o normal, o patológico e a análise do comportamento

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VEJA TAMBÉM: Confira! Vídeo aula sobre intervalo fixo e comportamento humano Buscar... 0 CLÍNICA, SAÚDE & TERAPIAS, PRINCÍPIOS BÁSICOS, PSICOPATOLOGIAS, SOCIAL, GRUPOS & COTIDIANO, TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS POR COMPORTE-SE EM 2 DE JULHO DE 2013 O normal, o patológico e a Análise do Comportamento. Em nosso diaadia é cada vez mais comum depararnos com notícias e discussões acerca de psicopatologias e transtornos mentais. Há uma curva crescente em relação ao contingente de pessoas que sofre com isso e normalmente encontramos uma visão bem diferente da Análise do Comportamento sobre esta questão. A psicopatologia tem parte de suas origens no modelo médico, o que propiciou, nos últimos dois séculos, a observação prolongada e cuidadosa de um considerável contingente de doentes mentais. O campo da psicopatologia engloba um grande número de fenômenos relativos ao que se denominou historicamente de doença mental: vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam especificidades psicológicas (Dalgalarrondo, 2008). Neste sentido, quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados: a forma com que os sintomas se manifestam como uma estrutura básica que assemelhase em diversos pacientes e o conteúdo destes sintomas, que preenchem esta alteração estrutural. (Dalgalarrondo, 2008) Esta visão, engloba os conceitos de saúde e normalidade em psicopatologia, questão de grande controvérsia. Em casos limítrofes, em que este tipo de delimitação é bastante difícil, o conceito de normalidade em saúde mental ganha especial relevância. Há vários critérios de normalidade e anormalidade que variam em função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha e de acordo com as opções filosóficas de cada profissional, como por exemplo: normalidade como ausência de doença (ausência de sintomas); normalidade estatística (fenômenos quantitativos com determinada distribuição estatística na população); normalidade funcional (fenômeno é considerado patológico a partir do momento que é disfuncional e produz sofrimento), etc. No modelo médico de psicopatologia, há o pressuposto de que a doença ou transtorno é manifestação de uma patologia subjacente. Assim, identificandose e definindose uma doença, devese buscar uma terapêutica específica. Esta terapêutica é geralmente HOME COLUNISTAS NOTÍCIAS EXTRAS SERVIÇOS

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CLÍNICA, SAÚDE & TERAPIAS, PRINCÍPIOS BÁSICOS, PSICOPATOLOGIAS, SOCIAL, GRUPOS & COTIDIANO, TÉCNICAS PSICOTERÁPICASPOR COMPORTE-SE EM 2 DE JULHO DE 2013

O normal, o patológico e a Análise doComportamento.

Em nosso dia­a­dia é cada vez mais comum deparar­nos com notícias e discussõesacerca de psicopatologias e transtornos mentais. Há uma curva crescente em relação aocontingente de pessoas que sofre com isso e normalmente encontramos uma visão bemdiferente da Análise do Comportamento sobre esta questão.

A psicopatologia tem parte de suas origens no modelo médico, o que propiciou, nosúltimos dois séculos, a observação prolongada e cuidadosa de um considerávelcontingente de doentes mentais. O campo da psicopatologia engloba um grande númerode fenômenos relativos ao que se denominou historicamente de doença mental:vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam especificidadespsicológicas (Dalgalarrondo, 2008).

Neste sentido, quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicoscostumam ser enfocados: a forma com que os sintomas se manifestam como umaestrutura básica que assemelha­se em diversos pacientes e o conteúdo destes sintomas,que preenchem esta alteração estrutural. (Dalgalarrondo, 2008) Esta visão, engloba osconceitos de saúde e normalidade em psicopatologia, questão de grande controvérsia.Em casos limítrofes, em que este tipo de delimitação é bastante difícil, o conceito denormalidade em saúde mental ganha especial relevância. Há vários critérios denormalidade e anormalidade que variam em função dos fenômenos específicos com osquais se trabalha e de acordo com as opções filosóficas de cada profissional, como porexemplo: normalidade como ausência de doença (ausência de sintomas); normalidadeestatística (fenômenos quantitativos com determinada distribuição estatística napopulação); normalidade funcional (fenômeno é considerado patológico a partir domomento que é disfuncional e produz sofrimento), etc.

No modelo médico de psicopatologia, há o pressuposto de que a doença ou transtorno émanifestação de uma patologia subjacente. Assim, identificando­se e definindo­se umadoença, deve­se buscar uma terapêutica específica. Esta terapêutica é geralmente

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doença, deve­se buscar uma terapêutica específica. Esta terapêutica é geralmentefarmacológica e sua eficácia é baseada em estudos de comparação entre grupos, o quefornece uma medida estatística de sua eficácia. No modelo médico, são tambémestatísticos os critérios para a definição do comportamento patológico, sendoconsiderados desta forma em geral, aqueles padrões que diferem significativamente damédia da população (Banaco, Zamignani & Meyer, 2010).

A perspectiva médica sobre psicopatologias certamente difere do modelo analíticocomportamental de análise, cujos critérios de avaliação são essencialmente funcionais.A proposta de compreensão de fenômenos clínicos oferecida pela análise docomportamento oferece inovação, se comparado ao cenário das abordagens dapsicologia que desenvolviam atividades clínicas com o modelo de psicopatologia e dediagnóstico psicológico pautados em explicações intrapsíquicas. Com base em umaperspectiva científica e “externalista”, ela rejeita qualquer explicação metafísica sobre ocomportamento. Além disso, tem como referência o modelo de pesquisa de sujeito únicoao invés de métodos de produção de conhecimento com base em pesquisas estatísticas(Banaco, Zamignani e Meyer, 2010).

A classificação de padrões comportamentais como transtornos mentais é determinadapor práticas que estabelecem os padrões socialmente aceitos ou não, originadas nacultura. Assim, padrões que violam expectativas sociais são tratados como “anormais”ou “psicopatológicos”. Estas práticas culturais são resquícios do dualismo metafísico daIdade Média, que atribuía estes padrões comportamentais à faltas ou déficits mentais.Além disso, outra prática cultural que classifica os organismos entre “normais” e“anormais” é o modelo estatístico de normalidade, como apontam os manuaisdiagnósticos tais como a Classificação Internacional de Doenças (CID) e o ManualDiagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) (Vilas Boas, Banaco & Borges,2012).

Assim, por acreditar que os padrões de comportamento do indivíduo são fruto de umentrelaçamento de processos de variação e seleção nos três níveis (filogenético,ontogenético e cultural), a Análise do Comportamento não compreende nenhuma formade comportamento “psicopatológico”, “desadaptativo” ou “anormal”, visto que decorremde variação e seleção como qualquer outro, e são selecionados por suas consequências.(Vilas Boas, Banaco & Borges, 2012). Em outras palavras, tendo em vista que a Análisedo Comportamento compreende que os produtos comportamentais são resultado dehistórias de variação e seleção, nos níveis biológico, individual e cultural, se oscomportamentos ditos “patológicos” se mantém é porque de alguma forma produzemreforço significativo, logo, estão adaptados em algum grau (Sidman, 1966).

De acordo com uma notícia veiculada pelo Estadão em fevereiro de 2012, quase 30% doshabitantes da Região Metropolitana de São Paulo apresentam transtornos mentais. Aprevalência de transtornos mentais na metrópole paulista foi a mais alta registrada emtodas as áreas pesquisadas. O trabalho que gerou o artigo “”Estudos epidemiológicosdos transtornos psiquiátricos na região metropolitana de São Paulo: prevalências,fatores de risco e sobrecarga social e econômica” faz parte da Pesquisa Mundial sobreSaúde Mental, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que integra e analisapesquisas epidemiológicas sobre abuso de substâncias e distúrbios mentais ecomportamentais. O estudo é coordenado globalmente por Ronald Kessler, daUniversidade Harvard (Estados Unidos). Aqui no Brasil, entre os autores do artigo estãoLaura Helena Andrade, professora do Departamento e Instituto de Psiquiatria daFaculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP), e Maria CarmenViana, professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal doEspírito Santo (Ufes).

O estudo avaliou uma amostra representativa de residentes da região metropolitana deSão Paulo, com 5.037 pessoas avaliadas em seus domicílios, a partir de entrevistas feitascom base no instrumento diagnóstico, e os questionários incluíram dados sociais.Segundo o estudo, 29,6% dos indivíduos na Região Metropolitana de São Pauloapresentaram transtornos mentais nos 12 meses anteriores à entrevista. Os transtornosde ansiedade foram os mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados. Em seguida,

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de ansiedade foram os mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados. Em seguida,aparecem transtornos de comportamento (11%), transtornos de controle de impulso(4,3%) e abuso de substâncias (3,6%).

A prevalência dos transtornos mentais, de quase 30%, é a mais alta entre os paísespesquisados. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com pouco menos de25%. A razão da alta prevalência, de acordo com a pesquisadora, pode ser explicada pelocruzamento de duas variáveis incluídas no estudo: a alta urbanização e a privação social.

Diante disso é interessante fazer uma relação com o aumento dos índices daspsicopatologias, mais especificamente após a II Guerra Mundial: as mudanças políticas,econômicas e sociais em nossa cultura teriam provocado esta “adaptação” docomportamento? Talvez não tenhamos “provas” ou embasamento suficiente para umaresposta totalmente afirmativa. Porém, diante da diferença destas variáveis culturais etendo a cultura um papel fundamental na seleção deste tipo de padrão comportamental(definido como psicopatológico), alguma relação entre estes dois aspectos fica evidente.Portanto, enquanto analistas do comportamento, temos também um papel de promovermudanças sociais (de contingências), como mais uma ferramenta de nosso trabalho.

Referências

Banaco, R. A., Zamignani D. R. & Meyer, S. B. (2010). Função do Comportamento e doDSM: Terapeutas Analítico Comportamentais Discutem a Psicopatologia. Em E. Z.Tourinho & S. V. Luna (Orgs), Análise do Comportamento: Investigações Históricas,Conceituais e Aplicadas. (pp. 175­191). São Paulo: Roca.

Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,grande­sao­paulo­tem­alta­prevalencia­de­transtornos­mentais,841047,0.htm

Sidman, M. (1966). Normal sources of pathological behavior. Em R. Ulrich, T. Stachnik&J. Mabry (Orgs.). Control of human behavior (pp. 42­53). Glenview: Scott, Foresmanand Co.

Vilas Boas, D. L. O., Banaco, R. A. & Borges, N. B. (2012). Discussões da análise docomportamento acerca dos transtornos psiquiátricos. Em N. B. Borges & F. A. Cassas(Orgs.), Clínica Analítico Comportamental: aspectos teóricos e práticos. (pp. 95­101).Porto Alegre: Artmed.

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