujeito constrói também a si mesmo e o mundo, num

contínuo processo de construção histórica.

Diferente da extensão, durante o ato comunicativo não existe sujeito

passivo, ambos são ativos na concepção dos significados ao compartilharem

suas exposições, o que é vital para que de fato exista a comunicação e o

conhecimento se renove a cada diálogo pelas infinitas combinações culturais e

suas resultantes.

Para DaMatta (1986) “Cultura é [...] um mapa, um receituário, um código

através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e

modificam o mundo e a si mesmas.” Não existe cultura melhor ou pior, mas

diferentes culturas que se complementam em suas variedades . Porém, para o

Page 3: O Oprimido Libertador

imaginário social, cultura é sinônimo de instrução, de conhecimento ou estudo,

induzindo equivocadamente a afirmação de que algumas pessoas possuem

cultura e outras não. Ainda assim, mesmo ao considerar a cultura como

sinônimo de conhecimento, essa afirmação permanece inválida, pois todo ser é

um sujeito que detém conhecimentos em sua variedade cultural. Afirmar que

esse indivíduo não pode contribuir com suas considerações por não deter um

conhecimento prévio considerado necessário caracteriza o ensino opressor no

qual estamos inseridos.

Talvez certos grupos de oprimidos nunca tenham a “cultura” necessária

para ter espaços na construção de conhecimento, construção histórica e

construção de si mesmos. O ensino torna-se assim um instrumento de controle

social, opondo-se ao ensino libertador freiriano. Contém, ao invés de libertar.

Coisifica ao invés de humanizar. E uma vez desperta essa consciência, ela não

adormece outra vez. Uma vez expandida, não há pessoa, empresa, entidade

ou sistema que a contenha novamente. Pois a sua consciência ninguém te

toma. Cabe a cada ser humano sentir a sua responsabilidade e dever de

libertar o próximo de maneira que não seja mais somente um oprimido, mas se

for para ser oprimido que o seja por ser um libertador.