o novo conceito de recursos naturais e seus desdobramentos
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O novo conceito de recursos naturais
e seus desdobramentos
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Prof. Luis Antonio Bittar Venturi
(Projeto 28 – RCGI)
Departamento de Geografia - USP
ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO:
I - O CONCEITO CORE DE RECURSO NATURAL
II - INCORPORAÇÃO DE QUESTÕES EM ABERTO
III – O NOVO CONCEITO
IV – DESDOBRAMENTOS
V - NOVA CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS
I – CONCEITO CORE DE RECURSO NATURAL
“Qualquer elemento da natureza que
possa ser explorado pelo Homem”.
DIMENSÃO FÍSICA E SOCIAL
II – INCORPORAÇÃO DE QUESTÕES EM ABERTO:
1 - MATERIALIDADE
2 – HISTORICIDADE/GEOGRAFICIDADE
3 - FINALIDADE
4 - UNIVERSALIDADE
II – INCORPORAÇAO DE QUESTÕES EM ABERTO:
1 - MATERIALIDADE
IBGE: “... TODAS AS MATÉRIAS PRIMAS... OBTIDAS DIRETAMENTE DA NATUREZA...”
GUERRA: “ BENS DADIVOSAMENTE FORNECIDOS PELA NATUREZA...”
MAYHEW: “PHYSICAL ENVIRONMENT, SUCH AS MINERALS...”
MAS:
SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) prevê:
“USO INDIRETO DOS RECURSOS NATURAIS PARA FINS DE EDUCAÇÃO,
RECREAÇÃO, CONTEMPLAÇÃO...”
Exemplo de apropriação indireta e imaterial da paisagem enquanto
recurso natural (materialização no preço dos imóveis...)
Fatores culturais influenciando no valor
e na apropriação imaterial do recurso
(Compare Dubai com Recife)
Praia de Boa Viagem
(Recife)A “materialização” ocorre no preço dos
imóveis
Mais exemplos de aproveitamento
indireto e imaterial: o caso do
relevo (forma, aspecto)
AGRONEGÓCIO
TURISMO
HIDROELETRICIDADE
Observem que, nestes casos, é a demanda que
vai até o recurso.
Qualquer elemento ou aspecto da
natureza que pode ser explorado direta
ou indiretamente pelo Homem
Solução conceitual:
Inserção dos termos aspecto e indiretamente na definição
core.
2 – HISTORICIDADE/GEOGRAFICIDADE
Zimmerman: “os recursos não são, eles se tornam”
A demanda diferencia elemento natural de recurso natural
E a demanda pode mudar no tempo (história) e no espaço
(geografia), inclusive por fatores políticos (amianto, energia
nuclear etc)
PARK (2011) define recursos naturais como “any feature of the natural
environment that is of value in meeting human needs [...]” (p.299)
THOMAS e GOUDIE (2003) os definem como “components of the natural
environment that have utility to human kind [...]” (p.332)
Portanto:
É a relação que se estabelece com o elemento que o torna recurso natural.
(Chuva é recurso natural?)
Solução conceitual:
Inserção da expressão que esteja em demanda ou que esteja sendo
utilizado na definição core.
NECESSIDADES =/= ANSEIOS
3 - FINALIDADE
Pirâmide de Maslow
Solução conceitual:
Inserção da expressão necessidades físicas e culturais na definição core.
4 - UNIVERSALIDADE
Ideia tradicional:
recurso natural = natureza transformada pelo trabalho para ser
incorporada no sistema produtivo...
Visão reducionista (o conceito perde universalidade)
E as sociedades feudais, primitivas...?
Solução conceitual:
Inserção da expressão “em qualquer tempo e espaço...”
(Idade do Cobre, do Bronze, do Ferro... Séc. XX, do Aço? Sílica? Cobalto?)
III – O NOVO CONCEITO
Recurso natural pode ser definido como qualquer elemento ou
aspecto da natureza que esteja em demanda, seja passível de
uso ou esteja sendo utilizado pelo Homem, direta ou
indiretamente, como forma de satisfação de suas necessidades
físicas e culturais em qualquer tempo ou espaço.
(Passível de uso?...)
Recursos renováveis X não renováveis?
esgotáveis = minerais
Insuficiente... Por que?
IV – NOVOS DESDOBRAMENTOS
A renovabilidade não é fixa e depende, em grande parte, de fatores
naturais e sociais:
SOLOS: renováveis ou não-renováveis?
Depende do tipo de tipo de clima/rocha e do ritmo de uso e do tipo de uso
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O fator TEMPO (presente nas definições):
A natural resource (such as fresh water, a forest, or renewable energy) that is
replaced at a rate which is at least as fast as it is used, which has the ability
to renew itself and be harvested indefinitely under the right conditions, but
which can be converted into a non-renewable resource if subject to
overexploitation […] PARK (2011, p.378)
A recurrent resource which is not diminished when used but which
will be restored, such as wind-energy. Renewable resources may
be consumed without endangering future consumption as long as
use does not outstrip production of new resources, as in
fishing. In principle, wood is a renewable resource, but in the
absence of well-planned management, short-term exploitation
can induce environmental impacts or conversion other uses
yielding results better likened to mining than sustainable use. […]
(MAYHEW, 2009, p.425)
O fator ESPAÇO: (ausente das definições)
Espaço Renovabilidade
Assim, se recurso renovável =/= recurso inesgotável,
seus opostos também o são:
Recurso não renovável =/= esgotável
Por que?
1) Alguns recursos não renováveis são inesgotáveis, dadas as
quantidades existentes
(matéria bruta, alumínio, água...)
2) Alguns minerais podem ser renováveis, como os evaporitos (sal),
argila e arei de sedimentação...
Renovável ou Inesgotável ?
INESGOTÁVEL INESGOTÁVEL
Não há como classificar energia solar e eólica na categoria dos renováveis....
Two categories of flow resources can be discerned: those where flows are
dependent on human activity, and whose future availability may be
compromised by excessive use […] and those where human usage has no
impact on future availability. (THOMAS; GOUDIE, 2000, p.205).
1) Non-critical zone flow resources: solar energy, air, water (at the global
scale), wind and tidal energy etc
2) Critical zone flow resources: fish, forests, soil and water in aquifers etc
Renovável ou Naturalmente Reciclável?
O caso da água:
Naturalmente reciclável, inesgotável e
reprodutível... (indestrutível?!?)
Renovável apenas localmente, pois na escala global as
quantidades são as mesmas há 2 bilhões de anos.
Renovável ou Reprodutível?
Podemos inserir floresta e reflorestamento na mesma
categoria?
Cana-de-açúcar não é renovável por duas razões:
1) Não se recupera naturalmente
2) Depende do solo, que pode ser esgotável
REPRODUTÍVEL! (Quando há forte inserção técnica para
acelerar os processos naturais e atender as demandas sociais)
(Godard, 2002)
Conclusões
1) Uma lista fixa de recursos renováveis e não-renováveis pode ser apenas uma
referência inicial (Ensino Médio)
2) A renovabilidade ou não, depende de aspectos naturais e sociais (ritmo, tipo e e
intensidade de uso), portanto, é flexível
3) Classificar os recursos em apenas estas duas categorias simplifica muito o tema,
e exclui outras categorias (inesgotáveis, reprodutíveis, naturalmente recicláveis...)
V - NOVA CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS
DURÁVEIS
Renováveis (florestas, população de animais, solos emdeterminadas condições, correntes fluviais, lenha, biogás,sal etc)
Reprodutíveis (Agricultura, silvicultura, pecuária, criaçõesem geral, água doce, sal etc)
Naturalmente recicláveis (Água, nitrogênio etc)
Inesgotáveis (energia solar, eólica, geotérmica, energiamaremotriz e ondelétrica, além de alumínio, matériasbrutas, sal, água etc)
ESGOTÁVEIS
Finitos (Diversos minerais como petróleo, carvão etc, alémde solos aráveis em determinadas condições).
Renováveis mau utilizados (ou superexplorados)
Referências
GODARD, O. Gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente: conceitos, instituições e desafios de legitimação. In:
VIEIRA, P. F. & WEBER, J. (orgs.) Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento: novos desafios para a pesquisa
ambiental. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
GUERRA, A. T. Recursos naturais do brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.
IBGE. Vocabulário Básico de Recursos Naturais. 2 ed. Rio de Janeiro, IBGE, 2004.
LEFF, E. Epistemologia Ambiental. 4 ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2007.
MAYHEW, S. Dictionary of Geography. 4 ed. Oxford: Oxford University Press, 2009.
PARK, C. Dictionary of environment and conservation. 3 ed. Oxford: Oxford University Press, 2011.
SAUNIER, R. E.; MEGANCK, R.A. Dictionary and introduction to global environmental governance. 2 ed. London: Earthscan,
2009.
THOMAS, D. S. G.; GOUDIE, A. The dictionary of physical geography. 3 ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2000.
VENTURI, L. A. B. Recurso natural: a construção de um conceito. In: Ensaios geográficos. São Paulo: Humanitas, 2008.
VENTURI, L.A.B. The new concept of natural resources and its derivations. International Journal of water Management
and Diplomacy. Vol. 1. Issue 1. 2020. Available on: https://dergipark.org.tr/en/pub/ijwmd/issue/54922/736385
ZIMMERMAN, E. W. Introduction a los recursos naturales. Barcelona: Oykos-Tau, 1966.
Obrigado pela atenção!!