o novo cpc e o penhor legal em cartório de notas, com ... · pagamento total das quantias devidas...
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O Novo CPC e o penhor legal em cartório de notas, com notificação do
devedor pelo Registrador de Títulos e Documentos
* Gustavo Machado de Faria
** Letícia Franco Maculan Assumpção
INTRODUÇÃO
O que é o penhor legal? Como se processa? É útil essa figura?
Trata-se de tema desconhecido de quase todos, mesmo na área jurídica, mas
que, com o Novo CPC e a possibilidade de homologação do penhor legal em
cartório de Notas, após notificação que preferencialmente será feita pelo
Registro de Títulos e Documentos e que pode ser solicitada de forma
eletrônica, tornar-se-á importante instrumento para o locador, para receber o
que lhe é devido, principalmente nesses tempos de crise.
DESENVOLVIMENTO
Desde 18/03/2016 (em virtude do Novo CPC, art. 703, § 2º), é possível a
homologação do penhor legal em cartório de Notas.
O penhor legal está previsto no Código Civil:
Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente deconvenção: I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada oualimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seusconsumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ouestabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; II- o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que orendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelosaluguéis ou rendas.
Há também previsão de penhor legal na Lei nº. 6.533/78. Por esta norma,
artistas e técnicos em espetáculos, não havendo pagamento das parcelas
remuneratórias ajustadas, têm direito a constituir penhor legal sobre
equipamentos do empregador. Vejamos:
Art . 31 - Os profissionais de que trata esta Lei têm penhor legalsobre o equipamento e todo o material de propriedade doempregador, utilizado na realização de programa, espetáculo ouprodução, pelo valor das obrigações não cumpridas pelo empregador.
Ademais, apesar de adotar nomenclatura distinta,o art. 632 do CódigoComercial contém uma clara hipótese de penhor legal:
“Art. 632 - O capitão tem hipoteca privilegiada para pagamento dopreço da passagem em todos os efeitos que o passageiro tiver abordo, e direito de os reter enquanto não for pago. O capitão sóresponde pelo dano sobrevindo aos efeitos que o passageiro tiver abordo debaixo da sua imediata guarda, quando o dano provier de fatoseu ou da tripulação.”
Portanto, é importante destacar que outras leis federais podem dispor sobre
hipóteses de ocorrência do penhor legal, sendo que o caput do art. 703 do
novo CPC compreende todos “os casos previstos em lei”.
Já o art. 703, § 2º, do novo CPC prevê a homologação do penhor legal pelo
notário:
Art. 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei,requererá o credor, ato contínuo, a homologação.§ 1o Na petição inicial, instruída com o contrato de locação ou a contapormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a relação dosobjetos retidos, o credor pedirá a citação do devedor para pagar oucontestar na audiência preliminar que for designada.§ 2 o A homologação do penhor legal poderá ser promovida pelavia extrajudicial mediante requerimento, que conterá osrequisitos previstos no § 1 o deste artigo, do credor a notário desua livre escolha.§ 3o Recebido o requerimento, o notário promoverá a notificaçãoextrajudicial do devedor para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar odébito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma dascausas previstas no art. 704, hipótese em que o procedimento seráencaminhado ao juízo competente para decisão.§ 4 o Transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, onotário formalizará a homologação do penhor legal por escriturapública.Art. 704. A defesa só pode consistir em:I - nulidade do processo;II - extinção da obrigação;III - não estar a dívida compreendida entre as previstas em lei ou nãoestarem os bens sujeitos a penhor legal;IV - alegação de haver sido ofertada caução idônea, rejeitada pelocredor.Art. 705. A partir da audiência preliminar, observar-se-á oprocedimento comum.Art. 706. Homologado judicialmente o penhor legal, consolidar-se-á a posse do autor sobre o objeto.§ 1o Negada a homologação, o objeto será entregue ao réu,ressalvado ao autor o direito de cobrar a dívida pelo procedimentocomum, salvo se acolhida a alegação de extinção da obrigação.
§ 2o Contra a sentença caberá apelação, e, na pendência de recurso,poderá o relator ordenar que a coisa permaneça depositada ou empoder do autor.
Interessantíssimo o instituto, mas importante ter uma visão global do penhor
para melhor orientação aos interessados na sua aplicação. O que é o penhor?
Qual o procedimento do penhor legal em cartório de notas? Como avaliar os
bens do devedor? Após a homologação do penhor em cartório de notas, quais
as conseqüências do penhor legal? É necessário registrá-lo no RTD ou não? É
necessário excutir o penhor? Qual o prazo prescricional?
O PENHOR É UM DIREITO REAL DE GARANTIA
Segundo Domingos Sávio de Sousa1,é regra fundamental no direito
obrigacional que o patrimôniodo devedor deve suportar suas dívidas. O credor
pode se servir de garantias, pessoais ou fidejussóriase reais, para o
cumprimento da obrigação e satisfação do seu crédito. Garantia fidejussória é
aquela em que a relação jurídica obrigacional resta assegurada por pessoa
estranha, caso o devedor não solva o débito original.
Sílvio Venosa2, mencionado por Sousa,esclarece que “quando há direito real
de garantia, especializa-se um bem, isto é, individualiza-se e determina-se
o que a princípio era indeterminado, respondendo ele preferencialmente
por determinada dívida”.
Sousa ensina que a diferença fundamental entre os direitos de uso e gozo e os
direitos reais de garantia é que: enquanto aqueles têm existência autônoma,
estes se constituem em direito acessório, cuja existência depende de uma
relação jurídica obrigacional subjacente, a que prestam garantia.
1O instituto do penhor no direito brasileiro. SOUSA, Domingos Sávio de. Disponível em:<http://ambito-juridico.com.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
2 VENOSA, Sílvio. Direito Civil: direito reais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 3, p. 488
Ainda conforme Sousa, a natureza real do direito de garantia é confirmada no
art. 1.419 do Código Civil: “Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou
hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao
cumprimento da obrigação.”Aocredor pignoratício é conferido o direito de
preferência (CC, art. 1.442, parágrafo único) ao pagamento do seu crédito, vale
dizer, tem precedência no recebimento dos montantes devidos pela dívida, ou
seja, quando houver diversos credores para uma dívida e posterior ocorrer a
arrematação do bem onerado, será dada preferência ao pagamento dos
credores que ostentarem garantias reais para que, posteriormente, se efetue o
pagamento dos demais credores.Outro efeito dos direitos reais de garantia é o
direito de excussão, ou seja, de poder executar judicialmente bens do
devedor dado em garantia, “de fazer depositar a coisa objeto dessas
garantias em juízo, a fim de que seja alienada em hasta pública”3. A preferência
que ostenta o credor está limitada à própria garantia real outorgada, ainda que,
após a excussão, reste crédito a seu favor. O restante da dívida, porém, não
possui qualquer privilégio e está sujeito à concorrência com eventuais credores
quirografários.
Ensina Sílvio Rodrigues4:
Não paga a dívida garantida por penhor ou hipoteca, pode ocredor proceder à excussão, a fim de pagar-se de seu créditocom o produto obtido em praça. Entretanto, talvez o bem dado emgarantia não alcance, no leilão judicial, importância suficiente parapagar a totalidade da dívida. Isso ocorrendo, a cifra recebida seráimputada no crédito exeqüente. Pelo saldo irresgatado continuarápessoalmente responsável o devedor, o que vale dizer que o créditocorrespondente a essa importância adquirirá o caráter dequirografário (CC, art. 1.430).
Conforme art. 1.431 do Código Civil, penhor é o direito real constituído pela
submissão de uma coisa móvel ou mobilizável, passível de alienação,
realizada pelo devedor, em garantia do débito ao credor.E do Código Civil
3VENOSA, op. cit. p. 489.
4RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito das coisas. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 343.
se extrai que são os sujeitos da relação pignoratícia: o devedor, sujeito passivo
da obrigação principal ou terceiro estranho àquela que ofereça o ônus real,
podendo ser proprietário da coisa onerada ou não (CC, arts. 1.427), mas,
sendo aquele que contraiu a dívida, deve destinar a posse do bem
empenhado como garantia do credor; e o credor, titular do direito de
crédito, aquele a quem é conferida a posse da coisa empenhada pelo
devedor, contudo, sem possibilidade de atribuição dos poderes de usar e
gozar da coisa ou de pacto comissório (CC, art. 1.428), que autorize o
credor a se apropriar do bem onerado, sob pena de nulidade.
Logo, a natureza jurídica do penhor é de direito real de garantia sobre coisa
alheia, ou, como ensina Sílvio Rodrigues: “o direito do credor pignoratício recai
diretamente sobre a coisa. Uma vez legalmente constituído, opera erga omnes,
é munido de ação real e de seqüela, deferindo, ademais, ao seu titular, as
vantagens da preferência.”5
O penhor recai ordinariamente sobre bens móveis e a coisa empenhada deve
ser alienável, já que o objetivo do direito real de garantia é assegurar a solução
do débito, mediante a alienação do bem empenhado, pagando-se o credor com
o produto dessa venda (CC, art. 1.420).
O PENHOR LEGAL NO CÓDIGO CIVIL
No direito civil brasileiro, o penhor se constitui por força de lei ou por
convenção das partes.
Conforme Sousa, a determinados credores a norma jurídica atribuiu proteção
especial, ao conferir o direito de retenção de certas coisas para garantir o
pagamento total das quantias devidas pelo devedor (CC, art. 1.467). É o
caso dos hospedeiros ou fornecedores de pousada ou alimentos, sobre os
bens que seus clientes portarem consigo nos respectivos estabelecimentos,
para fazer face às despesas que ali tiverem realizado; bem como, do
5RODRIGUES, op. cit. p. 350.
proprietário de imóvel urbano, sobre os bens móveis do inquilino nele
localizados, para pagamento dos alugueis vencidos (CC, art. 1.467, I e II).
Por convenção, o penhor é constituído pela manifestação volitiva do credor e
do devedor, que estabelecem a garantia pignoratícia por meio de instrumento
particular ou público, devidamente registrado no Cartório de Títulos e
Documentos (CC, art. 1.432). Mas e o penhor legal, devidamente homologado,
deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos ou não?
REGISTRO OU AVERBAÇÃO DO PENHOR LEGAL, DE SUA CESSÃO, SUB-
ROGAÇÃO OU DAÇÃO EM PAGAMENTO
O Código Civil dispõe que o penhor comum (art. 1.432), o penhor de direito
(art. 1.452) e o penhor de veículo (art. 1.462) devem ser registrados junto ao
Cartório de Títulos e Documentos; já o penhor rural (art. 1.4380) e o penhor
industrial ou mercantil, junto ao Cartório de Registro de Imóveis.
Mas, não trata o Código Civil expressamente da necessidade de o penhor legal
vir a ser registrado, seja no Ofício de Registro Títulos e Documentos, seja no
Ofício de Registro de Imóveis. O penhor legal é figura anômala que autoriza o
credor apreender bens em garantia da dívida. Não há sequer a figura do
contrato de penhor; mas, nas palavras de Caio Mário, há uma “providência de
caráter privado” que “tem fundamento ético e econômico embora conserve um
resquício de justiça feita pelas próprias mãos.” 6
Sem embargo, o registro no Ofício correspondente, embora não seja requisito
de validade à regular constituição do penhor legal, é extremamente
recomendável. É que havendo um conflito entre garantias reais constituídas
sobre um mesmo bem móvel, a prioridade na ordem de registro é um critério
que dificilmente poderá ser desconsiderado.
6NOTA: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro:
Forense, 2000. p. 220
Por outro lado, não há dúvidas de que a cessão do crédito, a cessão do direito
sobre a coisa empenhada, a sub-rogação e, ainda, a dação em pagamento da
coisa empenhada dependem necessariamente do registro no Ofício de Títulos
e Documentos para surtir efeitos em relação a terceiros, nos termos do item 9º.
do art. 129 da Lei nº. 6.015/73.
PENHOR CONSTITUÍDO SOBRE BENS UTILIZADOS NO EXERCÍCIO DA
EMPRESA
Merece atenção especial o penhor legal constituído sobre “o equipamento e
todo o material de propriedade do empregador, utilizado na realização de
programa, espetáculo ou produção”, conforme previsto no art. 31 da Lei nº.
6.533/78; assim como, em locações não residenciais, quando o penhor recaia
sobre bens móveis que sejam utilizados para consecução do objeto social de
sociedade ou de empresário.
É que o art. 1.442 do Código Civil considera como sendo “estabelecimento todo
complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou
por sociedade empresária”. Estes bens, portanto, como estão afetados à
atividade empresarial não admitem a designação de um simples depositário,
mas exigem um “administrador-depositário”, conforme consta expressamente
do art. 862 do novo CPC:
“Art. 862. Quando a penhora recair em estabelecimento comercial,
industrial ou agrícola, bem como em semoventes, plantações ou
edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-depositário,
determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano de
administração.”
Espera-se do administrador-depositário, além da capacidade de boa guarda
destes bens, uma eficaz administração para que estes se mantenham
produtivamente ligados ao exercício da empresa. É de se destacar que,
eventualmente, os bens de uma filial podem ser empregados em outra unidade
para forma a assegurar a continuidade das atividades empresariais e a geração
de créditos necessários ao pagamento das dívidas sociais.
O Tribunal de Justiça de São Paulo, verificando a presença de vícios na
constituição do penhor legal, também deu destaque ao fato de o penhor, no
caso, ter afetado o exercício da empresa:
"Não há como deixar de se reconhecer prejuízo por dano
moral, diante da retenção indevida de bens, ainda mais,
se necessários ao desenvolvimento da atividade
empresarial do proprietário."7
Isto se dá por que dispõe o CPC que a penhora de estabelecimento comercial
“somente será determinada se não houver outro meio eficaz para a
efetivação do crédito.” (art. 865)
Embora o estabelecimento compreenda elementos incorpóreos e corpóreos,
são estes últimos os que despertam especial atenção na fixação do penhor
legal. São os “bens móveis e imóveis utilizados na atividade empresarial, tais
como: estoque, matéria-prima, prateleiras, cadeiras, mesas, automóveis,
máquinas, imóveis etc.”8
Contudo, não são todos os bens do empresário que necessariamente
compõem o estabelecimento, conforme destaca Fábio Ulhôa:
“Os bens de propriedade do empresário, cuja exploração não
se relaciona com o desenvolvimento da atividade econômica,
integram o seu patrimônio, mas não o estabelecimento
empresarial.”9
7 Tribunal de Justiça de São Paulo. 26º. Câmara. Apelação com revisão. n°
992.06.064952-5 (1.079.854-0/9) São José do Rio Preto.
8SILVA, Bruno Matos e. Direito de Empresa: teoria da empresa e direito societário.
São Paulo: Atlas, 2007. p. 131.
9COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 16 ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2005. p. 58
Assim, apesar de numa locação não residencial os bens do locatário serem
presumivelmente utilizados para o exercício da empresa, somente o locatário
poderá fazer tal afirmação. Eventualmente, tais bens já podem ter sido
desafetados da atividade empresarial, por encerramento de atividades
(circunstância até presumível) ou outras razões alheias ao conhecimento do
Tabelião.
Neste contexto, uma alternativa segura consiste em fazer constar da
Notificação Extrajudicial a informação de o locatário, ao apresentar sua defesa,
dever se manifestar acerca da questão. Se o locatário informar que os bens
são utilizados na ‘exercício da empresa’, ao fazer o encaminhamento do
procedimento ao Juiz, o Tabelião destacará tal circunstância; caso o prazo
transcorra in albis, o Tabelião consignará que o locatário, indagado, foi silente
acerca da circunstância de os bens serem utilizados na atividade da empresa.
Em todo o caso, uma segurança adicional reside em o Tabelião exigir a
declaração do credor de que não há outra garantia prestada pelo devedor, pois
“é vedada, sob pena de nulidade, mais de uma das modalidades de garantia
num mesmo contrato de locação”, conforme parágrafo único do art. 37 da Lei n.
8.245/91.
Em suma, o procedimento de averbação junto aos registros da sociedade ou
empresário poderá ser determinado judicialmente (conforme art. 1.144); mas,
administrativamente, o Tabelião trabalhará com as informações seguras que
detém, evitando o risco de se fazer constar dos assentos da sociedade uma
equivocada oneração do estabelecimento.
Por outro lado, se houver sido homologado um penhor legal em juízo com a
determinação de se constar dos assentos da sociedade o gravame total ou
parcial do estabelecimento, o Tabelião, se vier a lavrar escritura de acordo
entre as partes desconstituindo o penhor, deverá consignar que o
representante legal da sociedade deverá proceder à desoneração do
estabelecimento.
IMPENHORABILIDADE DE BENS ÚTEIS AO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO
DO EXECUTADO
O penhor legal constituído sobre bens ligados ao exercício da empresa
encontra limitação apenas quanto à forma de homologação, visto caber ao juiz
nomear administrador-depositário; mas, em relação aos bens que são úteis ao
exercício da profissão do executado, há absoluta impossibilidade de penhora,
nos termos do art. 833 do novo CPC:
Art. 833. São impenhoráveis:
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, osinstrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercícioda profissão do executado;
§ 3o Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput osequipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas pertencentesa pessoa física ou a empresa individual produtora rural, excetoquando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejamvinculados em garantia a negócio jurídico ou quando respondam pordívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária.
Estes bens, mesmo que de forma tênue, se distinguem daqueles outros ligados
ao exercício da empresa. Estes são absolutamente impenhoráveis (mesmo
judicialmente), não podendo sequer ser aceitos pelo Tabelião; já aqueles
outros, presumivelmente ligados à atividade empresarial, podem iniciar seu
processo de homologação extrajudicialmente e, na hipótese de confirmação
pelo devedor de seu emprego na atividade empresarial,devem ser remetidos
ao juízo competente para a apreciação da defesa do devedor e a nomeação de
administrador-depositário, se for o caso.
Embora a teoria da empresa não divida os atos em civis e mercantis,
importando mais o modo como a atividade econômica é exercida, para fins
identificação dos bens absolutamente impenhoráveis (ligados ao exercício de
profissão) daqueles ligados ao exercício da empresa, o Tabelião necessita de
uma baliza concreta para sua atuação.
Assim, sinteticamente, é possível dizer que são absolutamente impenhoráveis
os bens úteis ao exercício da profissão dos autônomos, das empresas
individuais de responsabilidade limitada de natureza simples e das sociedades
simples, além do produtor rural e da empresa individual produtora rural.
Salvoas duas últimas hipóteses que decorrem de exceção legal, as demais
hipóteses estão afastadas do conceito de empresário, por força dosarts. 966 e.
982 do Código Civil.
Lado outro, os bens empregados em atividade econômica organizada pelos
empresários individuais, pelas empresas individuais de responsabilidade
limitada de natureza empresária e pelas sociedades empresárias, não estão
compreendidos na exceção prevista inciso V do art. 833 do novo CPC.
Em síntese, é interessante verificar que as pessoas jurídicas com fins lucrativos
constituídas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, assim como os
advogados e as Sociedades de Advogados com registro na Ordem dos
Advogados Brasil, estão amparadas pela impenhorabilidade prevista no inciso
V do art. 833 do CPC; já, as registradas nas Juntas Comerciais, não.
DIREITOS E DEVERES DECORRENTES DO PENHOR
Nos termos do art. 1.433 do Código Civil, o penhor confere ao credor
pignoratício os seguintes direitos: a posse da coisa empenhada; a retenção
dela, até que o indenizem das despesas devidamente justificadas, que tiver
feito, não sendo ocasionadas por culpa sua; o ressarcimento do prejuízo que
houver sofrido por vício da coisa empenhada; excutir a coisa empenhada,
promovendo a execução judicial, ou a venda amigável, se lhe permitir
expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração;
apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder;
promover a venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre
que haja receio fundado de que a coisa empenhada se perca ou deteriore,
devendo o preço ser depositado, ressalvado o direito do dono da coisa
empenhada de impedir a venda antecipada, substituindo-a, ou oferecendo
outra garantia real idônea.
O credor pignoratício não pode ser compelido à devolução da coisa
empenhada, ou uma parte dela, antes do pagamento integral da dívida,
cabendo ao juiz, a requerimento do devedor-proprietário, determinar que seja
vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa empenhada, suficiente para
o pagamento do credor pignoratício (CC, art. 1.434)
Ao credor pignoratício foram outorgadas as seguintes obrigações (CC, art.
1.435): custódia da coisa, como depositário, devendo ressarcir ao dono a
perda ou deterioração de que for culpado, podendo ser compensada na dívida,
até a concorrente quantia, a importância da responsabilidade; defesa da posse
da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono dela, das circunstâncias que
tornarem necessário o exercício de ação possessória; imputar o valor dos
frutos, de que se apropriar (art. 1.433, inciso V) nas despesas de guarda e
conservação, nos juros e no capital da obrigação garantida, sucessivamente;
restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga a dívida, sob
pena de indenizar em perdas e danos; entregar o que sobeje do preço, quando
a dívida for paga, no caso do inciso IV do art. 1.433.
Para Sílvio Venosa, “o principal direito do credor pignoratício é excutir o bem,
realizando o valor da dívida, na hipótese de inadimplemento (CC, art. 1.422). O
penhor é direito de realização de valor e atribui ao credor o direito de prelação
sobre a coisa empenhada”10.
O penhor legal é, pois, a modalidade de garantia real estabelecida pela lei em
favor de certas pessoas. São requisitos do penhor legal a prévia relação
negocial, de hospedagem ou de locação, e o inadimplemento de prestação
prevista naquele contrato.
A proteção conferida a tais credores é importante, pois a lei autoriza a imediata
apreensão de coisa pertencente ao devedor, até o valor da dívida (CC, art.
1.469), dispensada a prévia decisão judicial, sempre que caracterizado o perigo
na demora, exigindo-se apenas a comunicação ao devedor dos bens
apossados (CC, art. 1.470) e o requerimento da homologação judicial ou
10VENOSA, op. cit. p. 507.
extrajudicial do penhor, em ato contínuo (CC, art. 1.471 e art. 703, §
2º,do novo CPC)
Quanto aos hospedeiros e fornecedores de pousada e alimentação, a lei exige
ainda que o montante da dívida seja apurada de acordo com a tabela impressa,
prévia e ostensivamente exposta no estabelecimento, dos respectivos preços,
sob pena de nulidade do penhor (CC, art. 1.468).
Após homologado judicialmente ou extrajudicialmente o penhor legal, a
constituição do direito real de garantia é finalizada, e o credor deixa de ser
mero detentor da coisa apreendida, devendo iniciar a execução da dívida no
prazo legal, sob pena de prescrição da ação, sendo que tal prazo, conforme
CC, art. 206, §§ 1º e 3º, I, é de três anos11.
Não homologado o penhor legal, a coisa apreendida deve ser restituída ao
devedor, ressalvado ao credor o direito à via ordinária para cobrança da dívida
(CPC, art. 876, in fine).
APLICAÇÃO SIMULTÂNEA DO CÓDIGO CIVIL E O DE DEFESA DO
CONSUMIDOR.
A hipótese prevista no inciso I do art. 1.467 do Código Civil, penhor legal em
favor de hospedeiros, fornecedores de pousada ou de alimento, por envolver
uma relação consumerista, sujeita-se à observância das disposições especiais
contidas no Código de Defesa do Consumidor.
Há, contudo, quem sustente que o dispositivo seria inaplicável, pois colocaria o
consumidor em situação de manifesta desvantagem em relação ao fornecedor,
além de que a forma de cobrança seria vexatória.
Contudo, entendemos ser plenamente possível a aplicação simultânea de
ambas as normas. A constituição do penhor legal rege-se conforme os arts.
1.467 a 1.472 do Código Civil; formaliza-se nos termos dos arts. 703 a 706
11 I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
doCPC; mas, envolvendo uma relação de consumo, pelo princípio da
especialidade, necessariamente deverá, também, observar as disposições
contidas no Código de Defesa do Consumidor.
Cláudia Lima Marques destaca que não há um conflito real entre o Código Civil
e o Código de Defesa do Consumidor, mas sim uma antinomia aparente e não
real. Vejamos:
“Útil, pois, é a idéia de ‘diálogo’ das fontes, diálogo que significa a
aplicação simultânea, coordenada e sistemática destas duas leis
principais e coexistentes no Direito Privado brasileiro. Três serão, em
resumo, os diálogos entre o CC/2002 e o CDC: o diálogo sistemático
de coerência, o diálogo sistemático de complementariedade e
subsidiariedade em antinomias (reais ou aparentes) e o diálogo de
coordenação e adaptação sistemática.”12
É que a desejada proteção do consumidor reclama que a constituição do
penhor legal, previsto no inciso I do art. 1.467 do Código Civil, observe uma
série de cautelas.
O primeiro cuidado deve ser tomado antes mesmo de o credor tomar os bens
em penhor, visto que não poderá o consumidor ser “exposto a ridículo”, nem
ser“submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.” (art. 42 do
C.D.C)
Contudo, não constitui ameaça a informação do fornecedor ao consumidor de
que “tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de
transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento” é crime previsto
no art. 176 do Código Penal; mas, constitui ameaça a tomada dos bens objeto
de penhor à força. Neste ponto, é importante destacar a lição de Sílvio de
Salvo Venosa:“Entre outras diferenças, pode-se apontar que, para exercer o
direito de retenção, o retentor deve estar na posse do bem, o que não ocorre
no penhor legal, em que o credor toma posse da coisa.” 13Portanto, estando os
12Nota: Marques, Cláudia Lima. Superação das antinomias pelo diálogo das fontes: o
modelo brasileiro de coexistência entre o Código de Defesa do Consumidor e o Código
Civil de 2002. Revista da Esmese, nº 07, 2004. p. 54
13VENOSA, Sílvio. Direito Civil: direito reais. São Paulo: Atlas, 2001. p. 400
bens móveis na posse do devedor, não há o chamado direito de retenção; mas,
de apreensão.14
Tal apreensão, contudo, deve ocorrer somente em duas hipóteses: havendo
consenso entre as partes; ou, quando os bens sejam deixados no
estabelecimento do credor, não havendo, no momento da apreensão ou
apossamento, a detenção direta dos mesmos pelo devedor.
Assim, adotadas tais cautelas e o zelo com imagem do consumidor, não há
ilícito na apreensão realizada, mas sim um exercício regular de um direito.
Neste sentido, é o voto do Desembargador Ângelo Passareli do TJDFT,
proferido na apelação 20090710162526APC:
“Percebe-se, destarte, que a situação retratada nos autos
não importou sequer abuso de direito por parte do ora
Apelante, uma vez que o Autor consentiu com a inversão
da posse do seu telefone celular, justamente porque não
tinha como pagar a conta naquele momento. Portanto,
diante de exercício regular de direito praticado pelo
ora Apelante, não restou eficazmente demonstrado
nem o ato ilícito supostamente praticado pelo Réu,
nem o dano moral alegadamente experimentado pelo
Autor, nem tampouco o nexo de causalidade entre eles,
não subsistindo, destarte, qualquer obrigação, na espécie.
Dessa forma, não tendo sido carreada aos autos qualquer
prova das humilhações, do vexame e do constrangimento
narrados na inicial, baseando-se a reparação de danos
perquirida na peça de ingresso apenas nas assertivas do
próprio Requerente, não há como se acolher o pleito
indenizatório formulado em desfavor do estabelecimento
comercial Réu.” 15 (grifamos)
14O art. 1.470 utiliza a expressão ‘apossar’ ao destacar dever do credor fornecer aos
devedores o “comprovante dos bens de que se apossarem”.
15TJDFT, 5ª TURMA CÍVEL. APELAÇÃO N. 20090710162526APC (0001830-
96.2009.8.07.0007). Decisão proferida em 26 de novembro de 2014.
Além disto, o fornecedor deve tão somente aceitar em penhor ou apreender os
bens que sejam suficientes à satisfação do débito, uma vez que lhe é vedado
exigir vantagem manifestamente excessiva (inciso V do art. 39 do C.D.C).
Essencial também que o credor dê o comprovante dos bens simultaneamente
ao ato de apreensão, nos termos do art. 1.470 do Código Civil. A ausência do
fornecimento deste comprovante, assim como da subsequente homologação,
descaracteriza o penhor e pode, inclusive, ensejar indenização por dano moral,
tal como já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo.16
Também o requerimento de homologação extrajudicial deve ocorrer
seguidamente à apreensão dos bens, justificando-se a razão da apreensão
realizada. O longo transcurso de tempo entre a apreensão e a homologação
pode descaracterizar o penhor legal, uma vez que o caput do art. 703 estipula
que o credor deve requerer a homologação em ato contínuo à tomada do
penhor.
A 12ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais decidiu que “Não
observando o locador os termos do art. 1.471 do Código Civil, que permite a
ele o penhor legal dos bens móveis do locatário pelo valor dos aluguéis
devidos, a retenção dos bens se afigura ilegal.”17 O Relator, Desembargador
Saldanha da Fonseca asseverou em seu voto que:
“Assim sendo, a retenção dos móveis pelo locador pode não ser ilegal;contudo, para que o penhor se faça na forma da lei, não pode o locadorsomente reter os bens móveis, devendo também cumprir o art. 1.471 doCódigo Civil, requerendo a homologação judicial.Desatendido o comando legal,não pode se sustentar a retenção dos bens pertencentes ao agravante,restando configurado o abuso de direito.”
16TJSP - 26a Câmara - Apelação com Revisão n° 992.06.064952-5 (1.079.854-0/9)
São José Do Rio Preto. Trecho da Ementa: “No caso, não há prova de que a ré deu ao
devedor, ou às autoras, comprovante dos bens de que se apossou nem de que, ato
contínuo, requereu a homologação judicial do penhor legal (arts. 874 a 876, CPC), nos
termos do art. 1.471 do mesmo Código.”
17Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.10.086845-4/001 0188774-31.2010.8.13.0000
(1). Relator: Des. Saldanha da Fonseca. Órgão Julgador: 12ª Câmara Cível. Data de
Julgamento: 30/06/2010. Data da publicação da súmula: 19/07/2010.
Outro ponto importante a considerar é que o requerimento do fornecedor deve
conter a conta pormenorizada das despesas, a tabela de preços e a relação
dos objetos retidos, conforme §§1º. e 2º. do art. 703 do Código de Processo
Civil.
A conta pormenorizada das despesas não poderá compreender itens que
tenham sido enviados ou entregues ao consumidor, sem sua solicitação prévia
(inciso III do art. 39 do C.D.C). Neste sentido, não podem ser levados à conta
valores de couvert, brindes, cortesias e outros.
Já em relação à tabela de preços, será válida aquela que, ao tempo da
contratação, estava afixada na sede do estabelecimento e à disposição do
consumidor. Tendo sido a contratação realizada pela internet, será válida a
tabela e as ofertas que foram veiculadas pelo site do prestador ou, até mesmo,
por intermediário, agenciador ou empresa de viagens. É que é direito básico do
consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem” (inciso III do art. 6º. do C.D.C.).
A tabela de preços, contudo, deixará de prevalecer se houver “informação ou
publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de
comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados”
(art. 30 do C.D.C). Assim, sendo tal oferta mais vantajosa ao consumidor e
estando obrigado o fornecedor a observá-la, esta oferta também deverá
também instruir o requerimento.
Muitas vezes a falta de pagamento total ou parcial do consumidor ocorre
justamente por este considerar válidos os valores constantes de oferta pública.
E de fato, cabe ao consumidor o direito de “exigir o cumprimento forçado da
obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade”(art. 35, inciso I
do C.D.C.).
Portanto, é recomendável que da escritura pública conste que o fornecedor
declara não ter veiculado oferta, por quaisquer meios, que tenha alterado a
tabela de preços afixada no estabelecimento.
Também a notificação extrajudicial do consumidor deve assegurar a facilitação
da defesa de seus direitos (inciso VIII do art. 6º.), sendo desarrazoado que o
consumidor tenha que se deslocar a Cartório de Notas de outra Comarca para
apresentar sua defesa, devendo, nesta hipótese, ser admitida a remessa da
defesa por via postal ou por notificação extrajudicial realizada por Cartório de
Títulos e Documentos.
E, por fim, mesmo regularmente processada a homologação do penhor legal, é
importante rememorar que “o penhor legal não confere direito à posse definitiva
da coisa, necessitando-se da intervenção judicial para futura expropriação”,
conforme já decidiu a 14ª. Câmara Civil do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais.18
Portanto, o cenário de uma completa e desejada desjudicialização do instituto
do penhor legal irá depender da ocorrência de algumas das hipóteses de
extinção do penhor previstas no art. 1.436 do Código Civil. É que o conflito e a
solução permanecerão no âmbito extrajudicial quando: o devedor
espontaneamente pagar a dívida, extinguindo a obrigação (inciso I); o credor
renunciar a seu direito (inciso III); ou, as partes ajustarem uma dação em
pagamento, hipótese em haverá confusão na mesma pessoa das qualidades
de credor e dono da coisa (inciso IV).
Da Notificação Extrajudicial
Consta do §3º. Do art. 703 do novo CPC que:
“§ 3o Recebido o requerimento, o notário promoverá a notificação
extrajudicial do devedor para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito
18Agravo de Instrumento 1.0024.07.579432-1/001 5794321-45.2007.8.13.0024 (1) Relator: Des.(a) Antônio de Pádua. Órgão Julgador / Câmara: Câmaras Cíveis Isoladas / 14ª CÂMARA CÍVEL. Data de Julgamento: 25/10/2007. Data da publicação da súmula: 13/11/2007.
ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das causas previstas
no art. 704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo
competente para decisão.” (grifamos)
A dúvida então seria se o notário “notificará o devedor” ou apenas “promoverá
a notificação extrajudicial do devedor”. Muito embora a lei não empregue
palavras inúteis, entendemos que cabe às Corregedorias Gerais de Justiça
Estaduais fixar a correta intepretação do dispositivo.
Contudo, é seguro que o art. 160 da Lei nº. 6.015/73 confia aos Oficiais de
Títulos e Documentos a tarefa de proceder às chamadas notificações
extrajudiciais, podendo os Tabeliães, sem dificuldades, promoverem as
notificações na Serventia de Títulos e Documentos do domicílio de devedor.
No site https://www.rtdbrasil.org.br/, há umsistema, desenvolvido pelo Instituto
de Registradores de Títulos e Documentos do Brasil, que faz a distribuição da
notificação sem que haja necessidade de o notificante se deslocar à serventia
ou arcar com os custos de postagem.19
Pelo referido Sistema, é possível que as notificações sejam remetidas com
assinatura eletrônica, por meio de certificado digital. Após a remessa eletrônica,
estando a mesma apta a registro, o Sistema disponibiliza um boleto ao Tabelião
o qual, assim que recebê-lo, poderá encaminhá-lo por e-mail ao requerente.
Quando a notificação estiver cumprida, a sua imagem contendo a certidão de
notificação será encaminhada eletronicamente. Este processo garante
agilidade e eficiência no procedimento de notificação, além de assegurar os
benefícios de uma qualificada notificação pessoal do devedor.
A redação da notificação, além das informações de estilo, qualificação de
notificante e notificado, indicação do endereço completo onde deverá ser
cumprida, também deve informar ao devedor o prazo de 5 (cinco) dias para
pagar o débito ou impugnar a sua cobrança, alegando por escrito uma das
19Em virtude do Provimento n. 48/2016 do CNJ, as Centrais de Serviço Eletrônico Compartilhado de RTDPJ serão estadualizadas; mas, a implantação deverá ocorrer dentro do prazo fixado pelo CNJ e sem quebra na continuidade da prestação dos serviços ao usuário.
causas previstas no art. 704. E, em se tratando de bens de locação não
residencial, recomendável que a notificação indague o devedor se os bens
relacionados são ou não utilizados no exercício da empresa.
Além disto, importante destacar que a notificação que não contenha
documentos anexos terá valores de registro mais baixos. Sem embargo, todas
as informações listadas no §1º. do art. 703 do novo CPC (conta pormenorizada
das despesas, a tabela de preços e a relação dos objetos retidos) devem estar
reproduzidas em seu corpo para que o devedor tenha real oportunidade de
defesa.
Em relação ao contrato de locação, é importante observar que os contratos de
locação de prédios estão sujeitos a registro no Ofício de Títulos e Documentos
para surtirem efeitos em relação a terceiros (item 1º. do art. 129 da Lei n.
6.015/73).
EXTINÇÃO DO PENHOR
O penhor é resolvido com a extinção da obrigação; o perecimento da coisa; a
renúncia do credor; a confusão na mesma pessoa das qualidades de devedor e
credor; e a adjudicação judicial, a remição, ou a venda amigável do penhor, se
permitir expressamente o contrato ou for autorizada pelo devedor, conforme
Código Civil (art. 1.436).
É importante observar que, se a obrigação foi apenas parcialmente paga, o
penhor persiste na sua integralidade, em virtude do princípio da indivisibilidade
da garantia, conforme art. 1.421 do Código Civil.
Em regra os bens penhorados serão submetidos à avaliação, para serem
alienados em leilão público. A adjudicação consiste no direito do credor de
adquirir o bem levado a leilão quando não houvesse licitantes (redação antiga
do art. 714 do antigo CPC). Atualmente, com a reforma processual visando
maior celeridade (Lei nº 11.382, de 2006), e de acordo com o art. 685-A, a
adjudicação judicial pode ser de imediato requerida pelo credor, antes da
designação da praça, desde que por preço não inferior ao da avaliação.
A remição consiste na possibilidade conferida ao devedor de excluir
determinado bem da penhora, desde que, antes de adjudicados ou alienados
os bens, o executado pagar ou consignar a importância atualizada da dívida,
mais juros, custas e honorários advocatícios (CPC, art. 651).
Impõe salientar que, seja qual for a causa de extinção do penhor, seus efeitos
em relação a terceiros apenas serão produzidos após a averbação do
cancelamento do registro da garantia, à vista da respectiva prova (CC, art.
1.437), como, por exemplo, sentença judicial, documento do devedor etc. É que
o penhor, como direito real, produz efeitos erga omnes com o seu registro no
órgão competente, logo, sua desconstituição também reclama o devido
cancelamento do registro anteriormente realizado.
CONCLUSÃO
LOGO, O PROCEDIMENTO PERANTE O TABELIÃO É O SEGUINTE:
1) REQUERIMENTO DO INTERESSADO, oportunidade em que adiantará
o pagamento do valor de uma ata notarial e dos arquivamentos
necessários, pois, havendo o pagamento, tudo se resolverá com a ata
notarial, não sendo necessária escritura pública de homologação do
penhor legal, sendo adiantando também o valor da notificação pelo RTD,
que será solicitada ao RTD pelo Tabelião, conforme modelo abaixo
sugerido.
2) NOTIFICAÇÃO SERÁ FEITA (PREFERENCIALMENTE) PELO RTD,
podendo ser solicitada pelo Tabelião ao Oficial do RTD por meio
eletrônico e com pagamento de boleto, e, após efetuada a notificação, o
resultado poderá ser encaminhado ao Tabelião também por meio
eletrônico.
3) O TABELIÃO AGUARDARÁ O PRAZO LEGAL DE 5 DIAS APÓS A
NOTIFICAÇÃO, verificará a existência de impugnação e, tendo em vista
o resultado, lavrará ata notarial narrando todo o procedimento, desde o
requerimento até a notificação, bem como fazendo constar a
apresentação ou não apresentação de impugnação.
4) HAVENDO IMPUGNAÇÃO, será ela remetida ao juiz competente para
decisão, nos termos previstos no art. 703, § 3º, do novo CPC.
5) NÃO SENDO FEITO O PAGAMENTO DO DÉBITO NO PRAZO LEGAL
E NÃO HAVENDO IMPUGNAÇÃO, o interessado comparecerá ao
Tabelionato, onde solicitará a HOMOLOGAÇÃO DO PENHOR LEGAL, o
que será feito por escritura pública com conteúdo financeiro, conforme o
valor do débito existente.
____________________________________________________________
SEGUEM SUGESTÕES DE REQUERIMENTO NOS TERMOS PREVISTOSNO NOVO CPC E DE NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL (sendo que épossível remeter a notificação por meio eletrônico ao cartório do RTDcompetente)
1) MODELO DE REQUERIMENTO
AO TABELIÃO
Eu, FULANA DE TAL, brasileira, viúva, do lar, portadora do RG denúmero XXXXXXXX, CPF XXXXXXXXXXX, residente no seguinteendereço xxxxxxxxxxxxxxxxx, venho requerer a V.Sa., nos termos do art.703, § 3º do Código de Processo Civil, seja providenciada aNOTIFICAÇÃO de xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, brasileira, solteira,do lar, identidade xxxxxxxxxxxx, CPF xxxxxxxxxxxxxx, que atualmentese encontra residindo no endereço xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, parapagamento do débito existente em virtude de locação.
A referida pessoa é locadora do imóvel de minha propriedade, conformecontrato anexo, e está em débito pelo não pagamento até o presentemomento de 3 meses de aluguel, ou seja, aluguéis vencidos em 13 dejaneiro, 13 de fevereiro e 13 de março, sendo que dia 13 de abril vencemais um mês de aluguel. O valor mensal do aluguel é de R$ 380,00(trezentos e oitenta reais) mais o valor de R$ 58,70 (cinquenta e oitoreais e setenta centavos) correspondente ao IPTU.
Assim, já vencido até a presente data o valor de R$ 1.316,10 (hum miltrezentos e dezesseis reais e dez centavos) e a vencer no dia 13 de abrilo valor de R$ 438,70 (quatrocentos e trinta e oito reais e setentacentavos).
Além disso, não foi providenciado junto à Cemig a troca do nome doresponsável pela conta de luz e por isso consta débito, em nome da oraRequerente, junto à Cemig, correspondente ao imóvel locado, no valor,conforme conta anexa, de R$ 311,45 (trezentos e onze reais e quarentae cinco centavos) vencidos até a presente data.
Desta forma, requer a V.Sa., conforme previsto no art. 703, § 3º, doCódigo de Processo Civil, que NOTIFIQUE a referida pessoa para, noprazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito já vencido, qual seja,1.627,55 (hum mil seiscentos e vinte e sete reais e cinquenta ecinco centavos) ou, se o pagamento ocorrer após 13 de abril,quando já vencido o novo aluguel mensal, o valor de R$ 2.066,25(dois mil e sessenta e seis reais e vinte e cinco centavos)diretamente à ora REQUERENTE, no seu endereço de residência, ouimpugnar sua cobrança perante esse Tabelionato, no endereço doCartório, qual seja, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX alegando porescrito uma das causas previstas no art. 704, do Código de ProcessoCivil. Não havendo o pagamento ou a impugnação, a REQUERENTEcomparecerá ao Cartório, querendo, para dar prosseguimento ao feito,com aformalização, por escritura pública, da homologação dopenhor legal dos objetos que guarnecem o imóvel locado,conforme lista anexa e avaliação feita por profissional da áreamoveleira, também anexa, QUANDO SERÃO PAGOS OSEMOLUMENTOS CORRESPONDENTES.
Local e data.
Assinatura do requerente perante o tabelião ou com firma reconhecida
____________________________________________________
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL (FAZER EM UMA SÓ FOLHA E,PREFERENCIALMENTE, SEM ANEXOS, PARA QUE FIQUE MAISECONÔMICO O REGISTRO NO RTD)
O TABELIÃO DE NOTAS XXXXXXXXXXX,COM ENDEREÇOXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, VEM, NA FORMA PREVISTA NO ART. 703,§ 3º, DO NOVO CPC, NOTIFICAR:
NOTIFICADO: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (NOME E QUALIFICAÇÃOCOMPLETA, INCLUSIVE ENDEREÇO ONDE IRÁ SER CUMPRIDA ANOTIFICAÇÃO)
em virtude de requerimento feito por:
REQUERENTE: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (NOME E QUALIFICAÇÃOCOMPLETA, INCLUSIVE ENDEREÇO)
TEOR DESTA NOTIFICAÇÃO
O NOTIFICANTE, que esta subscreve, vem, na forma prevista no art. 703, § 3º,do Código de Processo Civil, notificar respeitosa e formalmente VossaSenhoria sobre os fatos que são expostos a seguir:
Vossa Senhoria é locadora do imóvel de propriedade deXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, conforme contrato anexo, e está em débito coma locadora pelo não pagamento até o presente momento de 3 meses dealuguel, ou seja, aluguéis vencidos em 13 de janeiro, 13 de fevereiro e 13 demarço, sendo que dia 13 de abril vence mais um mês de aluguel. O valormensal do aluguel é de R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais) mais o valor deR$ 58,70 (cinquenta e oito reais e setenta centavos) correspondente ao IPTU.Assim, já vencido até a presente data o valor de R$ 1.316,10 (hum miltrezentos e dezesseis reais e dez centavos) e a vencer no dia 13 de abril ovalor de R$ 438,70 (quatrocentos e trinta e oito reais e setenta centavos). Além disso, Vossa Senhoria não providenciou junto à Cemig a troca do nomedo responsável pela conta de luz e por isso consta débito, em nome daproprietária, junto à Cemig, correspondente ao imóvel locado, no valor,conforme conta anexa, de R$ 311,45 (trezentos e onze reais e quarenta e cincocentavos) vencidos até a presente data.
Segue na tabela abaixo a conta pormenorizada das despesas:
Xxxx
Em razão das despesas acima, foi expedido em favor de Vossa Senhoriaocomprovante dos bens empenhados, nos exatos termos do art. 1.470 doCódigo Civil. São estes:
Xxxxx
Apesar de Vossa Senhoria ter sido comunicada por via telefônica (e-mail ounotificação por Cartório de Títulos e Documentos) para receber o comprovante
supracitado, até o presente momento, XX horas após sua lavratura, não o fez.Neste sentido, é lhe remetido em anexo o referido comprovante juntamentecom a presente notificação.
Desta forma, conforme previsto no art. 703, § 3º, do Código de Processo Civil,fica Vossa Senhoria NOTIFICADA para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar odébito já vencido, qual seja, 1.627,55 (hum mil seiscentos e vinte e setereais e cinquenta e cinco centavos) ou, se o pagamento ocorrer após 13de abril, quando já vencido o novo aluguel mensal, o valor de R$ 2.066,25(dois mil e sessenta e seis reais e vinte e cinco centavos) diretamente àSra. XXXXXXXXXXXXXXXXX, REQUERENTE, no seu endereço deresidência, ou impugnar sua cobrança perante esseTABELIÃO, no endereçodo Cartório, qual seja, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, alegando porescrito uma das causas previstas no art. 704, do Código de Processo Civil,além de informar se alguns dos bens empenhados são utilizados no exercícioda empresa.
Informo que,nos termos do art. 704, § 4º, do Código de Processo Civil,transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, essa notária, oraNotificante, formalizará a homologação do penhor legal dos objetosrelacionados no comprovante supracitado, por escritura pública.
LOCAL, DATA
ASSINATURA DO TABELIÃO
(SE HOUVER REMESSA AO RTD POR MEIO ELETRÔNICO, ASSINARDIGITALMENTE)
NOTA: Caso a parte opte por encaminhar o contrato de locação, o mesmo será
devidamente registrado no Ofício de Títulos e Documentos, nos termos do art.
381 do Código de Normas do Extrajudicial do Estado de Minas Gerais, assim
como do item 1º. do art. 129 da Lei n. 6.015/73).
* Gustavo Machado de Faria é Bacharel em Direito pela PontifíciaUniversidade Católica de Minas Gerais; foi Assessor Jurídico no âmbitodo Estado de Minas Gerais; Analista do Instituto Nacional de Colonizaçãoe Reforma Agrária; desde 18/08/2008 é Oficial de Registro de Títulos eDocumentos e Civil das Pessoas Jurídicas da Comarca de Nova Lima.Atua na qualificação e treinamento de registradores de Títulos eDocumentos e Civil das Pessoas Jurídicas de Minas Gerais, respondendoa consultas e realizando apresentações sobre temas relevantes. A partirde janeiro de 2016, será o consultor da empresa Automatiza Tecnologia eAutomação para o Prolex, Sistema de Registro de Títulos e Documentos eCivil das Pessoas Jurídicas. É o consultor da empresa R2DA Tecnologia
no desenvolvimento de software de Notificação, em tempo real, viasmartphone.
*Letícia Franco Maculan Assumpção é graduada em Direito pelaUniversidade Federal de Minas Gerais (1991), pós-graduada e mestre emDireito Público. Foi Procuradora do Município de Belo Horizonte eProcuradora da Fazenda Nacional. Aprovada em concurso, desde 1º deagosto de 2007 é Oficial do Cartório do Registro Civil e Notas do Distritode Barreiro, em Belo Horizonte, MG. É autora de diversos artigos na áreade Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito Civil, bem comoDireito Registral e Notarial, publicados em revistas jurídicas, e do livroFunção Notarial e de Registro. É Diretora do CNB/MG, Presidente doColégio Registral de Minas Gerais, Coordenadora da Pós-Graduação emDireito Notarial e Registral no CEDIN e representante do Brasil na UniãoInternacional do Notariado Latino.