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22 pai babado O NOme A escolha do nome do bebé é uma das decisões mais importantes da vida do seu filho ou filha. O nome é um dos factores distintivos da individualidade de cada pessoa e, por isso, ser uma decisão crucial. As influências e fontes de inspiração podem ser várias, tais como: ten- dências de nomes mais em voga, a família, a excentricidade dos pais, as preferências pessoais e, evidentemente, o sexo do bebé. A maioria das pessoas tende a seguir a moda e coloca nomes actuais. Por exem- plo, o caro leitor, tendo provavelmente nascido nos anos 80 ou 90, terá um nome que andará entre João, Tiago, Luís, Pedro, Nuno ou Bruno, certo? E provavelmente será casado com uma mulher que se chama Ana, Joana, Cláudia, Andreia ou Tânia, verda- de? Bom, se não é verdade, pelo menos já se deve ter enrolado com alguém com um destes nomes – se ainda anda enro- lado, peço desde já desculpa por qualquer transtorno que esta minha observação possa causar. Isso acontece porque esses eram os nomes mais comuns nas décadas de 80 e 90. A liberdade conseguida com o 25 de Abril de 1974, atingiu o campo da onomástica e revolucionou os nomes próprios que se davam às crianças, que até aí andavam entre o Alfredo, Alberto, Gertrudes ou Hermínia. Esta revolução nos nomes – trazidos também por influências externas, cuja queda da ditadura propiciou – criou uma realidade diferente na medida em que dentro de alguns anos, os avós com nomes como Avô Alfredo ou Avó Hermí- nia, vão dar lugar a avós com nomes como Avô Bruno e Avó Vanessa!

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Page 1: O NOme · Uma das coisas que mais motivam o pai, durante a fase da gra-videz, é a escolha do carrinho de bebé e da cadeira auto. Já se sabe. Gadgets e coisas que não interessam

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O NOmeA escolha do nome do bebé é uma das decisões mais importantes

da vida do seu filho ou filha. O nome é um dos factores distintivos da individualidade de cada pessoa e, por isso, ser uma decisão crucial. As influências e fontes de inspiração podem ser várias, tais como: ten-dências de nomes mais em voga, a família, a excentricidade dos pais, as preferências pessoais e, evidentemente, o sexo do bebé. A maioria das pessoas tende a seguir a moda e coloca nomes actuais. Por exem-plo, o caro leitor, tendo provavelmente nascido nos anos 80 ou 90, terá um nome que andará entre João, Tiago, Luís, Pedro, Nuno ou Bruno, certo? E provavelmente será casado com uma mulher que se chama Ana, Joana, Cláudia, Andreia ou Tânia, verda-de? Bom, se não é verdade, pelo menos já se deve ter enrolado com alguém com um destes nomes – se ainda anda enro-lado, peço desde já desculpa por qualquer transtorno que esta minha observação possa causar. Isso acontece porque esses eram os nomes mais comuns nas décadas de 80 e 90. A liberdade conseguida com o 25 de Abril de 1974, atingiu o campo da onomástica e revolucionou os nomes próprios que se davam às crianças, que até aí andavam entre o Alfredo, Alberto, Gertrudes ou Hermínia. Esta revolução nos nomes – trazidos também por influências externas, cuja queda da ditadura propiciou – criou uma realidade diferente na medida em que dentro de alguns anos, os avós com nomes como Avô Alfredo ou Avó Hermí-nia, vão dar lugar a avós com nomes como Avô Bruno e Avó Vanessa!

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É verdade, caro leitor, avós com nome de avós são espécie em vias de extinção pelo que urge criar medidas concretas para evitar que tal aconteça. Na minha opinião, essas medidas podem passar por:

a) criação de reservas naturais de avós com nomes de avós (um pouco como os lares, mas com mais vegetação) onde estes se possam multiplicar e dar continuidade à espécie;

b) subsídios estatais para os pais que coloquem nomes feios aos filhos, em que o subsídio seja proporcional à monstruosidade do nome. Exemplo: um nome como Júlio recebe 50€ por mês. Belmiro recebe 500€;

c) permissão para que as pessoas, chegadas a uma determinada idade, possam alterar o seu nome para nome de avós. Porque ao darmos nomes de crianças às crianças, corremos o risco de, daqui a 60 anos ou mais, os bebés da altura não terem avós que lhes contem histórias, façam bolinhos e ensinem a cuidar da horta.

Estão a ver uma Avó Vanessa fazer bolinhos ou um Avô Bruno ensinar os netinhos a cuidar da horta?? Uma avó Vanessa provavelmente vai acordar ao meio-dia porque esteve na discoteca até de madrugada e um avô Bruno vai estar no quintal, de facto, mas a meter um subwoofer no Fiat Punto, em vez de colher alfaces.

Pois saiba o leitor que eu estou a lutar contra esta tendência, recu-perando um nome clássico – gosto de nomes clássicos e nomes com-postos – para o meu filho. O meu filho chama-se António. Chama-se António Vasco – cá está, nome clássico e composto. Não é um nome comum, bem sei, mas era isto mesmo que procurava. Confesso que inicialmente era mais eu que gostava do nome, contudo, durante a gravidez fomo-lo sempre chamando de António Vasco e, no final, já não conseguíamos pensar noutro nome. Hoje estamos muito felizes pela decisão. Inclusivamente por questões práticas. Por exemplo, se

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o meu filho se chamasse Martim, quando fosse buscá-lo à escola e chamasse “Martim!!!”, apareceriam 150 putos chamados Martim e eu teria que andar a ver qual era o meu! Assim, se chamar “Antóóó-nio!!” só aparecerão dois... o meu filho e o contínuo! Além disso, a minha casa vai estar sempre tranquila e sem miudagem, porque os amiguinhos dele não vão poder ir lá para casa brincar. Porque quando perguntarem aos pais “pai, posso ir brincar para a casa do António?”, os pais vão achar que se trata de um senhor de sessenta e tal anos e nunca vão deixar.

Por isso, volto a referir: a escolha do nome é da maior importân-cia e pode ter um grande impacto na vida dos seus filhos. E na sua também.

Carrinhos e cadeirasUma das coisas que mais motivam o pai, durante a fase da gra-

videz, é a escolha do carrinho de bebé e da cadeira auto. Já se sabe. Gadgets e coisas que não interessam para nada, o pai trata. E, se o leitor for como eu, as-sim que descobre que a sua companheira está grávida, começa logo a pesquisar por carrinhos desde que acorda até que se deita. Está a tomar o pequeno-almoço? Está a ver carrinhos. Está no trânsito? Está a ver carrinhos. Está no trabalho? Está a ver carrinhos. Vê uma mulher com uns seios gigantes e com um decote que vai dos ombros ao umbigo, a empurrar um carrinho de bebé? Está a ver o carrinho. Todo o nosso sentido fica orientado para o carrinho e para a cadeira auto e por isso não temos tempo para nos

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dedicarmos a coisas supérfluas como ecografias, exames, consultas ou saber as semanas de gestação do bebé, etc. Daqui a bocado somos nós que fazemos tudo, não? Enfim.

Achar o carrinho certo não é tarefa fácil, porque temos que con-seguir conjugar vários aspectos fundamentais: segurança, conforto, qualidade, preço e – o mais importante de tudo – se o carrinho é altamente ou não. Existem várias marcas: Bebéconfort, Chicco, Joie, Quinny, Cybex, Bebécar, Britax, Bugaboo, etc. Existem vários ti-pos: três rodas, quatro rodas, de passeio, modulares, para gémeos, trios, etc. Existem várias características: leves, pesados, com travão de mão, com travão de pé, com guarda-chuva, com capas, com ma-las, que fecham sozinhos, que fecham só com o pé, que se trans-portam bem, que custam a transportar, que ocupam muito espaço, que não ocupam espaço nenhum... Existem vários preços: baratos, caros, muito caros, estupidamente caros, oferecidos, comprados no OLX, que foram dos pais, que foram dos avós, que foram dos pri-mos... Por último, existem as opiniões dos amigos: os que sabem tudo, os que não sabem nada, os que se soubessem o que sabem hoje não compravam o carrinho que compraram, os que acham que nós temos tanto dinheiro como eles, os que acham que é tudo caro, os que compram tudo por internet porque dizem que é mais fácil e mais barato, mas depois quando as coisas correm mal não dizem a ninguém, os que dizem que nos emprestam o carrinho dos filhos apesar de estar todo escavacado e porco, os que têm um carrinho novo, mas não emprestam, os que acham que o carrinho que com-prámos é uma porcaria...

A pressão é muita para encontrar o carrinho certo e por isso o único conselho que dou é este: vejam as melhores opções nos sites de defesa do consumidor, e decidam por aquele que tem a melhor relação preço/qualidade. Ou então façam como eu: ignorem os sites da especialidade, as opiniões dos amigos, e a relação preço/qualidade e comprem aquele que tem as rodas/jantes maiores. #sempreamandarestiloboy.

Em relação à cadeira auto, a luta é a mesma, acrescentando-se um

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ponto importante: a instalação da cadeira no banco do carro. Esta, geralmente, divide-se em dois momentos:

1. PRIMEIRO MOMENTO: o pai tenta instalar a cadeira no ban-co, independentemente deste possuir isofix ou não. Este pro-cesso pode levar entre 15 minutos a 2 horas, dependendo da calma e do jeito que tem para bricolage. No caso de ter pouco jeito ou ser impaciente, aconselha-se a que todas as crianças, no raio de 100 metros, se afastem para evitar ouvirem palavras como “FOD#-SE!!!!”, ou “CON@ DA MÃE!!!!”, ou ainda “PUNH#TA PRA ISTO TUDO MAIS Ó CARA#$%!!!!”

2. SEGUNDO MOMENTO: a mãe chega ao local e pergunta ao pai se já viu as instruções. Aqui, aconselha-se mais uma vez as crianças a abandonarem o local porque a resposta tam-bém contém palavras pouco recomendáveis para ouvidos tão jovens. Após leitura das instruções, a cadeira auto é instalada com sucesso.

será que vou ser um bom pai?É uma questão em que pensava e penso frequentemente. Não po-

demos esquecer que, até ao momento em que o bebé inicia a sua exis-tência, tudo aquilo que nós fazemos ou dizemos é só da nossa respon-sabilidade. Claro que a família mais próxima pode sempre sofrer com as nossas acções, mas ninguém está mais exposto aos nossos sucessos e fracassos do que os nossos filhos, porque são eles que assistem, na primeira fila, ao nosso comportamento e à forma como nós reagimos àquilo que nos acontece. Por esse motivo, é muito importante perce-ber que tudo aquilo que se fizer ou disser, vai moldar a vida do filho ou filha. Se reagir de forma efusiva a um golo, então existem grandes

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probabilidades de ele ou ela reagir de forma efusiva a um golo; se for impulsivo e ofender a senhora da Segurança Social, então existem grandes probabilidades de ele ou ela também ofender a senhora da Segurança Social. Os nos-sos filhos não são decalques ou cópias exactas daquilo que nós somos, mas são esponjas com capacidade de absorção de 100% e nós somos as suas maiores fontes de inspiração. Por isso, é fundamental dar o exemplo.

Assim, aqui fica uma short list de 5 coisas que deve ter sempre em atenção, para ser um bom pai:

1. ESTAR PRESENTE. Como alguém dizia (não me apetece estar a pesquisar a pessoa que o disse, por isso recorro a esta referên-cia abstracta) “80% do papel de um pai é estar presente”. Somos de uma geração cujos pais passavam o dia inteiro a trabalhar e no final do dia faziam networking – ou seja, iam para o café do bair-ro beber minis e falar com os amigos, mas como na altura nin-guém teve a criatividade necessária para dar um nome pomposo a isto, chegavam a casa e as mulheres chamavam-lhes bêbados em vez de empreendedores – e por isso passavam pouco tempo com a família. Aliás, havia pais que passavam tão pouco tempo com os filhos que mal se conheciam e quando se cruzavam nas escadas do prédio cumprimentavam-se com um “boa tarde, vi-zinho, como está?”. Estar verdadeiramente presente na vida dos seus filhos (participar, estimular, acompanhar) é fundamental e garante-lhe um lugar no Hall of Fame dos pais e, muito prova-velmente, uma condecoração do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Não vale a pena ficar já cheio de bazófia porque como

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temos visto, para receber uma condecoração de Marcelo, basta saber aquecer leite no micro-ondas.

2. SABER FILTRAR. Independentemente do tipo de dia que tiver-mos, há uma coisa que temos que saber fazer quando chegamos a casa: saber filtrar. As crianças não querem saber se o nosso dia foi uma merda porque nos esquecemos do guarda-chuva e apa-nhámos uma molha, ou porque nos chateámos com um colega de trabalho ou porque batemos com o carro por estarmos dis-traídos a ver gajas ou gajos no Instagram. Quando chegar a casa, o seu filho vai estar à sua espera para brincar, com a euforia de um Fox Terrier sob efeito de Red Bull e cocaína. Se trouxer essa frustração para casa, vai criar um choque entre a alegria dele e a sua tristeza e com o tempo ele vai deixar de sentir vontade em recebê-lo. Se estiver muito cansado e chateado, aconselho-o a brincar com coisas que não obriguem a grande interação da sua parte, como por exemplo: brincar aos funerais em que o leitor faz de morto e deixa o seu filho tirar as medidas do caixão, ves-ti-lo, pintá-lo (convém clarificar que não é necessária autópsia para evitar acidentes desagradáveis); ou brincar às Urgências Hospitalares em que cada um coloca uma pulseira verde e de-pois esperam seis horas para serem atendidos.

3. SER FIRME E ELOGIAR. Ser firme é provavelmente das coisas mais difíceis mas mais importantes (ora aqui está uma frase que tanto dá para o pai como para o avô, embora relativa a temas e contextos diferentes), porque se está a querer estabelecer re-gras, fazê-lo sem grande convicção ou rir depois de repreender, fará com que o seu filho ou filha pense que está a brincar, não respeitando depois a sua palavra. Claro que não precisa ser tão firme como um ex-PIDE quando torturava presos políticos para obter informações, ou ainda pior, como as nossas mães quando nos obrigavam a ficar à mesa durante três horas até acabarmos o almoço. Não é preciso ir a esse extremo. Mas precisa de ser

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firme. E da mesma forma que precisa de ser firme, também precisa de saber elogiar, sempre que verificar que algo foi feito com sucesso. Isto vai contribuir para reforçar a auto-estima e a confiança da criança – e evitar que ele ou ela chegue aos 40 anos e gaste uma fortuna em psicanalistas por falta de reforço posi-tivo em casa – mas, por contraponto, saber valorizar as regras e os “nãos”, porque ter uma noção clara do que está certo e do que está errado, é meio caminho andado para uma vida emocio-nalmente estável. Evita ainda que se torne numa bomba relógio passivo-agressiva capaz de explodir com o empregado do café mas que se cala perante o director da empresa.

4. SER AFECTUOSO. Ser afectuoso com os filhos é fundamental. Segundo um estudo do Institute of Sciences of the World, uma em cada três crianças sofre de uma profunda falta de afecto e essa circunstância tem repercussões na forma como elas se re-lacionam com terceiros, tanto durante a infância, como durante a fase adulta. Eu não sei se o leitor ficou impressionado com o resultado deste estudo, espero que sim, porque não gosto de in-ventar estudos para nada. Independentemente disso, a verdade é que ainda existem muitos homens que confundem masculi-nidade com falta de afecto e por isso inibem-se de serem cari-nhosos com os seus filhos, achando que irão condicionar as suas preferências sexuais. Nada mais errado. O afecto ou a falta dele, terão mais impacto na construção do carácter e na personalidade da criança do que na sua preferência sexual e, portanto, quanto mais pensar nisso, menos vive na plenitude a relação pai-filho. Agora, isso não significa que deva andar a beijar os seus filhos na boca. Se é dessas pessoas, convém parar. Não que isso tenha algum impacto no futuro (se precisar de um estudo que o com-prove por parte do Institute of Sciences of the World, também se arranja), apenas por ser estranho e causar vergonha alheia a quem assiste #vamosparardedarbeijosnabocaaosfilhos.

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5. SER UM (BOM) EXEMPLO. Como já tive oportunidade de referir, as crianças seguem o exemplo dos pais ou de pessoas próximas que elegem como referências ou role models (um pou-co de inglês não faz mal a ninguém e posiciona este livro na órbita do mercado internacional). De acordo com o psicanalista José Carlos Braun, somos influenciados por tudo aquilo que nos rodeia, pelo que o papel dos pais é fundamental na construção da nossa personalidade. Por exemplo, se os meus pais não me tivessem mentido tanto quando eu era criança, eu agora não an-dava a inventar estudos e psicanalistas com nome de varinha mágica, só para suportar os conhecimentos que tenho adquirido ao longo de anos de estudo e observação. O importante é ser uma pessoa correcta, com valores, justo(a) e emocionalmente estável. A forma como se relaciona com os outros e como reage às adversidades, será determinante para a formação da persona-lidade do seu filho, cujos olhos estão sempre em cima de si. Pelo menos, é o que diz o terapeuta familiar Luis Filipe Bimby.

Cursos de preparação para o partoUma das coisas com que me deparei nesta caminhada para a Pa-

ternidade foi o curso de preparação para o parto e devo dizer que no início estava bastante céptico quanto à necessidade de um curso des-ta natureza e saí de lá com a certeza de que de fac-to não precisava de um curso para nada. Já para a Marta, foi bastante útil e recomendamos a to-das as grávidas que o façam.

Consiste essen-

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cialmente num conjunto de sessões com vários módulos onde se ten-tam explicar todos os aspectos directos e indirectos do parto. São explicadas coisas como o que se deve levar na mala para a maternida-de, tipos de parto, fases do trabalho de parto, respiração adequada, o papel do pai no parto, como dar banho ao bebé... É, sobretudo, uma linha de orientação que ajuda os casais a saberem o que fazer e a estarem precavidos para qualquer eventualidade. Nem toda a gente concorda com esta opção, principalmente as avós e mulheres mais velhas, porque na altura delas não era preciso. Nos anos 70 e 80, os cursos de preparação para o parto eram dados trinta segundos antes, quando a grávida chegava ao hospital e alguém lhe dizia “FAZ FOR-ÇA COMO SE FOSSES CAG**!!!”, e o curso de preparação para o parto estava feito.

No nosso caso, tivemos a sorte de ter a melhor formadora/en-fermeira da região (senão mesmo do país) que conseguiu esclarecer todas as nossas dúvidas, medos e anseios. Lembro-me que a Marta tinha muitas questões relativas não só ao parto, mas também à re-cuperação pós-parto e o curso foi bastante útil nesse aspecto. Devo dizer que a mim tranquilizou-me bastante, já que eu tinha algumas preocupações que me causavam grande ansiedade, mas felizmente a formadora disse-me que eu não precisava de perder nenhum jogo do campeonato, porque o hospital dispunha de Sport TV.

O curso é também importante porque junta várias grávidas cujo grupo, geralmente, permanece amigo e unido durante muito tempo. Vão partilhando experiências desde relatos do parto a particulari-dades sobre o crescimento dos filhos. E à medida que os bebés vão nascendo, as grávidas vão abandonando o curso, o que acaba por ser mau para as crianças que ainda agora nasceram e já estão a abandonar a escola. Para mim, acabou por ser um factor de distracção porque criei uma bolsa de apostas estilo Betclic, onde apostávamos na grávida que ficava no curso até mais tarde. Ainda ganhei uns euros.

As aulas costumam ter uma parte teórica e uma parte prática. Os homens por norma não participam nas aulas práticas já que são aulas direccionadas essencialmente para exercícios de respiração e

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exercícios do períneo. Embora eu ache mal, porque é verdade que o períneo masculino não vai ser rasgado por um objecto do tamanho de uma melancia, mas também será sujeito a enorme pressão, já que no decorrer do parto, os homens contraem o períneo umas duzentas mil vezes e regra geral só o descontraem quando perdem os sentidos ao verem a cabeça da criança envolta em sangue e placenta. Só de pensar nisso já... me... estão... a dar... tontur... aaahh.....

a recta finalOs últimos meses de gestação são um misto de

emoções difícil de explicar. Se por um lado, que-remos que a criança salte cá para fora o mais rá-pido possível, por outro, queremos que fique lá dentro por receio de enfrentar o que aí vem. Se por um lado, já estamos fartos de sofrer ou de ver a nossa companheira sofrer com os incómodos dos últimos meses, por outro, sabemos que o parto, por muito seguro que seja, envolve sempre riscos para a mãe e para o bebé e por isso, quanto mais tarde, melhor.

O que acontece é que nas últimas semanas de gestação, a vontade de ter-minar com o calvário do final da gravi-dez suplanta todos os receios do casal. Chegada esta fase, o desconforto físico que a gravidez provoca começa a ter im-pacto tanto na mulher como no homem. Assim, aqui ficam meia dúzia de sintomas de que mulheres e homens padecem nos úl-timos “metros da corrida”.

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MULHERESa) INCONTINÊNCIA URINÁRIA – é uma realidade que nos

últimos meses de gestação a mulher começa a perder algumas faculdades de forma momentânea, sendo que uma delas é a capacidade de conter demasiada urina na bexiga. Isto acontece porque o útero vai aumentando de dimensão e rouba espaço à bexiga que vai ficando com menos capacidade de armazena-mento. Por outras palavras, a bexiga feminina passa de ser um T3 para ser um T0 com kitchenette que, em caso de “sismo” (gargalhadas, por exemplo), pode rebentar a canalização.

b) GASES E AZIA – não sei se o leitor já dormiu com um serven-te de pedreiro, mas se ainda não dormiu, os últimos meses de gestação da sua esposa vão proporcionar-lhe uma experiência muito parecida. Calma, é apenas uma fase que passará depois do parto. O lado positivo disto é que pode sempre aproveitar a fase “servente de pedreiro” e pedir-lhe que dê uns toques no estuque ou outro arranjo qualquer que a casa necessite.

c) PILOSIDADES VÁRIAS – se o leitor for fã de Star Wars tenho óptimas notícias, porque vai finalmente poder cumprir o sonho de ser o Han Solo já que ao seu lado vai ter o Chewbacca.

d) CÃIBRAS – são bastante incomodativas e mais frequentes à medida que o deadline se aproxima. A ação hormonal e a com-pressão do sistema vascular por onde retorna o sangue das par-tes baixas favorecem o surgimento das cãibras, principalmente pela manhã – não sei se isto é verdade, fiz copy paste de um site, mas parece-me credível. O importante é saber que quan-do a sua esposa lhe disser que tem cãibras, deve agir rapida-mente e fazer como os jogadores de futebol quando um colega está no chão com dificuldades musculares... ou seja, esticar a perna da sua esposa até que a cãibra desapareça e não gritar-lhe “TÁS A QUEIMAR TEMPO, CRL????!”