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O MODO DE SER DO CAPITAL E SUAS DETERMINAÇÕES NO TERRITÓRIO: AGROHIDRONEGÓCIO E SEUS REBATIMENTOS NA DIVISÃO SOCIAL E TERRITORIAL DO TRABALHO. Shauane Iatainhara Freire Nunes Universidade Federal de Sergipe [email protected] José Danilo Santana Silva Universidade Federal de Sergipe [email protected] INTRODUÇÃO A busca incessante do capital para acelerar a velocidade do seu de ciclo, e consequentemente, ampliar o seu processo de acumulação, culminou no desenvolvimento de formas fictícias e financeirizadas de reprodução metabólica, mas sem o abandono das suas formas funcionais e automatizadas. O espaço sob o domínio da lógica especulativa vai ser o receptáculo dos fluxos de capital, pessoas e mercadorias num movimento cada vez mais rápido. As formas de organização do trabalho e a introdução de novas tecnologias baseadas no sistema toyotista implicou na intensificação da exploração da força de trabalho, tornando o trabalho na cidade e no campo ainda mais precarizado. No campo, o capital especula e rentabiliza através do modelo do agronegócio que tem como objetivo envolver desde a unidade de produção familiar até domínios latifundiários, abarcando (articulando e reinventando) antigas e novas formas de exploração do trabalho. Circunscrita nesta mesma lógica, a dominação da água passa a ser subordinada também ao movimento de reprodução do capital. Com a expansão da reprodução do capital no território onde comunidades praticam e vivem da terra e da água, há um conflito iminente na forma de organização do trabalho, no viver da natureza como extensão de vida ou como meio de produção. Nesse processo a relação sociedade/natureza se altera em novas articulações da divisão social e territorial do trabalho. I - A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGROHIDRONEGÓCIO EM SERGIPE

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O MODO DE SER DO CAPITAL E SUAS DETERMINAÇÕES NO

TERRITÓRIO: AGROHIDRONEGÓCIO E SEUS REBATIMENTOS NA

DIVISÃO SOCIAL E TERRITORIAL DO TRABALHO.

Shauane Iatainhara Freire Nunes

Universidade Federal de Sergipe

[email protected]

José Danilo Santana Silva

Universidade Federal de Sergipe

[email protected]

INTRODUÇÃO

A busca incessante do capital para acelerar a velocidade do seu de ciclo, e

consequentemente, ampliar o seu processo de acumulação, culminou no desenvolvimento

de formas fictícias e financeirizadas de reprodução metabólica, mas sem o abandono das

suas formas funcionais e automatizadas. O espaço sob o domínio da lógica especulativa

vai ser o receptáculo dos fluxos de capital, pessoas e mercadorias num movimento cada

vez mais rápido. As formas de organização do trabalho e a introdução de novas

tecnologias baseadas no sistema toyotista implicou na intensificação da exploração da

força de trabalho, tornando o trabalho na cidade e no campo ainda mais precarizado. No

campo, o capital especula e rentabiliza através do modelo do agronegócio que tem como

objetivo envolver desde a unidade de produção familiar até domínios latifundiários,

abarcando (articulando e reinventando) antigas e novas formas de exploração do trabalho.

Circunscrita nesta mesma lógica, a dominação da água passa a ser subordinada também

ao movimento de reprodução do capital. Com a expansão da reprodução do capital no

território onde comunidades praticam e vivem da terra e da água, há um conflito iminente

na forma de organização do trabalho, no viver da natureza como extensão de vida ou

como meio de produção. Nesse processo a relação sociedade/natureza se altera em novas

articulações da divisão social e territorial do trabalho.

I - A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGROHIDRONEGÓCIO EM SERGIPE

Face o processo de modernização da agriculta em decorrência da financeirização

da economia, o agronegócio consolida-se no Brasil por meio de políticas de Estado que

tem como objetivo a subordinação das terras e das águas ao mercado. A necessidade

sociometabólica do capital em ampliar seu lucro conduz seus agentes a investidas cada

vez mais incisivas para garantir o domínio da natureza e da produção agrícola, e da

retirada direta e indireta de mais valor.

Circunscrito neste processo que entrelaça diferentes escalas geográficas – local,

regional, nacional e mundial –, o Estado de Sergipe tem sido marcado pelo avanço do

agronegócio e do hidronegócio em seu território.

Tomando como referências as pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa

Estado Capital Trabalho e as Políticas de Re-ordenamentos Territoriais (GPECT) do

Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe sob

coordenação da Prof.ª Dr.ª Alexandrina Luz Conceição é possível não apenas situar as

diferentes frentes de atuação do agronegócio e do hidronegócio, mas sobretudo

compreender sua dinâmica e suas consequências no Estado de Sergipe.

1.1 – Agronegócio em Sergipe

Em Sergipe, o avanço do agronegócio ocorre principalmente a partir de três

cultivos: cana de açúcar, milho e laranja.

Como é possível observar na tabela abaixo, a produção de milho apresentou um

rápido crescimento em uma década, chegando ápice da área plantada em 2010.

O aumento dos preços e os incentivos do Governo Federal por meio da política

de crédito e de facilitação do escoamento da produção de milho nos mercados nacional e

internacional, repercutiram diretamente no avanço deste cultivo em Sergipe. Na última

década, a produção de milho tem se destacado no Território do Alto Sertão Sergipano

onde tem monopolizado parte significativa da unidade de produção familiar. O milho

produzido tem deixado abastecer o mercado interno – feiras livres, mercados locais ou

até mesmo o consumo de subsistência dos próprios produtores – para ser ofertado no

mercado de rações da avicultura e suinocultura.

Para tanto, é no Território do Agreste Central que o agronegócio do milho

desenvolveu-se com maior força em Sergipe. A crescente demanda do mercado fez com

que o cultivo de milho atingisse 65,3% da área do território do Agreste Central no ano de

2006. O cultivo de milho neste Território triplicou entre os anos de 1994 a 2006, saindo

de 14.190 ha para 48.330 ha. Embora o feijão tenha a segunda maior área de plantio do

território ocupa o 6ª lugar no ranking da produção, ficando restrito ao consumo interno.

Dentre os três maiores produtores de milho de Sergipe, dois encontram-se no território

do Agreste Central, sendo estes os municípios de Carira e Frei Paulo. Neste território,

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Área plantada (Hectares) dos cultivos de

Cana-de-açúcar, Milho e Laranja em Sergipe, 2004-2014

Cana-de-açúcar Milho (em grão) Laranja

Fonte: Produção Agrícola Municipal – IBGE, 2016.

Org: NUNES, Shauane Itainhara Freire & SANTANA SILVA, José Danilo, 2016.

vale destacar também o município de Pinhão, o décimo maior produtor de milho em

Sergipe, que mesmo caindo 7 posições do ranking dos maiores produtores no estado,

obteve um crescimento 565% na produção. (SANTANA SILVA & CONCEIÇÃO, 2012)

Assim, o agronegócio do milho aparece como cultura rentável no Território do

Agreste Central para aqueles que possuem grandes propriedades, uma vez que conseguem

maior volume de crédito para adquirir novas tecnologias, tendo inclusive uma linha de

crédito especial para isto. O agronegócio tem o controle da maior parte dos recursos do

Estado. Para obter maior lucro é necessário garantir que o milho tenha a maior

produtividade, e em consequência o uso de agrotóxicos, como no caso dos municípios de

Pinhão, Carira e Frei Paulo. Os agrotóxicos causam impactos tanto nos ambientes onde

são utilizados – contaminação do solo, das águas - quanto para a saúde humana, pois

direta ou indiretamente os agrotóxicos acabam sendo ingeridos na alimentação.

(SANTANA SILVA & CONCEIÇÃO, 2012)

Em recente estudo publicado, a Embrapa aponta Sergipe como novo potencial

produtor de soja, em rotação com a produção de milho. Assim, abra-se uma nova frente

de produção voltado para agronegócio e consequentemente o mercado internacional. 1

A produção de cana de açúcar apresenta-se no Estado de Sergipe como cultivo

de maior produtividade, orientando para produção de açúcar e álcool. (CONCEIÇÃO,

2011). É possível observar na tabela abaixo o ritmo crescente da produção de cana de

açúcar, principalmente entre os anos de 2004 e 2011, justamente quando ultrapassa a

marca de 3 milhões de toneladas.

1 http://www.portaldoagronegocio.com.br/noticia/sergipe-e-candidato-a-polo-produtor-de-soja-145846

Desta forma,

Dos 75 municípios do Estado de Sergipe, 21 são produtores de cana-de-

açúcar concentrando a área plantada em antigos territórios produtores

de cana-de-açúcar na região denominada Cotinguiba e Baixo

Cotinguiba, que atualmente compreende os Territórios da Grande

Aracaju, do Leste Sergipano e alguns municípios do Território do Baixo

São Francisco. A expansão da área plantada de cana-de-açúcar em

Sergipe, em proporção ao período de 2004 a 2007 foi pequena. Em

destaque o município de Capela (Território do Leste Sergipano) e em

seguida o município de Laranjeiras (tradicional área de cultivo da cana

– no Território da Grande Aracaju). Juntos os dois municípios

alcançaram 52,3% do total produzido no estado. (CONCEIÇÃO, 2011)

De acordo com Conceição (2011), a produção de Etanol tende a impulsionar

ainda mais o agronegócio da cana de açúcar, possibilitando maior acesso ao crédito, com

longo período para pagamento, além das isenções de dívidas. A autora afirma ainda que

o domínio da agroindústria sucroalcooleira vem acompanhada das péssimas condições de

trabalho, da má remuneração e da superexploração do trabalho. Fato este relatado pelo

Ministério Público do Trabalho de Sergipe (MPT-SE) que ajuizou uma ação contra a

Fonte: Produção Agrícola Municipal – IBGE, 2016.

Org: NUNES, Shauane Itainhara Freire & SANTANA SILVA, José Danilo, 2016.

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Quantidade produzida (Toneladas) dos cultivos de

Cana-de-açúcar, Milho e Laranja em Sergipe, 2004-2014

Cana-de-açúcar Milho (em grão) Laranja

Usina Taquari, localizada no município de Capela (SE) e administrada pelo Grupo

Samam, por aliciamento e trabalho escravo a 44 trabalhadores do corte da cana de açúcar.2

Vasconcelos (2016) vai observar ainda que o avanço da cana de açúcar em

Sergipe se dá também em áreas de irrigação que deveriam ser destinadas a fruticultura.

Em sua investigação sobre o Platô de Neópolis, Vasconcelos (2016) pondera que a

monocultura da cana de açúcar e até mesmo a produção de gramíneas, sob forte ação do

Estado, tem desapropriado a pequena produção familiar em detrimento do domínio de

grandes empresas capitalistas.

Apesar do declínio em Sergipe a partir da década de 1990, a citricultura

representou a porta de entrada do projeto de modernização da agricultura desencadeado

pelo processo de financeirização da economia. A facilidade de crédito e do

desenvolvimento de políticas públicas entre as décadas de 1960 e 1980 impulsionaram a

citricultura no Centro-Sul de Sergipe. (OLIVEIRA, 2012)

O desenvolvimento da citricultura está alicerçado na subordinação da unidade

de produção familiar a grandes complexos agroindustriais.

Nos últimos anos a citricultura em Sergipe está sob o domínio do

oligopólio formado por quatro grupos que são: Cutrale (maior

percentagem); Citrosuco; Louis Dreifus Commodities – LDC (francesa);

e Citrovita, da Votorantim. Essas empresas controlam o mercado

impondo preços e condições de venda. Os pequenos produtores estão

totalmente subordinados a este oligopólio. (CONCEIÇÃO, 2011)

Além dos cultivos já relatados, o agronegócio atua no domínio de outras

produções agrícolas de menor porte em Sergipe, como o fumo, abacaxi e pimenta.

(OLIVEIRA JR., 2012) A presença dos complexos agroindustriais, a exemplo da

citricultura, garante a subsunção do trabalho da unidade de produção familiar, abarcando

toda sua produção e determinando o que deve ser produzido frente as necessidades de

mercado.

II- DO AGRONEGÓCIO AO HIDRONEGÓCIO EM SERGIPE

2 http://www.infonet.com.br/cidade/ler.asp?id=165781

O modelo do agronegócio em Sergipe através da cana-de açúcar, milho, laranja

e outros cultivos, se estende a apropriação não somente da terra, mas da água através de

projetos e políticas públicas de incentivo a aquicultura como garantia de maior

produtividade de pescados no país. Nesse sentindo o termo hidronegócio tem sido

empregado no Brasil desde o final dos anos 90 como sinônimo de abundância e riqueza

de recursos hídricos no país, o que permite a expansão de um modelo de desenvolvimento

especializado não somente em utilizar a terra, mas a água como negócio.

Para Conceição e Sousa (2012), o hidronegócio se inscreve na reorganização

produtiva no Brasil, impulsionado por setores primário- exportadores e

transnacionais, que torna a natureza apenas uma auxiliar no processo de

produção capitalista, de forma que a apropriação da água se torna um modelo

de desenvolvimento no campo. (pág. 54)

Esse modelo de desenvolvimento integra terra e água como negócio, do

agronegócio ao hidronegócio, o agrohidronegócio. Em Sergipe a territorialização do

hidronegócio aparece na forma de tanques escavados em áreas de mangue, estuários,

açudes ou através de cercas colocadas no rio, que configuram principalmente a

piscicultura e a carcinicultura3. Parques aquícolas também aparecem como projeto de

política pública a ser implementado em algumas regiões do estado com tradição na pesca

artesanal, como a região do Baixo São Francisco Sergipano e a Região Sul Sergipano.

A aquicultura em Sergipe só começa a apresentar dados mais consistentes a

partir da década de 1990, para Dias Menezes (2014), a falta de um histórico da produção

pesqueira e aquícola no estado, dificulta as análises a formulação de políticas voltadas ao

setor. Estudos da Empresa Brasileira de Estudos Agrícolas- EMBRAPA em Sergipe,

aponta que a aquicultura estuarina possui importante papel para alguns municípios no

estado, São Cristóvão que faz limite com a capital Aracaju, é um dos primeiros

municípios a apresentar tanques de criação de pescados nas proximidades do estuário do

Rio Vaza Barris.

3 A piscicultura e a carcinicultura corresponde ao cultivo de peixes e camarões respectivamente, de forma confinada em açudes, tanques ou cercas nos rios, consideradas atividades agropecuárias no bojo da aquicultura, possibilitam controle e planejamento da produtividade dos pescados.

Segundo relatório da EMBRAPA sobre a carcinicultura marinha em Sergipe, na

década de 1990 a carcinicultura se espalhou no estado, principalmente o cultivo da

espécie de camarão Penaeus vannamei devido ao seu alto preço de mercado, o que fez

com que viveiros que anteriormente cultivavam peixes e outras espécies estuarinas

passassem a exercer a carcinicultura. Ainda segundo o relatório, a atividade de

aquicultura praticada no Rio Vaza Barris tem raízes históricas no período colonial, nesse

sentido o que preocupa não é a atividade em si, mas, o monocultivo do camarão, devido

aos riscos ambientais comprovados, provenientes da criação de uma espécie exótica no

caso do camarão.

Para Melo de Sousa (2007) o processo de transformação que se deu no espaço

litorâneo brasileiro a partir do cultivo do camarão, tem como base o alto valor de mercado

e uma demanda internacional do produto, estando à produção do camarão no Nordeste

Brasileiro durante os anos de 2001, 2002 e 2003, nas primeiras colocações de divisa do

agronegócio. Sergipe se inscreve nesse processo, do que a autora denomina como

CELSF- Complexo Estuarino Lagunar do São Francisco, baseado em um novo modelo

de desenvolvimento a partir da carcinicultura.

A carcinicultura assim como a piscicultura segundo Melo de Sousa (2007),

dentro do que representa a aquicultura, são consideradas na institucionalidade dos órgãos

ambientais de Estado, como atividades de alto potencial de degradação ambiental, e, no

entanto, a criação de camarão é uma das atividades que mais cresce no Nordeste devido

a demanda por exportação.

Ainda segunda a autora, a carcinicultura leva a um processo de proletarização

de antigos pescadores, porque há uma especulação da terra, onde viveiros antes regulados

pelo fluxo da maré, passa a funcionar de forma intensiva. Pela impossibilidade de acesso

das comunidades a terra e os mangues, meio de produção e áreas antes de acesso da

comunidade até o rio, já que grande parte das famílias que vivem em comunidade

pesqueiras não possuem a propriedade da terra onde vivem ou produzem. E por fim a

absorção de parte dessas comunidades como assalariados agora dos viveiros de camarão,

a lógica deixa de ser a da produção simples de mercadorias presentes em comunidades

camponesas e comunidades pesqueiras artesanais,

Assim como os produtores rurais modernos, os carcinicultores construíram

uma lógica territorial, atrelada a setores industriais, financeiros, de transporte,

de comércio, de pesquisa e assistência técnica, planejamento e políticas. O

vertiginoso crescimento dessa atividade nos últimos anos, estimulado,

sobretudo, pela demanda externa e pela incapacidade da pesca extrativa em

alto-mar de abastecê-la, fez com que os carcinicultores nordestinos buscasse,

a alta produtividade nos cultivos (...). (Melo de Souza, 2007, pág. 54)

Segundo levantamentos da ADEMA e trabalhos realizados sobre a atividade da

carcinicultura no estado, por Wanderley e Santos (2007) e Prata (2009), a atividade da

carcinicultura se estende no estado de Sergipe, no Sul Sergipano que compreende área

litorânea e a de estuário das bacias do Rio Vaza-Barris e do Rio Piauí nas cidades de

Indiaroba, Santa Luzia e Estância. Na Grande Aracaju, nos municípios de Maruim, Santo

Amaro Laranjeiras, Nossa Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e

Itaporanga, municípios caracterizados por áreas litorâneas, ou/e bacias hidrográficas e

áreas de mangue.

De acordo ainda com dados da ADEMA4 de agosto de 2013 a novembro de

2014 foram identificados duzentos e cinquenta e três donos de tanques de criação,

denominados empreendedores de tanques de carcinicultura no estado, o que não inclui a

quantidade de tanques por empreendedor. Sendo que o número de tanques mapeados,

entre atividades de cultivo de peixe, camarão ou arroz chegam a aproximadamente dois

mil, estando sua maioria ainda não regularizada e com licenças ambientais liberadas. Esse

aumento da atividade é avaliado, por Santos e Costa (2010) com preocupação, para os

autores, há um conflito na prática da atividade, devido aos impactos ambientais e a

privatização de áreas da União:

Com relação ao meio ambiente, a carcinicultura no litoral sergipano

contribuiu para uma redução e extinção de habitats de numerosas

espécies, o desmatamento de extensas áreas de manguezal causando

interferência direta na produção e distribuição de nutrientes para o

estuário e plataforma continental; extinção de setores de reprodução e

alimento de moluscos, aves e peixes e diminuição da biodiversidade ao

longo das bacias hidrográficas. Isso gera a expulsão de marisqueiras,

4 Informações obtidas em visita ao órgão em março de 2015, no entanto o estudo está incompleto, são dados preliminares.

pescadores e catadores de caranguejo de suas áreas de trabalho, ou

tornam-se obstáculos a seu acesso, aos espaços produtivos do território,

ao estuário e ao manguezal com a privatização de terras da União, tradicionalmente utilizadas para o extrativismo animal e vegetal.

(pág.9).

Segundo informações contidas nos documentos divulgados pelo Ministério da

Pesca, os incentivos a aquicultura são para ambas as categorias de pescadores (industriais

e artesanais), proposta de ações de política públicas. Entretanto ao visualizar a atividade

na modalidade de carcinicultura já praticada e consolidada no Brasil e em Sergipe,

enquanto atividade do agrohidronegócio organizada através da ABOCC- Associação

Brasileira de Criadores de Camarão, que contabiliza produções, riscos, lucros, incentivos,

concorrência, a partir do mercado internacional. O que se verifica é, uma total inserção e

produção para o mercado, que exclui a possibilidade do que representa o pescador

artesanal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Agrohidronegócio representa um modelo de desenvolvimento que dita um

novo ritmo de acumulação para o campo brasileiro, onde o processo produtivo precisa ser

cada vez mais rápido. A exigência de apropriação sobre parte da produção real da riqueza

agora pelo capital financeiro, demanda uma extração ainda maior de mais valor, uma

atuação ainda mais voraz do capital para dar resposta ao novo ritmo de acumulação.

O Agronegócio e o Hidronegócio, representa, essa resposta no campo,

reestruturação produtiva com consequente mudanças nas relações de trabalho se tornam

imperativas, de forma que o trabalho torna-se cada vez mais subjugado a reprodução do

capital. No campo isso vai representar uma ameaça cada vez maior ao caráter ontológico

do trabalho presente na relação sociedade/natureza estabelecida pelo campesinato, em

comunidades pesqueiras artesanais, comunidades quilombolas, que passam a estar cada

vez subordinadas ao modo de produzir do mercado e para o mercado. A terra e água como

negócio passar a ser um projeto do capital para o campo de forma voraz e articulada pelo

Estado.

Em Sergipe, os cultivos de cana de açúcar e laranja, e mais recentemente o

milho, assim como a o cultivo de peixes e camarão, cada vez mais faz com que a produção

camponesa e artesanal torne-se um trabalho mediado pelos imperativos do capital. As

cercas da terra e da água, representam a lógica da propriedade privada, da destruição da

natureza e do trabalho no seu caráter ontológico

BIBLIOGRAFIA

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